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Análise temporal da concessão de aparelhos de amplificação sonora individual pelo Sistema Único de Saúde

RESUMO

Objetivo

Analisar a produção ambulatorial de aspectos da concessão de aparelhos de amplificação sonora individual (AASI) pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2005 e 2018.

Método

Trata-se de um estudo ecológico, de série temporal, baseado em dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As taxas de concessão de AASI foram analisadas com o software Joinpoint. Realizaram-se análises descritivas para categorias tecnológicas, financiamento e reposição de AASI e acompanhamento audiológico.

Resultados

As regiões Sul (9,96/10.000 habitantes) e Norte (3,20/10.000 habitantes) registraram a maior e menor média das taxas, respectivamente. Houve tendências de aumento significativas da concessão de AASI no Brasil e nas regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste, com posteriores tendências de redução significativas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. No país, a concessão das categorias tecnológicas foi de A (39,26%), B (36,93%) e C (23,81%), elevando o financiamento. As regiões Centro-Oeste (24,78%) e Nordeste (14,22%) apresentaram a maior e menor proporção da reposição de AASI, respectivamente. O acompanhamento audiológico predominou na região Sudeste (45,88%), com menor ocorrência na região Norte (4,18%).

Conclusão

Entre 2005 e 2018, há oscilações de tendências e discrepâncias entre as regiões geográficas quanto à concessão de AASI pelo SUS, além de descompassos no fornecimento das categorias tecnológicas e financiamento, considerável proporção de reposições e insuficiente quantitativo de acompanhamento audiológico para usuários de AASI.

Descritores Audição; Perda Auditiva; Auxiliares de Audição; Sistema Único de Saúde; Políticas Públicas de Saúde

ABSTRACT

Purpose

To analyze the outpatient production of aspects of hearing aids (HA) provision by the Brazilian Unified Health System (SUS) between 2005 and 2018.

Methods

This is an ecological time-series study, based on data from the Outpatient Information System of the SUS and the Brazilian Institute of Geography and Statistics. The HA provision rates were analyzed with Joinpoint software. Descriptive analyses were carried out for technological categories, funding, HA replacement and audiological monitoring.

Results

The South (9.96/10,000 inhabitants) and North (3.20/10,000 inhabitants) regions recorded the highest and lowest average rates, respectively. There were significant upward trends in HA provision in Brazil, in the North, Southeast and Midwest regions, with subsequent significant downward trends in the Southeast and Midwest. In the country, HA concession by technological categories was A (39.26%), B (36.93%) and C (23.81%), increasing funding. The Midwest (24.78%) and Northeast (14.22%) regions had the highest and lowest proportion of HA replacement, respectively. The audiological monitoring predominated in the Southeast (45.88%), with the lowest occurrence in the North (4.18%).

Conclusion

Between 2005 and 2018, trends fluctuated and discrepancies between geographic regions were observed in HA provision by the SUS, in addition to mismatches in the provision of technological categories and funding, a considerable proportion of replacements and insufficient audiological monitoring for HA users.

Keywords
Hearing; Hearing Loss; Hearing Aids; Unified Health System; Public Health Policy

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que, em 2018, cerca de 466 milhões de pessoas no mundo apresentavam deficiência auditiva incapacitante, com projeção de ampliação para 900 milhões em 2050(11 WHO: World Health Organization. Addressing the rising prevalence of hearing loss. Geneva: WHO; 2018.). No Brasil, o Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou aproximadamente 9,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva autorreferida(22 IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. [Internet]. Censo demográfico. Rio de Janeiro: IBGE; 2010 [citado em 2019 Jul 12]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9662-censo-demografico-2010.html?edicao=9749&t=destaques
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/soc...
).

Com a magnitude desta privação sensorial, o aparelho de amplificação sonora individual (AASI) tornou-se um recurso essencial para amplificar os sons ambientais e minimizar os danos decorrentes, melhorando a qualidade de vida das pessoas com deficiência auditiva(11 WHO: World Health Organization. Addressing the rising prevalence of hearing loss. Geneva: WHO; 2018.,33 Ribeiro UASL, Souza VC, Lemos SMA. Qualidade de vida e determinantes sociais em usuários de aparelho de amplificação sonora individual. CoDAS. 2019;31(2):e20170287. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017287. PMid:30942286.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2018...
,44 Mondelli MFCG, Silva LSL. Perfil dos pacientes atendidos em um sistema de alta complexidade. Arq Int Otorrinolaringol. 2011;15(1):29-34. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011000100004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011...
). Em vários países, a concessão de AASI depende de sistemas de reembolso, descontos e subsídios parciais, ao passo que, no Brasil, é viabilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS)(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
), um sistema público de saúde elaborado para garantir a população brasileira o acesso universal, integral e gratuito aos serviços e ações de saúde(66 Castro MC, Massuda A, Almeida G, Menezes-Filho NA, Andrade MV, Noronha KVMS, et al. Brazil’s unified health system: the first 30 years and prospects for the future. Lancet. 2019;394(10195):345-56. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)31243-7. PMid:31303318.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)...
).

Para assegurar o acesso à reabilitação auditiva pelo SUS, tornou-se fundamental a aprovação de legislações específicas(44 Mondelli MFCG, Silva LSL. Perfil dos pacientes atendidos em um sistema de alta complexidade. Arq Int Otorrinolaringol. 2011;15(1):29-34. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011000100004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011...
). Uma das principais medidas ocorreu quando o Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria SAS/MS nº 432 de 2000, regulamentou o diagnóstico, a adaptação de AASI e o acompanhamento de pessoas com deficiência auditiva no âmbito ambulatorial(77 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n º 432, de 14 de novembro de 2000. Institui a ampliação do universo de concessão de Aparelhos de Amplificação Sonora Individuais (AASI) aos pacientes em tratamento pelo Sistema Único de Saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União; Brasília; 17 nov. 2000.).

Ao verificar a necessidade de aprimorar o percurso após a dispensação de AASI, o MS instituiu, pela Portaria GM/MS nº 2.073 de 2004, a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA), possibilitando, mediante uma rede regionalizada e hierarquizada entre os níveis de atenção à saúde, a organização de uma linha de cuidados integrais de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação, com assistência multiprofissional e interdisciplinar, para ampliar a cobertura no atendimento à pessoa com deficiência auditiva(88 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 2.073, de 28 de setembro de 2004. Institui a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Diário Oficial da União; Brasília; 29 set. 2004.).

A PNASA foi revogada pelo Decreto nº 7.612 de 2011, que implementou o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite, a fim de promover, com a articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência(99 Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº 7.612, de 17 de novembro de 2011. Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite. Diário Oficial da União; Brasília; 18 nov. 2011.). No ano de 2012, com a Portaria GM/MS n° 793, instituiu-se a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, visando expandir o acesso e qualificar o atendimento para pessoas com deficiência auditiva, física, intelectual, ostomia e múltiplas deficiências(1010 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 793, de 24 de abril de 2012. Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no Âmbito do SUS. Diário Oficial da União; Brasília; 25 abr. 2012.).

Apesar dos progressos conquistados legitimamente, cabe frisar que, em um país de dimensões continentais como o Brasil, a adaptação de AASI pelo SUS pode relacionar-se com a distribuição dos serviços de saúde auditiva, a relação entre demanda e dispositivos concedidos e a ocorrência de reposições(1111 Bevilacqua MC, Melo TM, Morettin M, Lopes AC. A avaliação de serviços em Audiologia: concepções e perspectivas. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(3):421-6. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342009000300021.
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,1212 Bevilacqua MC, Melo TM, Morettin M, Reis ACMB, Martinez MANS. Falhas técnicas dos aparelhos de amplificação sonora individual dispensados pelo Sistema Único de Saúde. Rev CEFAC. 2014;16(1):55-64. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0216201411312.
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). Ademais, dificuldades no fornecimento de AASI quanto às categorias tecnológicas A, B e C repercutem na qualidade da adaptação, uma vez que a categoria tecnológica A, de menor custo financeiro, possui recursos tecnológicos mais limitados e as categorias tecnológicas B e C, de maior custo financeiro, são mais flexíveis e avançadas tecnologicamente(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
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).

Ao longo dos anos, tem sido destacado o desperdício de recursos financeiros destinados à concessão de AASI pelo SUS, em virtude de muitos pacientes abandonarem o uso do dispositivo após a adaptação(1212 Bevilacqua MC, Melo TM, Morettin M, Reis ACMB, Martinez MANS. Falhas técnicas dos aparelhos de amplificação sonora individual dispensados pelo Sistema Único de Saúde. Rev CEFAC. 2014;16(1):55-64. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0216201411312.
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). Logo, o acompanhamento audiológico desempenha uma estratégia fundamental de acolhimento às necessidades do usuário, monitoramento de possíveis alterações auditivas e orientação ao usufruto máximo do AASI(1313 Mazzarotto IHEK, Gonçalves CGO, Bellia CGL, Moretti CAM, Iantas MR. Integralidade do cuidado na atenção à saúde auditiva do adulto no SUS: acesso à reabilitação. Audiol Commun Res. 2019;24:e2009. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2009.
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).

Em paralelo, para que os procedimentos da adaptação de AASI promovam qualidade de vida aos usuários, é crucial o desenvolvimento de estudos científicos(1414 Cox RM, Johnson JA, Xu J. Impact of hearing aid technology on outcomes in daily life I: the patients’ perspective. Ear Hear. 2016;37(4):e224-37. http://dx.doi.org/10.1097/AUD.0000000000000277. PMid:26881981.
http://dx.doi.org/10.1097/AUD.0000000000...
). No entanto, há restrição de pesquisas voltadas à produção ambulatorial da concessão de AASI no Brasil, país que reúne distintas populações assistidas em suas regiões geográficas(1111 Bevilacqua MC, Melo TM, Morettin M, Lopes AC. A avaliação de serviços em Audiologia: concepções e perspectivas. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(3):421-6. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342009000300021.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342009...
). A coleta e análise de dados da produção ambulatorial é oportunizada pelo Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), que armazena dados dos procedimentos ambulatoriais em saúde auditiva, subsidiando a tomada de decisão(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
).

Neste contexto, o presente estudo objetivou analisar a produção ambulatorial de aspectos da concessão de AASI pelo SUS entre 2005 e 2018.

MÉTODO

Trata-se de um estudo ecológico, de série temporal, baseado nos aspectos de concessão, categorias tecnológicas, financiamento e reposição de AASI e acompanhamento audiológico. Os dados, coletados em julho de 2019, são de domínio público e derivaram do SIA/SUS, integrado ao Departamento de Informática do SUS, e do IBGE.

No SIA/SUS, o acesso foi sequenciado a partir dos itens “Informações de Saúde (TABNET)”, “Assistência à Saúde” e “Produção Ambulatorial (SIA/SUS)”. Elencou-se como abrangência geográfica o Brasil, por regiões geográficas, durante o período de janeiro de 2005 a dezembro de 2018, com a seleção dos procedimentos necessários (Quadro 1).

Quadro 1
Procedimentos selecionados para a análise do estudo

Para a constituição da taxa de concessão de AASI no intervalo analisado, extraiu-se o quantitativo de dispensações aprovadas pelo SUS nas regiões geográficas, utilizando-se como denominador as estimativas populacionais de cada ano disponibilizadas pelo IBGE(1515 IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. [Internet]. População residente das Unidades da Federação e Grandes Regiões, enviada ao Tribunal de Contas da União - 2001-2019. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 [citado em 2019 Jul 24]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9103-estimativas-de-populacao.html?=&t=resultados
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/soc...
), conforme recomendação da OMS(1616 WHO: World Health Organization. Ear and hearing care: indicators for monitoring provision of services. Geneva: WHO; 2019.).

As taxas foram calculadas no intento de se estudarem as tendências com o software Joinpoint Regression Program, versão 4.7.0.0, que permite o ajuste de dados de uma série a partir do menor número possível de joinpoints (zero, isto é, uma reta sem pontos de inflexão), e testa se a inclusão de mais joinpoints é estatisticamente significativa, determinando, assim, se as tendências estimadas tiveram significância estatística(1717 Kim HJ, Fay MP, Feuer EJ, Midthune DN. Permutation test for joinpoint regression with applications to cancer rates. Stat Med. 2000;19(3):335-51. http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1097-0258(20000215)19:3<335::AID-SIM336>3.0.CO;2-Z. PMid:10649300.
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).

A análise com o Joinpoint identifica o momento em que as mudanças nas tendências ocorrem e calcula a variação percentual anual em cada segmento. O método utilizado detectou joinpoints com no máximo dois pontos de mudança, selecionando-se o mais ajustado com o annual percentage change (APC), baseado na tendência dos segmentos, estimando se os valores são estatisticamente significativos a um intervalo de confiança de 95%. A análise inicia com um número mínimo de joinpoints e compara se ≥1 é significativo. Os testes de significância utilizados baseiam-se no método de permutação de Monte Carlo e no cálculo da variação percentual anual da taxa, por meio do logaritmo da taxa(1717 Kim HJ, Fay MP, Feuer EJ, Midthune DN. Permutation test for joinpoint regression with applications to cancer rates. Stat Med. 2000;19(3):335-51. http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1097-0258(20000215)19:3<335::AID-SIM336>3.0.CO;2-Z. PMid:10649300.
http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1097-025...
).

Foram realizadas análises descritivas para os dados de categorias tecnológicas, financiamento e reposição de AASI e acompanhamento audiológico dos usuários. No que concerne à reposição de AASI, calculou-se uma proporção envolvendo o quantitativo de reposições aprovadas pelo SUS nas regiões geográficas, entre 2005 e 2018, tendo como denominador o quantitativo de concessões realizadas no mesmo período.

Nesta pesquisa, utilizaram-se dados que não envolveram a identificação de seres humanos, dispensando-se apreciação ética por Comitê de Ética em Pesquisa, segundo a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde(1818 Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Trata sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa em ciências humanas e sociais. Diário Oficial da União; Brasília; 24 mai. 2016.).

RESULTADOS

No período de 2005 a 2018, foram concedidos 2.106.448 AASI no Brasil, cuja média da taxa de concessão foi de 7,66/10.000 habitantes. A região Sul (9,96/10.000 habitantes) registrou a média da taxa de concessão mais elevada, ao passo que a região Norte (3,20/10.000 habitantes) apresentou a menor média da taxa de concessão (Tabela 1).

Tabela 1
Taxas médias da concessão de AASI (10.000 hab) nas regiões geográficas brasileiras, APC, anos do Joinpoint e IC 95%

A análise com o Joinpoint detectou tendência de aumento significativa, entre 2005 e 2011, no Brasil (APC1 = 7,8; IC 95% 4,0 a 11,8). As tendências de crescimento também foram significativas na região Norte (APC1 = 29,1; IC 95% 15,7 a 44,1), entre 2005 e 2011; região Sudeste (APC1 = 8,5; IC 95% 4,7 a 12,3), entre 2005 e 2011; e na região Centro-Oeste (APC1 = 32,0; IC 95% 22,8 a 41,8), entre 2005 e 2009. Posteriormente, houve tendência de redução significativa na região Sudeste (APC2 = -4,2; IC 95% -6,8 a -11,5), entre 2011 e 2018, e na região Centro-Oeste (APC2 = -3,6; IC 95% -5,6 a -1,6), entre 2009 e 2018 (Tabela 1).

Entre 2005 e 2018, a evolução das taxas de concessão de AASI demonstrou instabilidade nas regiões geográficas. No recorte selecionado, as taxas apresentadas pelas regiões Sudeste e Sul estiveram acima das taxas do Brasil e, a partir do ano de 2008, as taxas da região Centro-Oeste também foram superiores. Em contrapartida, as taxas das regiões Norte e Nordeste foram inferiores às taxas do Brasil em todos os anos examinados (Figura 1).

Figura 1
Evolução das taxas de concessão de AASI (10.000 hab) nas regiões geográficas brasileiras

Legenda: AASI = aparelho de amplificação sonora individual


No período de 2005 a 2018, foram concedidos 826.902 AASI da categoria tecnológica A (39,26%), 777.925 da categoria tecnológica B (36,93%) e 501.621 da categoria tecnológica C (23,81%). Para tanto, o financiamento destinado obteve um valor total aprovado de R$ 1.706.221.375,00. A categoria tecnológica C registrou maior valor aprovado que as demais em todas as regiões geográficas, com exceção da região Sudeste, onde o valor aprovado para a B foi o mais elevado (Figura 2).

Figura 2
Concessão de AASI de acordo com as categorias tecnológicas e o valor aprovado nas regiões geográficas brasileiras

Legenda: AASI = aparelho de amplificação sonora individual


Quanto à reposição de AASI, foram verificados 402.006 registros, o equivalente a 19,08% do quantitativo de concessões entre 2005 e 2018. Durante este período, a região Centro-Oeste apresentou a maior proporção de reposições (24,78%), seguida, respectivamente, pelas regiões Norte (23,54%), Sudeste (21,07%), Sul (16,02%) e Nordeste (14,22%). O valor total aprovado para este procedimento, em todas as regiões geográficas, foi de R$ 301.674.900,00.

A produção ambulatorial de acompanhamento audiológico, com um total de 1.727.793 registros, foi inferior ao quantitativo de AASI concedidos no Brasil de 2005 a 2018. A região Sudeste (45,88%) concentrou a maior porcentagem deste procedimento, seguida, respectivamente, pelas regiões Sul (27,45%), Nordeste (14,80%), Centro-Oeste (7,69%) e Norte (4,18%).

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo evidenciaram disparidades na produção ambulatorial da concessão de AASI pelo SUS entre 2005 e 2018. O fornecimento destes dispositivos perpassou por oscilações temporais e regionais, proporcionando inconformidade com os princípios do SUS e desafios para a efetividade da atenção à saúde auditiva.

No período analisado, observou-se que a dispensação de AASI pelo SUS foi ampliada, o que remete ao crescimento da deficiência auditiva no Brasil(1919 Vianna NG, Cavalcanti MLT, Acioli MD. Princípios de universalidade, integralidade e equidade em um serviço de atenção à saúde auditiva. Cien Saude Colet. 2014;19(7):2179-88. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014197.09392013. PMid:25014297.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141...
), associando-se ao envelhecimento significativo da população(44 Mondelli MFCG, Silva LSL. Perfil dos pacientes atendidos em um sistema de alta complexidade. Arq Int Otorrinolaringol. 2011;15(1):29-34. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011000100004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011...
). Além disso, a instituição da PNASA despontou com caráter mais amplo e distinto das portarias relacionadas à saúde auditiva existentes até 2004(1919 Vianna NG, Cavalcanti MLT, Acioli MD. Princípios de universalidade, integralidade e equidade em um serviço de atenção à saúde auditiva. Cien Saude Colet. 2014;19(7):2179-88. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014197.09392013. PMid:25014297.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141...
), de modo que incrementou novos serviços e ações na atenção à saúde auditiva(2020 Silva LSG, Gonçalves CGO, Soares VMN. Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: um estudo avaliativo a partir da cobertura de serviços e procedimentos diagnósticos. CoDAS. 2014;26(3):241-7. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420140440. PMid:25118922.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2014...
) e, consequentemente, favoreceu que muitos usuários tivessem acesso ao AASI pelo SUS(2121 Dumke C, Ribas Â, Gonçalves CGO, Martins J, Malucelli D. Investigação das falhas técnicas verificadas em próteses auditivas de usuários de um programa público de saúde auditiva. Rev CEFAC. 2014;16(4):1117-24. http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147612.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147...
).

Apesar de o processo de reabilitação auditiva do Brasil ocupar uma posição destacada no cenário latino-americano(2222 Bevilacqua MC, Novaes BC, Morata TC. Audiology in Brazil. Int J Audiol. 2008;47(2):45-50. http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770843. PMid:18236235.
http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770...
), ainda existe um elevado contingente de pessoas com deficiência auditiva que não foram adaptadas com AASI, refletindo as distintas trajetórias assistenciais entre as regiões geográficas e as desigualdades de acesso às ações e serviços de saúde(1919 Vianna NG, Cavalcanti MLT, Acioli MD. Princípios de universalidade, integralidade e equidade em um serviço de atenção à saúde auditiva. Cien Saude Colet. 2014;19(7):2179-88. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014197.09392013. PMid:25014297.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141...
,2222 Bevilacqua MC, Novaes BC, Morata TC. Audiology in Brazil. Int J Audiol. 2008;47(2):45-50. http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770843. PMid:18236235.
http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770...
,2323 Andrade CL, Fernandes L, Ramos HE, Mendes CMC, Alves CAD. Programa Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: avanços e entraves da saúde auditiva no Brasil. Rev Ciênc Méd Biol. 2013;12(4):404-10. http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.9181.
http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.91...
). É sabido que há uma dualidade de conquistas e fragilidades no SUS que agrava as desigualdades regionais e atravanca o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde(66 Castro MC, Massuda A, Almeida G, Menezes-Filho NA, Andrade MV, Noronha KVMS, et al. Brazil’s unified health system: the first 30 years and prospects for the future. Lancet. 2019;394(10195):345-56. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)31243-7. PMid:31303318.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)...
,2424 Paim JS. Sistema Único de Saúde (SUS) aos 30 anos. Cien Saude Colet. 2018;23(6):1723-8. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018236.09172018. PMid:29972481.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182...
). A deficiência de acesso ao AASI constitui um importante empecilho, tendo em vista que a dispensação deste recurso não deve ser restrita(11 WHO: World Health Organization. Addressing the rising prevalence of hearing loss. Geneva: WHO; 2018.).

A taxa de concessão de AASI reporta à universalidade do acesso e à distribuição dos serviços de saúde auditiva como fatores que ilustram as desigualdades regionais. Em 2010, a cobertura de serviços de saúde auditiva estava mais defasada nas regiões Norte e Centro-Oeste(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
). Uma pesquisa concluiu que a região Norte apresentou metade da cobertura de serviços de saúde auditiva necessários, ao tempo em que as regiões Sudeste e Sul ultrapassaram as estimativas. Ainda assim, a região Norte, juntamente à região Centro-Oeste, obtiveram, entre 2004 e 2011, o maior crescimento no número de procedimentos diagnósticos de média e alta complexidade em saúde auditiva(2020 Silva LSG, Gonçalves CGO, Soares VMN. Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: um estudo avaliativo a partir da cobertura de serviços e procedimentos diagnósticos. CoDAS. 2014;26(3):241-7. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420140440. PMid:25118922.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2014...
).

Os resultados deste estudo indicaram, no APC1, que as regiões Norte e Centro-Oeste registraram as maiores tendências de aumento significativas na concessão de AASI. Os achados são coniventes com o fato de que tais regiões sinalizaram, até 2012, as maiores evoluções proporcionais no credenciamento dos serviços de saúde auditiva. Logo, esta conjuntura expõe que houve investimentos para a ampliação do número de serviços de saúde auditiva credenciados ao SUS em locais com maior insuficiência(2323 Andrade CL, Fernandes L, Ramos HE, Mendes CMC, Alves CAD. Programa Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: avanços e entraves da saúde auditiva no Brasil. Rev Ciênc Méd Biol. 2013;12(4):404-10. http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.9181.
http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.91...
), de forma que as melhorias de acesso dos usuários podem influenciar na realização dos procedimentos de concessão de AASI(2525 Rezende CF, Carvalho SA, Maciel FJ, Oliveira Neto R, Pereira DV, Lemos SM. Hearing health network: a spatial analysis. Rev Bras Otorrinolaringol (Engl Ed). 2015;81(3):232-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.01.003. PMid:25382426.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.0...
).

Em uma pesquisa que abordou a concessão de AASI pelo SUS, de 1993 a 2012, averiguou-se crescimento expressivo do fornecimento a partir de 2004(2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.). Outro estudo apontou que, entre 2008 e 2012, o Brasil ampliou a realização de procedimentos da avaliação audiológica básica, com aumento de 73,6% na concessão de AASI. A despeito dos avanços, houve diminuição na execução de determinados procedimentos audiológicos no país, exceto nas regiões Norte e Sul(2323 Andrade CL, Fernandes L, Ramos HE, Mendes CMC, Alves CAD. Programa Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: avanços e entraves da saúde auditiva no Brasil. Rev Ciênc Méd Biol. 2013;12(4):404-10. http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.9181.
http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.91...
).

Neste trabalho, constatou-se que as regiões Sudeste e Centro-Oeste sofreram, ainda, com tendências de redução significativas nas taxas de concessão de AASI, verificadas no APC2. Face ao decréscimo, há que se sublinhar a expansão gradativa de outros recursos de intervenção, como as cirurgias de implante coclear(2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.), o desconhecimento da população sobre a disponibilização de AASI pelo SUS e a maciça presença do mercado de serviços e empresas privadas, oportunizando a compra de AASI àqueles com melhores condições financeiras(2727 Paiva KM, Maciel PMA, Cintra LG. Compreendendo o idoso usuário de próteses auditivas. Cien Saude Colet. 2011;16(6):2927-34. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000600030. PMid:21709989.
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011...
).

Deve-se ponderar, também, que a tendência de redução na concessão de AASI vai de encontro à estimativas de predomínio da deficiência auditiva na classe baixa, que tem o SUS como principal fonte assistencial, e ao crescimento da população idosa brasileira, público predominante nos serviços de saúde auditiva(33 Ribeiro UASL, Souza VC, Lemos SMA. Qualidade de vida e determinantes sociais em usuários de aparelho de amplificação sonora individual. CoDAS. 2019;31(2):e20170287. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017287. PMid:30942286.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2018...
,44 Mondelli MFCG, Silva LSL. Perfil dos pacientes atendidos em um sistema de alta complexidade. Arq Int Otorrinolaringol. 2011;15(1):29-34. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011000100004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011...
). Os elementos mencionados estimulam a adaptação no serviço público, mas a insuficiência da oferta de ações e serviços de saúde produz demandas e necessidades reprimidas(2525 Rezende CF, Carvalho SA, Maciel FJ, Oliveira Neto R, Pereira DV, Lemos SM. Hearing health network: a spatial analysis. Rev Bras Otorrinolaringol (Engl Ed). 2015;81(3):232-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.01.003. PMid:25382426.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.0...
), tanto que várias pessoas com deficiência auditiva não foram contempladas com a adaptação de AASI(2222 Bevilacqua MC, Novaes BC, Morata TC. Audiology in Brazil. Int J Audiol. 2008;47(2):45-50. http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770843. PMid:18236235.
http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770...
).

É válido atentar-se para as diferenças entre as populações atendidas e os serviços de saúde auditiva, visto que o Brasil revela uma heterogeneidade demográfica(1111 Bevilacqua MC, Melo TM, Morettin M, Lopes AC. A avaliação de serviços em Audiologia: concepções e perspectivas. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(3):421-6. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342009000300021.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342009...
,2020 Silva LSG, Gonçalves CGO, Soares VMN. Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: um estudo avaliativo a partir da cobertura de serviços e procedimentos diagnósticos. CoDAS. 2014;26(3):241-7. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420140440. PMid:25118922.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2014...
) e assume, historicamente, profundas desigualdades sociais, econômicas e regionais(66 Castro MC, Massuda A, Almeida G, Menezes-Filho NA, Andrade MV, Noronha KVMS, et al. Brazil’s unified health system: the first 30 years and prospects for the future. Lancet. 2019;394(10195):345-56. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)31243-7. PMid:31303318.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)...
). Estudiosos descreveram que o uso da teleaudiologia pode auxiliar na superação de lacunas da adaptação de AASI em países territorialmente extensos(2828 Wilson BS, Tucci DL, Merson MH, O’Donoghue GM. Global hearing health care: new findings and perspectives. Lancet. 2017;390(10111):2503-15. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)31073-5. PMid:28705460.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)...
), pois os serviços de saúde auditiva geralmente concentram-se em grandes áreas urbanas, obstaculizando o contato com usuários de locais periféricos e remotos e, por conseguinte, gerando evasão nos serviços de saúde auditiva e diminuição da produção ambulatorial(2323 Andrade CL, Fernandes L, Ramos HE, Mendes CMC, Alves CAD. Programa Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: avanços e entraves da saúde auditiva no Brasil. Rev Ciênc Méd Biol. 2013;12(4):404-10. http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.9181.
http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v12i4.91...
,2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.).

Contudo, no campo da saúde auditiva, sabe-se que a economia é atravessada por um desequilíbrio de esforços e recursos aplicados, principalmente no que se gasta com a adaptação de AASI no SUS(1919 Vianna NG, Cavalcanti MLT, Acioli MD. Princípios de universalidade, integralidade e equidade em um serviço de atenção à saúde auditiva. Cien Saude Colet. 2014;19(7):2179-88. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014197.09392013. PMid:25014297.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141...
). Entre 2005 e 2018, a concessão da categoria tecnológica C foi a que ocasionou maiores custos financeiros ao país, o que é justificável, em parte, pelo fato de as categorias tecnológicas A, B e C estarem legitimadas em ordem crescente de custos(2121 Dumke C, Ribas Â, Gonçalves CGO, Martins J, Malucelli D. Investigação das falhas técnicas verificadas em próteses auditivas de usuários de um programa público de saúde auditiva. Rev CEFAC. 2014;16(4):1117-24. http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147612.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147...
).

Por outro lado, verificou-se que a recomendação do percentual de prescrição e fornecimento de AASI pelo SUS(2929 Brasil. Ministério da Saúde. Instrutivos de reabilitação auditiva, física, intelectual e visual (CER e serviços habilitados em uma única modalidade). Brasília: MS; 2013.), para categorias tecnológicas A (50%), B (35%) e C (15%), não foi atendida. Similarmente, um estudo apresentou que a dispensação no Brasil, de 2004 a 2010, também esteve abaixo da previsão para a categoria tecnológica A e acima para as demais(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
). Em um serviço de saúde auditiva do Paraná, o fornecimento percentual da categoria tecnológica A (75%) predominou sobre a B (17,93%) e a C (7,06%)(1313 Mazzarotto IHEK, Gonçalves CGO, Bellia CGL, Moretti CAM, Iantas MR. Integralidade do cuidado na atenção à saúde auditiva do adulto no SUS: acesso à reabilitação. Audiol Commun Res. 2019;24:e2009. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2009.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018...
). Já em São Paulo (SP), as indicações da categoria tecnológica A foram reduzidas em função de um acordo municipal que redefiniu o percentual de concessão para A (30%), B (50%) e C (20%)(2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.).

De forma geral, preconiza-se que o uso do AASI deve ser condizente ao perfil do usuário para suprir suas necessidades(44 Mondelli MFCG, Silva LSL. Perfil dos pacientes atendidos em um sistema de alta complexidade. Arq Int Otorrinolaringol. 2011;15(1):29-34. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011000100004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1809-48722011...
,1414 Cox RM, Johnson JA, Xu J. Impact of hearing aid technology on outcomes in daily life I: the patients’ perspective. Ear Hear. 2016;37(4):e224-37. http://dx.doi.org/10.1097/AUD.0000000000000277. PMid:26881981.
http://dx.doi.org/10.1097/AUD.0000000000...
). No Brasil, em vista a possível prevalência de perdas auditivas de grau leve a moderado, são essenciais dispositivos mais flexíveis, como os das categorias tecnológicas B e C(5). A expansão destas indicações é discutida internacionalmente por se compreender que a categoria tecnológica A está mais defasada, o que limita a qualidade da amplificação e motiva a sua redução nos serviços de saúde auditiva. Tais informações são importantes na revisão do fornecimento percentual estabelecido pelo SUS e na otimização dos recursos financeiros investidos(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
,2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.).

Os serviços públicos devem adaptar-se às necessidades em saúde, analisando a alocação dos recursos financeiros para potencializar a relação de custo-benefício(66 Castro MC, Massuda A, Almeida G, Menezes-Filho NA, Andrade MV, Noronha KVMS, et al. Brazil’s unified health system: the first 30 years and prospects for the future. Lancet. 2019;394(10195):345-56. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)31243-7. PMid:31303318.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)...
,2828 Wilson BS, Tucci DL, Merson MH, O’Donoghue GM. Global hearing health care: new findings and perspectives. Lancet. 2017;390(10111):2503-15. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)31073-5. PMid:28705460.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)...
). Sendo assim, a implementação de ações de prevenção da deficiência auditiva é defendida como a maneira mais econômica para diminuir os elevados custos financeiros na área da saúde auditiva, ocasionados especialmente pela concessão de AASI(11 WHO: World Health Organization. Addressing the rising prevalence of hearing loss. Geneva: WHO; 2018.,2828 Wilson BS, Tucci DL, Merson MH, O’Donoghue GM. Global hearing health care: new findings and perspectives. Lancet. 2017;390(10111):2503-15. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)31073-5. PMid:28705460.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)...
).

A otimização dos gastos públicos faz-se necessária, também, no âmbito da reposição de AASI, posto que as regiões geográficas registraram proporções consideráveis. A expansão de consertos de AASI pelo SUS é uma estratégia preponderante, já que muitos indivíduos não apresentam condições financeiras para arcar com as despesas de consertos após o prazo de garantia e, frequentemente, abandonam o uso do dispositivo ou recorrem aos serviços de saúde auditiva para a solicitação de reposições(1212 Bevilacqua MC, Melo TM, Morettin M, Reis ACMB, Martinez MANS. Falhas técnicas dos aparelhos de amplificação sonora individual dispensados pelo Sistema Único de Saúde. Rev CEFAC. 2014;16(1):55-64. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0216201411312.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620141...
,2121 Dumke C, Ribas Â, Gonçalves CGO, Martins J, Malucelli D. Investigação das falhas técnicas verificadas em próteses auditivas de usuários de um programa público de saúde auditiva. Rev CEFAC. 2014;16(4):1117-24. http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147612.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147...
,3030 Ruschel NL, Bonatto AS, Teixeira AR. Reposição de próteses auditivas em programa de saúde auditiva. Audiol Commun Res. 2019;24:e2025. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2025.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018...
). Pesquisadores pontuaram que a economia atrelada à diminuição de gastos públicos com reposições beneficiaria o fornecimento de AASI pelo SUS, melhorando o tempo de espera pelo dispositivo(2121 Dumke C, Ribas Â, Gonçalves CGO, Martins J, Malucelli D. Investigação das falhas técnicas verificadas em próteses auditivas de usuários de um programa público de saúde auditiva. Rev CEFAC. 2014;16(4):1117-24. http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147612.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147...
).

Em um serviço de saúde auditiva, concluiu-se que 27,2% dos pacientes atendidos necessitaram de pelo menos uma reposição de AASI(3030 Ruschel NL, Bonatto AS, Teixeira AR. Reposição de próteses auditivas em programa de saúde auditiva. Audiol Commun Res. 2019;24:e2025. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2025.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018...
), valor abaixo do encontrado em outra pesquisa, que detectou 31% de reposições(1212 Bevilacqua MC, Melo TM, Morettin M, Reis ACMB, Martinez MANS. Falhas técnicas dos aparelhos de amplificação sonora individual dispensados pelo Sistema Único de Saúde. Rev CEFAC. 2014;16(1):55-64. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0216201411312.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620141...
). As principais causas das reposições de AASI envolvem falhas técnicas, geralmente ocasionadas pelo manuseio incorreto(3030 Ruschel NL, Bonatto AS, Teixeira AR. Reposição de próteses auditivas em programa de saúde auditiva. Audiol Commun Res. 2019;24:e2025. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2025.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018...
), perda, roubo, desgaste pelo uso e alteração no quadro audiológico do usuário(2121 Dumke C, Ribas Â, Gonçalves CGO, Martins J, Malucelli D. Investigação das falhas técnicas verificadas em próteses auditivas de usuários de um programa público de saúde auditiva. Rev CEFAC. 2014;16(4):1117-24. http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147612.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147...
). Para ampliar a vida útil do AASI, é contundente acompanhar o usuário de maneira periódica, pois apenas disponibilizar o dispositivo não é suficiente(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
,2121 Dumke C, Ribas Â, Gonçalves CGO, Martins J, Malucelli D. Investigação das falhas técnicas verificadas em próteses auditivas de usuários de um programa público de saúde auditiva. Rev CEFAC. 2014;16(4):1117-24. http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147612.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620147...
,2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.,3030 Ruschel NL, Bonatto AS, Teixeira AR. Reposição de próteses auditivas em programa de saúde auditiva. Audiol Commun Res. 2019;24:e2025. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2025.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018...
).

Os serviços de saúde auditiva credenciados ao SUS são encarregados pelo acompanhamento audiológico dos pacientes(1313 Mazzarotto IHEK, Gonçalves CGO, Bellia CGL, Moretti CAM, Iantas MR. Integralidade do cuidado na atenção à saúde auditiva do adulto no SUS: acesso à reabilitação. Audiol Commun Res. 2019;24:e2009. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2009.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018...
). No entanto, a fragmentação do SUS e as práticas centradas na dispensação limitam o acompanhamento audiológico(2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.). Assim como neste estudo, pesquisadores observaram, em Minas Gerais, menor ocorrência do procedimento de acompanhamento audiológico quando comparado ao procedimento de concessão de AASI, além de heterogeneidade entre regiões do próprio estado(2525 Rezende CF, Carvalho SA, Maciel FJ, Oliveira Neto R, Pereira DV, Lemos SM. Hearing health network: a spatial analysis. Rev Bras Otorrinolaringol (Engl Ed). 2015;81(3):232-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.01.003. PMid:25382426.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.0...
).

A diferença entre os resultados das produções ambulatoriais de concessão de AASI e acompanhamento audiológico pode explicitar-se pelo fato de os registros da concessão serem preenchidos duplamente, em função da maioria dos usuários ser adaptada bilateralmente(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
,2525 Rezende CF, Carvalho SA, Maciel FJ, Oliveira Neto R, Pereira DV, Lemos SM. Hearing health network: a spatial analysis. Rev Bras Otorrinolaringol (Engl Ed). 2015;81(3):232-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.01.003. PMid:25382426.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.0...
). Os registros de acompanhamento audiológico independem do modo de adaptação, porém, com as normas estabelecidas pelo SUS, a superioridade deste procedimento é esperada. O teto físico estipulado aos serviços de saúde auditiva desponta como um dos fatores impeditivos, tendo em vista que os novos pacientes da rede geralmente são priorizados(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
,2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.).

A acessibilidade, a escassez de recursos humanos e materiais especializados e as dificuldades de adesão e regulação também dificultam o acompanhamento audiológico(1414 Cox RM, Johnson JA, Xu J. Impact of hearing aid technology on outcomes in daily life I: the patients’ perspective. Ear Hear. 2016;37(4):e224-37. http://dx.doi.org/10.1097/AUD.0000000000000277. PMid:26881981.
http://dx.doi.org/10.1097/AUD.0000000000...
,1919 Vianna NG, Cavalcanti MLT, Acioli MD. Princípios de universalidade, integralidade e equidade em um serviço de atenção à saúde auditiva. Cien Saude Colet. 2014;19(7):2179-88. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014197.09392013. PMid:25014297.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141...
,2525 Rezende CF, Carvalho SA, Maciel FJ, Oliveira Neto R, Pereira DV, Lemos SM. Hearing health network: a spatial analysis. Rev Bras Otorrinolaringol (Engl Ed). 2015;81(3):232-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.01.003. PMid:25382426.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.0...
,2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.). Neste prisma, é justificável a concentração do acompanhamento audiológico na região Sudeste, que realiza a maior quantidade de procedimentos audiológicos(2020 Silva LSG, Gonçalves CGO, Soares VMN. Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: um estudo avaliativo a partir da cobertura de serviços e procedimentos diagnósticos. CoDAS. 2014;26(3):241-7. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420140440. PMid:25118922.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2014...
) e reúne a maioria de audiologistas no Brasil(2222 Bevilacqua MC, Novaes BC, Morata TC. Audiology in Brazil. Int J Audiol. 2008;47(2):45-50. http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770843. PMid:18236235.
http://dx.doi.org/10.1080/14992020701770...
).

As análises de produções ambulatoriais, sobretudo do acompanhamento audiológico no SUS, propulsionaram a instituição da PNASA(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
), o que se deve ao desenvolvimento dos sistemas de informação em saúde no Brasil, considerados instrumentos fundamentais no monitoramento e na avaliação de políticas(2424 Paim JS. Sistema Único de Saúde (SUS) aos 30 anos. Cien Saude Colet. 2018;23(6):1723-8. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018236.09172018. PMid:29972481.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182...
). Para tanto, é necessário que o monitoramento de dados destes sistemas seja rotineiro(2828 Wilson BS, Tucci DL, Merson MH, O’Donoghue GM. Global hearing health care: new findings and perspectives. Lancet. 2017;390(10111):2503-15. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)31073-5. PMid:28705460.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(17)...
).

Não obstante, os dados do SIA/SUS são subutilizados por gestores de saúde e devem ser analisados cautelosamente por estarem sujeitos a erros de digitação e subnotificação, desafios inerentes nas pesquisas que o utilizam(55 Bevilacqua MC, Morettin M, Melo TM, Amantini RCB, Martinez MANS. Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):252-9. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300004.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011...
,2020 Silva LSG, Gonçalves CGO, Soares VMN. Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva: um estudo avaliativo a partir da cobertura de serviços e procedimentos diagnósticos. CoDAS. 2014;26(3):241-7. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420140440. PMid:25118922.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2014...
,2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.). Uma outra desvantagem refere-se à inviabilidade de analisar os usuários em suas singularidades(2626 Vieira GI, Mendes BCA, Zupelari MM, Pereira IMTB. Saúde auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Distúrb Comun. 2015;27(4):725-40.), porque os dados, registrados de forma agregada, não pontuam a complexidade dos prejuízos de problemas individuais, coletivos, objetivos e subjetivos à reabilitação auditiva(1919 Vianna NG, Cavalcanti MLT, Acioli MD. Princípios de universalidade, integralidade e equidade em um serviço de atenção à saúde auditiva. Cien Saude Colet. 2014;19(7):2179-88. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014197.09392013. PMid:25014297.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141...
).

O presente estudo revestiu-se de outras limitações intrínsecas ao SIA/SUS, que consistiram na impossibilidade da coleta de dados sobre gênero, faixa etária e modo de adaptação dos indivíduos, uma vez que o SIA/SUS não segmenta se as adaptações foram unilaterais ou bilaterais. A ausência de dados sobre a real prevalência de deficiência auditiva e os diferentes percursos assistenciais inter e intrarregionais também são restrições a serem destacadas.

Nesta perspectiva, espera-se que esta pesquisa estimule o diálogo ao panorama da concessão de AASI pelo SUS e auxilie à legislação da área, a fim de reduzir as desigualdades regionais, otimizar a verba pública dispensada e melhorar a qualidade da adaptação. Considerando-se a escassez de pesquisas voltadas à temática, recomenda-se o desenvolvimento de novos estudos, sugerindo-se o uso de diferentes técnicas, como de geoprocessamento, e o emprego de análises pautadas em estados e/ou municípios.

CONCLUSÃO

A produção ambulatorial da concessão de AASI pelo SUS apresenta aspectos cambiantes entre 2005 e 2018, com tendências de aumento e redução nas taxas de concessão do dispositivo e marcantes discrepâncias entre as regiões geográficas. No período analisado, há descompassos no fornecimento das categorias tecnológicas, com elevação no financiamento, considerável proporção de reposições e insuficiente quantitativo de acompanhamento audiológico para usuários de AASI.

  • Trabalho realizado no Programa Associado de Pós-graduação em Fonoaudiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN - Natal (RN), Brasil.
  • Fonte de financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    23 Jun 2020
  • Aceito
    02 Out 2020
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