Acessibilidade / Reportar erro

Fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis na gestação: revisão integrativa

RESUMO

Objetivos:

analisar as evidências disponíveis na literatura sobre os fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis em gestantes.

Métodos:

revisão integrativa, realizada nas bases de dados LILACS, CINAHL, Web of Science, Scopus, PubMed e EMBASE, com os descritores controlados sífilis gestantes terapêutica e pré-natal.

Resultados:

nove publicações compuseram a análise interpretativa, nas quais baixa escolaridade, renda e idade materna, falta temporária do medicamento e infecção por HIV foram associadas ao tratamento inadequado da sífilis na gestação, além do atraso ou ausência do pré-natal e no recebimento da 1ª dose de penicilina, falta de exames ou tratamento com menos de 30 dias antes do parto, e a baixa adesão do parceiro ao tratamento.

Considerações Finais:

dentre os principais fatores associados ao tratamento inadequado, destacam-se os aspectos clínicos da gestante, sociodemográficos, além de falhas na dispensação do medicamento, prescrição e acompanhamento do tratamento da gestante e do parceiro pelo sistema de saúde.

Descritores:
Sífilis; Gravidez; Terapêutica; Cuidado Pré-Natal; Revisão

ABSTRACT

Objectives:

to analyze the evidence available in literature on factors associated with inadequate treatment of syphilis in pregnant women.

Methods:

an integrative review, carried out in the LILACS, CINAHL, Web of Science, Scopus, PubMed and EMBASE databases, with controlled descriptors therapeutic and prenatal syphilis.

Results:

nine publications composed the interpretative analysis, in which low education, income and maternal age, temporary lack of medication and HIV infection were associated with inadequate treatment of syphilis during pregnancy, in addition to delay or absence of prenatal care and receiving the 1st dose of penicillin, lack of tests or treatment less than 30 days before childbirth, and partners’ low compliance with treatment.

Final Considerations:

among the main factors associated with inadequate treatment, clinical and sociodemographic aspects stand out, as well as failures in drug dispensing, prescription and monitoring of treatment of pregnant women and their partners by the health system.

Descriptors:
Syphilis; Pregnancy; Therapeutics; Prenatal Care; Review

RESUMEN

Objetivos:

analizar la evidencia disponible en la literatura sobre factores asociados al tratamiento inadecuado de la sífilis en gestantes.

Métodos:

revisión integradora, realizada en las bases de datos LILACS, CINAHL, Web of Science, Scopus, PubMed y EMBASE, con los descriptores controlados sífilis terapéutica embarazada y prenatal.

Resultados:

nueve publicaciones componían el análisis interpretativo, en el que la baja escolaridad, renta y edad materna, la falta temporal de medicación y la infección por VIH se asociaron con el tratamiento inadecuado de la sífilis durante el embarazo, además de la demora o ausencia de control prenatal y de recibir la 1a dosis de penicilina, falta de exámenes o tratamiento menos de 30 días antes del parto, y baja adherencia al tratamiento por parte de la pareja.

Consideraciones Finales:

entre los principales factores asociados al tratamiento inadecuado se destacan los aspectos clínicos y sociodemográficos de la gestante, así como las fallas en la dispensación, prescripción y seguimiento del tratamiento de la gestante y su pareja por parte del sistema de salud.

Descriptores:
Sífilis; Embarazo; Terapéutica; Atención Prenatal; Revisión

INTRODUÇÃO

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) milenar causada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida por via sexual e vertical durante a gestação ou no parto, quando o esquema de tratamento da mãe diagnosticada ocorre de forma inadequada ou não ocorre. A transmissão vertical da sífilis depende dos estágios da infecção materna, cujo risco é maior durante os estágios primários e secundários da infecção, sendo de 70% a 100% nas gestantes que não recebem tratamento e/ou são tratadas inadequadamente, com redução nas fases latente e tardia (30%)(11 Wang Y, Wu M, Gong X, Zhao L, Zhao J, Zhu C, et al. Risk Factors for congenital syphilis transmitted from mother to infant - Suzhou, China, 2011-2014. Morb Mortal Wkly Rep. 2019;68(10):247-50. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6810a4
https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6810a4...
-22 Conceição HN, Câmara JT, Pereira BM. Análise epidemiológica e espacial dos casos de sífilis gestacional e congênita. Saúde Debate 2019;43(123):1145-58. https://doi.org/10.1590/0103-1104201912313
https://doi.org/10.1590/0103-11042019123...
).

Dentre os principais desfechos da sífilis gestacional, evidenciados pela literatura, destacam-se aumento do risco de óbito fetal em até 21%, óbito neonatal, prematuridade, baixo peso ou malformações congênitas(33 Soares LG, Zarpellon B, Soares LG, Baratieri T, Lentsck MH, Mazza VA. Gestational and congenital syphilis: maternal, neonatal characteristics and outcome of cases. Rev Bras Saude Mater Infant. 2017;17(4):791-9. https://doi.org/10.1590/1806-93042017000400010
https://doi.org/10.1590/1806-93042017000...
-44 Padovani C, Oliveira R, Pelloso SM. Syphilis in during pregnancy: association of maternal and perinatal characteristics in a region of southern Brazil. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3019. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2305.3019
https://doi.org/10.1590/1518-8345.2305.3...
). Vale ressaltar que todos os eventos adversos da sífilis durante a gravidez podem ser evitados com o tratamento adequado durante o pré-natal, que consiste, no Brasil, na administração de penicilina G benzatina em dose adequada à fase clínica diagnosticada e iniciado até 30 dias antes do parto, além de acompanhamento mensal para verificar diminuição da titulação. Gestantes que não se enquadram nesses critérios são consideradas tratadas inadequadamente(55 Ministério da Saúde (BR). Nota Informativa do Ministério da Saúde Nº 2 - SEI/2017. Altera os critérios de definição de casos para notificação de sífilis adquirida, sífilis em gestante e sífilis congênita [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [cited 2021 Sep 25]. Available from: https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/Sifilis-Ges/Nota_Informativa_Sifilis.pdf
https://portalsinan.saude.gov.br/images/...
).

Embora seja uma doença com tratamento acessível, efetivo e eficaz, ainda exibe altas taxas de incidência, representando um desafio para a saúde pública. A prevalência mundial estimada de sífilis materna em 2016 foi de 0,69%, 988 mil casos, com uma taxa global de sífilis congênita de 473 por 100.000 nascidos vivos e 661 mil casos totais(66 Korenromp EL, Rowley J, Alonso M, Mello MB, Wijesooriya NS, Mahiané SG, et al. Global burden of maternal and congenital syphilis and associated adverse birth outcomes - Estimates for 2016 and progress since 2012. PLoS One. 2019;14(2):e0211720. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0211720
https://doi.org/10.1371/journal.pone.021...
). No Brasil, em 2019, ocorreram 61.127 casos de sífilis em gestantes, uma taxa de detecção de 20,8 por 1.000 nascidos vivos, e 24.130 casos de sífilis congênita, uma taxa de incidência de 8,2 por 1.000 nascidos vivos(77 Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico Especial Secretaria de Vigilância em Saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2020 [cited 2021 Oct 17]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/media/pdf/2020/outubro/29/BoletimSfilis2020especial.pdf
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/...
).

Desse modo, em maio de 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da Assembleia Mundial de Saúde, adotou a estratégia global 2016-2021, que definiu ações prioritárias para alcançar metas de eliminação das IST até 2030, incluindo a sífilis congênita, e a expansão de intervenções e serviços baseados em evidências para o controle das IST e redução do seu impacto como problema de saúde pública(77 Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico Especial Secretaria de Vigilância em Saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2020 [cited 2021 Oct 17]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/media/pdf/2020/outubro/29/BoletimSfilis2020especial.pdf
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/...
-88 World Health Organization (WHO). Global health sector strategy on sexually transmitted infections 2016-2021 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2016 [cited 2022 Mar 07]. Available from: http://www.who.int/reproductivehealth/publications/rtis/ghss-stis/en/
http://www.who.int/reproductivehealth/pu...
).

Alguns países já foram certificados pela OMS como livres da transmissão vertical da sífilis. Dentre eles, Cuba foi o primeiro país do mundo a receber a validação em 2015, posteriormente, em 2016 e 2017, cerca de seis países e territórios caribenhos, como Anguila, Antígua e Barbuda, Bermudas, Ilhas Cayman, Montserrat e Saint Kitts e Nevis, além das Américas, Tailândia, República da Moldávia e Bielorrússia em 2016 e Malásia em 2018(99 Pan American Health Organization (PAHO). New Generations Free of HIV, Syphilis, Hepatitis B and Chagas Disease in the Americas 2018. EMTCT Plus [Internet]. Washington, D.C: PAHO; 2019 [cited 2022 Mar 07]. Available from: https://www.paho.org/en/documents/new-generations-free-hiv-syphilis-hepatitis-b-and-chagas-disease-americas-emtct-plus-2018
https://www.paho.org/en/documents/new-ge...
).

No Brasil, com base nos critérios estabelecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e OMS, adequadas à realidade brasileira, a cidade de Boa Vista da Aparecida, município do Paraná, alcançou a Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical da Sífilis Congênita. Para tal, o município atingiu os indicadores de impacto nos últimos três ano (taxa de incidência de sífilis ≤ 2,5 /1.000 nascidos vivos em menores de um ano e menos de 25% das crianças menores de um ano com sífilis congênita) e de processo nos últimos 2 anos (90% das gestantes com quatro ou mais consultas de pré-natal, 90% das gestantes diagnosticadas com sífilis que receberam uma dose ou mais de penicilina e 50% ou mais das gestantes com diagnóstico no primeiro trimestre da gestação), além de atender aos demais critérios estipulados(1010 Prefeitura Municipal de Boa Vista da Aparecida. Boa Vista recebe Certificado de Eliminação da Transmissão Vertical da Sífilis Congênita [Internet]. 2021 [cited 2022 Mar 07]. Available from: https://www.boavistadaaparecida.pr.gov.br/noticias/saude/boa-vista-recebe-certificado-de-eliminacao-da-transmissao-vertical-da-sifilis-congenita
https://www.boavistadaaparecida.pr.gov.b...
).

Como estratégia de combate à sífilis congênita, em 2021, o Brasil lançou a Campanha Nacional de Combate a Sífilis Adquirida e Congênita, com o alerta sobre a importância da prevenção e tratamento precoce, incluindo como público-alvo as gestantes e seus parceiros. Como ações de combate, teve o lançamento do Guia da Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis, com o objetivo de padronizar o procedimento para certificação em municípios com 100 mil ou mais habitantes e em estados, e a realização de um curso sobre a Atenção Integral às Pessoas com IST, com a finalidade de oferecer qualificação profissional a distância(1111 Ministério da Saúde (BR). Departamento de doenças crônicas e infecções sexualmente transmissíveis. Ministério da Saúde lança Campanha Nacional de Combate às Sífilis Adquirida e Congênita em 2021 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2021 [cited 2022 Mar 07]. Available from: http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/ministerio-da-saude-lanca-campanha-nacional-de-combate-sifilis-adquirida-e-congenita-em
http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/mi...
).

Portanto, diante dos dados apresentados, incluindo as altas incidências de sífilis gestacional, é de suma importância reconhecer os fatores associados à ocorrência do tratamento inadequado, já que pode direcionar políticas públicas a determinados grupos de risco. Dessa forma, é premente agregar em um único estudo uma síntese acerca da temática em questão, a fim de direcionar políticas de melhoria da assistência pré-natal à gestante e parceiro e, assim, reduzir o número de casos de sífilis na gestação com consequente redução da sífilis congênita e complicações relacionados ao recém-nascido.

OBJETIVOS

Analisar as evidências disponíveis na literatura sobre os fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis em gestantes.

MÉTODOS

Tipo de estudo

Revisão integrativa da literatura, desenvolvida de acordo com as etapas: seleção da pergunta para a revisão; amostragem (busca dos estudos segundo os critérios de inclusão e exclusão); extração das características das pesquisas primárias (extração dos dados); análise dos dados; interpretação dos resultados; relato da revisão(1212 Ganong LH. Integrative reviews of nursing research. Res Nurs Health. 1987;10(1):1-11. https://doi.org/10.1002/nur.4770100103
https://doi.org/10.1002/nur.4770100103...
). Foram seguidas as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)(1313 Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, Prisma Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. Ann Intern Medic. 2009;151(4):264-9. https://doi.org/10.7326/0003-4819-151-4-200908180-00135
https://doi.org/10.7326/0003-4819-151-4-...
).

Coleta e organização dos dados

Para elaboração da questão de pesquisa, foi utilizada a estratégia PICo (P- População; I- Interesse; Co- Contexto). Subsequentemente, foram consultados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/BIREME) e os Medical Subject Headings (MeSH terms), conforme Quadro 1. Assim, construiu-se a seguinte questão de pesquisa: quais os fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis em gestantes?

Quadro 1
Estratégia PICo, DeCS e MESH terms

A busca dos artigos que integraram esta revisão ocorreu em julho de 2021 em seis bases de dados, como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Web of Science, Sci Verse Scopus (Scopus), PubMed e EMBASE. Para tal, as buscas foram realizadas respeitando as singularidades de cada base, utilizando a combinação do operador booleano “AND” entre os descritores e o operador booleano “OR” entre as palavras sinônimas. A estratégia de busca empregada para todas as bases de dados foi [(“Syphilis”) AND (“pregnant womenORpregnancy”) AND (“therapeutics”) AND (“Prenatal Care”)].

Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra com resultados de pesquisa que respondessem à questão do estudo e em todos os idiomas. Foram excluídos estudos secundários (revisões de literatura, relatos de experiência, artigos de reflexão, editoriais e cartas), publicações duplicadas (manuscritos em duplicidade foram considerados apenas uma vez) e produções não relacionadas ao propósito do estudo. Para a seleção dos artigos, não houve recorte temporal.

Os resultados encontrados nas buscas foram inseridos no aplicativo web Rayyan, desenvolvido pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI)(1414 Ouzzani M, Hammady H, Fedorowicz Z, Elmagarmid A. Rayyan-a web and mobile app for systematic reviews. Syst Rev. 2016;5(1):210. https://doi.org/10.1186/s13643-016-0384-4
https://doi.org/10.1186/s13643-016-0384-...
), para auxiliar na organização e seleção dos artigos. A leitura dos títulos e resumos dos artigos encontrados e a seleção dos mesmos foram executadas por dois pesquisadores independentes. Posteriormente, foi realizada a leitura na íntegra dos artigos selecionados na primeira etapa, sendo extraídas as informações relevantes com o auxílio de um instrumento adaptado(1515 Ursi ES, Galvão CM. Prevenção de lesões de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. Rev Latino-Am Enfermagem. 2006;14(1):124-31. https://doi.org/10.1590/S0104-116920060001.00017
https://doi.org/10.1590/S0104-1169200600...
) contendo as seguintes informações: título; ano de publicação; objetivo; método (tipo e local de estudo, participantes, coleta de dados e análise dos dados); principais resultados de cada artigo; e conclusão. Cabe destacar que as discordâncias entre a seleção dos artigos foram resolvidas por meio de um consenso entre os pesquisadores nas duas etapas.

O nível de evidência das investigações foi ordenado por meio da avaliação do seu desenho metodológico, sendo utilizada a classificação de sete níveis: nível I - evidências oriundas de revisão sistemática ou metanálise de múltiplos estudos clínicos controlados e randomizados; nível II - evidências provenientes de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; nível III - evidências derivadas de ensaios clínicos bem delineados sem randomização; nível IV - evidências derivadas de pesquisas bem delineadas de coorte e de caso-controle; nível V - evidências procedentes de revisão sistemática por meio de metodologias descritivas e qualitativas; nível VI - evidências provenientes de apenas um estudo descritivo ou qualitativo; nível VII - evidências originárias de conceitos de autoridades e/ou relatório de comitês de especialistas(1616 Melnyk B, Fineout-Overholt E. Evidence-based practice in nursing & healthcare: a guide to best practice. 4th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2019).

Análise dos dados

Para a análise dos dados, foi construído um quadro analítico que permitiu reunir e sintetizar as principais informações dos artigos incluídos, conforme apresentado posteriormente. Os dados foram interpretados e comparados e, posteriormente, sintetizados de forma descritiva.

RESULTADOS

A seleção dos artigos encontrados, por meio dos diferentes cruzamentos dos vocábulos, seguiu as recomendações do PRISMA(1313 Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, Prisma Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. Ann Intern Medic. 2009;151(4):264-9. https://doi.org/10.7326/0003-4819-151-4-200908180-00135
https://doi.org/10.7326/0003-4819-151-4-...
), conforme mostra a Figura 1.

Figura 1
Diagrama de busca e seleção dos artigos de acordo com o PRISMA

A amostra final consistiu na inclusão de nove artigos que avaliaram os fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis nas gestantes. A maioria, sete (77,7%), foram publicados em periódicos científicos internacionais, e somente dois (22,2%) em periódicos brasileiros. Houve predomínio de oito (88,8%) estudos com abordagem quantitativa, enquanto apenas um (11,1%) foi qualitativa, e 66,6% possuíam o nível VI de evidência e estavam em inglês.

Ainda, quanto ao local do estudo, a maior parcela, sete (77,7%), foi desenvolvida fora do Brasil, como Argentina, Estados Unidos, Tailândia, dois na China e dois na África do Sul. No Brasil, dois (22,2%) foram realizados na região Nordeste nos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte.

As características dos artigos incluídos nesta revisão, acerca dos autores, periódico, objetivos, método e nível de evidência, seguem descritos no Quadro 2. Os principais resultados, em relação à definição utilizada de tratamento adequado e inadequado, e fatores associados ao tratamento inadequado, além de prevalência ou incidência encontrada e perfil dos participantes, encontram-se no Quadro 3.

Quadro 2
Caracterização dos artigos selecionados para análise segundo os autores/ano, periódico, objetivo(s), método e nível de evidência
Quadro 3
Síntese dos artigos incluídos na revisão, segundo definição de tratamento adequado e inadequado, prevalência/incidência, características dos participantes e do tratamento, e fatores associados ao tratamento inadequado

A partir dos achados, nota-se que os artigos(1717 Rotchfor K, Lombard C, Zuma KK. Impact on perinatal mortality of missed opportunities to treat maternal syphilis in rural South Africa: baseline results from a clinic randomized controlled trial. Trop Med Int Health. 2000;5(11):800-4. https://doi.org/10.1046/j.1365-3156.2000.00636.x
https://doi.org/10.1046/j.1365-3156.2000...
-1818 Mullick S, Beksinksa M., Msomi S. Treatment for syphilis in antenatal care: compliance with the three doses standard treatment regimen. Sexually Transmitted Infections. Sex Transm Infect. 2005;(3):220-2. https://doi.org/10.1136/sti.2004.011999
https://doi.org/10.1136/sti.2004.011999...
,2121 Silva-Chávarro AM, Bois-Melli F. Factors associated with failure in the diagnosis and treatment of maternal syphilis. Study of cases and controls. Rev Mex Pediatr [Internet]. 2017 [cited 2021 Oct 07];84(2):54-60. Available from: https://www.medigraphic.com/pdfs/pediat/sp-2017/sp172c.pdf
https://www.medigraphic.com/pdfs/pediat/...
-2222 Hong FC, Wu XB, Yang F, Lan LN, Guan Y, Zhang CL, et al. Risk of Congenital Syphilis (CS) Following Treatment of Maternal Syphilis: Results of a CS Control Program in China. Clin Infect Dis. 2017;65(4):588-94. https://doi.org/10.1093/cid/cix371
https://doi.org/10.1093/cid/cix371...
,2525 Anugulruengkitt S, Yodkitudomying C, Sirisabya A, Chitsinchayakul T, Jantarabenjakul W, Chaithongwongwatthana S, et al. Gaps in the elimination of congenital syphilis in a tertiary care center in Thailand. Pediatr Int. 2020;62(3):330-6. https://doi.org/10.1111/ped.14132
https://doi.org/10.1111/ped.14132...
) trazem como fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis na gestação variáveis clínicas relacionadas à gestante, como o tratamento de sífilis antes da gravidez atual e infecção pelo HIV. Os artigos(1919 Brito ESV, Jesus SB, Silva MRF. Sífilis congênita como indicador de avaliação da assistência ao pré-natal no município de Olinda (PE), Brasil. Rev APS [Internet]. 2009 [cited 2021 Oct 07];12(1):62-71. Available from: https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/article/view/14199/7684
https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps...

20 Zhu L, Qin M, Du L, Xie R, Wong T, Wern SW. Maternal and congenital syphilis in Shanghai, China, 2002 to 2006. Int J Infect Dis. 2010;14(3):45-8. https://doi.org/10.1016/j.ijid.2009.09.009
https://doi.org/10.1016/j.ijid.2009.09.0...

21 Silva-Chávarro AM, Bois-Melli F. Factors associated with failure in the diagnosis and treatment of maternal syphilis. Study of cases and controls. Rev Mex Pediatr [Internet]. 2017 [cited 2021 Oct 07];84(2):54-60. Available from: https://www.medigraphic.com/pdfs/pediat/sp-2017/sp172c.pdf
https://www.medigraphic.com/pdfs/pediat/...
-2222 Hong FC, Wu XB, Yang F, Lan LN, Guan Y, Zhang CL, et al. Risk of Congenital Syphilis (CS) Following Treatment of Maternal Syphilis: Results of a CS Control Program in China. Clin Infect Dis. 2017;65(4):588-94. https://doi.org/10.1093/cid/cix371
https://doi.org/10.1093/cid/cix371...
) apontam os aspectos sociodemográficos, como a baixa escolaridade, renda e idade materna, que implicam por vezes no desconhecimento acerca da doença e, por conseguinte, o tratamento inadequado.

Ademais, outros estudos(1717 Rotchfor K, Lombard C, Zuma KK. Impact on perinatal mortality of missed opportunities to treat maternal syphilis in rural South Africa: baseline results from a clinic randomized controlled trial. Trop Med Int Health. 2000;5(11):800-4. https://doi.org/10.1046/j.1365-3156.2000.00636.x
https://doi.org/10.1046/j.1365-3156.2000...
,2323 Nunes JT, Marinho AV, Davim RMB, Silva GGO, Felix RSA, Martino MMF. Syphilis in gestation: perspectives and nurse conduct. Rev Enferm UFPE. 2017;11(12):4875-84. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a23573p4875-4884-2017
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12...

24 Kidd S, Bowen VB, Torrone EA, Bolan G. Use of National Syphilis Surveillance Data to Develop a Congenital Syphilis Prevention Cascade and Estimate the Number of Potential Congenital Syphilis Cases Averted. Sex Transm Dis. 2018;45(suppl 1):23-8. https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000000838
https://doi.org/10.1097/OLQ.000000000000...
-2525 Anugulruengkitt S, Yodkitudomying C, Sirisabya A, Chitsinchayakul T, Jantarabenjakul W, Chaithongwongwatthana S, et al. Gaps in the elimination of congenital syphilis in a tertiary care center in Thailand. Pediatr Int. 2020;62(3):330-6. https://doi.org/10.1111/ped.14132
https://doi.org/10.1111/ped.14132...
) sinalizam as questões de dispensação do medicamento, prescrição e acompanhamento do tratamento, como falta temporária do medicamento, falhas na assistência de pré-natal, incluindo atraso ou ausência deste, atraso no recebimento da 1ª dose de penicilina, falta de exames ou tratamento realizado com menos de 30 dias antes do parto/aborto e prescrição inadequada, em termos de dosagem e regime. A baixa adesão do parceiro ao tratamento, incluindo pelo relato de ser doloroso, foi apontada em dois artigos(1919 Brito ESV, Jesus SB, Silva MRF. Sífilis congênita como indicador de avaliação da assistência ao pré-natal no município de Olinda (PE), Brasil. Rev APS [Internet]. 2009 [cited 2021 Oct 07];12(1):62-71. Available from: https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/article/view/14199/7684
https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps...
,2323 Nunes JT, Marinho AV, Davim RMB, Silva GGO, Felix RSA, Martino MMF. Syphilis in gestation: perspectives and nurse conduct. Rev Enferm UFPE. 2017;11(12):4875-84. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a23573p4875-4884-2017
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12...
).

DISCUSSÃO

Esta revisão evidenciou fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis na gestação relacionados às variáveis clínicas, aspectos sociodemográficos e falhas assistenciais.

A assistência pré-natal inadequada foi indicada como o principal fator responsável pela elevada incidência da sífilis congênita em um estudo realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais(2626 Nonato SM, Melo APS, Guimarães MDC. Syphilis in pregnancy and factors associated with congenital syphilis in Belo Horizonte-MG, Brazil, 2010-2013. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(4):681-94. https://doi.org/10.5123/S1679-49742015000400010
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201500...
). O mesmo foi encontrado em estudo nacional desenvolvido em 2011 e 2012, que apontou casos de sífilis congênita associados a menor escolaridade, início mais tardio do pré-natal, ou seja, menor número de consultas e menor realização de exames sorológicos. Foi constatado que gestantes sem nenhuma consulta de pré-natal são as que apresentam a maior prevalência de sífilis na gestação(2727 Domingues RMSM, Leal MC. Incidência de sífilis congênita e fatores associados à transmissão vertical da sífilis: dados do estudo Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2016;32(6):e00082415. https://doi.org/10.1590/0102-311X00082415
https://doi.org/10.1590/0102-311X0008241...
), corroborando com os achados de oito dos artigos analisados nesta pesquisa.

Em outro estudo desenvolvido na Maternidade de Malvinas, na Argentina, foi apontado que o risco de apresentar algum tipo de falha no diagnóstico de sífilis materna esteve relacionado a fatores específicos, como baixa escolaridade materna e número insuficiente de exames pré-natais. Além disso, a gravidez antes dos 18 anos e ter menos de 5 consultas de pré-natais são fatores que afetam a falha do tratamento da sífilis gestacional(2828 Silva AM, Bois F, Duro E. Factores asociados con falla en el diagnostico y tratamiento de sifilis materna. Med Infant [Internet]. 2016 [cited 2021 Dec 101];23(4):293-8. Available from: https://www.medicinainfantil.org.ar/images/stories/volumen/2016/xxiii_4_293.pdf
https://www.medicinainfantil.org.ar/imag...
).

Pesquisa identificou a ocorrência de sífilis na gestação associada à escolaridade menor que oito anos de estudo, 7,4 vezes mais chances em mulheres que não fizeram o pré-natal, tratamento inadequado ou não realizado (53,7%) e 64,0% dos casos não houve tratamento da parceria sexual(44 Padovani C, Oliveira R, Pelloso SM. Syphilis in during pregnancy: association of maternal and perinatal characteristics in a region of southern Brazil. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3019. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2305.3019
https://doi.org/10.1590/1518-8345.2305.3...
).

O boletim epidemiológico da SVS/MS traz que, em 2020, 41,8% das mulheres foram diagnosticadas no primeiro trimestre, 21,9%, no segundo trimestre, e 30,1%, no terceiro. Ainda considerando o ano de 2020, observou-se que mais da metade (56,4%) das gestantes encontrava-se na faixa etária de 20 a 29 anos, quando diagnosticadas com a doença, 23,3%, entre 15 e 19 anos, e 17,3%, com idade entre 30 e 39 anos. Quanto à escolaridade, a maioria das notificações (26,3%) constava como “ignorada” a informação, seguida de 25,3% das gestantes com ensino fundamental(2929 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico, número especial. Doença pelo Novo Coronavírus - COVID-19 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2021 [cited 2021 Dec 08]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/novembro/19/boletim_epidemiologico_covid_89_23nov21_fig37nv.pdf
https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf...
).

A sífilis materna diagnosticada tardiamente durante a gravidez é considerada um fator de risco significativo para sífilis congênita, visto que implica tratamento tardio ou falta de tratamento durante a gravidez. Reforça-se que a triagem, o diagnóstico e o tratamento oportuno da sífilis são fundamentais para a prevenção da sífilis congênita e seus resultados adversos na gravidez(11 Wang Y, Wu M, Gong X, Zhao L, Zhao J, Zhu C, et al. Risk Factors for congenital syphilis transmitted from mother to infant - Suzhou, China, 2011-2014. Morb Mortal Wkly Rep. 2019;68(10):247-50. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6810a4
https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6810a4...
).

Os casos de sífilis congênita podem ser evitados pela triagem e tratamento de gestantes de forma precoce, além de outra avaliação no início do terceiro trimestre para verificar infecções adquiridas durante a gravidez(3030 Rahman MM, Hoover A, Johnson C, Peterman T. Preventing congenital syphilis: opportunities identified by congenital syphilis case review boards. Sex Transm Dis. 2019;46(2):139-42. https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000000909
https://doi.org/10.1097/OLQ.000000000000...
). Dos artigos analisados, apenas um(2424 Kidd S, Bowen VB, Torrone EA, Bolan G. Use of National Syphilis Surveillance Data to Develop a Congenital Syphilis Prevention Cascade and Estimate the Number of Potential Congenital Syphilis Cases Averted. Sex Transm Dis. 2018;45(suppl 1):23-8. https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000000838
https://doi.org/10.1097/OLQ.000000000000...
) apontou como fator associado ao tratamento inadequado a falta de exames durante o pré-natal com menos de 30 dias antes do parto.

Referindo-se às variáveis maternas relacionadas aos casos de sífilis congênita, evidenciou-se a idade materna de 20 a 25 anos, predominância das mães com ensino fundamental incompleto, no auge da menacme e moradoras da zona urbana(3131 Guimarães MP, Rodrigues MS, Santana LF, Gomes OV, Silva KLS, Matos JVSG, et al. Dados alarmantes sobre a notificação de sífilis congênita em uma capital do Norte brasileiro: um estudo transversal. Medicina (Ribeirão Preto). 2020;53(4):398-404. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v53i4p398-404
https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262....
-3232 Lima VC, Mororó RM, Martins MA, Ribeiro SM, Linhares MSC. Perfil epidemiológico dos casos de sífilis congênita em um município de médio porte no nordeste brasileiro. J Health Biol Sci. 2017;5(1):56-61. https://doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v5i1.1012.p56-61.2017
https://doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v...
). Em contrapartida, estudo evidenciou que a quase totalidade dos casos de sífilis em gestantes teve uma boa adesão ao pré-natal (96,6%), mas, apesar disso, quase 40% das gestantes tiveram o diagnóstico durante o parto, e as que tiveram o diagnóstico durante o pré-natal, menos da metade, completaram o tratamento em menos de 30 dias antes do parto(3232 Lima VC, Mororó RM, Martins MA, Ribeiro SM, Linhares MSC. Perfil epidemiológico dos casos de sífilis congênita em um município de médio porte no nordeste brasileiro. J Health Biol Sci. 2017;5(1):56-61. https://doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v5i1.1012.p56-61.2017
https://doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v...
).

Em relação ao tratamento do parceiro, apenas dois artigos(1919 Brito ESV, Jesus SB, Silva MRF. Sífilis congênita como indicador de avaliação da assistência ao pré-natal no município de Olinda (PE), Brasil. Rev APS [Internet]. 2009 [cited 2021 Oct 07];12(1):62-71. Available from: https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/article/view/14199/7684
https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps...
,2323 Nunes JT, Marinho AV, Davim RMB, Silva GGO, Felix RSA, Martino MMF. Syphilis in gestation: perspectives and nurse conduct. Rev Enferm UFPE. 2017;11(12):4875-84. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a23573p4875-4884-2017
https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12...
) abordaram a baixa adesão do parceiro como fator associado ao tratamento inadequado da sífilis em gestante, considerando a definição de tratamento adequado trazida pelos artigos. No Brasil, apesar de a atual Nota Informativa nº 2 - SEI/2017 - DIAHV/SVS/MS(55 Ministério da Saúde (BR). Nota Informativa do Ministério da Saúde Nº 2 - SEI/2017. Altera os critérios de definição de casos para notificação de sífilis adquirida, sífilis em gestante e sífilis congênita [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [cited 2021 Sep 25]. Available from: https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/Sifilis-Ges/Nota_Informativa_Sifilis.pdf
https://portalsinan.saude.gov.br/images/...
) não considerar o tratamento da parceiro sexual da mãe para fins de definição de tratamento adequado e de caso de sífilis congênita, é essencial considerar que existe risco de reinfecção para gestante não tratadas concomitantemente ao parceiro.

Pesquisa realizada em Minas Gerais evidenciou que apenas 34,3% das gestantes e 19,8% dos parceiros que realizaram o tratamento para sífilis foram considerados adequadamente tratados. Ressalta-se que 176 (65,7%) das gestantes tiveram o tratamento inadequado ou não foram atendidas durante os exames do pré-natal. As pacientes com tratamento adequado apresentaram menores taxas de sífilis congênita, quando comparadas às que não foram tratadas(3333 Torres RG, Mendonça ALN, Montes GC, Manzan JJ, Ribeiro JU, Paschoini MC. Syphilis in pregnancy: the reality in a public hospital. Rev Bras Ginecol Obstet. 2019;41(2):90-6. https://doi.org/10.1055/s-0038-1676569
https://doi.org/10.1055/s-0038-1676569...
). Dados parecidos foram encontrados em estudo com dados secundários concretizado na cidade de Salvador, Bahia, onde 49,3% das gestantes não realizaram o tratamento adequadamente, apesar da realização do pré-natal e diagnóstico durante a gestação. O artigo traz também que 18,3% das gestantes tinham ensino fundamental incompleto e 39,6% dos parceiros não realizaram o tratamento(3434 Sena T, Pessoa TS, Brito EQ, Oliveira EM, Miranda FPM. Perfil epidemiológico da sífilis congênita em Salvador: 2007-2016. Enf Brasil. 2018;17(3):175-81. https://doi.org/10.33233/eb.v17i3.1240
https://doi.org/10.33233/eb.v17i3.1240...
).

Tais achados convergem com os artigos analisados nesta revisão, que encontraram, na maioria dos casos, altas taxas de tratamento inadequado entre as gestantes com sífilis, observando-se que problemas estruturais ainda persistem e limitam o combate da sífilis congênita, o que se revela um dado preocupante e que requer atenção durante o pré-natal pelos profissionais de saúde, a fim de identificar e minimizar os fatores que colaboram para esses resultados.

Limitações do estudo

Embora o objetivo proposto pelo estudo tenha sido alcançado, há algumas limitações. Os estudos agregados nesta revisão se referem a realidades e contextos culturais, sociais e econômicos diversos, que refletem em ações e políticas distintas, conforme identificado nas diferentes definições de tratamento inadequado evidenciadas, para além da variedade metodológica, o que dificultou a análise comparativa das publicações.

Esta revisão evidenciou que a maioria dos estudos tem como enfoque os fatores relacionados à prevalência de sífilis congênita em filhos de gestantes que não realizaram o tratamento ou o fizeram de forma inadequada. Entretanto, pode-se perceber que um número reduzido de artigos se debruça, de forma direta, específica e aprofundada, sobre os fatores associados ao tratamento inadequado da gestante, foco do nosso estudo, sendo esses, em sua maioria, abordados de forma isolada e pontual. Logo, torna-se necessária a ampliação de pesquisas nessa vertente nos diversos cenários nacionais e internacionais, que utilizem metodologias homogêneas e amostras representativas, a fim de alcançar maior grau de evidência e, assim, preencher tais lacunas encontradas na confecção deste estudo.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde e políticas públicas

Apesar dessas limitações, compilando e identificando os principais fatores relacionados ao tratamento inadequado, o estudo apresenta avanços para a área da saúde e da enfermagem, ao permitir colaborar para a construção de planos de melhorias para a assistência pré-natal, permitindo intervir diante da identificação de tais fatores na prática junto às famílias durante o pré-natal, garantindo, assim, o tratamento precoce da sífilis tanto na gestante quanto no parceiro, e, por conseguinte, prevenir a sífilis congênita. Por fim, espera-se que o presente estudo estimule novas investigações, com a finalidade de preencher as lacunas encontradas na confecção deste estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os achados apontaram como principais fatores associados ao tratamento inadequado da sífilis na gestação os aspectos clínicos da gestante, sociodemográficos, além de falhas na dispensação do medicamento, prescrição e acompanhamento do tratamento pelo sistema de saúde. Dentre esses, destacam-se a coinfecção (sífilis - HIV), o histórico de tratamento da doença anterior à gestação atual, a baixa escolaridade, renda e idade materna, e a baixa adesão do parceiro ao tratamento, além da falta temporária do medicamento, falhas na assistência de pré-natal (ausência ou atraso), incluindo atraso no recebimento da 1ª dose de penicilina, falta de exames ou tratamento realizado com menos de 30 dias antes do parto/aborto e falhas nas prescrições.

Deste modo, almejando reduzir os números, ainda altos, do tratamento inadequado de sífilis na gestação, com consequente redução da sífilis congênita e complicações relacionadas ao recém-nascido, é fundamental um pré-natal integral e de qualidade. Para tal, são necessárias políticas de melhoria dessa assistência, a fim de garantir, principalmente, a prevenção da doença, para além do diagnóstico e tratamento precoce da gestante e parceiro.

REFERENCES

  • 1
    Wang Y, Wu M, Gong X, Zhao L, Zhao J, Zhu C, et al. Risk Factors for congenital syphilis transmitted from mother to infant - Suzhou, China, 2011-2014. Morb Mortal Wkly Rep. 2019;68(10):247-50. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6810a4
    » https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6810a4
  • 2
    Conceição HN, Câmara JT, Pereira BM. Análise epidemiológica e espacial dos casos de sífilis gestacional e congênita. Saúde Debate 2019;43(123):1145-58. https://doi.org/10.1590/0103-1104201912313
    » https://doi.org/10.1590/0103-1104201912313
  • 3
    Soares LG, Zarpellon B, Soares LG, Baratieri T, Lentsck MH, Mazza VA. Gestational and congenital syphilis: maternal, neonatal characteristics and outcome of cases. Rev Bras Saude Mater Infant. 2017;17(4):791-9. https://doi.org/10.1590/1806-93042017000400010
    » https://doi.org/10.1590/1806-93042017000400010
  • 4
    Padovani C, Oliveira R, Pelloso SM. Syphilis in during pregnancy: association of maternal and perinatal characteristics in a region of southern Brazil. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3019. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2305.3019
    » https://doi.org/10.1590/1518-8345.2305.3019
  • 5
    Ministério da Saúde (BR). Nota Informativa do Ministério da Saúde Nº 2 - SEI/2017. Altera os critérios de definição de casos para notificação de sífilis adquirida, sífilis em gestante e sífilis congênita [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [cited 2021 Sep 25]. Available from: https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/Sifilis-Ges/Nota_Informativa_Sifilis.pdf
    » https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/Sifilis-Ges/Nota_Informativa_Sifilis.pdf
  • 6
    Korenromp EL, Rowley J, Alonso M, Mello MB, Wijesooriya NS, Mahiané SG, et al. Global burden of maternal and congenital syphilis and associated adverse birth outcomes - Estimates for 2016 and progress since 2012. PLoS One. 2019;14(2):e0211720. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0211720
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0211720
  • 7
    Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico Especial Secretaria de Vigilância em Saúde [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2020 [cited 2021 Oct 17]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/media/pdf/2020/outubro/29/BoletimSfilis2020especial.pdf
    » https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/media/pdf/2020/outubro/29/BoletimSfilis2020especial.pdf
  • 8
    World Health Organization (WHO). Global health sector strategy on sexually transmitted infections 2016-2021 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2016 [cited 2022 Mar 07]. Available from: http://www.who.int/reproductivehealth/publications/rtis/ghss-stis/en/
    » http://www.who.int/reproductivehealth/publications/rtis/ghss-stis/en/
  • 9
    Pan American Health Organization (PAHO). New Generations Free of HIV, Syphilis, Hepatitis B and Chagas Disease in the Americas 2018. EMTCT Plus [Internet]. Washington, D.C: PAHO; 2019 [cited 2022 Mar 07]. Available from: https://www.paho.org/en/documents/new-generations-free-hiv-syphilis-hepatitis-b-and-chagas-disease-americas-emtct-plus-2018
    » https://www.paho.org/en/documents/new-generations-free-hiv-syphilis-hepatitis-b-and-chagas-disease-americas-emtct-plus-2018
  • 10
    Prefeitura Municipal de Boa Vista da Aparecida. Boa Vista recebe Certificado de Eliminação da Transmissão Vertical da Sífilis Congênita [Internet]. 2021 [cited 2022 Mar 07]. Available from: https://www.boavistadaaparecida.pr.gov.br/noticias/saude/boa-vista-recebe-certificado-de-eliminacao-da-transmissao-vertical-da-sifilis-congenita
    » https://www.boavistadaaparecida.pr.gov.br/noticias/saude/boa-vista-recebe-certificado-de-eliminacao-da-transmissao-vertical-da-sifilis-congenita
  • 11
    Ministério da Saúde (BR). Departamento de doenças crônicas e infecções sexualmente transmissíveis. Ministério da Saúde lança Campanha Nacional de Combate às Sífilis Adquirida e Congênita em 2021 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2021 [cited 2022 Mar 07]. Available from: http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/ministerio-da-saude-lanca-campanha-nacional-de-combate-sifilis-adquirida-e-congenita-em
    » http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/ministerio-da-saude-lanca-campanha-nacional-de-combate-sifilis-adquirida-e-congenita-em
  • 12
    Ganong LH. Integrative reviews of nursing research. Res Nurs Health. 1987;10(1):1-11. https://doi.org/10.1002/nur.4770100103
    » https://doi.org/10.1002/nur.4770100103
  • 13
    Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, Prisma Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. Ann Intern Medic. 2009;151(4):264-9. https://doi.org/10.7326/0003-4819-151-4-200908180-00135
    » https://doi.org/10.7326/0003-4819-151-4-200908180-00135
  • 14
    Ouzzani M, Hammady H, Fedorowicz Z, Elmagarmid A. Rayyan-a web and mobile app for systematic reviews. Syst Rev. 2016;5(1):210. https://doi.org/10.1186/s13643-016-0384-4
    » https://doi.org/10.1186/s13643-016-0384-4
  • 15
    Ursi ES, Galvão CM. Prevenção de lesões de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. Rev Latino-Am Enfermagem. 2006;14(1):124-31. https://doi.org/10.1590/S0104-116920060001.00017
    » https://doi.org/10.1590/S0104-116920060001.00017
  • 16
    Melnyk B, Fineout-Overholt E. Evidence-based practice in nursing & healthcare: a guide to best practice. 4th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2019
  • 17
    Rotchfor K, Lombard C, Zuma KK. Impact on perinatal mortality of missed opportunities to treat maternal syphilis in rural South Africa: baseline results from a clinic randomized controlled trial. Trop Med Int Health. 2000;5(11):800-4. https://doi.org/10.1046/j.1365-3156.2000.00636.x
    » https://doi.org/10.1046/j.1365-3156.2000.00636.x
  • 18
    Mullick S, Beksinksa M., Msomi S. Treatment for syphilis in antenatal care: compliance with the three doses standard treatment regimen. Sexually Transmitted Infections. Sex Transm Infect. 2005;(3):220-2. https://doi.org/10.1136/sti.2004.011999
    » https://doi.org/10.1136/sti.2004.011999
  • 19
    Brito ESV, Jesus SB, Silva MRF. Sífilis congênita como indicador de avaliação da assistência ao pré-natal no município de Olinda (PE), Brasil. Rev APS [Internet]. 2009 [cited 2021 Oct 07];12(1):62-71. Available from: https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/article/view/14199/7684
    » https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/article/view/14199/7684
  • 20
    Zhu L, Qin M, Du L, Xie R, Wong T, Wern SW. Maternal and congenital syphilis in Shanghai, China, 2002 to 2006. Int J Infect Dis. 2010;14(3):45-8. https://doi.org/10.1016/j.ijid.2009.09.009
    » https://doi.org/10.1016/j.ijid.2009.09.009
  • 21
    Silva-Chávarro AM, Bois-Melli F. Factors associated with failure in the diagnosis and treatment of maternal syphilis. Study of cases and controls. Rev Mex Pediatr [Internet]. 2017 [cited 2021 Oct 07];84(2):54-60. Available from: https://www.medigraphic.com/pdfs/pediat/sp-2017/sp172c.pdf
    » https://www.medigraphic.com/pdfs/pediat/sp-2017/sp172c.pdf
  • 22
    Hong FC, Wu XB, Yang F, Lan LN, Guan Y, Zhang CL, et al. Risk of Congenital Syphilis (CS) Following Treatment of Maternal Syphilis: Results of a CS Control Program in China. Clin Infect Dis. 2017;65(4):588-94. https://doi.org/10.1093/cid/cix371
    » https://doi.org/10.1093/cid/cix371
  • 23
    Nunes JT, Marinho AV, Davim RMB, Silva GGO, Felix RSA, Martino MMF. Syphilis in gestation: perspectives and nurse conduct. Rev Enferm UFPE. 2017;11(12):4875-84. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a23573p4875-4884-2017
    » https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a23573p4875-4884-2017
  • 24
    Kidd S, Bowen VB, Torrone EA, Bolan G. Use of National Syphilis Surveillance Data to Develop a Congenital Syphilis Prevention Cascade and Estimate the Number of Potential Congenital Syphilis Cases Averted. Sex Transm Dis. 2018;45(suppl 1):23-8. https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000000838
    » https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000000838
  • 25
    Anugulruengkitt S, Yodkitudomying C, Sirisabya A, Chitsinchayakul T, Jantarabenjakul W, Chaithongwongwatthana S, et al. Gaps in the elimination of congenital syphilis in a tertiary care center in Thailand. Pediatr Int. 2020;62(3):330-6. https://doi.org/10.1111/ped.14132
    » https://doi.org/10.1111/ped.14132
  • 26
    Nonato SM, Melo APS, Guimarães MDC. Syphilis in pregnancy and factors associated with congenital syphilis in Belo Horizonte-MG, Brazil, 2010-2013. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(4):681-94. https://doi.org/10.5123/S1679-49742015000400010
    » https://doi.org/10.5123/S1679-49742015000400010
  • 27
    Domingues RMSM, Leal MC. Incidência de sífilis congênita e fatores associados à transmissão vertical da sífilis: dados do estudo Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2016;32(6):e00082415. https://doi.org/10.1590/0102-311X00082415
    » https://doi.org/10.1590/0102-311X00082415
  • 28
    Silva AM, Bois F, Duro E. Factores asociados con falla en el diagnostico y tratamiento de sifilis materna. Med Infant [Internet]. 2016 [cited 2021 Dec 101];23(4):293-8. Available from: https://www.medicinainfantil.org.ar/images/stories/volumen/2016/xxiii_4_293.pdf
    » https://www.medicinainfantil.org.ar/images/stories/volumen/2016/xxiii_4_293.pdf
  • 29
    Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico, número especial. Doença pelo Novo Coronavírus - COVID-19 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2021 [cited 2021 Dec 08]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/novembro/19/boletim_epidemiologico_covid_89_23nov21_fig37nv.pdf
    » https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/novembro/19/boletim_epidemiologico_covid_89_23nov21_fig37nv.pdf
  • 30
    Rahman MM, Hoover A, Johnson C, Peterman T. Preventing congenital syphilis: opportunities identified by congenital syphilis case review boards. Sex Transm Dis. 2019;46(2):139-42. https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000000909
    » https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000000909
  • 31
    Guimarães MP, Rodrigues MS, Santana LF, Gomes OV, Silva KLS, Matos JVSG, et al. Dados alarmantes sobre a notificação de sífilis congênita em uma capital do Norte brasileiro: um estudo transversal. Medicina (Ribeirão Preto). 2020;53(4):398-404. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v53i4p398-404
    » https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v53i4p398-404
  • 32
    Lima VC, Mororó RM, Martins MA, Ribeiro SM, Linhares MSC. Perfil epidemiológico dos casos de sífilis congênita em um município de médio porte no nordeste brasileiro. J Health Biol Sci. 2017;5(1):56-61. https://doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v5i1.1012.p56-61.2017
    » https://doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v5i1.1012.p56-61.2017
  • 33
    Torres RG, Mendonça ALN, Montes GC, Manzan JJ, Ribeiro JU, Paschoini MC. Syphilis in pregnancy: the reality in a public hospital. Rev Bras Ginecol Obstet. 2019;41(2):90-6. https://doi.org/10.1055/s-0038-1676569
    » https://doi.org/10.1055/s-0038-1676569
  • 34
    Sena T, Pessoa TS, Brito EQ, Oliveira EM, Miranda FPM. Perfil epidemiológico da sífilis congênita em Salvador: 2007-2016. Enf Brasil. 2018;17(3):175-81. https://doi.org/10.33233/eb.v17i3.1240
    » https://doi.org/10.33233/eb.v17i3.1240

Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Priscilla Valladares Broca

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Set 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2022
  • Aceito
    12 Abr 2022
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br