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Ressonância magnética de 3 tesla na avaliação da osteoporose pós-menopausa: o avanço tecnológico é capaz de substituir a densitometria óssea?

É esperado que em 2050 cerca de 22% da população mundial seja composta por pessoas acima de 60 anos. Com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento, há maior prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, sendo considerada como uma nova “epidemia”(11 Malta DC, Silva Jr JB. O plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e a definição das metas globais para o enfrentamento dessas doenças até 2025: uma revisão. Epidemiol Serv Saúde. 2013;22:151–64.). Dentre as doenças crônicas não transmissíveis, a osteoporose representa um risco para a saúde da população idosa(11 Malta DC, Silva Jr JB. O plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e a definição das metas globais para o enfrentamento dessas doenças até 2025: uma revisão. Epidemiol Serv Saúde. 2013;22:151–64.,22 Braga DL, Mousovich-Neto F, Tonon-da-Silva G, et al. Epigenetic changes during ageing and their underlying mechanisms. Biogerontology. 2020;21: 423–43.).

A osteoporose é uma doença osteometabólica prevalente em idosos, predominando no sexo feminino no período pósmenopausa, decorrente da perda de massa óssea facilitando a ocorrência de fraturas osteoporóticas, que causam grande impacto na qualidade de vida e aumentam a morbimortalidade com significativa perda funcional do indivíduo(33 Yazbek MA, Marques Neto JF. Osteoporose e outras doenças osteometabólicas no idoso. Einstein (São Paulo). 2008;6(Supl 1):S74-S8.). Considerando as causas multifatoriais da doença, a prevenção e o diagnóstico precoce são os maiores aliados para um envelhecimento saudável. E neste ponto, o exame de densitometria óssea tem papel determinante.

A densitometria óssea medida pela absorção de raios-X de dupla energia (dual energy X-ray absorptiometry – DEXA) é considerada, desde 1993 pela Organização Mundial da Saúde, o método de escolha para a quantificação da massa óssea, utilizado para diagnóstico e seguimento terapêutico de osteoporose( 4). No Brasil, desde 2014 a DEXA foi estabelecida como técnica diagnóstica de escolha, por ser um método não invasivo, com radiação extremamente baixa, preciso na avaliação de risco de fratura, e recomendado como o meio disponível mais adequado para avaliação de indivíduos com risco de desenvolver osteoporose(55 Frazão P, Naveira M. Prevalência de osteoporose: uma revisão crítica. Rev Bras Epidemiol. 2006;9:206–14.,66 Kanis JA, Cooper C, Rizzoli R, et al. Review of the guideline of the American College of Physicians on the treatment of osteoporosis. Osteoporos Int. 2018;29:1505–10.,77 Seeley DG, Browner WS, Nevitt MC, et al. Which fractures are associated with low appendicular bone mass in elderly women? The Study of Osteoporotic Fractures Research Group. Ann Intern Med. 1991;115:837–42.,88 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria no 451, de 9 de junho de 2014. Aprova o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da osteoporose.).

Apesar de a DEXA ser um método consolidado no manejo da osteoporose, o questionamento de haver um exame de alta tecnologia, sem radiação ionizante, acessível e replicável capaz de revolucionar e substituir a densitometria, surge como uma possibilidade atrativa(99 Albuquerque SMRL. Envelhecimento ativo: desafio dos serviços de saúde para a melhoria da qualidade de vida dos idosos. [tese]. São Paulo, SP: Universidade de São Paulo; 2005.). Trentadue et al.(1010 Trentadue M, Sozzi C, Idolazzi L, et al. Magnetic resonance imaging at 3.0- T in postmenopausal osteoporosis: a prospective study and review of the literature. Radiol Bras. 2022;55:216–24.) conduziram uma pesquisa avançada utilizando a ressonância magnética (RM) de 3 tesla, incluindo a sequência de difusão e o mapa de coeficiente de difusão aparente no screening e diagnóstico da osteoporose em pacientes pós-menopausa.

O aparelho de RM de 3 tesla possui o maior campo magnético permitido em humanos, com tecnologia avançada, excelente capacidade multiplanar capaz de gerar imagens de alta resolução e contraste teciduais, possibilitando diagnósticos acurados de inúmeras afecções envolvendo sistema nervoso central, sistema cardiovascular, órgãos abdominais e pélvicos e sistema musculoesquelético, em especial a medula óssea(1111 Tsujikawa T, Oikawa H, Tasaki T, et al. Whole-body bone marrow DWI correlates with age, anemia, and hematopoietic activity. Eur J Radiol. 2019; 118:223–30.).

Apesar de a RM com sequência de difusão ser o método de escolha para avaliação da medula óssea, há inúmeros fatores que influenciam na aparência normal deste órgão, incluindo idade, doenças metabólicas, anemia, reconversão da medula hematopoiética, distúrbios hematológicos e tumores metastáticos( 11). Essas situações são prevalentes após os 60 anos e dificultam a avaliação isolada do arcabouço ósseo, formado pelo osso mineralizado, impedindo a análise acurada de redução da densidade de massa óssea necessária para o diagnóstico de osteopenia e osteoporose.

Devemos reconhecer que a tecnologia da RM, incluindo técnicas avançadas, não supera a densitometria óssea, que provou ter o melhor custo-benefício na detecção precoce da osteoporose, com baixo custo e sem contraindicações na sua realização. Em contrapartida, a RM de 3 tesla, além de ter alto custo e ser pouco acessível, tem muitas contraindicações, como claustrofobia, portadores de marca-passo, limite de peso, de circunferência abdominal, e ainda exige colaboração para sua execução, dificultando sua replicação em larga escala.

Considerando que o envelhecimento populacional se tornará uma das transformações sociais mais significativas do século 21, com implicações em vários setores da sociedade, incluindo principalmente o setor de saúde, precisamos contribuir no campo diagnóstico de forma eficaz e precisa, para proporcionar à nossa população uma longevidade saudável(1212 Miranda GMD, Mendes ACG, Silva ALA. O envelhecimento populacional brasileiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2016;19:507–19.). Para isso, é importante instrumentalizar e operacionalizar a atenção à saúde do idoso com ações preventivas, assistenciais e de reabilitação, para manutenção da capacidade funcional e melhoria da qualidade de vida(1212 Miranda GMD, Mendes ACG, Silva ALA. O envelhecimento populacional brasileiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2016;19:507–19.,1313 Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev Saúde Pública. 1997;31:184– 200.,1414 Motta LB. Treinamento interdisciplinar em saúde do idoso: um modelo de programa adaptado às especificidades do envelhecimento. [cited 2022 Aug 19]. Available from: http://www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/ biblioteca/_artigos/16.pdf.
http://www.observatorionacionaldoidoso.f...
).

Temos a missão de identificar métodos diagnósticos de alta tecnologia ou não capazes de contribuir de forma ativa em ações de caráter individual e coletivo, visando à prevenção específica, ao diagnóstico precoce e, consequentemente, ao tratamento adequado dos principais problemas de saúde desse segmento populacional(1515 Carvalho JAM, Garcia RA. O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfico. Cad Saúde Pública. 2003;19:725–33.,1616 Motta LB. O processo de envelhecimento. In: Saldanha AL, Caldas CP, organizadores. Saúde do idoso: a arte de cuidar. 2a ed. Rio de Janeiro, RJ: Interciência; 2004. p. 117–24.).

REFERENCES

  • 1
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  • 2
    Braga DL, Mousovich-Neto F, Tonon-da-Silva G, et al. Epigenetic changes during ageing and their underlying mechanisms. Biogerontology. 2020;21: 423–43.
  • 3
    Yazbek MA, Marques Neto JF. Osteoporose e outras doenças osteometabólicas no idoso. Einstein (São Paulo). 2008;6(Supl 1):S74-S8.
  • 4
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  • 5
    Frazão P, Naveira M. Prevalência de osteoporose: uma revisão crítica. Rev Bras Epidemiol. 2006;9:206–14.
  • 6
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  • 8
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria no 451, de 9 de junho de 2014. Aprova o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da osteoporose.
  • 9
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  • 10
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    » http://www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/ biblioteca/_artigos/16.pdf
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Nov-Dec 2022
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