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Dom Sebastião contra Napoleão: a guerra sebástica contra as tropas francesas

Resumos

O artigo analisa a sobrevivência do sebastianismo em Portugal no início do século XIX, a partir dos escritos que provocaram a chamada "guerra sebástica", travada paralelamente às guerras contras as tropas de Napoleão Bonaparte.


The article analyses the survival of "sebastianismo"in Portugal on the beginning of the XIXth Century, based on the writings responsible for the " sebástica war", held in parallel to the wars against Napoleon's troops


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  • 1
    Ver Novais, F. A. "Política de neutralidade". In Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1981, pp. 17-56.
  • 2
    Apud Neves, Lúcia Maria Bastos Pereira das. As representações napoleônicas em Portugal: imaginário e política (c.1808 - 1810). Rio de Janeiro. Tese apresentada para concurso de Professor Titular no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ, 2002, pp. 55.
  • 3
    Cf idem, p.51.
  • 4
    Para os impasses vividos em Portugal nesse momento ver, além do trabalho de L. M. B.Pereira das Neves, Araújo, Ana Cristina Bartolomeu de. As invasões francesas e a afirmação das idéias liberais. In Torgal, Luis Reis, Roque, João Lourenço (Coords.). O liberalismo (1807-1890). Lisboa: Estampa, 1993 (História de Portugal, 5) e Lima, Oliveira. D. João VI no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, pp. 21-41.
  • 5
    Sobre o Tratado de Fontainebleau ver Alexandre, Valentim. Os sentidos do império: questão nacional e questão colonial na crise do Antigo Regime português. Porto: Afrontamento. p. 163; Lima, Oliveira. Op. cit., p. 37.
  • 6
    Ver o verbete Carlota Joaquina. In Vainfas, Ronaldo (Dir.).Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, pp. 102-3.
  • 7
    Cf. Neves, J. Acussio das. História geral da invasão dos franceses em Portugal e da restauração deste reino. Porto: Edições Afrontamento, s/d. Tomo I, p. 220.
  • 8
    Cf. Neves, L. M. B.Pereira das. Op. cit., p. 61-62.
  • 9
    Para uma análise da construção da narrativa mítica em torno do milagre de Ourique verBuescu, Ana Isabel. Um mito das origens da nacionalidade: o milagre de Ourique. In Bethencourt, Francisco, Ramada Curto, Diogo (Orgs.). Memória da Nação. Lisboa: Sá da Costa, 1991, pp. 49-69.
  • 10
    Idem, p. 60.
  • 11
    Cf. Edital de 1o de fevereiro de 1808. [Lisboa]: Impressão Régia, [1808].
  • 12
    L. M. B. Pereira das Neves chama a atenção para essa parte da nobreza que se ressentiacom a perda de espaço político junto à Regência e via nesse novo momento a oportunidade de recuperar "o seu antigo papel de conselheira nata do monarca". Neves, L. M. B. Pereira das. Op.cit., p. 141. É possível também conjecturar sobre a tentativa de "revanche" de parte da nobreza que havia sido perseguida desde os tempos de Pombal e que vira o regente e a rainha abandonarem o reino em momento tão difícil. O paradoxo dosafrancesados foi querer uma "revolução" para restaurar antigos privilégios, esperando contar, para isso, com o apoio dos franceses.
  • 13
    Cf. Araújo, Ana Cristina Bartolomeu de. Op. cit., pp. 33-34.
  • 14
    Cf. Neves, L. M. B. Pereira das. Op. cit., p. 69; Alexandre, Valentim. Op. cit., pp. 182183; Araújo, Ana Cristina Bartolomeu de. Op. cit., pp. 37-38.
  • 15
    Para uma análise do momento constitutivo do sebastianismo português ver Hermann,Jacqueline. No Reino do Desejado: a construção do sebastianismo em Portugal, séculos XVIXVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
  • 16
    Dom João de Castro apoiou dom Antônio, primo bastardo de dom Sebastião, mas pre-terido pelo cardeal dom Henrique por ser filho de cristão nova com um irmão do rei, dom Luís.
  • 17
    As edições de 1810 e 1815 foram publicadas com os seguintes títulos, respectivamente:Bandarra descoberto nas suas Trovas, contendo uma Coleçam de Profecias notáveis, respeito a felicidade de Portugal, e Cahida dos maiores Impérios do Mundo; Trovas inéditas de bandarra; natural da Vila Francoza. Esta edição pretendia incluir o 4o, 5o e 6o corpos das trovas e apresenta um estilo bem mais rude e simplório que aquela considerada "original". Em 1823, 1866 e 1911 suegem novas edições. Cf. Hermann, Jacqueline. Op. cit., pp. 54-55 e 314. Em Londres publicava-se ainda oCorreio Braziliense, de Hipólito da Costa, entre 1808 a 1822, no qual Napoleão era ferozmente atacado. Cf Neves, L M. B. Pereira das.Op. cit., p. 189.
  • 18
    Sobre a relação entre sebastianismo e Restauração ver Hermann, Jacqueline. O sebas-tianismo e a Restauração Portuguesa. Voz Lusíada. Lisboa, Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes, n. 11, pp.3-16, 1999. Sobre a parenética produzida no período ver Marques, João Francisco. A parenética portuguesa e a dominação Filipina. Porto: Instituto Nacional de Investigação Científica; Centro de História da Universidade do Porto, 1986; A parenética portuguesa e a Restauração (1640-1668). A revolta e a mentalidade. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1989, 2 vols.
  • 19
    Neves, L. M. B.Pereira das. Op. cit., p. 63.
  • 20
    Araújo, Ana Cristina Bartolomeu de. Op. cit., p. 36.
  • 21
    Neves, L. M. B. Pereira das.Op. cit. Capítulo 1, "Napoleão: o homem e a história", pp. 10-40 e capítulo 3, "Mitos e representações em torno de Napoleão Bonaparte", pp. 84136. Ana Cristina Bartolomeu de Araújo chega a falar em 2.000 panfletos, folhas volantes e caricaturas circulando na Península Ibérica nesse períodoCf. Araújo, Ana Cristina Bartolomeu de. Op. cit.,p. 42.
  • 22
    Ver a respeito Darnton, Robert. Boemia literária e Revolução: o submundo das letras no Antigo Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
  • 23
    Para os títulos do século XIX ver Neves, L. M. B. Pereira das. Op. cit. p. 71, nota 64. Para os textos do século XVII ver Azevedo, João Lúcio. A evolução do sebastianismo (1918). 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1984, p. 59 e Marques, João Francisco. A parenética portuguesa e a Restauração (1640-1668). Vol. 2, p. 425, respectivamente.
  • 24
    Carta de um provinciano a um amigo seu sobre a Guerra Sebástica. Lisboa: Impressão Régia, 1810, p. 2; Macedo, José Agostinho de. Os sebastianistas. Reflexões críticas sobre esta ridícula seita. Lisboa: Officina de Antonio Rodrigues Galhardo, Impressor do Conselho de Guerra, 1810. 114 p. Ver também Boisvert, Georges.La guerra sebástica à Lisbonne en 1810. Les dessous de la polémique. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983, pp. 671685.Separata do Arquivo do Centro Cultural Português.
  • 25
    Exame e juízo crítico sobre o papel intitulado Anti-sebastianismo, annunciado na Gazeta de Lisboade 28 de setembro do presente anno. Lisboa: na Impressão Régia, 1809, p. 5. Dentre as biografias mais conhecidas do padre José Agostinho de Macedo destacam-se:Braga, Teófilo (Coord.). Memórias para a vida íntima de José Agostinho de Macedo. 18991900, 3 vols.; Melo, Joaquim Lopes Carreira de. Biografia do P. José Agostinho de Macedo e a sua época, seguida de um catálogo alfabético de todas as suas obras. Porto, 1854; Torres, M. J. Vida de José agostinho de Macedo e notícia de seus escritos. Lisboa, 1859; Olavo, Carlos. A vida turbulenta do Padre José Agostinho de Macedo. Lisboa: Guimarães e Ca., s/d.
  • 26
    Macedo, José Agostinho de. Os sebastianistas. Prefação. Sobre o sapateiro Simão Gomes, Macedo refere-se à Vida de Simão Gomes, do jesuíta Manuel da Veiga, publicada em 1625. Sapateiro contemporâneo dos reinados de dom João III, de dom Sebastião e de Bandarra, colega de profissão que se tornaria o "profeta" do sebastianismo, Simão Gomes era conhecido como oSapateiro Santo e, segundo alguns relatos, chegou a ser chamado ao Conselho de Estado no tempo de dom Sebastião, para "dar respostas proféticas" a questões políticas importantes.
  • 27
    Macedo, José Agostinho de. Op. cit., pp. 17-20.
  • 28
    Idem, pp. 21-22. As Profecias do Pretinho do Japão integram um conjunto incontável de escritos proféticos que circulavam em Portugal, manuscritos e impressos, desde o século XVI, depositados na Biblioteca Nacional de Lisboa, seção de manuscritos, mss.164, n. 11.Profecias a respeito de vários assuntos da história de Portugal feitas por várias pessoas em diferentes épocas. Cópia do século XIX. Em 1821 foi publicado O último desengano dos sebastianistas dado e recebido nas Trovas do Pretinho do Japão. Lisboa: Officina de Antonio Rodrigues Galhardo, Impressor do Conselho de Guerra. O texto de Macedo foi impresso na mesma oficina. Agradeço a Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves a gentileza de me ceder uma cópia deste impresso.
  • 29
    Macedo, José Agostinho de. Op. cit., pp. 33- 36.
  • 30
    Idem, p. 38.
  • 31
    Antônio Vieira pagaria caro tanto por sua defesa dos cristãos novos, como pela famosaCarta ao Bispo do Japão, escrita em 1659, três anos depois da morte de dom João IV, na qual afirmava ser o Encoberto das Trovas do Bandarra (que para ele tinham valor de profecias) dom João IV ressuscitado, futura cabeça do Quinto Império do Mundo. Para uma análise da vida e do processo sofrido Vieira ver, dentre outros, Azevedo, João Lucio de. História de Antônio Vieira. 3. ed. Lisboa: Clássica Editora, 1992. 2 vols.
  • 32
    Macedo, José Agostinho de. Op. cit., p. 40. É importante assinalar que apenas entre os letrados e rei Esperado deixou de ser dom Sebastião. Entre os populares, o Desejado foi sempre o rei desaparecido nas areias do Marrocos. Exemplos dessa permanência podem ser observados tanto entre os quatro falsos dom Sebastião que reivindicaram a identidade do monarca, entre 1584 e 1602, como entre as visionárias que afirmavam manter contato com dom Sebastião em sonho ou em visitas à Ilha Encantada onde o rei e sua família preparavam a volta ao reino. Ver a respeito Hermann, Jacqueline. Op. cit. Capítulo 5: "A volta do Encoberto: entre farsas e encantamentos". Vale citar também Rosa Egipcíaca da Vera Cruz, biografada por Luiz Mott, ex-escrava e prostituta que se tornou beata e visionária e esperava casar com dom Sebastião. Mott, Luiz. Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993. Vale citar ainda os movimentos sebastianistas surgidos no Brasil: o da Serra do Rodeador, em Pernambuco, entre 1818-1820, e o do Reino da Pedra, também pernambucano, em 1838, ambos organizados em torno da espera da volta de dom Sebastião.
  • 33
    Macedo, José Agostinho de. Op. cit., p. 45.
  • 34
    Idem, p. 54.
  • 35
    Idem, p. 67. Grifa, no maravilhoso medieval, era um animal fabuloso com cabeça de águia e garras de leão.
  • 36
    Idem, p. 70.
  • 37
    Idem, pp. 71-72.
  • 38
    Idem, p. 74.
  • 39
    Cf. L.M.B. Pereira das Neves. Op. cit., p.199.
  • 40
    Refutação Analytica do Folheto que escreveo o Reverendo Padre José Agostinho de Macedo, e intitulou os Sebastianistas. Pelos redactores do Correio da Pininsula. Prólogo. Lisboa, 1810.
  • 41
    p. III-VIII. Agradeço a Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves a gentileza de me ceder uma cópia deste impresso.
  • 42
    Idem, p. X.
  • 43
    A recorrêcia, segundo alguns autores, de sapateiros-profetas, teria levado, durante a ÉpocaModerna e em algumas regiões da Europa, a uma identificação quase direta entre os termos. Peter Burke chega a falar em "cultura sapateira". Ver Burke, Peter. A cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p.64. Essa relação, no entanto, não deve ser tomada sem a análise de cada caso, pois muitos outros ofícios "produziram" profetas nesse período.
  • 44
    Idem, p. 18-19.
  • 45
    Idem, p. 35.
  • 46
    Resposta ás Proposições incluidas no Folheto Intitulado Os sebastianistas por José Agostinho de Macedo, seu author Joaquim Agostinho de Freitas. Lisboa: Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, p. ii, iii, 19 e 20, respectivamente.
  • 47
    Idem, p. 18.
  • 48
    Cartas sobre o verdadeiro espírito do Sebastianismo escrita a hum fidalgo desta Corte por Manoel Joaquim Pereira, Presbytero Secular. Lisboa: Impressão Régia, 1810, p. 11.
  • 49
    Carta de hum guarda-roupa d'elRei D.Sebastião a hum seu amigo nesta Corte, em que, depois de humas breves reflexões sobre o Folheto intitulado Os sebastianistas Lhe dá huma noticia circunstanciada da Ilha Encuberta, e da existencia daquelle SoberanoTudo em estilo jocoserio, único proprio de semelhante assumpto. Dada á luz, e vendida aos curiosos por F. P. J. Lisboa: Impressão Régia, 1810, p. 2 e 5.
  • 50
    Macedo, José Agostinho de. Os sebastianistas. Segunda parte por José Agostinho de Macedo. Lisboa: Impressão Régia, 1810, 103 p.
  • 51
    Dentre os quais Sá, José Maria de. Impugnação imparcial do folheto intitulado Os Sebastianistas, por um amador da verdade. Lisboa: Impressão Régia, 1810; Defeza dos sebastianistas, Primeira audiência e despacho que nella obtem composta por Pedro Ignacio Ribeiro Soares. Lisboa: Officina de João Rodrigues Neves, 1810; O Sebastianista Furioso contra o livro intitulado Os sebastianistas por J.M.A. dado á luz Por hum remendão Litterario, que ouviu, e apartou a bulha Sebástica. Lisboa: Impressão Régia, 1810. 52 Apud Neves, L. M. B. Pereira das. Op. cit, p. 118.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2002
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