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Perfil da pesquisa de enfermagem em terapia intensiva no Brasil

Critical care nursing research's profile in Brazil

Resumos

Perfil da pesquisa de enfermagem em terapia intensiva. no Brasil Trata-se de uma análise das pesquisas que vem, sendo produzidas e publicadas nesta área , bem como, do perfil evolutivo da pesquisa em enfermagem no Brasil, enfocando o produtor da pesquisa, o produto pesquisa e o consumidor deste produto.

Enfermagem em terapia intensiva; Pesquisa de enfermagem


This is an analyses about critical care nursing research production and publication, as well as, the nursing research's profile in Brazil focusing the research producer, the research product and the customer of this product.

Critical care nursing; Nursing research


ARTIGOS ORIGINAIS

Perfil da pesquisa de enfermagem em terapia intensiva no Brasil* * Conferência proferida na V Jornada Sul Brasileira de Terapia Intensiva, Florianópolis (SC), outubro de 1996w

Critical care nursing research's profile in Brazil

Maria Sumie Koizumi

Professor Titular da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Pesquisador CNPq. Responsável pelo GENT - Grupo de Estudos em Neurotrauma - epidemiologia e assistência

RESUMO

Perfil da pesquisa de enfermagem em terapia intensiva. no Brasil Trata-se de uma análise das pesquisas que vem, sendo produzidas e publicadas nesta área , bem como, do perfil evolutivo da pesquisa em enfermagem no Brasil, enfocando o produtor da pesquisa, o produto pesquisa e o consumidor deste produto.

Unitermos: Enfermagem em terapia intensiva. Pesquisa de enfermagem.

ABSTRACT

This is an analyses about critical care nursing research production and publication, as well as, the nursing research's profile in Brazil focusing the research producer, the research product and the customer of this product.

Unitermos: Critical care nursing. Nursing research.

1 Considerações iniciais

A pesquisa em enfermagem tem ainda um grande desafio a superar e este desafio abrange a enfermagem, em geral, bem como, a enfermagem em terapia intensiva, enquanto especialidade e enquanto uma área de assistência cuja complexidade e avanços exigem bases cada vez mais bem fundamentadas. Além disso, nunca é demais enfatizar que a assistência de enfermagem deve estar fundamentada nos conhecimentos gerados pelos resultados das pesquisas.

Penso que estamos ainda numa fase de transição, explorando as bases para consolidação do conhecimento específico de enfermagem enquanto disciplina que se situa entre as áreas biológica e humanas; buscando adequação de métodos para geração deste conhecimento; procurando caminhos para a verticalização o conhecimento que vem sendo gerado.

Paralelamente a transição encontra-se também presente naquele que se prepara para ser um pesquisador e no grande contingente de enfermeiros que precisa estar preparado e motivado para envolver-se nas atividades de pesquisa. Sob esta ótica, nesta análise, procurei olhar para o enfermeiro de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ressaltando a importância dele estar se envolvendo nas atividades de pesquisa desde o curso de graduação, a fim de visualizar este produto - PESQUISA- seja como futuro produtor como também um consumidor conscientemente preparado. Sobre seu papel fundamental como aquele capaz de identificar as reais necessidades dos tópicos a pesquisar na UTI, bem como , o preparo necessário para consumir este produto - PESQUISA - seja como um consumidor capaz de implementar os resultados da pesquisa na sua prática diária, seja como um produtor de conhecimentos, capaz de desenvolver seus próprios projetos de pesquisa.

Buscando ser objetiva, inicialmente procurei localizar o estado da pesquisa de enfermagem na UTI, no Brasil e nos EUA, ao longo das duas últimas décadas e a seguir, traçar um perfil evolutivo da pesquisa em enfermagem no Brasil, enfocando o PRODUTOR da pesquisa, o PRODUTO pesquisa e o CONSUMIDOR deste produto. Ao pontuar o que acredito como desafios da pesquisa de enfermagem no Brasil, incluí as pesquisas de enfermagem em terapia intensiva, suas tendências e perspectivas. Coloco ainda para discussão ou pelo menos para reflexão, o que julgo possa ser útil para agilizar o desenvolvimento da pesquisa de enfermagem na UTI e principalmente, como ter um produto que esteja em consonância com os anseios de seu principal consumidor - o enfermeiro de UTI - e que este consumidor, possa ver este produto como algo desejável e com resultados passíveis de serem implementados na assistência que delibera no seu cotidiano.

2 Situação das pesquisas de enfermagem em terapia intensiva

Qual a situação da pesquisa de enfermagem em terapia intensiva nas últimas duas décadas? Em primeiro lugar, devo esclarecer que a demarcação a partir da década de 70 tem uma razão. específica. Os cursos de mestrado em enfermagem foram implantados, no Brasil, a partir de 1972 e as primeiras produções datam de 75 quando foram formados os primeiros mestres em enfermagem. Daí a demarcação da década de 70 para analisar a produção científica já que a pesquisa, tomou impulso com o advento da pós-graduação senso estrito, ou seja, mestrado e doutorado, como detalharemos mais adiante.

À partir de uma investigação retrospectiva sobre a produção de pesquisas em Enfermagem Médico-cirúrgica, comparando pesquisas nacionais e estrangeiras publicadas em três periódicos (Revista Brasileira de Enfermagem, "Nursing Research" e "Heart & Lung") abrangendo o período de 1975 a 1984, detectamos que no Brasil, o crescimento quantitativo era ainda incipiente. Havia predomínio das pesquisas descritivas e referentes à área assistencial, particularmente com enfoque no aspecto biológico. No estrangeiro, verificamos crescimento quantitativo e predomínio das pesquisas descritivas, seguidas das explicativas. A área mais frequentemente pesquisada foi também a assistencial, com enfoque no aspecto biológico (6).

Utilizando a mesma base de dados, em uma publicação de 1986, apresentamos uma análise comparativa do conteúdo das pesquisas de enfermagem brasileiras e americanas, em terapia intensiva e nas demais unidades médico-cirúrgicas(7). É importante lembrar que, o periódico nacional escolhido foi a Revista Brasileira de Enfermagem, por ser a publicação de maior tradição e penetração em todo o País, por conter autores de diferentes regiões brasileiras e por abranger todas as áreas de conhecimento da enfermagem. Quanto aos periódicos estrangeiros, optamos por "Nursing. Research" e "Heart & Lung" porque estavam entre as revistas que mais publicavam pesquisas , sendo a última específica de enfermagem médico-cirúrgica, com destaque para as de UTI. A escolha do período de análise , como já dissemos foi devido relação com a implantação da pós-graduação senso estrito, no Brasil. Ao comparar a nossa produção com as do EUA, no mesmo período, tínhamos como objetivo ter uma visão da produção entre esses dois países, que se encontravam em diferentes momentos de desenvolvimento de pesquisas.

Os aspectos analisados incluíram o tipo de pesquisa, o nível de profundidade, a metodologia usada e a matéria pesquisada. De modo geral, verificamos crescimento quantitativo de pesquisas nesta especialidade, tanto das descritivas como das experimentais. Ao mesmo tempo detectamos carência de estudos de replicação e de continuidade. Em relação à produção de pesquisa em UTI, no Brasil, ela foi praticamente inexistente (7).

Mais recentemente, PADILHA et al (12) analisaram a produção científica em terapia intensiva, na década imediatamente subsequente àquela, ou seja, de 1985 a 1994. Os dados foram obtidos de 11 períodicos nacionais de enfermagem: Revista da Escola de Enfermagem da USP, Revista Brasileira de Enfermagem, Revista Gaúcha de Enfermagem, Revista Paulista de Enfermagem, Revista Baiana de Enfermagem, Revista Enfoque, Acta Paulista de Enfermagem, Enfermagem Científica, Revista Latino-Americana de Enfermagem, Texto e Contexto, Enfermagem Revista. Foram identificadas 1660 publicações científicas e destas, 45 (2,7% ) eram de terapia intensiva, ou seja ainda uma produção muito baixa.

Os periódicos em que houve maior número de publicações foram os da Revista de Escola de Enfermagem da USP e Revista Paulista de Enfermagem.

Como pode-se observar, embora quantitativamente a produção científica continue muito baixa, a pesquisa predominou sobre as demais formas de publicação e os principais tópicos abordados foram: necessidades e problemas do paciente, metodologia de assistência e ensino-aprendizagem.

Em relação à análise das pesquisas de enfermagem em terapia intensiva, a mais recente publicação recuperada foi a de 1991, realizada por VanCott et al.(13). O objetivo do estudo foi analisar as pesquisas publicadas em revistas especializadas com reconhecida arbitragem, no período de 1979 a 1988, a fim de identificar o método de construção do conhecimento e os resultados das pesquisas em terapia intensiva.

Os periódicos examinados e o total de pesquisas em cada um deles foram: Heart & Lung (112), Nursing Research (10), Western Journal of Nursing Research (4), Jornal of Advanced Nursing (3) e Research in Nursing and Health (1), totalizando 129 artigos. Destes, 62 (48%) foram classificadas como de levantamento e 67(57%) como orientado para intervenção

Considerando que trata-se de uma análise de 10 anos e rastreamento de publicações em 11 revistas, julgo que ter identificado 129 artigos, ou seja, 1,2 artigos/ano é bastante baixo. Verifica-se ainda que a grande maioria das publicações desta especialidade encontra-se no seu periódico de maior prestígio, ou seja, o "Heart & Lung".

Nos tópicos abordados, a variação foi grande, sendo que o predominante (41,5%) foram as pesquisas isoladas ou estudos únicos, assim denominados pelas autoras (13) visto que, não estavam enquadradas nos tópicos prioritários de investigação em terapia intensiva, conforme orientação da Associação Americana de Enfermeiros de Terapia Intensiva (9).

Na autoria das pesquisas observaram melhoria no preparo educacional e aumento daqueles com doutorado. Em relação aos resultados, eles estavam apresentados de forma clara e apropriada mas, os problemas relacionados com amostras pequenas continuaram presentes. A base teórica predominante foi a fisiológica, como já esperado devido tipo de cuidado e de paciente. Naqueles que abordaram o aspecto psicossocial, a área primária de interesse foi o ensino-aprendizagem de pacientes e familiares. O estresse experienciado por familiares e suas necessidades foram os aspectos psicológicos mais investigados.

De uma forma geral, as autoras concluiram que houve aumento significativo nas publicações de pesquisas para melhoria da prática da enfermagem em terapia intensiva e que isto era indicativo de interesse do enfermeiro em fundamentar sua prática nos resultados das investigações.

Por que a produção de pesquisa em UTI continua tão baixa? Embora esta não seja uma condição isolada ou específica da enfermagem em terapia intensiva, certamente trata-se de um tema que merece ser melhor analisado.

3 Produção de pesquisas versus publicação de pesquisas de enfermagem

Como estará a publicação de pesquisas pelos enfermeiros, sejam eles de universidades ou área assistencial?

Numa publicação de 1995, HICKS (4) com base em evidências disponíveis sugestivas de que na Grã-Bretanha o número de pesquisas de enfermagem publicadas é deficitário, procurou esclarecer como está a produção e por conseguinte, a publicação. Utilizando um questionário enviado a 500 enfermeiros, amostrados casualmente, ela obteve retorno de 230 questionários ou o equivalente a 46% de retorno. Os resultados sugerem que o déficit na publicação deve-se mais à relutância dos autores em submeter suas pesquisas para publicação do que baixa realização de pesquisa. É importante ressaltar que os enfermeiros ingleses demonstram também uma atitude positiva com relação a pesquisa em enfermagem e estão conscientes da necessidade de pesquisa.

Embora os resultados desta pesquisa não possam ser generalizados para os enfermeiros ingleses, como mencionado pela própria autora, alguns aspectos merecem ser apontados para reflexão.

Dos 230 respondentes, 161 (71%) informaram ter produzido pesquisas, sendo que a maioria, 98 (61%) a conduziu individualmente. Dos 161 enfermeiros que produziram pesquisa, 94 (58%) redigiram a pesquisa e somente 16(10%) enviaram para publicação. Destes, 14 foram aceitos para publicação e somente 8, foram publicados em periódicos.

Dos que produziram pesquisas mas não as redigiram, 66 justificaram a não confecção como insegurança na metodologia, falta de confiança em si mesmo, falta de tempo, falta de motivação ou por ter achado inútil.

Esta é apenas uma amostra da disponibilidade de pesquisas em enfermagem que são publicadas. Mas, este quadro parece não diferir muito de pais para país, com raras exceções. Possivelmente, ainda não se atingiu na enfermagem o tempo de amadurecimento necessário e produção quantificável para colocá-lo mais amplamente disponível para a comunidade.

A pesquisa em enfermagem tem ainda um longo caminho a percorrer no tocante ao seu desenvolvimento e um desafio maior a superar como bem afirma SHEILAN,citada por BIRCUMSHAW (2) - "Aplicar os resultados da pesquisa na prática assistencial é talvez o maior desafio da pesquisa em enfermagem".

O quanto próximos ou distantes estamos desta realidade dada a formação profissional do enfermeiro vigente no Brasil? Quando e como o enfermeiro passou a fazer pesquisa? Como ele se instrumentalizou para produzir pesquisa? Como ele desenvolve o processo de aprendizagem de pesquisa e que mecanismos de retro-alimentação ele vem usando?

A década de 70 marcou o início do desenvolvimento da pesquisa pela enfermagem e esteve estreitamente ligada com a reestruturação da pós-graduação no Brasil que introduziu os programas de mestrado e de doutorado, visando a formação do pesquisador. Muitas disciplinas e dentre elas, a enfermagem, ao entrar nesta reestruturação aceitaram o desafio de formar pesquisadores na sua área específica.

Na implantação dos primeiros cursos de Mestrado em Enfermagem no Brasil, na década de 70, houve preponderância do modelo biomédico de pesquisa adotado em programas similares, nos países desenvolvidos, particularmente nos EUA, onde o mestrado já se encontrava em desenvolvimento há uma década. Assim, no início, grande ênfase foi dada aos métodos quantitativos de pesquisa, seja no ensino do processo de pesquisar, seja na produção das dissertações de mestrado.

Todavia, a insatisfação decorrente do uso quase exclusivo do método quantitativo, o qual não respondia às expectativas do pesquisador enfermeiro no que tange aos problemas a pesquisar, motivou a busca de métodos que pudessem responder satisfatoriamente a essas questões. Assim, os métodos qualitativos passaram também a compor o cenário da pesquisa em enfermagem.

A incorporação dos métodos qualitativos de pesquisa na pós-graduação no Brasil, data da década de 80 quando os cursos de doutorado começaram a ser implantados.

Como nos demais países em que houve a transição no uso de métodos quantitativos de pesquisa para os qualitativos, até a adequação na escolha do método como instrumento de pesquisa, o confronto dos métodos ocasionou anos de debate insatisfatório no concernente ao mérito relativo das duas alternativas de abordagem.

É também importante enfatizar que há consenso entre os pesquisadores sobre a complementaridade dos métodos quantitativos e qualitativos, pois geram diferentes tipos de conhecimentos úteis para a prática da enfermagem; sobretudo ressaltam que o problema a ser estudado é que determina qual o método a ser utilizado naquela investigação.

Duas décadas se passaram e há entre os enfermeiros, conscientização sobre o papel central da pesquisa na sustentação e direção da assistência de enfermagem. Os cursos de enfermagem tem sido reestruturados para alcançar um maior conteúdo acadêmico pautado na pesquisa. Novos módulos disciplinares foram introduzidos e embora variem em nível e conteúdo versam sobre metodologia de pesquisa, análise crítica das pesquisas e exercícios de elaboração de projetos de pesquisas. Os cursos de graduação e os de pós-graduação senso lato frequentemente tem incluído projetos de pesquisa ou monografias desenvolvidas pelos próprios alunos. Ao término do mestrado e do doutorado, a apresentação da dissertação ou tese é mandatória.

Entretanto, como bem afirma MUNHALL (11) a pesquisa em enfermagem ainda é um empreendimento de pequeno porte e a maior parte do que é produzido está concentrada nas universidades e em unidades de pesquisa. O foco da pesquisa, repousando nas instituições de ensino superior, cria implicações específicas para uma disciplina como a enfermagem cujos docentes desenvolvem suas atividades de docência e de pesquisa, de certa forma pouco vinculada a assistência direta ao paciente. É interessante apontar que tal situação ocorre também de forma semelhante no nosso meio.

Qual o destino deste produto - PESQUISA EM ENFERMAGEM, dada as características predominantes do seu produtor? Um produto a ser consumido só pelos pesquisadores de enfermagem? Estaria a pesquisa em enfermagem mais frequentemente vista como uma busca acadêmica cuja relevância para a assistência em enfermagem é algo nebuloso?

Por outro lado, estariam os enfermeiros em geral, aptos para consumir este produto - PESQUISA EM ENFERMAGEM? O estudante de enfermagem está sendo preparado para consumir este produto?Acredita-se que nos cursos de graduação, na última década e particularmente nas universidades com programas de pós-graduação, as atividades de pesquisa vem sendo incorporadas como parte de um cotidiano. E aqueles que não vivenciaram este processo? Como estão sendo preparados para consumir ou produzir pesquisa, se for assumido que ele deve ser a base que fundamenta a assistência de enfermagem?

Embora haja estreita interrelação entre o produtor da pesquisa, a pesquisa em si como produto e o consumidor da pesquisa, com a finalidade de tornar a apresentação objetiva, cada um destes segmentos serão analisados destacadamente.

4 Quem produz pesquisas em enfermagem?

No Brasil, desde a implantação da pós-graduação senso estrito, o produto - PESQUISA EM ENFERMAGEM mais frequente, tem sido e provavelmente ainda é, as dissertações ou as teses.

Isto tem criado, no mínimo, uma situação peculiar no tocante ao produtor da pesquisa e consequentemente, no produto que é gerado no interior da universidade. É preciso ressaltar que a pesquisa em enfermagem no Brasil tem somente duas décadas de desenvolvimento. Assim, mesmo no interior das universidades onde este processo de aprendizagem tem lugar, estamos em fase de transição enquanto mudança comportamental e aquisição de uma cultura de pesquisa. Pouco a pouco o estudante de graduação em enfermagem vem sendo introduzido nas atividades de pesquisa, principalmente na forma de bolsistas de iniciação científica. Aquí quero lembrar que, diferente das faculdades e escolas isoladas, a Universidade é responsável não só pela transmissão do conhecimento mas, principalmente pela geração do conhecimento. E a pesquisa é a base para geração do conhecimento daquela disciplina.

Voltando ao tópico, quem é o produtor da pesquisa, a realidade atual mostra que ele é o aluno dos cursos de mestrado ou doutorado que, por sua vez, em geral, é ao mesmo tempo um docente de enfermagem de uma universidade, desenvolvendo-se na carreira docente universitária. A pesquisa daí decorrente é primordialmente um trabalho acadêmico, produzido durante o processo de formação do pesquisador. Qual a compatibilidade entre as exigências da formação acadêmica e as necessidades do campo de origem deste docente, nesta fase de aprendizado?

Completada a própria formação de pesquisador, com a obtenção do grau de doutor, este docente passa a desempenhar o papel de formador de novos pesquisadores, principalmente atuando nos cursos de pós-graduação do seu local de origem. Novamente, na condição de orientador passa a produzir pesquisas cuja finalidade precípua é a formação acadêmica. Quanto e o que este docente produz além do decorrente desta atividade de orientação?

Resguardado o fato de que esta é uma situação esperada se considerado o contexto e o pouco tempo decorrido desde a implantação da pós-graduação, a questão principal reside não propriamente no quanto ele está produzindo mas, o que ele está produzindo e qual a repercussão desta produção na assistência de enfermagem. Além disto, o como este produto é colocado à disposição da comunidade para ser consumido, é a outra questão que abordarei um pouco mais adiante.

Se no interior das universidades as teses e as dissertações são os produtos predominantes, o que tem sido produzido fora da universidade? Como os enfermeiros assistenciais encaram esta responsabilidade de produzir pesquisas?

Segundo MARTIN (10) para sustentar as atividades de produção de pesquisa no próprio campo, é necessário haver um engajamento da organização para com a pesquisa. A organização deve ser capaz de expressar claramente a presença de uma cultura de pesquisa, ter um clima organizacional voltado para a pesquisa e ter nos seus quadros, enfermeiros com perfil para desenvolver pesquisa. Os recursos para a sua execução são imprescendíveis. Nos recursos humanos, certamente precisa contar com enfermeiros que tenham preparo para produzir pesquisa e ser completada por um clima organizacional propício e com suporte político, de recursos materiais e de desenvolvimento de atividades de pesquisa. Toda essa mensagem tem que ser claramente veiculada pelo enfermeiro na função executiva e ser lida claramente pelo enfermeiro na função assistencial.

Os recursos humanos qualificados para desenvolvimento das atividades de pesquisa no próprio campo clínico, poderiam ficar centralizadas junto à educação continuada, de tal forma que no treinamento e na atualização da equipe de enfermeiros elas estivessem incorporadas, incluindo a facilitação para produção de pesquisa.

Considerando o aspecto formal da educação, o aumento gradativo que vem ocorrendo de enfermeiros assistenciais em cursos de mestrado, em nosso meio, é um fato promissor que poderia ser bem trabalhado para otimizar o desenvolvimento das atividades de pesquisa no campo. Este profissional certamente seria melhor aproveitado se desempenhasse atividades de pesquisa como enfermeiros de educação continuada com função ampliada também para a pesquisa ou como enfermeiro pesquisador, função esta ainda incipiente na nossa realidade.

Ainda com relação à formação do enfermeiro, os cursos de especialização tem um papel fundamental na estimulação das atividades de pesquisa no campo. Para MARTIN (10) uma massa crítica de enfermeiros especialistas é necessária para sustentar uma equipe de enfermeiros que integrem atividades de pesquisa nas suas funções assistenciais. Nos seus estudos ela constatou a presença de enfermeiros pesquisadores e enfermeiros clínicos especialistas. É importante ressaltar que ela encontrou instituições com enfermeiros clínicos especialistas sem enfermeiro pesquisador mas, nunca o contrário foi constatado.

Consideradas as diferenças de realidades, acredita-se que a inclusão da metodologia de pesquisa nos cursos de especialização tem propiciado maior interesse nos enfermeiros para desenvolver pesquisa no campo e que ela deve continuar a ser aprimorada, de forma tal que o enfermeiro especialista seja preparado para incorporar as atividades de pesquisa no seu desempenho em campo.

De certa forma, no aspecto QUEM PRODUZ PESQUISA há consenso ditado até mesmo pela evolução histórica semelhante em vários países. O que causa maior preocupação é, porém a pouca disponibilidade do PRODUTO - PESQUISA EM ENFERMAGEM para a comunidade.

5. Qual a disponibilidade do produto-pesquisa em enfermagem?

Espera-se que a pesquisa seja veiculada não apenas por comunicações orais em diferentes eventos científicos, cuja abrangência é sempre limitada ao seu grupo de participantes. Espera-se que documentada ela ultrapasse os limites territoriais de onde foi produzida e se perpetue com relação ao tempo. Nesse sentido, a publicação em periódicos indexados, tem sido o meio mais utilizado e o mais acessado por aqueles que transitam na área de pesquisa.

Ora, se a produção de pesquisa pode se dar tanto na academia como no próprio campo assistencial, onde e como o enfermeiro pode acessá-la?

No Brasil, o PRODUTO - PESQUISA EM ENFERMAGEM mais abundante, como já mencionado, é o oriundo dos cursos de pós-graduação senso estrito e portanto no formato de dissertações e de teses. Esse tipo de produção é amplamente acessado pelos estudantes através dos bancos de teses e dissertações. Embora o número de exemplares colocados pelo autor seja muito restrito, o que é normal nesse tipo de publicação, a instituição do banco de teses e a autorização do autor para sua duplicação, tem possibilitado não apenas o acesso mas a obtenção de cópias completas e consequentemente, sua utilização no meio acadêmico é bastante grande.

Entretanto, seria desejável que os autores das teses e das dissertações as publicassem em periódicos específicos e assim colocassem os resultados de suas pesquisas para serem consumidas pelos enfermeiros em todas as áreas de atuação. A distância lacunar existente entre a quantidade de teses produzidas e de trabalhos de pesquisas publicadas em periódicos é facilmente visível.

Sem entrar no mérito do porque desta ocorrência já que demandaria numa outra análise que não é objeto desta apresentação, a questão que se impõe é: - como consumir algo cuja disponibilidade é restrita ou que não se encontra operacionalizada para um consumo mais abrangente?

Como disse anteriormente, a disponibilidade do PRODUTO - PESQUISA, especificamente em terapia intensiva, no Brasil, é muito pequena. Estreitamente a ela interrelacionada está a questão do seu PRODUTOR e do seu CONSUMIDOR. Diagnosticar uma situação não é difícil. Fórmulas mágicas para solucionar os problemas detectados é uma utopia. O que poderia ser feito no sentido de caminhar para um desenvolvimento efetivo?

Penso que o diagnóstico de uma situação e a busca de meios para sua resolução deve partir da categoria, neste caso os enfermeiros especialistas em terapia intensiva. Se nesta escala a complexidade é muito grande, que seja a nível regional ou estadual ou municipal ou ainda, pelo menos pelos enfermeiros de UTI daquela instituição. Que recursos ou estratégias utilizar?

Publicações sobre análise de pesquisas de enfermagem em terapia intensiva, da década de 70 e início de 80, só foram identificadas em periódicos estrangeiros. Julgo que a mais importante delas e que serviu durante muitos anos como guia para desenvolvimento de pesquisas em UTI, nos EUA, foi a realizada em 1981, pelo Comitê de Pesquisa da Associação Americana de Enfermeiros de Terapia Intensiva (9). 0 objetivo foi identificar as prioridades de pesquisa em UTI e para a coleta de dados, foi utilizada a técnica de Delphi.

Da análise de 774 tópicos apontados como de assistência ao paciente crítico e que poderiam ser solucionadas ou respondidas por meio da pesquisa em enfermagem, foram identificadas as 15 áreas prioritárias, descritas a seguir.

1.Padrões de sono do paciente critico.

2.Medidas para impedir ou diminuir a rotatividade do enfermeiro de terapia intensiva.

3.Programas de orientação de enfermeiros.

4.Efeitos dos estímulos externos sobre a pressão intracraniana.

5.Desmame de pacientes em ventilação mecânica.

6.Sistema de classificação de pacientes.

7.Incentivos para manutenção de enfermeiros na UTIs.

8.Formas de diminuição do estresse da equipe de enfermagem.

9.Avaliação das intervenções de enfermagem em pacientes com problemas de comunicação, para minimizar a ansiedade, insegurança e dor.

10.Posição do paciente e seus efeitos sobre as condições cardiovasculares e pulmonares.

11.Tipo de escalas de pessoal para reduzir a rotatividade e prover continuidade do cuidado ao paciente

12.Medidas para prevenir infecção em pacientes com procedimentos invasivos.

13.Técnica de aspiração em pacientes sob ventilação mecânica.

14.Incentivos para incorporação da pesquisa na prática da enfermagem.

15.Medidas para avaliar e atenuar a dor no paciente crítico.

É interessante assinalar que 7 destas áreas prioritárias estavam centradas no enfermeiro e apontavam os problemas que preocupavam os profissionais que trabalhavam nas UTIs. Além destas, como já esperado, foram as pesquisas clínicas as identificadas como prioritárias em UTI. Será que houve mudanças nestas prioridades? O que, quanto e como as pesquisas contribuíram na solução destes problemas?

Segundo VANCOTT et al (13), que analisaram as pesquisas publicadas em períódicos americanos, no período de 1979 a 1988, alguns tópicos prioritários apontados pelo COMITÉ (9) não foram ou foram pesquisados apenas em alguns aspectos. Dentre eles foram ressaltados os relacionados com questões éticas, comunicação com pacientes e familiares e efeitos psicossociais do ambiente de UTI sobre o paciente.

Mais recentemente, a pesquisa desenvolvida por CRONIN; OWSLEY (3) a nível institucional pode ser encarada como uma sugestão interessante e passível de ser replicada, nas nossas condições. O objetivo do seu estudo foi identificar os temas e as áreas prioritárias de pesquisa num hospital, fazendo uso da técnica de Delphi para a coleta de dados.

A amostra contou com 52 enfermeiros que concordaram em participar como painelistas sendo que 21 (40%) exerciam funções administrativas, 17(33%) eram enfermeiros assistenciais e 14 (27%) eram de áreas de apoio. Dos respondentes 79% eram bachareis em enfermagem ou mestres e tinham mais que 10 anos de exercício profissional.

A coleta de dados foi feita em três rodadas. Na primeira rodada, o levantamento incluiu os dados demográficos do respondente e uma questão aberta que foi: listar 5 importantes problemas, tópicos ou áreas que afetam o bem estar estar do paciente no hospital e que deve ser pesquisado. Estas respostas foram revistas pelos autores do projeto quanto ao conteúdo e duplicação e depois categorizados de acordo com o tópico ou enfoque.

Na rodada seguinte, os participantes foram questionados para indicar na lista de 5 pontos de Likert, por ordem de importância, os tópicos identificados na primeira rodada. Durante a terceira rodada, os participantes foram informados dos resultados da segunda rodada, bem como as respostas dadas por eles naquele etapa e solicitados a dar o índice de cada tópico diante daquela informação.

Durante a primeira rodada foram identificados 260 tópicos de investigação. A lista consolidada resultou em 87 ítens e estes foram categorizados em 8 grandes ítens:

Por ordem de prioridade , os tópicos predominates enfocaram o paciente, seguido do enfermeiro e nos demais o enfoque recaia no paciente ou no enfermeiro, dependendo do tipo de medida na investigação.

Os tópicos predominantes identificados, foram:

• manuseio da dor ;

• efeitos dos "paths"críticos ;

• determinação da inserção correta de sondas de alimentação ; uso apropriado de tempo de enfermagem ;

• questões éticas relativas manutenção e retirada de tratamentos do idoso ;

• fatores que afetam o recrutamento e retenção de enfermeiros ;

• efetividade do programa de prevenção de quedas ;

• impacto do "paths"clínico sobre a orientação para alta ;

• prevenção e tratamento de escaras ;

• conhecimento dos pacientes, no momento da internação, quanto às medicações que usa ;

• efeito das orientações do paciente sobre o índice de re-internação ;

• apoio a familiares durante a crise ;

• percepcão do papel do enfermeiro na educação do paciente ;

• intervenções para redução de erros de medicação ;

• necessidades de familiares de pacientes críticos ;

• intervenções de enfermagem na imobilidade ;

• comparação dos resultados da manipulação intravenosa pelos enfermeiros e pela equipe

• efeito da rotatividade de enfermeiros assistenciais X clínicos v sobre a qualidade do cuidado em UTI ;

• efeitos dos turnos de 8 h e 12 h. sobre o paciente e qualidade do cuidado ;

• efetividade do programa de preparo cirúrgico pré-admissão hospitalar e

• impacto do enfermeiro clínico especialista

Segundo as autoras, os resultados deste estudo tem ajudado na motivação e servido como guia para os programas de pesquisa em desenvolvimento, além de ter estimulado a formação e desenvolvimento de grupos de pesquisa e atraído pesquisadores locais para implementar seus projetos neste hospital (3)

Será que os tópicos de pesquisa nas nossas UTIs são os mesmos destes dois estudos? Um estudo desta natureza não seria desejável para melhor racionalizar os esforços do pesquisar em UTI, no nosso meio? Em que escala de magnitude realizá-lo? Por que não um estudo multicêntrico?

Retomando a questão, pouca disponibilidade do PRODUTO - PESQUISA EM ENFERMAGEM, acrescentando a ela, a pequena produção da enfermagem em terapia intensiva e que se espera sejam minimizadas pelo menos a médio prazo, um outro aspecto a considerar diz respeito as habilidades para se CONSUMIR PESQUISA.

6. Que atenção tem sido dispensada ao consumidor da pesquisa em enfermagem?

No aspecto CONSUMIR PESQUISA pode-se incluir a questão:- os resultados das pesquisas são implementados na assistência? Esta é uma questão mais fácil de perguntar do que de responder.

Como medir se a assistência está fundamentada na pesquisa? Muitas evidências sugerem que os enfermeiros não utilizam a pesquisa no seu cotidiano. Mas, tais evidências não passam de opiniões ou relatos de experiências pessoais ou ainda dados esporádicos. A fragilidade dessas evidências é reconhecida mas não invalidada totalmente. O mais interessante é que aponta-se para tais evidências tendo como intuito reforçar ou sugerir que os enfermeiros construam as bases da assistência de enfermagem fundamentada nos resultados das pesquisas (2).

Aquí é preciso ressaltar que, a atitude positiva em relação a pesquisa em enfermagem é um fenômeno comum aos enfermeiros. Ela é observada tanto em estudos americanos como europeus (4,10,11) e também no nosso meio (1). Entretanto ela não se mostra consonante com relação ao seu consumo. Um indicador frequentemente empregado para medir o uso da pesquisa tem sido a quantidade de leitura técnico-científica e ela tem se mostrado baixa. HUNT (5) sugere que isto deve-se às deficiências no processo educativo do enfermeiro. Assim, por achar que os resultados das pesquisas não são usados na prática clínica, esta autora explorou por que isto ocorre. Ela categorizou cinco razões que levam o enfermeiro a não usar os resultados da pesquisa:

- não conhece;

- não entende;

- não acredita;

- não sabe como aplicá-los;

- não lhe é permitido usá-los.

Estas barreiras indicam que a pesquisa precisa estar facilmente disponível, que os enfermeiros precisam estar treinados para consumí-la, bem como, estar receptivos para mudanças nas suas próprias crenças acerca do exercício da enfermagem o qual ainda traz fortes traços de tradição e de rotina. É sempre importante enfatizar que estar treinado para consumir pesquisa implica em capacitação prévia, a qual precisa ser iniciada minimamente, durante o curso de graduação. Mas, se o enfermeiro não passou por esta aprendizagem durante o curso de graduação e isto é bastante frequente, certamente esta habilidade terá que ser desenvolvida no exercício profissional visando o aprimoramento da assistência de enfermagem.

Ter conhecimento suficiente para decidir se aceita ou não os resultados daquela pesquisa como válidas, confiáveis e aplicáveis naquela área em particular é um desafio. A base para tal decisão situa-se no conhecimento dos diversos métodos de pesquisa utilizados na enfermagem e na capacidade do enfermeiro de distinguir a validade, a confiabilidade e a fidedignidade daqueles resultados (8). Este conhecimento, por sua vez, deve estar circulando no cotidiano dos cursos de graduação de tal forma que esta cultura vá se incorporando no estudante, futuro enfermeiro que, consequentemente irá traduzí-lo no desenvolvimento de suas atividades profissionais.

Ainda com relação ao consumo da pesquisa, no nosso meio, não é extraordinário ouvir afirmações tais como:

- a maioria ou quase a totalidade das pesquisas em enfermagem estão publicadas em inglês;

- é difícil por que estão em inglês ou outra língua estrangeira; - como foram feitos em outros países e portanto, em outra realidade, é difícil implementá-las no nosso meio.

O curioso nisto tudo é que quando nos reportamos aos enfermeiros destes países onde as pesquisas vem sendo produzidas, portanto aqueles que as tem disponível na sua língua nativa e por consequência, não tem barreiras neste aspecto e maior possibilidade de adaptação para implementá-las, também verificase que o consumo é baixo.

Como pode-se constatar, a pouca utilização ou a não utilização da pesquisa na assistência, aliada à pouca disponibilidade deste produto, constituem-se em problemas cuja solução é complexa. Então, antes de perguntar - Porque os enfermeiros não estão utilizando a pesquisa como base para a assistência, talvez seja mais adequado perguntar - Como está a cultura de pesquisa na enfermagem? Qual a sua tendência?

7. Tendências e perspectivas da pesquisa em enfermagem em terapia intensiva

Certamente, nós precisamos ainda batalhar e persistir muito para desenvolver esta cultura de pesquisa, até vê-la como algo incorporado no cotidiano da assistência mas, aspectos positivos já se fazem notar.

O tempo é sempre um bom aliado mas, nem sempre, temos paciência para esperar. Considerando que a pesquisa em enfermagem no Brasil é muito recente e que foi incrementada com o advento da pós-graduação senso estrito, a qual data da década de 70, então estamos a apenas vinte e poucos anos de desenvolvimento desta cultura. Sobretudo, é preciso lembrar que esta cultura vem fluindo a partir das instituições de ensino. Com isto, provavelmente o repasse tem sido mais facilitado junto aos alunos de graduação e de pós-graduação, só então atingindo a área assistencial. O repasse direto para os enfermeiros assistenciais, certamente tem ocorrido numa proporção bastante baixa.

Com a passagem da cultura de pesquisa, originando-se na academia, a ênfase na PRODUÇÃO DA PESQUISA, tem sobrepujado a importância do CONSUMO deste produto - A PESQUISA, em si. Assim, estimular muito mais a cultura de pesquisa no aspecto CONSUMO é não apenas desejável mas, também, necessária.

O círculo se fecharia quando fosse possível aliar a necessidade de produzir pesquisa com a necessidade de ter pesquisas cuja aplicação seja claramente reconhecida e implementada na prática assistencial.

Para isso há ainda um longo caminho a percorrer onde será necessário atingir o equilíbrio entre a formação acadêmica de pesquisadores e as necessidades de assistência fundamentada na pesquisa.

Desnecessário lembrar que fazer pesquisa custa dinheiro e que é preciso pleitear financiamento para pesquisar. No ritmo em que as diferentes áreas do conhecimento evoluem fundamentadas na pesquisa, a questão que se impõe é:- as instituições de pesquisa continuarão disponíveis para financiar as pesquisas em enfermagem se os seus achados não estiverem sendo implementados na assistência?

Considerando que, as pesquisas cuja base é de ordem biológica encontram-se melhor exploradas ou descritas , penso que elas deveriam evoluir para testar as relações entre as variáveis já bem identificadas, já que neste nível de geração de conhecimentos não se esbarraria nas barreiras de ordem ética comum na experimentação. Assim, muitas questões relativas à não aplicação dos resultados das pesquisas na prática assistencial poderiam então ser mais facilmente respondidas. Já, as investigações projetadas como experimentos para testar a relação causal , sem ferir as questões de ordem ética, continuam sendo um desafio. Especialmente em unidades de terapia intensiva, a complexidade e variedade das variáveis a controlar, aliadas às dificuldades de amostras significativas e consequente limitação das conclusões, são importantes barreiras da pesquisa clínica em seres humanos e muitas vezes, difíceis de serem contornadas. As pesquisas cujas bases vem das áreas de humanas são ainda pouco exploradas na enfermagem de terapia intensiva e precisariam ser desenvolvidas não só com relação ao paciente mas, incluir os seus familiares.

Novamente, também nesta especialidade, a complementaridade dos métodos de pesquisa é se não uma tendência, uma perspectiva importante de desenvolvimento do conhecimento e no conjunto,, uma necessidade para a consolidação da específicidade cognitiva desta área.

Finalmente, a implementação da pesquisa na assistência e consequentemente, a enfermagem fundamentada em bases cientificamente testadas é uma operação complexa, que envolve um processo cíclico e evolutivo e seu sucesso depende sobretudo do interesse e comprometimento de enfermeiros de todos os níveis e funções para alcançar esta meta.

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    Conferência proferida na V Jornada Sul Brasileira de Terapia Intensiva, Florianópolis (SC), outubro de 1996w
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Mar 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 1997
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