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O ensino sobre o processo de envelhecimento e velhice nos cursos de graduação em enfermagem

La ensefianza sobre el proceso de envejecimiento y la vejez en los cursos de graduación en enfermeria

Teaching on aging and old age in nursing undergraduate programs

Resumos

O estudo objetivou conhecer como ocorre o ensino sobre o envelhecimento e velhice nos cursos de graduação em enfermagem. Obtiveram-se os dados a partir de questionário, respondido pelos coordenadores dos cinco cursos existentes no Estado do Ceará. O tema é abordado em disciplina específica. Utilizam técnicas e estratégias diversificadas para apreender ínteresses dos alunos e obter melhor ensino-aprendizagem. Os alunos consideram as discussões relevantes, pois os prepara para um mercado de trabalho promissor, ressaltam a necessidade de discussões sobre o assunto em outras disciplinas, objetivando fundamentação e excelência no cuidado. Considera-se que os cursos pesquisados buscam despertar i nteresses por este conhecimento, articulando deferentes oportunidades de estudo e prática, propiciando nova forma de integrar olhares sobre o envelhecimento e velhice.

enfermagem; envelhecímento; velhice


EI estudio objetiva saber como ocurre la ensefianza sobre el envejecimiento y la vejez en si misma. en los cursos superiores de Enfermeria. Se obtuvieron los da tos, a partir dei cuestionario que los coordinadores de los cinco cursos existentes en el Estado de Ceará respondieron. Hay una disciplina especifica para ese tema y se utiJizan técnicas y estrategias diversificadas para captar los intereses de los alumnos y obtener mejores resultados en la ensefianza y aprendizaje. Los alumnos consideran las discusiones relevantes, pues los prepara para un mercado de trabajo prometedor, a la par que destacan la importancia de las discusiones sobre el asunto en otras disciplinas, con el fin de alcanzar una fundamentación y excelencia en el cuidado. Se considera que los cursos investigados procuran despertar el interés por el conocimiento dei tema ai articular diferentes oportunidades de estudio y práctica, para propiciar asi una nueva forma de integrar las miradas sobre el envejecimiento y la vejez.

enfermeria; envejecimiento; vejez


This study aimed at unfolding how the teaching on the aging process and old age takes place in nursing undergraduate programs. Data were obtained by means of a questionnaire, which was completed by coordinators of the five existing nursing programs in the state of Ceará. /ts theme is the content of a specific course in the programo Different techniques and strategies were used in order to leam what students' interests were and so to reach a better outcome in the teaching-Iearning situation. Students found such discussions relevant because these made them better prepared for entering a promising labor field; they stressed the high importance the discussions on that theme would have in other courses as well, aiming at providing a sound knowledge basis and at reaching exce/lence in patient care. We found that the courses surveyed try to raise interest in this knowledge field, promoting several opportunities for study and practice, and providing a new way to make opinions meet about growing old and old age.

nursing; aging process; old age


O ensino sobre o processo de envelhecimento e velhice nos cursos de graduação em enfermagem1 1 Dados referentes à Tese de Doutorado: O processo de envelhecimento humano sob a ótica de professores e alunos de um curso de graduaçao em enfermagem. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP.

Teaching on aging and old age in nursing undergraduate programs

La ensefianza sobre el proceso de envejecimiento y la vejez en los cursos de graduación en enfermeria

Maria Célia de FreitasI; Maria Manuela Rino MendesII

IDoutoranda em Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, Professora da Universidade Estadual do Ceará, Enfermeira do Instituto Dr. José Frota

IIProfessora Doutora do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. E-mail do autor:celfrei@uol.com.br

RESUMO

O estudo objetivou conhecer como ocorre o ensino sobre o envelhecimento e velhice nos cursos de graduação em enfermagem. Obtiveram-se os dados a partir de questionário, respondido pelos coordenadores dos cinco cursos existentes no Estado do Ceará. O tema é abordado em disciplina específica. Utilizam técnicas e estratégias diversificadas para apreender ínteresses dos alunos e obter melhor ensino-aprendizagem. Os alunos consideram as discussões relevantes, pois os prepara para um mercado de trabalho promissor, ressaltam a necessidade de discussões sobre o assunto em outras disciplinas, objetivando fundamentação e excelência no cuidado. Considera-se que os cursos pesquisados buscam despertar i nteresses por este conhecimento, articulando deferentes oportunidades de estudo e prática, propiciando nova forma de integrar olhares sobre o envelhecimento e velhice.

Descritores: enfermagem; envelhecímento; velhice

ABSTRACT

This study aimed at unfolding how the teaching on the aging process and old age takes place in nursing undergraduate programs. Data were obtained by means of a questionnaire, which was completed by coordinators of the five existing nursing programs in the state of Ceará. /ts theme is the content of a specific course in the programo Different techniques and strategies were used in order to leam what students' interests were and so to reach a better outcome in the teaching-Iearning situation. Students found such discussions relevant because these made them better prepared for entering a promising labor field; they stressed the high importance the discussions on that theme would have in other courses as well, aiming at providing a sound knowledge basis and at reaching exce/lence in patient care. We found that the courses surveyed try to raise interest in this knowledge field, promoting several opportunities for study and practice, and providing a new way to make opinions meet about growing old and old age.

Descriptors: nursing; aging process; old age

RESUMEN

EI estudio objetiva saber como ocurre la ensefianza sobre el envejecimiento y la vejez en si misma. en los cursos superiores de Enfermeria. Se obtuvieron los da tos, a partir dei cuestionario que los coordinadores de los cinco cursos existentes en el Estado de Ceará respondieron. Hay una disciplina especifica para ese tema y se utiJizan técnicas y estrategias diversificadas para captar los intereses de los alumnos y obtener mejores resultados en la ensefianza y aprendizaje. Los alumnos consideran las discusiones relevantes, pues los prepara para un mercado de trabajo prometedor, a la par que destacan la importancia de las discusiones sobre el asunto en otras disciplinas, con el fin de alcanzar una fundamentación y excelencia en el cuidado. Se considera que los cursos investigados procuran despertar el interés por el conocimiento dei tema ai articular diferentes oportunidades de estudio y práctica, para propiciar asi una nueva forma de integrar las miradas sobre el envejecimiento y la vejez.

Descripfores: enfermeria; envejecimiento; vejez

1 Introdução

O envelhecimento populacional, atualmente, é um grande desafio para todo mundo, porque afeta tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento e os do Terceiro Mundo.

A redução da mortalidade associada com a queda nas taxas de natalidade e fecundidade vem causando preocupação em decorrência do acentuado crescimento populacional dos idosos no Brasil, somado a mudanças no perfil epidemiológico.

Tal preocupação, pode ser demonstrada, no Brasil, pela criação da Política Nacional do Idoso, concretizada na Lei nO 8.842, de 4 de janeiro de 1994, instituída pelo governo brasileiro. Esta lei significa um avanço no sentido de dar publicidade ao assunto, até então tratado com restrições nos serviços de saúde e na sociedade.

No que diz respeito à educação, a lei estabelece a inclusão da gerontologia e geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores e, ainda, nos currículos dos diversos níveis de ensino formal. Abrange conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, no intuito de eliminar preconceitos e produzir interesses por conhecimentos sobre o assunto(1).

No processo de envelhecimento, a universidade é vista como a instituição que poderia cumprir plenamente o papel de divulgadora de idéias positivas acerca do envelhecimento humano(2). O ponto de partida seria a estruração de microuniversidades temáticas voltadas para a terceira idade, onde os idosos receberiam assistência médica, jurídica e social, além de ensino em vários campos do saber, e poderiam desenvolver atividades de cunho cultural.

Nos cursos de enfermagem, o ensino deste conhecimento ainda é restrito a iniciativas isoladas de professores interessados e conscientes da necessidade de discussões em sala de aula e/ou campo de prática que abordem o processo de envelhecimento humano, considerando a abrangência do tema e a importância na formação de profissionais preocupados com a realidade social.

O campo de ação para enfermeiro em gerontologia possibilita o desenvolvimento do exercício profissional em ampla variedade de cenários, razão pela qual seu papel se estende por diferentes modelos de serviços, desde a comunidade até a instituição da mais alta complexidade tecnológica. Cabe, portanto, ao enfermeiro exercer atividades de educação, cuidado, planejamento e coordenação de serviços. como também de avaliação dos idosos ao desempenhar funções ou se preparar para isto(3).

É provável que a educação formalizada ao refletir o envelhecimento humano, não apenas possibilite instrumentalizar os profissionais para o cuidado aos idosos como permite elaborar estratégias de educação em saúde relacionada aos cuidadores familiares e da comunidade.

Nesse contexto, o objetivo da enfermagem gerontológica é cuidar integralmente do idoso, e, quando possivel ampliar este cuidado à família e à comunidade na qual está inserida. Além disso, cabe-lhe facilitar a adaptação às mudanças decorrentes do processo de envelhecer, desenvolver ações educativas nos diferentes níveis de atenção à saúde, estimular sua participação ativa, assim como de seus familiares, no processo de autocuidado, tornando estes últimos responsáveis pela melhoria e manutenção da saúde e bem-estar(4,5).

Dessa forma, a implementação de conteúdos a abranger o envelhecimento humano reflete a preocupação dos enfermeiros-professores em compreender as nuances desse processo. Tal área de estudo busca contemplar os cuidados com idosos, fundamentando-se na compreensão da gerontologia. Esta se caracteriza como ciência em construção, com o propósito de utilizar os conhecimentos sobre mencionado processo para orientar ações de enfermagem em serviços de atenção a idosos, visando a promoção da saúde, independência e autonomia para realizar as atividades da vida diária (AVD).

Mediante as recomendações da lei e demandas da população nos serviços, questiona-se: Como tem se dado o ensino sobre o processo de envelhecimento e velhice nos cursos de graduação de enfermagem?

Segundo a história das civilizações mais antigas, o envelhecer e a velhice são vistos como decadência, isolamento social e doença. Ademais, são delimitados por estudos biológicos e fisiológicos, fundamentalmente associados à deterioração do corpo. Nessa pesquisa, serão utilizadas outras dimensões, além desses fundamentos.

Nesse sentido, apenas recentemente essa visão sobre o processo de envelhecimento como um fato orgânico foi perdendo sua força e a velhice e o envelhecimento passaram a constituir objetos de reflexão de outras ciências(6,7).

Diante disto, resolveu-se realizar este estudo, cujo objetivo é conhecer como ocorre o ensino sobre o processo de envelhecimento humano e velhice, nos cursos de graduação de enfermagem do Estado do Ceará.

A opção por esse conhecimento fundamentou-se nos ideais do Projeto Político- Pedagógico que visam formar profissionais competentes para assistir o ser humano em todo seu ciclo de vida. A finalidade é compreender o processo de envelhecimento por considerá-Io fenômeno relevante à emancipação dos enfermeiros nessa área, preparando-os para buscar alternativas de manutenção da independência e autonomia com vistas a sanar problemas de saúde e socioeconômicos. Tais estratégias exigem competências intelectivas e integrativas do enfermeiro especialista em gerontologia. Esse conhecimento é fundamental, pois permite refletir possibilidades e reconhecer dificuldades na tomada de decisão em conjunto com os idosos, famílias e profissionais, estabelecendo assim uma relação de interação com ganhos de confiança.

2 Metodologia

Pesquisa descritiva exploratória realizada no segundo semestre do ano de 2002, com os cinco cursos de graduação em enfermagem existentes no Estado do Ceará ..

Entendemos que a pesquisa descritiva exploratória, além de observar, descrever e classificar o fenômeno estudado, explora suas dimensões, a maneira pela qual ele se manifesta e os outros fatores com os quais se relaciona(8).

Dos cursos pesquisados, três estão localizados na cidade de Fortaleza e dois no interior do Estado, sendo quatro públicos e um particular. Quatro deles oficializaram as discussões sobre o processo de envelhecimento mediante reconhecimento de uma disciplina, no ano de 1997, enquanto um, localizado no interior, iniciou em 1988. A elaboração do Projeto Político-Pedagógico também possibilitou a implementação de uma disciplina específica para discutir as questões relacionadas ao processo de envelhecimento, além da Política Nacional do Idoso, Lei n o 8.842, que em um dos seus capítulos sobre competências da educação sugere adequar currículos, metodologias e materiais didáticos aos programas educacionais destinados a idosos e, ainda, inserir a gerontologia e geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores.

As disciplinas implementadas e formalizadas nos cinco cursos são nominadas como: Enfermagem em Saúde do Adulto 111, comum a dois cursos, Enfermagem no processo de cuidar IV- Idoso, Enfermagem Gerontologica e Geriátrica e Gerontologia. São ministradas no quinto semestre, no curso "C", e no sétimos nos demais cursos.

Para coleta de dados utilizou-se de um questionário com cinco perguntas abertas que solicitava informações acerca do envelhecimento humano, no ensino de graduação, a exemplo; conteúdo ministrado, estratégias e técnicas adotadas, carga horária, atividades desenvolvidas do ponto de vista teórico e prático, como também a apreciação dos alunos quanto à implementação desse conteúdo, no curso.

Os questionários eram encaminhados às coordenadoras de cada curso, escolhidas porque, seguramente, conhecem todo o currículo do curso. O retorno das respostas aconteceu via correio eletrônico, convencional ou por professores que ensinavam no interior e residiam na capital.

Para subsidiar todas as atividades do estudo, tomou-se como base o preconizado nas normas éticas da pesquisa, prescrito na da Resolução 196/96. Junto com o questionário enviado, associava-se o consentimento livre e esclarecido com os objetivos, metodologia e apresentação das pesquisadoras. Este documento deveria ser assinado e remetido de volta, juntamente com as respostas.

Para preservação e manutenção do sigilo quanto à identidade dos cursos, nominou-se cada um por letras do alfabeto de A a E.

Todos os questionários enviados retomaram com um prazo de aproximadamente três meses e, na medida em que se recebia, procedia-se paralelamente à sua análise, com leituras e apreciação das respostas, organizando quadros a serem analisados e discutidos, conforme respostas às questões realizadas.

3 Análise e discussão

A análise das respostas aos questionários, após as leituras, foi organizada em quadros. com vistas a favorecer a compreensão do respondido para cada pergunta, segundo o contexto de cada coordenador. Entretanto, as respostas de algumas perguntas apresentavam várias alternativas percorridas nos cursos.

Por meio das respostas, percebeu-se interesse pela discussão da temática, em todos os cursos, com elaboração e oficialização de uma disciplina específica. Considerou-se como uma reflexão, associada à preocupação quanto às condições atuais dos idoso,. e à necessidade de formar profissionais participativos e atuantes referente à questão do envelhecimento e do idoso, no Brasil e principalmente no Estado.

As perguntas requeriam comentários desde o conteúdo, carga horária até o reconhecimento da necessidade de implementar as disciplinas a abordar o processo de envelhecimento e velhice, no curso.

No quadro construido e demonstrado a seguir, apresenta-se uma síntese da análise das respostas dos coordenadores de cada curso. quanto à carga horária teórica e prática.

Em todos os cursos pesquisados, o conteúdo sobre envelhecimento humano é ministrado ou como disciplina isolada ou em interação com as demais áreas do curso. Quando oferecem o conteúdo mediante disciplina, conforme resposta de quatro coordenadoras, esta é oferecida no sétimo semestre, nominada Saúde do Adulto 111, de caráter obrigatório, cujos programas contemplam a área de gerontologia e geriatria, mas em alguns a ênfase é maior na geriatria.

No curso "C", inicia-se a discussão sobre o tema, junto com a disciplina de semiologia e semiotécnica, nos momentos do ensino da anamnese e do exame fisico, e também, na Enfermagem Psiquiátrica, Saúde Pública, no Estágio Supervisionado I e 11. Em relação a disciplina específica, o curso tem apenas 30 horas de carga horária.

Esta iniciativa de implementar uma disciplina específica capaz de atender à compreensão do processo de envelhecimento e velhice, teve inicio após esforços de professores estudiosos sobre o assunto, além de pesquisa para conhecer a opinião dos alunos sobre essa necessidade.

Segundo, a coordenadora do curso "C", embora com pequena carga horária (30 horas), que se pretende pretende­se ampliar, é possivel realizar uma discussão ampla a se' iniciar com o entendimento conceitual, afora aulas dialógicas em que se busca extrair do alunado suas vivências com pessoas que envelhecem e idosos. A partir dos depoimentos, enveredam para a compreensão do processo do envelhecimento e velhice.

Percebe-se a preocupação, principalmente, nos cursos "C" e "D" (que também valorizam a interação com outras áreas), em discutir as questões relacionadas ao processo de envelhecer e velhice na formação do enfermeiro, de maneira interdisicplianar, relacionando conhecimentos de disciplinas anteriores com os momentos específicos de cada conteúdo.

Conforme observa no quadro 1, a carga horária é comum a quatro cursos, distribuída com, 60 horas e 90 horas. As aulas expositivas (teóricas) são articuladas com momentos de atividades práticas, quando se faz a relação do conhecimento apreendido e a realidade vivenciada.


A preocupação de formar profissionais que compreendam o processo de envelhecimento e a condição do idoso, no país é relevante porque possibilita o exercício profissional para entender toda essa situação, podendo, ainda, afastar os estereótipos e preconceitos quanto a esse assunto e, ainda, alerta r para a necessidade de traçar políticas globais de atenção à saúde do idoso.

Se o conhecimento é uma construção feita a partir de outros conhecimentos sobre os quais se exercitam a apreensão, a crítica e a dúvida(9). Portanto, implementar nos cursos de graduação as discussões sobre o processo de envelhecimento e velhice, reflete a preocupação de formar profissionais competentes para o desempenho de sua práxis cotidiana, em atendimento ao idoso, clientela freqüente nas unidades de atendimento, tanto preventivas quanto curativas.

Entretanto mudanças curriculares no sentido da atualização de conhecimento e aquisição de habilidades gerais básicas no nível de graduação tornam-se relevantes na atualidade(10). Portanto, os profissionais atuantes nos serviços de assistência primária devem oferecer cuidados apropriados à especificidade do cliente idoso, o qual dia-a-dia aumenta a procura pelos serviços de saúde.

Assim, as questões relacionadas ao processo de envelhecimento e a velhice vêm exigindo dos profissionais de saúde conhecimento específico e adequação dos serviços de saúde, não apenas pelo aumento da expectativa de vida dos brasileiros, mas, também, pela ausência de programas específicos voltados à educação quanto às alterações peculiares a esse processo. Esta situação gera demanda expressiva de interesses e reflexões das questões relacionadas ao conhecimento sobre o envelhecer humano, que se inicia com a graduação, revelada pelas estratégias e técnicas reconhecidas como necessárias para esse aprendizado.

Tanto a tentativa de inserir o aluno nas comunidades onde existe uma população de idoso, quanto as estratégias e técnicas implementadas para captar essa realidades por meio do ensino enfatizam a preocupação de formar profissionais conscientes para compreender o processo de envelhecimento quer seja no aspecto biológico quer seja no social, cultural e econômico. Tais aspectos caracterizam o fato inconteste de aumento de idosos no país e, principalmente, no Estado.

Como se verifica no quadro 2, cada curso utiliza estratégias e técnicas que possibilitem o reconhecimento do aluno sobre a realidade quanto às questões do processo de envelhecimento e da velhice. Procuram caminhos diferentes para implementar e despertar o interesse pelo conteúdo. No entanto, cada um favorece aos alunos conhecerem contextos diferentes, além dos citados em sala de aula.


Dos cursos investigados, apenas o .. C" não dispõe de carga horária que permita realizar atividades de interação com comunidades. instituições asilares e/ou hospitalares. mas. segundo a coordenadora. durante as aulas utilizam-se recursos audiovisuais no intuito de propiciar aos alunos fazerem uma reflexão adequada sobre o processo de envelhecer, a partir do cotidiano de cada um.

Entre os cinco cursos pesquisados, o "A" introduziu a disciplina Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, desde 1988, sendo, portanto. o pioneiro entre os demais cursos. Em suas respostas, a coordenadora ressalta a importância de buscar estratégias de interação com a comunidade facultando ao aluno

a oportunidade de participar, refletir acerca da realidade encontrada, como tentativa de modificar os preconceitos e estereótipos, fugir das normas e dos padrões de comportamento baseados na idade e criar novas idéias sobre o processo de envelhecimento e velhice.

Além do trabalho com a comunidade, o curso "A" refere engajamento dos alunos e professores com os profissionais do Programa Saúde da Família, mediante momentos de atividades recreativas e palestras educativas sobre doenças que poderão ser agravadas com o envelhecimento e/ou velhice, tais como: diabetes, hipertensão arterial, reumatismo, coronariopatias. Ademais, discutem a Política Nacional de Idosos, fundamenta na Lei nO 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que objetiva assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na comunidade.

De acordo com o quadro 2, as estratégias e técnicas desenvolvidas pelos cursos priorizam as atividades denominadas de práticas e têm em comum a necessidade de inserir o aluno na realidade, conforme preconizado nas Diretrizes Curriculares Nacionais(11), quando enfatiza a necessidade de se construir um ensino de graduação com qualidade e capaz de definir um diferencial na formação acadêmica e profissional de acordo com as necessidades de desenvolvimento do país e do contexto onde está inserido.

Logo, utilizar as visitas quer seja nas comunidades, quer seja nas instituições asilares e/ou hospitalares, fugindo um pouco das aulas expositivas, está em consonância com o perfil de profissional desejado e necessário á sociedade. Essa estratégia favorece a reflexão acerca de cada realidade encontrada, despertando interesse na busca de novos conhecimentos, facultando a elaboração de novos caminhos que permitam oferecer melhores condições à população de idosos, vislumbrando o processo saúde-doença.

Olhar para as representações sobre a velhice e o processo de envelhecer no Brasil é atestar a presença dos dramas expressados sobretudo nas imagens de idosos abandonados nos asilos ou em filas intermináveis à espera do dinheiro minguado da aposentadoria. Entretanto, essas imagens convivem com as representações da velhice e do processo de envelhecimento gratificante, vibrante e produtivo, a ganhar expressão quando se investem em programas para idosos, os grupos de convivência e lazer, as atividades educativas. Esses espaços possibilitam que uma experiência inovadora possa ser vivida coletivamente. Por isso, encoraja­se a busca de expressões positivas, desestabilizando imagens negativas expressas pelo senso comum e pela mídia(6).

A Universidade tem o dever de sair de seus limites físicos, para mostrar a realidade encontrada e trabalhá-Ia como estratégia de ensino. Esta experiência de troca, de vivenciar a realidade, não anula o saber técnico/científico, nem significa subestimar o saber popular, pois os valores não são colocados de forma certa ou errada, mas discutidos e analisados. Dessa forma, talvez seja possível ocorrer a transformação e o ganho da autonomia profissional(12).

Portanto, as estratégias e técnicas utilizadas nos cursos em análise estão atendendo aos requisitos que contemplam o estudo sobre o envelhecimento. Mesmo em iniciativas menores e apenas discutido em disciplinas especificas do curso, considere-se um ganho o reconhecimento da neoessidade de formar profissionais que compreendam as demandas da sociedade e busquem estratégias para satisfazê-Ia, com domínio de conhecimentos.

No capítulo IV, da Lei nO 8.842/94, das Ações Governamentais, no artigo 10, referente à implantação da Política Nacional do Idoso, a educação inclui, entre suas competências; adequar currículo, metodologia e material didático aos programas educacionais destinados aos idosos; inserir nos currículos mínimos, nos diversos âmbitos do ensino formal, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma que elimine preconceitos e produza conhecimentos sobre o assunto; incluir a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores e desenvolver programas educativos, especialmente nos meios de comunicação, a fim de informar a população sobre o processo de envelhecimento e velhice.

Dessa forma, a proposta dos cursos de estarem trabalhando o conteúdo do processo de envelhecer e a velhice é relevante, porque possibilita a criação de grupos de estudo, de programas no âmbito institucional, com vistas a desenvolver ações voltadas para incentivar e gerar conhecimentos no intuito de entender as alterações progressivas bio-fisiológicas, e como elas influenciam o padrão de funcionamento das pessoas. É preciso, pois, saber por que o processo ocorre e não apenas quais e como são suas características(3).

Outros aspecto a considerar é o visível aumento da população de idosos demonstrado pela pirâmide etária que impõe mudanças nos serviços de atendimento de saúde, conduzindo à expansão dos serviços e programas direcionados a essa clientela.

Mediante essa situação, tornou-se necessário a inclusão do tema, desde a graduação, como forma de despertar interesses e ampliar informações e conhecimentos para que os profissionais possam, desde cedo, refletir sobre as conseqüências desse processo para a sociedade e, ainda, vislumbrar métodos favoráveis ao bom atendimento às demandas nos serviços.

Tais fatos justificam a necessidade de implementação de conteúdos que permitam aos alunos compreender o processo de envelhecimento, tanto na perspectiva gerontoJógica quanto na geriátrica, conforme a intenção de cada curso pesquisado.

Sabe-se, portanto, ter a enfermagem como fundamento o estudo e prática do cuidado humano, em todo seu ciclo de vida. Para que isso seja possível, busca conhecimentos sobre o processo de viver e envelhecer das pessoas, de acordo com as ciências biológicas e humanas. Referidos conhecimentos dão sustentação ao cuidado durante o desenvolvimento da práxis profissional, como também possibilitam o reconhecimento pela sociedade do profissional, uma vez que, as pessoas vislumbram suas necessidades humanas básicas, além de adaptações a mudanças possíveis de ocorrer ao longo da vida, de dimensões biológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais, considerando, nesse caso, o processo de envelhecimento e a velhice.

Ao reconhecer tais necessidades, durante o processo de ensino, quando indagadas sobre a aceitação dos alunos quanto à implantação desse conteúdo, as coordenadores foram unânimes em afirmar que antes de introduzirem o conteúdo no currículo fizeram uma avaliação com aos alunos, no intuito de identificar como eles percebiam a criação de uma disciplina para discutir essa questão, na graduação, como também conhecer o que sabiam os alunos sobre o processo de envelhecimento e a velhice.

Conforme suas respostas, elaborou-se o quadro 3 que inclui a percepção dos alunos sobre essa questão, além de alguns conceitos por eles utilizados para caracterizar os a velhice e o processo de envelhecimento.


Nas respostas apresentadas no quadro 3, verifica-se terem os alunos ainda muitas restrições em relação a processo de envelhecimento, mesmo reconhecendo a importância que possa adquirir com as discussões sobre o conteúdo para a prática profissional. Não entendem que esse processo envolve aspectos políticos, sociais e culturais, necessários à formação e possa capacitá-Ios ao diálogo reflexivo em relação às condições dos idosos e do processo de envelhecimento nos dias atuais.

No entanto, os preconceitos difundidos ao longo dos anos, construidos e fortalecidos historicamente, percebidos nas respostas, revelando o pensamento dos alunos dos cursos em estudo, tais como" os pobrezinhos".

Conforme se percebe, os alunos vislumbram a importância do estudo do tema relacionado à necessidade de sobreviver no mundo do trabalho e encontrar alternativas que permitam fazer diferente.

Alguns também ressaltam o cuidado especifico quando se trata de idosos. Nesse caso(10), o cuidado contínuo à pessoa

idosa é outra especificidade da enfermagem geriátrica e gerontológica, porque vem se tornando um imperativo no processo de viver diário, considerando o prolongamento da vida, uma evidência estatística a trazer consigo encargos adicionais em face da instalação de possíveis deficiências físicasl funcionais, fragilidade progressiva e sobre posição de doenças crônicas não-transmissíveis. Essa preocupação é refletida quando afirmam dever o enfermeiro buscar conhecimento que o fundamente na compreensão do processo de envelhecimento e velhice.

Os alunos ainda ressaltam tratar-se de questão a refletir uma realidade atual e preocupante para todos os profíssionais da área da saúde. Como afirmam, os conhecimentos podem proporcionar caminhos capazes de auxiliá-Ios na melhor maneira de cuidar dos idosos, a partir da compreensão do processo de envelhecer. Todavia, suas idéias são basicamente voltadas a área biológica, ao enfatizarem que os conteúdos possibilitam criar estratégias de cuidar de idosos nas instituições hospitalares.

Por conseguinte, mesmo reconhecendo a importância das discussões para o preparo profissional, ainda apresentam restrições quanto ao aprendizado e às atividades práticas utilizadas pelos cursos, quando não manifestam interesse pelas atividades nas comunidades e asilos.

Embora, utilizem estratégias e técnicas diversificadas propostas por cada curso, segundo relato das coordenadoras, os alunos costumam tratar os idosos com "peninha", como serem frágeis e dependentes, como demonstra a resposta constante do no quadro 3, e fortalecem a perspectiva geriátrica. Tais conceito, são fortalecidos pela ampla divulgação da fragilidade dos idosos por meio do senso comum e não preocupação com a compreensão sobre o processo de envelhecimento e a velhice.

No entanto, a implementação do conteúdo nos cursos é o ponto de partida para o aprofundamento e interesse dessas questões.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em enfermagem(11), a graduação é a etapa inicial de formação e não um momento de exaustão do conhecimento, pois em uma sociedade globalizada, onde as mudanças no conhecimento são cada vez mais aceleradas, é na educação que está a chave para o ensino superior acompanhar estas transformações. Entre elas, as mudanças no perfil populacional, com o evidente aumento da população de idosos.

Dessa forma, despertar no alunado as questões correspondentes ao processo de envelhecimento e a velhice possibilita a formação inovadora de profissionais comprometidos com a realidade onde vivenciam a prática cotidiana e a elaboração de ações com vistas à atenção à saúde dos que se encontram em processo de envelhecimento e dos idosos, em especial.

4 Considerações Finais

A necessidade de formação de recursos humanos que contemplem a velhice e o processo de envelhecer constitui inovação implementada nos currículos dos cursos de graduação de enfermagem, com ênfase nos dias atuais. Esse alerta tem em vista discutir dados referentes à transição demográfica e epidemiológica, ao aumento da expectativa de vida, à diminuição da natalidade e mortalidade, e preparar profissionais capazes de elaborar, eficientemente, ações que atendam à demanda dessa população.

Conseqüentemente, iniciar a compreensão do processo de envelhecimento e da velhice na graduação também favorece a eliminação de preconceitos e estereótipos comuns às pessoas em relação a esse processo, e prepara profissionais para atender uma demanda específica, com competência e autonomia nas ações implementadas. Nesse caso, autonomia profissional significa ser consciente, além de comprometido com a realidade em que se vive.

Os cursos pesquisados demonstraram encaminhar seus interesses por um conhecimento a se ampliar em diferentes áreas de estudo, propiciando nova forma de integrar e pensar cada contexto. Despertar para as questões relativas ao processo de envelhecimento estimula os profissionais a transformar a realidade, buscando diversificadas alternativas para compreender esse processo, com percepções mais abrangentes da realidade onde se insere e na qual praticam suas atividades cotidianas.

Portanto, quer seja por iniciativa espontânea e reconhecimento da problemática desencadeada pela mudança da pirâmide etária, quer seja em atendimento à ação governamental explicitada na Lei nO 8.842, os cursos de enfermagem existentes no Estado do Ceará tentam acompanhar tais mudanças, porquanto demonstram preocupação de formar profissionais que atendam à demanda da sociedade tendo em conta o contexto vivenciado, onde desempenham suas práxis.

Conforme revelado nos dados dos questionários, todos os cursos, de acordo com seu contexto, utilizam estratégias favoráveis ao desenvolvimento de ações inovadoras no trabalho junto da população de idosos, assim como à compreensão do processo de envelhecimento e da velhice em sua plenitude.

Toda esta discussão se traduz na necessidade de definir competência profissional no tocante ao cuidado de idosos, tanto nas comunidades como nas famílias ou nas instituições hospitalares, de modo que os preconceitos em relação ao processo de envelhecimento e da velhice na sociedade sejam abolidos pela implementação de estratégias elaboradas pelos profissionais da saúde, principalmente os enfermeiros, preocupados com à atenção da saúde dos idosos. Mas tal fato só será possível se esse despertar for iniciado no ensino de graduação e formar profissionais comprometidos com a realidade social.

Data de recebimento: 0606/2003

Data de aprovação: 22/12/2003

  • 1
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  • 1
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      Out 2003

    Histórico

    • Aceito
      22 Dez 2003
    • Recebido
      06 Jun 2003
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