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Repercussões emocionais da pandemia da COVID-19 em adolescentes: desafios à saúde pública

RESUMO

Objetivo:

Compreender as vivências cotidianas e as repercussões emocionais da pandemia da COVID-19 para os adolescentes.

Método:

Estudo qualitativo, fundamentado na fenomenologia social de Alfred Schütz, realizado com 22 estudantes de duas escolas públicas de um município de São Paulo. Realizadas entrevistas audiogravadas que foram analisadas a partir da categoria temática.

Resultados:

Emergiram, dos depoimentos, cinco categorias: i) Reações dos adolescentes ante a pandemia da COVID-19; ii) Repercussões emocionais; iii) Preocupação com o grupo familiar; iv) Adaptação dos adolescentes; v) Fragmentação das redes de apoio social. Foi relatada a vivência de sentimentos de incerteza, medo, angústia, ansiedade, falta de motivação, sintomas depressivos e casos extremos de ideação suicida.

Conclusão:

A atenção às necessidades psicossociais dos adolescentes é essencial, sobretudo diante da possibilidade da ocorrência de estresse pós-traumático decorrente da pandemia. A competência técnica associada à sensibilidade dos profissionais de saúde, o fortalecimento da rede de apoio social e o envolvimento dos diferentes setores da comunidade são fundamentais para a promoção da saúde mental dos adolescentes, neste período de transição e ressignificação após a pandemia da COVID-19.

DESCRITORES
Estresse psicológico; Saúde Mental; Enfermagem; Saúde do Adolescente; COVID-19

Abstract

Objective:

To describe adolescents’ everyday activities and emotional consequences related to the COVID-19 pandemic.

Method:

Qualitative study grounded in Alfred Schütz’s social phenomenology, involving 22 students at two public schools in a municipality in the state of São Paulo, Brazil. Interviews were conducted, had their audio recorded, and were analyzed according to a thematic categorization.

Results:

Five categories emerged from the accounts: i) adolescents’ reaction before the COVID-19 pandemic; ii) emotional consequences; iii) concern about the family; iv) adolescents’ adaptation; and v) fragmentation of social support networks. Feelings such as uncertainty, fear, anguish, anxiety, and lack of motivation, depressive symptoms, and extreme suicidal ideation were reported.

Conclusion:

Paying attention to adolescents’ psychosocial needs is essential, especially in face of the possibility of post-traumatic stress as a result of the COVID-19 pandemic. Health professionals’ technical competence combined with sensibility, strengthening of social support networks, and engagement of different community sectors are fundamental for promoting adolescent mental health in the current transition and resignification period following the COVID-19 pandemic.

DESCRIPTORS
Psychological Stress; Mental Health; Nursing; Adolescent Health; COVID-19

RESUMEN

Objetivo:

Comprender vivencias cotidianas y repercusiones emocionales de la pandemia de COVID-19 en adolescentes.

Método:

Estudio cualitativo, fundamentado en la fenomenología social de Alfred Schütz, realizado con 22 estudiantes de escuelas públicas de un municipio de São Paulo. Se realizaron entrevistas autograbadas, analizadas acorde su categoría temática.

Resultados:

De los testimonios, surgieron cinco categorías: i) Reacciones de adolescentes frente a la pandemia de COVID-19; ii) Repercusiones emocionales; iii) Preocupación por el grupo familiar; iv) Adaptación de los adolescentes; v) Fragmentación de redes de apoyo social. Se informó presencia de sentimientos de incertidumbre, miedo, angustia, ansiedad, desmotivación, síntomas depresivos y casos extremos de ideas suicidas.

Conclusión:

Atender las necesidades psicosociales en adolescentes es esencial, particularmente ante la posibilidad de estrés postraumático derivado de la pandemia. La competencia técnica, asociada a la sensibilidad de los profesionales de salud, el fortalecimiento de la red de apoyo social y la participación de los diferentes sectores de la comunidad son fundamentales para promover la salud mental adolescente en este período de transición y resignificación posterior a la pandemia de COVID-19.

DESCRIPTORES
Estrés Psicológico; Salud Mental; Enfermería; Salud del Adolescente; COVID-19

INTRODUÇÃO

Cenários de crises da saúde pública, como a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), que emergiu em dezembro de 2019 na China, trazem, em seu âmago, díspares riscos à saúde da população mundial que não só se restringem ao contágio da doença, como também podem corroborar o aumento ou agravamento de transtornos mentais(11. Xiao C. A Novel Approach of Consultation on 2019 Novel Coronavirus (COVID-19)-Related Psychological and Mental Problems: Structured Letter Therapy. Psychiatry Investigation. 2020;17(2):175-6. DOI: https://doi.org/10.30773/pi.2020.0047.
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). As crianças e adolescentes, por estarem inseridos em uma fase do ciclo vital de crítico desenvolvimento, tornam-se um grupo mais vulnerável aos efeitos psicossociais da pandemia da COVID-19(22. Miranda MD, Athanasio BS, Oliveira ACS, Simoes ESAC. How is COVID-19 pandemic impacting mental health of children and adolescents? Int J Disaster Risk Reduct. 2021;51:101845. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijdrr.2020.101845.
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).

A adolescência compreende-se em um período de desen-volvimento notado pelas múltiplas mudanças de caráter biop- sicossocial envolvidas na complexidade da transição da infância para a idade adulta, refere-se a uma etapa caracterizada por alta sensibilidade aos estímulos sociais e maior necessidade de interação com os pares(33. Orben A, Tomova L, Blakemore SJ. The effects of social deprivation on adolescent development and mental health. Lancet Child Adolesc Health. 2020;4(8):634-640. DOI: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30186-3.
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).

As mudanças drásticas no estilo de vida decorrentes das medidas de distanciamento social, implementadas abruptamente em um curto período de tempo, em virtude da pandemia da COVID-19, com o fechamento temporário de escolas, serviços e atividades recreacionais, expuseram um cenário social sombrio que tem o potencial de afetar o bem-estar e o desenvolvimento de uma geração de crianças e adolescentes globalmente(44. Cardenas MC, Bustos SS, Chakraborty R. A ‘parallel pandemic’: The psychosocial burden of COVID-19 in children and adolescents. Acta Paediatr. 2020;109(11):2187-8. DOI: https://doi.org/10.1111/apa.15536.
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).

Dentre as múltiplas consequências para os adolescentes, destacam-se exposição ao estresse agudo e crônico, preocupa-ção com os familiares e condições econômicas, luto inesperado, aumento de tempo na Internet e mídias sociais(55. Guessoum SB, Lachal J, Radjack R, Carretier E, Minassian S, Benoit L, Moro MR. Adolescent psychiatric disorders during the COVID-19 pandemic and lockdown. Psychiatry Res. 2020;291:113264. DOI: https://doi.org/10.1016/j.psychres.2020.113264.
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), sobretudo em condições de falta de supervisão, com maior propensão à expo-sição a conteúdos sexualmente inapropriados, vulnerabilidade a fraudes e abusos nos meios digitais(22. Miranda MD, Athanasio BS, Oliveira ACS, Simoes ESAC. How is COVID-19 pandemic impacting mental health of children and adolescents? Int J Disaster Risk Reduct. 2021;51:101845. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijdrr.2020.101845.
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). Considera-se a possi-bilidade do impacto negativo no desempenho escolar, aumento da agitação e agressividade que podem ser desenvolvidos ou tornarem-se mais pronunciados nesse período(22. Miranda MD, Athanasio BS, Oliveira ACS, Simoes ESAC. How is COVID-19 pandemic impacting mental health of children and adolescents? Int J Disaster Risk Reduct. 2021;51:101845. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijdrr.2020.101845.
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). Adicionalmente, o distanciamento social pode mobilizar mudanças internas ou questões subjacentes à pandemia que precipitam o surgimento de quadros psiquiátricos(66. Oliveira WA, Silva JL, Andrade ALM, Micheli D, Carlos DM, Silva MAI. Adolescents' health in times of COVID-19: a scoping review. Cad. Saúde Pública. 2020;36(8):e00150020. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150020.
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).

Apesar do fato de que a casa deveria ser um local de segu-rança para a criança e o adolescente, a ocorrência de violência sexual, física e psicológica é um aspecto relevante a ser res-saltado, sobretudo pelo aumento global dos casos de violência contra mulheres, crianças e adolescentes durante a pandemia pelo SARS-CoV-2(44. Cardenas MC, Bustos SS, Chakraborty R. A ‘parallel pandemic’: The psychosocial burden of COVID-19 in children and adolescents. Acta Paediatr. 2020;109(11):2187-8. DOI: https://doi.org/10.1111/apa.15536.
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), inclusive no cenário brasileiro(77. Marques ES, Moraes CL, Hasselmann MH, Deslandes SF, Reichenheim ME. Violence against women, children, and adolescents during the COVID-19 pandemic: overview, contributing factors, and mitigating measures. Cad. Saúde Pública. 2020;36(4):e00074420. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311x00074420.
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).

As consequências dessa “pandemia paralela” afetam, de maneira mais expressiva, crianças e adolescentes que vivem em situações de pobreza e vulnerabilidade social, particularmente grupos sociais marginalizados e minorias(44. Cardenas MC, Bustos SS, Chakraborty R. A ‘parallel pandemic’: The psychosocial burden of COVID-19 in children and adolescents. Acta Paediatr. 2020;109(11):2187-8. DOI: https://doi.org/10.1111/apa.15536.
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). Ademais, a falta de reconhecimento e intervenções, no período de isolamento e distanciamento social, evidencia a necessidade urgente de novas estratégias para abordagem da saúde mental e psicológica(11. Xiao C. A Novel Approach of Consultation on 2019 Novel Coronavirus (COVID-19)-Related Psychological and Mental Problems: Structured Letter Therapy. Psychiatry Investigation. 2020;17(2):175-6. DOI: https://doi.org/10.30773/pi.2020.0047.
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), sobretudo de crianças e adolescentes.

O presente estudo tem como objetivo compreender as vivências cotidianas e repercussões emocionais da pandemia da COVID-19 para os adolescentes. Os resultados do estudo poderão contribuir para uma melhor compreensão das emo-ções e respostas ante os desafios vivenciados no cotidiano da pandemia da COVID-19, considerando as diversas lacunas no conhecimento, além de permitir a reflexão e a elaboração de um cuidado no âmbito individual e coletivo que considerem o contexto vivencial, as intersubjetividades e as necessidades psi-cossociais do adolescente, com ênfase no fortalecimento da rede de apoio social, considerando ainda as possíveis repercussões emocionais no período pós-pandemia, mediante a necessidade de adaptações e iminência do desenvolvimento de transtornos de estresse pós-traumático e consequências a longo prazo para essa geração de adolescentes.

MÉTODO

Trata-se de um estudo qualitativo fundamentado na Fenomenologia Social de Alfred Schütz. Esta teoria busca compreender a ação dos agentes no mundo social, baseada nas relações intersubjetivas inscritas em suas experiências cotidianas(88. Schütz A, Luckmann T. Las estructuras del mundo de la vida. Buenos Aires: Amorrortu; 2009.,99. Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Trad. Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.). As mudanças e a intensidade do cotidiano viven- ciado por adolescentes durante a pandemia da COVID-19 motivaram a utilização desse referencial teórico. Pressupõe-se que a interação social(33. Orben A, Tomova L, Blakemore SJ. The effects of social deprivation on adolescent development and mental health. Lancet Child Adolesc Health. 2020;4(8):634-640. DOI: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30186-3.
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) seja um componente essencial à manu-tenção da saúde dos adolescentes (intersubjetividade e intencionalidade) e o seu cerceamento, mediante as medidas de bloqueio para conter a disseminação do vírus, pode ter causado repercussões emocionais.

Esse referencial teórico não se limita a investigar a conduta individual, mas a constituição de uma característica típica de determinado grupo social que está vivenciando aquela situação do vivido(99. Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Trad. Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.,1010. Schütz A. Fenomenologia del mundo social. Buenos Aires: Paidos; 1972.). Os “motivos para” relacionam-se ao alcance dos objetivos, projetos e expectativas, enquanto os “motivos porque” remetem aos antecedentes, à experiência pregressa vivida no âmbito biopsicossocial(99. Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Trad. Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.).

Os adolescentes, apesar de terem suas diferenças individuais, têm condutas típicas do grupo social do qual participam e, para compreender os atos uns dos outros, é preciso conhecer os ‘motivos por que' de adotarem tais ações para tipificar a ação social do grupo. No entanto, o adolescente também possui interesses privados. Dessa forma, a sua escolha por seguir ou não determinada tipificação guarda proximidade com a sua hierarquia privada de relevâncias. Isso significa que, independentemente da tipificação do grupo social, o adolescente pode adotar uma postura diferente, tendo por base os seus ‘motivos porque' e ‘motivos para'(1010. Schütz A. Fenomenologia del mundo social. Buenos Aires: Paidos; 1972.).

Local

O estudo foi realizado em um município de pequeno porte localizado no interior do estado de São Paulo.

População e Critérios de Seleção

Foram incluídos adolescentes de ambos os sexos, com acesso à Internet, de duas escolas públicas do município estudado. Os convites para participação no estudo foram feitos pelos grupos de WhatsApp das escolas, os quais descreviam informações da pesquisa e contemplavam todos os alunos da sala. O número de participantes foi determinado com base no critério de saturação dos dados, expresso na redundância dos discursos, segundo a relevância dos conteúdos pertinentes ao delineamento do objeto do estudo(1111. Morse JM. The significance of saturation. Qualitative Health Research. 1995;5:147-9. DOI: https://doi.org/10.1177/104973239500500201.
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), constituindo uma amostra de 22 adolescentes. Durante o recrutamento dos participantes, seis adolescentes se recusaram a participar do estudo.

Coleta de Dados

Os dados foram obtidos no período de outubro a dezembro de 2020, por meio da técnica de entrevista semiestruturada, a partir de reuniões remotas gravadas no Google Meet. O instrumento de coleta de dados seguiu um roteiro semiestruturado composto por duas partes: a primeira referente à caracterização sociodemográfica dos participantes, tais como idade, sexo, escolaridade e condições de moradia; a segunda parte constava de questões abertas relacionadas aos aspectos emocionais vivenciados pelos adolescentes no período de isolamento social, composta pelas seguintes questões norteadoras: Como foi para você, em se tratando das suas emoções, o período de isolamento social por conta da pandemia da COVID-19? Quais foram as principais dificuldades que você encontrou para ficar em casa, durante esse tempo? Em relação à sua família, como foi passar todo esse tempo em casa com ela? Você conseguiu fazer atividades que te fizessem bem mentalmente ou fisicamente?

As entrevistas foram realizadas por uma aluna de gradu-ação do curso de enfermagem, supervisionada por duas dou-toras em enfermagem e uma doutoranda, com experiência em pesquisa qualitativa. A entrevistadora possuía contato prévio com a população analisada por meio da realização de palestras sobre saúde mental em tempos de pandemia. O agendamento das entrevistas foi realizado em dia e horário convenientes aos adolescentes e elas aconteceram em reuniões individuais entre o participante e uma das autoras do estudo, foram gravadas por um recurso inerente à plataforma Google Meet, após autorização verbal do participante, reiterando a aquiescência dada no Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) e pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelos responsáveis ou pais.

Foi realizado estudo piloto com dois participantes, e não foi realizada nenhuma modificação no processo de recrutamento e no instrumento de coleta de dados. As entrevistas foram reali-zadas uma única vez por participante. Após a coleta dos dados, procedeu-se à transcrição das entrevistas. Os conteúdos das entrevistas foram ordenados a partir da transcrição integral das gravações. Foram preservados os gestos e expressões não verbais e verbais dos participantes. Para garantia do sigilo e confidencialidade dos participantes, as entrevistas foram identificadas a partir da letra A (adolescente), seguida por números atribuídos aos participantes (de A1 a A22).

Análise e Tratamento dos Dados

A codificação dos dados obtidos foi realizada manualmente por duas pesquisadoras, e uma terceira pesquisadora foi consultada quando houve discrepância ante a leitura e codificação dos dados.

Dessa forma, os dados foram categorizados e analisados conforme as etapas indicadas em estudo teórico fundamen-tado pela fenomenologia social de Alfred Schütz(88. Schütz A, Luckmann T. Las estructuras del mundo de la vida. Buenos Aires: Amorrortu; 2009.): obtenção dos depoimentos em áudio com sua transcrição na íntegra e leitura e releitura das entrevistas, a fim de se apreender a experiência vivenciada pelos adolescentes diante da pandemia da COVID-19 e suas repercussões. Foi realizado o agrupamento de aspectos significativos presentes nos depoimentos, para compor as categorias; a análise das categorias buscou compreender as experiências subjetivas dos adolescentes no “mundo da vida cotidiana”, no contexto da pandemia e suas repercussões emocionais. Foram identificadas cinco categorias temáticas: i) Reações dos adolescentes diante da pandemia da COVID-19; ii) Repercussões emocionais; iii) Preocupação com o grupo familiar; iv) Adaptação dos adolescentes; v) Fragmentação das redes de apoio social. Essas categorias foram submetidas à análise compreensiva e à discussão dos resultados a partir dos conceitos da fenomenologia social e da literatura relacionada ao tema.

Aspectos Éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, com número de parecer 4.354.107 de 2020. Todos os participantes e os res-ponsáveis pelos participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e todos os adolescentes assinaram o Termo de Assentimento previamente ao início da coleta dos dados. Foram utilizadas ainda, como cumprimento ao rigor metodológico, as diretrizes do Critério Consolidado de Relato de Pesquisa Qualitativa (COREQ)(1212. Souza VRDS, Marziale MHP, Silva GTR, Nascimento PL. Tradução e validação para a língua portuguesa e avaliação do guia COREQ. Acta Paulista de Enfermagem. 2021;34:1-9. DOI: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2021AO02631.
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). A pesquisa seguiu rigorosamente as diretrizes propostas pela resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Pesquisa (CONEP) para pesquisas realizadas com seres humanos.

RESULTADOS

Características Sociodemográficas

No total, participaram 22 adolescentes de 14 a 18 anos, média de 15,68 (±1,04), predominantemente do sexo feminino (n = 17; 77,25%), matriculados desde o 9° ano do ensino fun-damental ao 3° ano do ensino médio de duas escolas públicas de um município de pequeno porte. Quanto à cor, 10 se decla-raram pardos (45,45%), 7 brancos (31,81%), 4 negros (18,20%) e 1 amarelo (4,54). Em relação à religião, 11 eram evangélicos (50,00%), 9 católicos (40,90%) e 2 sem religião (9,10%). Em sua maioria residiam em casa própria (n = 16, 72,72%), com número médio de 4 pessoas no domicílio.

Foram identificadas cinco categorias temáticas: i) Reações dos adolescentes diante da pandemia de COVID-19; ii) Repercussões emocionais; iii) Preocupação com o grupo familiar; iv) Adaptação dos adolescentes; v) Fragmentação das redes de apoio social.

Reações dos Adolescentes Diante da Pandemia da COVID-19

Detectou-se, no início da pandemia pela COVID-19, uma menor preocupação e seriedade dos adolescentes acerca dos acontecimentos, sendo vivenciada como uma situação confortável, sobretudo em virtude do cancelamento das aulas, sendo interpretada inicialmente como uma pausa, um “período de férias”, considerando-se a sobrecarga de atividades referenciada por alguns adolescentes. Ao longo do período de isolamento e distanciamento social, a percepção dos adolescentes mudou, sendo vivenciados o medo, a solidão, a frustração, a ansiedade, o tédio e a angústia diante dos acontecimentos sobre os quais o adolescente não tinha nenhum poder de controle ou previsão, bem como sobre as mudanças drásticas impostas na sua rotina e no seu cotidiano.

No começo eu achava legal, eu falei: Ah eu vou ficar em casa, né? Mas depois passou um mês, dois meses, eu comecei a sentir falta das pessoas, sabe? Ter o contato com meus amigos, a gente não se via mais; daí começou tudo aquilo de fechar as coisas, eu falei: Meu Deus, o que tá acontecendo? Daí a gente ficava na rede social e só via coisa ruim, sabe? pessoas morrendo, então, foi assustador, sabe? (A17)

Assim, porque antes da pandemia, além da escola, eu tinha outras responsabilidades, então, eu tava ficando sobrecarregado com algumas coisas. Então, quando veio a pandemia, parou tudo, e aí eu fiquei mais de boa, só que agora voltando no ritmo e tal, que nem as aulas online, meu desempenho não foi tão bom quanto eu achava que seria, então eu acho que tá me afetando mais agora do que tava me afetando no começo da pandemia. (A3)

Ah foi bom, mas também não foi tanto, porque eu tava meio estressado com a escola e tudo mais e eu queria ficar um tempo em casa, mas, no começo, foi até que foi um pouco bom, mas agora tá péssimo, horrível! Não aguento mais ficar em casa. (A12)

Repercussões Emocionais

No momento inicial de vivência da pandemia da COVID-19, experimentou-se sensação de normalidade e até mesmo de tranquilidade, com menor percepção e preocupação acerca da gravidade dos fatos. No decorrer da pandemia, emergiram preocupações e questionamentos em relação ao futuro, bem como desconfortos e repercussões emocionais com o aparecimento/ agravamento de sintomas de ansiedade, tristeza e falta de interesse pelas atividades habituais.

No começo, foi até tranquilo por conta que eu não sabia que ia demorar tanto assim, o máximo que eu achei que ia demorar era um mês, dois meses, aí eu vi que começou a passar desse tempo aí que eu tinha na cabeça e começou a piorar, aí (...) crise de ansiedade, eu comecei a chorar mais que o normal, e apavorar (...) Eu não tenho muito amigo, o que eu mais tenho é colega de escola mesmo, e eu já não conversava muito e, nesse tempo aqui, eu parei de conversar mais ainda, aí piorou, eu não sabia mais o que fazer mesmo, sabe? Não (...). É as coisas que eu mais gostava de fazer eu fui perdendo o interesse por conta que não tinha com quem fazer. (A16)

A implementação das medidas de segurança com o distanciamento social foi encarada como uma imposição e obrigatoriedade ao adolescente, ferindo a sua autonomia, liberdade e seu poder de decisão de escolhas e alterando sua rotina. O período de confinamento domiciliar gerou ansiedade, frustração, inquietação e angústia, além da necessidade de maior tempo de convívio familiar.

Fiquei angustiada por não poder sair porque a gente foi obrigado a não sair de jeito nenhum, porque se fosse normalmente, a gente poderia escolher sair e ficar em casa, então, eu fiquei angustiada por não poder sair e fazer as coisas normais. (A1)

Eu fiquei muito angustiada, porque é muito difícil, tipo, ter uma vida que era quase o dia inteiro fora de casa antes e, de um dia para o outro, eu não saí nem para ir no mercado, foi muito difícil. (A8)

Observou-se o agravamento dos problemas psicossociais prévios em adolescentes, colaborando para um maior sofrimento mental.

Angustiada por não poder sair. Horrível né? Porque realmente ficar trancado dentro de casa e não ver ninguém. Nossa! e como eu já tenho problemas com isso antes da pandemia, quando veio a pandemia e eu precisei ficar de quarentena, foi pior ainda, para mim foi horrível. (A5)

A intensidade das emoções foi referenciada pelos adolescentes, sobretudo diante do cenário de incertezas e imprevisibilidade em relação ao futuro e às suas próprias perspectivas.

A solidão, o tédio, a falta de contato social com as pessoas, a rotina monótona, todo dia fazer a mesma coisa, e a falta de perspectiva do que acontecer no futuro. (A14)

Observou-se a ruptura dos planos e anseios dos adolescentes para 2020, sobretudo diante das expectativas de um novo ano e a vivência deles dessa etapa, com suas mudanças significativas nas relações sociais, nos planos para o futuro, sobressaindo a sensação de perda do ano que passou e o sentimento de frustração e dificuldade para o estabelecimento de novas metas e planos.

Eu achei que 2020 ia ser bem diferente, tava na expectativa de que ia ser um ano muito bom, né? Porque começo de uma vida, tipo, uma nova década pela frente (...) Daí, esse ano eu tava apostando muita coisa boa, na escola e tal. É porque, tipo, eu nunca tive muitos amigos, daí, eu falei assim: não, esse ano quero fazer mais amizades, eu quero ter, tipo, no final do ano, chegar e falar: nossa! Ano que vem eu vou ter contato com muita gente ainda, só que daí chegou a pandemia, e eu acabei perdendo contato com muita gente que eu conversava e (...) com os amigos e eu acabei ficando mais sozinho, e aconteceu muita coisa que eu não queria que acontecesse, sabe? Tipo, a vida parece que parou mesmo. E a sensação de que eu perdi o ano, tipo, todo dia parece que eu penso nisso, que eu perdi o ano inteiro e eu não sei o que eu faço e, tipo, é meio difícil tomar uma decisão agora, porque eu não sei o que eu vou fazer, tipo, não dá para explicar muito bem, mas piorou muito. (A14)

Consideram-se também os efeitos da pandemia em adolescentes com problemas psicossociais prévios e o agravamento de condições de saúde mental, aumentando os riscos de os adolescentes responderem a tal contexto de fragilidade com o desencadeamento da crise em saúde mental, com manifestações de ideação de suicídio.

Já nos primeiros três meses, eu já não tava aguentando - eu, simples-mente, eu queria me matar! Eu tenho (...) hoje eu conto, mas tenho seis caixinhas de despedida, desde quando começou a pandemia, tá sendo horrível de uma forma ou outra, às vezes tenho nem vontade de levantar da cama. (A5)

Eu não conseguia dormir, só chorava. (A17)

Preocupação com o Grupo Familiar

Os adolescentes apresentaram preocupações com os membros da família diante do impacto da pandemia, em termos de letalidade, assim os adolescentes precisaram lidar com o medo da morte, as perdas e o luto, agravando o estresse e a ansiedade.

Foi difícil de acostumar eu acho. Foi um choque. No começo, eu tinha medo de perder alguém, acho que foi o mais desesperador, assim (...) o medo de perder alguém da família foi o mais desesperador. (A1)

Foi preocupante porque nosso país numa situação que tava todo mundo morrendo, e um vírus estava se espalhando muito, muito rápido, então, eu acabei ficando muito preocupada por conta da minha família, tem pessoas de risco e tal, e foi um momento assim para mim de reflexão porque assim a gente tem que aproveitar as pessoas enquanto estão aqui, né? Porque depois que partem não adianta mais. (A21)

Alguns adolescentes tinham entre membros da família profissionais da saúde e demonstraram claramente a preocupação com a exposição e o risco de adquirirem a doença nos serviços de saúde, na linha de frente, assim também a ocorrência de casos positivos entre os trabalhadores da saúde reflete nas experiências dos adolescentes.

Eu fiquei com medo porque minha mãe trabalha no Hospital, então, querendo ou não já é um risco bem grande que ela tá na linha de prontidão e foi contaminada pelo vírus, e eu ficava com medo por ela né, porque eu via muita gente com saúde boa morrendo, sendo contaminado. Foi difícil para mim, porque eu achava que ia acontecer alguma coisa que ela ficou bem doente, mas ficou tudo bem, mas eu tive muito medo. (A8)

Adaptação dos Adolescentes Durante a Pandemia da COVID-19

Diante dos desafios impostos pela pandemia, os adolescentes buscaram maneiras de adaptar suas rotinas para se sentirem melhor, entretanto, a falta de acolhimento, apoio e direcionamento de estratégias de enfrentamento foi um fator que dificultou a elaboração, o planejamento e a implementação de ações efetivas para a melhoria do bem-estar do adolescente, promovendo assim a manutenção da situação de desconforto e sofrimento durante a pandemia.

Na verdade, eu tentei fazer alguma coisa que me sentisse bem, mas quando você tem muita ansiedade, mesmo que você tenta, parece que não é o suficiente. (A5)

É uma coisa muito angustiante você ficar em casa e não ter o que fazer, dá o tédio, por mais que tenha Internet, tenha celular, não dá para ocupar 100% do tempo. (A19)

Observou-se que as estratégias de adaptação surgiram em nível individual, a partir da iniciativa do próprio adolescente, em um campo de experimentação, com erros e acertos. Os prin-cipais desafios foram as mudanças de hábitos, os adolescentes permaneceram maior tempo em atividades para distração como principal recurso, sobretudo com maior uso da Internet e das redes sociais, o que também contribuiu para a manutenção de sentimentos negativos.

Eu nunca gostei de ficar muito tempo trancada em algum lugar; isso faz eu me sentir muito sozinha, apesar de ficar bastante nas redes sociais, porque comecei ficar bastante tempo nas redes sociais quando entrou em pandemia, para eu me sentir um pouco mais conectada com o mundo, mas ainda assim me sentia sozinha de uma certa forma. (A5)

Eu acho que foi difícil porque eu não tinha com quem conversar, porque antes era sempre rodeada de pessoa, na escola, enfim (...). As redes sociais centravam, tipo, Facebook, Instagram, e só via coisa ruim, só via gente morrendo, nada de vacina, governo não fazia nada, cada vez instabilizava mais (...). Falava assim: Nossa quando tudo isso vai acabar? Vai voltar ao normal? Então acho que foi o mais difícil ficar em casa e não ter ninguém, tipo, o tempo todo. (A8)

Fragmentação das Redes de Apoio Social

Embora a pandemia tenha permitido o maior tempo do adolescente no meio familiar, detectou-se o sentimento de iso-lamento no ambiente domiciliar e fragmentação dos laços e da rede de apoio social. Nesse sentido, os meios de comunicação e a Internet foram recursos comumente utilizados pelos adoles-centes nesse período de crise e dificuldades, porém com impacto momentâneo e baixa resolutividade.

Como eu não via mais as pessoas, conversava muito pouco e, aqui em casa, o pessoal é meio “chucrão”, sabe? Não gostam muito de conversar mesmo, foi, nossa (...) Muito difícil assim de (...) de raciocinar o que tava acontecendo, tanto que eu comecei a entrar em página de ajuda, assim no Facebook, essas “coisarada” aí, para mim poder ter com quem conversar assim, sabe? (A16)

Geralmente, quando eu tô em crise, eu tento ligar para alguém, eu tento conversar com alguém, boa parte dos meus amigos, eles me atendem, me ajudam, às vezes não dá, né? Mas, assim, eu tento me autoajudar, porém é bem complicado, né? Situação bem complicada. (A5)

DISCUSSÃO

O presente estudo expõe as vivências dos adolescentes diante de um singular e desafiador cenário: uma pandemia global emergente, sem precedentes em suas experiências pregressas. Os adolescentes apresentaram mudanças nas suas percepções ao longo do período pandêmico, com menor apreensão inicial dos acontecimentos. Este cenário se modificou com a iminência do medo, da solidão, da frustração, da ansiedade, do tédio e da angústia. A intensa preocupação com a saúde de seus familiares gerou uma sobrecarga emocional, além da vigente demanda de enfrentar o luto e o medo da morte.

A pandemia da COVID-19 ocasionou uma brusca ruptura nos planos e metas do adolescente, além da falta de interesse pelas atividades habituais e do agravamento das condições de saúde mental, problemas psicossociais pré-existentes e abar-cando evidências de ideação suicida. As inquietações acerca do futuro exacerbaram o sofrimento mental, em decorrência da imprevisibilidade e inseguranças do porvir. Como estratégias de adaptação, nota-se a tentativa, muitas vezes frustrada, de estabelecimento de medidas de rotinas e de autocuidado, com intensificação do uso da Internet e das redes sociais. Ademais, defrontaram-se com uma insuficiente rede de apoio familiar e falhas no acolhimento e direcionamento das estratégias efi-cientes para a promoção da saúde mental e manutenção do bem-estar.

A compreensão das vivências, repercussões emocionais e nuances das experiências subjetivas inscritas no cotidiano dos adolescentes, entremeio às pressões advindas do período da pandemia da COVID-19, é fundamental para o planejamento do cuidado e a promoção da saúde mental dessa população.

O evento da pandemia da COVID-19 provocou ruptura e intensivas transformações no “mundo da vida cotidiana” como era estruturado anteriormente. O fechamento das escolas, a falta de contato com os pares, além do maior tempo em casa com o grupo familiar durante a pandemia, provocaram mudanças significativas e impactantes no “mundo da vida cotidiana” dos adolescentes, os quais encontravam-se em pleno envolvimento interativo com muitas pessoas, em complexas redes de relacionamentos sociais.

A leitura e a consciência da realidade estabelecida nesse novo “mundo da vida cotidiana” influenciam na forma como o agente se coloca nele, ou seja, sua “atitude natural” (99. Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Trad. Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.). Em razão de esta ser governada por um “motivo pragmático”, o “mundo da vida cotidiana” é passível de ser modificado por nossas ações, bem como de ser capaz de modificar nossas ações, em um processo de contínuas transformações, a partir da capacidade de intervir naturalmente nesse mundo influenciando-o e sendo influenciado(99. Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Trad. Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.).

Observa-se assim que, para os adolescentes, enquanto tipificação de grupo, inicialmente a pandemia ocasionou despreocupação e menor percepção da gravidade do problema, entretanto, no decorrer dos eventos e com o impacto na rotina ocasionado pelo confinamento em casa, a angústia, o medo, as incertezas, a insegurança, a ansiedade e a tristeza tornaram-se recorrentes.

Observações clínicas demonstraram que, no início da pandemia e implementação das medidas de lockdown, houve um senso coletivo de resiliência, com as novas mudanças com o estudo online, aproximação e descoberta de novos hobbies e interesses no ambiente doméstico. Na segunda fase, houve uma percepção mais realista acerca do impacto das restrições da pandemia referentes a questões financeiras, relacionamentos, educação, entre outros aspectos. Em seguida, uma maior ansiedade tornou-se evidente, com a sensação de cansaço e exaustão diante da situação, com crescente frustração e impaciência acerca dos múltiplos efeitos e consequências da pandemia na vida das pessoas. Entretanto, o medo do vírus foi constante em todas essas fases(1313. Tyminski R. Adolescents coping with the COVID-19 pandemic: ‘every day is like another Sunday’. J Anal Psychol. 2021;66(3):546-560. DOI: https://doi.org/10.1111/1468-5922.12678.
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). As mudanças abruptas vivenciadas na pandemia tiveram o potencial de provocar frustração, irritação, desconexão emocional, nostalgia e tédio em decorrência do distanciamento social(1414. Imran N, Zeshan M, Pervaiz Z. Mental health considerations for children & adolescents in COVID-19 pandemic. Pakistan Journal of Medical Sciences. 2020;67-72. DOI: http://dx.doi.org/10.12669%2Fpjms.36.COVID19-S4.2759.
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).

Nessa direção, verifica-se que, ao se deparar com as expectativas frustradas, por exemplo, referentes à duração da pandemia por um período maior que o esperado, o adolescente apresentou-se vulnerável a ansiedade e sintomas depressivos(1515. Sharma V, Ortiz MR, Sharma N. Risk and protective factors for adolescent and young adult mental health within the context of COVID-19: a perspective from Nepal. Journal of Adolescence. 2020;67:135-7. DOI: http://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2020.04.006.
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), em que o impacto da pandemia na saúde mental do adolescente foi mais evidente a longo prazo. Isto se deve, principalmente, ao fato de que, na adolescência, a emancipação dos pais sucede progressivamente, diferentemente do que ocorre na infância, assim, nesse período, a interação com os pares ganha maior representativi- dade, com a construção de relações sociais mais complexas(33. Orben A, Tomova L, Blakemore SJ. The effects of social deprivation on adolescent development and mental health. Lancet Child Adolesc Health. 2020;4(8):634-640. DOI: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30186-3.
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). O relacionamento familiar mais próximo também pode propiciar situações estressoras nas relações interpessoais(66. Oliveira WA, Silva JL, Andrade ALM, Micheli D, Carlos DM, Silva MAI. Adolescents' health in times of COVID-19: a scoping review. Cad. Saúde Pública. 2020;36(8):e00150020. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150020.
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).

O adolescente encontra-se em uma “situação biográfica determinada”, cujas vivências contemplam seu estoque de experiências (motivos porque) que poderão ser melhor compreendidas a partir do conhecimento de sua história de vida, daquilo que levou este agente a praticar tais ações/condutas(99. Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Trad. Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.).

Precedem-se à pandemia a complexidade do contexto familiar do adolescente, a dificuldade no relacionamento e a construção de vínculos de amizade entre os pares, conflitos e transtornos mentais pré-existentes, dentre outras experiências passadas que influenciaram diretamente na interpretação espontânea dos adolescentes no cotidiano da pandemia. Observa-se que adolescentes que vivem em famílias altamente funcionais e com relações interpessoais positivas entre os pais/responsáveis apresentam menor propensão aos efeitos das medidas de distanciamento social em relação aos adolescentes que não apresentam relações familiares positivas ou que vivem sozinhos(33. Orben A, Tomova L, Blakemore SJ. The effects of social deprivation on adolescent development and mental health. Lancet Child Adolesc Health. 2020;4(8):634-640. DOI: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30186-3.
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).

A situação pandêmica pode provocar irritabilidade e medo diante da possibilidade de contaminação dos membros do grupo familiar(66. Oliveira WA, Silva JL, Andrade ALM, Micheli D, Carlos DM, Silva MAI. Adolescents' health in times of COVID-19: a scoping review. Cad. Saúde Pública. 2020;36(8):e00150020. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150020.
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) e pessoas próximas, conforme observado no presente estudo, inclusive entre os adolescentes cujos pais eram trabalhadores da saúde com atuação na linha de frente no combate e enfrentamento da pandemia da COVID-19. Esse estresse adicional promoveu, ainda, mais insegurança e aumentou os níveis de ansiedade vivenciados pelos adolescentes(1616. Saurabh K, Ranjan S. Compliance and Psychological Impact of Quarantine in Children and Adolescents due to Covid-19 Pandemic. Indian J Pediatr. 2020;87(7):532-6. DOI: https://doi.org/10.1007/s12098-020-03347-3.
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). Perspectivas pessimistas em relação à pandemia, como o medo de ser infectado ou ter pessoas próximas infectadas, podem resultar em mudanças na conduta dos adolescentes e afetar a saúde mental(1717. Lee J. Mental health effects of school closures during COVID-19. Lancet Child Adolesc Health. 2020;4(6):421. DOI: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30109-7.
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).

A adolescência é um período de maior vulnerabilidade aos problemas de saúde mental, aproximadamente 75% dos adultos com condições de agravos psíquicos apresentaram os primeiros sintomas em idades inferiores a 24 anos. Evidencia-se que problemas nos relacionamentos com os pares, rejeição, bulling e solidão são fatores de risco para o desenvolvimento de depressão na adolescência(22. Miranda MD, Athanasio BS, Oliveira ACS, Simoes ESAC. How is COVID-19 pandemic impacting mental health of children and adolescents? Int J Disaster Risk Reduct. 2021;51:101845. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijdrr.2020.101845.
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), ideação suicida, automutilação e transtornos alimentares(1818. Loades ME, Chatburn E, Higson-Sweeney N, Reynolds S, Shafran R, Brigden A, et al. The Impact of Social Isolation and Loneliness on the Mental Health of Children and Adolescents in the Context of COVID-19. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2020;59(11):1218-1239. DOI: http://doi.org/10.1016/j.jaac.2020.05.009.
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). Nesse sentido, ressalta-se a recorrência da verbalização do sentimento de solidão nos discursos dos participantes do presente estudo.

As restrições de mobilidade e contato com os amigos podem causar estresse resultando em manifestações agressivas ou desobedientes, bem como intensificar a procura de relacionar-se com amigos por meios digitais(66. Oliveira WA, Silva JL, Andrade ALM, Micheli D, Carlos DM, Silva MAI. Adolescents' health in times of COVID-19: a scoping review. Cad. Saúde Pública. 2020;36(8):e00150020. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150020.
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). Historicamente, a pandemia da COVID-19 é a primeira que se vive no tempo online. As interações mediadas digitalmente provocam mudanças intensas nas concepções tradicionais de socialização(22. Miranda MD, Athanasio BS, Oliveira ACS, Simoes ESAC. How is COVID-19 pandemic impacting mental health of children and adolescents? Int J Disaster Risk Reduct. 2021;51:101845. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijdrr.2020.101845.
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). Entretanto, ao mesmo tempo que a Internet propicia uma tomada de consciência global, também cria uma expectativa e paranoia diante do enunciado do grande número de doentes e mortos diariamente. É reconhecido que o consumo massivo de conteúdos sobre a situação pandêmica pode gerar ansiedade, pânico e ocasionar depressão(1919. Deslandes SF, Coutinho T. The intensive use of the internet by children and adolescents in the context of COVID-19 and the risks for self-inflicted violence. Revista Ciência & Saúde Coletiva. 2020;25(1). DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.11472020.
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). Ademais, os adolescentes podem apresentar dificuldades para lidar ou analisar criticamente, com precisão, as informações, eventualmente inverídicas e imprecisas compartilhadas nas redes sociais(2020. Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, Ciuffo LL. The social phenomenology of Alfred Schütz and its contribution for the nursing. Rev Esc Enferm USP 2013;47(3):736-41. DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-623420130000300030.
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). No presente estudo, observou-se que a superexposição aos conteúdos sobre a pandemia causou a sensação e agravamento do mal-estar e sentimentos negativos entre os adolescentes.

O uso excessivo da Internet pode gerar adição(2121. Salicetia F. Internet Addiction Disorder (IAD). Procedia – Social and Behavioral Sciences. 2015;191:1372-6. DOI: https://doi.org/10.1016/j.sbspro.
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), ou seja, um transtorno que gera dependência, expressando-se nas cinco formas internacionalmente catalogadas: o cyber sexo; a relacional (das redes sociais); o Net Gaming Addiction, que engloba jogos de azar, videogames, compras e comércio eletrônico obsessivo; a busca de informações; e a adição por jogos(1919. Deslandes SF, Coutinho T. The intensive use of the internet by children and adolescents in the context of COVID-19 and the risks for self-inflicted violence. Revista Ciência & Saúde Coletiva. 2020;25(1). DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.11472020.
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).

O contexto dessa intensificação do uso da Internet e da sociabilidade digital, excepcionalmente em situação de isola-mento social, tem o potencial de aumentar a vulnerabilidade de crianças e adolescentes às violências autoinflingidas(1919. Deslandes SF, Coutinho T. The intensive use of the internet by children and adolescents in the context of COVID-19 and the risks for self-inflicted violence. Revista Ciência & Saúde Coletiva. 2020;25(1). DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.11472020.
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). Assim, do contexto da pandemia da COVID-19 emerge a necessidade de um olhar ampliado para o adolescente, dialogando com os diversos fenômenos sociais nos quais estão inseridos, considerando os determinantes e condicionantes do processo saúde e doença.

Na perspectiva da fenomenologia social de Alfred Schütz, o cuidado de enfermagem é tido como uma ação social a partir do estabelecimento de relações intersubjetivas que devem ser valorizadas pelo enfermeiro nos diversos cenários e contextos de atuação(2020. Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, Ciuffo LL. The social phenomenology of Alfred Schütz and its contribution for the nursing. Rev Esc Enferm USP 2013;47(3):736-41. DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-623420130000300030.
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). Nessa direção, deve considerar o conjunto de conhecimentos e experiências adquiridas ao longo da vida, além da situação biográfica em que o agente se encontra no momento do cuidado(2020. Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, Ciuffo LL. The social phenomenology of Alfred Schütz and its contribution for the nursing. Rev Esc Enferm USP 2013;47(3):736-41. DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-623420130000300030.
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).

Nessa direção, ao considerar a carga histórica brasileira das ações de cuidado em saúde mental direcionadas às crianças e aos adolescentes, fortemente marcadas pela omissão, exclusão e assistência com ênfase na institucionalização, e ainda considerando-se o contingente populacional de adolescentes(2222. Rossi LM, Marcolino TQ, Speranza M, Cid MFB. Crise e saúde mental na adolescência: a história sob a ótica de quem vive. Cad. Saúde Pública 2019;35(3):e00125018. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00125018.
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), suscita-se o seguinte questionamento: estamos preparados para o cuidado em saúde mental de uma geração de adolescentes durante e após a pandemia da COVID-19? Persistem inúmeros desafios para a saúde pública, além de configurar-se um campo de atuação dos profissionais de enfermagem no cuidado integral à saúde dos adolescentes.

Entremeio às intensas mudanças nas práticas de cuidado impostas no período da pandemia da COVID-19, a capacitação dos profissionais de saúde na Atenção Primária à Saúde (APS), a partir de um olhar acolhedor, atencioso e observador, poderá avaliar e identificar casos de estresse pós-traumático, depressão e outros transtornos mentais decorrentes de crises pandêmicas(2323. Melo BD, Pereira DR, Serpeloni F, Kabad JF, Kadri M, Souza MS, Rabelo IVM. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020.).

Torna-se imprescindível o desenvolvimento de habilidades de manejar os primeiros cuidados da atenção psicossocial, que abrange uma escuta ativa e atenta, livre de julgamentos, a fim de se preservar as necessidades básicas e de se reduzir o estado de vulnerabilidade em que o adolescente está inserido(2323. Melo BD, Pereira DR, Serpeloni F, Kabad JF, Kadri M, Souza MS, Rabelo IVM. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020.). Além disso, cabe ao profissional o manejo do estresse agudo que o adolescente e sua família possam apresentar no período da pandemia ou após, buscando a implementação de intervenções capazes de controlar os níveis de estresse e ansiedade do adolescente, como meditação, ioga, entre outras(2323. Melo BD, Pereira DR, Serpeloni F, Kabad JF, Kadri M, Souza MS, Rabelo IVM. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020.).

Recomenda-se às equipes de saúde, no âmbito da APS, o desenvolvimento de ações educativas e promoção da saúde, com uso de estratégias virtuais, considerando-se a boa adesão dos adolescentes às modalidades complementares do cuidado, esclarecendo a respeito das medidas sanitárias para prevenção e controle da infecção, bem como estimulando a responsabilidade social que pressupõe o autocuidado e o cuidado com o outro(66. Oliveira WA, Silva JL, Andrade ALM, Micheli D, Carlos DM, Silva MAI. Adolescents' health in times of COVID-19: a scoping review. Cad. Saúde Pública. 2020;36(8):e00150020. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150020.
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). O uso de ferramentas, como ligações telefônicas e videochamadas online têm sido implementadas como meio para desenvolvimento de estratégias de coping com adolescentes, entretanto, suas limitações envolvem a perda da conexão pessoal e a identificação de pistas não verbais(1313. Tyminski R. Adolescents coping with the COVID-19 pandemic: ‘every day is like another Sunday’. J Anal Psychol. 2021;66(3):546-560. DOI: https://doi.org/10.1111/1468-5922.12678.
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).

É importante ressaltar que o papel do profissional de saúde na APS com adolescentes, no cenário pandêmico e pós- pandêmico, envolve o olhar ampliado e o cuidado familiar, já que as repercussões emocionais que este vive podem estar ligadas às dificuldades enfrentadas no convívio familiar. Nesse axioma, é pertinente que o profissional saiba mediar a situação conflituosa de forma acolhedora, de maneira que instrua os pais ou responsáveis a praticar a escuta ativa das demandas do adolescente, a compreensão do momento atual, identificação das mudanças comportamentais inerentes à fase do ciclo vital, além de indicar a busca por diálogos com outros profissionais da rede de apoio, como grupo de pais, igreja, entre outros(2323. Melo BD, Pereira DR, Serpeloni F, Kabad JF, Kadri M, Souza MS, Rabelo IVM. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020.).

O desenvolvimento de atividades em grupos para a promoção da saúde mental de adolescentes/famílias, seja em ambientes virtuais seja presencialmente respeitando as medidas não farmacológicas de prevenção contra o SARS-CoV-2, nos quais eles possam expressar-se livremente, permite a criação de um espaço de escuta e acolhimento com os profissionais da atenção primária à saúde. As atividades em grupo poderão permitir o encontro de intersubjetividades, com o reconhecimento de aspectos comuns e compartilhamento de experiências vivenciadas pelos adolescentes no “mundo da vida cotidiana” no contexto pandê- mico, suas expectativas para o futuro (motivos para), podendo constituir um espaço terapêutico propício para a construção de vínculos, reflexões e oportunidade de enriquecimento para os adolescentes, as famílias e os profissionais da saúde.

Este estudo apresenta limitações, pois não houve diferen-ciação dos participantes quanto às condições de saúde pré- existentes, incluindo problemas de saúde mental. No entanto, o método utilizado permitiu aos participantes esboçarem seus conflitos cotidianos, refletirem sobre suas necessidades de cui-dado e suas implicações na relevância da promoção da saúde mental dos adolescentes.

A fenomenologia social, como referencial teórico-filosófico que fundamentou o presente estudo, trouxe a relevância da inter- subjetividade inscrita nas vivências dos adolescentes no “mundo da vida cotidiana” transformado pela pandemia de COVID-19. Também, destaca os motivos porque e motivos para as repercussões da pandemia de COVID-19 no público adolescente, grupo deixado à margem das discussões das principais diretrizes adotadas no contexto pandêmico e ilustra a importância de se implementar medidas de proteção à saúde mental dos adolescentes de forma intersetorial. Com a disseminação desse conteúdo e a adoção de estratégias que alcancem as necessidades dos mesmos, pode-se evitar diversos desfechos psicossociais e somáticos a curto, médio e longo prazo.

CONCLUSÃO

A pandemia da COVID-19 provocou profundas repercussões emocionais nos adolescentes, sobretudo com a vivência de sentimentos de incertezas, medo, angústia, ambivalência, ansiedade, tédio, falta de motivação, depressão e situações de ideação suicida. A intensificação do uso da Internet, principalmente o consumo de notícias relacionadas à pandemia, provocou mal-estar nos adolescentes, acirrando os sentimentos negativos. Detectou-se fragmentação nas relações familiares e inconsistência da rede de apoio social, evidenciada pela falta de acolhimento das necessidades psicossociais dos adolescentes, recorrendo estes frequentemente às redes sociais para buscar ajuda, além de falhas/ineficiência das estratégias de enfren- tamento elaboradas e adotadas pelos próprios adolescentes para melhoria das condições de seu bem-estar, promovendo a manutenção e estabilização do sofrimento mental, baixa produtividade e motivação durante o período da pandemia. Espera-se que os resultados deste estudo propiciem reflexões voltadas para ações que abranjam o cuidado em saúde mental dos adolescentes durante e após o período da pandemia da COVID-19, considerando a complexidade dos contextos sociais nos quais estão inseridos.

EDITOR ASSOCIADO

Thiago da Silva Domingos

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    20 Set 2021
  • Aceito
    25 Fev 2022
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