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O processo de construção de valores sociais: revisitando o conceito de valor social do ponto de vista da tradição interacionista simbólica

El proceso de construcción de valores sociales: revisitando el concepto de valor social desde el punto de vista de la tradición interaccionista simbólica

Resumo

Nesta segunda década do século XXI, acumulam-se grandes questões que desafiam a humanidade, de guerras a mudanças climáticas e suas consequências, como desastres naturais, escassez de água e pandemias, o que aprofunda as desigualdades sociais. Tantos problemas que persistem, apesar do progresso tecnológico, econômico e social alcançado nos últimos dois séculos, nos levam a refletir sobre como viemos parar nesse ponto. Afinal, o que tem sentido e importa para os grupos e as sociedades que habitam este planeta? Em direção à problematização desse questionamento, elegemos, de acordo com o pragmatismo americano, a tradição interacionista simbólica e o conceito de valor social, fundamentados na vertente sociológica da psicologia social, para responder como ocorre o processo de construção desse tipo de valor. Neste texto, revisitamos, com base nas três vertentes do interacionismo simbólico (tradicional, contemporânea e estrutural), o conceito definido por Thomas e Znaniecki (1927, 2006) e, por meio dessa integração teórica, propomos uma definição conceitual contemporânea do que seja valor social para prosseguir à formulação de um modelo teórico acerca do processo de construção de valores sociais, abrindo espaço para compreender a dinâmica entre as diferentes estruturas da sociedade (macro) e a agência das pessoas (micro) na significação, na ressignificação e até no abandono desses valores.

Palavras-chave:
Valor social; Processo de construção; Interacionismo simbólico; Integração de vertentes; Psicologia social sociológica

Resumen

En esta segunda década del siglo XXI, se acumulan grandes cuestiones que desafían a la humanidad, desde guerras hasta cambios climáticos y sus consecuencias, tales como desastres naturales, escasez de agua y pandemias, profundizando las desigualdades sociales. Tantos problemas que persisten a pesar del progreso tecnológico, económico y social logrado en los últimos dos siglos, nos llevan a reflexionar sobre cómo hemos llegado a este punto. Después de todo, ¿qué tiene sentido e importancia para los grupos y sociedades que habitan este planeta? Para la problematización de ese cuestionamiento, elegimos, dentro del pragmatismo estadounidense, la tradición interaccionista simbólica y el concepto de valor social fundamentado en la vertiente sociológica de la psicología social, con el objetivo de responder cómo ocurre el proceso de construcción de ese tipo de valor. Revisitamos, a partir de las tres vertientes del interaccionismo simbólico (tradicional, contemporáneo y estructural), el concepto definido por Thomas y Znaniecki (1927, 2006) y, por medio de esa integración teórica, proponemos una definición conceptual contemporánea de lo que es un valor social para proceder a la formulación de un modelo teórico acerca del proceso de construcción de valores sociales, abriendo espacio para comprender la dinámica entre las diferentes estructuras de la sociedad (macro) y la agencia de personas (micro) en la significación, resignificación e incluso abandono de esos valores.

Palabras clave:
Valor social; Proceso de construcción; Interaccionismo simbólico; Integración de vertientes; Psicología social sociológica

Abstract

In the second decade of the 21st century, great issues that challenge humanity, from wars to climate change, have been growing. The consequence of climate change, such as natural disasters, water scarcity, and pandemics, has deepened social inequalities. Many problems have persisted despite the technological, economic and social progress achieved in the last two centuries and make us reflect on how we ended up in this situation. After all, what makes sense and matters to the groups and societies that inhabit this planet? To address this issue, we chose, within American pragmatism, the symbolic interactionism tradition and the concept of social value, based on the sociological approach of social psychology, aiming to explain how the process of construction of this type of value occurs. We revisited, from the three versions of symbolic interactionism (traditional, contemporary, and structural), the concept set forth by Thomas and Znaniecki (1927, 2006). Through this theoretical integration, we propose a contemporary conceptual definition of what social value is in order to continue with the formulation of a theoretical model regarding the process of construction of social values, paving the way to understand the dynamics between the different social structures (macro) and the agency of human beings (micro) in the signification, resignification, and even abandonment of such values.

Keywords:
Social value; Construction process; Symbolic Interactionism; Integration of versions; Sociological social psychology

INTRODUÇÃO

Em 2020, deflagrou em todos os países, governos, organizações e pessoas, um cenário aterrorizante, que não vimos chegar e para o qual nenhuma preparação havia sido feita: a pandemia do novo coronavírus. No entanto, doenças como a COVID-19 não surgem de modo espontâneo, bem como a desconfiança na ciência ou na democracia. Como chegamos a esse ponto? Em um mundo imerso em informação, comunicação, redes sociais e posicionamentos diversos, compreender como grupos sociais estabelecem valores sociais, isto é, o que lhes importa, sejam objetos ou ideias, pela atribuição de significados (Thomas & Znaniecki, 1927Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (1927). The polish peasant in Europe and America. New York, NY: Alfred A. Knopf., 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.), pode nos trazer pistas sobre como enfrentar desafios globais. Tais desafios perpassam as mudanças climáticas, a escassez de água, a fome e a pobreza extremas, que persistem, apesar de todo o progresso tecnológico, econômico e social alcançado nos últimos dois séculos (George, Howard-Grenville, Joshi, & Tihanyi, 2016George, G; Howard-Grenville, J; Joshi, A; & Tihanyi, L. (2016). Understanding and tackling societal grand challenges through management research. Academy of Management Journal, 59( 6), 1880-1895. Recuperado de https://doi.org/10.5465/amj.2016.4007
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).

O recente fenômeno mundial nomeado The Great Resignation (A Grande Renúncia, em português), em 2021, por exemplo, trouxe mudanças significativas nas relações de trabalho, aceleradas pela pandemia e pela transformação digital nas organizações (Almeida, 2022Almeida, P. (2022, novembro 10). Demissões voluntárias no Brasil crescem mais de 30% nos primeiros cinco meses do ano. CNN Brasil. Recuperado de https://www.cnnbrasil.com.br/business/demissoes-voluntarias-no-brasil-crescem-mais-de-30-nos-primeiros-cinco-meses-do-ano/
https://www.cnnbrasil.com.br/business/de...
). Nos EUA, mais de 19 milhões de trabalhadores deixaram seus empregos desde abril desse mesmo ano, um ritmo recorde que tem perturbado as empresas norte-americanas (Smet, Dowling, Mugayar-Baldocchi, & Schaninger, 2021Smet, A; Dowling, B; Mugayar-Baldocchi, M; & Schaninger, B. (2021, novembro 10). “Great attrition” or “great attraction”? The choice is yours. McKinsey Quarterly. Recuperado de https://www.mckinsey.com/capabilities/people-and-organizational-performance/our-insights/great-attrition-or-great-attraction-the-choice-is-yours
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). No Brasil, foram 2,9 milhões entre janeiro e maio de 2022, um aumento de 32,5% em relação ao mesmo período de 2021 (Almeida, 2022Almeida, P. (2022, novembro 10). Demissões voluntárias no Brasil crescem mais de 30% nos primeiros cinco meses do ano. CNN Brasil. Recuperado de https://www.cnnbrasil.com.br/business/demissoes-voluntarias-no-brasil-crescem-mais-de-30-nos-primeiros-cinco-meses-do-ano/
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). Os motivos abrangem da preferência por novas modalidades de trabalho (Almeida, 2022Almeida, P. (2022, novembro 10). Demissões voluntárias no Brasil crescem mais de 30% nos primeiros cinco meses do ano. CNN Brasil. Recuperado de https://www.cnnbrasil.com.br/business/demissoes-voluntarias-no-brasil-crescem-mais-de-30-nos-primeiros-cinco-meses-do-ano/
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) ao anseio que os funcionários têm por investimentos nos aspectos humanos do trabalho: “Os funcionários estão cansados e muitos estão de luto. Eles querem um novo e revisado senso de propósito em seus trabalhos” (Smet et al., 2021Smet, A; Dowling, B; Mugayar-Baldocchi, M; & Schaninger, B. (2021, novembro 10). “Great attrition” or “great attraction”? The choice is yours. McKinsey Quarterly. Recuperado de https://www.mckinsey.com/capabilities/people-and-organizational-performance/our-insights/great-attrition-or-great-attraction-the-choice-is-yours
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). Os números sem precedentes de demissões voluntárias, no atual contexto de (pós)pandemia, evidenciam que pessoas e organizações estão no cerne de mudanças que afetam valores sociais, como o trabalho. Investigar como ocorre o processo de construção de valores sociais, destacando que tais valores são redefinidos em diferentes tempos e espaços, chegando até a perder o sentido, é o objetivo deste ensaio teórico.

Na literatura, a expressão “valor social” assume variadas conotações em diferentes campos do conhecimento. No empreendedorismo, valor social é tomado como sinônimo de impacto social, ou seja, o retorno final dos esforços e das atividades que as empresas sociais empreendem para resolver problemas sociais (Ajitha & Sivakumar, 2017Ajitha, S., & Sivakumar, V. J. (2017). Understanding the effect of personal and social value on attitude and usage behavior of luxury cosmetic brands. Journal of Retailing and Consumer Services, 39, 103-113. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jretconser.2017.07.009
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; Awuzie & McDermott, 2016Awuzie, B. O; & McDermott, P. (2016). The role of contracting strategies in social value implementation. Proceedings of the Institution of Civil Engineers-Management, Procurement and Law, 169(3), 106-114. Recuperado de https://doi.org/10.1680/jmapl.15.00024
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; Brickson, 2007Brickson, S. L. (2007). Organizational identity orientation: the genesis of the role of the firm and distinct forms of social value. Academy of Management Review, 32(3), 864-888. Recuperado de https://doi.org/10.5465/amr.2007.25275679
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; Brieger, Bäro, Criaco, & Terjesen, 2021Brieger, S. A; Bäro, A; Criaco, G; & Terjesen, S. A. (2021). Entrepreneurs’ age, institutions, and social value creation goals: a multi-country study. Small Business Economics, 57(1), 425-453. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11187-020-00317-z
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; Cartigny & Lord, 2017Cartigny, T; & Lord, W. (2017). Defining social value in the UK construction industry. Proceedings of the institution of civil engineers-management. Procurement and Law, 170(3), 107-114. Recuperado de https://doi.org/10.1680/jmapl.15.00056
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; Lashitew, van Tulder, & Muche, 2022Lashitew, A. A; van Tulder, R; & Muche, L. (2022). Social value creation in institutional voids: a business model perspective. Business & Society, 61(8), 1992-2037. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0007650320982283
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; Narangajavana, Gonzalez-Cruz, Garrigos-Simon, & Cruz-Ros, 2016Narangajavana, Y; Gonzalez-Cruz, T; Garrigos-Simon, F. J; & Cruz-Ros, S. (2016). Measuring social entrepreneurship and social value with leakage. Definition, analysis and policies for the hospitality industry. International Entrepreneurship and Management Journal, 12(3), 911-934. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11365-016-0396-5
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; Polonsky & Grau, 2008Polonsky, M. J; & Grau, S. L. (2008). Evaluating the social value of charitable organizations: a conceptual foundation. Journal of Macromarketing, 28(2), 130-140. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0276146708314585
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).

Este artigo, no entanto, focaliza valor social no campo da psicologia social sociológica, dentro da tradição intelectual do interacionismo simbólico da Escola de Chicago do início do século XX. Ancorado na filosofia pragmatista americana, o interacionismo simbólico produziu inúmeras contribuições quanto aos debates macro-micro, em que relacionam agência/estrutura e, portanto, explicitam os entrelaçamentos de diferentes níveis de análise social que apoiam a manutenção ou mudança do status quo, base sobre a qual valores sociais são (re)(des)construídos. Apesar de existirem outras teorias que debatem as dicotomias micro-macro (por exemplo, teoria da estruturação e teoria institucional), neste artigo, elegemos o interacionismo simbólico para investigar o processo que define o que importa para diferentes grupos e sociedades, pois é nessa teoria que se originou o conceito de valor social de Thomas e Zaniecki (1927Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (1927). The polish peasant in Europe and America. New York, NY: Alfred A. Knopf., 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) e porque o interacionismo simbólico continuou a se enriquecer ao longo do tempo até os dias atuais (Carter & Fuller, 2016Carter, M. J; & Fuller, C. (2016). Symbols, meaning, and action: the past, present, and future of symbolic interactionism. Current Sociology Review, 64(6) 931-961. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0011392116638396
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; Carvalho, Borges, & Rêgo, 2010Carvalho, V. D. D; Borges, L. D. O; & Rêgo, D. P. D. (2010). Interacionismo simbólico: origens, pressupostos e contribuições aos estudos em psicologia social. Psicologia: Ciência e Profissão, 30, 146-161. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S1414-98932010000100011
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; Fine, 2005Fine, G. A. (2005). O triste espólio, o misterioso desaparecimento e o glorioso triunfo do interacionismo simbólico. RAE-Revista de Administração de Empresas, 45(4), 87-105. Recuperado de http://bibliotecadigital.fugv.br/ojs/index.php/rae/article/view/37309/36072
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; Hall, 2003Hall, P. M. (2003). Interactionism, social organization, and social processes: looking back and moving ahead. Symbolic Interaction, 26(1), 33-55. Recuperado de https://doi.org/10.1525/si.2003.26.1.33
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; Torregrosa, 2004Torregrosa, R. J. (2004). Social psychology: social or sociological? In A. H. Eagly, M. B. Reuben; & Hamilton, V. L. (Eds.), The social psychology of group identity and social conflict. Washington, DC: American Psychological Association.), especialmente pela potencialidade dessa tradição em analisar processos de socialização, ressocialização e mudanças de opinião, comportamentos, expectativas e exigências sociais (Carvalho et al., 2010Carvalho, V. D. D; Borges, L. D. O; & Rêgo, D. P. D. (2010). Interacionismo simbólico: origens, pressupostos e contribuições aos estudos em psicologia social. Psicologia: Ciência e Profissão, 30, 146-161. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S1414-98932010000100011
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).

O conceito de valor social foi primeiramente proposto, na chamada versão tradicional do interacionismo simbólico, por Thomas e Znaniecki (1927Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (1927). The polish peasant in Europe and America. New York, NY: Alfred A. Knopf., 2006), que conta ainda com a importante referência de Herbert Mead, um dos principais membros e influenciadores da Escola de Chicago. A evolução do movimento interacionista fez surgir demarcações teóricas entre os próprios pesquisadores dessa tradição e, assim, é possível encontrar na literatura outras duas versões e os respectivos expoentes1 1 Cabe ressaltar que outros autores discorrem e/ou nomeiam diferentemente as várias fases da tradição interacionista simbólica, podendo-se citar como exemplos Carter e Fuller (2016), Carvalho et al. (2010) e Fine (2005). Carvalho et al. (2010) mencionam outros membros da Escola de Chicago que fizeram importantes aportes, como Charles Cooley e John Dewey, bem como relevantes discípulos de Blumer, como Anselm Strauss e Tamotsu Shibutani, que levaram adiante as contribuições sociopsicológicas por ele realizadas. Muitas teorias se serviram das ideias interacionistas simbólicas para seu desenvolvimento, como Berger e Luckman, na conhecida obra The social construction of reality, igualmente mencionada por Fine (2005). Carter e Fuller (2016) apesentam o desenvolvimento do interacionismo simbólico mediante divisão em três principais escolas: Escola de Chicago (Herbert Mead e Herbert Blumer), Escola de Iowa (Manford Kuhn) e Escola de Indiana (Sheldon Stryker). Portanto, as contribuições do interacionismo simbólico evidentemente não se esgotam nos autores selecionados para compor as discussões neste artigo. : Versão Contemporânea, Herbert Blumer; e Versão Estrutural, Manford Kuhn e Sheldon Stryker (Stryker, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn.).

Como o conceito de valor social ficou restrito à vertente tradicional do interacionismo simbólico e acabou caindo no esquecimento quando da ascensão de uma psicologia social centrada nos processos cognitivos (Álvaro & Garrido, 2017Álvaro, J. L; & Garrido, A. (2003). Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. Porto Alegre, RS: Artmed Editora.), defendemos que, para contribuir com a compreensão de problemas sociais emergentes, complexos e multifacetados, pela lente dos valores sociais, uma atualização desse conceito se faz imperativa. Propomos, assim, a integração das diferentes versões do interacionismo simbólico para avançar sobre a definição de valor social de Thomas e Znaniecki (1927Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (1927). The polish peasant in Europe and America. New York, NY: Alfred A. Knopf., 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) e elaborar, em um segundo momento deste ensaio, um modelo teórico para o processo de construção de valores sociais fundamentado na dinâmica entre o agenciamento das pessoas e as restrições que são impostas por estruturas sociais nas quais atores sociais estão circunscritos.

A fim de contribuir para um conceito revisitado e a proposta de um processo para a construção de valores sociais como mais um passo para compreender os fenômenos que envolvem os problemas do século XXI, nosso percurso se inicia com a apresentação das distintas abordagens da psicologia social - área de conhecimento que congrega parte significativa dos estudos sobre valores -, para situarmos, então, os valores sociais na vertente sociológica. Na sequência, consideramos as contribuições das três versões da tradição interacionista para a proposição de um conceito de valor social e, em seguida, apresentamos e discutimos o modelo teórico acerca do processo de construção de valores sociais.

VALORES NA PSICOLOGIA SOCIAL

A palavra “valor” está presente na vida cotidiana, é usada em diversas situações e contém vários significados. Como substantivo, “valor” foi registrado no Compact Oxford English Dictionary, em 1303, para se referir à imparcialidade e equivalência da quantidade de uma mercadoria em uma troca e, em 1398, para significar um padrão de avaliação (Rohan, 2000‌Rohan, M. J. (2000). A rose by any name? The values construct. Personality and Social Psychology Review, 4(3), 255-277. Recuperado de https://doi.org/10.1207/s15327957pspr0403_4
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). Como verbo, o uso da palavra “valor” (valorar) é registrado também no início do século XIV para descrever o ato de avaliar uma mercadoria (Rohan, 2000‌Rohan, M. J. (2000). A rose by any name? The values construct. Personality and Social Psychology Review, 4(3), 255-277. Recuperado de https://doi.org/10.1207/s15327957pspr0403_4
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).

Para Kluckhohn (1951Kluckhohn, C. (1951) Values and value-orientations in the theory of action: an exploration in definition and classification. In T. Parsons, & E. Shils (Eds.), Toward a general theory of action (pp. 388-433). Cambridge, MA: Harvard University Press.), antropólogo norte-americano, valor é um termo técnico empregado em várias áreas do conhecimento, como filosofia, economia, artes, sociologia, psicologia e antropologia, e significa coisas diferentes (Adler, 1956Adler, F. (1956). The value concept in sociology. American Journal of Sociology, 62(3), 272-279. Recuperado de https://doi.org/10.1086/222004
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). A maior parte dos estudos sobre valores concentra-se na psicologia social (Ros, 2001Ros, M. (2001). Psicología social de los valores: una perspectiva historica. In M. Ros, & V. V. Gouveia (Eds.), Psicología social de los valores humanos: desarrollos teóricos, metodológicos y aplicados (pp. 27-51). Madri, España: Biblioteca Nueva.), que se divide em psicologia social psicológica e psicologia social sociológica (Álvaro & Garrido, 2017Álvaro, J. L; & Garrido, A. (2003). Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. Porto Alegre, RS: Artmed Editora.; Stryker, 1977Stryker, S. (1977). Developments in two social psychologies: toward an appreciation of mutual relevance. Sociometry, 40(2), 145-160. Recuperado de https://doi.org/10.2307/3033518
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; Torregrosa, 2004Torregrosa, R. J. (2004). Social psychology: social or sociological? In A. H. Eagly, M. B. Reuben; & Hamilton, V. L. (Eds.), The social psychology of group identity and social conflict. Washington, DC: American Psychological Association.). Em cada uma delas, encontramos definições para o constructo.

Na psicologia social psicológica, valores encontram-se nos indivíduos, ou seja, são intrassubjetivos (Rokeach, 1973Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York, NY: Free Press.). Nessa acepção, são fruto da cognição, portanto, surgem e se constroem de dentro para fora (Álvaro & Garrido, 2017Álvaro, J. L; & Garrido, A. (2003). Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. Porto Alegre, RS: Artmed Editora.), tendo suas raízes nas necessidades humanas.

Dois autores influentes em estudos de valores na vertente psicológica são Rokeach (1969Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York, NY: Free Press., 1973Ros, M. (2001). Psicología social de los valores: una perspectiva historica. In M. Ros, & V. V. Gouveia (Eds.), Psicología social de los valores humanos: desarrollos teóricos, metodológicos y aplicados (pp. 27-51). Madri, España: Biblioteca Nueva.), Schwartz (1992Schwartz, S. H. (1992). Universals in the content and structure of values: theoretical advances and empirical tests in 20 countries. Advances in Experimental Social Psychology, 25, 1-65. Recuperado de https://doi.org/10.1016/s0065-2601(08)60281-6
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, 1994Schwartz, S. H. (1994). Are there universal aspects in the structure and contents of human values? Journal of Social Issues, 50(4), 19-45. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1540-4560.1994.tb01196.x
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, 2005Schwartz, S. H. (2005). Valores humanos básicos: seu contexto e estrutura intercultural. In A Tamayo, & J. B. Porto(Orgs), Valores e comportamento nas organizações (pp. 21-55). Petrópolis, RJ: Vozes.) e Schwartz et al. (2012)Schwartz, S. H; Cieciuch, J; Vecchione, M; Davidov, E; Fischer, R; Beierlein, C; … Konty, M. (2012). Refining the theory of basic individual values. Journal of Personality and Social Psychology, 103(4), 663-688. Recuperado de https://doi.org/10.1037/a0029393
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. Rokeach (1973)Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York, NY: Free Press. define valor como “uma crença persistente de que um modo específico de conduta ou estado final de existência é pessoalmente ou socialmente preferível a um modo de conduta ou estado final de existência oposto” (Rokeach, 1973Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York, NY: Free Press., p. 5, tradução nossa). Schwartz (1994)Schwartz, S. H; Cieciuch, J; Vecchione, M; Davidov, E; Fischer, R; Beierlein, C; … Konty, M. (2012). Refining the theory of basic individual values. Journal of Personality and Social Psychology, 103(4), 663-688. Recuperado de https://doi.org/10.1037/a0029393
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traz à tona as motivações humanas como conteúdo substantivo dos valores ao considerá-los “metas desejáveis e transituacionais, que variam em importância, servem como princípios na vida de uma pessoa ou de outra entidade social” (Schwartz, 1994Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York, NY: Free Press., p. 21, tradução nossa). Com base em uma ótica evolucionista, os tipos motivacionais são comuns a todos os indivíduos, em qualquer sociedade, diferenciando-se apenas em termos de hierarquia (Schwartz, 1992Schwartz, S. H. (1992). Universals in the content and structure of values: theoretical advances and empirical tests in 20 countries. Advances in Experimental Social Psychology, 25, 1-65. Recuperado de https://doi.org/10.1016/s0065-2601(08)60281-6
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).

Por outro lado, ligados à psicologia social sociológica, pesquisadores da chamada Escola de Chicago exerceram enorme influência sobre os estudos sociais produzidos já no início do século XX, por meio da tradição interacionista simbólica (Álvaro & Garrido, 2017Ajitha, S., & Sivakumar, V. J. (2017). Understanding the effect of personal and social value on attitude and usage behavior of luxury cosmetic brands. Journal of Retailing and Consumer Services, 39, 103-113. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jretconser.2017.07.009
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), que também tratou de valores. Aqui, no entanto, valores são denominados sociais, localizados nos objetos, por causa de um processo de significação que ocorre por meio de interação social (Álvaro & Garrido, 2017Álvaro, J. L; & Garrido, A. (2003). Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. Porto Alegre, RS: Artmed Editora.), pela qual significados são atribuídos e compartilhados, o que os caracteriza como extras e interssubjetivos.

Para os interacionistas simbólicos, o significado é um dos mais importantes elementos na compreensão do comportamento humano, das interações e dos processos sociais (Fine, 2005Fine, G. A. (2005). O triste espólio, o misterioso desaparecimento e o glorioso triunfo do interacionismo simbólico. RAE-Revista de Administração de Empresas, 45(4), 87-105. Recuperado de http://bibliotecadigital.fugv.br/ojs/index.php/rae/article/view/37309/36072
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). Em Symbolic interacionism: perspective and method, Blumer (1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press.) estabelece três premissas básicas do interacionismo simbólico:

A primeira é que o ser humano orienta seus atos em direção às coisas em função do que estas significam para ele. A segunda é que o significado dessas coisas surge como consequência da interação social que cada qual mantém com seu próximo. A terceira é que os significados são estabelecidos e se modificam mediante um processo interpretativo desenvolvido pela pessoa ao defrontar-se com os elementos que vai encontrando em seu caminho (Blumer, 1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press., p. 2, tradução nossa).

Diferentemente da vertente psicológica da psicologia social, que centra sua atenção no processo cognitivo, os interacionistas consideram que o significado é produzido pelo processo de interação humana (Blumer, 1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press.; Mead, 1962Mead, G. H. (1962). Mind, self and society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago, IL: University of Chicago Press.). Assim, a visão de homem defendida por todas as vertentes interacionistas simbólicas é a de um ser agente (Stryker, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn.). O ser humano é visto como alguém que se empenha na interação social consigo mesmo, por meio da auto-interação, e com os outros, a fim de elaborar uma linha de ação de acordo com a interpretação dos diferentes conteúdos presentes nas situações, em vez de simplesmente emitir uma resposta automática (Blumer, 1969). Ao fazer isso, o agente tem a capacidade de significar e ressignificar (Blumer, 1969), fazendo com que um significado possa, inclusive, ser abandonado.

À mesma época em que Blumer (1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press.) e Mead (1962Mead, G. H. (1962). Mind, self and society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago, IL: University of Chicago Press.) davam importantes contribuições ao interacionismo simbólico, outros pesquisadores da Escola de Chicago realizavam estudos com foco na interação social e no significado, como William I. Thomas e seu colaborador, Florian Znaniecki. Ambos apresentaram, na segunda década do século XX, o conceito de valor social que serviu de fundamento para o desenvolvimento de nossa proposta.

VALORES SOCIAIS

Thomas e Znaniecki (1918-1920), autores da obra intitulada The polish peasant in Europe and America, considerada um marco na psicologia social (Álvaro & Garrido, 2017Álvaro, J. L; & Garrido, A. (2003). Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. Porto Alegre, RS: Artmed Editora.; Bulmer, 1984Bulmer, M. (1984). The Chicago school of sociology: institutionalization, diversity, and the rise of sociological research. Chicago, IL: University of Chicago Press.), no capítulo de abertura, chamado “Nota Metodológica”, apresentam o conceito de valor social, definido como “qualquer dado que tenha um conteúdo empírico acessível para os membros de um grupo social e um significado com respeito ao que é ou possa ser objeto de atividade” (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas., p. 110, tradução nossa).

Com o intuito de tornar o conceito de valor social mais claro, Thomas e Znaniecki (2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) exemplificam:

[…] um alimento, um instrumento, uma moeda, uma poesia, uma universidade, um mito e uma teoria científica são todos valores [sociais]. Todos e cada um têm um conteúdo, sensorial nos casos do alimento, do instrumento e da moeda; parcialmente sensorial e parcialmente imaginário no caso da poesia - cujo conteúdo está formado não só pelas palavras escritas e faladas, mas também pelas imagens que evocam - e, no caso da universidade, cujo conteúdo é todo o complexo de homens, edifícios, acessórios materiais e imagens que representam sua atividade; ou, por fim, pode estar formado exclusivamente de imagens, como no caso de uma personalidade mítica ou uma teoria científica (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas., p. 110, tradução nossa).

Com base nos exemplos, um valor social pode assumir a forma de algo concreto ou remeter-se a algo de natureza abstrata, pois “até mesmo uma ‘ideia’ […] pode ser comunicada a outros” (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas., p. 116, tradução nossa) e tornar-se acessível e gerar ações, ou atividades, em relação a ela. Para Thomas e Znaniecki (2006)Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas., os significados desses valores se tornam expressos quando podem ser referenciados às suas funções ou finalidades. O significado

do alimento é sua referência ao seu consumo final; o de um instrumento, sua referência ao trabalho para o qual foi projetado; o de uma moeda, às possibilidades de compra e venda ou os prazeres de gastos que envolve; o da poesia, às reações sentimentais e intelectuais que ela desperta; o da universidade, às atividades sociais que realiza; o da personalidade mítica, ao culto de que é objeto […]; o da teoria científica, às possibilidades de controle da experiência por ideia ou ação que ela permite (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas. p. 111, tradução nossa).

Apesar de o valor social ser fruto de interação social, Thomas e Znaniecki (2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) assinalam que “[…] quando um valor social atua sobre os membros individuais do grupo, produz um efeito mais ou menos diferente em cada um; inclusive, quando atua sobre o mesmo indivíduo, em diferentes momentos, não o influencia de uma maneira uniforme” (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas., p. 126, tradução nossa). Os membros de um determinado grupo podem reagir de maneira idêntica a certos valores, por terem sido ensinados a reagir assim, em razão da existência de regras sociais, mas uma mesma ação em diferentes condições sociais produz resultados diferentes (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.). Isso porque os resultados de uma atividade individual não dependem apenas da ação em si, mas também das condições sociais em que a ação é realizada. Com isso, os autores acabam evidenciando alguns pontos importantes em nosso entendimento: a dinamicidade do significado do valor social no tempo, uma vez que novos agentes passam a conhecê-los e agir em direção a eles, favoravelmente ou desfavoravelmente, inclusive; a existência de estruturas reguladoras na vida em sociedade, como no caso das instituições analisadas por Thomas e Znaniecki (2006)Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas. (por exemplo, famílias, imprensa e instituições de ensino) e, portanto, a circunscrição de valores sociais nas relações entre indivíduo e ele mesmo e entre indivíduo e o outro.

Outros autores interacionistas, mais recentemente, discutiram de forma contundente o debate micro-macro. Nesse sentido, um conceito de valor social contemporâneo pode ser proposto à luz do Interacionismo Simbólico Estrutural, vertente amplamente impulsionada por Sheldon Stryker.

A CONTRIBUIÇÃO DA VERSÃO ESTRUTURAL PARA O INTERACIONISMO SIMBÓLICO

Stryker (1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn.) forneceu grande contribuição ao ser um crítico dentro da perspectiva interacionista, sobretudo à visão microssociológica de Blumer, ao sistematizar as diferentes vertentes presentes no movimento e ao propor sua própria versão de interacionismo simbólico, denominada versão social estrutural2 2 Observamos que, além de Sheldon Stryker, a versão estrutural do interacionismo simbólico contempla as contribuições de Kuhn, principal expoente da Escola de Iowa (Carter & Fuller, 2016). No entanto, a ênfase no artigo foi dada a Stryker, uma vez que esse autor aprofundou a discussão sobre a influência das estruturas sociais na tradição interacionista, ajudando-nos a trazer a visão macrossociológica para o conceito de valor social, nascido dentro de uma vertente predominantemente microssociológica do interacionismo simbólico. . Esse autor, ao longo de sua trajetória de pesquisa, destaca o papel das estruturas sociais sobre a interação entre as pessoas e no estabelecimento de papéis sociais e, por consequência, na formação de identidades, mas sem desprezar a agência humana (Stryker, 1959Stryker, S. (1959). Symbolic interaction as an approach to family research. Marriage and Family Living, 21(2), 111-119. Recuperado de https://doi.org/10.2307/348099
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, 1968Stryker, S. (1968). Identity salience and role performance: the relevance of symbolic interaction theory for family research. Journal of Marriage and the Family, 30(4), 558. Recuperado de https://doi.org/10.2307/349494
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, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn., 1987Stryker, S. (1977). Developments in two social psychologies: toward an appreciation of mutual relevance. Sociometry, 40(2), 145-160. Recuperado de https://doi.org/10.2307/3033518
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, 2008‌Stryker, S; Serpe, R. T; & Hunt, M. O. (2005). Making good on a promise: the impact of larger social structures on commitments. In S. I. Thye, & E. J. Lawler (Eds.), Advances in group process: social identification in groups (vol. 22, pp. 93-123). Bingley, UK: Emerald Group Publishing Limited.).

Para Stryker (2008Stryker, S. (2008). From mead to a structural symbolic interactionism and beyond. Annual Review of Sociology, 34(1), 15-31. Recuperado dehttps://doi.org/10.1146/annurev.soc.34.040507.134649
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), a sociedade existe antes do aparecimento de novos membros. Portanto, as instituições sociais antecedem a interação direta entre os indivíduos, e a força dessas estruturas se faz presente na regulação dessa interação. A versão estrutural toma como ponto de partida as “estruturas sociais […] como interações e relações padronizadas, enfatizando a durabilidade de tais padrões, a resistência à mudança e a capacidade de se reproduzirem” (Stryker, 2008Stryker, S. (2008). From mead to a structural symbolic interactionism and beyond. Annual Review of Sociology, 34(1), 15-31. Recuperado dehttps://doi.org/10.1146/annurev.soc.34.040507.134649
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, p. 19, tradução nossa).

A sociedade é vista, na versão estrutural, como composta por sistemas organizados de interações e relações de papéis ou ainda “como mosaicos complexos de grupos, comunidades e instituições diferenciados, atravessados por uma variedade de demarcações baseadas em classe, idade, gênero, etnia, religião etc.” (Stryker, 2008Stryker, S. (2008). From mead to a structural symbolic interactionism and beyond. Annual Review of Sociology, 34(1), 15-31. Recuperado dehttps://doi.org/10.1146/annurev.soc.34.040507.134649
https://doi.org/10.1146/annurev.soc.34.0...
, p. 19, tradução nossa). Stryker (2008) considera, porém, que a vida social ocorre, em grande parte, não dentro da sociedade como um todo, mas em redes mais restritas, muitas vezes locais. As pessoas vivem

[…] suas vidas em redes relativamente pequenas e especializadas de relações sociais através de papéis que apoiam sua participação em tais redes. Essas pequenas redes estão aninhadas dentro de uma hierarquia de estruturas sociais em que estruturas sociais grandes fornecem limites que afetam a probabilidade de que os indivíduos entrem em estruturas sociais menores (Merolla, Serpe, Stryker, & Schultz, 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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, p. 151, tradução nossa).

As estruturas que compõem essa hierarquia são de três tipos: i) estruturas sociais grandes; ii) estruturas sociais intermediárias e iii) estruturas sociais próximas (Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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). As primeiras dizem respeito à macro-orientação social, ou categorias sociais, como etnia, classe, gênero ou nação. Essas estruturas são relativamente estáveis ao longo do tempo, servem como fronteiras sociais e influenciam comportamentos interpessoais, tendo consequências significativas e diretas na vida individual (Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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). Pois, além de servir como limites para demarcar os conjuntos em que as pessoas se inserem (Brenner, Serpe, & Stryker, 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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), impactam nas condições de desenvolvimento de suas identidades (Stryker, 1959Stryker, S. (1959). Symbolic interaction as an approach to family research. Marriage and Family Living, 21(2), 111-119. Recuperado de https://doi.org/10.2307/348099
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, 1968Stryker, S. (1968). Identity salience and role performance: the relevance of symbolic interaction theory for family research. Journal of Marriage and the Family, 30(4), 558. Recuperado de https://doi.org/10.2307/349494
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).

Estruturas sociais intermediárias, por sua vez, são conjuntos consideráveis de pessoas em contextos particulares e delimitadores (por exemplo, vizinhanças, escolas, associações). Esse tipo de estrutura é considerado importante, pois os limites sociais por elas impostos aumentam ou diminuem a probabilidade de formação de relações sociais. Assim, “as estruturas intermediárias, como as estruturas sociais grandes, servem como importantes fronteiras de controle na determinação de quais indivíduos têm mais ou menos acesso a quais estruturas sociais próximas” (Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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, p. 152, tradução nossa).

Já as estruturas sociais próximas são redes menores ou grupos mais imediatos às pessoas, como famílias, equipes, departamentos dentro de estruturas corporativas ou educacionais. Esse tipo de estrutura representa os contextos nos quais as pessoas geralmente desenvolvem suas identidades (Serpe & Stryker, 2011Serpe, R. T; & Stryker, S. (2011). The symbolic interactionism perspective and identity theory. In S. J. Schwartz, K. Luyckx, & V. L. Vignoles (Eds.), Handbook of identity theory and research(p. 225-248). New York: Springer Science + Business Media.; ‌Stryker, Serpe, & Hunt, 2005‌Stryker, S; Serpe, R. T; & Hunt, M. O. (2005). Making good on a promise: the impact of larger social structures on commitments. In S. I. Thye, & E. J. Lawler (Eds.), Advances in group process: social identification in groups (vol. 22, pp. 93-123). Bingley, UK: Emerald Group Publishing Limited.). Na perspectiva estrutural, os termos “grupo social”, “rede social” e “estrutura social próxima” são tomados como sinônimos e qualificados como “pequenos e envolvem relacionamentos interpessoais, em vez de relacionamentos de organizações, instituições, sociedades totais” (Merolla, et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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, p. 150, tradução nossa).

Com as contribuições destacadas até aqui, considerando as três versões do interacionismo simbólico, a seguir, propomos uma conceituação para valor social com base na articulação e integração das ideias apresentadas.

VALOR SOCIAL À LUZ DAS VERSÕES TRADICIONAL, CONTEMPORÂNEA E ESTRUTURAL DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO

Thomas e Znaniecki (2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) já afirmavam que as regras de conduta constituem “sistemas mais ou menos conectados e harmoniosos” (Thomas & Znaniecki, 2006, p. 121, tradução nossa), mostrando que, para além da interação direta entre indivíduos, existem relações sociais entre membros, que são padronizadas e instituídas dentro de um grupo. Desse modo, esses representantes da versão tradicional do interacionismo simbólico revelam o poder de estruturas sociais que Brenner et al. (2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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) e Merolla et al. (2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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), mais recentemente, classificaram como estruturas sociais grandes, intermediárias e próximas. Assim, gênero e etnia (considerados grandes estruturas) podem restringir o acesso a determinados espaços sociais, como as universidades (consideradas estruturas intermediárias); por sua vez, certa universidade torna mais ou menos provável que os estudantes entrem em interações e relacionamentos interpessoais (estruturas próximas) que podem levá-los, por exemplo, a buscar ou não a possibilidade de uma carreira acadêmica (Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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).

No interacionismo simbólico estrutural está clara a importância que as estruturas sociais têm na regulação das relações sociais e na ação individual. Por um lado, para os interacionistas estruturais, a vida social é construída, aberta à reconstrução e à mudança social, pois a interação, formação, manutenção e dissolução de grupos sociais (estruturas próximas) impactam em estruturas maiores (Stryker, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn.). Por outro lado, a vida social é delimitada por “características objetivas do mundo vivido, construções anteriores, pressões baseadas em normas […] e hábitos” (Serpe & Stryker, 2011Serpe, R. T; & Stryker, S. (2011). The symbolic interactionism perspective and identity theory. In S. J. Schwartz, K. Luyckx, & V. L. Vignoles (Eds.), Handbook of identity theory and research(p. 225-248). New York: Springer Science + Business Media., p. 232, tradução nossa), já que estruturas superiores (grandes ou intermediárias) impactam a interação, formação, manutenção ou dissolução de grupos sociais (Stryker, 1980). Nesse sentido, muitas interações entre as pessoas apenas reproduzem estruturas existentes, assim, a ação humana nem sempre resulta necessariamente em mudança de situações ou reconfigurações estruturais (Serpe & Stryker, 2011Serpe, R. T; & Stryker, S. (2011). The symbolic interactionism perspective and identity theory. In S. J. Schwartz, K. Luyckx, & V. L. Vignoles (Eds.), Handbook of identity theory and research(p. 225-248). New York: Springer Science + Business Media.).

Com isso, entendemos que, na abordagem estrutural do interacionismo simbólico, pessoas estão sempre contextualizadas em determinado espaço e tempo e pertencem a diversas estruturas próximas. Embora sejam capazes de provocar mudanças, agindo isoladamente, dificilmente impactarão diretamente estruturas sociais grandes (macrocategorias sociais). O mesmo não ocorre em relação à capacidade que as pessoas possuem de influenciar estruturas sociais superiores quando articuladas em grupos sociais, o que não significa dizer que tal influência ocorra de modo facilitado, uma vez que estruturas maiores influenciam comportamentos interpessoais e servem como fronteiras sociais, tendo consequências importantes e diretas na vida individual (Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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), ao limitar e demarcar grupos sociais nos quais as pessoas se inserem (Brenner et al., 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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).

Ao identificarem a existência de três tipos de estruturas sociais (estruturas grandes, intermediárias e próximas), Merolla et al. (2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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) apontam para uma relação macro-micro que fornece o contexto social em que ocorre a agência humana. O grupo social presente na definição de valor social de Thomas e Znaniecki (2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) pode ser compreendido como uma estrutura social próxima, pois são “redes […] pequenas e envolvem relacionamentos interpessoais” (Merolla, et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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, p. 150, tradução nossa), que atribuem significados às coisas. Todas as coisas, concretas e abstratas, que possuem significado para determinado grupo são consideradas valores sociais (Thomas & Znaniecki, 2006Stryker, S. (2008). From mead to a structural symbolic interactionism and beyond. Annual Review of Sociology, 34(1), 15-31. Recuperado dehttps://doi.org/10.1146/annurev.soc.34.040507.134649
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). Por sua vez, os membros de um grupo social, ou estrutura próxima, agem de formas diversas em face daquilo que reconhecem como valor (Thomas & Znaniecki, 2006Stryker, S. (2008). From mead to a structural symbolic interactionism and beyond. Annual Review of Sociology, 34(1), 15-31. Recuperado dehttps://doi.org/10.1146/annurev.soc.34.040507.134649
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).

Com base no exposto e discutido até aqui, chegamos à conceituação de valor social como qualquer dado com conteúdo empírico acessível (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.), significado atribuído (Blumer, 1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press.; Mead, 1967Mead, G. H. (1962). Mind, self and society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago, IL: University of Chicago Press.; Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) e passível de atividade (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) por agentes situados em estruturas sociais próximas permeadas por estruturas sociais intermediárias e grandes (Brenner et al., 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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; Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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).

O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE VALORES SOCIAIS

A definição de valor social, com base nas três vertentes interacionistas, apesar de indicar onde se formam os valores sociais (nas estruturas sociais próximas), não nos conta como tais valores são construídos e, então, reproduzidos, mantidos ou abandonados e as ressignificações que ocorrem nesse processo. Todavia, é possível propormos, com base nos aspectos teóricos já discutidos, como esse processo se dá, conforme apresentamos na Figura 1 e nas proposições teóricas que a acompanham.

Conforme ilustra a Figura 1, à luz da integração das três vertentes do interacionismo simbólico, determinada sociedade (linha mais externa da figura em cor laranja) pode ser representada como um todo organizado que comporta: i) os três tipos de estruturas sociais hierarquicamente classificadas em grandes, intermediárias e próximas (abas em tons degradê de laranja) e ii) pessoas dotadas de individualidade, poder de agência e diferentes papéis sociais (indicadas pelos ícones de pessoas com figuras geométricas coloridas). As pessoas pertencem a grupos sociais (círculos brancos) com os quais interagem para a realização do exercício da vida social (mantendo relações familiares, conjugais, de amizade, de trabalho, comerciais etc.). Essa configuração societal e as relações que ocorrem entre pessoas (setas duplas entre ícones de pessoas), grupos (setas duplas entre círculos brancos) e estruturas sociais (setas duplas entre abas em tons degradê de laranja) fornecem o contexto em que valores sociais são estabelecidos.

Defendemos que é na dinâmica entre as diferentes estruturas sociais e a agência humana que reside o processo de construção social de valores sociais. Para melhor explicitar tal afirmação, elaboramos quatro proposições que descrevem o processo de construção desse tipo de valores.

1. São as pessoas, localizadas em grupos sociais (estruturas próximas) pertencentes a estruturas maiores, que dão significados a diferentes “algos”, concretos e abstratos, por meio de interação simbólica, à medida que encontram funções para esses “algos”, que se tornam valores sociais para tais grupos.

Nesta proposição, começamos por destacar que o processo de construção social de valores se inicia com a interação direta entre as pessoas situadas em grupos sociais que estão localizados no nível das estruturas sociais próximas, o tipo de estrutura social mais interiorizado em nossa representação. São as pessoas as responsáveis pelo estabelecimento de valores sociais no processo, pois, como versam as premissas interacionistas da versão tradicional e contemporânea, nós somos seres agentes que realizam movimento em direção às coisas que possuem significado (Blumer, 1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press.; Mead, 1962Mead, G. H. (1962). Mind, self and society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago, IL: University of Chicago Press.; Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.).

Como os significados são produtos sociais, ou seja, são criações elaboradas por meio de interação simbólica, na qual ocorrem processos interativos e auto-interativos dotados de sentido (Blumer, 1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press.), a ação em direção às coisas passa a ser orientada por significados. No entanto, como sinaliza uma das premissas do interacionismo estrutural, o pertencimento de uma pessoa a determinadas estruturas próximas é influenciado por estruturas superiores (Brenner et al., 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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; Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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) e, com isso, à ação humana são imputados limites, o que nos leva à segunda proposição.

2. Estruturas sociais grandes impactam o acesso que as pessoas terão a determinadas estruturas intermediárias e próximas, o que poderá aumentar/restringir as possibilidades de tomarem contato com espaços de atribuição e compartilhamento de significados e, portanto, com determinados valores sociais.

Figura 1
O processo de construção de valores sociais

A segunda proposição de nosso modelo está alicerçada em duas premissas da abordagem estrutural do interacionismo simbólico. Primeiramente, reiteramos que as pessoas estão situadas em determinadas estruturas sociais que formam previamente uma sociedade e contextos delimitadores à ação humana, tanto de membros já existentes em tal sociedade quanto de novos membros (Brenner et al., 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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; Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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; Stryker, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn., 2008Stryker, S. (1987). The vitalization of symbolic interactionism. Social Psychology Quarterly, 50(1), 83-94. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2786893
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). Assim, as estruturas sociais grandes aumentam/restringem as possibilidades de as pessoas tomarem contato com certos espaços sociais e, por consequência, podem limitar o acesso ao conhecimento de certos valores sociais e às possibilidades de atividade em direção a eles (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.). Além da força de regulação das estruturas sociais grandes, estruturas sociais intermediárias operam como uma segunda camada de restrições à ação humana, como propomos a seguir.

3. Estruturas sociais intermediárias abarcam estruturas sociais próximas e poderão, por meio de seus representantes, disseminar os significados daquilo que já se encontra estabelecido, levando novos membros de estruturas próximas a agirem, em um primeiro momento, em face de valores sociais existentes e reproduzidos por seus representantes.

Para essa proposição, lembramos que o pertencimento de uma pessoa a determinadas estruturas próximas é influenciado por estruturas superiores (Brenner et al., 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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; Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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), como é o caso das estruturas intermediárias, nas quais os membros de grupos sociais possuem posições e papéis em que mantêm relações sociais (Stryker, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn., 2008Stryker, S. (1987). The vitalization of symbolic interactionism. Social Psychology Quarterly, 50(1), 83-94. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2786893
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).

Com os exemplos fornecidos pelos autores interacionistas estruturais (vizinhanças, escolas, associações), é possível pensar que as estruturas sociais intermediárias se referem basicamente a qualquer tipo de organização social (por exemplo, empresas), e são nas organizações que as pessoas interagem entre si em estruturas sociais próximas. As pessoas, em papeis de representantes de estruturas intermediárias, conferem legitimidade a estas, como no caso das que ocupam posições de liderança formal, ao agir para disseminar valores sociais com significados já estabelecidos. As interações das pessoas com tais representantes e consigo mesmas podem levá-las à aceitação de tais significados e sua reprodução ao longo do tempo.

Como estruturas sociais são interações e relações sociais padronizadas resistentes a mudanças e que tendem a se reproduzir (Stryker, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn., 2008Stryker, S. (1987). The vitalization of symbolic interactionism. Social Psychology Quarterly, 50(1), 83-94. Recuperado de https://doi.org/10.2307/2786893
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), pela relação de hierarquia que se estabelece entre estruturas intermediárias e estruturas próximas, conquanto os valores sociais mantidos não são ressignificados, entendemos que há uma tendência de que sejam reproduzidos tanto em estruturas sociais intermediárias quanto em estruturas próximas. As premissas de agência humana, que fornecem pistas sobre como valores sociais objetificados podem ser ressignificados, são apresentadas na última proposição.

4. As pessoas pertencem a vários grupos sociais, em uma ou mais estruturas intermediárias, ficando expostas a outras pessoas que podem atribuir significados diferentes a um mesmo valor social. O processo de reflexão a elas inerente é capaz de propiciar (re)interpretações e, consequentemente, a atribuição de novos significados a valores sociais já existentes, abandono de certos valores e/ou a proposição de novos valores sociais.

Como a realidade social é complexa e o mundo das organizações é amplo e diverso, as pessoas pertencem a diferentes grupos sociais (Brenner et al., 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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; Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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; Stryker, 1968Stryker, S. (1968). Identity salience and role performance: the relevance of symbolic interaction theory for family research. Journal of Marriage and the Family, 30(4), 558. Recuperado de https://doi.org/10.2307/349494
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). O fato de uma pessoa desempenhar um papel específico em cada grupo social do qual se torna membro possibilita uma multiplicidade de interações entre pessoas e padrões de ação.

Apesar das relações sociais e da ação humana ocorrerem contextualizadas em estruturas sociais e de significados poderem ser resistentes a mudanças (Stryker, 1980‌Stryker, S. (1980). Symbolic interactionism: a social structural version. Menlo Park, CA: Benjamin-Cummings/Blackburn., 2008), são as pessoas as responsáveis pela transformação no mundo social, são elas que constroem significados como consequência do processo de interação social, e estes podem ser manipulados, ressignificados e mesmo abandonados, tal como elaborou Blumer (1969Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism: Perspective and method. San Diego, CA: University of California Press.). São nas estruturas sociais próximas (Brenner et al., 2014Brenner, P. S; Serpe, R. T; & Stryker, S. (2014). The causal ordering of prominence and salience in identity theory. Social Psychology Quarterly, 77(3), 231-252. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272513518337
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; Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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) que as pessoas se relacionam diretamente umas com as outras e consigo mesmas (autorreflexão), interpretando e compartilhando significado, em vez de emitirem apenas respostas automáticas de ajustamento (Blumer, 1969; Mead, 1962Mead, G. H. (1962). Mind, self and society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago, IL: University of Chicago Press.). Assim, podem agir de forma semelhante ou diferente em relação a um dado valor social, inclusive de forma oposta (Thomas & Znaniecki, 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.), levando a (re)interpretações (Blumer, 1969) sobre os valores sociais, (re)significando-os, por consequência, ou mesmo abandonando valores preexistentes e/ou construindo novos.

Portanto, valores sociais são tanto produto dos agentes situados em estruturas próximas quanto resultantes da influência de estruturas maiores sobre a ação humana. Para destacar algumas das contribuições e futuros desdobramentos esperados com base em nossa proposta teórica, tecemos, a seguir, nossas considerações finais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Thomas e Znaniecki (1927Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (1927). The polish peasant in Europe and America. New York, NY: Alfred A. Knopf., 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) propuseram a definição de valor social originalmente no início dos anos 1900, consoante à tradição interacionista simbólica. Neste artigo, revisitamos essa definição, considerando, além da versão tradicional à qual pertencem, as versões contemporânea e, principalmente, a estrutural do interacionismo simbólico, integrando as dimensões de agência e estrutura que a envolvem.

Valor social é um conceito que merece ser relembrado porque discute o processo de valorização de coisas - concretas e abstratas - na sociedade e aponta o crédito desse movimento às interações sociais, mostrando nossa responsabilidade nesse processo. Um valor social é algo significado por pessoas e por elas modificado, tanto em função de interações sociais que vivenciam nos grupos de relações próximas das quais fazem parte, quanto pela interação com agentes sociais coletivos (King, Felin, & Whetten, 2010King, B. G; Felin, T; & Whetten, D. A. (2010). Perspective-Finding the organization in organizational theory: a meta-theory of the organization as a social actor. Organization Science, 21(1), 1-309. Recuperado de https://doi.org/10.1287/orsc.1090.0443
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), que representam estruturas sociais mais complexas, as quais podem restringir ações das pessoas em estruturas próximas ou serem por elas modificadas (Merolla et al., 2012Merolla, D. M; Serpe, R. T; Stryker, S; & Schultz, P. W. (2012). Structural precursors to identity processes: The role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly, 75(2), 149-172. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0190272511436352
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).

Apesar de terem feito uma diferenciação entre os valores sociais, classificando-os em valores abstratos e concretos, Thomas e Znaniecki (1927Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (1927). The polish peasant in Europe and America. New York, NY: Alfred A. Knopf., 2006Thomas, W. I; & Znaniecki, F. (2006). El campesino polaco en Europa y en América. Madrid, España: Centro de Investigaciones Sociológicas.) não indicaram qual o processo de construção que está por trás de tais valores, o que intentamos, em um segundo momento, fazer aqui. Entendemos que a compreensão desse processo é valiosa, principalmente, no caso de valores abstratos.

Valores sociais concretos, a exemplo do valor social “alimento”, citado pelos autores, por serem materiais, têm funções sociais mais facilmente percebidas por aqueles que o utilizam. Já para algo conceitual, o processo de construção como um valor social não é necessariamente evidente, como no caso de conceitos tão debatidos na atualidade, como sustentabilidade, democracia ou ciência, pois envolvem diversas estruturas e agentes em variados tempos e lugares, em sucessivos processos de significação e ressignificação. No entanto, podemos pensar que até valores sociais concretos, como as vacinas, acabam correndo o risco de ser abandonados, em função de sua conexão com outros valores abstratos, como o de ciência - construído ao longo de séculos, mas que vem sofrendo com negacionismo sem precedentes, levantando a possibilidade de relações de influência no processo de (des)construção de valores sociais.

Portanto, o próximo passo será colocar à prova o modelo teórico proposto por meio de pesquisas empíricas, como se faz com qualquer outra teoria. As discussões e reflexões realizadas neste ensaio são um primeiro esforço em direção à compreensão dos processos de construção de valores sociais, visando contribuir com o campo dos estudos sobre valores, dialogando mais especificamente com a vertente sociológica da psicologia social e com os estudos organizacionais. Reiteramos a importância de: i) olhar para conceitos por vezes elaborados há mais de um século, como no caso de valor social, cujos autores, talvez por estarem à frente de seu tempo, foram esquecidos apesar da criatividade de suas ideias e ii) integrar diversas teorias como um caminho teórico promissor, como fizemos ao considerar as três versões existentes na tradição interacionista simbólica, o que nos possibilitou propor tanto uma definição contemporânea para o conceito de valor social quanto pistas para compreender como esse tipo de valor é estabelecido, ressignificado e/ou mesmo abandonado por grupos e sociedades.

Entendemos que trazer à luz processos sociais torna explícito o que está implícito, possibilitando a compreensão de situações que parecem surgir repentinamente (como a pandemia), evidenciar manipulações e jogos de poder, mergulhando na complexidade da realidade social e, assim, clarear como determinados “algos” se tornam e/ou deixam de ser importantes nas sociedades contemporâneas.

Em termos de contribuição para a gestão em uma época pós-COVID-19, em que se observam milhares de pessoas em diversos países saindo das empresas voluntariamente em busca de trabalho que lhes faça mais sentido (Liu, 2021Liu, J. (2021, abril 04). A record 4.4 million people quit in September as great resignation shows no signs of stopping. CNBC. Recuperado de http://www.cnbc.com/2021/11/12/a-record-4point4-million-people-quit-jobs-in-september-great-resignation.html
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; Sánchez-Vallejo, 2021Sánchez-Vallejo, M. A. (2021, abril 04). A revolução que faz com que quatro milhões de trabalhadores larguem o emprego a cada mês nos EUA. El País. Recuperado de https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-23/a-revolucao-que-faz-com-que-quatro-milhoes-de-trabalhadores-larguem-o-emprego-a-cada-mes-nos-eua.html
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), a compreensão do processo de construção de valores sociais proposto pode despertar a alta direção para a importância de se atentar a quais valores sociais têm sido reforçados no cotidiano organizacional, quais vêm se esfarelando, como mostrou a modalidade virtual do trabalho durante a pandemia e as razões para isso.

Trabalhadores agem na direção de determinados valores sociais no mundo organizacional, inclusive contrapondo-se a alguns valores sociais já estabelecidos, indicando a necessidade de se diagnosticar o que precisa ser transformado. A compreensão do processo de (des)construção de valores sociais pode dar pistas relevantes para realizar essa transformação.

Ao final, essa reflexão pode - e deve - ser expandida a todos os grupos sociais (estruturas próximas) que se relacionam com as organizações (estruturas intermediárias), pois, mais do que nunca, elas estão sendo chamadas para contribuir com as sociedades em que se inserem e sobre as quais têm responsabilidade.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelas bolsas de estudos que foram concedidas e que possibilitaram o desenvolvimento deste artigo.

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  • 1
    Cabe ressaltar que outros autores discorrem e/ou nomeiam diferentemente as várias fases da tradição interacionista simbólica, podendo-se citar como exemplos Carter e Fuller (2016), Carvalho et al. (2010) e Fine (2005). Carvalho et al. (2010) mencionam outros membros da Escola de Chicago que fizeram importantes aportes, como Charles Cooley e John Dewey, bem como relevantes discípulos de Blumer, como Anselm Strauss e Tamotsu Shibutani, que levaram adiante as contribuições sociopsicológicas por ele realizadas. Muitas teorias se serviram das ideias interacionistas simbólicas para seu desenvolvimento, como Berger e Luckman, na conhecida obra The social construction of reality, igualmente mencionada por Fine (2005). Carter e Fuller (2016) apesentam o desenvolvimento do interacionismo simbólico mediante divisão em três principais escolas: Escola de Chicago (Herbert Mead e Herbert Blumer), Escola de Iowa (Manford Kuhn) e Escola de Indiana (Sheldon Stryker). Portanto, as contribuições do interacionismo simbólico evidentemente não se esgotam nos autores selecionados para compor as discussões neste artigo.
  • 2
    Observamos que, além de Sheldon Stryker, a versão estrutural do interacionismo simbólico contempla as contribuições de Kuhn, principal expoente da Escola de Iowa (Carter & Fuller, 2016). No entanto, a ênfase no artigo foi dada a Stryker, uma vez que esse autor aprofundou a discussão sobre a influência das estruturas sociais na tradição interacionista, ajudando-nos a trazer a visão macrossociológica para o conceito de valor social, nascido dentro de uma vertente predominantemente microssociológica do interacionismo simbólico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    06 Jul 2022
  • Aceito
    19 Dez 2022
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