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Revisão sistemática sobre luto e terapia ocupacional1 1 Trabalho parte da pesquisa de doutorado do primeiro autor. ,2 2 Trabalho apresentado no 11th International Conference on Grief and Bereavement in Contemporary Society.

Resumo

Introdução:

O luto tem efeitos variáveis sobre as pessoas, devendo ser entendido de forma individualizada e relacionado a um processo social, visto que os sentimentos e comportamentos gerados pelo luto são influenciados pela sociedade. Dessa forma, o luto é um processo subjetivo e social, que impacta várias dimensões da vida, inclusive a dimensão ocupacional.

Objetivo:

Identificar, na literatura nacional e anglófona, estudos de terapeutas ocupacionais vinculados ao processo de luto.

Método:

Revisão sistemática utilizando os descritores “terapia ocupacional”, “pesar”, “luto” e “atitude frente à morte” e os respectivos em inglês “occupational therapy”, “grief”, “mourning” e “bereavement” em cinco bases de dados. Após, foi realizada análise temática.

Resultados:

Incluíram-se sete estudos, seis em inglês e um em português. Todos os artigos apresentaram abordagens qualitativas: autoetnografia (3), entrevista (1), análise temática (2), narrativa (1). Foram construídas três categorias para análise temática: 1)“A relação entre os participantes do estudo e o ente falecido”, que refere sobre o vínculo do enlutado com o falecido e o impacto deste vínculo no luto; 2) “o impacto do luto nas ocupações”, que identifica como o luto interfere nas ocupações daqueles que o vivenciam e 3) A ocupação como meio e fim do processo terapêutico ocupacional da pessoa enlutada, que busca compreender a utilização das ocupações enquanto possibilidade de atuação com o enlutado.

Conclusão:

Concluiu-se que a produção de terapeutas ocupacionais com sujeitos enlutados é escassa, porém entende-se que este profissional pode contribuir na assistência ao enlutado, sendo necessários outros estudos que apontem evidências, a fim de fortalecer essa atuação.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Pesar; Luto; Atitude Frente à Morte

Abstract

Introduction:

Bereavement has variable effects on people since the feelings and behaviors generated by the death of are influenced by society. In this way, bereavement is a subjective and social process that impacts various dimensions of life, including the occupational dimension.

Objective:

To identify, in the national and English literature, studies of occupational therapists related to the process of bereavement.

Method:

Systematic review, using the descriptors “occupational therapy”, “grief”, “mourning” and “attitude to death” and the respective English words “occupational therapy”, “grief”, “mourning” and “bereavement” in five databases. Afterward, thematic analysis was performed.

Results:

Seven studies were included, six in English and one in Portuguese. All articles presented qualitative approaches: autoethnography (3), interview (1), thematic analysis (2), narrative (1). Three categories were created for thematic analysis: 1) “The relationship between the study participants and the deceased person”, which refers to the bond of the bereaved with the deceased and the impact of this bond in bereavement; 2) “The impacts of bereavement in occupations”, which identifies how bereavement interferes with the occupations of those who experience it, and 3) “The occupation as middle and end of the occupational therapy process with the bereaved person”, which seeks to understand the use of occupations as a possibility of care with the mourner.

Conclusion:

It was concluded that the production of occupational therapists with bereaved subjects is short, but it is understood that this professional can contribute to the care of the bereaved, and other studies are needed that point to evidence, to strengthen this profissional performance.

Keywords:
Occupational Therapy; Grief; Bereavement; Attitude to Death

1 Introdução

Freud (1996FREUD, S. Luto e Melancolia. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 245-263.) foi o primeiro autor a iluminar o luto enquanto temática relevante para o entendimento deste como um processo psíquico. Na sua famosa obra “Luto e Melancolia”, o autor descreve o luto como um processo psíquico não-patológico, que acontece após a perda de um ente querido.

Do ponto de vista existencial, pode ser compreendido como uma vivência típica em situações de transformação abrupta nas formas de se dar do ser em uma relação eu-tu. O luto é vivenciado como a morte de um modo de relação entre o morto e o enlutado, decorrente da ruptura da intercorporeidade (FREITAS, 2013FREITAS, J. L. Luto e fenomenologia: Uma proposta compreensiva. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 97-105, 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n1/v19n1a13.pdf>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n1/...
).

Com a supressão do outro, há uma perda de sentido do mundo-da-vida com exigência de nova significação (FREITAS, 2013FREITAS, J. L. Luto e fenomenologia: Uma proposta compreensiva. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 97-105, 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n1/v19n1a13.pdf>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n1/...
).

Mohr (2011MOHR, S. L. The role of the occupational therapist in facilitating the grief process in adult widowers. 2011. [s.p.] Thesis (Occupational Therapy Doctorate) - The University of Toledo, Ohio, 2011. Disponível em: <http://utdr.utoledo.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1219&context=graduate-projects>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://utdr.utoledo.edu/cgi/viewcontent....
) corrobora com tal ideia e entende que o luto, embora encarado como sendo um evento natural da vida e que todos experimentarão um dia, tem efeitos variáveis ​​sobre as pessoas, devendo ser entendido de forma individualizada.

Matos-Silva (2012) relata que o luto é um processo individual e está diretamente ligado a um processo social, visto que a sociedade em que o indivíduo enlutado está inserido influencia os sentimentos e comportamentos gerados pelo falecimento de uma pessoa.

Assim, o enfrentamento do luto está atrelado à maneira como um grupo social pensa sobre a morte e comporta-se diante dela.

Neimeyer (2001NEIMEYER, R. A.; HOGAN, N. Quantitative or qualitative? Measurement issues in the study of grief. In: STROEBE, M. S. et al. (Ed.). Handbook of bereavement research. Washington: American Psychological Association, 2001. p. 89-118.) afirma que, para compreender todas as dimensões da perda, incluindo aspectos privados, é preciso ter claro como o contexto social interfere no luto, podendo ser apoiador, opositor ou simplesmente ignorar a experiência do luto, levando necessidade de mudanças do enlutado.

Aries (1997ARIES, P. História da morte no ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1997.) aponta que, no século XX, as sociedades ocidentais passaram a ver a morte como uma ruptura inoportuna, que gera uma dor sentida como intolerável.

Reações à perda de uma pessoa significativa muitas vezes incluem impedimentos temporários das funções do dia-a-dia, retiradas das atividades sociais, pensamentos intrusivos e sentimentos de anseio e dormência que podem continuar por períodos variáveis ​​de tempo (KERSTING; WAGNER, 2012KERSTING, A.; WAGNER, B. Complicated grief after perinatal loss. Dialogues in Clinical Neuroscience, France, v. 14, n. 2, p. 187-194, 2012. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3384447/>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
).

Kovács (2007KOVÁCS, M. J. Perdas e processo de luto. In: INCONTRI, D.; SANTOS, F. S. (Org.). A arte de morrer. São Paulo: Comenius, 2007. p. 217-238.) relata que essas reações e esses sentimentos, geralmente, envolvem sofrimento e desorganização psíquica em maior ou menor grau.

Para Neimeyer (2001NEIMEYER, R. A.; HOGAN, N. Quantitative or qualitative? Measurement issues in the study of grief. In: STROEBE, M. S. et al. (Ed.). Handbook of bereavement research. Washington: American Psychological Association, 2001. p. 89-118.), um denominador comum da maioria das teorias tradicionais sobre o luto, como Bowlby, Parkes e Worden, é a identificação de uma série de etapas ou fases de adaptação, começando com a morte real ou iminente de um ente querido e prosseguindo por uma viagem através de vários tipos de reações emocionais, até que o indivíduo afetado encontre a recuperação, a reconciliação ou fim similar.

Neimeyer (2001NEIMEYER, R. A.; HOGAN, N. Quantitative or qualitative? Measurement issues in the study of grief. In: STROEBE, M. S. et al. (Ed.). Handbook of bereavement research. Washington: American Psychological Association, 2001. p. 89-118.) propõe um modelo de elaboração luto embasado nas teorias da psicologia construtivista. Para o autor, é através da busca e da reconstrução de significados após uma perda significativa, que o luto pode ser elaborado. Para compreender todas as dimensões da perda, incluindo aspectos privados, é preciso compreender o contexto social em que se apoia, se opõe ou ignora a experiência e a necessidade de mudança. A reconstrução de significados após a perda deve considerar as relações estabelecidas com outros recursos, reais, simbólicos e pessoais dos enlutados. Enfrenta-se a tarefa de mudar a identidade para redefinir a conexão simbólica que se tem com o falecido, enquanto mantém-se o relacionamento com aqueles que estão vivos.

Para o autor, o luto, na forma de perda através da morte de uma figura com quem se tinha um vínculo significativo, interrompe as autonarrativas de vida dos sobreviventes e, geralmente, os coloca em uma busca involuntária pelo sentido da perda, bem como de suas vidas alteradas (NEIMEYER, 2001NEIMEYER, R. A.; HOGAN, N. Quantitative or qualitative? Measurement issues in the study of grief. In: STROEBE, M. S. et al. (Ed.). Handbook of bereavement research. Washington: American Psychological Association, 2001. p. 89-118.).

Para Stroebe e Schut (1999STROEBE, M.; SCHUT, H. The dual process model of bereavement: rationale and description. Death studies, Washington, v. 23, n. 3, p. 197-224, 1999.), o luto é um processo cognitivo de enfrentamento da perda, que consiste em construir estratégias e estilos de gerenciamento da situação de luto. Para os autores, se há o enfrentamento, os danos à saúde física e mental são reduzidos, pois este é um enfrentamento que acontece no dia a dia e inclui todas as tarefas de vida da pessoa em luto, seja assistir televisão, ler um livro ou conversar com amigos.

Esses autores propuseram o Modelo do Processo Dual do Luto, que enfatiza o enfrentamento para a compreensão deste processo, que enfoca a construção de significados e ocorre a partir de três perspectivas: o enfrentamento orientado para a perda (enfoca a busca pela pessoa perdida e está centrada nos aspectos relacionados à pessoa falecida); o enfrentamento orientado para a restauração (enfoca a forma de lidar com os arranjos da vida sem o ser amado) e a oscilação (que é a alternância entre um e outro) (STROEBE; SCHUT, 1999STROEBE, M.; SCHUT, H. The dual process model of bereavement: rationale and description. Death studies, Washington, v. 23, n. 3, p. 197-224, 1999.).

Segundo os autores, o enfrentamento orientado para a perda envolve a busca dos laços afetivos, a negação e a evitação da realidade da morte. Também fazem parte deste processo a aceitação da realidade da perda, a elaboração do luto, a necessidade de rememorar a figura do falecido, ver fotografias, falar sobre o ente querido morto e o anseio por sua proximidade (STROEBE; SCHUT, 1999STROEBE, M.; SCHUT, H. The dual process model of bereavement: rationale and description. Death studies, Washington, v. 23, n. 3, p. 197-224, 1999.).

O enfrentamento orientado para a restauração envolve retomar as próprias tarefas do dia a dia, fazer coisas novas, se distrair e se divertir sem culpa ou sem se preocupar que está traindo o ente falecido (STROEBE; SCHUT, 1999STROEBE, M.; SCHUT, H. The dual process model of bereavement: rationale and description. Death studies, Washington, v. 23, n. 3, p. 197-224, 1999.).

Por fim, a oscilação deve ser vista como saudável e necessária para que possa haver uma reorganização diante da nova realidade, a construção de um novo mundo presumido, abalado com a perda do ente querido (STROEBE; SCHUT, 1999STROEBE, M.; SCHUT, H. The dual process model of bereavement: rationale and description. Death studies, Washington, v. 23, n. 3, p. 197-224, 1999.).

O luto é definido como uma crise, uma vez que ocorre um desequilíbrio entre a quantidade de ajustamento necessário de uma única vez e os recursos disponíveis para lidar com tal desequilíbrio. O impacto da morte provoca uma demanda sistêmica sobre a família, de ordem emocional e relacional. A crise vem da necessidade de continuar desempenhando seus papéis, com a sobrecarga do luto dos demais membros da família, agravada pelas reações próprias do luto individual (BROMBERG et al., 1996BROMBERG, M. H. P. F. et al. Vida e morte: laços da existência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.).

Compreendendo o luto com um evento complexo, com repercussões diferentes para cada sujeito e diferente em cada sociedade, identificou-se a necessidade de pesquisar como terapeutas ocupacionais compreendem o luto, visto que este tem implicações significativas nas ocupações dos sujeitos enlutados.

2 Método

Trata-se de uma revisão sistemática de literatura, definida como uma forma de pesquisa que utiliza como fonte de dados produções científicas sobre determinado tema. Esse tipo de investigação disponibiliza evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação selecionada (LINDE; WILLICH, 2003LINDE, K.; WILLICH, S. N. How objective are systematic reviews? Differences between reviews on complementary medicine. Journal of the Royal Society of Medicine, London, v. 96, n. 1, p. 17-22, 2003. Disponível em: <http://jrs.sagepub.com/content/96/1/17.long>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://jrs.sagepub.com/content/96/1/17.l...
). As revisões sistemáticas são consideradas estudos secundários, que têm nos estudos primários sua fonte de dados. Entende-se por estudos primários os artigos científicos que relatam os resultados de pesquisa recentes e inéditos (GALVÃO; PEREIRA, 2014GALVÃO, T. F.; PEREIRA, M. G. Revisões sistemáticas da literatura: passos para sua elaboração. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 23, n. 1, p. 183-184, 2014. Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742014000100018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?s...
).

Seguiu-se o modelo para realização de revisões sistemáticas proposto por Sampaio e Mancini (2007SAMPAIO, R. F.; MANCINI, M. C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Brazilian Journal of Physical Therapy, São Carlos, v. 11, n. 1, p. 83-89, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-35552007000100013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
). A pergunta norteadora do trabalho foi “como terapeutas ocupacionais compreendem e/ou intervém o/no processo de luto?”, a fim de identificar, na literatura nacional e anglófona, estudos de terapeutas ocupacionais vinculados ao processo de enlutamento.

Foram utilizadas cinco bases de dados para realizar a busca Scopus, CINAHL-EBSCOhost, Medline, PubMed, Pepsic. Foram definidos como descritores “terapia ocupacional” e “pesar” ou “luto” ou “atitudes frente à morte” e, em inglês “occupational therapy” e “grief” ou “mourning” ou “bereavement”.

Como critérios de inclusão estabeleceram-se: artigos em inglês ou português, o estudo completo estar disponível online e o artigo relacionar-se ao processo de luto por morte. Foram excluídos os artigos de outras línguas, artigos que relatassem o luto da equipe de saúde por morte de pacientes, luto por perdas funcionais, luto antecipatório, uma vez que o foco do estudo foi enfocar a experiência de luto por morte. Também foram excluídos os artigos que não estivessem disponíveis por completo ou artigos que não se referissem às palavras-chave.

Não se realizou refinamento por data de publicação, devido ao pequeno número de artigos encontrados.

A busca foi realizada no segundo semestre de 2016 por dois examinadores independentes, com tempo estimado de sete dias entre as buscas. Os resultados das buscas pelos dois pesquisadores foram comparados e não foi evidenciada nenhuma diferença quanto ao número de artigos ou a inclusão/exclusão de artigos nas buscas.

Após a comparação entre pesquisadores e a inclusão dos artigos, foi realizada leitura na íntegra dos trabalhos e os resultados analisados pela análise temática de conteúdo proposta por Minayo (2001MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Editora Vozes, 2001., p. 316), que “consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifique alguma coisa para o objetivo analítico visado”.

3 Resultado

A quantidade de artigos encontrados e incluídos por base de dados está apresentada na Tabela 1.

Tabela 1
Quantidade de artigos encontrados e incluídos por bases de dados.

A Tabela 2 mostra os artigos por autor(es), título, ano de publicação, revista, tipo de estudo e idioma.

Tabela 2
artigos por autor (es), ano de publicação, revista, tipo de estudo e idioma.

A Tabela 3 mostra os artigos por título, instrumentos para coleta de dados e os resultados dos estudos.

Tabela 3
artigos por título, instrumentos para coleta de dados e resultados.

Como principais resultados pode-se identificar: escassez de artigos que apontam estudos da Terapia Ocupacional com pessoas enlutadas; a totalidade dos artigos inseridos na revisão apresentam abordagens qualitativas; os tipos de estudos (estudos autoetnográficos (3), estudos de caso (2) e estudo exploratório (2) e a identificação de três categorias principais para a análise temática.

4 Discussão

Em relação à escassez de material produzido pela Terapia Ocupacional com pessoas enlutadas, Hoppes e Segal (2010HOPPES, S.; SEGAL, R. Reconstructing Meaning Through Occupation After the Death of a Family Member: Accommodation, Assimilation, and Continuing Bonds. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n.1, p. 133-141, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862644>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) afirmam que a resposta ocupacional ao luto recebe surpreendentemente pouca atenção na literatura da Terapia Ocupacional. No Brasil, essa atenção é ainda menor, indicando a emergência de estudos que colaborem com a fundamentação teórica e a abordagem prática no cuidado terapêutico ocupacional a pessoa enlutada.

Compreende-se que a assistência terapêutica ocupacional ainda pouco investe na compreensão das demandas ocupacionais diante dos diversos processos de perdas e luto possíveis de serem vividos ao longo da vida (SOUZA; CORRÊA, 2009SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o pesar do luto nas atividades ocupacionais. Revista do NUFEN, Belém, v. 1, n. 2, p. 131-148, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912009000200009&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
).

Neimeyer e Hogan (2001NEIMEYER, R. A.; HOGAN, N. Quantitative or qualitative? Measurement issues in the study of grief. In: STROEBE, M. S. et al. (Ed.). Handbook of bereavement research. Washington: American Psychological Association, 2001. p. 89-118.) identificaram nas abordagens qualitativas a possibilidade de exploração das realidades construídas social e subjetivamente, com o objetivo de descobrir perspectivas únicas e comuns das pessoas, ao invés de gerar “fatos” incontestáveis. Ao compreender o luto enquanto um fenômeno individual e social, acredita-se que as abordagens qualitativas tendem a melhor contextualizá-lo em sua complexidade.

A perspectiva qualitativa, em pesquisas sobre luto, tende a fornecer um paradigma alternativo para a investigação do tema, uma vez que tem o potencial de adicionar profundidade à avaliação do processo de luto, por meio da utilização de uma ampla gama de técnicas, coleta, análise e interpretação dos dados (STROEBE; STROEBE; SCHUT, 2003STROEBE, M.; STROEBE, W.; SCHUT, H. Bereavement research: methodological issues and ethical concerns. Palliative Medicine, London, v. 17, n. 3, p. 235-240, 2003.).

Em relação aos estudos autoetnográficos, Ellis e Bochner (2000ELLIS, C.; BOCHNER, A. P. Autoethnography, personal narrative, reflexivity: researcher as subject. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Handbook of qualitative research. London: Sage Publication, 2000. p. 733-778.) relatam que a autoetnografia permite o envolvimento do pesquisador, a narrativa de seus pensamentos e suas opiniões, diante do estudo em que está inserido; possibilita que todas as experiências emocionais do autor sejam incluídas no seu estudo, revelando detalhes ocultos da vida privada. Para tanto, a descrição da vida social e suas relações precisa ser a mais completa e envolvente possível. A reflexão na autoetnografia contextualiza a voz do indivíduo e do grupo na experiência vivida. O pesquisador analisa os aspectos culturais e sociais em que está inserido, outward, e após realiza uma análise interna do seu indivíduo, inward, tornando-se assim, vulnerável à resistência cultural e às interpretações.

Para a análise temática estudada, foram elencadas três categorias para essa discussão: 1) a relação entre os participantes do estudo e o falecido; 2) o impacto do luto nas ocupações; e, 3) a ocupação como meio e fim do processo terapêutico ocupacional com o sujeito enlutado.

4.1 A relação entre os participantes do estudo e o ente falecido

Todos os estudos foram realizados com sujeitos que vivenciaram a morte de familiares.

Hoppes (2005aHOPPES, S. Meanings and purposes of caring for a family member: an autoethnography. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 3, p. 262-272, 2005a. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1871703>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) relata toda a sua própria trajetória de cuidar do pai, desde o início de seu processo de dependência até o falecimento, refletindo sobre a importância da ressignificação da relação com o pai e o impacto desta ressignificação no enfrentamento do próprio luto.

Hoppes (2005bHOPPES, S. When a Child Dies the World Should Stop Spinning: An Autoethnography Exploring the Impact of Family Loss on Occupation. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 1, p. 78-87, 2005b. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1872066>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) relata o itinerário familiar após a perda de uma criança, no caso, seu sobrinho Marc. Conta da sua experiência enquanto tio, mas também faz apontamentos sobre a organização dos avós, pais e irmãos de Marc.

Forhan (2010FORHAN, M. Doing, Being, and Becoming: A Family’s Journey Through Perinatal Loss. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n. 1, p. 142-151, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862645>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) narra a sua história de perda perinatal e todos os sentimentos envolvidos nas três horas que esteve com o seu filho Quinn. Aborda o funcionamento da sua família nuclear após a perda, principalmente em relação ao enfrentamento do luto dos seus outros dois filhos Jessica e Benjamim.

Scaletti e Hocking (2010SCALETTI, R.; HOCKING, C. Healing through Story Telling: An Integrated Approach for Children Experiencing Grief and Loss. New Zealand Journal of Occupational Therapy, New Zealand, v. 57, n. 2, p. 66-71, 2010. Disponível em: <http://search.informit.com.au/documentSummary;dn=431279734356318;res=IELHE>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://search.informit.com.au/documentSu...
) descrevem o processo de enfrentamento de Emily, uma criança de 8 anos que perdeu o pai em um acidente automobilístico e começou a apresentar sentimentos de raiva, tristeza e comportamentos fora de controle, principalmente na escola. Recusava a ir à aula, evitava contato com sua família, dizia se sentir doente, expressando desejo de ficar na cama em tempo integral.

Hoppes e Segal (2010HOPPES, S.; SEGAL, R. Reconstructing Meaning Through Occupation After the Death of a Family Member: Accommodation, Assimilation, and Continuing Bonds. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n.1, p. 133-141, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862644>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) realizaram um estudo com trinta e uma pessoas com histórias de perdas de um ente familiar: 18 participantes tinham perdido um dos pais, 5 perderam filhos, 4 tinham perdido os avós, 2 tinham perdido os cônjuges, 1 tinha perdido um irmão e 1 tinha perdido duas sobrinhas.

Rosenwax, Malajczuk e Ciccarelli (2014ROSENWAX, L.; MALAJCZUK, S.; CICCARELLI, M. Change in carers’ activities after the death of their partners. Support Care Cancer, Germany, v. 22, n. 3, p. 619-626, 2014. Disponível em: <http://link.springer.com/article/10.1007/s00520-013-2014-1>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://link.springer.com/article/10.1007...
) avaliaram 40 mulheres que foram cuidadoras primárias de pacientes em cuidados paliativos, dois anos após o falecimento deles.

Do ponto de vista fenomenológico, o luto é descrito como uma vivência típica em situações de transformação e mudança abrupta nas formas de se dar do ser em uma relação eu-tu. Dessa forma, o sentido da perda e da relação são elementos fundamentais para a compreensão desta experiência, especialmente quando se trata de um ente querido (FREITAS, 2013FREITAS, J. L. Luto e fenomenologia: Uma proposta compreensiva. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 97-105, 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n1/v19n1a13.pdf>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n1/...
).

Do ponto de vista ocupacional, compreende-se que a relação estabelecida com o falecido foi mediada pela ocupação que frequentemente é compartilhada e realizada com outros indivíduos. As ocupações que envolvem duas ou mais pessoas podem ser chamadas de “co-ocupações” (AMERICAN..., 2014).

Quando ocorre a interrupção no desempenho das “co-ocupações”, surgem mudanças no estilo de vida, havendo destituição de papéis, ou impossibilidade de realizar atividades com e/ou para aquele ente querido que faleceu. Nessas condições, observou-se a ausência das atividades realizadas anteriormente e direcionadas àqueles que morreram, o afastamento das ocupações e um “não saber o que fazer” (SOUZA; CORRÊA, 2009SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o pesar do luto nas atividades ocupacionais. Revista do NUFEN, Belém, v. 1, n. 2, p. 131-148, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912009000200009&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
).

Souza e Corrêa (2009SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o pesar do luto nas atividades ocupacionais. Revista do NUFEN, Belém, v. 1, n. 2, p. 131-148, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912009000200009&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
) relatam que o vazio da perda é a ausência do outro e das ocupações compartilhadas ou direcionadas a este. Em situação de luto, o enlutado questiona o que irá fazer sem a presença do ente querido, tendo que abandonar ou assumir novas funções. Nessas condições, o processo de luto não ocorre somente em decorrência do afastamento da pessoa falecida, mas também pela falta, pela perda da condição de desenvolver tal tarefa relacionada à pessoa que se foi. Assim, será então necessário desocupar-se de antigas e prazerosas atividades compartilhadas, reconstruindo seu mundo e adaptando-se a outras atividades que substituíram o conhecido pelo novo: outros fazeres, outra realidade, sem mais a presença no real da pessoa amada (SOUZA; CORRÊA, 2009SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o pesar do luto nas atividades ocupacionais. Revista do NUFEN, Belém, v. 1, n. 2, p. 131-148, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912009000200009&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
).

Dessa forma, é no desempenho das ocupações e na “co-ocupação” que se estabelece a relação eu-tu, e a ausência do outro nas ocupações do “eu” oferece uma vivência inédita, na qual o enlutado terá que restabelecer seu desempenho ocupacional, reorganizar a sua rotina, rever os seus papéis ocupacionais e sociais e ressignificar a experiência do luto no seu cotidiano.

4.2 O impacto do luto nas ocupações

Hoppes (2005aHOPPES, S. Meanings and purposes of caring for a family member: an autoethnography. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 3, p. 262-272, 2005a. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1871703>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) afirma que a experiência de cuidar do pai e de participar da família durante o processo de adoecimento e morte do seu ente querido envolve sentimentos contraditórios, mas também proporciona aprendizado e tem valor terapêutico para o enfrentamento do luto, uma vez que possibilita ressignificar os laços com o ente falecido.

Hoppes (2005bHOPPES, S. When a Child Dies the World Should Stop Spinning: An Autoethnography Exploring the Impact of Family Loss on Occupation. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 1, p. 78-87, 2005b. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1872066>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) faz uma correlação teórica com as fases do luto de Rando: a fase de evitação, a fase de conflito e a fase de acomodação. Destas, Hoppes (2005b) caracterizou quatro estágios da ocupação durante o luto: 1) manutenção da ocupação: a ocupação é mantida enquanto se nega a gravidade da perda; 2) dissolução ocupacional: as ocupações familiares e diárias tornam-se desvalorizadas e podem perder o significado; 3) ambivalência ocupacional: sentimentos negativos são experimentados nas ocupações anteriormente rotineiras; 4) restauração e adaptação ocupacional: as ocupações são restauradas e adaptadas à nova condição, os planos são retomados e vislumbra-se o futuro.

Forhan (2010FORHAN, M. Doing, Being, and Becoming: A Family’s Journey Through Perinatal Loss. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n. 1, p. 142-151, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862645>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) utiliza-se dos estágios identificados acima para descrever o impacto da perda perinatal nas próprias ocupações: na fase de manutenção ocupacional a autora afirma que continuou a executar tarefas profissionais e pessoais inerentes ao seu papel como terapeuta ocupacional, de paciente que precisava de cuidados médicos, esposa e mãe; na segunda fase relata que questionou o interesse e a capacidade de retornar ao trabalho; na terceira fase aponta o sentimento de culpa e a raiva que sentia pela perda do filho; e, por fim, na quarta fase reconhece o poder terapêutico de retomar as atividades cotidianas junto com sua família.

Souza e Corrêa (2009SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o pesar do luto nas atividades ocupacionais. Revista do NUFEN, Belém, v. 1, n. 2, p. 131-148, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912009000200009&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
) encontraram nos familiares enlutados afastamento ou a baixa motivação para desempenhar ocupações e o isolamento social como fatores que implicavam no desenvolvimento das atividades significativas do dia a dia. Reforçam que o terapeuta ocupacional deve perceber o desligamento das pessoas de suas ocupações, inclusive daquelas relacionadas aos cuidados do seu próprio corpo, destinadas à manutenção de sua vida: o enlutado poderá deixava de ter prazer em manter seus cuidados pessoais (banho e alimentação), além do isolamento e afastamento sociais que geram grandes mudanças no desempenho das atividades de trabalho, participação social e de lazer.

Scaletti e Hocking (2010SCALETTI, R.; HOCKING, C. Healing through Story Telling: An Integrated Approach for Children Experiencing Grief and Loss. New Zealand Journal of Occupational Therapy, New Zealand, v. 57, n. 2, p. 66-71, 2010. Disponível em: <http://search.informit.com.au/documentSummary;dn=431279734356318;res=IELHE>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) descrevem que, após a perda do pai, a criança iniciou com comportamentos fora de controle, principalmente na escola. Também se recusava a ir à escola, a participar de atividades familiares, sentia-se doente e só queria ficar na cama. Também apresentava sentimentos de raiva e tristeza. Tais dificuldades apresentadas pela criança dificultavam a sua participação nas ocupações pertinentes a idade.

Hoppes e Segal (2010HOPPES, S.; SEGAL, R. Reconstructing Meaning Through Occupation After the Death of a Family Member: Accommodation, Assimilation, and Continuing Bonds. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n.1, p. 133-141, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862644>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) identificaram relatos de que a experiência de perder um membro da família provocou um processo de reflexão sobre a vida e a natureza da sua participação na vida, o que levou a alterações no desempenho das ocupações. Quando nenhuma mudança ocorreu em uma determinada área de ocupação, a perda foi assimilada em esquemas anteriores. Se as experiências provocaram alguma mudança em áreas de ocupação, a perda foi acomodada.

Rosenwax, Malajczuk e Ciccarelli (2014ROSENWAX, L.; MALAJCZUK, S.; CICCARELLI, M. Change in carers’ activities after the death of their partners. Support Care Cancer, Germany, v. 22, n. 3, p. 619-626, 2014. Disponível em: <http://link.springer.com/article/10.1007/s00520-013-2014-1>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://link.springer.com/article/10.1007...
) identificaram que o nível de atividades de cuidadoras de pacientes terminais se modifica antes e após o período em que oferece cuidados. O estudo apontou que, após dois anos de vivência do luto, existiu uma diminuição nas atividades sociais e de lazer, permanecendo as atividades domésticas, as atividades de sociais e de lazer, anteriormente associadas com saúde e bem-estar, foram reduzidas ou abolidas após a morte.

Assim, evidencia-se de forma clara que o luto tende a produzir mudanças no cotidiano e no desempenho ocupacional do enlutado, uma vez que perder alguém produz um movimento singular e único de ressignificação da própria vida.

4.3 A ocupação como meio e fim do processo terapêutico ocupacional com a pessoa enlutada

O termo ocupação é entendido como o envolvimento na vida construído por múltiplas atividades. Assim, tanto as ocupações quanto as atividades são usadas para as intervenções dos terapeutas ocupacionais. A participação em ocupações é considerada o resultado final das intervenções e os profissionais utilizam ocupações durante o processo de intervenção como o meio para o fim (AMERICAN..., 2015).

Francisco (2004FRANCISCO, B. R. Terapia ocupacional. São Paulo: Ed. Papirus, 2004.) afirma que a atividade humana é também compreendida enquanto recurso para criar, recriar, e produzir um mundo humano, repleto de simbolismo, intenções, vontades, desejos e necessidades. Tal fato justifica o uso das ocupações como meio. Nessa vertente é possível utilizá-las enquanto material para coleta de dados em pesquisa, como também identificar questões que possam estar interferindo no desempenho ocupacional como fim.

Dias (2015DIAS, B. N. Névoa e assobio. Belo Horizonte: Relicário, 2015., p. 27), ao relatar o seu próprio processo de perda perinatal, utiliza-se da escrita como forma de enfrentamento: “Nesse nada que se faz presente, escrevo. Escrevo para não me perder no excesso vazio do falatório, quando o que se impõe é da ordem do indizível”.

Souza e Corrêa (2009SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o pesar do luto nas atividades ocupacionais. Revista do NUFEN, Belém, v. 1, n. 2, p. 131-148, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912009000200009&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) e Scaletti e Hocking (2010SCALETTI, R.; HOCKING, C. Healing through Story Telling: An Integrated Approach for Children Experiencing Grief and Loss. New Zealand Journal of Occupational Therapy, New Zealand, v. 57, n. 2, p. 66-71, 2010. Disponível em: <http://search.informit.com.au/documentSummary;dn=431279734356318;res=IELHE>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) relatam, respectivamente, a coleta de dados do estudo e uma intervenção terapêutica utilizando atividades expressivas como meio para compreender o luto nas ocupações. No primeiro estudo, os autores utilizaram oficina para livre expressão, enquanto o segundo utilizou a construção de história através da caixa de areia (sandtray).

O uso das atividades expressivas/criativas e a contação de histórias para ajudar as crianças a resolver problemas psicossociais é endossado na literatura da terapia ocupacional como forma de apoiar as crianças para contar sua história de sofrimento e perda, provocando a sua interpretação de eventos e auxiliando-as a dar sentido para a experiência (SCALETTI; HOCKING, 2010SCALETTI, R.; HOCKING, C. Healing through Story Telling: An Integrated Approach for Children Experiencing Grief and Loss. New Zealand Journal of Occupational Therapy, New Zealand, v. 57, n. 2, p. 66-71, 2010. Disponível em: <http://search.informit.com.au/documentSummary;dn=431279734356318;res=IELHE>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://search.informit.com.au/documentSu...
).

Souza e Corrêa (2009SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o pesar do luto nas atividades ocupacionais. Revista do NUFEN, Belém, v. 1, n. 2, p. 131-148, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912009000200009&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
) identificaram, através da oficina para livre expressão, a dificuldade do enlutado em retomar as ocupações e o sofrimento pela ausência das “co-ocupações” com o ente falecido.

Scaletti e Hocking (2010SCALETTI, R.; HOCKING, C. Healing through Story Telling: An Integrated Approach for Children Experiencing Grief and Loss. New Zealand Journal of Occupational Therapy, New Zealand, v. 57, n. 2, p. 66-71, 2010. Disponível em: <http://search.informit.com.au/documentSummary;dn=431279734356318;res=IELHE>. Acesso em: 31 out. 2016.
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), através da narrativa criada pela criança utilizando a caixa de areia (sandtray), afirmam que trata-se de uma estratégia terapêutica de modalidade projetiva não-verbal, recomendada para ajudar crianças a externalizar seu sofrimento. É uma abordagem terapêutica na qual as crianças são convidadas a escolher entre uma gama de figuras em miniatura e objetos para construir ou talvez se desfazer do que as incomoda (JEFFREYS, 2005; TAYLOR, 2009; ZARZAUR, 2004 apud SCALETTI; HOCKING, 2010SCALETTI, R.; HOCKING, C. Healing through Story Telling: An Integrated Approach for Children Experiencing Grief and Loss. New Zealand Journal of Occupational Therapy, New Zealand, v. 57, n. 2, p. 66-71, 2010. Disponível em: <http://search.informit.com.au/documentSummary;dn=431279734356318;res=IELHE>. Acesso em: 31 out. 2016.
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). Na narrativa construída no estudo, foi possível identificar e tratar comportamentos que estavam interferindo as ocupações de educação, lazer e participação social da criança enlutada.

Assim, as autoras identificaram que a história é uma poderosa estratégia que terapeutas podem aproveitar para fins terapêuticos, tendo como objetivo ajudar as crianças a contarem suas histórias, fornecendo ao terapeuta com entendimentos a partir dos conteúdos desenhados na perspectiva das crianças. Conteúdos esses, que podem vir a ser compartilhados com familiares e colegas. E, que contar e recontar a história da perda e do luto, ajudaram a criança a construir sentido e integrar suas experiências e sentimentos (SCALETTI; HOCKING, 2010SCALETTI, R.; HOCKING, C. Healing through Story Telling: An Integrated Approach for Children Experiencing Grief and Loss. New Zealand Journal of Occupational Therapy, New Zealand, v. 57, n. 2, p. 66-71, 2010. Disponível em: <http://search.informit.com.au/documentSummary;dn=431279734356318;res=IELHE>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://search.informit.com.au/documentSu...
).

Nos estudos de Hoppes (2005aHOPPES, S. Meanings and purposes of caring for a family member: an autoethnography. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 3, p. 262-272, 2005a. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1871703>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
, 2005b), Forhan (2010FORHAN, M. Doing, Being, and Becoming: A Family’s Journey Through Perinatal Loss. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n. 1, p. 142-151, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862645>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
), Hoppes e Segal (2010) e Rosenwax, Malajczuk e Ciccarelli (2014ROSENWAX, L.; MALAJCZUK, S.; CICCARELLI, M. Change in carers’ activities after the death of their partners. Support Care Cancer, Germany, v. 22, n. 3, p. 619-626, 2014. Disponível em: <http://link.springer.com/article/10.1007/s00520-013-2014-1>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://link.springer.com/article/10.1007...
), o termo ocupação é utilizado como fim, visto que os achados estão relacionados ao desempenho do enlutado nas ocupações.

Hoppes (2005aHOPPES, S. Meanings and purposes of caring for a family member: an autoethnography. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 3, p. 262-272, 2005a. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1871703>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) relata ocupações que foram inseridas na sua rotina, após iniciar os cuidados do pai. Relata a ressignificação da relação pai-filho e da sua própria história, a construção de novos olhares sobre tal relação e sobre a sua própria vida e a importância das “co-ocupações” neste processo. Finaliza o texto afirmando que

poucos meses foram necessários para o processo de luto, até que os significados e propósitos de cuidar de meu pai e participar socialmente da vida familiar, começaram a se cristalizar. Na triagem através de memórias e emoções com a esperança de compreender mais sobre a “interação entre forma ocupacional” e minha “história do desenvolvimento descobri outros significados” (HOPPES, 2005aHOPPES, S. Meanings and purposes of caring for a family member: an autoethnography. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 3, p. 262-272, 2005a. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1871703>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
, p. 268).

Hoppes (2005bHOPPES, S. When a Child Dies the World Should Stop Spinning: An Autoethnography Exploring the Impact of Family Loss on Occupation. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 1, p. 78-87, 2005b. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1872066>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
) narra a trajetória de seus familiares após a perda de uma criança na família. Conta a reorganização da sua rotina, como a retomada do ciclismo, jardinagem e passear com os cães, além das atividades de professor. Relata que as atividades familiares (jantares em família, passeios de barco, assistir um jogo de beisebol) foram importantes para o fortalecimento familiar no processo de luto.

Segundo Giannini (2011 apud FREITAS; MICHEL, 2014FREITAS, J. L.; MICHEL, L. H. F. A maior dor do mundo: o luto materno em uma perspectiva fenomenológica. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 19, n. 2, p. 273-283, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v19n2/10.pdf>. Acesso em: 31 out. 2016.
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), nos Estados Unidos da América, as famílias mais bem-sucedidas no processo de luto são aquelas que contam com suporte social, vivenciando inclusive um estreitamento de laços dentro da família.

Delalibera et al. (2015DELALIBERA, M. et. al. A dinâmica familiar no processo de luto: revisão sistemática da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, p. 1119-1134, 2015. Disponível em: <https://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015204.09562014>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) encontraram que o mau funcionamento familiar durante o luto está relacionado com maior sintomatologia psicopatológica (ansiedade, depressão e estresse excessivo). Também relaciona-se a um processo de luto mais complicado, maior morbidade psicossocial e pior funcionamento social.

O estudo supracitado também apontou que o mau funcionamento da família está associado a pouco ou nenhum apoio social, dificuldade para recorrer aos recursos da comunidade, impedimentos para procurar apoio espiritual e menor capacidade funcional no trabalho. Dessa forma, o terapeuta ocupacional deve identificar o funcionamento familiar a fim de potencializar as ocupações familiares significativas, para contribuir com o enfrentamento familiar do luto, minimizando possíveis danos emocionais e/ou sociais a seus membros.

Forhan (2010FORHAN, M. Doing, Being, and Becoming: A Family’s Journey Through Perinatal Loss. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n. 1, p. 142-151, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862645>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) descreve a sua jornada e a de sua família após uma perda perinatal. Identifica as dificuldades do luto materno, do esfacelamento dos planos e da construção das lembranças do filho morto. Narra a sua experiência com o luto a partir das fases descritas por Hoppes (2005bHOPPES, S. When a Child Dies the World Should Stop Spinning: An Autoethnography Exploring the Impact of Family Loss on Occupation. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 59, n. 1, p. 78-87, 2005b. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1872066>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://ajot.aota.org/article.aspx?articl...
). A ocupação se torna fim quando relata o seu retorno e do marido ao trabalho, o regresso dos filhos à escola e a construção de novos planos e esperanças futuros.

Freitas e Michel (2014FREITAS, J. L.; MICHEL, L. H. F. A maior dor do mundo: o luto materno em uma perspectiva fenomenológica. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 19, n. 2, p. 273-283, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v19n2/10.pdf>. Acesso em: 31 out. 2016.
http://www.scielo.br/pdf/pe/v19n2/10.pdf...
) apontam o luto materno como “a maior dor do mundo”, isso porque, afirmam que ao nascer de um filho nasce uma mãe, porém o que dizer quando uma mãe perde seu filho? Em outros modos de enlutamento, o status social do enlutado muda: de casado para viúvo, ou de filho para órfão, mas a mãe não adquire um novo lugar. Ela continua a ser mãe, agora, porém, de um filho morto. Dessa forma, o terapeuta ocupacional precisa identificar as peculiaridades no processo de enfrentamento de uma mãe enlutada, visto que esse processo tem singularidades e diz de uma condição única de existir.

Hoppes e Segal (2010HOPPES, S.; SEGAL, R. Reconstructing Meaning Through Occupation After the Death of a Family Member: Accommodation, Assimilation, and Continuing Bonds. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n.1, p. 133-141, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862644>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) analisaram três áreas de ocupação: trabalho, lazer e participação social e encontraram que 16 dos 31 participantes descreveram acomodações ocupacionais em pelo menos uma área de ocupação analisada. Isso significa que os participantes transformaram seus padrões ocupacionais em resposta a mudança da realidade.

Os participantes no estudo experimentaram a acomodação ocupacional quando os padrões ocupacionais anteriores tornaram-se insustentáveis ou irrelevantes após a morte de um membro da família. Exemplo disso foi uma mulher de 33 anos, cuja mãe morreu de câncer de mama. Depois de engajar-se em trabalho administrativo insatisfatório, ela saiu para trabalhar para “The Race for the Cure”, parte de uma fundação para a captação de recursos dedicados à educação, tratamento e busca de uma cura para o câncer de mama.

Hoppes e Segal (2010HOPPES, S.; SEGAL, R. Reconstructing Meaning Through Occupation After the Death of a Family Member: Accommodation, Assimilation, and Continuing Bonds. American Journal of Occupational Therapy, Bethesda, v. 64, n.1, p. 133-141, 2010. Disponível em: <http://ajot.aota.org/article.aspx?articleid=1862644>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) relatam também que todos os participantes tiveram assimilação nas ocupações analisadas. A assimilação refere-se a adaptações nas ocupações como forma de enfrentar a perda. Exemplo disso foi a realização de atividades de lazer imediatamente após a morte de um membro da família, que incluía a manutenção de rotinas importantes como um jantar de família semanal, a continuidade nas aulas e taekwondo para os meninos após a morte de um filho, a manutenção das rotinas de exercícios físicos, de esportes como o golfe e o handebol.

Como conclusão do estudo, foram enfatizados os apontamentos dos participantes que consideram importantes a retomada do trabalho, a manutenção e o fortalecimento da participação social como fatores que influenciaram positivamente no enfrentamento do luto.

Rosenwax, Malajczuk e Ciccarelli (2014ROSENWAX, L.; MALAJCZUK, S.; CICCARELLI, M. Change in carers’ activities after the death of their partners. Support Care Cancer, Germany, v. 22, n. 3, p. 619-626, 2014. Disponível em: <http://link.springer.com/article/10.1007/s00520-013-2014-1>. Acesso em: 31 out. 2016.
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) analisaram a participação de cuidadoras de pacientes terminais dois anos após a morte deles nas atividades domésticas, sociais e de lazer e identificaram que houve a manutenção das atividades domésticas em detrimento das atividades de lazer e sociais. Os autores acreditam que a manutenção das atividades poderia ser facilitada se houvesse a participação em serviços comunitários, grupos recreativos e outros grupos de apoio e de interesse, tanto durante como depois de cuidar.

5 Conclusão

Conclui-se que o luto interfere nas ocupações e no desempenho ocupacional dos enlutados de forma significativa, e que o terapeuta ocupacional deve compor as equipes de apoio às pessoas enlutadas, a fim de proporcionar espaços de fala, ressignificação e reflexão para minimizar perdas ocupacionais a partir da vivência do luto.

Também foi possível identificar que as ocupações são potentes ferramentas para a intervenção com enlutados, seja como meio ou como fim, e que terapeutas ocupacionais devem observar, identificar e avaliar a influência do luto nas ocupações para auxiliar enlutados neste processo.

Por fim, estudos adicionais são necessários e urgentes a fim de oferecer evidências para a construção teórico-prática da terapia ocupacional com enlutados.

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Notas

  • 1
    Trabalho parte da pesquisa de doutorado do primeiro autor.
  • 2
    Trabalho apresentado no 11th International Conference on Grief and Bereavement in Contemporary Society.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan 2019

Histórico

  • Recebido
    20 Jan 2017
  • Revisado
    18 Dez 2017
  • Aceito
    13 Fev 2018
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