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Contribuições das atividades universitárias para o envelhecimento ativo: teoria fundamentada nos dados* * Extraído da tese “Envelhecimento ativo: contribuições da universidade aberta à terceira idade”, Universidade Estadual de Maringá, 2021.

RESUMO

Objetivo:

Compreender as contribuições das atividades universitárias para o envelhecimento ativo de idosos vinculados à Universidade Aberta à Terceira Idade.

Método:

Estudo qualitativo orientado pelo Interacionismo Simbólico como referencial teórico e pela Teoria Fundamentada nos Dados como referencial metodológico. Os dados foram coletados entre abril e outubro de 2020, por meio de entrevistas individuais junto a idosos, coordenadores e docentes de uma Universidade Aberta à Terceira Idade. O software Atlas.ti® foi utilizado para apoio à análise, que ocorreu por meio da codificação aberta, axial e integração.

Resultados:

A participação nas atividades universitárias contribuiu para o fortalecimento dos pilares que sustentam a política do envelhecimento ativo. As contribuições foram impulsionadas pela aprendizagem ao longo da vida, incluída no programa por meio da educação permanente não formal, e que otimizou oportunidades para a saúde, participação e segurança dos idosos.

Conclusão:

As contribuições advindas da participação nas atividades universitárias favorecem a (re)construção da resiliência dos idosos no enfrentamento às situações cotidianas.

DESCRITORES
Envelhecimento; Idoso; Política Pública; Aprendizagem; Universidades; Relações Comunidade-Instituição

Abstract

Objective:

To understand the contributions of university activities for active aging of elderly people committed to the Open University for the Third Age program.

Method:

This is a qualitative study guided by Symbolic Interactionism as a theoretical framework and by the Grounded Theory as a methodological framework. Data were collected between April and October 2020, through individual interviews with the elderly, coordinators, and professors of an Open University for the Third Age. The software Atlas.ti ® was used to support the analysis, which took place through open, axial, and integration coding.

Results:

Participation in university activities contributed to strengthening the pillars that support the active aging policy. Contributions were driven by lifelong learning, included in the program through nonformal continuing education, which optimized opportunities for the elderly’s health, participation, and safety.

Conclusion:

The contributions arising from participation in university activities favor the (re)construction of the elderly’s resilience in coping with everyday situations.

DESCRIPTORS
Aging; Aged; Public Policy; Learning; Universities; Community-Institutional Relations

RESUMEN

Objetivo:

Comprender las contribuciones de las actividades universitarias para el envejecimiento activo de ancianos vinculados a la Universidad Abierta a la Tercera Edad.

Método:

Estudio cualitativo orientado por el Interaccionismo Simbólico como referencial teórico y por la Teoría Fundamentada en los Datos como referencial metodológico. Los datos fueron recolectados de abril a octubre de 2020, por medio de entrevistas individuales con ancianos, coordinadores y docentes de una Universidad Abierta a la Tercera Edad. El software Atlas.ti® fue utilizado para dar apoyo al análisis, que ocurrió por medio de la codificación abierta, axial e integración.

Resultados:

La participación en las actividades universitarias contribuyó para el fortalecimiento de los pilares que sostienen la política del envejecimiento activo. Las contribuciones fueron impulsadas por el aprendizaje a lo largo de la vida, incluidas en el programa por medio de la educación permanente no formal y optimizaron oportunidades para la salud, participación y seguridad de los ancianos.

Conclusión:

Las contribuciones advenidas de la participación en las actividades universitarias favorecen la (re)construcción de la resiliencia de los ancianos al enfrentar las situaciones cotidianas.

DESCRIPTORES
Envejecimiento; Anciano; Política Pública; Aprendizaje; Universidades; Relaciones Comunidad-Institución

INTRODUÇÃO

A transição demográfica tem trazido visibilidade à realização de pesquisas que contemplam o público idoso. Fatores de risco para incapacidade, morbidade e mortalidade têm sido amplamente debatidos, mas, recentemente, abordagens que enfocam o envelhecimento como fase em que é possível desfrutar de bemestar têm se destacado(11. Zadworna M. Healthy aging and the University of the Third Age – Health behavior and subjective health outcomes in older adults. Arch Gerontol Geriatr. 2020;90:104126. DOI: https://doi.org/10.1016/j.archger.2020.104126
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33. Lak A, Rashidghalam P, Myint PK, Baradaran HR. Comprehensive 5P framework for active aging using the ecological approach: an iterative systematic review. BMC Public Health. 2020;20(33). DOI: https://doi.org/10.1186/s12889-019-8136-8
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). Nesse sentido, há quase duas décadas, foi lançada a política de envelhecimento ativo, cuja estrutura está centrada na otimização das oportunidades de saúde, participação, segurança(44. World Health Organization. Active ageing: a policy framework. Geneva: WHO; 2002.55. Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: ILC; 2015.) e aprendizagem ao longo da vida(55. Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: ILC; 2015.).

No que se refere à saúde, a política considera que quando os fatores de risco para doenças e incapacidades são poucos e os fatores de proteção são elevados, as pessoas tendem a desfrutar a vida com mais qualidade. Já em relação à participação, pondera que, enquanto envelhecem, os indivíduos podem e devem continuar a contribuir com a sociedade por meio de atividades remuneradas e não remuneradas, conforme seus anseios e capacidades(44. World Health Organization. Active ageing: a policy framework. Geneva: WHO; 2002.55. Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: ILC; 2015.).

O pilar da segurança coloca que as políticas e programas devem abordar as necessidades e os direitos dos idosos relativos à proteção social, física e financeira(44. World Health Organization. Active ageing: a policy framework. Geneva: WHO; 2002.55. Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: ILC; 2015.). Por último, a aprendizagem ao longo da vida indica que o acesso à informação favorece o bem-estar e é uma forma de instrumentalizar as pessoas para permanecerem saudáveis e engajadas na sociedade(55. Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: ILC; 2015.).

Sob esta perspectiva, a referida política apresenta os desafios do envelhecimento global e elenca a necessidade de os setores governamentais articularem-se para o financiamento das diversas demandas, sobretudo sociais e de saúde. As oportunidades a serem exploradas são abordadas de igual modo e vinculam-se às mudanças nas atitudes sobre o envelhecimento, vislumbrando-o como fase de desenvolvimento de competências que auxiliem no manejo dos desafios cotidianos e, ainda, permitam aos idosos contribuírem para a sociedade(33. Lak A, Rashidghalam P, Myint PK, Baradaran HR. Comprehensive 5P framework for active aging using the ecological approach: an iterative systematic review. BMC Public Health. 2020;20(33). DOI: https://doi.org/10.1186/s12889-019-8136-8
https://doi.org/10.1186/s12889-019-8136-...
66. Narushima M, Liu J, Diestelkamp N. Lifelong learning in active ageing discourse: its conserving effect on wellbeing, health and vulnerability. Ageing Soc. 2018;38(4):651-75. DOI: https://doi.org/10.1017/S0144686X16001136
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).

Até o momento, não existe consenso sobre quais atividades fazem parte de uma vida ativa(77. Villar F, Serrat R, Celdrán M, Pinazo S. Active aging and learning outcomes: What can older people learn from participation? Adult Educ Q. 2019;70(3):240-57. DOI: https://doi.org/10.1177/0741713619897589
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). No entanto, estudos têm pontuado o engajamento nas práticas sociais, físicas, cívicas, trabalhistas(88. Sousa NFS, Medina LPB, Bastos TF, Monteiro CN, Lima MG, Barros MBA. Social inequalities in the prevalence of indicators of active aging in the Brazilian population: National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2019;22 Suppl 2:E190013UPL. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-549720190013.supl.2
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) e educacionais como indicador do envelhecimento ativo(22. Álvarez-García J, Durán-Sánchez A, Del Río-Rama MC, García-Vélez DF. Active ageing: mapping of scientific coverage. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(12):2727. DOI: https://doi.org/10.3390/ijerph15122727
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,77. Villar F, Serrat R, Celdrán M, Pinazo S. Active aging and learning outcomes: What can older people learn from participation? Adult Educ Q. 2019;70(3):240-57. DOI: https://doi.org/10.1177/0741713619897589
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,99. Thang LL, Lim E, Tan SLS. Lifelong learning and productive aging among the baby boomers in Singapore. Soc Sci Med. 2019;229:41-9. DOI: https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2018.08.021
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). Tais atividades possuem diferentes objetivos, interações durante a participação e, consequentemente, repercussões(77. Villar F, Serrat R, Celdrán M, Pinazo S. Active aging and learning outcomes: What can older people learn from participation? Adult Educ Q. 2019;70(3):240-57. DOI: https://doi.org/10.1177/0741713619897589
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).

Para o indivíduo, as contribuições do envolvimento ativo dependem do nível de esforço, de recursos pessoais requeridos e da satisfação gerada na execução da atividade(22. Álvarez-García J, Durán-Sánchez A, Del Río-Rama MC, García-Vélez DF. Active ageing: mapping of scientific coverage. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(12):2727. DOI: https://doi.org/10.3390/ijerph15122727
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), enquanto que, para a sociedade, associam-se ao potencial impacto socioeconômico(22. Álvarez-García J, Durán-Sánchez A, Del Río-Rama MC, García-Vélez DF. Active ageing: mapping of scientific coverage. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(12):2727. DOI: https://doi.org/10.3390/ijerph15122727
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,1010. López-López R, Sánchez M. The institutional active aging paradigm in Europe (2002–2015). Gerontologist. 2020;60(3):406-15. DOI: https://doi.org/10.1093/geront/gnz060
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1111. León LP, Mangin JPL, Ballesteros S. Psychosocial determinants of quality of life and active aging. A structural equation model. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(17):6023. DOI: https://doi.org/10.3390/ijerph17176023
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). Nesse sentido, destaque especial será dado aqui às atividades educacionais que ocorrem no contexto das Universidades Abertas à Terceira Idade (UNATI).

Tais programas, geralmente, vinculam-se às universidades e otimizam seus recursos estruturais, profissionais e financeiros para atuar(1212. Nascimento MM, Giannouli E. Active aging through the University of the Third Age: The Brazilian model. Educ Gerontol. 2019;45(1):11-21. DOI: https://doi.org/10.1080/03601277.2019.1572998
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). As UNATI têm sido buscadas devido ao caráter não formal do ensino e à necessidade da população idosa de ocupar o tempo disponível, de ampliar as relações sociais e de adquirir conhecimento(1313. Derhun FM, Scolari GAS, Puig-Llobet M, Salci MA, Baldissera VDA, Carreira L. Participation in university activities for the elderly: Motivations of Brazilian and spanish seniors. Rev Bras Enferm. 2019;72 Suppl 2:112-8. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0181
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). Repercussões da participação para as dimensões do envelhecimento ativo foram relatadas pela literatura(11. Zadworna M. Healthy aging and the University of the Third Age – Health behavior and subjective health outcomes in older adults. Arch Gerontol Geriatr. 2020;90:104126. DOI: https://doi.org/10.1016/j.archger.2020.104126
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,1414. Alves VMC, Soares VN, Oliveira DV, Fernandes PT. Sociodemographic and psychological variables, physical activity and quality of life in elderly at Unati Campinas, São Paulo. Fisioterapia em Movimento. 2020;33:e003310. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-5918.033.ao10
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1515. Martins RCCC, Casetto SJ, Guerra RLF. Changes in quality of life: the experience of elderly persons at a university of the third age. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 2019;22(1):e180167. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-22562019022.180167
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); no entanto, não existem evidências que se estruturem a partir dos pilares da política e que abarquem tanto as contribuições para o indivíduo quanto à sociedade.

Ao ponderar as particularidades de tal cenário e a complexidade das demandas da população idosa, que exigem dos serviços e profissionais a capacidade de resposta orientada por políticas públicas(1616. Schenker M, Costa DH. Advances and challenges of health care of the elderly population with chronic diseases in Primary Health Care. Cien Saude Colet. 2019;24(4):1369-80. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232018244.01222019
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), pergunta-se: quais as contribuições da participação na UNATI para o envelhecimento ativo? Este estudo teve como objetivo compreender as contribuições das atividades universitárias para o envelhecimento ativo de idosos vinculados à UNATI.

MÉTODO

Tipo do Estudo

Estudo de abordagem qualitativa orientado pelo referencial teórico do Interacionismo Simbólico (IS)(1717. Corbin J, Strauss A. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing Grounded Theory. Los Angeles: Sage; 2015.) e referencial metodológico da Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) na perspectiva straussiana(1818. Blumer H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs: Prentice-Hall; 1998.).

Local do Estudo

O cenário de estudo foi uma UNATI vinculada a uma universidade pública do sul do Brasil. Essa iniciou as atividades em 2010 sem cobrança de nenhum tipo de taxa dos participantes. Contava com 41 disciplinas distribuídas em seis diferentes eixos temáticos: arte e cultura; processos e procedimentos comunicativos; saúde física e mental; meio físico e social; direito e cidadania; humanidades. As disciplinas eram ofertadas de segunda à sexta-feira, nos turnos da manhã e da tarde, com carga horária que variava de acordo com o conteúdo programático.

A escolha do cenário se deu devido à facilidade de acesso à UNATI, uma vez que a pesquisadora atuou, durante três anos, como docente voluntária no programa, ofertando uma disciplina sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). A participação na disciplina ocorreu em virtude de essa já ser conduzida, anteriormente, por docentes do departamento ao qual a pesquisadora era vinculada.

População e Critérios de Seleção

A UNATI conta com aproximadamente 400 alunos, 35 docentes e 02 coordenações (geral e pedagógica). Inicialmente, foram abordados, por conveniência, idosos que atendiam ao critério de inclusão: cursar disciplinas na UNATI há, pelo menos, seis meses. Esses compuseram o primeiro grupo amostral.

A coleta e análise dos dados junto ao primeiro grupo amostral forneceram importantes subsídios; contudo, em certo momento, os dados novos já não auxiliavam na compreensão do objeto de estudo e as lacunas foram definidas. Necessitava-se compreender com maior profundidade a atuação da UNATI e sua interface com as demais iniciativas da Universidade.

Até aquele momento, a análise mostrava alguns aspectos que influenciavam as possibilidades para o envelhecimento ativo no cenário, como a existência de parcerias com outros serviços/departamentos da Universidade para a execução de projetos de ensino, pesquisa e extensão, a execução de eventos (seminários/simpósios, etc.) via UNATI, a busca/otimização de recursos humanos para atuação nas atividades inerentes ao Programa.

Foram perceptíveis as significativas relações de tais aspectos com o processo de trabalho e/ou iniciativas propostas pelas Coordenações da UNATI e, logo, surgiram os seguintes questionamentos: qual a compreensão das coordenações da UNATI sobre envelhecimento ativo? Como a Coordenação da UNATI atua para promover o envelhecimento ativo?

Nesse sentido, formulou-se a seguinte hipótese: as ações das coordenações da UNATI possuem potencial para (in)viabilizar a ampliação de possibilidades para o envelhecimento ativo no contexto universitário. Procedeu-se, então, à coleta de dados junto ao segundo grupo amostral, composto pela Coordenação Geral e Coordenação Pedagógica da UNATI.

A análise dos dados do segundo grupo amostral revelou que o envolvimento e alcance das iniciativas institucionais propostas pelas Coordenações eram influenciadas/limitadas pelas políticas Estaduais para as universidades públicas. Ainda, esse grupo reforçava a heterogeneidade entre participantes da UNATI e a necessidade de estratégias que minimizassem as dificuldades de engajamento provenientes dela. Nesse sentido, a atuação dos professores foi constantemente pontuada como moduladora das ações e interações no âmbito da UNATI.

As entrevistas com esse grupo forneceram informações relevantes, mas eram necessárias outras respostas para desenvolver as propriedades e dimensões das categorias. Para tanto, a hipótese levantada foi: além das iniciativas propostas pelas Coordenações, o desenvolvimento de ações de competência institucional e as abordagens de ensino-aprendizagem adotadas pelos docentes têm potencial para (in)viabilizar a interação entre os idosos e com a comunidade universitária. Para os docentes, que compuseram o terceiro grupo amostral, adotaram-se como critérios de inclusão: estar atuando na UNATI há, pelo menos, seis meses.

A coleta foi encerrada com o terceiro grupo amostral, respeitando os critérios de saturação teórica(1818. Blumer H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs: Prentice-Hall; 1998.). Naquele momento, as novas informações já não alteravam a configuração do fenômeno encontrado, as categorias apresentavam-se consistentes e as relações entre elas estavam estabelecidas.

Coleta e Análise dos Dados

Os dados foram coletados entre abril e outubro de 2020, por meio de entrevistas individuais feitas por uma doutoranda com experiência em pesquisa qualitativa. As entrevistas foram guiadas por roteiro semiestruturado, avaliado por três doutoras com expertise em pesquisa qualitativa e/ou gerontologia. Os participantes foram convidados a participar via contato telefônico.

Não existiram recusas em participar da pesquisa e, também, não houve repetição de entrevistas, que tiveram duração média de 38 minutos e ocorreram mediadas por tecnologias (chamadas de vídeo de Whatsapp® e Google Meet e ligação telefônica de voz). Durante o momento da coleta, apenas a pesquisadora e os entrevistados estavam presentes na chamada. Os áudios foram gravados em aparelho digital e transcritos.

O processo de codificação e análise foi realizado pela pesquisadora principal e apoiado pelo software ATLAS.ti® versão 8.4.24 e ocorreu em três etapas interdependentes: aberta, axial e de integração(1818. Blumer H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs: Prentice-Hall; 1998.). O fenômeno central do estudo foi “A UNATI como forma de otimizar as oportunidades para o envelhecimento ativo”.

A matriz teórica foi validada em um encontro virtual, no qual participaram representantes dos três grupos amostrais estudados e utilizaram-se os critérios: ajuste, compreensão e generalização teórica(1818. Blumer H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs: Prentice-Hall; 1998.). Em virtude da densidade teórica, este texto contempla a categoria “(Re)desenvolvendo a resiliência a partir das atividades universitárias para idosos”, a qual, no emprego do modelo paradigmático, configura-se como consequências/resultados.

Aspectos Éticos

Todos os preceitos éticos vigentes para pesquisas que envolvem seres humanos foram seguidos, em conformidade com a Resolução 466/2012. Os cuidados com os potenciais riscos relacionados às relações de poder foram orientados pela Resolução 510/2016, de modo que, durante o processo de pesquisa, a relação pesquisador-participante não hierárquica foi construída a partir do diálogo e da reflexividade.

O projeto foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética da universidade à qual a pesquisadora era vinculada, sob parecer nº 4.010.03/2020 e CAAE: 30056920.5.0000.0104. Todos os participantes foram esclarecidos acerca da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, via formulário eletrônico. Os participantes foram identificados com as letras I, C e D, correspondentes aos termos Idoso, Coordenação e Docente, respectivamente, seguido de algarismos arábicos, conforme ordem de realização das entrevistas.

RESULTADOS

Participaram do estudo 14 (quatorze) idosos, 02 (dois) coordenadores e 06 (seis) docentes vinculados à UNATI. Em relação aos idosos, nove eram mulheres, com idade entre 62 e 82 anos, sendo a maioria com ensino superior (n = 7) e ensino médio (n = 3). Dois exerciam atividades laborais formais; 11 envolviam-se em atividades voluntárias e 11 relataram pelo menos uma condição crônica. A duração da participação na UNATI ficou entre um e dez anos, com média de quatro anos.

Sobre a coordenação e docentes, quatro eram homens, com idade de 28 a 72 anos e média de 50 anos. Três possuíam mestrado, quatro doutorado e um pós-doutorado. O tempo de atuação na Universidade ficou entre 03 e 25 anos, com média de 15 anos. Já a média de atuação na UNATI foi de seis anos, variando entre 02 e 11 anos.

Abaixo está a categoria “(Re)desenvolvendo a resiliência a partir das atividades universitárias para idosos”, que elenca as contribuições da UNATI para o envelhecimento ativo. A Figura 1 demonstra as subcategorias e códigos que compõem a categoria, bem como a inter-relação entre elas.

Figura 1.
Diagrama do componente consequências “(Re)desenvolvendo a resiliência a partir das atividades universitárias para idosos”.

A participação na UNATI contribuiu para os quatro pilares que sustentam a política do envelhecimento ativo (saúde, participação, segurança e aprendizagem ao longo da vida). Tais implicações mostraram-se interdependentes e reforçaram-se mutuamente; contudo, obteve-se na aprendizagem a engrenagem que despertou para os demais pilares, conforme apresenta a Figura 1. No Quadro 1 abaixo, estão as subcategorias, códigos e falas representativas que sustentam o objeto de estudo.

Quadro 1.
Distribuição das subcategorias, códigos e falas representativas da pesquisa sobre as contribuições da UNATI para os pilares do envelhecimento ativo – Maringá, Brasil, 2020.

No que se refere às contribuições para o pilar da aprendizagem ao longo da vida, a oportunidade de aprender e conviver na UNATI, por si só, gerou o sentimento de valorização nos idosos, que se perceberam como sujeitos com potencial para o desenvolvimento. O engajamento nas atividades intelectuais permitiu que os idosos se sentissem empoderados e capazes, melhorou a autoestima e, consequentemente, ampliou e/ou desenvolveu a percepção de autoeficácia, ou seja, da crença em sua capacidade de realizar as atividades de forma satisfatória.

Interdependente da autoeficácia é a autonomia. Munidos de conhecimentos e habilidades, os participantes tiveram um leque maior de possibilidades para auxiliar nas decisões e enfrentar as situações cotidianas. A autoeficácia e a autonomia foram reforçadas quando houve reconhecimento da comunidade, tanto interna quanto externa à UNATI, sobre a capacidade de contribuição do idoso para si e para a família e/ou sociedade.

Em relação às implicações para o pilar da participação, percebeu-se no engajamento nas atividades universitárias uma forma de romper estereótipos negativos sobre a terceira idade. A construção de uma imagem positiva sobre o envelhecimento ante a comunidade universitária e a sociedade, em especial para os mais jovens, foi notada. Inferiu-se que isso se vincula à oportunidade de o idoso, ao participar da UNATI, ter um novo estilo de vida com uma rotina permeada pela adoção de práticas pessoais que visam ao bem-estar individual e coletivo. Tal envolvimento auxiliou, ainda, em períodos de adaptação, como a aposentadoria, a mudança de cidade e a perda de entes.

O (re)descobrimento de conhecimentos e habilidades a partir da UNATI trouxe propósitos de vida à fase vivenciada. Os idosos puderam assumir a liderança e o protagonismo de suas vidas com a participação em atividades significativas para si. O conhecimento obtido fortaleceu a atuação em instâncias que influenciam os direitos de acesso às ações e serviços públicos (sociais e de saúde), como o controle social e, também, a execução de atividades voluntárias em distintas frentes. Por fim, o envolvimento mais efetivo em tais âmbitos oportunizou o sentimento de realização e pertencimento à sociedade.

No que tange às contribuições para o pilar da saúde, identificaram-se três aspectos que sustentam a subcategoria. As competências desenvolvidas se configuraram como forma dos participantes ampliarem as possibilidades de atuação para a melhoria da saúde. Nesse sentido, a promoção da saúde foi observada a partir da lapidação dos recursos pessoais e sociais dos participantes, o que conduziu ao empoderamento para adoção de um estilo de vida adequado às suas necessidades.

Ainda no campo da promoção, cumpre destacar o papel das disciplinas da área da saúde para o letramento funcional em saúde. Notou-se a formação de competências para que os idosos pudessem obter informações relacionadas à saúde, entendê-las e agir a partir delas. Salienta-se que isto despertou e/ou reforçou as ações de autocuidado, motivando e determinando a adesão às medidas comportamentais. Identificaram-se conhecimentos para o uso adequado de medicações, melhoria da alimentação, acesso ao sistema de saúde, realização de atividades físicas, entre outros.

Quanto à prevenção, a modificação de fatores e comportamentos de risco para as condições crônicas compõem as repercussões. A participação atenuou fatores desfavoráveis à saúde mental e cognição (isolamento, sentimento de inutilidade, falta de atividades, etc.) e melhorou comportamentos de risco relacionados ao desenvolvimento e complicações de diversas condições, como alimentação inadequada e inatividade física. Notaram-se, ainda, contribuições para o bem-estar em situações de doenças progressivas já estabelecidas.

Considerando o pilar da segurança, identificaram-se ações de oferta de conhecimento e sensibilização em relação à prevenção de acidentes (quedas e de trânsito) e violências. As ações ocorreram sob o entendimento de que tais problemáticas são frequentes na população idosa. Ademais, situações de violência financeira perpetrada por familiares foram identificadas nas atividades, sendo realizados encaminhamentos aos órgãos competentes.

As contribuições da UNATI para os outros três pilares do envelhecimento ativo (aprendizagem ao longo da vida, participação e saúde) constituíram um alicerce para a s egurança dos idosos ao permitirem que estes possam ser autônomos e independentes. Por fim, a participação na UNATI oportunizou aos idosos a concepção de uma perspectiva positiva sobre si e a execução de ações para bem-estar próprio, familiar e comunitário. Isto favoreceu a (re)construção da resiliência dos idosos para lidar com as situações impostas a eles cotidianamente.

DISCUSSÃO

Os resultados permitiram compreender as contribuições da participação na UNATI aos princípios da política do envelhecimento ativo. Os achados convergem com as diretrizes desta, em especial no que se refere à capacidade das atividades ofertadas no contexto da UNATI permitirem aos idosos perceberem-se com potencial para o próprio bem-estar e engajamento na sociedade(44. World Health Organization. Active ageing: a policy framework. Geneva: WHO; 2002.55. Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: ILC; 2015.).

Implicações do envolvimento no programa para distintas dimensões do envelhecimento ativo haviam sido relatados por outros estudos. Os participantes têm melhor autoavaliação, comportamento e responsabilidade pela saúde, quando comparados a não participantes(11. Zadworna M. Healthy aging and the University of the Third Age – Health behavior and subjective health outcomes in older adults. Arch Gerontol Geriatr. 2020;90:104126. DOI: https://doi.org/10.1016/j.archger.2020.104126
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), bem como melhor nível de atividade física, capacidade cognitiva(1414. Alves VMC, Soares VN, Oliveira DV, Fernandes PT. Sociodemographic and psychological variables, physical activity and quality of life in elderly at Unati Campinas, São Paulo. Fisioterapia em Movimento. 2020;33:e003310. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-5918.033.ao10
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), convívio social e qualidade de vida(1515. Martins RCCC, Casetto SJ, Guerra RLF. Changes in quality of life: the experience of elderly persons at a university of the third age. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 2019;22(1):e180167. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-22562019022.180167
https://doi.org/10.1590/1981-22562019022...
). O presente estudo avança ao apontar as contribuições, de forma mais abrangente, a partir dos pilares que sustentam a política e, ao evidenciá-las, aponta para além do nível individual, abrangendo as potenciais implicações à sociedade.

Um ponto relevante para desencadear as repercussões elencadas no estudo foi a autoeficácia, (re)desenvolvida por meio das atividades intelectuais. Ela é tida como um recurso interno ou uma crença do indivíduo sobre a sua capacidade de enfrentar os desafios cotidianos. Tais crenças, quando fortes, tendem a motivar as pessoas a serem mais ativas na aquisição de comportamentos saudáveis(1919. Lee MK, Oh J. Health-Related quality of life in older adults: Its association with health literacy, self-efficacy, social support, and health-promoting behavior. Healthcare. 2020;8(4):407. DOI: https://doi.org/10.3390/healthcare8040407
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); enquanto baixas crenças são associadas ao desenvolvimento de condições desfavoráveis, como transtornos mentais(1414. Alves VMC, Soares VN, Oliveira DV, Fernandes PT. Sociodemographic and psychological variables, physical activity and quality of life in elderly at Unati Campinas, São Paulo. Fisioterapia em Movimento. 2020;33:e003310. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-5918.033.ao10
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).

As atividades de aprendizagem não formais, quando ocorrem de forma inclusiva e equitativa, têm mostrado impacto no bem-estar dos idosos e assegurado, mesmo aos mais vulneráveis, uma estratégia compensatória para fortalecer suas capacidades de autonomia e satisfação com a vida(66. Narushima M, Liu J, Diestelkamp N. Lifelong learning in active ageing discourse: its conserving effect on wellbeing, health and vulnerability. Ageing Soc. 2018;38(4):651-75. DOI: https://doi.org/10.1017/S0144686X16001136
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).

Um estudo explorou os resultados de aprendizagem adquiridos por diferentes atividades de envelhecimento ativo e identificou dois tipos de orientação em relação à aprendizagem: a focada em si e a focada no outro(77. Villar F, Serrat R, Celdrán M, Pinazo S. Active aging and learning outcomes: What can older people learn from participation? Adult Educ Q. 2019;70(3):240-57. DOI: https://doi.org/10.1177/0741713619897589
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). A primeira relaciona-se ao autoconhecimento e à aquisição de habilidades, resultando na melhora da autoconfiança e autoestima. A segunda vincula-se ao conhecimento interpessoal, que permite melhorar a qualidade das relações, bem como ampliar as redes sociais. Está ligada também ao conhecimento social, que engloba os valores da comunidade e os seus sistemas sociais(77. Villar F, Serrat R, Celdrán M, Pinazo S. Active aging and learning outcomes: What can older people learn from participation? Adult Educ Q. 2019;70(3):240-57. DOI: https://doi.org/10.1177/0741713619897589
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).

Infere-se que a UNATI, ao ofertar ambos os tipos de conhecimento por meio da educação permanente, oportuniza aos idosos agirem com confiança para atenderem às suas necessidades, empreenderem a busca à rede apoio e/ou serviços, quando necessário, e atuarem conforme seus anseios e capacidades em situações junto à família e à sociedade. Isso indica a sustentação das contribuições para o pilar da participação, ou seja, a construção de uma imagem positiva do envelhecimento, a adoção de um novo estilo de vida, a liderança/protagonismo e o engajamento mais efetivo em atividades.

Além disso, a aprendizagem ao longo da vida na UNATI tem envolvido a promoção de estilos de vida saudáveis, uma vez que a participação no contexto tem sido reconhecida como preditor de comportamentos favoráveis à saúde, melhorando a autoavaliação de saúde(11. Zadworna M. Healthy aging and the University of the Third Age – Health behavior and subjective health outcomes in older adults. Arch Gerontol Geriatr. 2020;90:104126. DOI: https://doi.org/10.1016/j.archger.2020.104126
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) e a qualidade de vida(1818. Blumer H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs: Prentice-Hall; 1998.). Porém, pondera-se que o engajamento parece não ter efeito sobre condições crônicas já instaladas, tendo implicações para a saúde por meio de mudanças em comportamentos e acesso aos recursos de saúde(2020. Liu J, Rozelle S, Xu Q, Yu N, Zhou T. Social engagement and elderly health in China: Evidence from the China Health and Retirement Longitudinal Survey (CHARLS). Int J Environ Res Public Health. 2019;16(2):278. DOI: https://doi.org/10.3390/ijerph16020278
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).

No que concerne à segurança, a oferta de conhecimento representou as ações desenvolvidas. Além disso, entende-se que as implicações elencadas nos outros pilares incidem sobre a prevenção dos fatores de risco para os acidentes e violências. Exemplos de fatores de risco potencialmente minimizados são a ausência de suporte social, a solidão, a dependência para atividades cotidianas(2121. Santos MAB, Moreira RS, Faccio PF, Gomes GC, Silva VL. Factors associated with elder abuse: a systematic review of the literature. Cien Saude Colet. 2020;25(6):2153-75. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.25112018
https://doi.org/10.1590/1413-81232020256...
2222. Sousa-Araújo IV, Gomes NC, Nascimento JS, Ribeiro CCNR, Tavares DMS. Queda entre idosos: preditores e distribuição espacial. Rev Salud Publica. 2019;21(2):187-94. DOI: https://doi.org/10.15446/rsap.v21n2.70298
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), o comprometimento cognitivo, a depressão, as condições crônicas(2121. Santos MAB, Moreira RS, Faccio PF, Gomes GC, Silva VL. Factors associated with elder abuse: a systematic review of the literature. Cien Saude Colet. 2020;25(6):2153-75. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.25112018
https://doi.org/10.1590/1413-81232020256...
), a autopercepção de saúde negativa(2222. Sousa-Araújo IV, Gomes NC, Nascimento JS, Ribeiro CCNR, Tavares DMS. Queda entre idosos: preditores e distribuição espacial. Rev Salud Publica. 2019;21(2):187-94. DOI: https://doi.org/10.15446/rsap.v21n2.70298
https://doi.org/10.15446/rsap.v21n2.7029...
2323. Silva IRG, Dias CMD, Silva TP, Carvalho DNR, Aguiar VFF, Lima FC. Assessment of mobility and risk factors for falls among elderly individuals. Ciência, Cuidado e Saúde. 2020;19:e48469. DOI: https://doi.org/10.4025/ciencuidsaude.v19i0.48469
https://doi.org/10.4025/ciencuidsaude.v1...
), o estado de fragilidade e o desempenho físico baixo/ruim(2121. Santos MAB, Moreira RS, Faccio PF, Gomes GC, Silva VL. Factors associated with elder abuse: a systematic review of the literature. Cien Saude Colet. 2020;25(6):2153-75. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.25112018
https://doi.org/10.1590/1413-81232020256...
2222. Sousa-Araújo IV, Gomes NC, Nascimento JS, Ribeiro CCNR, Tavares DMS. Queda entre idosos: preditores e distribuição espacial. Rev Salud Publica. 2019;21(2):187-94. DOI: https://doi.org/10.15446/rsap.v21n2.70298
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).

O envelhecimento ativo vai além de uma responsabilidade individual(1010. López-López R, Sánchez M. The institutional active aging paradigm in Europe (2002–2015). Gerontologist. 2020;60(3):406-15. DOI: https://doi.org/10.1093/geront/gnz060
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), configurando-se como uma meta para que os entes federativos estimulem, por meio de políticas públicas, o engajamento dos idosos em tarefas significativas. A oferta é necessária para que as pessoas tenham a oportunidade de participar ativamente e contribuir para o bem-estar individual, familiar e comunitário. Isso para tornar o envelhecimento demográfico, realmente, uma oportunidade sustentável aos sistemas sociais e de saúde(44. World Health Organization. Active ageing: a policy framework. Geneva: WHO; 2002.,2424. Rantanen T, Portegijs E, Kokko K, Rantakokko M, Törmäkangas T, Saajanaho M. Developing an assessment method of active aging: University of Jyvaskyla active aging scale. J Aging Health. 2019;31(6):1002-24. DOI: https://doi.org/10.1177/0898264317750449
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).

Iniciativas como as atividades universitárias são relevantes. Entretanto, é necessário avançar de forma a ampliar o acesso e para que se fixem enquanto políticas de Estado e, se possível, financiadas, para que não dependam tão fortemente dos interesses de gestões temporárias. Estudos como este e movimentações da sociedade civil organizada podem compor meios para tal busca.

Considera-se como limitação do estudo a realização das entrevistas mediadas por tecnologias. Isso distanciou pesquisador e entrevistados, o que pode ter impedido a apreensão de expressões, sobretudo as não verbais. A singularidade da instituição pode, também, ser uma limitação, uma vez que cada UNATI é estruturada a partir dos recursos físicos, profissionais e financeiros da universidade à qual se vincula(1212. Nascimento MM, Giannouli E. Active aging through the University of the Third Age: The Brazilian model. Educ Gerontol. 2019;45(1):11-21. DOI: https://doi.org/10.1080/03601277.2019.1572998
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). Isso, no entanto, não invalida os achados, os quais evidenciaram que um programa público, que otimiza recursos da universidade, tem gerado repercussões positivas aos participantes e, indiretamente, à sociedade.

CONCLUSÃO

A participação nas atividades universitárias para idosos contribuiu para o envelhecimento ativo. Ao considerar os pilares que sustentam a política, obteve-se, por meio da aprendizagem ao longo da vida, o desenvolvimento e/ou melhora da autoeficácia e autonomia; para o pilar da participação, notou-se o desenvolvimento de uma imagem positiva sobre o envelhecimento, de um novo estilo de vida e da liderança, além do engajamento em atividades voluntárias e controle social; para a saúde, a participação contribuiu por meio da promoção, prevenção e adesão; para a segurança, em especial, contribuiu por meio da prevenção de acidentes e violências.

Tais contribuições formaram um alicerce para a (re)construção da resiliência dos idosos. Com isso, eles conseguiram manejar de forma mais satisfatória as situações envolvendo seu cotidiano de vida e saúde, de modo a atender às necessidades do envelhecimento. A pesquisa apresenta implicações para a prática no sentido de reforçar a importância de a gestão acadêmica atuar na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Investigações futuras poderão explorar como as práticas docentes inovadoras potencializam as repercussões da participação na UNATI.

  • Apoio financeiro Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código do Financiamento 001.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    30 Maio 2021
  • Aceito
    21 Out 2021
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