As boas práticas presentes em estudos históricos de enfermagem e saúde (1999-2017)

RESUMO

Objetivo:

Analisar a temática das boas práticas em dissertações e teses produzidas por um grupo de pesquisa de história de enfermagem e saúde no período de 1999 a 2017.

Método:

Pesquisa sócio histórica documental com abordagem qualitativa. As fontes documentais foram dissertações e teses utilizando a análise de conteúdo.

Resultados:

Encontradas 30 dissertações e 20 teses com aderência ao objetivo. As boas práticas abordadas referem-se a práticas do cuidado e assistência, história de instituições e entidades organizacionais e implantação das práticas de enfermagem em cada instituição. O processo educativo aborda boas práticas em grupos de apoio, instituições de ensino e construção de especialidades. Outros estudos trazem marcos da profissão de enfermagem, situações de enfrentamento e reflexão social frente às vulnerabilidades.

Considerações finais:

Os estudos abordam boas práticas de enfermagem que perpassam por diversos cenários na tentativa de levantar problemas e promover pesquisas cientificas para embasar ações da enfermagem na prática assistencial.

Descritores:
História da Enfermagem; Dissertações Acadêmicas; Teses Eletrônicas; Educação em Enfermagem; Prática Profissional

ABSTRACT

Objective:

to analyze the best practices thematic in dissertations and theses produced by a research group of history of nursing and health from 1999 to 2017.

Method:

a documentary socio-historical research with a qualitative approach. Documentary sources were dissertations and theses using content analysis.

Results:

30 dissertations and 20 theses were found with compliance with the objective. Best practices refer to care and assistance practices, the history of institutions and organizational entities, and the implementation of nursing practices in each institution. Educational process addresses best practices in support groups, educational institutions and specialty construction. Other studies bring the milestones of the nursing profession, confrontation situations and social reflection regarding vulnerabilities.

Final considerations:

the studies address best practices in nursing that go through several settings in the attempt to raise problems and promote scientific research to support nursing actions in care.

Descriptors:
History of Nursing; Academic Dissertations; Electronic Thesis; Nursing Education; Professional Practice

RESUMEN

Objetivo:

analizar los temas de las buenas prácticas en disertaciones y tesis producidas por un grupo de investigación de historia de enfermería y salud en el período de 1999 hasta 2017. Método: investigación social histórica y documental con enfoque cualitativo. Las fuentes documentales fueran disertaciones y tesis utilizando el análisis del contenido.

Resultados:

fueran encontradas 30 disertaciones y 20 tesis con adhesión al objetivo. Las buenas prácticas abordadas se refieren a prácticas de cuidado y asistencia, historia de instituciones y entidades organizacionales y implantación de las prácticas de enfermería en cada institución. El proceso educativo trata las buenas prácticas en grupos de apoyo, instituciones de formación y construcción de especializaciones. Otros estudios traen etapas de la profesión de enfermería, situaciones de enfrentamiento y reflexión social ante las vulnerabilidades.

Consideraciones finales:

los estudios abordaran buenas prácticas de enfermería que cruzan diversos escenarios en el intento de levantar problemas y promover investigaciones científicas para soportar acciones de enfermería en la práctica de asistencia.

Descriptores:
Historia de la Enfermería; Disertaciones Académicas; Tesis Electrónicas; Educación en Enfermería; Práctica Profesional

INTRODUÇÃO

Os estudos históricos na área de enfermagem vêm se fortalecendo a partir da década de 1980, principalmente após o aumento de programas de pós-graduação em enfermagem e do interesse dos pesquisadores em desenvolver teses e dissertações acerca dessa área de investigação. Pode–se afirmar que essas pesquisas são altamente influenciadas e inspiradas pelo contato com os grupos de pesquisas relacionados à trajetória da enfermagem e seus percursos históricos⁽¹⁾. A importância da pesquisa histórica na enfermagem é justamente trazer situações do passado que possam nortear, explicar ou solucionar questões do presente ao produzir um raciocínio crítico, reflexivo e relacionado a realidade atual. Essa história permeia um campo de forças dinâmicas e contraditórias envolvendo passado, presente e futuro⁽²⁾.

A história da enfermagem é pesquisada e contada de diferentes modos em vários países do mundo. Um estudo realizado na Espanha afirma que a história da enfermagem espanhola é modesta quando comparada a outros países anglo-saxônicos. Entretanto, ela ocupa uma posição considerável em se tratando de disponibilidade de banco de dados para este tipo de estudo. O estudo apresenta como viés a não inclusão de revistas que tratam exclusivamente da história da enfermagem em algumas bases de dados ou bases de indexação, apenas com índice⁽³⁾. No Brasil, uma pesquisa⁽⁴⁾ realizada aponta que a área da pesquisa em história da enfermagem é ainda escassa, bem como os centros de documentação e sua precária preservação e reconhecimento. Afirma-se através disto a importância de estudos e grupos de pesquisas existentes no Brasil e no mundo, preservando a memória e identidade histórica.

O Laboratório de Estudos da História do Conhecimento em Enfermagem e Saúde (GEHCES)⁽⁵⁾ é um dos grupos de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF-UFSC). O GEHCES iniciou suas atividades em 1995 após aprovação do financiamento de pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A partir da sua criação, e após o 1º prêmio no 48º Congresso Brasileiro de enfermagem com um dos seus trabalhos, o grupo começou a ampliar o número de participantes, suas participações em eventos científicos nacionais e internacionais e publicação dos resultados de suas pesquisas em periódicos qualificados⁽⁶⁾. Após sua consolidação em estudos científicos na área da história, representadas especialmente em dissertações e teses, optou-se por realizar este estudo com interesse em apontar, através da História da Enfermagem e das produções dessa área, como as boas práticas de enfermagem vem sendo abordadas, evidenciando desse modo a importância das pesquisas históricas e sua interlocução com as boas práticas de enfermagem.

Por que a opção pela busca das boas práticas em estudos históricos? Os estudos de natureza sócio-histórica compreendem o estudo dos grupos humanos no seu espaço temporal e está preocupada em discutir os variados aspectos do cotidiano das diferentes classes e grupos sociais. Os contextos utilizados para estes estudos podem ser um hospital, uma escola, uma instituição, uma cidade e grupos de indivíduos que fizeram parte de um determinado momento histórico. Desenvolver a pesquisa histórica para construir a memória da enfermagem e analisar criticamente a história das enfermeiras e da enfermagem é um desafio a ser enfrentado crescentemente⁽⁷⁾.

Neste sentido, seus resultados devem apresentar sustentação suficiente para defender as boas práticas de saúde e enfermagem. As boas práticas desenvolvidas a partir de estudos de dissertações, teses e outros meios de pesquisa na enfermagem, têm gerado nos últimos tempos novas descobertas e comprovações que permitem melhorar os cuidados aos usuários, auxiliando no manejo clínico e na tomada de decisão.

Por meio de buscas na literatura, notou-se uma evidente confusão nos conceitos atrelados às boas práticas de enfermagem e nas práticas baseadas em evidência. Dessa maneira, vale clarificar as duas por meio dos seus conceitos e diferenciações. Pode-se afirmar que as boas práticas em enfermagem são as melhores recomendações baseadas em evidências científicas comprovadas por meio de investigações^(8-9).

O termo “boas práticas” começou a aparecer no início dos anos 1990, quando houve uma mudança global na compreensão da qualidade dos cuidados de saúde. Essa mudança corresponde ao surgimento de evidências científicas, avanços na tecnologia médica e da informação, além das crescentes preocupações relacionadas ao financiamento da saúde e segurança do paciente. Essa mudança é evidenciada pelo auge da discussão de novos conceitos relacionados à qualidade da assistência de enfermagem evidenciado através da literatura, incluindo as boas práticas⁽¹⁰⁾.

Boas práticas em enfermagem significa realizar os cuidados dentro das suas certezas a fim de obter os melhores resultados possíveis na prática que se exerce. Seus princípios fundamentam a qualidade da assistência, e direcionam a prática de enfermeiros ao prestar uma assistência ética e respeitosa, baseada nas necessidades do paciente e da família, na excelência clínica e na melhor informação científica disponível⁽¹¹⁾. Desse modo, as boas práticas são formadas essencialmente por uma tríade que engloba os melhores resultados de pesquisas científicas, perícia clínica e as necessidades de cada paciente/indivíduo⁽⁸⁾.

A importância do desenvolvimento e disseminação das boas práticas para o profissional de enfermagem é a orientação segura das melhores evidências para o manejo clínico, com atualização periódica⁽⁸⁾. São assim consideradas por funcionarem em situações e contextos específicos, sem utilizar de recursos excessivos para atingir os resultados desejados. As boas práticas agregam elementos que contribuem para o funcionamento e efetivo sucesso das intervenções, sendo a pesquisa uma grande força da profissão de enfermagem, utilizada como uma ferramenta para mudar a prática, a educação e as políticas de saúde⁽¹²⁾.

Realizando uma comparação entre “Boas Práticas” e “Práticas Baseadas em Evidências” (PBE), fica claro que ambas não são contraditórias. Entretanto, a PBE tem como um de seus objetivos encorajar o uso dos resultados de pesquisas na melhoria da assistência à saúde em seus diversos níveis de atenção, reforçando a importância das pesquisas para a prática clínica⁽¹³⁾. Em tempo, ambas se preocupam em qualificar o trabalho em saúde.

A PBE possui a capacidade de qualificar o trabalho em saúde, e se apresenta como uma boa estratégia para a efetividade clínica. Ela produz embasamentos para a tomada de decisão, onde o profissional desempenha o cuidado. Essa prática fundamenta-se na identificação de um problema e na tomada de decisão ancorada no conhecimento já produzido sobre o assunto, somando-se ao conhecimento adquirido na prática. Considera-se que a PBE é uma integração de todas as evidências cientificas, habilidades clínicas e as singularidades do paciente com relação a sua condição. Tal prática configura-se como um campo de conhecimento permanente, que está em constante aprimoramento e construção, para produzir análises e maior compreensão dos fenômenos em saúde^(14-16).

Diante do exposto, surge como pergunta norteadora do estudo: quais as boas práticas produzidas nas dissertações e teses de um grupo de pesquisa de história da enfermagem e saúde no período de 1999-2017?

OBJETIVO

Analisar a temática das boas práticas em dissertações e teses produzidas por um grupo de pesquisa de história de enfermagem e saúde no período de 1999 a 2017.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo trata-se de uma pesquisa de cunho documental que utiliza como fonte de coleta documentos de acesso geral e público, no caso destas teses e dissertações. Desse modo, não necessita de submissão ao Comitê de Ética de Pesquisas que envolvem seres humanos. A Resolução n° 510/2016 coloca que não serão registradas e avaliadas pelo sistema CEP/CONEP pesquisas que utilizem informações de acesso público nos termos da Lei nº 12.527/2011, e pesquisas que utilizem informações de domínio público.

Tipo de estudo

Pesquisa sócio-histórica do tipo documental com abordagem qualitativa. O uso de documentos promove o alcance de informações através da exploração e tratamento dos materiais. Podem ser encontrados em materiais orais e escritos, textos de gêneros diversos, vestígios e documentos administrativos, livros, entre outros materiais bibliográficos. A pesquisa histórica possui a documentação como método e apresenta processos de escolha, organização, análise e síntese. Essas técnicas correspondem aos processos de coleta, observação e tratamento de informações, tornando os fatos em dados possíveis de serem analisados⁽⁷⁾.

Fonte de dados

As fontes documentais utilizadas correspondem às dissertações e teses produzidas no recorte de 1999 a 2017, compreendendo as pesquisas concluídas durante a trajetória do GEHCES. Esse recorte compreende o ano de 1999, onde foi encontrado na íntegra o estudo mais antigo produzido pelo grupo. Estudos que compreendem desde 1995, ano de criação do GEHCES, até 1999 não foram obtidos na íntegra e desta maneira foram retirados do objeto do estudo. Durante este período, as produções científicas do grupo foram orientadas por duas docentes líderes do GEHCES, sendo elas Profª Dra. Maria Itayra Padilha e Profª Dra. Miriam Susskind Borenstein.

A busca dessas fontes foi realizada no sistema de arquivos online da Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) chamado Pergamum, assim como o currículo Lattes das respectivas orientadoras, arquivos pessoais, e-mails e na secretaria do programa de pós graduação em enfermagem.

Coleta e organização dos dados

O período de coleta compreende os meses de maio e junho de 2018. Na busca inicial foram encontradas 39 dissertações e 22 teses concluídas até o ano de 2017, sobre temas variados. Referente às produções e orientações das professoras líderes do GEHCES, foram encontradas 24 dissertações e 20 teses orientadas pela Profª Dra. Maria Itayra e 15 dissertações e 02 teses orientadas pela Profª Dra. Miriam.

A coleta de dados foi realizada através de um instrumento próprio elaborado pelas autoras, o qual continha na etapa de classificação dos estudos, dados como o título da pesquisa, autor, orientador, sujeito, objeto, boas práticas possivelmente abordadas, ano, tipo de estudo e linha de pesquisa, com aderência ao grupo GEHCES. O instrumento busca fazer uma identificação avançada do documento, assim como delimitar a relevância do mesmo para o estudo. Os critérios de inclusão compreendem pesquisas concluídas e encontradas na íntegra. Já os critérios de exclusão foram pesquisas que não tinham aderência com a área da enfermagem, como por exemplo, pesquisas elaboradas com enfoque na fisioterapia - voltadas aos tratamentos e cuidados fisioterápicos - e na história da fisioterapia em Florianópolis. Após aplicação destes critérios e do instrumento para cada documento, obteve-se como resultado 30 dissertações e 20 teses.

Análise dos dados

Os dados foram analisados através da técnica da análise de conteúdo de Bardin. Esta técnica trabalha a fala, levando em consideração os seus significados (o conteúdo propriamente dito) e as formas e distribuições desses conteúdos pelo seu emissor. Ela tenta compreender seus significados através dos seus emissores ou ambiente imerso. Este tipo de análise é composta por três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento e interpretação dos resultados obtidos.

As etapas utilizadas foram a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados (inferência e a interpretação)⁽¹⁷⁾. Na pré-análise foi feita a coleta de todas as fontes documentais correspondentes ao recorte histórico do estudo, e após a leitura de todos os resumos das pesquisas, foi possível delimitar os documentos de acordo com os objetivos do estudo. Na etapa de exploração do material, foram agrupados os resultados por semelhanças e formuladas as categorias. Após o agrupamento dos resultados e formulação das categorias iniciou-se o processo de interpretação, de acordo com as definições de boas práticas e objetivos do estudo.

RESULTADOS

Os 50 estudos foram analisados separadamente e posteriormente agrupados por semelhanças, a fim de transparecer e facilitar a compreensão dos dados encontrados. Aplicamos cada estudo ao instrumento e não consideramos necessária a divisão dos estudos conforme a produção, sendo dissertação ou tese. Desta maneira os agrupamentos compreendem como a compilação de todos os resultados encontrados.

Tabela 1
Perfil Geral das Pesquisas produzidas pelo Laboratório de Estudos da História do Conhecimento em Enfermagem e Saúde (GEHCES), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 2018.

Total
Tipo de Estudo	Qualitativo*	49
	Quantitativo	01
Método	Documental	06
	História oral temática	25
	História de vida	05
	História oral + documental	04
	História oral + filmagem	01
Referencial Teórico	Claude Dubar	02
	Paulo Freire	04
	Eliot Freidson	04
	Teoria Humanista de Paterson e Zderad	04
	Teoria do Autocuidado de Dorothea Orem	02
	Erving Goffman	01
	Simone de Beauvoir e Joan Scott	01
	Arthur Kleinman	01
	Michel Foucault	08
	Teoria das Representações Sociais	02
	Nova História	04
	Conceito de vulnerabilidade e risco	01
	Clifford Geertz	01
	Nietzsche e Schopenhauer	01
	Referencial Teórico da Memória	03
	Teoria de Enfrentamento de Lazarus e Folkman	01
	Não utilizaram Referencial Teórico	10
Total de estudos		50

• Nota:
• ^*
  Referente aos estudos qualitativos, foram encontradas 08 pesquisas convergente-assistenciais, e 01 revisão integrativa.

Posteriormente, foram realizados agrupamentos através das temáticas, sujeitos e objetos de estudo encontrados nas pesquisas, o que permitiu a criação de 04 categorias.

Referente a categoria 01, “Cuidado e Assistência”, atribuem-se 16 (32%) pesquisas com enfoques de boas práticas executadas em clínicas médicas e cirúrgicas, unidades de terapia intensiva, unidades básicas de saúde, comunidade, e outros tipos de cuidados e assistência à saúde. Com relação as temáticas encontradas, os estudos abordaram o HIV, criança hospitalizada, parteiras, recém-nascidos, humanização na saúde mental, reforma psiquiátrica, doação de órgãos, tuberculose e o cuidado e as práticas de enfermagem.

A categoria 02, “Instituções e Organizações”, constitui-se de 17 (34%) pesquisas com boas práticas voltadas a algumas instituições de saúde, escolas de ensino superior e entidades organizacionais como a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e o Conselho Regional de Enfermagem (COREn), abordando aspectos voltados para estas realidades. Também foram encontrados estudos sobre a implementação e organização do trabalho de enfermagem, inserção do curso técnico de enfermagem no Instituto Federal de Santa Catarina, trajetória da aids em Florianópolis, história da escola de aprendizes marinheiros, equipe multidisciplinar no Centro Catarinense de Reabilitação, e a contribuição da enfermagem em diversos cenários.

A categoria 03, “Educação e Pesquisa”, aborda 10 (20%) pesquisas com enfoque em ações educativas com famílias dos pacientes, diretamente com os pacientes, em grupos de apoio, grupos de pesquisas, implantação de políticas de saúde, e formação de especialidades de ensino e enfermagem. Algumas das temáticas abordadas permeiam grupos de gestantes, diretório de grupos do CNPq, prática educativa da enfermagem em um centro de desenvolvimento infantil, ludoterapia no processo educativo, educação com as famílias de crianças hospitalizadas, e a construção da especialidade enfermagem gerontológica.

A categoria 04, intitulada como “Outros”, aborda 07 (14%) pesquisas de boas práticas voltadas à identidade profissional da enfermagem brasileira e pesquisas que abordam temáticas de vulnerabilidade como consequência da exposição do profissional de enfermagem a algumas patologias: moradores em situação de rua e o uso de drogas, representações sociais do sexo, corpo, gênero e sexualidade, representações sociais do adolescente sobre o alcoolismo, e pessoas com deficiência física.

Após a delimitação e separação dos estudos conforme as categorias, ainda foi possível demarcá-los de acordo com as linhas de pesquisa do grupo, a fim de dar visibilidade global do que foi produzido, conforme suas vertentes⁽¹⁸⁾. Pode-se perceber que a linha de pesquisa mais trabalhada foi a linha 02 - a história das especialidades em Saúde e Enfermagem - totalizando 33 (66%) pesquisas nesta área. Outra linha de pesquisa com um número expressivo de estudos foi a linha 03 - história do ensino e das práticas de enfermagem no Brasil - englobando 14 (28%) pesquisas. A linha de pesquisa 04 - identidade profissional na saúde e na Enfermagem - totalizou 02 (4%) estudos e a linha 06 - o cuidado à saúde do deficiente físico em Santa Catarina, realidade e desafio - teve 01 (2%) estudo.

Consideramos que nas linhas de pesquisa 01 - a história da enfermagem no Brasil - e 05 - a história em enfermagem em saúde - não encontramos nenhum estudo direcionado para estas temáticas. Entretanto, pode-se afirmar que todas as pesquisas produzidas pelo grupo são pesquisas históricas e possuem como eixo norteador estas duas linhas.

DISCUSSÃO

A enfermagem caminha para uma era tecnológica a qual exige das enfermeiras novas atitudes, condutas e formas de pensar e de ser. Devido a isso, é importante conhecer o impacto das pesquisas cientificas e suas influências, no sentido de validar conhecimentos e produzir evidências que subsidiem sua aplicação no cuidado assistencial⁽¹⁹⁾. Opta-se em utilizar o termo “Profissional Enfermeira” na discussão dos dados, por conta das produções do grupo serem na maioria das vezes produzidas por enfermeiras mulheres.

Os estudos históricos utilizados como fonte de dados para esta pesquisa não possuíam como foco a utilização da temática boas práticas de enfermagem. Entretanto, os estudos estavam preocupados e buscavam evidenciar as boas práticas através de estudos voltados ao ser humano no âmbito de sua saúde individual, coletiva e social.

As boas práticas podem ser exercidas em ambientes distintos, para realizar uma ação ou solucionar um problema. Elas podem ser validadas após sua aplicação, observação ou documentação, a partir de estudos, manuais ou diretrizes⁽²⁰⁾. Os princípios das boas práticas estão embasados em um conjunto de medidas sistemáticas que em geral devem ser exercidas por toda a equipe multidisciplinar e interdisciplinar, respeitando a diversidade e as inter-relações entre eles, o que implica na necessidade de uma boa comunicação e relação entre os membros da equipe⁽²¹⁾.

A partir dos levantamentos das pesquisas do GEHCES, pode-se afirmar que o cuidado é o foco principal e norteador das boas práticas. É indispensável a produção de estudos voltados às boas práticas no cuidado e na qualidade da prestação da assistência, que devem ser disseminadas nas áreas de ensino, pesquisa e prática assistencial. No entanto, a realidade da assistência ainda conta com algumas barreiras como a falta de tempo, alta demanda e novas informações, falta de familiaridade e identificação inadequada de um real problema de pesquisa, dificultando a resolução de algum conflito⁽²²⁾. Diante disso, os estudos do GEHCES voltados ao cuidado contam com a participação de diferentes profissionais de saúde, reforçando a importância multi-interdisciplinar, diversidade de locais de estudos, e práticas de cuidado relacionadas a saberes regionais e culturais, integrando a história de cada pessoa e o seu meio social.

Com o intuito de apoiar a demanda e a necessidade de aprimoramento do cuidado e da assistência por parte dos profissionais de saúde, as organizações e instituições governamentais devem oferecer condições necessárias para promover e apoiar as boas práticas. Deve-se incentivar uma participação ativa dos profissionais que exercem sua atividade no contexto da prática clínica e da prestação integrada, como fonte para pesquisas e projetos de investigação científica. É fundamental o estudo dessas instituições e a sua forma de organização e implementação do seu processo de trabalho, refletindo na assistência ao paciente, relacionamento interpessoal e ambiência⁽²²⁾. Nesse sentido, as pesquisas do grupo retratam as instituições e os seus serviços fazendo uma articulação e resgate da implantação, criação e funcionamento dos serviços, de acordo com os objetivos e períodos históricos de cada um. Também são abordadas temáticas como o processo de enfermagem e seus processos de adaptação nas instituições de saúde, assim como a implementação do curso de graduação de enfermagem em um instituto tecnológico.

Das instituições de ensino, espera-se que o processo de ensino-aprendizagem seja baseado na melhor evidência científica, para que os futuros profissionais possam ter este conhecimento e utilizarem-nos quando agirem na prática assistencial. Devido a isso, estes profissionais sentem-se mais seguros por aprender os conteúdos de forma atualizada e com níveis de evidências refletindo no seu desempenho, comunidade e meio social^(22-23). Uma boa prática, em termos de contexto de organizações de saúde, é aquela que através da aplicação de técnicas ou procedimentos metodológicos, possui confiabilidade comprovada para gerar determinado resultado positivo⁽⁸⁾.

Foram encontradas diversas pesquisas que possuíam como objeto central o cenário da atenção primária em saúde, abordando práticas voltadas aos profissionais de saúde e suas condutas no ambiente de trabalho na prestação da assistência. As boas práticas de enfermagem, em qualquer âmbito de ação, precisam conter alguns pressupostos e princípios, os quais fazem parte de um conjunto de dispositivos de saúde que estão dispostos, de maneira articulada, para suprir o monitoramento, intervenção, avaliação da intervenção nos processos de saúde e doença dos grupos sociais de todo o território⁽²⁴⁾.

A educação em saúde implícita no trabalho da enfermagem pode utilizar-se de tecnologias educacionais, que servirão como dispositivos mediadores e facilitadores da disseminação de conhecimentos e informações, e a sua utilização e aplicação precisa de atitudes que possibilitem responder ao público ao qual se destina⁽²⁵⁾. Frente a isso, as produções do GEHCES têm como objetivos retratar várias realidades e processos de ensino, criação e formulação de algumas especialidades, processos de ensino-aprendizagem de forma coletiva, envolvendo comunidade, pesquisa e o cuidado de si.

Outro ponto relevante do estudo de boas práticas é a dimensão pessoal. Os enfermeiros devem compreender claramente a sua importância para a prática profissional e seus benefícios/percalços para o futuro da profissão⁽²³⁾. Junto a isso, o GEHCES preocupa-se com a identidade do profissional de enfermagem e busca mostrar em seus estudos sua história, legislações, eventos marcantes para a profissão e seu desenvolvimento no Brasil⁽⁶⁾. Além da identidade profissional, ainda é retratada a identidade do profissional de acordo com a instituição de saúde ou de ensino, apontando suas influências, conhecimentos e modos de organização do cuidado.

As boas práticas relacionadas às situações de vulnerabilidade assessoram o pesquisador para que o sujeito estudado expresse seus sentimentos e medos, fazendo com que o mesmo reflita sobre sua situação, e tenha encorajamento para lidar com cada situação. Esse tipo de estudo facilita a compreensão desses grupos de pessoas e serve como norte para implantação dos planos de cuidado e reflexão social⁽²⁶⁾.

O compartilhamento de informações de maneira documentada e fundamentada torna possível evitar erros que possam estar sendo repetitivos. Partilhar as boas práticas é possibilitar aos profissionais e às organizações de saúde uma melhor oportunidade de adquirir conhecimentos e melhorar o desempenho. As boas práticas permitem criar e adaptar estratégias e atividades através da retroinformação, reflexão, e análise do modo de implementar intervenções amplas, sustentáveis e eficazes⁽¹²⁾.

Frente ao exposto, é visto que a importância de abordar as boas práticas em pesquisas científicas permeia questões sociais, profissionais, científicas e organizacionais. Tendo em cada uma delas um ponto fundamental para exploração e aplicação na prática clínica.

Limitações do estudo

Referente às limitações do estudo, pode-se mencionar a quantidade significativa de estudos que contemplaram esta pesquisa, não sendo possível expor de forma mais detalhada as boas práticas abordadas especificamente em cada uma das teses e dissertações produzidas pelo grupo de pesquisa.

Contribuições para a enfermagem

O estudo desenvolvido possui relevância não somente na construção cientifica, mas como também apresenta a importância de estudos na área histórica que permite apontar o passado e o presente, a fim de expor possíveis mudanças no futuro. Possibilita compreender que as boas práticas de enfermagem possuem importância social no cenário acadêmico e da prática, sendo um campo que precisa ser explorado e estudado a fim de promover as ações da enfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As boas práticas de enfermagem permeiam diversos cenários de práticas e ensino, a fim de implementar melhorias através das evidências encontradas. Desse modo, podemos observar que os estudos sob uma perspectiva histórica também ultrapassam e integram os diversos cenários da prática de enfermagem na tentativa de identificar uma problemática que possa ser explorada e analisada.

Compreendemos que a enfermagem possui como ferramenta de trabalho o cuidado, e o que sujeito é o objeto de trabalho da enfermagem. Dessa maneira, a junção desses meios permite inúmeras possibilidades de estudos e intervenções a fim de proporcionar melhorias na qualidade da assistência prestada, nas relações interpessoais no trabalho e na forma de trabalho e organização das instituições. Verificamos, nos estudos encontrados em duas diversas áreas de atuação e pesquisa, que as boas práticas são um tema que precisa ser abordado com mais frequência, a fim de promover avanços em termos de operacionalização dos resultados das pesquisas científicas que ocorrem devido a percalços enfrentados no dia-a-dia do enfermeiro.

É notável a importância das pesquisas históricas para a elaboração de boas práticas voltadas a diversas áreas de atuação da enfermagem e sua evolução ao passar dos anos. A partir deste estudo, recomenda-se que os grupos de pesquisas de cada área de domínio continuem problematizando e investigando o que ainda não é esclarecedor e seguro na prática clínica na enfermagem, e avançando de acordo com a demanda e exigências sociais globais.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Ago 2019
• Data do Fascículo
  Jul-Aug 2019

Histórico

• Recebido
  26 Jun 2018
• Aceito
  29 Set 2018