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Incidência da pandemia da Covid-19 no turismo da região Nordeste do Brasil

Resumo

Em todas as escalas, a relação turismo-pandemia suscita diferentes análises frente à complexidade tanto da atividade turística, que tem no espaço seu principal recurso, quanto da propagação da Covid-19, que ensejou mudanças no comportamento humano. Tendo em vista que a região Nordeste do Brasil se configurou ao longo dos anos como um importante polo receptor de turistas, o artigo analisa o impacto da pandemia na atividade turística da região e discute a influência do turismo na disseminação do vírus no território a partir dos fluxos e da circulação massiva de turistas. Metodologicamente, utilizou-se da pesquisa de base quanti-qualitativa e do tipo exploratória, adotando como procedimentos a revisão bibliográfica, a pesquisa documental e o levantamento de dados, a fim de subsidiar a análise pretendida. Ao fim, apontam-se desafios e tendências da atividade turística na região, considerando sua dinâmica a partir das ações dos principais agentes públicos e privados.

Palavras-chave:
Covid-19; Turismo; Fluxos turísticos; Região Nordeste

Abstract

The tourism-pandemic relationship raises different analyses at all scales given the complexity of the tourist activity, which has its main resource in space, and the spread of Covid-19 which has led to changes in human behavior. Considering that the northeastern region of Brazil has been configured, over the years, as an important reception hub of tourists, the article aims to analyze the impact of the pandemic on the tourist activity of that region. It also discusses the influence of tourism on the spread of the virus in the territory from the flows and massive circulation of tourists. Methodologically, the quantitative-qualitative and exploratory research were used with bibliographic survey, documentary research, and data collection as procedures to support the intended analysis. Finally, the challenges and trends of tourism activity in the region are pointed out, considering the dynamics from the actions of the main public and private agents.

Keywords:
Covid-19; Tourism; Tourist flows; Northeast region

Resumen

En todas las escalas, la relación turismo-pandemia plantea análisis ante a la complejidad tanto de la actividad turística, que tiene en el espacio su principal recurso, como de la diseminación de la Covid-19 que ha cambiado el comportamiento humano. Considerando que la región Nordeste de Brasil se ha convertido, a lo largo de los años, como importante polo turístico, la ponencia objetiva analizar el impacto de la pandemia en la actividad turística de esa región, así como discutir la influencia del turismo en la difusión del virus en el territorio desde los flujos y circulación masiva de turistas. Metodológicamente, se ha utilizado la investigación cuantitativa-cualitativa y exploratoria y ha presentado como procedimientos el levantamiento bibliográfico, la investigación documental y levantamiento de datos, con el fin de subsidiar el análisis pretendido. Finalmente, se señalan los retos y tendencias de la actividad turística en la región, considerando su dinámica desde las acciones de los principales agentes públicos y privados.

Palabras claves:
Covid-19; Turismo; Flujos turísticos; Región Nordeste

Introdução

A Covid-19 foi declarada pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020 (Organização Mundial..., 2020ORGANIZAÇÃO MUNDIAL de Saúde declara pandemia do novo Coronavírus. Brasília, DF: UNA-SUS, 11 mar. 2020. Disponível em: https://www.unasus.gov.br/noticia/organizacao-mundial-de-saude-declara-pandemia-de-coronavirus . Acesso em: 4 jun. 2021.
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), tendo em vista sua rápida disseminação, distribuída espacialmente por várias regiões e países de todo o mundo.

De acordo com os dados de contaminação internacional, estudos e projeções apontam que, no início da pandemia, a principal forma de disseminação do vírus foram os deslocamentos de pessoas entre as fronteiras, gerados pela prática turística por intermédio da aviação comercial de passageiros (Oliveira Neto; Garcia; Spinussi, 2020OLIVEIRA NETO, T.; GARCIA, T. S. L.; SPINUSSI, E. Pandemia de Covid-19: as fronteiras pelo mundo e o transporte aéreo na Itália. Confins, n. 44, 2020. doi: https://doi.org/10.4000/confins.27577.
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; Silveira et al., 2020SILVEIRA, M. R.; FELIPE JÚNIOR, N. F.; COCCO, R. G.; FELÁCIO, R. M.; RODRIGUES, L. A. Novo coronavírus (Sars-CoV-2): difusão espacial e outro patamar para a socialização dos investimentos no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 22, p. 1-36, 2020. doi: https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202024pt.
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; Carneiro; Allis, 2021CARNEIRO, J.; ALLIS, T. Como se move o turismo durante a pandemia da Covid-19?. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 15, n. 1, p. 1-23, 2021. doi: https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i1.2212.
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), seguindo a configuração espacial urbana das redes de cidades e dos maiores arranjos populacionais que concentravam, naquele momento, os principais hubs de transportes, turismo e negócios.

A velocidade do contágio e, especificamente, do elevado número de mortes, assim como as mais diversas consequências econômicas e sociais, marcam de forma disruptiva o processo de globalização, que tem expressão imediata na atividade turística do mundo moderno, caracterizada, principalmente, por grandes deslocamentos em curtos espaços de tempo, fator que originou o conceito compressão espaço-tempo, cunhado por Harvey (1999HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1999.).

Nesse sentido, a globalização do turismo e o turismo globalizado, com a ascensão do cenário e evento pandêmico, colocam, para reflexão, a relação turismo-pandemia-globalização, elementos imbricados que demonstram como o turismo internacional enfrenta uma crise profunda em decorrência da pandemia da Covid-19, que ensejou a paralisia do setor frente às medidas de isolamento social, acarretando prejuízos trilhonários; e que, contraditoriamente, essa mesma atividade foi um vetor de suma importância na/para a propagação mundial da doença.

De mesmo modo, Silveira et al. (2020SILVEIRA, M. R.; FELIPE JÚNIOR, N. F.; COCCO, R. G.; FELÁCIO, R. M.; RODRIGUES, L. A. Novo coronavírus (Sars-CoV-2): difusão espacial e outro patamar para a socialização dos investimentos no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 22, p. 1-36, 2020. doi: https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202024pt.
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) e Barros (2021BARROS, G. T. A difusão geográfica inicial da Covid-19 no Brasil e a aeromobilidade. Geousp, São Paulo, v. 25, n. 3, e-178541, 2021. doi: https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2021.178541.
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) constataram que a pandemia da Covid-19 acentuou os problemas decorrentes do processo de globalização totalitária ou globalitária, conforme discussões anteriores de Milton Santos (2000SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.). Seus reflexos nos serviços públicos e nos sistemas privados de saúde, em vários países ultraneoliberais (Davis, 2020DAVIS, M. A crise do coronavírus é um monstro alimentado pelo capitalismo. In: DAVIS, M.; HARVEY, D.; BIHR, A.; ZIBECHI, R.; BADIOU, A.; ŽIŽEK, S. Coronavírus e a luta de classes. Parnaíba, PI: Terra Sem Amos , 2020. p. 5-12.), e a dependência comercial dos produtos chineses para garantir as medidas iniciais de enfrentamento de difusão do vírus (Badiou, 2020BADIOU, A. Sobre a situação epidêmica. In: DAVIS, M.; HARVEY, D.; BIHR, A.; ZIBECHI, R.; BADIOU, A.; ŽIŽEK, S. Coronavírus e a luta de classes. Parnaíba, PI: Terra Sem Amos, 2020. p. 35-42.) explicam a fragilidade de ideias como governança global com controle político e econômico-territorial, gestão estatal dirigida aos interesses do mercado e da reprodução do capital, capacidade de resposta do capitalismo neoliberal a crises e catástrofes sanitárias e a dependência unilateral de centros produtores de insumos e suprimentos globais.

Ainda assim, apesar de ser um evento global, a pandemia da Covid-19 se dá em espaços-tempos desiguais, de modo em que a diferença de velocidade de contágio entre países e regiões próximas “refletiu tanto as políticas de contenção de disseminação do vírus adotadas pelos poderes públicos - quarentena, isolamento e distanciamento social - quanto na adesão da população a essas políticas” (Barros, 2021BARROS, G. T. A difusão geográfica inicial da Covid-19 no Brasil e a aeromobilidade. Geousp, São Paulo, v. 25, n. 3, e-178541, 2021. doi: https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2021.178541.
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, p. 2).

As limitações estabelecidas pelos governos em todo o mundo a partir da descoberta do vírus Sars-CoV-2 na China no final de 2019 tiveram um grande impacto no turismo, considerando que ele abarca um conjunto de atividades - que integram o sistema turístico - sustentadas pelos fluxos inerentes à mobilidade humana. Medidas como o fechamento das fronteiras, mesmo temporário, restringiram os deslocamentos e a oferta dos serviços não essenciais, a exemplo dos eventos, dos meios de hospedagem e dos estabelecimentos de alimentos e bebidas, somando-se ao “impacto psicossocial ocasionado pelo isolamento e pelas demandas por cuidados sanitários, como o uso de máscaras” (Santos; Campos; Rodrigues, 2021SANTOS, C. A. J.; CAMPOS, A. C.; RODRIGUES, L. P. O turismo de Aracaju/SE em tempos de Covid-19: ameaças e tendências. Caderno Virtual de Turismo, v. 21, n. 3, p. 112-125, 2021. doi: http://doi.org/10.18472/cvt.21n3.2021.1983.
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, p. 114).

A complexidade da nova dinâmica dos deslocamentos foi produzida pelas incertezas impostas pela crise sanitária e, também, pelo fato de que, inversamente, o turismo e as viagens em si contribuíram sobremaneira para a disseminação do vírus (Nicolaides et al., 2019NICOLAIDES, C.; AVRAAM, D.; CUETO-FELGUEROSO, L.; GONZÁLEZ, M.; JUANES, R. Hand-hygiene mitigation strategies against global disease spreading through the air transportation network. Risk Analysis, v. 4, n. 40, p. 723-740, 2019. doi: https://doi.org/10.1111/risa.13438.
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). Assim sendo, muito se tem falado sobre como o setor foi afetado pela pandemia, mas também é importante salientar como os agentes da atividade - inclusive os turistas - têm atuado nesse período pandêmico, pois, conforme aponta Iaquinto (2020IAQUINTO, B. L. Tourist as vector: viral mobilities of Covid-19. Dialogues in Human Geography, v. 10, n. 2, 2020. doi: https://doi.org/10.1177/2043820620934250.
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, p. 2), “para entender o papel do turismo na pandemia, é necessário entender como a mobilidade é praticada pelos turistas”.

Nesse período, os setores de transportes aéreo e rodoviário assumiram comportamentos concorrentes e contraditórios. A necessária manutenção das atividades laborais básicas e de busca de suprimentos alimentícios/farmacológicos de suporte e/ou preventivo dos contágios, ao mesmo tempo em que se torna imprescindível ao funcionamento da estrutura biológica e econômica da sociedade, também sugere a influência da rede de transportes como vetor de disseminação pela manutenção (mesmo parcial) dos deslocamentos turísticos e de lazer. A propagação do vírus no ocidente pode ter sido ocasionada pelo modal aéreo por “intermédio das classes médias e altas, especialmente em atividades laborais e de turismo no continente europeu” (Silveira et al., 2020SILVEIRA, M. R.; FELIPE JÚNIOR, N. F.; COCCO, R. G.; FELÁCIO, R. M.; RODRIGUES, L. A. Novo coronavírus (Sars-CoV-2): difusão espacial e outro patamar para a socialização dos investimentos no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 22, p. 1-36, 2020. doi: https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202024pt.
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, p. 4).

Metodologicamente, utilizou-se da pesquisa de base quanti-qualitativa e do tipo exploratória, tendo como procedimentos a revisão bibliográfica, a pesquisa documental e o levantamento dos dados que subsidiou os gráficos e cartogramas. No plano doméstico brasileiro, foram utilizados os dados sobre o transporte aéreo de passageiros e cargas divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de 2019 até o primeiro trimestre de 2022, o Anuário Estatístico do Turismo (2021ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO TURISMO: ano base 2020. Brasília, DF: Ministério do Turismo, 2021. v. 48. Disponível em: https://www.gov.br/turismo/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/observatorio/anuario-estatistico/anuario-estatistico-de-turismo-2021-ano-base-2020/anuario-estatistico-de-turismo-2021-ano-base-2020_divulgacao-compactado.pdf . Acesso em: 14 jun. 2022.
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) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Brasil, 2020a). Ademais, também foram levantados dados a partir de pesquisa específica realizada no âmbito da rede de pesquisa Turismo em Tempos de Pandemia: uma abordagem multi e trans-escalar por meio da ferramenta Google Forms, no período de fevereiro a maio de 2021, visando captar impactos, estratégias em curso e tendências do turismo, percebe-se que os impactos da pandemia diferem entre as escalas intra e inter-regionais.

Ao confrontar essas informações com os dados especiais sobre a Covid-19 publicados no perfil dos municípios brasileiros (IBGE, 2020aIBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Rio de Janeiro: IBGE , 2020a.) e com o Boletim Radar do Turismo da Secretaria de Gestão Estratégica do Ministério do Turismo referente a fevereiro de 2022, sobressaem as especificidades de segmentos, recursos e atrativos, que combinados com a aplicação de ações de combate à pandemia concertadas entre governos municipais e estaduais em determinadas localidades, principalmente do Nordeste, evidenciam tanto as fragilidades e os desafios impostos pela convivência com a Covid-19 quanto a necessidade de superar a derrocada econômica e social que se abateu prioritariamente sobre a força de trabalho e sobre as empresas das/nas atividades características do turismo (ACT).

Na análise do cenário do turismo doméstico, vale ressaltar que as cidades onde estão os aeroportos adquirem uma relativa influência nas áreas urbanas adjacentes, atraindo consumidores, encontros de negócios e de turistas para seu entorno, gerando mais interações e, em tempos de pandemia, aumento de contágios. Essas aglomerações urbanas também concentram a infraestrutura turística (meios de hospedagem, agências de viagem - emissoras e receptoras - e oferta de serviços de alimentos e bebidas, entre outros), uma vez que se caracterizam como elementos centrais na hierarquia das redes turísticas pautadas na sincronização dos bens e serviços.

De acordo com essa perspectiva aglutinadora de serviços, no novo mapa do turismo (Radar do Turismo, 2022aRADAR DO TURISMO. Informação estratégica do turismo no Brasil, v. 1, n. 2, mar. 2022a. Disponível em: https://www.gov.br/turismo/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/observatorio/radar-do-turismo/BoletimRadardoTurismoA1N2_c.pdf . Acesso em: 15 maio 2022.
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), as 322 regiões turísticas que aparecem no cenário brasileiro registram 2.542 municípios categorizados em A, B, C, D e E em função do peso que representam na economia do turismo em termos estaduais e nacionais (Mapa 1). Não obstante, essa categorização usa variáveis diretamente ligadas à hierarquia dos arranjos populacionais dos estados, uma vez que o número de estabelecimentos de hospedagem e de empregos gerados, as estimativas de visitantes domésticos e internacionais e a arrecadação de impostos federais dependem da infraestrutura instalada, das conexões rodoviárias e aeroviárias, bem como da importância dos recursos naturais e artificiais existentes.

Mapa 1 -
Brasil - novo mapa do turismo - 2022

Assim, nas análises regionais e intrarregionais do turismo, as particularidades de seu desenvolvimento ou recrudescimento durante o período pandêmico, ao mesmo tempo em que se torna revelador da alteridade nas dinâmicas da atividade turística, manifesta a importância das políticas públicas e das ações efetivas localizadas que fizeram/fazem frente à expansão da contaminação, em favor da manutenção da própria economia local. Longe de estabelecer uma relação de causalidade, os deslocamentos turísticos na pandemia expressam o caráter contraditório e estratégico da produção e reprodução dos espaços de uma sociedade desigual.

A partir dessa contextualização, este artigo visa analisar o impacto da pandemia na atividade turística da região Nordeste, bem como discutir a influência do turismo na disseminação do vírus no território a partir do fluxo e da circulação massiva de turistas. Para isso, estrutura-se em cinco seções, incluindo esta Introdução. Na segunda seção, se apresentam algumas considerações sobre a pandemia no cenário mundial, assim como dados do impacto no turismo do Brasil. A terceira seção aborda o impacto da pandemia no turismo da região Nordeste. A seção seguinte discute os novos desafios no momento de retomada do turismo. Na última seção, tecem-se considerações finais.

Considerações sobre a pandemia no turismo e o turismo na pandemia

Como já sabido e amplamente discutido por noticiários, documentários e estudos, como evento, a pandemia da Covid-19 transformou a projeção da materialização dos processos produtivos e de consumo, com rebatimentos diretos e indiretos nos espaços (fixos) e, principalmente, nas características dos deslocamentos (fluxos) como seu depositário final, tais como “[...] os eventos mudam as coisas, transformam os objetos, dando-lhes, ali mesmo onde estão, novas características” (Santos, M., 2006SANTOS, M. Natureza do espaço: técnica, tempo, razão, emoção. São Paulo: Edusp, 2006. , p. 116).

Dessa maneira, temos que considerar que os últimos dois anos foram marcados por grandes entraves e desafios para muitos setores, incluindo-se o turismo mundial. O isolamento social associado a outras recomendações da OMS influenciou a vida cotidiana, o comportamento do consumidor turístico e as práticas turísticas em si. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2020OMT. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Barómetro OMT del Turismo Mundial mayo 2020 - con especial enfoque en el impacto de la COVID-19 (resumen). Madrid: UNWTO , mayo 2020. doi: https://doi.org/10.18111/9789284421831.
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), todos os países implementaram inúmeras medidas para atenuar o impacto negativo do avanço da Covid-19 e, sobretudo, para estimular a recuperação do setor. De fato, verifica-se que o evento recente teve grande impacto em todo o mundo, com implicações escalares e ascensão de novos paradigmas na concepção e realização da “vida cotidiana no/do turismo” (Nicolas, 2000NICOLAS, D. H. La fuerza de lo efímero: apuntes sobre la construcción de la vida cotidiana em el turismo. In: LINDÓN, A. (Coord.). La vida cotidiana y su espacio temporalidad. Barcelona, ES: Anthropos, 2000. p. 95-122, p. 98), envolvendo a negação de algumas das práticas sociais turísticas anteriores (como viagens a destinos turísticos famosos e badalados que reúnem turistas de todo o mundo, ocasionando superlotação em diversos atrativos, consolidando o fenômeno do overtourism) e o surgimento de preferências, critérios e condições antes inexistentes (como a busca por destinos com baixa aglomeração, próximos à residência, bem como equipamentos e serviços turísticos atentos às normas de biossegurança), condizentes com os novos limites impostos à reprodução da atividade.

Ainda, segundo informe da OMT sobre a pandemia e as restrições de viagens associadas, em meados de abril de 2020:

100% dos destinos do mundo introduziram restrições de viagem em resposta à pandemia. 97 destinos (45%) fecharam total ou parcialmente suas fronteiras aos turistas. 65 destinos (30%) suspenderam total ou parcialmente os voos internacionais. 39 destinos (18%) implementaram o fechamento de fronteiras de maneira diferenciada, proibindo a entrada de passageiros de países específicos (OMT, 2020OMT. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Barómetro OMT del Turismo Mundial mayo 2020 - con especial enfoque en el impacto de la COVID-19 (resumen). Madrid: UNWTO , mayo 2020. doi: https://doi.org/10.18111/9789284421831.
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, p. 6, tradução nossa).

Nos demais trimestres, esta redução também foi percebida, fazendo com que 2020 seja considerado o pior ano registrado para o turismo na escala mundial. Segundo a OMT (2021OMT. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Barómetro OMT del Turismo Mundial y anexo estadístico. Madrid: UNWTO , enero 2021. Disponível em: https://webunwto.s3.eu-west-1.amazonaws.com/s3fs-public/2021-11/211129-unwto-barometer- es.pdf?bRkH5CUluEARBGyUFtmhGxLGFZwGnFKd.
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), as chegadas internacionais em todo o mundo apresentaram uma queda de 74%, colocando em risco entre 100 e 120 milhões de empregos turísticos diretos.

No caso do Brasil, os primeiros meses da pandemia foram marcados pela falta de direcionamento das recomendações e medidas sanitárias para conter a rápida disseminação da Covid-19. Com isso, as unidades federativas passaram a definir e adotar as próprias ações na tentativa de minimizar os danos causados pelo vírus.

Analisando as infraestruturas viárias responsáveis pelos maiores fluxos de pessoas no Brasil, bem como a hierarquia e a centralidade urbana dos principais aglomerados populacionais, verifica-se que, de acordo com as medidas adotadas por cada gestor público, aliado à importância do nível de centralidade de cada cidade, a difusão espacial da pandemia seguiu padrões hierárquicos a partir das capitais, de acordo com a densidade da estrutura dos transportes existente no país (Mapa 2).

Mapa 2 -
Densidade da disseminação da Covid-19 e principais infraestruturas de transportes no Brasil - 2020

No estudo sobre as ligações aéreas 2019-2020 referente a redes e fluxos do território (IBGE, 2021IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ligações aéreas: 2019-2020. Coordenação de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE, 2021.), as configurações e dinâmicas espaciais da rede urbana brasileira são retratadas, principalmente nos aspectos de acessibilidade aérea de pessoas e mercadorias, que explicam, de certa forma, a movimentação de informações, dinheiro e capacidade de gestão entre as cidades. Assim, a análise comparativa entre o período anterior à pandemia da Covid-19 e o de seu alastramento em 2020 mostra o impacto da situação pandêmica no setor.

Assim, avaliando o primeiro momento pandêmico (2020), observou-se o impacto no volume de transporte de passageiros, verificando-se uma redução média anual de 53,0% no Brasil. As consequências foram a “diminuição considerável dos fluxos e dos destinos disponíveis, especialmente, no atendimento regular com pelo menos um voo ao mês, caindo de 96 para 46 cidades atendidas” (IBGE, 2021IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ligações aéreas: 2019-2020. Coordenação de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE, 2021., p. 73). Fato que configura, no primeiro momento, a desconexão entre as principais regiões emissoras do Sul e do Sudeste e destinos receptores de turistas no Norte e no Nordeste. Ainda de acordo com o IBGE (2021IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ligações aéreas: 2019-2020. Coordenação de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE, 2021., p. 71):

[...] as Cidades das Regiões Norte e Nordeste, especialmente as Metrópoles e Capitais Regionais, a despeito de terem consolidado um serviço regular e com considerável volume de movimentação de passageiros e cargas, possuem suas malhas voltadas para a conectividade com essa porção Centro-Sul, estabelecendo um grande eixo longitudinal, tendo pouca articulação entre si.

Este hiato de conectividade ocorre bruscamente a partir do mês de abril de 2020 nos aeroportos brasileiros, uma vez que se percebe a queda de 94,5% nos desembarques, quando comparado com o mesmo mês em 2019. Isso decorre do início da chamada primeira onda de contaminação e do ápice da média de mortes diárias por Covid-19 no país. Entretanto, a recuperação dos fluxos aéreos e, consequentemente, da economia do turismo apresentam uma retomada de perspectiva a partir do mês de setembro, mas o setor de serviços passa a oscilar em função das ondas seguintes (Gráfico 1).

Gráfico 1 -
Saldo de empregos no setor de serviços - 2020

No que diz respeito especificamente às atividades características do turismo, ao longo do ano de 2020, foram demitidos 18,43% dos trabalhadores formais, com destaque para os setores de alimentação (restaurantes e bares), alojamento (meios de hospedagem) e transportes, que perderam 2/3 dos empregos quando comparamos com os dados de 2019 (Tabela 1).

Tabela 1 -
Variação do número de empregos nas atividades características do turismo - 2019-2020

Apesar da combinação de políticas públicas ineficientes com o forte apelo do empresariado e o negacionismo generalizado a respeito da gravidade da doença por parte de alguns gestores públicos e da sociedade, sobretudo acerca da expansão dos contágios, o que retardou o início da vacinação contra a Covid-19 em todo o país, a variação do número de deslocamentos domésticos, especialmente em busca de localidades litorâneas, provoca uma inflexão na questão sanitária brasileira: ao mesmo tempo em que promove a retomada das atividades econômicas, também concorre para uma segunda onda de contágios (Cruz, 2020CRUZ, R. C. A. O grito de independência de turistas pelo mundo e no Brasil. Le Monde Diplomatique Brasil, 14 set. 2020. Disponível em: Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-grito-de-independencia-de-turistas-pelo-mundo-e-no-brasil/ . Acesso em: 4 maio 2022.
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).

Em termos dos fluxos internacionais, no primeiro trimestre de 2021, viajaram 180 milhões de turistas a menos, o que corresponde a uma redução de 83% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, período pré-pandemia (ONU, 2021ONU. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Número de turistas internacionais cai 83% no primeiro trimestre deste ano. ONU News, 7 jun. 2021. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2021/06/1752622 . Acesso em: 15 maio 2022.
https://news.un.org/pt/story/2021/06/175...
), considerando que a OMS só declarou a pandemia da Covid-19 em março de 2020. Nesse momento, a Ásia-Pacífico e a Europa foram as regiões mais afetadas, apresentando respectivamente, uma redução de 94% e 83% em chegadas de turistas internacionais.

No Brasil, esse primeiro trimestre também foi marcado por uma variação de 87,7% do desembarque de turistas internacionais: em 2020, desembarcaram 2.723.952 passageiros e, em 2021, esse total decresceu para 333.904 (Brasil, 2021BRASIL. Ministério do Turismo. Dados e fatos. Brasília, DF, 2021. Disponível em: http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/estat%C3%ADsticas-e-indicadores/desembarques-internacionais.html . Acesso em: 2 mar. 2022.
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).

É certo que o ano de 2021 foi marcado por algumas incertezas e grandes desafios que influíram no processo de retomada da atividade turística mundial. As novas medidas tomadas durante todo o ano foram responsáveis por um novo panorama do turismo em todo mundo. O início da vacinação, em dezembro de 2020, no Reino Unido e na Europa, foi o marco para o restabelecimento da confiança entre os turistas e os destinos; consequentemente, para a flexibilização das restrições de viagens.

No plano doméstico, a movimentação de passageiros nos aeroportos do Brasil, por mês, em 2021, considerando os voos regulares e não regulares, cresceu cerca de 37,7%, contabilizando 63,1 milhões de passageiros, contra 45,9 milhões em 2020 (Gráfico 2).

Gráfico 2 -
Variação do fluxo de passageiros domésticos no Brasil - 2020-2021

As viagens rodoviárias também seguiram o mesmo ritmo de crescimento, haja vista que a partir do mês de abril de 2021, o número de passageiros domésticos ultrapassa os mesmos meses do ano anterior. Dessa maneira, tendo em conta os dados de autorização de viagens por meio de transporte terrestre coletivo fretado, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) registrou um incremento da oferta interestadual e intrarregional. Mas o uso de automóvel próprio ou alugado nas atividades de turismo e lazer representa 79,6% dos casos pesquisados pelo instrumento de coleta de dados no Google Forms entre pessoas que viajaram a lazer durante a pandemia, entre abril de 2020 e fevereiro de 2021.

Ao analisar o perfil e o comportamento dos turistas, viajando em veículo próprio ou alugado, percebe-se certa sensação de segurança e de distanciamento físico da possibilidade de ampliar os deslocamentos entre a casa (espaço privado) e espaços turísticos (públicos) considerados “mais salubres” e distantes das aglomerações metropolitanas (Carneiro; Allis, 2021CARNEIRO, J.; ALLIS, T. Como se move o turismo durante a pandemia da Covid-19?. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 15, n. 1, p. 1-23, 2021. doi: https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i1.2212.
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).

Este movimento enseja a retomada da empregabilidade no setor das atividades características do turismo, mesmo que ainda incipiente. De acordo com os números acumulados do saldo do emprego no setor de turismo do Brasil por macrorregião, referente ao mês de dezembro de 2021, os 148.675 postos de trabalho gerados formalmente representam apenas 36,15% das vagas perdidas. Por outro lado, a disparidade regional da geração de empregos do turismo é proporcionalmente relativa aos polos emissores e receptores do Sudeste e do Nordeste (Gráfico 3).

Gráfico 3 -
Saldo do número de empregos no setor de turismo do Brasil, por macrorregião - acumulado dez/2021

De acordo com o Boletim Mensal do Turismo publicado em fevereiro de 2022, os dados de 2021 de arrecadação federal das atividades características do turismo, correspondente a tributos - Imposto sobre a renda das pessoas jurídicas (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) -, Imposto de Renda Retido na Fonte e Receita Previdenciária dos estabelecimentos do setor de turismo (tanto a parte do empregado quanto das empresas), indicam que as regiões Nordeste e Centro-Oeste se destacam, com crescimento de 71,3% e 68,3%, respectivamente.

Impactos da pandemia no turismo do Nordeste do Brasil

Especificamente da região Nordeste do Brasil, seus nove estados adotaram medidas, mas não foram iguais em todo o território. De acordo com o Perfil Básico dos Municípios Brasileiros (IBGE, 2020aIBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Rio de Janeiro: IBGE , 2020a.), todas as capitais nordestinas adotaram o isolamento social nos primeiros meses da pandemia, apresentando um índice de isolamento social de 50,4%, contra 49,4% da região Centro-Oeste, 49,1% do Sudeste, 47,6% do Sul e 40,8% do Norte (Tuenia, 2020TUENIA, K. Índice de isolamento social no Nordeste é o maior entre as regiões brasileiras. Saiba Mais, 2020. Disponível em: https://www.saibamais.jor.br/2020/04/indice-de-isolamento-social-no-nordeste-e-o-maior-entre-as-regioes-brasileiras/ . Acesso em: 15 maio 2022.
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).

Por outro lado, a partir desses mesmos dados, comprova-se que alguns municípios se recusaram ou não adotaram medidas específicas para o combate ao coronavírus (IBGE, 2020aIBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Rio de Janeiro: IBGE , 2020a.). No caso específico do isolamento social, 19 municípios nordestinos informaram que não aderiram a essa medida, sendo os estados da Bahia e do Rio Grande do Norte responsáveis pela maior concentração desses municípios, representando, respectivamente, 31,57 e 21,05%. Já no que tange à recusa de adoção de medidas, foram identificados 46 municípios nordestinos, 80,43% no Maranhão, 10,86% na Bahia, 8,89% em Alagoas e 2,17% no Ceará. Importante ressaltar que o Maranhão foi o primeiro estado brasileiro a adotar o lockdown, já que apresentou um aumento significativo no número de casos de Covid-19, o que ocasionou uma superlotação no sistema estadual de saúde (Agência Brasil, 2020AGÊNCIA BRASIL. Justiça determina primeiro lockdown do país em São Luís, no Maranhão. Brasília: EBC, 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/fr/node/1383558 . Acesso em: 2 mar. 2022.
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).

Mesmo com as indefinições e as incertezas devido à falta de políticas públicas que pudessem nortear as práticas turísticas no território brasileiro, tendo em vista que “parte significativa das ações efetivadas durante a pandemia são originárias de outras pastas, cujos benefícios incidem indiretamente nos diferentes segmentos da cadeia produtiva do turismo” (Souza, 2021SOUZA, M. C. C. O Estado e o turismo no Brasil: análise das políticas públicas no contexto da pandemia da Covid-19. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 1-13, jan./abr., 2021. doi: http://doi.org/10.7784/rbtur.v15i1.2137.
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, p. 7), o Nordeste teve uma representatividade significativa no contexto turístico nacional. Segundo estudo da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa, 2021BRAZTOA. Anuário 2021. 2021. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/15dqqAnlX1kROS3QVFG-BZxhAIBBa8qwW/view . Acesso em: 3 jun. 2022.
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), o Nordeste brasileiro, mesmo no momento pandêmico de 2020, manteve a tendência de anos anteriores, sendo a região mais vendida, “responsável quase 70% das vendas das operadoras (69,96%), seguida pelo Sul (13,64%) e pelo Sudeste (12,4%)” (Braztoa, 2021BRAZTOA. Anuário 2021. 2021. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/15dqqAnlX1kROS3QVFG-BZxhAIBBa8qwW/view . Acesso em: 3 jun. 2022.
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, p. 32), destacando-se as cidades de Salvador, Maceió e Natal, comprovando-se a hipótese de Santos, Campos e Rodrigues (2021SANTOS, C. A. J.; CAMPOS, A. C.; RODRIGUES, L. P. O turismo de Aracaju/SE em tempos de Covid-19: ameaças e tendências. Caderno Virtual de Turismo, v. 21, n. 3, p. 112-125, 2021. doi: http://doi.org/10.18472/cvt.21n3.2021.1983.
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), do fortalecimento do turismo doméstico e regional.

Cabe ressaltar que o aumento do processo de vacinação em todo o país não impediu que aparecessem ondas de contágio em locais e regiões de saúde específicas, desde o início da pandemia até o primeiro trimestre de 2022. Com base nos dados das secretarias estaduais de saúde publicados no painel Coronavírus Brasil, o número de casos acumulados por 100 mil habitantes coloca a região Nordeste com os melhores resultados, mesmo apresentando uma taxa de mais de 10% a cada 100 mil habitantes (Mapa 3).

Mapa 3 -
Densidade regional dos casos de Covid-19 acumulados, por 100 mil habitantes - 2020-2022

A partir do início da vacinação, em que pese o marketing oficial negacionista e panfletário inserido em todos os tipos de mídias sociais, a população brasileira passou a conviver com a divulgação de boletins, a interpretação de diversos índices e médias móveis de contágios e mortes em cada região, estado ou localidade específica no intuito de medir ou cobrar alguma ação política de flexibilização das atividades laborais e do uso de lugares públicos para que os cidadãos (principalmente os das menores rendas) pudessem tomar decisões sobre viagens de lazer fora do âmbito municipal.

Como podemos verificar na pesquisa Turismo em Tempos de Pandemia, realizada com turistas de todo Brasil, entre as 4.612 respostas do formulário eletrônico, 2.406 pessoas fizeram uma ou mais viagens de lazer no período de 2020-2021, motivadas pelo desejo de descanso, lazer ou entretenimento fora do seu lugar de origem (64,4%), seguido do desejo de sair do ambiente e da rotina doméstica. Apesar da manutenção das viagens de longa distância, observa-se que elas diminuíram, em comparação a 2019 e, especialmente, ao primeiro trimestre de 2020, quando na evolução do movimento aéreo de passageiros verifica-se uma variação negativa de 53,0% (Anac, 2021ANAC. AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. Metadados do conjunto de dados: dados estatísticos do transporte aéreo. Brasília, DF, 2021. Disponível em: https://www.anac.gov.br/acesso-a-informacao/dados-abertos/areas-de-atuacao/voos-e-operacoes-aereas/dados-estatisticos-do-transporte-aereo/ . Acesso em: 2 mar. 2022.
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). De acordo com dados obtidos pelos formulários Google Forms da pesquisa Turismo em Tempos de Pandemia, os deslocamentos dentro dos próprios estados e as viagens rodoviárias interestaduais em o todo território nacional se constituíram nos principais fluxos em busca de lazer e, consequentemente, propulsores do turismo durante o período mais intenso de alastramento da pandemia.

Esses fatores contribuíram para que, dos 651 respondentes da região Nordeste, 57,7% optassem por viajar no mesmo estado ou para estados próximos (48,8%), enquanto apenas 19,5% dos turistas nordestinos enfrentam viagens de longa distância. A partir desses dados, percebe-se que o staycation,3 3 Termo que designa o turismo de proximidade, em que o cidadão opta por desfrutar de equipamentos e atrativos turísticos da cidade em que vive ou de localidades próximas. conceito popularizado em 2008 no período da crise energética nos EUA, tornou-se recorrente no momento pandêmico, uma vez que a população mundial passou a apostar nas viagens de curta duração (Gössling; Scott; Hall, 2020GÖSSLING, E.; SCOTT, D.; HALL, M. C. Pandemics, tourism and global change: a rapid assessment of Covid-19. Journal of Sustainable Tourism, v. 29, n. 1, 2020. doi: https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1758708.
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).

Os dados citados no parágrafo anterior retratam, entre outros aspectos, a potencialidade das relações de proximidade em busca de espaços que não promovessem aglomerações (54,6%) e que atendessem às medidas de biossegurança implementadas para proteção dos turistas e residentes (53,0%). Assim, os fluxos de turistas em 2021, a partir desta amostra, que utilizou prioritariamente a estrutura rodoviária, bem como analisando-se os dados de desembarques de passageiros nos aeroportos brasileiros (Mapa 4), foram impulsionados pelas medidas sanitárias promovidas por diferentes gestores públicos (municipal ou estadual) e privados como tentativa de diminuir/ desacelerar a dispersão do vírus.

Mapa 4 -
Fluxos interestaduais de turistas e número de desembarques nos principais aeroportos brasileiros - 2021

De acordo com as características do perfil dos municípios nordestinos, em cada arranjo populacional essas medidas de biossegurança se mostraram mais eficazes quando se instalaram barreiras sanitárias nas entradas do município durante o período da pandemia da Covid-19.

No conjunto dos principais municípios turísticos do Nordeste, essas medidas foram fundamentais nos meios de hospedagem e demais serviços turísticos oferecidos nas regiões imediatas, com predominância de destinos com atrativos em áreas de turismo rural (33,0%), praias em áreas naturais distantes das capitais (49,5%) e nos principais centros regionais (35,0%) (Mapa 5).

Mapa 5 -
Estrutura da hierarquia urbana do Nordeste, fluxos turísticos interestaduais e adoção de medidas sanitárias - 2021

Os fluxos intrarregionais se intensificaram na pandemia a partir da atração que alguns polos turísticos promoveram ao conciliar, em áreas naturais e praias específicas, a oferta de meios de hospedagens regulares e/ou apartamentos de aluguel por temporada por meio de aplicativos Booking.com ou Airbnb.com e serviços de alimentos e bebidas dirigidos essencialmente a grupos familiares que viajaram em automóvel, particular ou alugado.

Essas vantagens de localização, aliadas às “comodidades e intensificação” do trabalho remoto, também concorreram para explicar a “fuga do cotidiano” pelas pessoas de maior poder aquisitivo (Urry, 2001URRY, J. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São Paulo: Studio Nobel/Sesc, 2001.), que se dispuseram a percorrer distâncias entre 150 e 700 quilômetros para gozar de três a 15 dias no destino.

Esses dados corroboram a retomada da economia, principalmente no Nordeste, uma vez que justamente os meios de hospedagem e os serviços de alimentos e bebidas se mostram como os maiores montantes de arrecadação de receitas do turismo.

Novos desafios: o turismo impactando a pandemia no Nordeste brasileiro

A disseminação de uma nova variante do vírus da Covid-19 com uma maior taxa de transmissibilidade - a ômicron -, no início de 2022, gerou insegurança no turismo mundial. Porém, a partir das flexibilizações adotadas pelos governos estaduais e, consequentemente, municipais associadas às pressões estabelecidas pelo mercado, o verão 21-22 do Brasil foi marcado pela retomada e reaquecimento do turismo com destaque para o segmento de turismo de sol e praia. Este segmento continua sendo o principal vetor de fluxos turísticos para o Nordeste brasileiro, uma vez que há décadas as amenidades naturais, sol, mar e praia, têm se caracterizado como elementos potencializadores das práticas turísticas locais.

De acordo com dados da OMT (2022OMT. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. El turismo inicia 2022 fuerte, mientras se enfrenta a nuevas incertidumbres. Barómetro del Turismo Mundial de la OMT. Madrid: UNWTO, mar. 2022. Disponível em: https://www.unwto.org/es/taxonomy/term/347 . Acesso em: 15 maio 2022.
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), os deslocamentos de turistas internacionais em todo o mundo aumentaram em 130% em janeiro de 2022 em relação ao ano de 2021, período em que o esquema vacinal ainda não se havia iniciado na maioria dos países. No caso brasileiro, o desembarque internacional de passageiros em voos regulares e não regulares apresentou significativo aumento em relação aos primeiros meses de 2021, mais ainda longe do volume verificado no período pré-pandemia em 2020.

Já quanto aos fluxos domésticos, a movimentação de passageiros nos aeroportos do país cresceu nos meses de janeiro e fevereiro cerca de 22,3% e 28,1% se comparado aos mesmos meses de 2021, com uma taxa de ocupação média de 73,8% (Anac, 2022ANAC. AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. Histórico de voos. Brasília, DF, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anac/pt-br/assuntos/dados-e-estatisticas/historico-de-voos . Acesso em: 5 maio 2022.
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). Isso significa que o modal aéreo doméstico, principal setor que baliza o desenvolvimento do turismo no Brasil, acena para o incremento das viagens e, por conseguinte, do faturamento das empresas e de toda cadeia produtiva conectada.

O turismo na região Nordeste também acompanhou, no início de 2022, a tendência do turismo mundial. A partir de pesquisa divulgada no início de 2022 pelo metabuscador Kayak4 4 Informações disponíveis em IG Turismo ([s.d.]). comprova-se que os destinos nordestinos compõem as aspirações dos turistas brasileiros, uma vez que os mais buscados foram Recife (Pernambuco), Fortaleza (Ceará), Salvador e Porto Seguro (Bahia), Maceió (Alagoas), Florianópolis (Santa Catarina) e Natal (Rio Grande do Norte), ou seja, seis cidades da região.

Nos primeiros meses de 2022, de acordo com os boletins do turismo (Radar do Turismo, 2022a, 2022b), a arrecadação federal nas atividades características do turismo também aponta um superavit considerável em relação aos meses de 2021, com destaque para as atividades de alojamentos e alimentos. Paralelo a esse progresso, o mapa da vacinação e as taxas de contágio e mortes por Covid-19 apresentam sinais de declínio, uma vez que o número de novos casos e mortes notificados na região apresentam os menores patamares nas últimas semanas epidemiológicas (Tabela 2).

Tabela 2 -
Número de casos de Covid-19 acumulados, por região brasileira - 2022

Não obstante, importa ressaltar que, no início da pandemia, vários estudos (Soares; Gabriel; Romo, 2020SOARES, J. R. R; GABRIEL, L. P. M. C; ROMO, R. S. Impacto do Covid-19 no comportamento do turista brasileiro. Fortaleza: Ed. Uece, 2020.; Neves et al., 2021NEVES, C. S. B.; CARVALHO, I. S.; SOUZA, W. F. L.; FILIPPIM, M. L. Os impactos da Covid-19 nas viagens de turistas brasileiros: conjuntura e perspectivas na eclosão e na expansão da pandemia no Brasil. Turismo - Visão e Ação, v. 1, n. 23, 2021. doi: https://doi.org/10.14210/rtva.v23n1.p2-25.
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; Santos, C.; Campos, 2021SANTOS, C. A. J.; CAMPOS, A. C. Reflexões sobre residentes, turistas e espaços púbicos pós- Covid-19. In: PORTUGUEZ, A. P.; TRIGO, L. G. G. (Org.). Turismo e saúde global: pandemia, pandemônio e novos rumos para o setor no Brasil e no mundo. Ituiutaba, MG: Barlavento, 2021. p. 140-168. ) apontaram uma mudança no comportamento do turista no momento de definir o destino para as experiências seguintes. Grimm et al. (2021GRIMM, I. J.; CORBARI, S. D.; DOBKOWSKI, E. K.; LACERDA, V. C. C.; FERREIRA, L. G. P. Crise na saúde pública: efeitos da Covid-19 no setor de turismo em Curitiba (PR). In: CRUZ, R. C. A.; SILVA, S. A.; LABURRE, S. P.; TODESCO, C.; SERRA, H. R. H.; GUAMBE, J. J. J. (Org.). Turismo em tempos de Covid-19: ensaios sobre casos na Argentina, Brasil, Moçambique e Portugal. São Paulo: FFLCH/USP, 2021. p. 94-99., p. 98) afirmaram que “o que parece ser assertivo é que as viagens serão para destinos mais próximos, em carros particulares”. Nesse ínterim, discutiam-se os novos hábitos dos turistas devido às medidas restritivas já mencionadas.

É certo que acompanhamos, no momento das primeiras flexibilizações, um novo cenário para as práticas turísticas locais, em que se destacaram alguns aspectos:

  1. Alguns turistas optaram pelo staycation, em detrimento das viagens para destinos mais distantes;

  2. O turismo de sol e praia, entendido como um segmento que se configura com uma essência mais massiva, passa a ser percebido como uma alternativa para o cultivo de práticas condizentes com o cenário desenhado pela Covid-19, em que se estabelece o distanciamento social e preconizam-se atividades em espaços abertos/arejados.

  3. O turismo em espaços naturais ou rurais passou a ser objeto de consumo por ensejar o cultivo de atividades de lazer em espaços abertos, mas fora da rota dos produtos turísticos tradicionais ou massificados.

É certo que os fluxos intrarregionais de turistas apresentam uma tendência de crescimento mais rápido do que as viagens de longa distância, as quais devem voltar a crescer à medida que as taxas de vacinação aumentem e as variantes sejam controladas. Mesmo assim, a pandemia já moldou o comportamento do turista brasileiro, que agora dá preferência a viagens curtas para ambientes controlados. Esses são protocolos de convivência turística que imprimem novas necessidades tanto a gestores públicos e empresários, quanto aos turistas e comunidades locais, tendo em vista sua permanência no cenário socioeconômico do país.

Considerações finais

A partir do início da vacinação, em janeiro de 2021, o mercado turístico brasileiro segue atento ao fluxo turístico doméstico e regional, mas também acompanhando a procura por viagens internacionais, apesar da crise econômica marcada pela desvalorização da moeda nacional frente ao dólar e ao euro (moedas dos principais destinos visitados por brasileiros). É certo que, mesmo com o avanço do processo de vacinação no Brasil e no mundo, a existência de novas variantes tem aumentado os casos no continente asiático, inclusive com lockdown em importantes cidades chinesas em abril de 2022, e a Europa voltou a entrar em alerta antes do início do verão 2022, a partir da sinalização da possibilidade de uma nova onda da doença.

No Brasil, acompanha-se a retomada gradual do turismo e dos grandes eventos, a exemplo do carnaval das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, que, pela primeira vez na história, será em abril, e das tradicionais festas juninas, que ocorrerão na região Nordeste e certamente responderão por grandes fluxos domésticos e internacionais.

Nesse caminho, urge mudar os parâmetros da gestão pública do turismo de modo a enfrentar cientificamente o combate ao coronavírus no Brasil, bem como adotar os mesmos critérios internacionais de controle em todos os segmentos da vida econômica e social do setor, com vistas a potencializar novos olhares e perspectivas de atração de investimentos e sobretudo de turistas estrangeiros, sem perder as possibilidades abertas pelo incremento dos fluxos domésticos.

Apesar de todos os aspectos abordados acima, a inegável influência da pandemia no turismo trouxe uma oportunidade única para que os destinos se reestruturem frente aos desafios que já estavam postos, a exemplo do overtourism, que afeta vários destinos consolidados em todo o mundo, e de novos desafios que estão na iminência de surgir, como a proliferação de novas cepas virais que acabam por modificar as estratégias tanto de hospitalidade em vários países quanto dos turistas no pré, durante e pós-viagem.

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Editado por

Editora do artigo:

Rita de Cássia Ariza da Cruz

Disponibilidade de dados

Citações de dados

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    05 Set 2022
  • Aceito
    17 Out 2022
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