Acessibilidade / Reportar erro

Transferência e Implicação Subjetiva: Reflexões Psicanalíticas a partir de uma Pesquisa-Ação

Resumo

O objetivo deste artigo é utilizar a via psicanalítica freudiana como forma de compreensão do processo de interação entre investigadores e sujeitos participantes em uma pesquisa-ação, trazendo uma nova contribuição para os estudos organizacionais. Busca-se promover a autorreflexão dos investigadores nesse processo de pesquisa, evidenciando as complexidades da dinâmica transferencial e da implicação subjetiva nas interações em campo. Tendo em vista esse objetivo, exploram-se os conceitos psicanalíticos chave, apresentam-se as definições de pesquisa-ação, descrevendo-se como ela foi realizada em uma associação de catadores, bem como reflete-se sobre como as influências recíprocas entre os sujeitos participantes da pesquisa são constituídas e constituintes da pesquisa e de seus resultados, analisando-se as dinâmicas transferenciais e as implicações subjetivas entre os envolvidos.

pesquisa-ação; transferência; implicação subjetiva; estudos organizacionais

Abstract

This paper aims to use the Freudian psychoanalytic approach to explain the process of interaction between researchers and subjects participating in action research, bringing a new contribution to organizational studies. It is hoped that this research will promote the self-reflection of researchers in this research process, highlighting the complexities of the transferential dynamics and subjective implication of field interactions. With this objective in mind, key psychoanalytic concepts are explored and definitions of action research are presented. This is achieved by describing how it was carried out in a waste pickers’ association, as well as how the reciprocal influences between the subjects participating in the research are constituted and the constituents of the research and its results, through an analysis of the transferential dynamics and subjective implications between those involved.

Action Research; Transference; Subjective Implication; Organizational Studies

Introdução

O objetivo deste artigo é utilizar a via psicanalítica freudiana como forma de compreensão do processo de interação entre investigadores e sujeitos participantes em uma pesquisa-ação. Mais especificamente, apropriamo-nos da psicanálise para promover nossa autorreflexão enquanto investigadores em um processo de pesquisa-ação, evidenciando as complexidades da dinâmica transferencial e da implicação subjetiva nas interações em campo (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.; Pichon-Rivière, 1977Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal: Del psicoanálisis a la psicología social (3rd ed.). Buenos Aires: Nueva Visión.). Buscamos, dessa forma, refletir também sobre como as influências recíprocas entre os sujeitos participantes da pesquisa são constituídas e constituintes da investigação e de seus resultados.

Na área de estudos organizacionais no Brasil, não encontramos nenhum trabalho que tenha realizado a articulação entre os conceitos de transferência e de implicação subjetiva com a pesquisa-ação. Silveira, Palassi e Paes de Paula (2019), Lodi, Thiollent e Sauerbronn (2017) e Menelau, Santos, Castro e Nascimento (2015) salientam que a grande maioria dos estudos que aplicam a pesquisa-ação nas organizações no Brasil necessita de maior aprofundamento, visto que partem de abordagens funcionalistas, focadas na resolução de questões organizacionais.

Além disso, as investigações, em geral, deixam de lado três tópicos principais do método: mudança social, colaboração por meio da participação e autonomia dos sujeitos da pesquisa. O presente artigo busca se distanciar de tal tendência, tanto com relação à natureza da pesquisa-ação realizada quanto no viés analítico, em que buscamos aqui nos aprofundar nas relações intersubjetivas advindas do método, bem como na autorreflexão dos envolvidos, ou seja, na capacidade de compreensão mútua e na autocrítica, que são aportes de investigação específicos da psicanálise. Entendemos que as reflexões que trazemos a partir do olhar psicanalítico podem lançar luz sobre como o pesquisador efetivamente alcança esses três tópicos principais da pesquisa-ação, pois permite realizar análises na esfera dos fenômenos subjetivos e do inconsciente. No caso desse artigo, tais análises ocorreram por meio dos conceitos de transferência e implicação subjetiva, fundamentais para outro nível de compreensão desses tópicos, que outros métodos não são capazes de alcançar.

Em uma pesquisa-ação aliada ao arcabouço psicanalítico, refletir sobre as relações transferenciais e a implicação subjetiva por parte daquele que realiza a pesquisa é um pilar importante para que o conhecimento seja erguido solidamente. Isso nos conduz à discussão sobre a separação sujeito-objeto. Godoi (2005)Godoi, C. K. (2005). Psicanálise das organizações: Contribuições da teoria psicanalítica aos estudos organizacionais. Itajaí, SP: Editora Univali. argumenta que o objeto da psicanálise não é objetivo no sentido filosófico tradicional; é “objetal”, no sentido de objeto da pulsão, daquilo que falta ao sujeito. O sujeito se constitui somente em sua relação com o objeto, sendo ambos inter-relacionados. Nesse sentido, a identidade do pesquisador se constrói a partir de sua relação com o contexto e os participantes da pesquisa-ação, sendo fundamentais as capacidades de intersubjetividade e de autorreflexão dos envolvidos.

A pesquisa-ação a ser analisada foi realizada em uma associação de catadores de resíduos sólidos domésticos, localizada em um município de pequeno porte na região metropolitana de Belo Horizonte (MG) (doravante denominada “Associação Y”), entre março de 2014 e julho de 2016. O objetivo dessa pesquisa foi apoiar no processo de gestão democrática da associação e do sistema de tratamento de resíduos sólidos do município. Durante a pesquisa, não aplicamos técnicas de intervenção psicanalíticas propriamente ditas. Optamos por nos manter no campo de atuação da gestão, utilizando-nos de ferramentas de tecnologias de gestão colaborativas (Dragon Dreaming, Teoria U e Sociocracia) (Paes de Paula & Souza, 2018Paes de Paula, A. P., & Souza, M. M. P. (2018). Gestão dialógica e tecnologias colaborativas . Curitiba, PR: Appris.) e apropriando-nos da psicanálise como referencial hermenêutico.

Esse artigo está organizado em quatro partes, a contar desta introdução. Na próxima seção, apresentamos os conceitos de transferência e implicação subjetiva, partindo de uma abordagem freudiana e trazendo também autores que contribuíram para a interlocução entre psicanálise e pesquisa-ação. Em seguida, na terceira parte, trazemos as definições sobre pesquisa-ação e descrevemos como ela foi realizada na Associação Y. Nos subitens dessa seção, analisamos as dinâmicas transferenciais e a implicação subjetiva, primeiramente, por parte dos sujeitos da pesquisa, e, em seguida, no que se refere aos investigadores. Por fim, na quarta e última seção, discutimos as análises realizadas e trazemos algumas considerações para reflexão.

Psicanálise e pesquisa-ação: transferência e implicação subjetiva

Ao tratarmos da relação entre pesquisador e participantes da pesquisa, os conceitos de transferência e contratransferência, oriundos da clínica psicanalítica, trazem importantes contribuições. A noção de transferência pode ser considerada uma das mais fundamentais na psicanálise. Segundo Molina e Fabrian (2014)Molina, R. S., Fabrian, C. B. (2014). Conceito de transferência e contratransferência: Uma revisão crítica sistemática. Psicologia Argumento , 32(77), 85-97. doi:10.7213/psicol.argum.32.077.AO02
https://doi.org/10.7213/psicol.argum.32....
, ao realizarem uma revisão sistemática das publicações brasileiras entre os anos de 2000 e 2010, os conceitos de transferência e contratransferência abordam fenômenos psíquicos polissêmicos, sendo objetos de pesquisas nas diversas escolas psicanalíticas, e se encontram relacionados a diversos temas, autores e linhas de pensamento.

A noção de transferência aparece na obra freudiana pela primeira vez quando Freud e Breuer discutem casos clínicos em “Estudos sobre a histeria” (1895/1969), quando é descrito o mecanismo de defesa neurótico. Freud, originalmente, identificou a transferência como um obstáculo ao tratamento. No entanto, posteriormente em seu texto “Notas sobre um caso de neurose obsessiva”, de 1909, reconhece-a como um agente terapêutico, podendo se tornar um processo importante para que o analista realize o desvendamento do mistério sintomático (Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009).

A relevância da transferência no processo terapêutico adquire significado adicional quando Freud nos apresenta o conceito de “neurose de transferência”, em 1914, o qual se refere à maneira como ocorrem influências de sentimentos prévios, componentes da neurose, no relacionamento entre analista e analisante. Trata-se, nesse sentido, da tendência à repetição do material reprimido como uma vivência contemporânea, uma consequência da compulsão à repetição. Na clínica, quando este fenômeno ocorre, podemos dizer que a neurose anterior foi substituída por uma nova. “A transferência é, ela própria, apenas um fragmento da repetição, a qual é uma transferência do passado esquecido não apenas para o terapeuta, mas também para todos os outros aspectos da situação atual” (Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009, p. 189).

É importante ressaltar que nem toda transferência desencadeia uma atitude amorosa. No texto de 1915, no qual se refere ao amor transferencial, Freud discorre sobre a possibilidade de ocorrer transferência positiva e negativa e sobre a postura que o analista pode assumir em relação aos sentimentos transferenciais do analisante. As relações transferenciais, positivas e negativas, remetem às identificações infantis e se relacionam aos sentimentos ambivalentes dirigidos aos pais. Assim como uma criança frequentemente inverte os sentimentos que experimenta pelos pais, as transferências podem evoluir, invertendo-se (Freud, 1915/1969; Pommier, 1998Pommier, G. (1998). O amor ao avesso: Ensaio sobre a transferência em psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Companhia de Freud.). No contexto clínico, segundo Pommier, a inversão de sentimentos pode acontecer durante uma sessão ou, até mesmo, durante o enunciado de uma só frase. Na transferência, amor e ódio estão em implicação mútua: “Um bem engendra um mal. Da mesma forma, mais uma análise se mostre eficaz, mais a transferência positiva crescerá, mais ela arriscará engendrar uma transferência negativa” (Pommier, 1998, p. 47). Entendendo que as transferências positivas e negativas são fenômenos de repetição de sentimentos anteriores, Freud adverte os analistas para que não as confundam com sentimentos verdadeiros e, de outro lado, saibam lidar com a situação de forma a não reprimirem o que seus pacientes sentem. Tão perigoso quanto considerar os sentimentos transferenciais do paciente como verdadeiros seria instigá-lo a renunciar, ou sublimar seus sentimentos: “Seria exatamente como se, após invocar um espírito dos infernos, mediante astutos encantamentos, devêssemos mandá-lo de volta para baixo, sem lhe haver feito uma única pergunta” (Freud, 1915/1969, p. 8). Freud alerta para que o analista saiba conduzir a situação de forma ética e sincera, sem abandonar a neutralidade.

Ao tratar da neutralidade no processo de transferência, Pommier afirma que o analista deve ter em mente que transferência positiva e transferência negativa são dois lados de uma mesma moeda, não podendo se ater apenas a uma face. Em outras palavras, não é recomendável que o analista se mostre concordante, ou rígido o tempo todo. Ele precisa saber apresentar o “gume desta dupla face”, a partir da situação que lhe é apresentada. Pommier (1998, p. 51) defende, então, a “neutralidade improvisada” do analista, que significa não oferecer obstáculo oposto à transferência do analisante e saber aceitar os sentimentos que lhe são transferidos, se seu analisante lhe atribuiu. Pommier fala de neutralidade “improvisada” porque a neutralidade “zero” seria impossível a qualquer ser humano. Nesse sentido, trata-se apenas de um estado neutro específico em relação à demanda afetiva do analisante.

Ao falar sobre a neutralidade em relação ao paciente, Freud (1915/1969) menciona a importância de se manter controlada a contratransferência, que seria o resultado das influências que o paciente exerce sobre os sentimentos inconscientes do analista. Tal como a transferência, a contratransferência, a princípio, foi identificada por Freud como um obstáculo ao processo terapêutico. No entanto, ao longo do tempo, ela também passou a ser considerada como relevante para a cura, pois permite que o analista reconstrua o inconsciente do paciente a partir dos sentimentos que surgem nele (Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009). Isolan afirma que os estudos de Heinrich Racker e os de Paula Heimann foram essenciais para o entendimento da contratransferência como fator de compreensão no trabalho terapêutico. Para Racker (1982, citado por Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009, p. 191), a contratransferência se relaciona com o conjunto de imagens, sentimentos e impulsos do analista ao longo da sessão, ocorrendo de três formas: “a) como um obstáculo; b) como um instrumento terapêutico; e c) como um ‘campo’ em que o paciente pode realmente adquirir uma experiência viva e diferente da que teve originalmente”. De outro lado e de forma mais ampla, Heimann (1995, citado por Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009, p. 191) considera a contratransferência como a totalidade de sentimentos que o analista tem em relação ao paciente. Como resposta emocional do analista às projeções do paciente, os sentimentos despertos na contratransferência deveriam ser analisados e contidos.

A postura do analista diante do amor transferencial é colocada por Freud a partir de um princípio fundamental:

. . . se deve permitir que a necessidade e anseio da paciente nela persistam, a fim de poderem servir de forças que a incitem a trabalhar e efetuar mudanças, e que devemos cuidar de apaziguar estas forças por meio de substitutos. (1915/1969, p. 9)

Cabe ao analista preparar o paciente para vivenciar a frustração e a superação em relação a esse amor, tal qual na resolução da situação edípica. Necessariamente, o paciente passará por sentimentos de renúncia e de luto, mas precisará aprender a lidar com a busca do objeto edípico como um aspecto permanente em todos os seus relacionamentos amorosos. Isso quer dizer que todas as experiências amorosas ao longo da vida são resultado de transferências influenciadas pela estrutura edípica, sejam elas vivenciadas dentro ou fora do contexto clínico (Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009). Quando o indivíduo ama, ele supõe uma determinada forma de ser amado, que posiciona o outro. O amor se constrói a partir dos significantes que são atribuídos à imagem do outro, na medida em que o sujeito passa a se relacionar com o outro. A experiência amorosa faz com que o sujeito se veja como ser singular, referindo-se em seus primórdios ao surgimento do eu. Assim, a transferência, ou o amor, possibilita a singularização do sujeito, revelando-se como um processo importante não apenas para o tratamento terapêutico, mas também para a vida de forma geral (Lopes, 2009Lopes, M. M. F. (2009). Conceito de amor em psicanálise . São Paulo, SP: Centauro.).

Lourau (1975)Lourau, R. (1975). A análise institucional . Petrópolis, RJ: Vozes. e Gaulejac e Roche (2012)Gaulejac, V., Roche, P. (2012). Introduction. In V. Gaulejac, F. Hanique, P. Roche (Eds.), La sociologie clinique: Enjeux théoriques et méthodologiques (pp. 13-26). Toulouse: Érès. empregam os conceitos de transferência e contratransferência no contexto da pesquisa-ação nas organizações, reconhecendo a importância da elucidação destes fenômenos durante as intervenções. É necessário analisar as possíveis relações transferenciais por parte dos participantes da investigação ao pesquisador. Por sua vez, o trabalho de análise da contratransferência exige que o pesquisador se pergunte o que o material coletado desperta nele (emocionalmente e normativamente), antes de decidir sobre sua pertinência ou obsolescência.

No contexto dos processos grupais, Andréia (2006)Andréia, M. A. (2006). Transferência e contratransferência: O sentir como instrumento de trabalho no processo grupal. Revista da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, 7(2), 51-58. Recovered from https://bit.ly/3f9DR0c
https://bit.ly/3f9DR0c...
salienta a importância dos sentimentos despertos no analista, no processo de contratransferência, para que seja possível uma percepção mais aprofundada do grupo: “para esta compreensão é preciso estudo teórico, mas acima de tudo é preciso ter disponibilidade para viver com o grupo toda intensidade de sentimentos, emoções e sensações trazidas por eles” (p. 57).

Segundo Pichon-Rivière (1977)Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal: Del psicoanálisis a la psicología social (3rd ed.). Buenos Aires: Nueva Visión., a atitude do pesquisador, ou da pessoa que coordena o processo grupal, pode variar entre três tipos básicos: autoritário, democrático ou laissez-faire . Essas atitudes condicionam as reações do grupo em relação a ele. Por sua vez, os elementos da contratransferência alimentam no pesquisador a capacidade de fantasia para estabelecer hipóteses acerca do grupo e novas intervenções. Nesse sentido, ao invés da noção bidirecional de transferência e contratransferência nos processos grupais, Pichon-Rivière prefere o termo transferência recíproca, dando a entender que se trata de um processo de ação e reação, recíproco e inacabado. Por parte do grupo, as transferências são fonte de análise das resistências e ansiedades diante das mudanças:

A transferência deve ser entendida como a manifestação de sentimentos inconscientes que apontam à reprodução estereotipada de situações, característica da adaptação passiva. Esta reprodução está a serviço da resistência à mudança, da evitação de um reconhecimento doloroso, do controle das ansiedades básicas (medo da perda e medo do ataque). (Pichon-Rivière, 1977Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal: Del psicoanálisis a la psicología social (3rd ed.). Buenos Aires: Nueva Visión., p. 193)

Já por parte do pesquisador envolvido em um processo de pesquisa-ação, as transferências recíprocas influenciam e são influenciadas pelo grau de sua implicação subjetiva no contexto da pesquisa. René Barbier define o conceito de implicação da seguinte forma:

A implicação, no campo das ciências humanas, pode ser então definida como o engajamento pessoal e coletivo do pesquisador em e por sua práxis científica, em função de sua história familiar e libidinal, de suas posições passadas e atual nas relações de produção e de classe, e de seu projeto sócio-político em ato, de tal modo que o investimento que resulte inevitavelmente de tudo isso seja parte integrante e dinâmica de toda atividade de conhecimento. (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar., p. 120)

Barbier (1985)Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. diferencia três tipos de implicação: psicoafetiva, histórico-existencial e estrutural-profissional. Esses níveis se interpenetram e influenciam a experiência do pesquisador em campo. A implicação psicoafetiva se relaciona ao nível individual. A partir das relações humanas no contexto da pesquisa-ação, o pesquisador passa por um questionamento dos fundamentos de sua personalidade profunda. O medo do abandono e a agressividade podem ser dois componentes ambivalentes da relação com a autoridade, muito presentes nos contextos de pesquisa-ação. De outro lado, a implicação psicoafetiva não deve inviabilizar a pesquisa, sendo necessário circunscrevê-la à via psicanalítica e, até mesmo, utilizá-la para aprofundar as relações de comunicação.

Articulada ao nível psicoafetivo, a implicação histórico-existencial está relacionada ao jogo recíproco e existencial que se estabelece entre pesquisadores e participantes da pesquisa. Não apenas os participantes sofrem os efeitos da intervenção; também o pesquisador aceita questionar sua existência, os fundamentos de sua orientação, sua classe social, suas opções afetivas e racionais. O pesquisador se engaja no trabalho de mudança pessoal, tornando-se visivelmente vulnerável, falível, acessível e localizável. A implicação estrutural-profissional se relaciona com a mediação da atividade profissional e seu princípio de realidade. Pode, muitas vezes, entrar em contradição com o projeto histórico existencial do pesquisador, pois a realidade estrutural da ação profissional pode colocar limites econômicos, políticos e científicos. Na pesquisa-ação, o pesquisador age em contradição entre aquilo que deseja existencialmente realizar e aquilo que as estruturas lhe prescrevem como ação. Ademais, ele assume o risco de ser questionado sobre o papel e a função de sua profissão na sociedade, o que pode significar uma interpelação sobre seu sistema de valores e de atitudes, do qual depende o equilíbrio de sua personalidade (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.). A partir dos três tipos de implicação do pesquisador na pesquisa-ação, Barbier identifica algumas situações de implicação, que se relacionam à dimensão sistêmica e à dimensão libidinal do grupo. A dimensão sistêmica envolve elementos dos níveis material, social, comunicacional e ideológico. A dimensão libidinal envolve as relações de afeto estabelecidas entre os membros, conscientes ou inconscientes, frutos das dinâmicas transferenciais.

  • Fusão total – ocorre quando a implicação do pesquisador (nos três níveis apresentados) se encontra relacionada positivamente às dimensões sistêmica e libidinal no âmbito da intervenção, o que promove a fusão do pesquisador com o campo e elimina toda relação dialética entre os dois. Trata-se de uma situação prejudicial às descobertas em ciências humanas.

  • Oposição total – ocorre quando o pesquisador estabelece o máximo de relações antagônicas com seu contexto de estudo, opondo-se, ponto por ponto, àquilo que ele percebe no campo de intervenção. Apesar de arriscado e difícil, essa situação é mais frutífera às descobertas científicas que a fusão.

  • Oposição à dimensão sistêmica – a implicação do pesquisador (seja nos três níveis ou em alguns deles) entra em conflito com a dimensão sistêmica do contexto de intervenção. De alguma forma, o pesquisador é perturbado pela lógica organizacional, econômica, política e ideológica do campo de intervenção. O pesquisador pode se tornar um desviante organizacional e ideológico. Contudo, mantendo sua implicação coerente com a dimensão libidinal do campo, o pesquisador pode encontrar benefícios secundários que tornam suportável a situação conflitante.

  • Oposição à dimensão libidinal – a implicação do pesquisador (seja nos três níveis ou em alguns deles) entra em conflito com a dimensão libidinal do contexto de intervenção, mas ele concorda com a dimensão sistêmica. O pesquisador torna-se um desviante libidinal, mas tem benefícios secundários, a partir de um acordo parcial ou total com a lógica organizacional, econômica, política e ideológica do campo de intervenção. Barbier (1985)Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. coloca que essa não é uma posição fácil, pois, citando Herbert Marcuse, a dimensão libidinal está presente a cada passo e tem caráter repressivo nas organizações contemporâneas.

A pesquisa-ação na Associação Y

Thiollent, precursor da pesquisa-ação nas organizações no Brasil, define a metodologia da seguinte forma:

a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (1986, p. 14)

Segundo Desroche (2006)Desroche, H. (2006). Pesquisa-ação: Dos projetos de autores aos projetos de atores e vice-versa. In M. Thiollent (Ed.), Pesquisa-ação e projeto cooperativo na perspectiva de Henri Desroche (pp. 33-68). São Carlos, SP: EdUFSCar., a pesquisa-ação pode ser, simultaneamente, uma pesquisa sobre, para e pela ação. É uma pesquisa na ação sobre os atores sociais, suas ações, transações e interações que visa auxiliá-los com uma prática racional assumida, executada e avaliada pelos próprios atores. A pesquisa-ação é uma metodologia autogerida, que envolve a cogestão entre os pesquisadores e os atores envolvidos na prática. Entre essas duas partes, é preciso haver uma relação de reciprocidade e de colaboração. Contudo, o controle metodológico é importante para se evitar o excesso tanto de identificação por falta de distanciamento quanto de distanciamento por falta de identificação.

A pesquisa-ação é um método fluido e adaptável ao contexto. Contudo, diversos autores (Macke, 2006Macke, J. (2006). A pesquisa-ação como estratégia de pesquisa participativa. In C. K. Godoi, R. B. Mello, A. B. Silva (Eds.), Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: Paradigmas, estratégias e métodos (pp. 207-239). São Paulo, SP: Saraiva.; Smith, 1997Smith, S. E. (1997). Deepening participatory action-research. In S. E. Smith, D. G. Willms, N. A. Johnson (Eds.), Nurtured by knowledge: Learning to do participatory action-research (pp. 173-263). Nova Iorque: The Apex Press.; Thiollent, 1986Thiollent, M. (1986). Metodologia da pesquisa-ação (2nd ed.). São Paulo, SP: Cortez.) relacionam algumas fases básicas, que não ocorrem necessariamente de forma linear, mas podem servir de guia para o encaminhamento da pesquisa.

  • Fase exploratória – parte de um diagnóstico participativo para identificar as possibilidades de ação e intervenção. Abrange os primeiros contatos com o campo de pesquisa, sondando os possíveis participantes e suas expectativas. Considera a viabilidade para realizar a pesquisa.

  • Pesquisa aprofundada – em que se utilizam diversos instrumentos de coleta de dados, os quais são discutidos e interpretados progressivamente. Neste ponto, é possível a triangulação com diversas técnicas, tais como, entrevistas, histórias de vida, questionários e outros procedimentos qualitativos e quantitativos que sejam necessários. O conjunto desses métodos estabelece uma estrutura coletiva, participativa e ativa de captação e de processamento de informação.

  • Ação – partindo do planejamento colaborativo das ações, estas são executadas pelo grupo, incluindo intervenções por parte dos pesquisadores. Se uma ação inicialmente cogitada se mostra inviável, os pesquisadores e atores devem reorientar o processo de investigação, de modo a compreender os bloqueios e a buscar novas soluções. Os resultados da pesquisa são difundidos, os objetivos e as ações são definidos e propostas são negociadas.

  • Avaliação dos resultados – observa-se o andamento das ações, redirecionando o que acontece, buscando produzir conhecimento no decorrer do processo. Os pesquisadores promovem discussões sobre o conhecimento obtido, gerando feedback para o grupo e considerações a respeito das diretrizes teóricas utilizadas.

A pesquisa-ação na Associação Y ocorreu durante 27 meses, entre março de 2014 e julho de 2016. A Associação Y é uma organização central no sistema de gestão de resíduos do município onde se encontra, proporcionando benefícios ambientais e sociais à região. Criada em 2008, é responsável pela triagem dos resíduos domésticos recicláveis do município. O rendimento das doze associadas é obtido a partir da venda desses resíduos. Sua existência está vinculada a um contexto político mais amplo, marcado por lutas sociais empreendidas pelo Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos Recicláveis (MNCR) há quase vinte anos. O MNCR tem sido bastante influente em Belo Horizonte e na região metropolitana de BH, onde a Associação Y se encontra (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2013). Situação social das catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis . Brasília, DF: Autor. Recovered from https://bit.ly/3hJClmR
https://bit.ly/3hJClmR...
).

No início da pesquisa, a Associação Y recebia diariamente todo o resíduo produzido em seu município, enfrentando sobrecarga de trabalho. Ademais, havia constantes conflitos internos entre as associadas, que pareciam impactar negativamente a produtividade e os rendimentos do grupo. De forma geral, a demanda das associadas era pela implantação da coleta seletiva no município e por maior organização interna. Ao longo das intervenções, tornou-se claro que as duas questões estavam conectadas, sendo necessária a atuação em ambas ao mesmo tempo.

Dois conjuntos de ações tomaram forma nesse contexto: o primeiro, voltado à dimensão interna da Associação Y, focava em apoiar a organização interna do grupo; o segundo, voltado à dimensão externa à Associação Y, focava em implantar democraticamente a coleta seletiva no município. Como o objetivo deste artigo é refletir sobre a dinâmica transferencial e a implicação subjetiva dos pesquisadores nas interações com as associadas da Associação Y, focaremos as análises no primeiro conjunto de ações.

Durante as intervenções, em ambas as dimensões de atuação, foram utilizadas diversas ferramentas de tecnologias de gestão colaborativa de forma a promover maior dialogicidade, equidade e efetividade nas interações. As tecnologias de gestão aplicadas foram: Dragon Dreaming, Teoria U e Sociocracia (Paes de Paula & Souza, 2018Paes de Paula, A. P., & Souza, M. M. P. (2018). Gestão dialógica e tecnologias colaborativas . Curitiba, PR: Appris.). Na Tabela 1 , apresentamos uma compilação do período de duração, das principais atividades realizadas e das conclusões em cada uma das fases da pesquisa-ação na Associação Y. Os dados foram coletados majoritariamente por meio de entrevistas semiestruturadas (Bryman, 1992)Bryman, A. A. (1992). Research methods and organization studies (2nd ed.). Londres: Unwin Hyman. e registro em diário de campo das reuniões (Roese, Gerhardt, Souza, & Lopes, 2006).

Tabela 1
: Resumo da Pesquisa-ação na Associação Y

A seguir, apresentamos a análise das dimensões subjetivas e intersubjetivas ocorridas durante a pesquisa-ação na Associação Y. Tais interpretações ocorreram de forma imbricada com a coleta e análise de dados e a realização das ações, tornando-se bastante complexas na medida em que os pesquisadores imergiam no contexto da pesquisa. Assim, os pesquisadores dialogavam com frequência sobre suas impressões e sentimentos. Além disso, ao longo do ano de 2015, a coordenadora do projeto realizou um acompanhamento de análise pessoal, com abordagem psicanalítica, explorando mais profundamente as relações transferenciais que vivenciou na pesquisa. No decorrer das análises, todos os nomes utilizados para identificar os participantes da pesquisa são fictícios.

A dinâmica transferencial nas associadas da Associação Y

Desde o primeiro dia em que visitamos a Associação Y, fomos bem recebidos pelas associadas, que sempre afirmaram querer a realização do projeto e o apoio à associação. Contudo, o vínculo com o grupo não aconteceu de forma instantânea e sem contradições. Nos primeiros contatos e nas primeiras entrevistas realizadas, muitas associadas se comportaram de forma tímida e desconfiada. Particularmente, a coordenadora do projeto registrou a sensação de maior distanciamento em relação a si, supostamente devido ao seu status de professora da universidade.

A quarta entrevista foi feita com Gabriela, 40 anos. Parecia um pouco desconfiada com a entrevista. Durante suas respostas, percebi que era um pouco superficial. Não consegui render muito a entrevista. Ela era muito objetiva e monótona nas respostas. (Pesquisador 2, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 20 de março de 2014)

Natália entrou na sala meio de má vontade, aparentando muita timidez. Ouvi a Poliana falar com ela que ela teria que dar entrevista – em um tom imperativo. Aos poucos, ao longo da entrevista, Natália foi se soltando. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 3 de abril de 2014)

Sinto que elas se sentem mais à vontade com o Pesquisador 2. Não sei se sou muito séria ou se é minha posição como professora. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 9 de maio de 2014)

Em pouco tempo, notamos que o grupo, de forma geral passou a aceitar a equipe e a se abrir para interações mais aprofundadas, demonstrando maior confiança em nós.

Fomos bem recebidos, tanto por João quanto pelas associadas que já nos conheciam e nos cumprimentaram entusiasmadas. Fizeram brincadeira, sorriram e mostraram-se à vontade. Tem sido perceptível que a cada visita elas se demonstram mais à vontade com nossa presença . (Pesquisador 2, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 20 de fevereiro de 2014)

Conforme estabelecemos um ritmo de reuniões e visitas periódicas à Associação Y, observamos o fortalecimento das relações libidinais entre as associadas e a equipe de pesquisa. Isso era demonstrado, por exemplo, pelos abraços que recebíamos ao chegar, por convites a festas de família e da crescente confiança nos pesquisadores.

Disse que minha intenção era apoiá-las de alguma forma, mas sempre contando com o consentimento e participação de todos. Aos poucos, enquanto eu falava, senti que a maioria começou a me olhar diferente. Algumas já sorriam e demonstravam aceitar a proposta. . .. Terminei logo minha fala e me despedi delas dizendo que agora elas já poderiam ir. Fiquei feliz ao perceber que elas não saíram com tanta pressa. Algumas foram ficando lá sentadas e demonstraram interesse em dar ideias e ouvir as nossas. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 27 de março de 2014)

Acho que estavam me esperando, pois fui arrumando as almofadas para a reunião e elas foram se assentando. Pareciam interessadas. Daniela me cumprimentou com um abraço. Estou me sentindo bem-vinda cada vez mais. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 14 de agosto de 2014)

Com o fortalecimento dos laços libidinais, observamos também que a maioria das associadas não exercia crítica com relação às nossas intervenções, avaliando-as sempre positivamente. Outras vezes, em situações de conflito, elas faziam questão de nos contar suas versões da história. Tais atitudes poderiam sinalizar para o medo de perder nosso amor, seja com relação à associação como um todo, seja disputando-o com outras associadas.

Cláudia, no final, veio falar comigo que estava muito triste com o que a Alice falou dela no dia da reunião com o prefeito. . . . Ela ficou falando sobre isso ininterruptamente por uns dez minutos. Parecia querer melhorar sua imagem e me fazer acreditar na versão dela. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 29 de novembro de 2014)

Todas avaliaram o projeto positivamente e disseram que não havia nada a melhorar da nossa parte. Da parte delas, era importante cumprir o que se fala . (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 12 de dezembro de 2014)

Mônica me deu um abraço e disse que me ama. Cláudia também se “declarou” para mim. Sinto que as associadas querem meu amor e, às vezes, até o disputam quando ocorrem as brigas (elas querem que eu fique do lado delas). (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 20 de junho de 2015)

De forma análoga ao processo terapêutico (Freud, 1915/1969; Pommier, 1998Pommier, G. (1998). O amor ao avesso: Ensaio sobre a transferência em psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Companhia de Freud.), interpretamos que o estabelecimento das relações transferenciais criou uma abertura para que mudanças no grupo efetivamente ocorressem, no sentido de um deslocamento da dinâmica grupal para relações menos conflituosas e mais harmoniosas, realistas e produtivas. Tal abertura foi observada nos momentos em que as associadas reconheciam a importância do diálogo e da construção de uma organização interna baseada em objetivos compartilhados, pontos defendidos pela equipe de pesquisa.

Assim, foram surgindo as tarefas. Achei muito interessante e rico. Elas estavam mesmo interessadas em construir o planejamento. Pediram para usar minhas reuniões para acompanhar o planejamento. Eu disse que sim, claro, que as reuniões eram para isso mesmo. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 19 de outubro de 2014)

Quando falamos do rodízio de tarefas, após discussão sobre Poliana não querer ensinar às demais associadas, ficou decidido que deve haver o rodízio na prensa. Cláudia e Daniela se dispuseram a ensinar . (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 13 de agosto de 2015)

Mônica chegou na hora e disse: “Acho bom ter a reunião, pra elas poderem conversar e colocar tudo em pratos limpos” . (Pesquisadora 3, fragmento do diário de campo de 16 de novembro de 2015)

Contudo, a partir do início de 2015, durante a fase da ação, observamos o aumento de conflitos e contradições no grupo. A principal contradição residia entre querer e não querer uma divisão mais clara do trabalho, relacionada ao conflito entre planejar e depois efetivamente cumprir as ações assumindo suas consequências. Essa contradição poderia ser decorrente da transferência com a equipe de pesquisa, que buscava apoiar a organização interna da Associação Y. Assim, a demanda por ordem de algumas associadas era reforçada por nosso desejo em comum, ao passo que outras, para não perderem nosso amor, acabavam dizendo que queriam ordem, mas no fundo não aceitavam mudar seu cotidiano. De forma geral, o grupo temeu e resistiu à maioria das mudanças vislumbradas pelas próprias associadas. Já na fase de avaliação, realizamos uma reunião para dialogar com as associadas sobre os resultados da pesquisa. Elas mesmas admitiram a contradição do grupo entre necessitar de ordem e, ao mesmo tempo, não aceitar as mudanças que esta ordem traria.

Elas concordaram sobre a resistência em relação às regras, pois elas acham que não funcionam na associação. O grupo prefere o bom senso. Eu disse que a falta de regras claras gera os conflitos. Elas concordaram, mas não acham que conseguem criar as regras. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 24 de outubro de 2015)

Mônica disse: “Não devia existir regra. Todos deveriam ajudar em qualquer lugar. Mas fica assim: ‘Vamos fulano?’ ‘Não vou não’. Aí, a outra diz: ‘Fulano não foi, eu também não vou’”. (Pesquisadora 3, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 24 de outubro de 2015)

Consideramos que fizemos o possível para auxiliar o grupo a encontrar uma ordem aceita consensualmente, uma ordem que pudesse vinculá-las de forma mais realista à tarefa e que reduzisse o desgaste com os conflitos. Contudo, respeitamos também a opção do grupo por rejeitar essa ordem. Tal rejeição poderia decorrer não apenas da resistência à mudança, mas também da resistência à própria realidade da tarefa, que, mesmo após as melhorias obtidas, ainda era bastante cansativa e precária. Portanto, a estrutura libidinal baseada em descargas emocionais pouco elaboradas, formas de evasão da realidade, ainda era predominante.

Notamos, no entanto, que ao longo das intervenções, essas formas de evasão da realidade se enfraqueceram em certos momentos e se deslocaram para dinâmicas mais estáveis e homogêneas. Tal deslocamento não ocorreu de forma linear e não contraditória, mas observamos a mudança nos padrões recorrentes de relacionamento. De maneira geral, podemos afirmar que os deslocamentos observados ocorreram a partir das transferências recíprocas experimentadas com a equipe de pesquisa (Pichon-Rivière, 1977Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal: Del psicoanálisis a la psicología social (3rd ed.). Buenos Aires: Nueva Visión.). Ao realizar o planejamento colaborativo e dialogar sobre a possibilidade de melhorias no grupo, gerou-se um pressuposto inconsciente de espera messiânica por dias melhores, mas sem a implicação subjetiva em mudanças efetivas no comportamento (Bion, 1970Bion, W. R. (1970). Experiências com grupos: Os fundamentos da psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro, RJ: Imago.). Assim, o grupo desejava nossa presença, pois representávamos esperança, mas rejeitava se implicar nas mudanças que eram propostas em comum acordo. Gostavam das reuniões, mas, muitas vezes, não alteravam atitudes e comportamentos no cotidiano de trabalho. A equipe passou a ser vista como a “salvadora” do grupo, pois este rejeitava a autonomia para salvar-se a si próprio.

Cláudia disse que é por causa da gente que a associação está melhorando. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 26 de março de 2015)

Pâmela, mais uma vez, disse que elas, de vez em quando, pensam que eu deveria voltar a fazer reunião lá semanalmente, pois eu faço falta. Minha presença traz paz ao grupo. Ela disse que Catarina também falou isso. Eu lhes disse que a paz está dentro de todos nós e que precisamos cultivar isso. Pâmela disse que ali isso era impossível . (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 16 de julho de 2015)

O grupo estava concentrado hoje. Pareciam carecer de reunião. Luciana disse que estavam me esperando para eu trazer a paz . (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 18 de setembro de 2015)

Apesar da expectativa por melhorias, dias melhores não poderiam ser alcançados no grupo, pois o que o estabilizava era o próprio clima de esperança. Dessa forma, esse pressuposto se torna paralisante e traz resistência às próprias melhorias esperadas (Bion, 1970Bion, W. R. (1970). Experiências com grupos: Os fundamentos da psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro, RJ: Imago.). Nas últimas reuniões que realizamos, as associadas demonstraram estarem cientes da resistência do grupo com relação a dias melhores e mais harmônicos, pela metáfora da “macumba” ou por reconhecer que os conflitos eram vias de descarga para as energias liberadas pela redução na carga de trabalho obtida após a implantação da coleta seletiva.

Pâmela disse que ali devia ter alguma macumba, alguma coisa que impedisse a paz. Sempre havia uma briguinha. Perguntei se as brigas envolviam pessoas diferentes ou se eram sempre as mesmas. Elas não responderam. Achei interessante este silêncio. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 18 de setembro de 2015)

Pâmela disse: “Antes não tínhamos tempo para brigar. Tinha muito serviço. Eu sou pavio curto mesmo, muito ignorante” . (Pesquisadora 3, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 24 de outubro de 2015)

Apesar das resistências observadas ao longo da pesquisa, não podemos deixar de considerar os momentos nos quais as associadas demonstravam amadurecimento e capacidade de autoanálise de seus próprios padrões durante as dinâmicas e discussões propostas por nossa equipe.

Gabriela falou que ela já havia brigado muito por causa disso, mas que hoje ela aprova este desconto, pois as faltas estão sobrecarregando aqueles que vêm trabalhar. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 6 de fevereiro de 2015)

O foco da conversa foi as brigas. Falei durante bastante tempo sobre a importância da conversa, de controle emocional, da empatia. Elas me ouviram. Daniela, Mônica e Cláudia choraram. Senti que o grupo entrou em um nível mais sincero de interação. Todas começaram a participar lembrando das brigas e conversando sobre elas sem se irritar. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 24 de outubro de 2015)

Em outros momentos, observamos a emergência do Eu do grupo, da capacidade das associadas de chegarem sozinhas a acordos comuns e de realizarem demandas à prefeitura. Por meio desse Eu do grupo é que a Associação Y poderia se organizar de forma mais harmônica e estável, visto que o grupo se vinculava à realidade de sua tarefa. Assim, a Associação Y poderia ter voz na cidade, buscando obter o reconhecimento externo, tão necessário para a melhoria de suas condições de trabalho.

Elas disseram que chegaram à conclusão que o melhor seria pedir uma prensa. Poliana falou em nome delas. Realmente, o galpão estava com montanhas enormes de papelão, porque a prensa estava estragada há dias. Assim, o rendimento delas acaba ficando baixo. Achei interessante elas terem conversado e concluído isto. Acho um sinalizador importante de que está havendo um diálogo entre o grupo sobre suas próprias questões. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 15 de maio de 2015)

Cláudia tomou a palavra e disse que as associadas tinham decidido que o dinheiro do caixa iria ser dividido entre elas todo dia 15, deixando somente R$100 para a compra de fita e materiais. Achei interessante sua postura de liderança e a sinalização de que elas conversaram sobre isso entre elas. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 18 de setembro de 2015)

Quando indagadas se gostariam de realizar outro planejamento para a Associação Y, as associadas disseram que não. Alegaram falta de responsabilidade com as tarefas e que o grupo não se engajava em mudanças de atitudes.

Eu: “Vocês então estão encerrando o planejamento?” Elas disseram que sim e que não querem continuar. Eu perguntei: “Por que não conseguimos terminar as tarefas?”

Mônica: “Falta de animação, falta de gente. . . Só na hora da reunião que eles fazem que vão fazer e depois não muda nada”.

Poliana: “Responsabilidade. Quando a Pesquisadora 1 chegava, era tudo lindo. Depois, ela ia embora não mudava nada”.

Daniela: “Falta de compromisso” . (Pesquisadora 3, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 6 de junho de 2016)

Podemos entender que o grupo, ao rejeitar realizar outro planejamento, rejeitou o pressuposto da espera messiânica (Bion, 1970Bion, W. R. (1970). Experiências com grupos: Os fundamentos da psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro, RJ: Imago.), demonstrando alguma consciência da transferência com relação à equipe de pesquisa, aliada a suas resistências às mudanças planejadas. Portanto, a partir das análises dos processos transferenciais observados durante a pesquisa-ação na Associação Y à luz dos conceitos psicanalíticos, notamos a complexidade da estrutura libidinal e as diversas contradições entre esta e os desejos por ordem – desejos das próprias associadas e desejos de nossa equipe de pesquisa.

Transferência e implicação subjetiva dos pesquisadores na Associação Y

Ao analisar as relações transferenciais da equipe de pesquisa com relação ao grupo de associadas da Associação Y, os pontos centrais éticos, teóricos e epistemológicos da pesquisa revelaram-se como pressupostos tomados a priori e que despertavam certas emoções e expectativas nos pesquisadores. As intervenções da pesquisa-ação direcionavam-se no sentido da busca pela integridade da associação e pela crença na efetividade do grupo. Tal posicionamento despertou diversas emoções ao longo do processo de intervenção: alegria diante dos sucessos, tristeza diante das dificuldades e angústias diante das ameaças de fragmentação do grupo.

Qual é a raiz das dificuldades da associação: o descaso da prefeitura ou as brigas internas, a desorganização? Como podemos ajudar? Estou me sentindo sozinha. . . Quem quer que a associação continue? Só eu? (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo do dia 03 de março de 2015)

Ao longo das intervenções, notamos entre os pesquisadores sentimentos de amor e de ódio com relação às associadas. Amávamos aquelas que contribuíam para o grupo e trabalhavam bem. Odiávamos aquelas que causavam tumultos e atrapalhavam o trabalho das demais. À medida que conversávamos sobre esses sentimentos, eles eram controlados e analisados. A análise das relações transferenciais da equipe de pesquisa foi importante no sentido de relativizar as intervenções, possibilitando que os pesquisadores tomassem consciência dos sentimentos e expectativas que estavam sendo projetados no grupo. Desta forma, abrimos espaço para lidar com o real do grupo: o conjunto heterogêneo de sujeitos únicos ali reunidos e de fenômenos incontroláveis pelas técnicas de intervenção e incompreensíveis pelas teorias que estudamos. Neste ponto residia um elemento central de implicação psicoafetiva (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.) por parte da coordenadora do projeto, trabalhada ao longo de sua análise pessoal. Ao se deparar com o real da Associação Y, ela tomava maior consciência de sua estrutura de personalidade, baseada no desejo pelo conhecimento, pela busca de sentido, pelo aprendizado. Assim, o real do grupo lhe trazia grande angústia, pois ela não conseguia dar sentido a ele, não era simbolizável, fugia de seu controle teórico-metodológico. Para dar conta dele, a pesquisadora teve que rever fundamentos profundos de sua personalidade, desapegando-se da necessidade de controle e abrindo-se à experiência e à espontaneidade nas intervenções.

Estendemos a conversa durante um bom tempo. Joguei todo o planejamento por água abaixo, pois senti que o diálogo estava sendo produtivo. Achei que o grupo estava conseguindo ver com certo distanciamento seus próprios padrões comportamentais. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 24 de outubro de 2015)

Passei o bastão da fala, mas o grupo apresentou dificuldade em falar tarefas concretas. Elas falavam coisas abstratas, como “mais união no grupo”, ou não conseguiam falar nada. Naturalmente, o grupo começou a conversar sobre a associação. Deixei a conversa rolar mais livre e as tarefas foram aparecendo na fala delas . (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 25 de outubro de 2015)

Na dinâmica das transferências recíprocas com o grupo de associadas, observamos que a atuação da equipe de pesquisa tomou dois posicionamentos distintos, apesar de mantermos a atitude democrática (Pichon-Rivière, 1977Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal: Del psicoanálisis a la psicología social (3rd ed.). Buenos Aires: Nueva Visión.). Nas duas primeiras fases da pesquisa, exploratória e pesquisa aprofundada, o direcionamento das interações nas reuniões se deu de forma mais intensa por meio das tecnologias colaborativas. Esse momento foi importante para experimentar as ferramentas e aprofundar o conhecimento sobre seus potenciais e seus limites. Ademais, a aplicação das ferramentas possibilitou promover interações significativas, entender melhor as demandas do grupo e elaborar soluções de forma dinâmica e participativa.

Já nas duas fases posteriores da pesquisa – de ação e de avaliação e acompanhamento –, a equipe de pesquisa passou a ter maior contato com o real do grupo, com as complexidades que lhes eram inerentes e com diversos obstáculos às soluções planejadas. Neste momento, tendo em vista a maior clareza das relações transferenciais, a equipe de pesquisa alterou sua estratégia de atuação. O uso das ferramentas colaborativas foi reduzido, assim como a frequência das reuniões, deixando maior espaço para que o grupo encontrasse sua forma de organizar e para que as demandas individuais ou grupais pudessem emergir. Dessa forma, o processo de intervenção na Associação Y iniciou-se de forma mais estruturada, direcionando mudanças nas formas de interação do grupo, e finalizou-se de forma mais aberta, para que as reações grupais diante dessas mudanças pudessem ser observadas.

Articulada à implicação psicoafetiva, também observamos a implicação histórico-existencial da equipe de pesquisa ao nos relacionar com o grupo e com o contexto da Associação Y (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.). As diferenças nas condições socioeconômicas entre pesquisadores e associadas suscitou questionamentos profundos sobre justiça social. Ademais, nas primeiras visitas à associação o estranhamento com relação ao ambiente de trabalho das associadas foi inevitável, visto que era algo jamais vivenciado pelos pesquisadores. O registro da minha primeira visita à usina de triagem ilustra tal estranhamento:

O local é aberto no meio, com construções ao lado e um balcão ao fundo. A parte do meio, descoberta, estava cheia de sacos de lixo. O cheiro não é agradável. Muitas moscas. As mulheres me olhavam com cara de curiosidade. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 1 de outubro de 2013)

Cheguei pela primeira vez na Associação com a Pesquisadora 1 por volta das 15h30. Antes de entrar, já percebi um pouco de precariedade na parte do ambiente que visualizava por fora. Um caminhão acabava de chegar e começavam a despejar todo o lixo no pátio. O cheiro não era muito agradável . (Pesquisador 2, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 12 de fevereiro de 2014)

À medida que a relação com as associadas se aprofundava, a aprendizagem e o crescimento pessoal por parte da equipe de pesquisa tornaram-se cada vez mais claros. Aprendemos a reconhecer e a respeitar as diferenças, sem negá-las e sem nos sentirmos culpados por elas. Além disso, o processo de aproximação com a realidade das associadas nos levou ao rompimento de barreiras pessoais, no sentido de vencer a timidez e os preconceitos. Deixar o real do grupo emergir nos demandou lidar com os sentimentos de vulnerabilidade, falibilidade e impotência. Ademais, muitos participantes da pesquisa mencionaram maior engajamento e preocupação com a separação dos resíduos em suas casas, demonstrando apropriação da pesquisa como um projeto pessoal.

Aprendi muito vendo as reuniões e com a convivência na Associação Y . (Pesquisadora 4, equipe de pesquisa, celebração em 11 de dezembro de 2014)

Para mim, o mais importante tem sido o contato com o trabalho na associação, poder receber o carinho das associadas. Ver a evolução do projeto, as pessoas aparecendo, as coisas acontecendo tem sido muito gratificante . (Pesquisador 5, equipe de pesquisa, reunião de avaliação em 11 de dezembro de 2014)

Aprendi a ver o mundo de outra forma. Antes não dava tanta importância para a questão do lixo. Não sabia o que tinha por trás de tudo aquilo que colocava na lixeira. A partir do momento que descobri que havia pessoas que mexiam com isso todos os dias, me impressionei e comecei a pensar mais no assunto e incentivar pessoas a fazerem o mesmo . (Pesquisadora 6, equipe de pesquisa, reunião de avaliação em 11 de dezembro de 2014)

Em contrapartida ao crescente envolvimento da equipe de pesquisa com as associadas e o desejo de melhorar suas condições de trabalho, nos deparávamos com os desafios e limites colocados pelo princípio de realidade, advindos da implicação estrutural-profissional: o escopo prescrito de nossa atuação científica e profissional e as especificidades políticas e econômicas da região (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.). A realidade da atuação profissional se fez presente no fim da fase de avaliação da pesquisa, em dezembro de 2015, quando a coordenadora do projeto deixou o Brasil por nove meses. Esta viagem provocou um corte nas relações estabelecidas com as associadas, apesar de a Pesquisadora 3, da equipe de pesquisa, ter continuado algumas atividades de acompanhamento. Essa separação revelou-se importante por possibilitar o distanciamento necessário para ampliar nossas reflexões.

Com relação à realidade específica do contexto municipal, diversos obstáculos impediram a realização total dos sonhos planejados. Desde a morosidade nos processos ao problema da falta de recursos, passando por resistências implícitas, revelando que as relações com a administração pública municipal eram ambíguas e complexas. Ao mesmo tempo em que obtivemos apoio nas ações (impressão de panfletos, disponibilidade de espaço para as reuniões, participação de representantes de diversos setores, entre outros), os limites de atuação da prefeitura eram sempre apontados como barreiras ao sucesso do projeto. Aqueles que habitavam no município apontavam para a existência de resistências políticas, provenientes de uma liderança política local.

João disse que se formos esperar da prefeitura não faremos nada, pois o prefeito está sem verba. Ele estaria sofrendo um boicote por parte do ex-prefeito. (Pesquisadora 1, equipe de pesquisa, fragmento do diário de campo de 14 de outubro de 2014).

Aprendi . . . que não é fácil depender da prefeitura, por mais que a intenção seja ajudá-los a melhorar a cidade na qual eles gerenciam. (Pesquisadora 7, grupo Amaflor, celebração do dia 11 de dezembro de 2014).

A partir das considerações sobre as implicações psicoafetivas, histórico-existenciais e estrutural-profissionais vivenciadas durante a pesquisa na Associação Y, identificamos nossa situação de implicação como um posicionamento oposto à dimensão sistêmica da associação (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.). Notadamente nas primeiras duas fases da pesquisa, ao aplicar as tecnologias de gestão, entramos em conflito com a lógica organizacional da associação. As intervenções visavam estabelecer uma nova forma de estruturação para as interações entre as associadas, pois acreditávamos que o padrão presente de relações poderia ser mais produtivo e equitativo. O conflito entre nossas propostas de mudança estrutural e o desejo das associadas por se manterem como estavam foi, contudo, amenizado a partir de ganhos secundários obtidos por nossa implicação psicoafetiva, pelas relações libidinais construídas entre os pesquisadores e as associadas.

Tabela 2 : Implicação subjetiva na pesquisa-ação no contexto da Associação Y

Tipo de implicação subjetiva Experiências no contexto da Associação Y
Psicoafetiva Questionamento da própria estrutura de personalidade por parte da coordenadora da pesquisa, ao se deparar com situações não controláveis metodologicamente.
Histórico-existencial Abertura para interações mais espontâneas e para a vulnerabilidade, a partir de sentimentos de amor e confiança.
Estrutural-profissional Questionamento sobre justiça social a partir da constatação das grandes diferenças socioeconômicas entre os pesquisadores e as associadas.
Situação de implicação na Associação Y: Maior engajamento e preocupação por parte dos pesquisadores com a separação dos resíduos em casa.
Oposição à dimensão sistêmica
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Discussões e considerações inacabadas

Nosso objetivo neste artigo foi partir da psicanálise freudiana como arcabouço para compreender como se dão as dinâmicas transferenciais e de implicação subjetiva no processo de pesquisa-ação na Associação Y. Como a pesquisa-ação é um método em que a interação entre pesquisadores e sujeitos de pesquisa é intensa e profunda, em que pesquisadores não só coletam dados mas também apoiam os pesquisados a encontrar soluções para seus contextos, entendemos que a compreensão de tais dinâmicas torna-se de grande relevância para se refletir sobre os resultados obtidos.

Por parte das associadas, observamos uma crescente relação de amor transferencial com relação à equipe de pesquisa, na medida em que conquistávamos a confiança do grupo. De forma geral, as transferências foram positivas. O comportamento das associadas variava de gentil, a amoroso e até mesmo de disputa pelo amor dos pesquisadores. Diante de tais sentimentos despertados no grupo, a equipe de pesquisa buscou manter um posicionamento ético, sem questionar a autenticidade dos sentimentos, mas também sem se aproveitar de uma suposta relação vantajosa para impor nossas perspectivas ao grupo (Freud, 1915/1969). Conforme já exposto, as relações transferenciais estabelecidas foram necessárias para que houvesse uma abertura por parte das associadas para as propostas trazidas pela equipe de pesquisa. Tais propostas eram no sentido de construir relações colaborativas e dialógicas, capazes de estabelecer uma ordem consensual de organização do trabalho na Associação Y. Em alguns momentos da pesquisa, a dinâmica transferencial com relação à equipe de pesquisa parece ter contribuído para que as associadas se enxergassem como um grupo singularizado, capaz de ter voz e ação coletivas (Eu do grupo), de forma análoga à singularização do sujeito no amor transferencial citada por Lopes (2009)Lopes, M. M. F. (2009). Conceito de amor em psicanálise . São Paulo, SP: Centauro.. Ademais, tal dinâmica parece também ter contribuído em alguns momentos para a autorreflexão e a tomada de consciência individual por parte de algumas associadas.

Contudo, a partir da fase de ação, quando a implicação subjetiva das associadas foi mais exigida, no sentido de efetivamente mudarem comportamentos e atitudes, o amor transferencial para com a equipe de pesquisa não foi suficiente para que as mudanças planejadas ocorressem de forma mais significativa. Observamos nessa fase uma possível repetição de relações amorosas assimétricas, em que as associadas se colocavam como passivas diante das mudanças almejadas, em um estado inerte de esperança. O grupo passou a projetar na equipe de pesquisa suas esperanças e a capacidade de ação. Contudo, conforme as associadas perceberam que as ações somente poderiam ser realizadas por elas mesmas, observamos a emergência de um sentimento de luto ou de renúncia (Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009), por exemplo, quando desistiram das mudanças que elas mesmas propuseram ou de iniciar um novo processo de planejamento.

Com relação à contratransferência por parte da equipe de pesquisa em relação às associadas, tivemos maior contato com sentimentos ambivalentes, que a princípio se relacionavam às nossas próprias expectativas e projeções estabelecidas a partir da pesquisa-ação. Como havíamos pressuposto, a continuidade e a efetividade da Associação Y, os sentimentos de alegria, tristeza, angústia, amor e ódio emergiam diante dos diversos acontecimentos, positivos ou negativos para a associação. Ao tomarmos consciência de tais sentimentos, passamos a relativizá-los, a ponto de amarmos as associadas em sua singularidade, independentemente de sua relação com o trabalho e a Associação Y. Nesse sentido, pudemos abrir mão em alguns momentos do controle teórico-epistemológico e lidar com as angústias diante de possíveis fracassos e frustrações.

Nossa contratransferência em relação às associadas evoluiu. Primeiramente, como obstáculo a nos relacionarmos com o real do grupo e com cada indivíduo como ser integral e não apenas integrante de uma associação. Ao tomarmos consciência disso, a contratransferência se tornou instrumento terapêutico (Racker, 1982 citado por Isolan, 2005Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009) para que a própria equipe de pesquisa enxergasse seus padrões inconscientes de relacionamento e para que houvesse uma mudança de postura diante das associadas. A consciência das dinâmicas contratransferenciais nos proporcionou também experiências vivas, de maior entrega ao que emergia no momento presente das interações, num processo de aprendizado mútuo com as associadas.

Compreender a contratransferência no processo de pesquisa-ação lançou luz ainda sobre nossas relações de implicação subjetiva com relação ao andamento da pesquisa. Assim, tornou-se possível estabelecer novas hipóteses e novas intervenções, partindo não apenas do material coletado, mas também dos sentimentos que nos eram despertados em campo. Observamos os entraves e possibilidades que a forte implicação psicoafetiva (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.) nos oferecia, tomando o cuidado em nos distanciar das emoções imediatas. Refletimos também sobre nossa implicação histórico-existencial (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.), que trouxe à equipe de pesquisa grandes aprendizados a partir da convivência com as associadas e suas formas de pensar, buscando controlar os sentimentos de culpa aliados a impulsos por posturas mais ativas em nome da Associação Y. Entendemos que a ação deveria partir das associadas, limitando-nos pelos princípios científicos da pesquisa-ação. Tal limitação faz parte da implicação estrutural-profissional (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.) pois estávamos ali inseridos no campo como pesquisadores a priori . Sentimentos de amizade, de indignação e desejo de lutar por melhorias extrapolavam nosso papel. Tais sentimentos e desejos se tornavam mais intensos na medida em que os pesquisadores tomavam conhecimento dos entraves políticos à execução das ações. Em determinados momentos, optar em seguir com a pesquisa ou envolver-se ativamente na causa da Associação Y era um ponto de grande contradição em nossa equipe.

A pesquisa-ação na Associação Y, baseada em postura democrática com o uso das tecnologias de gestão colaborativas, portanto, desencadeou uma série de relações transferenciais recíprocas entre pesquisadores e participantes (Pichon-Rivière, 1977Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal: Del psicoanálisis a la psicología social (3rd ed.). Buenos Aires: Nueva Visión.). A partir de nossos pressupostos éticos, teóricos e metodológicos, nossa implicação subjetiva no campo resultou em uma oposição sistêmica, pois estávamos alinhados com a dimensão libidinal do grupo (éramos amados e aceitos), mas nossas intervenções questionavam a lógica organizacional da associação, evidenciando necessidades de mudanças nos padrões de organização do trabalho que não eram aceitas no cotidiano do grupo. Assim, tal forma de implicação, por um lado, nos possibilitou interações mais próximas com as associadas; de outro, nos colocou muitas vezes, como desviantes organizacionais e, até mesmo, ideológicos (Barbier, 1985Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.).

As compreensões sobre o processo de pesquisa-ação a partir de conceitos da psicanálise nos permitiram maior controle metodológico, buscando uma neutralidade improvisada (Pommier, 1998Pommier, G. (1998). O amor ao avesso: Ensaio sobre a transferência em psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Companhia de Freud.) e promovendo um equilíbrio mais consciente entre a identificação com o grupo de sujeitos e o distanciamento necessário à investigação científica. Desta forma, reconhecemos que nossa simples presença na usina de triagem já influenciava o comportamento do grupo de associadas e o contato com elas nos influenciava em nossas formas de agir e pensar. Durante a pesquisa-ação, a equipe de pesquisa e as associadas formavam um sistema interdependente. Podemos afirmar que todas as mudanças observadas tanto nelas quanto em nós foram frutos de dinâmicas transferenciais recíprocas. Tomar consciência delas nos permitiu focar em nosso propósito científico, mas também compreender que as consequências e resultados de nossa pesquisa vão muito além do que foi cientificamente documentado.

Este artigo, portanto, contribui para abrir possibilidades de reflexões mais profundas sobre os processos de pesquisa-ação no campo dos estudos organizacionais, evidenciando as influências subjetivas na interação entre pesquisadores e pesquisados. Entendemos que tais reflexões são pertinentes para se alcançar efetivamente a mudança social, a colaboração e a autonomia entre os participantes da pesquisa-ação (Lodi et al., 2017Lodi, M. D. F., Thiollent, M., Sauerbronn, J. F. R. (2017). Uma discussão acerca do uso da pesquisa-ação em administração e ciências contábeis. Sociedade, Contabilidade e Gestão , 13(1), 57-68. doi:10.21446/scg_ufrj.v13i1.14175
https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v13i1....
). Sob uma perspectiva psicanalítica, tais objetivos seriam alcançados somente a partir da implicação dos sujeitos participantes na ação que promove mudanças, tanto em âmbito pessoal quanto coletivo ou social. Para isso, seria necessária a superação de comportamentos repetitivos e compulsórios, deslocando padrões relacionais rumo a atitudes mais colaborativas, vinculadas ao real da situação e às soluções coletivas.

De forma análoga ao processo terapêutico, a dinâmica transferencial cumpre papel de grande relevância nesse deslocamento, visto que ela possibilita a singularização e a autonomia do sujeito, a partir das vivências de esperança, frustração e superação. Um olhar sobre as transferências recíprocas nos permitiu compreender de forma mais aprofundada como e quando tais deslocamentos podem ou não ocorrer durante a pesquisa-ação. Portanto, aos pesquisadores que se interessam pela pesquisa-ação, recomendamos a reflexão sobre as transferências recíprocas que se estabelecem em campo, atentando para sua dinamicidade do início ao fim da pesquisa. Tal reflexão permite maior distanciamento das projeções teórico-metodológicas inerentes ao processo científico, abrindo espaço para que a sensibilidade dos pesquisadores em relação ao real do grupo possa ser considerada na geração de ações efetivas. Nesse sentido, torna-se de extrema importância a preparação e o acompanhamento dos membros da equipe de pesquisa, a partir de diálogos abertos sobre expectativas, desejos, sentimentos e necessidades em relação à pesquisa.

Ademais, entendemos que é necessário um alinhamento mínimo entre os pesquisadores sobre o que se espera da pesquisa e quais seus princípios éticos, metodológicos e teóricos. O diálogo e o alinhamento da equipe podem ser obtidos a partir de um planejamento participativo inicial da pesquisa. A elaboração de diários de campo mostrou-se também uma ferramenta de grande valia nesse processo, originando ricos materiais para discussão entre a equipe de pesquisa.

Esperamos que outras aplicações da pesquisa-ação no futuro possam se balizar também pela perspectiva apresentada neste artigo, trazendo outras experiências no processo de interação intersubjetiva entre pesquisados e pesquisadores nas organizações em contextos diversos. Ao reconhecer e analisar as dinâmicas afetivas decorrentes dessa interação, acreditamos ser possível compreender melhor os resultados e os conhecimentos gerados pelas pesquisas.

Agradecimentos

As autoras agradecem aos indivíduos e instituições participantes, que possibilitaram a realização desta pesquisa.

References

  • Andréia, M. A. (2006). Transferência e contratransferência: O sentir como instrumento de trabalho no processo grupal. Revista da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, 7(2), 51-58. Recovered from https://bit.ly/3f9DR0c
    » https://bit.ly/3f9DR0c
  • Barbier, R. (1985). Pesquisa-ação na instituição educativa . Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.
  • Bion, W. R. (1970). Experiências com grupos: Os fundamentos da psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro, RJ: Imago.
  • Bryman, A. A. (1992). Research methods and organization studies (2nd ed.). Londres: Unwin Hyman.
  • Desroche, H. (2006). Pesquisa-ação: Dos projetos de autores aos projetos de atores e vice-versa. In M. Thiollent (Ed.), Pesquisa-ação e projeto cooperativo na perspectiva de Henri Desroche (pp. 33-68). São Carlos, SP: EdUFSCar.
  • Freud, S. (1915/1969). O inconsciente. In S. Freud, Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição standard brasileira (vol. XIV). Rio de Janeiro, RJ: Imago.
  • Freud, S., Breuer, J. (1895/1969). Casos clínicos. In S. Freud, Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição standard brasileira (vol. II). Rio de Janeiro, RJ: Imago.
  • Gaulejac, V., Roche, P. (2012). Introduction. In V. Gaulejac, F. Hanique, P. Roche (Eds.), La sociologie clinique: Enjeux théoriques et méthodologiques (pp. 13-26). Toulouse: Érès.
  • Godoi, C. K. (2005). Psicanálise das organizações: Contribuições da teoria psicanalítica aos estudos organizacionais. Itajaí, SP: Editora Univali.
  • Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2013). Situação social das catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis . Brasília, DF: Autor. Recovered from https://bit.ly/3hJClmR
    » https://bit.ly/3hJClmR
  • Isolan, L. R. (2005). Transferência erótica: Uma breve revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul , 2(27), 188-195. doi:10.1590/S0101-81082005000200009
  • Lodi, M. D. F., Thiollent, M., Sauerbronn, J. F. R. (2017). Uma discussão acerca do uso da pesquisa-ação em administração e ciências contábeis. Sociedade, Contabilidade e Gestão , 13(1), 57-68. doi:10.21446/scg_ufrj.v13i1.14175
    » https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v13i1.14175
  • Lopes, M. M. F. (2009). Conceito de amor em psicanálise . São Paulo, SP: Centauro.
  • Lourau, R. (1975). A análise institucional . Petrópolis, RJ: Vozes.
  • Macke, J. (2006). A pesquisa-ação como estratégia de pesquisa participativa. In C. K. Godoi, R. B. Mello, A. B. Silva (Eds.), Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: Paradigmas, estratégias e métodos (pp. 207-239). São Paulo, SP: Saraiva.
  • Menelau, S., Santos, P. M. F., Castro, B. G. A., Nascimento, T. G. (2015). Realizar pesquisa sem ação ou pesquisa-ação na área de Administração? Uma reflexão metodológica. Revista de Administração , 50(1), 40-55. doi:10.5700/rausp1183
    » https://doi.org/10.5700/rausp1183
  • Molina, R. S., Fabrian, C. B. (2014). Conceito de transferência e contratransferência: Uma revisão crítica sistemática. Psicologia Argumento , 32(77), 85-97. doi:10.7213/psicol.argum.32.077.AO02
    » https://doi.org/10.7213/psicol.argum.32.077.AO02
  • Paes de Paula, A. P., & Souza, M. M. P. (2018). Gestão dialógica e tecnologias colaborativas . Curitiba, PR: Appris.
  • Pichon-Rivière, E. (1977). El proceso grupal: Del psicoanálisis a la psicología social (3rd ed.). Buenos Aires: Nueva Visión.
  • Pommier, G. (1998). O amor ao avesso: Ensaio sobre a transferência em psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Companhia de Freud.
  • Roese, A., Gerhardt, T. E., Souza, A. C., Lopes, M. J. M. (2006). Diário de campo: Construção e utilização em pesquisas científicas. Online Brazilian Journal of Nursing , 5(3). doi:10.5935/1676-4285.2006598
    » https://doi.org/10.5935/1676-4285.2006598
  • Silveira, R. Z., Palassi, M. P., & Paes de Paula, A. P. (2019). Modos de uso de pesquisa-ação em dissertações e teses em Administração no Brasil. Organizações em Contexto , 15(30), 317-349. doi:10.15603/1982-8756/roc.v15n30p317-349
    » https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v15n30p317-349
  • Smith, S. E. (1997). Deepening participatory action-research. In S. E. Smith, D. G. Willms, N. A. Johnson (Eds.), Nurtured by knowledge: Learning to do participatory action-research (pp. 173-263). Nova Iorque: The Apex Press.
  • Thiollent, M. (1986). Metodologia da pesquisa-ação (2nd ed.). São Paulo, SP: Cortez.
  • Verificação de plágio
    A O&S submete todos os documentos aprovados para a publicação à verificação de plágio, mediante o uso de ferramenta específica.
  • Disponibilidade de dados
    A O&S incentiva o compartilhamento de dados. Entretanto, por respeito a ditames éticos, não requer a divulgação de qualquer meio de identificação dos participantes de pesquisa, preservando plenamente sua privacidade. A prática do open data busca assegurar a transparência dos resultados da pesquisa, sem que seja revelada a identidade dos participantes da pesquisa.
  • Financiamento: As autoras agradecem o apoio financeiro da Universidade Federal de Viçosa e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsas (extensão, doutorado e produtividade) para a realização desta pesquisa.
Editora Associada: Josiane Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    19 Out 2020
  • Aceito
    22 Abr 2021
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br