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A Diáspora dos Falantes de Iorubá, 1650-1865: Dimensões e Implicações

Resumos

O objetivo geral do artigo é propor uma análise quantitativa da etnicidade Iorubá, em suas expressões na diáspora, uma vez que esse grupo não existia inicialmente como um povo, ou etnia, consciente de si mesmo. Trata-se de explorar em que medida as condições criadas no Novo Mundo pelo tráfico de escravos pôde acelerar a constante renovação da formação identitária dos Iorubás. Para tanto, pretende-se apresentar uma estimativa mais sistemática do envolvimento dos Iorubás na dinâmica do tráfico e explorar as implicações dessas descobertas para iluminar questões mais amplas do repovoamento das Américas.

escravidão; Iorubá; etnicidade; análise quantitativa.


The article is a quantitative analysis of Iorubá ethnicity as expressed in the Diaspora. Initially, the Iorubá did not exist as a distinct people, ethnic group or cultural consciousness. The analysis intends to explore to what degree conditions created by the traffic of east African slaves to the New World accelerated the development of a permanent Iorubás' identity. It is intended to present a more systematic estimate of Iorubá involvement in the dynamics of slave trafficing, to explore the implications of these discoveries, and to illuminate broader questions concerning the re-peopling of the Americas.

slavery; Iorubá; etnicity; quantitative analysis.


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    Robin Law, Ethnicity and the Slave Trade: "Lucumi" and "Nago" as Ethonyms in West Africa, History in Africa, 24 (1997): 205-19.
  • 2
    Ver Marianne Wokeck, Irish and German Migration to Eighteenth Century North America, in David Eltis (org.), Coerced and Free Migration: Global Perspectives (Stanford, 2002: 176-203, e a literatura lá citada.
  • 3
    Robin Law, "Ethnicity and the Slave Trade: "Lucumi" and "Nago" as Ethonyms in WestAfrica," History in Africa, 24 (1997): 205-19.
  • 4
    Ver Marianne Wokeck, "Irish and German Migration to Eighteenth Century NorthAmerica," in David Eltis (org.), Coerced and Free Migration: Global Perspectives (Stanford, 20020: 176-203, e a literatura lá citada.
  • 5
    Este procedimento é baseado em estimativas da distribuição de escravos, feitas porgrupamentos nacionais de navios da Europa e das Américas, referentes a oito regiões africanas costeiras. As estimativas não são apresentadas aqui, mas são fáceis de ser obtidas para qualquer período, após 1675, de David Eltis, Stephen Behrendt, David Richardson e Herbert S. Klein, The Transatlantic Slave Trade: A Database on CD-ROM (Cambridge, 1999), de agora em diante, simplesmente mencionado como TSTD.
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    Nem todos os navios negreiros conseguiram chegar às Américas, ou à África. Felizmen-te, há bastante informações disponíveis sobre o resultado final da viagem, na medida em que em quase noventa por cento das viagens sabemos se o navio embarcou escravos, enquanto que, em pouco mais de noventa por cento, sabemos se o navio chegou à África antes de iniciar o comércio. No todo, quase uma viagem em dez incluída no presente cálculo não trazia os escravos para as Américas e somente 82 por cento de todos os navios conseguiam entregar os escravos sob o controle de seus donos originais.
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    Os registros de Havana estão no Departamento de Registro Público (British PublicRecord Office), FO 313, vols. 56-62. Para consultar o que parece ser o único uso deste material, ver Roseanne Marion Adderley, 'New Negroes from Africa': Culture and Community Among Liberated Africans in the Bahamas and Trinidad 1810-1900. Dissertação de Doutorado Inédita, Universidade da Pensilvânia (University of Pennsylvania), 1996. Os registros de Serra Leoa (na série FO84) foram usados em R. Meyer-Heiselberg, Notes from the Liberated African Department in the Archives at Fourah Bay College (Notas do Departamento Africano Liberado), Freetown, Serra Leoa (Uppsala, 1967); David Northrup, Trade Without Rulers: Precolonial Economic Development in Southeastern Nigeria (Oxford, 1978), 58-65, 231; David Eltis, Welfare Trends Among the Yoruba at the Beginning of the Nineteenth Century: the Anthropometric Evidence, Journal of Economic History, L (1990), 521-40; e idem, Nutritional Trends in Africa and the Americas: Heights of Africans, 18191839, Journal of Interdisciplinary History, XII (1982), 453-75. G. Ugo Nwokeji and David Eltis, The Roots of the African Diaspora: Methodological Considerations in the Analysis of Names in the Liberated African Registers of Serra Leoa and Havana, History in Africa, 29 (2002): 365-79; e idem, Characteristics of Captives Leaving the Cameroons for the Americas, 1822-1837, Journal of African History, 43 (2002): 191-210.
  • 8
    Os registros distinguem, por um lado, entre "incisões", "cortes", "marcas", "tatuagens",que consideramos como evidência de procedimentos de cicatrização voluntária, e, por outro lado, "cicatrizes" propriamente ditas. Cicatrizes são provavelmente o resultado de atividade involuntária. A maior parte dessas últimas teria pouco significado cultural.
  • 9
    Um exemplo menor é o nome dos réus nos procedimentos da corte, após a revolta de1835 na Bahia. Ver Joao Reis, Slave Rebellion in Brazil: The Muslim Uprising of 1835 in Bahia (Baltimore, 1993), pp. 155-56.
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    Deveria ser enfatizado que a ligação de nomes com etnicidade não tem implicaçõesnecessárias para a definição de etnicidade por si só. Para uma discussão desta questão, ver Nwokeji e Eltis, Characteristics, 191-2.
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    TSTD.
  • 12
    O segundo maior grupo de iorubás na tabela 1 é Ecumacho, que não tem contra-partida moderna. Ojo Olatunji da Universidade de York sugeriu que este é Ikumeso ou Ekun Eso. - em iorubá, 'a província do valente'. Eso é o título de uma elite militar de Oió que foi retirada da Província Oriental do reino. Os nomes de pessoas neste grupo são principalmente iorubás, de qualquer maneira.
  • 13
    A maior parte das embarcações era capturada nas Américas, em vez de na África, demodo que a determinação da localização dos portos africanos e, talvez, da etnicidade dos capturados deve ter sido feita de forma quase aleatória .
  • 14
    Quantidade calculada multiplicando-se os 162.800 escravos que deixaram a Baía deBenin entre 1826 e 1840 (Eltis, Behrendt e Richardson, Census, no prelo) por .625 (a parte de todos os cativos identificados que eram iorubás, da tabela 1). Enquanto que o volume estimado geral da Baía de Benin usado aqui é para quinze anos, uns poucos iorubás saíram de portos na Baía de Biafra e não são, portanto, incluídos na estimativa da Baía de Benin. A tendência ascendente que inclui o ano extra é compensada pela tendência descendente da omissão dos iorubás que partiram de outros portos distintos da Baía de Benin.
  • 15
    A.F.C. Ryder, Benin and the Europeans, 1485-1897 (Londres, 1969), pp. 197-98.
  • 16
    Robin Law, A Lagoonside Port on the Eighteenth Century Slave Coast; Caroline SorensenGilmour, Slave-Trading along the Lagoons of South-West Nigeria: The Case of Badagry em Robin Law e Silke Strickrodt (orgs.), Ports of the Slave Trade (Bights of Benin and Biafra (Stirling, 1999), págs. 85-6.
  • 17
    Este parágrafo e o próximo são basedos em David Eltis, Economic Growth and the Ending of the Transatlantic Slave Trade (New York, 1987), pp. 168-69.
  • 18
    Para o tráfico de escravos em Lagos, cerca de 1840, ver Kristin Mann, The Birth of African City: trade, State and Emancipation in Nineteenth Century Lagos (forthcoming, chapters 1 and 2). A correspondência do Rei Kosoko, aprisionado pelos britânicos e publicada verbatim na Publicação Sessional Papers da Câmara dos Lordes, 1852-53, 22: 327-66, mostra o Rei vendendo escravos em comissão na Bahia, mas isso dá conta de menos de dez por cento de todos os escravos vendidos em 1848 e 1849. Kosoko também mandou construir seu próprio navio de escravos na Bahia. Ver também os anexos em H.
  • 19
    Wise para Calhoun, Nov 1, 1844, Congresso dos Estados Unidos, H. Exec Doc. no. 148, 28-2, pp. 44-47. Para Ajudá, ver Robin Law, Royal Monopoly and private Enterprise: The Case of Dahomey. The Journal of African History 18 (1977): 559-71; e Slave-Raiders and Middlemen, Monopolists and Free Traders: The Supply of Slaves for the Atlantic Trade in Dahomey, c. 1715-1850, ibid, 30 (1989): 45-68.
  • 20
    A evidência está resumida e discutida em Robin Law, The Slave Coast of West Africa, 1550-1750 (Oxford, 1991), 186-191; idem, Ethnicity and the Slave Trade, (Etnicidade e o Comércio de Escravos) 205-19, especialmente 207.
  • 21
    Law, Ethnicity and the Slave Trade, (Etnicidade e o Comércio de Escravos)207; idem, The Kingdom of Allada, 101-104; Paul E. Lovejoy e David Richardson, The Yoruba Factor in the Atlantic Slave Trade, (artigo não publicado).
  • 22
    Law, The Slave Coast, 309-14; idem, A Lagoonside Port on the Eighteenth Century Slave
  • 23
    Coast: The Early History of Badagri, Canadian Journal of African Studies, 28 (1994): 32-59.
  • 24
    Pierre Verger, Trade Relations Between the Bight of Benin and Bahia, 17th-19th Century, traduzido por Evelyn Crawford(Ibadan, 1976), págs., 1-7. (a citação está na pág. 7). Para St. Domingue ver Geggus, Sex Ratio, Age and Ethnicity in the Atlantic Slave Trade 32-33. Eltis, Economic Growth, 169-70.
  • 25
    Poder-se-ia argumentar a favor da inclusão de Porto Novo no grupo oriental para essaavaliação. No entanto, qualquer tendência resultante da decisão de manter Porto Novo no grupo de portos centrais é compensada pela inclusão de Benin no grupo oriental. Benin, o principal porto oriental de comércio entre 1726 e 1775, teria enviado altos números de Edos, povos do Delta ocidental, bem como outros falantes não-iorubá para o tráfico, embora haja falta de evidência sobre a etnicidade dos presos que deixaram Benin antes de 1770.
  • 26
    Ver Capítulo 3 de David Eltis, David Richardson e Stephen Behrendt, The Atlantic Slave Trade: A New Census (Cambridge University Press, no prelo).
  • 27
    Os portugueses e os britânicos chegaram perto disso, antes de 1850, mas cada umdesses países despachou, talvez, somente dois terços do número total de iorubás (ver David Eltis, Free and Coerced Migrations from the Old World to the New, in Eltis (org.), Coerced and Free Migration, págs. 62-63).
  • 28
    Mesmo aqui, evidência tirada de registros de sucessões de Salvador, a maior cidade naprovíncia da Bahia, indica uma proporção muito menor de iorubás - somente um quinto. Ver Reis, Slave Rebellion in Brazil, 140.
  • 29
    Essas proporções são derivadas, comparando-se a coluna 1 da tabela 5 com estimativasdas partidas totais das diferentes regiões nas Américas em Eltis, Richardson e Behrendt, ... Census. Para confirmação dos pequenos números de iorubás no Caribe Britânico, ver análise dos dados de registros de escravos, de Barry Higman, em Slave Populations of the British Caribbean, 1807-1834 (Baltimore, 1987), págs. 442-58. Uma estimativa alternativa, baseada nos registros de sucessão de Salvador, a maior cidade na província da Bahia, indica uma porcentagem muito menor de iorubás do que está sendo sugerido aqui - somente um quinto. Ver Reis, Slave Rebellion in Brazil, 140.
  • 30
    Jean Herskovits Kopytoff, A Preface to Modern Nigeria: The "Serra Leoaians" in Yoruba, 1830-1890 (Madison, Wisc., 1965), especiamente, 44-60; Rudolfo Sarracino, Los que Volvieron a Africa (Havana, 1988), págs. 47-124. Fontes britânicas, especialmente, FO 84 no Public Record Office/Escritório de Registro Público, tem muito material sobre esse assunto que ainda tem de ser examinado - incluindo o extraordinário caso de "San Antonio" (identificação de viagem 3456, no TSTD) que em 1844 levou africanos pagantes que desejavam retornar às vizinhas de Lagos, em sua viagem à África, antes de tentar retornar a Cuba com escravos.
  • 31
    Johnson U Asiegbu, Slavery and The Politics of Liberation 1787-1861; A Study of Liberated African Emigration and British Anti-Slavery Policy (Nova Iorque, 1969); David Northrup, Indentured Labor in The Age of Imperialism, 1834-1922 (Cambridge, 1995); Monica Schuler, "Alas, Alas, Kongo" : A Social History of Indentured African Immigration into Jamaica, 1841-1865 (Baltimore, 1980).
  • 32
    Higman, Slave Populations, 449.
  • 33
    Maureen Warner-Lewis, Trinidad Yoruba: A Language of Exile) International Journal of the Sociology of Language, 83 (1990): 9-20; idem, Trinidad Yoruba: From Mother Tongue to Memory (Tuscaloosa, 1996). Para padrões semelhantes nas Guianas e Belize, ver James Adeyinka Olawaiye, Yoruba religious and social traditions in Ekiti, Nigeria and three Caribbean countries : Trinidad-Tobago, Guyana and Belize.
  • 34
    Louis Antoine Aimé de Verteuil, Three Essays on the Cultivation of Sugar Cane in Trinidad (Port of Spain, 1858), 175, citado em Warner-Lewis, Trinidad Yoruba, 44.
  • 35
    Reis, Slave Rebellion in Brazil, 140; Verger, Trade Relations Between the Bight of Benin and Bahia.
  • 36
    As fontes básicas usadas na identificação dos termos étnicos são D.H. Crozier andR.M. Blench, An Index of Nigerian Languages, 2d ed. (Dallas, 1992); Philip D. Curtin, The Atlantic Slave Trade: A Census (Madison, 1969); Robert S. Smith, Kingdoms of the Yoruba, 3d ed. (Madison, 1988). Oscar Grandio, Paul Lovejoy e Ojo Olatunji, todos da York University (Universidade de York), orientaram-me por território desconhecido.
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    Fonte
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    Notas: O autor está agradecido a Stanley L. Engerman, Paul Lovejoy, Ugo Nwokeji, Philip Morgan e David Richardson, bem como aos participantes do Johns Hopkins' History Seminar (Seminário Johns Hopkins de História), em novembro de 2002, e ao Columbia Seminar on Atlantic History (Seminário da Universidade de Colúmbia sobre a História do Atlântico), realizado em SUNY Stony Book, em fevereiro de 2003, pelos comentários feitos a respeito de versões anteriores deste ensaio.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2006

Histórico

  • Recebido
    Mar 2006
  • Aceito
    Mar 2006
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