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A ordem verbo-sujeito: entre a competência comunicativa e gramatical1 1 Uma versão inicial deste artigo foi publicada no livro Gramática e ensino: abordagem funcionalista, organizado por Camilo Rosa Silva (2019).

The verb-subject order: between communicative and grammatical competence

RESUMO

Neste artigo, defendo a ideia de que o fenômeno da ordenação dos constituintes está a serviço da finalidade comunicativa de veicular informação. Baseado no princípio cognitivo-icônico proposto por Du Bois (1985), Givón (1990), Croft (1990) e Delbecque (2006), mostro que ordenação verbo-sujeito e objeto-verbo-sujeito na oração está associada, além das suas propriedades sintático-semânticas e da focalização da informação, a duas funções na organização dos textos: a primeira está condicionada a participar de estratégias que instauram a centralidade de um determinado tema no texto e, portanto, asseguram continuidade textual. Já a segunda, tende a ser estratégia de descontinuidade para inserir outros tópicos temáticos nos textos ou marcar discursivamente outros fluxos de atenção da mensagem. Além disso, apresento sumariamente sugestões de exercícios que proporcionem uma abordagem da sintaxe da ordenação das palavras em sala de aula.

Palavras-chave:
Ordenação verbo-sujeito; Finalidade comunicativa; Função textual

ABSTRACT

In this paper, I defend the idea that constituent ordering serves the communicative purpose of conveying information. Based on the cognitive-iconic principle presented by Du Bois (1985), Givón (1990), Croft (1990), and Delbecque (2006), I show that the ordering of verb-subject and object-verb-subject in the clause is associated, besides its syntactic-semantic properties, to two functions in the organization of the texts: the first function is conditioned to participate in strategies that establish the centrality of a specific theme in the text and, hence ensure textual continuity. The second function tends to be a discontinuity strategy to insert other thematic topics in the texts or discursively mark another attention flows of the message. Moreover, I briefly present suggestions for exercises that provide an approach to the syntax of word order in the classroom.

KEYWORDS:
Verb-subject ordering; Communicative purpose; Textual function

Introdução

A ordem dos constituintes da sentença é um dos parâmetros que mais se destaca para a classificação2 2 Segundo Greenberg (1990), as línguas possuem propriedades de ordenação vocabular distintas e agrupam-se, sintaticamente, de maneiras diferentes na sentença. Estima-se que mais de 435 línguas já descritas pela ciência linguística apresentam a ordenação SVO e 497 seguem o padrão SOV. das línguas naturais. São seis as ordens possíveis já catalogadas: Sujeito-Verbo-Objeto (SVO), Sujeito-Objeto-Verbo (SOV), Verbo-Sujeito-Objeto (VSO), Verbo-Objeto-Sujeito (OSV), Objeto-Sujeito-Verbo (OSV) e Objeto-Verbo-Sujeito (OVS). Dentro dessa classificação, o Português Brasileiro (PB) é considerado um idioma em que os constituintes se dispõem preferencialmente na ordenação em que o sujeito expresso aparece antes do predicado como em (1): Merkel [sujeito] reiterou[verbo] seu apoio a um desfecho rápido para as negociações de livre-comércio[objeto] .

No entanto, o fato de as línguas possuírem uma ordenação mais fixa na ordem das palavras não significa a sua rigidez nem a impossibilidade de alterações dessa ordem. No português, também podemos produzir sentenças em que o sujeito é deslocado para depois do verbo ou o objeto para antes do predicador. Os exemplos (2) e (3) ilustram essa variação que o português tem para dispor os termos na oração.

(2): Na carta que vai aberta, ficando encarregado de fechá-la antes da entrega, terá você conhecimento de todo o programa que desejo realizar até o dia 7 de outubro . (CL-11)

(3): [...] feita a estrada de ferro, e estabelecida ali uma estação, mudou-se completamente a condição desse lugar, e começou ele a tomar um incremento espantoso , edificando-se casa de telha em sistema de povoação, de modo que hoje é um povoado. CL-06

Embora ocorra com menos frequência3 3 Ver o estudo diacrônico de Berlink (1989). , as ordenações VS/OSV e outros arranjos sintáticos também são possíveis no PB. Mas o que estaria em jogo na ordenação dos constituintes ou quais seriam os fatores determinantes para o português apresentar uma ordenação vocabular além da sequência SVO? Há várias explicações para a variação desses esquemas sintáticos. Uma delas refere-se ao princípio de natureza estilística de que o deslocamento à direita dos constituintes está associado à finalidade de realçar e enfatizar o sujeito ou qualquer elemento sintático deslocado da sua posição mais convencional (SVO).

Outra explicação, dada partir do princípio estritamente linguística, admite que o fenômeno do sujeito posposto está ligado à centralidade do verbo e do sintagma nominal-sujeito. Em tese, admite que os verbos mais transitivos inibem a ordem inversa do sujeito, enquanto os intransitivos, especialmente aqueles que indicam existência, ausência, apresentação e surgimento, permitem maior liberdade da posição pós-verbal do sujeito. Por isso, aceitamos com mais naturalidade, a variação da ordem do sujeito com os verbos inacusativos como em chegou as encomendas4 4 Defende-se que o sujeito superficial dos verbos inacusativos possui características semânticas e gramaticais dos objetos verbais (não-agentivo e com traço [- humano]). É neste ambiente sintático que se observa um favorecimento da não-marcação de concordância. e as encomendas chegaram.

Igualmente relevante para elucidação da ordenação verbo-sujeito é o princípio da informatividade. Defende-se a ideia de que o espaço pós-verbal é lugar propício à introdução de uma informação nova. Ou seja, tudo aquilo que estiver a direita do verbo estará mais destacado, quanto à carga de informação, do que se estivesse anteposto. Isso define que o estatuto informacional do SN na função sujeito está associado ao seu posicionamento na sentença.

Isso permitiu, até agora, o entendimento da inversão do sujeito sob a égide de diferentes abordagens teóricas: variacionista, gerativista e funcionalista. Mas, em síntese, qualquer que seja a natureza do princípio exploratório, os estudos sobre a ordenação verbo-sujeito no português estão, principalmente, ligados às propriedades sintáticas do verbo, ao grau de novidade do sujeito e ao fluxo de informação da frase. Enquadram-se nesta perspectiva os trabalhos desenvolvidos por Naro; Vortre (1991NARO, Antony; VOTRE, Sebastião. A base discursiva da ordem verbo-sujeito em português. UFRJ, mimeo. 1991.); Berlink (1997BERLINCK, Rosane de Andrade. Nem tudo que é proposto é novo: estatuto informacional do SN e posição do sujeito em português. ALFA: Revista de Linguística, São Paulo, v. 41, n. 1, 2001. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4032 . Acesso em: 10 dez. 2021.
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); Pezatti; Camacho (1997PEZATTI, Erotilde Goreti; CAMACHO, Roberto Gomes. Aspectos funcionais da ordem de constituintes.DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 13, n. 2, p. 191-214, 1997.); Abraçado (2003ABRAÇADO, Jussara. Ordem de palavras: da linguagem infantil ao português coloquial. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, EdUFF, 2003.); Marques (2008MARQUES, Priscilla Mouta. Aspectos gramaticais e discursivos da ordenação sujeito-verbo no português arcaico. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2008.); Pezatti (2014PEZATTI, Erotilde Goreti.A ordem das palavras no português. Parábola Editorial, 2014. ) e Ataíde (2013ATAÍDE, Cleber. Da esquerda para a direita: descrição e uso das cláusulas VS em textos pernambucanos dos séculos XVIII, XIX e XX. 2013. 196 f. Tese (Doutorado em Linguística e Ensino) - Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Linguística, João Pessoa, 2013.)ATAÍDE, Cleber. A ordenação das palavras e seus efeitos na organização dos textos. In: ROSA, Camilo. Gramática e ensino: abordagem funcionalista. São Paulo: Pá de Palavra, 2019. p. 95-118.. Pensando nisso, neste artigo, pretendo argumentar que, embora a ordenação verbo-sujeito ocorra em contextos limitados como já destacado pelas ciências linguísticas, ela reflete, assim como a sequência sujeito-verbo-objeto, uma ordenação natural da língua e seu uso está condicionado às funções discursivo-textuais. Para isso, apresento inicialmente a influência do princípio da iconicidade na organização dos constituintes da frase e, em seguida, descrevo análises de contextos discursivos cujo objetivo é demonstrar como se pode correlacionar a estrutura de sentenças com sujeitos pospostos com a função que ela exerce na organização do texto.

A ordenação das palavras: entre a competência comunicativa e gramatical

Um dos grandes objetivos da linguística funcional é estudar o que as pessoas comunicam e como elas fazem isso através do código linguístico (KENNEDY; OTHERO, 2018KENNEDY, Eduardo; OTHERO, Gabriel de Ávila. Para conhecer sintaxe. São Paulo: Contexto, 2018.). Um bom exemplo disso é observarmos a maneira pela qual escolhemos dispor, nos textos, os termos de uma oração. No exemplo5 5 Exemplo retirado de ATAÍDE (2017, p. 58) Acordo às seis da manhã, tomo banho, faço a refeição e vejo o sol às sete horas.”, a organização da frase obedece ao princípio temporal de como acontecem os fatos no mundo: primeiro acorda-se às seis da manhã, em seguida toma-se banho, depois faz-se a refeições e se vê o sol às sete da manhã. Esse exemplo revela-nos que o encadeamento das orações coordenadas não advém de uma arrumação sintática aleatória, mas obedece à linearidade temporal dos acontecimentos tal como a percebemos no mundo físico.

Da mesma forma que o exemplo anterior, em Choveu ontem em Serra Talhada, uma sentença tradicionalmente reconhecida como “uma oração sem sujeito” é naturalmente admissível que esse evento seja codificado por uma estrutura sintática que não envolva nenhum participante. Como o evento físico é representado por verbo indicativo de um fenômeno natural, é aceitável que, por não ter um agente envolvido no fenômeno de chover, esse verbo admita apenas a conjugação em 3ª pessoa do singular de qualquer tempo ou modo verbal. Esses exemplos fazem-nos refletir sobre a maneira como representamos linguisticamente as cenas de um evento real.

Isso quer dizer que podemos explicar, iconicamente, a representação ou percepção do mundo em que vivemos através das propriedades do léxico e da sintaxe das línguas naturais (CROFT, 1990CROFT, William. Typology and universals. Cambridge: Cambridge Unisersity Press, 1990. ; SUÁREZ, 2010SUÁREZ, Antônio. Motivação icônica no léxico e na gramática. In: AZEREDO, José Carlos de (org.). Língua portuguesa em debate: conhecimento e ensino. 6. ed. Rio de Janeiro: Petrópolis, 2010. p. 147-162.). Esse é o ponto de partida para explicar que o sistema gramatical não é um mapeamento arbitrário6 6 É importante frisar não queremos dizer que não haja arbitrariedade linguística, mas que, ao produzir uma situação discursiva, fazemos escolhas lexicais e estruturais de acordo com os nossos objetivos para tentarmos conseguir sucesso na comunicação, OLIVEIRA e CEZARIO (2007, p. 97). de ideias para os enunciados, mas um sistema de representação pelo qual os seres representam eventos do mundo real.

Para acreditar que a gramática emerge do discurso e que a sua estrutura sintática é motivada continuamente pelos usos criativos da linguagem, conforme apontou Martelotta (2011MARTELOTTA, Mário. Mudança linguística: uma abordagem baseada no uso. São Paulo: Cortez, 2011.), podemos recorrer aos três subprincípios funcionais da língua, os quais, segundo Givon (1990GIVÓN, Talmy. Sintax: a functional-typological introduction. Amsterdam: John Benjamins , 1990. 2 v.) e Delbecque (2006DELBECQUE, Nicole. A linguística cognitiva . Lisboa: Instituto Piaget, 2006.), estão relacionados à quantidade de informação, ao grau de integração e à ordenação linear dos constituintes no texto. O exemplo (4) é um bom caso para ilustrar a atuação desses princípios para explicar o pareamento forma sintática e forma semântico-pragmática na gramática da ordem7 7 Neste artigo, estou considerando a atuação principalmente dos subprincípios da quantidade e da ordenação dos constituintes para explicar como esses princípios de natureza comunicativa atuam na organização sintática das orações verbo-sujeito. . Vejamos a seguir um trecho do editorial “Guerra Santa às mulheres”, publicado pela Revista Veja, em 05 de agosto de 1998:

(4): Às vésperas do século XXI e como mundo todo mergulhado no abraço da globalização, o Afeganistão é um lugar coma desesperadora peculiaridade de ter dado um salto para trás. Desde que tomou a capital, Cabul, menos de dois anos atrás, a Milícia Taliban - uma força guerrilheira nascida nos seminários islâmicos e que controla dois terços do país - transformou em lei uma versão severa, tacanha e radical da Shaira, o conjunto de leis e regras de comportamento prescritos para os muçulmanos. Impôs um rígido código de vestuário, proibiu raspar a barba, música, cinema, televisão, antenas parabólicas, jogos de cartas, criar pássaros e soltar pipa. Nada, contudo, é mais sufocante que a situação das mulheres, (ATAÍDE, 2017ATAÍDE, Cleber. Iconicidade: do léxico à sintaxe. In:Gelne 40 anos: experiências teóricas e práticas nas pesquisas em linguística e literatura. São Paulo: Blucher, 2017. p. 49-68., p. 62).

O artigo referido foi publicado três anos antes de as “torres gêmeas” serem atingidas por dois aviões, em um ataque terrorista em 2001 nos EUA. Nesta ocasião, o conflito americano com os países do Oriente Médio começou a ocupar as páginas dos principais periódicos brasileiros. Prevendo a pouca familiaridade do leitor brasileiro das crenças e costumes desses países, o autor utiliza de considerável quantidade de material linguístico para caracterizar os termos Milícia Taliban e Sharia. A imprevisibilidade do tema para os brasileiros parece trazer para o texto um alto grau de novidade, e, por isso, o autor sente a necessidade de se usar de orações apositivas (uma força guerrilheira nascida nos seminários islâmicos e que controla dois terços do país e o conjunto de leis e regras de comportamento prescritos para os muçulmanos) para expressar discursivamente uma explicação dos referentes antes desconhecidos pelos brasileiros. No exemplo, podemos identificar a atuação do subprincípio da iconicidade de quantidade, o qual se julga a premissa de que quanto maior o grau de novidade, maior é a forma para expressar os sentidos pretendidos.

Para esclarecer sobre o subprincípio da ordenação atuando sobre a gramática, imaginemos um evento de dois participantes em que uma ação afeta a condição de existência do outro. Podemos verbalizar que Pedro organizou os brinquedos do quarto. Dependendo da maneira de como se deseja descrever esta cena, temos ainda a opção de relatar, colocando em evidência a ação do sujeito (Pedro, os brinquedos do quarto, organizou) ou o objeto afetado pela ação do sujeito (Os brinquedos do quarto, Pedro organizou8 8 Há de salientar que esse tipo de sentença pode marcar estranhamento em um dado contexto discursivo. .). Isso quer dizer que, em frases declarativas, o português brasileiro aceita uma certa variação na disposição de seus constituintes sintáticos. Portanto, podemos dispor da ordem SVO, SOV e OSV para a construir o evento a partir do ponto de vista e do propósito comunicativo (PINHEIRO; FERRARI, 2017PINHEIRO, Diogo; FERRARI, Lilian. “Aí vem eu doidão”: uma abordagem cognitivista para a inversão do sujeito no Português Brasileiro. DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 33, n. 1, p. 187-217, 2017. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-445030345206455426 . Acesso em: 10 dez. 2021.
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)9 9 Os autores apresentam uma proposta de tratamento cognitivista para o fenômeno da inversão do sujeito no português brasileiro e defendem que a inversão do sujeito está associada, no Português Brasileiro, à habilidade cognitiva de deslocamento do ponto de vista. Especificamente, sugere-se que as estruturas SV e VS evocam duas redes distintas de espaços mentais: a primeira instrui o ouvinte a posicionar o Ponto de Vista no Centro Dêitico da Comunicação, ao passo que a segunda sinaliza o deslocamento do Ponto de Vista para o Domínio do Conteúdo. . Essa disposição, porém, dependerá da forma como supomos que aconteça física e mentalmente esse evento (um sujeito age com ou sobre um objeto no mundo) e como pretendemos salientar uma informação (a parte da estrutura da oração que pode a ser destacada) desse evento. Ao formular frases, inevitavelmente, precisamos decidir em que parte da frase o sujeito ou o objeto deve aparecer, se antes ou depois do verbo, (NEVES, 2018NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática do português revelada em textos. São Paulo: Editora da Unesp, 2018.). Esse efeito caracteriza a atuação do subprincípio iconicidade da ordenação linear, o qual diz que as informações mais importantes, mais previsíveis e imprescindíveis aparecem em primeiro lugar.

Assim como a ordenação SVO, a composição da frase com sujeito posposto pode fornecer fortes evidências de que o contexto de uso é um fator motivador para a escolha da organização sintática mais adequada para veicular as informações no discurso, Abraçado (2003ABRAÇADO, Jussara. Ordem de palavras: da linguagem infantil ao português coloquial. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, EdUFF, 2003.) e Pezatti (2014PEZATTI, Erotilde Goreti.A ordem das palavras no português. Parábola Editorial, 2014. ). Vejamos o exemplo (5) em que o narrador, numa entrevista oral, relata os motivos pelos quais não ter concluído o ensino superior.

(5) [...] eu não fiz por falta de tempo porque eu me casei no terceiro de faculdade e daí logo vieram as gêmeas.

Por ser tratar de um relato de experiência pessoal, naturalmente o fluxo de atenção recai sobre o narrado, codificado no pronome e nos verbos: eu não fiz por falta de tempo porque eu me casei. Na continuidade do seu relato, a narrativa é ligeiramente descontinuada por uma informação introduzida pela primeira vez no contexto por meio de uma sentença verbo-sujeito: daí logo vieram as gêmeas. Neste momento, o fluxo de atenção sai do narrador e vai para fato a ser destacado da narrativa. Isso acaba marcando, cognitivamente, o verdadeiro fato que impossibilitou o narrador de continuar o seu curso superior. Com esse exemplo, pode-se assegurar a atuação do princípio de que caso o sujeito indique uma informação ainda não mencionada ou não compartilhada pelos interlocutores no texto, ele tende a ser codificado na posição depois do verbo, lugar normalmente reservado ao objeto. Isso nos faz acreditar que as línguas, de modo geral, dispõem de uma construção sintática para a manutenção de um sujeito já mencionado e outra para a indicação de um sujeito novo, apesar de nem sempre ser possível identificar esses traços de correspondência entre a gramática e o conteúdo expresso (DU BOIS, 1985DUBOIS, John A. Competing motivations In: HAIMAN, John. (ed.). Iconicity in syntax. Amsterdam: John Benjamins, 1985. p. 343-66.).

Na seção a seguir, apresento análises de como esses subprincípios comunicativos regulam um conjunto de fatores de natureza cognitivo-pragmática que atuam sobre a gramática da ordenação e ajudam a dar forma às expressões linguísticas e a sistematizá-las.

Funções textuais da ordenação verbo-sujeito

Nos exemplos (5) e (6), observamos que formar uma frase não implica apenas juntar palavras de maneira lógica, mas estabelecer uma relação de adaptação entre as formas linguísticas e o contexto em que elas são usadas. Essa competência está ligada diretamente à função textual, a qual se refere ao modo como organizamos o discurso em um fluxo coerente e como agrupamos e processamos informações de natureza não linguística, Givón (1980); Martelotta (2011MARTELOTTA, Mário. Mudança linguística: uma abordagem baseada no uso. São Paulo: Cortez, 2011.); Kennedy e Othero (2018KENNEDY, Eduardo; OTHERO, Gabriel de Ávila. Para conhecer sintaxe. São Paulo: Contexto, 2018.).

Se, de fato, entendemos a ordem dos termos na oração a partir dos princípios funcionalistas, devemos acreditar que todas as línguas dispõem, entre tantos outros, de recursos para organizar a comunicação de forma a tornar salientes determinadas porções de informação. Isso quer dizer que o todo o sistema linguístico dispõe de recursos para marcar como os elementos podem ser projetados na frase e qual deles pode ser realçado discursivamente.

A adoção desse princípio permite compreender que as ordens VS, OSV e tantas outras formas de ordenar os constituintes numa frase estão a serviço da organização do fluxo de informação, conforme postulam Pezatti e Camacho (1997PEZATTI, Erotilde Goreti; CAMACHO, Roberto Gomes. Aspectos funcionais da ordem de constituintes.DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 13, n. 2, p. 191-214, 1997.) e Pezatti (2014PEZATTI, Erotilde Goreti.A ordem das palavras no português. Parábola Editorial, 2014. ). Vejamos, no exemplo a seguir, como isso acontece.

(6): O entrevistado das páginas amarelas de VEJA, Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, convida os leitores a escapar da armadilha fundamentalista e paralisante que divide o mundo entre estatistas e privatizantes. Disse ele, referindo-se ao sistema bancário: ― Não me agrada o maniqueísmo entre público e privado. O modelo misto pode atender a uma economia melhor do que os dois extremos. (E-05)

Por se tratar de um gênero da esfera jornalística que envolve uma interação formal entre um entrevistado e um entrevistador, no parágrafo de abertura, é previsível e esperado que o nome e as qualificações do entrevistado sejam anunciados à esquerda do verbo, na posição do sujeito (com aposto explicativo do SN): Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil. Reserva-se à direita do verbo, a posição que costuma ser destinada ao tema a ser explorado pelo entrevistado: convida os leitores a escapar da armadilha fundamentalista e paralisante que divide o mundo entre estatistas e privatizantes. Portanto, a estrutura informacional segue a ordem linear padrão sintático do português: sujeito-verbo-objeto nas duas sentenças. Neste caso, a entidade informativa coincide com entidade sintática. Nota-se, porém, que, no período seguinte, o sujeito não precede o seu predicado. O sujeito posposto (ele) do verbo (dizer) funciona como uma base de sustentação para a introdução do discurso direto do, então, presidente do Banco do Brasil: Disse [verbo] ele [sujeito] referindo-se ao sistema bancário: ― Não me agrada o maniqueísmo entre público e privado. O modelo misto pode atender a uma economia melhor do que os dois extremos.

No contexto, se pode verificar que o sujeito posposto está próximo de sua menção imediatamente anterior. Por isso, é representado por um pronome anafórico e não traz nenhum grau de novidade10 10 Berlinck (1998) e Ataíde (2016) entendem que não se pode associar exclusivamente a ordem VS à função de introduzir uma informação nova. Os resultados obtidos pelos autores revelaram que os sujeitos pospostos em sentenças VS estão, em muitos casos, associados aos referentes já dados ou ancorados textualmente. . A atenção, neste caso, recai para o que verdadeiramente interessa aos leitores da revista: o discurso de Aldemir Bendine. Isso, igualmente ocorre no trecho de uma reportagem sobre a situação política do Brasil, veiculada no site de notícias. Vejamos o exemplo.

(7): [...] Em resposta, Merkel reiterou seu apoio a um desfecho rápido para as negociações de livre-comércio e disse que, em sua visão, a resposta para a situação no Brasil hoje não está em abrir mão de um acordo com o Mercosul. “Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Merkel.

Como a ênfase deve incidir sobre o que é dito do Brasil, a estrutura informacional do exemplo (7) é instituída pela ordenação não linear (OVS), codificando primeiro o que é dito através do discurso direto, depois o predicador (afirmar) e seu sujeito (Merkel). Os exemplos (6) e (7) colocam em evidência que esse tipo de sentença, com sujeito posposto tipicamente dado no contexto imediato, garantem a função da manutenção do tópico do texto11 11 Ataíde (2013) propõe a classificação da ordenação verbo-sujeito a partir da sua função textual. , contribuindo como uma estratégia de elo coesivo entre as partes do texto. Por serem representados por pronome em (6) e SN mais definido em (7), os sujeitos pospostos instauram uma centralidade temática dentro de um segmento do texto.

Atuando diferente, os exemplos a seguir mostram outro tipo de comportamento da ordem VS. Vejamos:

(8): Há uma salva de palmas para o ministro que sai; outra para o que entra e todo mundo fica aliviado, porque não há perigo de mudar nada. Continua igual, acima de tudo, a privatização do estado brasileiro áreas inteiras da máquina pública transformadas em propriedade particular de partidos e políticos que apoiam o governo, mais suas famílias, amigos e redondezas. (A2)

O texto inicia apresentando “uma certa normalidade” no fato de ser comum a troca de ministros no contexto político brasileiro. O leitor é levado a entender que tudo está estável, até que, ao ser introduzida uma ordenação verbo-sujeito com um referente novo que não estava acessível discursivamente (a privatização do estado brasileiro), percebemos que, apesar da mudança de ministros no governo central, permaneceu o projeto de privatização, tema amplamente discutido ao longo artigo. Com isso, o articulista lança a ordem verbo-sujeito (Continua, igual, acima de tudo, a privatização do estado brasileiro) como um recurso para garantir a mudança do tema e esse receber uma atenção maior por parte do leitor.

Processo semelhante ocorre no exemplo (9). O escritor introduz o leitor a uma narrativa sobre a situação de um passageiro que está em um aeroporto tentando pegar um voo. O leitor vai seguindo o fluxo de atenção que recai sobre o passageiro: [...] chega ao portão indicado. Confere na telinha: sim, este é seu voo, este o destino, está na hora do embarque. Está tudo certo. Hora de relaxar. Abrir o jornal, acionar o laptop. Quando as coisas parecem estar resolvidas, o escritor indaga o interlocutor indicando que a solução para os problemas do passageiro, ainda, não chegou.

(9): Está escrito no papelucho que o embarque será a tal hora, no portão tal. O trouxa do passageiro acredita e, depois de vencer infindos corredores e aglomerações, chega ao portão indicado. Confere na telinha: sim, este é seu voo, este o destino, está a hora do embarque. Está tudo certo. Hora de relaxar. Abrir o jornal, acionar o laptop. Relaxar? Você acreditou? A alturas tantas, ao lançar um olhar distraído para o portão, percebe, com ligeiro alarme, que seu voo sumiu da telinha. Aí vem o aviso, pelo alto-falante: “Devido ao reposicionamento da aeronave, o embarque do voo tal, com destino tal, se dará pelo portão...” - um outro, diferente do originalmente programado e, quando as invisíveis potestades dos aeroportos capricham, no extremo oposto do setor de embarque. (A1)

A narrativa tem seu foco dirigido para outro curso quando outro referente é introduzido na história, no caso é o SN (o aviso) que está inferível dentro do contexto dos fatos narrados, pois é presumível que o leitor tenha um conhecimento prévio sobre o funcionamento de um aeroporto e que, diante dos fatos que se sucederam com o passageiro, não causaria estranhamento o surgimento de um “aviso”. No caso, a sentença verbo-sujeito é introduzida com um SN inferível e promove a continuação do texto, porém, com um tópico diferente. O que acontece, neste trecho, é uma inversão do ponto focal do discurso que, desde o início, estava centrado no passageiro tranquilo e ciente de que estava tudo bem até então. Para esse contexto, a ordenação verbo-sujeito cumpre a função introduzir uma nova centralidade temática, porque há uma quebra momentaneamente do fluxo informacional, o que pode favorecer outras funções discursivas como inserir comentários avaliativos sobre os tópicos dos textos, Autor (2013). Geralmente, esse tipo de construção aparece interpolando um período e outro, funcionando como um “parêntese”12 12 Segundo Jubran (2006), parentetização é recurso utilizado para promover avaliações e comentários laterais sobre o que está sendo dito, e/ou sobre como se diz, e/ou sobre a situação interativa e o evento comunicativo.) com a propriedade de veicular comentários livres e mais independentes sintaticamente, conforme acontece em (10).

(10): Os jogadores se estraçalham em campo, a plateia ulula, e os locutores entoam: “É o es-pí-ri-to da Li-ber-ta-dores!!!”. O Mercosul é uma instituição de livre-comércio que permite a seus membros impedir o livre-comércio entre si por meio de medidas protecionistas. Quando as medidas protecionistas não bastam, inventam-se papeis necessários à circulação das mercadorias e bloqueia-se a passagem dos caminhões nas fronteiras. É o es-pí-ri-to do Mer-co-sul!!!”, comemoraria o locutor, se locutor houvesse como há no futebol. (A3)

No contexto anterior, o autor, ao inserir a sentença organizada em objeto-verbo-sujeito, faz com que o leitor o acompanhe em suas observações e que saia um pouco do tema que está sendo discutido. O exemplo (10) evidencia que a ordem indireta (comemoraria o locutor) codifica discursivamente o posicionamento do autor diante dos fatos por ele discutidos no momento da interação escrita. Com isso, o padrão VS produz um efeito de experiência direta do autor com o conteúdo comunicado. Para Pinheiro e Ferrari (2017PINHEIRO, Diogo; FERRARI, Lilian. “Aí vem eu doidão”: uma abordagem cognitivista para a inversão do sujeito no Português Brasileiro. DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 33, n. 1, p. 187-217, 2017. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-445030345206455426 . Acesso em: 10 dez. 2021.
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), a sentença do tipo VS no contexto do exemplo (10) pode implicar que a cena focalizada seja interpretada segundo a perspectiva de um sujeito.

Em síntese, com os exemplos que apresentei até aqui é possível apontar que a ordenação verbo-sujeito ou objeto-verbo-sujeito cumprem, no mínimo, a duas funções na organização dos textos: a primeira está condicionada a participar de estratégias que instauram a centralidade de um determinado referente dentro de um seguimento do texto e, portanto, asseguram uma continuidade textual, como apresentados em (6) e (7). Já a segunda, por possuir em seu arranjo sintático sujeitos pospostos codificados por SN com maior grau de novidade, conforme os casos (8), (9) e (10), tende a ser estratégia de descontinuidade textual para inserir outros tópicos temáticos nos textos ou comentários subjetivos.

Como podemos explorar a ordenação nos textos?

Como vimos até aqui, demostrei por meio de vários exemplos, como a nossa experiência do mundo é materializada em recursos formais de seleção e ordenação das palavras. Também ilustrei como escolhemos a maneira de expressar essa experiência por meio da competência comunicativa. Agora, pretendo apresentar uma proposta de aplicabilidade do aparato teórico do funcionalismo linguístico à prática de análise de textos que não só explorem conteúdos gramaticais. Parte dessa proposta está publicada no livro Gramática e ensino: abordagem funcionalista, organizado por Camilo Rosa em 2019. Para tanto, considerei que a abordagem da sintaxe em contextos de uso deve ter, entre outros objetivos, conduzir o falante/escritor ao domínio dos recursos linguísticos para mobilizá-los a favor da expressividade dos seus textos.

Como ponto de partida, tomemos como o estudo de uma notícia13 13 Site acessado em 28 de junho de 2019: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/merkel-descreve-situacao-sob-bolsonaro-como-dramatica,69186be1965ca92c25833f71906843f2ckkf4n4h.html?fbclid=iwar0ww5aw9d1x7191g7pykdx-nwsophh1fitetz6zgqiddvcxmz4pldfkl04 publicada, no dia 26 de junho de 2019, no portal da Uol. O texto é divido em três partes. A primeira é intitulada com uma frase dita pela Chanceler alemã, Ângela Merkel, no parlamento europeu dias antes de acontecer o encontro do G-20 em Osaka/Japão. A segunda e a terceira apresentam títulos nominais que resumem o tema tratado em cada uma da parte da reportagem: Negociações e Pressão Verde. Dedicarei minha atenção, no entanto, aos nove primeiros parágrafos que compõem a parte inicial do texto. Vejamos o texto:

“Vejo como dramático o que acontece no Brasil”, diz Merkel

A chanceler federal da Alemanha, Ângela Merkel, disse nesta quarta-feira (26/06) ver com “grande preocupação” a situação no Brasil, a qual descreveu como “dramática” sob o governo do presidente Jair Bolsonaro nas questões ambientais e de direitos humanos.

A declaração da chefe de governo alemã foi dada em sessão no Parlamento em Berlim, em resposta ao questionamento da deputada do Partido Verde Anja Hajduk. A parlamentar colocou em questão se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, no momento em que ambientalistas, cientistas e defensores dos direitos humanos denunciam uma deterioração nessas frentes no Brasil.

Para a deputada, a União Europeia deveria usar seu peso econômico como instrumento de pressão para que direitos humanos e a defesa do meio ambiente sejam observados em outras partes do mundo, como a América do Sul.

Em resposta, Merkel reiterou seu apoio a um desfecho rápido para as negociações de livre-comércio e disse que, em sua visão, a resposta para a situação no Brasil hoje não está em abrir mão de um acordo com o Mercosul. “Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Merkel.

“Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário”, completou a chanceler federal alemã. “Eu vou fazer o que for possível, dentro das minhas forças, para que o que acontece no Brasil não aconteça mais, sem superestimar as possibilidades que tenho. Mas não buscar o acordo de livre-comércio, certamente, não é a resposta para essa questão.”

Não é a primeira vez que Merkel aborda a questão das negociações com o Mercosul. Em dezembro, ela havia admitido que o governo Jair Bolsonaro, quando tomasse posse, poderia dificultar as conversas. “O tempo para um acordo entre a UE e Mercosul está se esgotando. O acordo deve acontecer muito rapidamente, pois, do contrário, não será tão fácil alcançá-lo com o novo governo do Brasil”, afirmou então.

A política de Bolsonaro para o meio ambiente é alvo constante de críticas na Europa. Em abril, mais de 600 cientistas europeus e cerca de 300 indígenas pediram que a União Europeia vincule as importações oriundas do Brasil à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos. O pedido foi feito numa carta publicada na revista científica Science.

No início de junho, Alemanha e Noruega manifestaram contrariedade à proposta do governo Bolsonaro de alterar a estrutura de governança e o destino dos recursos do Fundo Amazônia, programa de financiamento à proteção da maior floresta tropical do mundo. Os europeus também rejeitaram as insinuações do governo brasileiro de que há indícios de irregularidades em contratos do fundo.

Em entrevista recente à DW, o eurodeputado alemão Martin Häusling, do Partido Verde, disse que presidente brasileiro não compartilha os mesmos valores democráticos da União Europeia e que por isso não haveria base para negociar um acordo com o Mercosul.

Uma atividade inicialmente válida para compreensão do texto é mostrar como se desenvolve o conteúdo informacional tomando como ponto de partida a oração como mensagem, Neves (2015NEVES, Maria Helena de Moura. A oração e o texto: em vista os suportes teóricos de análise. In: FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica. A gramática da oração: diferentes olhares. Natal: EDUFRN, 2015. p. 0-00.). Para isso, pode-se mapear os elementos que estão à esquerda e à direita dos verbos principais de cada parágrafo. O quadro 1 traz esse mapeamento.

Quadro 1:
Padrão da organização dos constituintes no texto

Diante desse mapeamento, é válido um exercício didaticamente orientado para que o aluno reconheça as várias formas de representar o sujeito das orações e identifique a função desse recurso para a manutenção dos tópicos na sequência do texto. A proposta I, a seguir, teria o objetivo de fazer com que o aluno entenda a função sintática sujeito a partir das suas propriedades textuais.

Atividade I

Localize as expressões com as quais os verbos destacados no texto “Vejo como dramático o que acontece no Brasil”, diz Merkel concordam e identifique seus referentes. Em seguida, indique o assunto destacado em cada cada parágrafo.

A chanceler federal da Alemanha, Ângela Merkel, disse nesta quarta-feira (26/06) ver com “grande preocupação” a situação no Brasil, a qual descreveu como “dramática” sob o governo do presidente Jair Bolsonaro nas questões ambientais e de direitos humanos.

A declaração da chefe de governo alemã foi dada em sessão no Parlamento em Berlim, em resposta ao questionamento da deputada do Partido Verde Anja Hajduk. A parlamentar colocou em questão se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, no momento em que ambientalistas, cientistas e defensores dos direitos humanos denunciam uma deterioração nessas frentes no Brasil.

Para a deputada, a União Europeia deveria usar seu peso econômico como instrumento de pressão para que direitos humanos e a defesa do meio ambiente sejam observados em outras partes do mundo, como a América do Sul.

Em resposta, Merkel reiterou seu apoio a um desfecho rápido para as negociações de livre-comércio e disse que, em sua visão, a resposta para a situação no Brasil hoje não está em abrir mão de um acordo com o Mercosul. “Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Merkel.

“Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário”, completou a chanceler federal alemã. “Eu vou fazer o que for possível, dentro das minhas forças, para que o que acontece no Brasil não aconteça mais, sem superestimar as possibilidades que tenho. Mas não buscar o acordo de livre-comércio, certamente, não é a resposta para essa questão.”

Não é a primeira vez que Merkel aborda a questão das negociações com o Mercosul. Em dezembro, ela havia admitido que o governo Jair Bolsonaro, quando tomasse posse, poderia dificultar as conversas. “O tempo para um acordo entre a UE e Mercosul está se esgotando. O acordo deve acontecer muito rapidamente, pois, do contrário, não será tão fácil alcançá-lo com o novo governo do Brasil”, afirmou então.

Feito o mapeamento dos sujeitos, fica evidente que a notícia gira em torno das declarações de líderes mundiais sobre a postura descompromissada do governo brasileiro em relação às questões ambientais e aos direitos humanos. Não é por acaso que os principais verbos selecionados são predicadores semanticamente associados à ordem do dizer (disse, colocou, pediram, manifestaram) e os têm centrados nas pessoas responsáveis pelo o que é dito sobre tema. Na busca pelas expressões referenciais dos verbos, encontramos cinco expressões nominais que representam líderes ou entidades políticos que colocam em dúvida a continuidade das negociações de livre-comércio entre União Europeia e Brasil. Esse arranjo sintático torna o texto polifônico uma vez que envolve um conjunto de opiniões (ponto de vista) representados por esses SN referenciais que, ao mesmo tempo em que são as entidades sobre as quais se dá alguma informação (tema), estabelecem alguma relação morfossintática com o verbo (sujeito). Temos, então, cinco pontos de vista:

- chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel (disse....)

- A parlamentar do Partido Verde Anja Hajduk (colocou...)

- 600 cientistas europeus e cerca de 300 indígenas (pediram...)

- Alemanha e Noruega (manifestaram...)

- O eurodeputado alemão Martin Häusling, do Partido Verde (disse...)

A atividade II, a seguir, explora as questões ligadas à função do sujeito, mas agora com objetivo de o aluno perceber, além das propriedades sintáticas, a possibilidade de identificar os contextos de seu deslocamento na frase. Neste exercício, o discente deve compreender também que o texto concentra, a atenção, principalmente, para a fala da chanceler alemã.

Atividade II

Nos 1º, 4º, 5º e 6º parágrafos da notícia em análise, identifique as formas com as quais os verbos destacados se referem. Depois, indique os contextos e os verbos que permitem o deslocamento à direita e à esquerda do sujeito.

No 1º parágrafo:

- Ângela Merkel disse [...] ver com “grande preocupação” a situação no Brasil...

- a qual descreveu como “dramática”....

No 4º parágrafo:

- Em resposta, Merkel reiterou seu apoio....

- [...] e Æ disse que., em sua visão, a resposta para a situação no Brasil hoje não está em abrir mão de um acordo com o Mercosul.

- [....] afirmou Merkel.

No 5º parágrafo:

- [...] completou a chanceler federal alemã....

No 6º parágrafo:

- Não é a primeira vez que Merkel aborda a questão das negociações com o Mercosul.

- Em dezembro, ela havia admitido que....

- [....] afirmou Æ então.

Dentre os vários discursos que aparecem, o de Ângela Markel é o que mais se destaca. Quatro dos nove parágrafos que compõem a notícia têm orações em que a entidade informativa e sintática é a líder do governo alemão. Isso revela o quanto a presidente da Alemanha têm influência no tratado das negociações comerciais entre o Brasil e a União Europeia e é a figura central na sequência textual.

Como se vê, os sujeitos das orações acima, na maioria das vezes, carregam, além da centração temática, as propriedades sintáticas do sujeito: (i) expresso por expressão nominal (A chanceler federal da Alemanha, Ângela Merkel e Merkel); (ii) habitualmente anteposto ao verbo (Merkel reiterou...); (iii) determina concordância com o verbo; (iv) é pronominalizável (ela havia admitido que...) e (iii) pode ser elidido (Æ disse que...). Sobre a ordem do sujeito, encontrarmos orações com sujeito posposto dos verbos dizer, completar e afirmar que predicam, ora à esquerda ora à direita, o discurso da Chanceler Ângela Merkel sobre a “dramática” situação do atual governo brasileiro sobre as questões climáticas.

Reconhecido padrão organizacional das orações, outra atividade adequada para explorar os efeitos discursivos que podem ser alcançados por outro arranjo sintático além da ordenação SVO, o professor pode propor a atividade III para que, primeiro, o aluno identifique orações/construções em que estão as ordens SVO/OVS e, em seguida, reconheça o conteúdo informacional enfatizado em cada parágrafo.

Atividade III

A ênfase é um recurso de expressividade por meio do qual alguns termos, que em outra posição passariam despercebidos, ganham relevo. Geralmente, alguma circunstância ou algum dado de uma informação é enunciada em primeiro lugar para chamar atenção do leitor. Na leitura da notícia analisada, verificamos que o jornalista se utiliza desse recurso. Nos parágrafos a seguir, sublinhe as orações que estão em ordem direta e indireta. Após isso, identifique que termos ou expressões estão iniciando essas orações para, posteriormente, avaliar o efeito obtido na compressão global do texto noticiado.

A chanceler federal da Alemanha, Ângela Merkel, disse nesta quarta-feira (26/06) ver com “grande preocupação” a situação no Brasil....

A parlamentar colocou em questão se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul....

Em resposta, Merkel reiterou seu apoio a um desfecho rápido para as negociações de livre-comércio e disse que, em sua visão, a resposta para a situação no Brasil hoje não está em abrir mão de um acordo com o Mercosul.

- “Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Merkel.

- “Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário”, completou a chanceler federal alemã.

“O tempo para um acordo entre a UE e Mercosul está se esgotando. O acordo deve acontecer muito rapidamente, pois, do contrário, não será tão fácil alcançá-lo com o novo governo do Brasil”, afirmou então.

Embora seja a ordem mais recorrente em todo o texto, nota-se o quanto se pode jogar com a posposição do sujeito e do objeto. Em alguns parágrafos analisados, o objeto dos verbos (que representa o discurso dos sujeitos) é alçado à cabeça inicial do período. Verifica-se que, com as orações OVS e SVO, se obtém efeitos variados no texto. Se nos primeiros parágrafos a atenção do texto recai para os autores dos discursos, nos demais, o realce é dado para o que se diz sobre o desastre da política de Bolsonaro para o meio ambiente. Daí por diante, devido à ordenação (OVS), permitida pelos verbos de comunicação, o fluxo de atenção se deslocar para os discursos ou pontos de vistas proferidos pelos sujeitos. Isso nos mostra dois efeitos discursos da ordem dos termos na oração que se estendem à organização geral do texto. Tem-se:

(1) ordem dos termos voltada para atenção à autoria dos discursos:

A chanceler federal da Alemanha Ângela Merkel[sujeito-tópico] , disse nesta quarta-feira (26/06) ver com “grande preocupação” a situação no Brasil....

[foco] A declaração da chefe de governo alemã [sujeito-tópico] foi dada em sessão no Parlamento em Berlim, em resposta ao questionamento da deputada do Partido Verde Anja Hajduk....

A parlamentar[sujeito-tópico] colocou em questão se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul....

(2) Ordem dos termos voltada à atenção dos discursos:

[foco]Em resposta, Merkel[sujeito-tópico]reiterou seu apoio a um desfecho rápido para as negociações de livre-comércio e disse que, em sua visão, a resposta para a situação no Brasil hoje não está em abrir mão de um acordo com o Mercosul.

[foco]Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, afirmou [sujeito-tópico] Merkel.

[foco]Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário”, completou [sujeito-tópico] a chanceler federal alemã.

O tempo para um acordo entre a UE e Mercosul está se esgotando. O acordo deve acontecer muito rapidamente, pois, do contrário, não será tão fácil alcançá-lo com o novo governo do Brasil”, afirmou [sujeito-tópico Ø] então.

Com essas observações sobre os arranjos sintáticos, creio que vale a pena atividades para que o aluno seja capaz de discutir (i) a função do verbo como elemento central da predicação, (ii) verificar quais as restrições sintáticas e semânticas do verbo com os elementos à sua direita e à sua esquerda e (iii) identificar os efeitos decorrentes da alteração da ordem das palavras na organização dos textos.

Para finalizar

Minha ideia geral, neste artigo, é defender, baseado nos princípios cognitivo-funcionais propostos por Du Bois (1985DUBOIS, John A. Competing motivations In: HAIMAN, John. (ed.). Iconicity in syntax. Amsterdam: John Benjamins, 1985. p. 343-66.), Croft (1990CROFT, William. Typology and universals. Cambridge: Cambridge Unisersity Press, 1990. ) e Givón (1990GIVÓN, Talmy. Sintax: a functional-typological introduction. Amsterdam: John Benjamins , 1990. 2 v.), que o fenômeno da ordenação verbo-sujeito e outros arranjos sintáticos estão a serviço da organização do fluxo e da focalização da informação, conformem postularam Naro; Vortre (1991NARO, Antony; VOTRE, Sebastião. A base discursiva da ordem verbo-sujeito em português. UFRJ, mimeo. 1991.); Berlink (1997); Pezatti; Camacho (1997PEZATTI, Erotilde Goreti; CAMACHO, Roberto Gomes. Aspectos funcionais da ordem de constituintes.DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 13, n. 2, p. 191-214, 1997.); Abraçado (2003ABRAÇADO, Jussara. Ordem de palavras: da linguagem infantil ao português coloquial. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, EdUFF, 2003.); Marques (2008MARQUES, Priscilla Mouta. Aspectos gramaticais e discursivos da ordenação sujeito-verbo no português arcaico. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2008.); Pezatti (2014PEZATTI, Erotilde Goreti.A ordem das palavras no português. Parábola Editorial, 2014. ), Ataíde (2013ATAÍDE, Cleber. Da esquerda para a direita: descrição e uso das cláusulas VS em textos pernambucanos dos séculos XVIII, XIX e XX. 2013. 196 f. Tese (Doutorado em Linguística e Ensino) - Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Linguística, João Pessoa, 2013.) e Pinheiro; Ferrari (2017PINHEIRO, Diogo; FERRARI, Lilian. “Aí vem eu doidão”: uma abordagem cognitivista para a inversão do sujeito no Português Brasileiro. DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 33, n. 1, p. 187-217, 2017. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-445030345206455426 . Acesso em: 10 dez. 2021.
https://doi.org/10.1590/0102-44503034520...
). Mostrei que a ordenação dos termos na oração estão associados, além das suas propriedades sintático-semânticas, à finalidade comunicativa de veicular informação. Em outras palavras, vimos que formar uma frase na nossa língua não está implicada apenas em juntar palavras de maneira lógica, mas estabelecer uma relação de adaptação entre as formas linguísticas, a mensagem a ser transmitida nos contextos de interação e a um efeito de experiência direta do autor com o conteúdo comunicado.

Através de análise em textos reais de uso, constatei a variação de arranjos sintáticos no português que permitiu identificar que as ordens verbo-sujeito e objeto-verbo-sujeito cumprem a, no mínimo, duas funções na organização dos textos: a primeira está condicionada a participar de estratégias que instauram a centralidade de um determinado tema no texto e, portanto, asseguram continuidade textual. A segunda função tende a ser estratégia de descontinuidade para inserir outros tópicos temáticos nos textos ou marcar discursivamente outros fluxos de atenção da mensagem.

Como objetivo final, busquei demostrar sumárias sugestões de análise de textos jornalísticos que proporcionassem uma abordagem da sintaxe, a partir dos princípios funcionalistas, capaz de conduzir o falante/escritor ao domínio dos recursos linguísticos para mobilizá-los a favor da expressividade de seus textos.

REFERÊNCIAS

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Notas

  • 1
    Uma versão inicial deste artigo foi publicada no livro Gramática e ensino: abordagem funcionalista, organizado por Camilo Rosa Silva (2019).
  • 2
    Segundo Greenberg (1990GREENBERG, Josef H. Some universals of grammar with particular reference to the order of meaningful elements.In: GREENBERG, Josef H. Universals of language. The MIT Press: Cambridge, 1990. p. 58-90.), as línguas possuem propriedades de ordenação vocabular distintas e agrupam-se, sintaticamente, de maneiras diferentes na sentença. Estima-se que mais de 435 línguas já descritas pela ciência linguística apresentam a ordenação SVO e 497 seguem o padrão SOV.
  • 3
    Ver o estudo diacrônico de Berlink (1989BERLINCK, Rosane de Andrade. A construção V SN no português do Brasil: uma visão diacrônica do fenômeno da ordem.In: TARALLO, Fernando. Fotografias sociolinguísticas. Campinas: Pontes, 1989. p. 95-112.).
  • 4
    Defende-se que o sujeito superficial dos verbos inacusativos possui características semânticas e gramaticais dos objetos verbais (não-agentivo e com traço [- humano]). É neste ambiente sintático que se observa um favorecimento da não-marcação de concordância.
  • 5
    Exemplo retirado de ATAÍDE (2017ATAÍDE, Cleber. Iconicidade: do léxico à sintaxe. In:Gelne 40 anos: experiências teóricas e práticas nas pesquisas em linguística e literatura. São Paulo: Blucher, 2017. p. 49-68., p. 58)
  • 6
    É importante frisar não queremos dizer que não haja arbitrariedade linguística, mas que, ao produzir uma situação discursiva, fazemos escolhas lexicais e estruturais de acordo com os nossos objetivos para tentarmos conseguir sucesso na comunicação, OLIVEIRA e CEZARIO (2007OLIVEIRA, Mariangela Rios de; CEZARIO Maria Maura. PCN à luz do funcionalismo linguístico. Linguagem & Ensino, v.10, n.1, p.87-108, jan./jun. 2007., p. 97).
  • 7
    Neste artigo, estou considerando a atuação principalmente dos subprincípios da quantidade e da ordenação dos constituintes para explicar como esses princípios de natureza comunicativa atuam na organização sintática das orações verbo-sujeito.
  • 8
    Há de salientar que esse tipo de sentença pode marcar estranhamento em um dado contexto discursivo.
  • 9
    Os autores apresentam uma proposta de tratamento cognitivista para o fenômeno da inversão do sujeito no português brasileiro e defendem que a inversão do sujeito está associada, no Português Brasileiro, à habilidade cognitiva de deslocamento do ponto de vista. Especificamente, sugere-se que as estruturas SV e VS evocam duas redes distintas de espaços mentais: a primeira instrui o ouvinte a posicionar o Ponto de Vista no Centro Dêitico da Comunicação, ao passo que a segunda sinaliza o deslocamento do Ponto de Vista para o Domínio do Conteúdo.
  • 10
    Berlinck (1998) e Ataíde (2016ATAÍDE, Cleber. Nem tudo que reluz é ouro: as construções VS para além do estatuto da informatividade do SN-sujeito. In: ROSA, Camilo; HORA, Dermeval da. Forma e conteúdo: estudos de sintaxe e semântica do Português (Homenagem à Maria Elizabeth Afonso Christiano). João Pessoa: Ideia, 2016. p. 225-250.) entendem que não se pode associar exclusivamente a ordem VS à função de introduzir uma informação nova. Os resultados obtidos pelos autores revelaram que os sujeitos pospostos em sentenças VS estão, em muitos casos, associados aos referentes já dados ou ancorados textualmente.
  • 11
    Ataíde (2013ATAÍDE, Cleber. Da esquerda para a direita: descrição e uso das cláusulas VS em textos pernambucanos dos séculos XVIII, XIX e XX. 2013. 196 f. Tese (Doutorado em Linguística e Ensino) - Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Linguística, João Pessoa, 2013.) propõe a classificação da ordenação verbo-sujeito a partir da sua função textual.
  • 12
    Segundo Jubran (2006JUBRAN, Clélia Cândida Abreu Spinardi. Parentetização. In: JUBRAN, Clélia Cândida Abreu Spinardi; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça (org.). Gramática do português culto falado no Brasil: construção do texto falado. Campinas: Editora da UNICAMP, 2006. p. 301-357. 1 v.), parentetização é recurso utilizado para promover avaliações e comentários laterais sobre o que está sendo dito, e/ou sobre como se diz, e/ou sobre a situação interativa e o evento comunicativo.)
  • 13

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    12 Out 2021
  • Aceito
    14 Dez 2021
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