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Práticas Integrativas na Oncologia

CASSILETH, B.R.. The Complete Guide to Complementary Therapies in Cancer Care.2011. World Scientific Publishing, Singapore

CASSILETH, B.R. The Complete Guide to Complementary Therapies in Cancer Care. 1ª ed. Singapore: World Scientific Publishing, 2011. 354p.

Nas últimas duas décadas, tem havido grande propagação das práticas integrativas e complementares (PIC) nos Estado Unidos (EISENBERG et al., 1998EISENBERG, D.M. et al. Trends in Alternative Medicine Use in the United States, 1990-1997: Results of a Follow-up National Survey. JAMA, v. 280, p. 1569-1575, 1998.). Com o intuito de apresentar informação essencial sobre essas práticas aos pacientes, sobreviventes e profissionais de saúde do câncer, Cassileth, médica do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, publicou o livro The Complete Guide to Complementary Therapies in Cancer Care (CASSILETH, 2011CASSILETH, B.R. The Complete Guide to Complementary Therapies in Cancer Care. 1ª ed. Singapore: World Scientific Publishing, 2011. 354p. ), organizado em sete partes, com 55 capítulos e 354 páginas.

A autora analisou 55 terapias classificadas em práticas baseadas na biologia, técnicas mente-corpo, práticas de manipulação corporal, terapias energéticas e sistemas médicos tradicionais. Cada uma das práticas é apresentada a partir do seguinte padrão: a definição; o que os profissionais dizem que a terapia faz; crenças sobre as quais as terapias se baseiam; pesquisa sobre as evidências até o momento; o que essa prática pode fazer por você e onde consegui-la. Evidentemente, este último item diz respeito a endereços físicos e eletrônicos nos EUA.

Na parte I, a autora inclui a acupuntura, medicina ayurvédica, medicina tradicional chinesa, homeopatia, cura americana nativa e a medicina naturopática. Na parte II, ela analisa as seguintes terapêuticas: suplementos dietéticos, jejum e sucos, florais, ervas medicinais, macrobiótica e vegetarianismo. As terapias mente-corpo são apresentadas na parte III: biofeedback, hipnose e auto-hipnose, visualização, meditação, o efeito placebo, qigong, taichi e yoga. A seguir, ela ilustra algumas técnicas para ganhar força: acupressão, Alexander e Pilates, hidroterapia, massoterapia, exercícios físicos, reflexologia e rolfing. Na parte V, trata de técnicas que estimulam o bem-estar através dos sentidos: aromaterapia, arteterapia, dança como terapia, terapia do humor e do som. Tratamentos alternativos sem comprovação, segundo a autora, são citados na parte VI: apiterapia, antineoplastons, terapia celular, quelação, desintoxicação do cólon, terapia craneossacral, terapia enzimática, metabólica, neural, à base de oxigênio e cartilagem de tubarão e bovina. Terapias por ela chamadas de alternativas e de energia externa estão reunidas na parte VII de seu livro, a saber: quiropraxia, cristais, terapia eletromagnética, cura pela fé, fotografia Kirlian, oração e espiritualidade, xamanismo e toque terapêutico. A autora enfatiza, ainda, que nenhuma dessas terapias tem poder de cura sobre o câncer e que as remissões espontâneas ainda não são bem compreendidas ou estudadas.

Selecionamos o item "o que essa prática pode fazer por você", relativo à primeira terapia de cada uma das sete partes do livro, com o intuito de apresentar uma pequena amostra do material nesta resenha. Segundo a autora, "a acupuntura não seria uma alternativa realista para o diagnóstico moderno", mas sua simplicidade, atoxicidade, baixo custo e eficácia tornam essa técnica uma boa opção para vários tipos de dores crônicas e pode ser útil para combater os seguintes agravos: estresse, ansiedade, artrite e dores de cabeça.

Com relação aos suplementos dietéticos, a autora afirma que o ácido fólico em pequenas quantidades pode suplementar a dieta das mulheres grávidas, para reduzir a incidência de gravidezes problemáticas e de doenças cardíacas. A seguir, traz uma série de advertências, a saber: que um comprimido diário de vitaminas é desnecessário se o indivíduo ingere uma dieta saudável e balanceada, mas poderá ser útil nas dietas deficientes para suplementar nutrientes como o cálcio ou a vitamina D na prevenção contra a osteoporose. Megadoses de certos nutrientes lipossolúveis, tais como o betacaroteno, podem ser tóxicos e não substituem os nutrientes encontrados na dieta. Um alerta vermelho é levantado contra produtos que clamam estimular a energia, como os derivados da apicultura ou o chromium picolinate, para perder peso e aumentar a massa muscular, e toda uma oferta de cápsulas e produtos que apresentam falsas alegações sobre o aumento da força e do bem-estar, e que apesar de não funcionarem, movimentam um mercado milionário.

O biofeedback é um procedimento não invasivo, que não acarreta riscos e cujo objetivo é produzir relaxamento. Muito embora um paciente possa se sentir relaxado, o dispositivo pode acusar o contrário, já que registra as funções do sistema nervoso autônomo, podendo ser, segundo a autora, mais útil para alguns do que o yoga, o zen budismo ou a meditação. A acupressão também é um procedimento não invasivo, pode ser autoadministrado e alivia dores e outros problemas para muitas pessoas. Segundo a autora, não deveria ser utilizado como o único tratamento em problemas ou doenças graves. A única contraindicação é que não deve ser aplicada próxima à área abdominal em mulheres grávidas e em varizes, feridas, machucados ou ossos fraturados.

Usada estritamente como uma técnica complementar, a aromaterapia é uma terapia agradável quando aplicada juntamente com banhos e massagens. Pode ajudar a relaxar, reduzir o estresse, aumentar o nível de prazer e a qualidade de vida, apesar de não existir evidência de que possa ajudar a prevenir ou curar doenças. Um dos cuidados é evitar a exposição prolongada devido à possibilidade de causar alergias.

Segunda a autora, não há evidência científica até o momento de que a apiterapia possa aumentar o nível de energia e aliviar os sintomas da artrite, gota, dor nas juntas e esclerose múltipla. Os relatos favoráveis existentes são narrativas subjetivas, e não experimentos controlados. Há, inclusive, registros científicos de ataques de asma após o uso da geleia real. E embora recomende não usar um quiroprático como um médico de família, a correta manipulação da coluna pode corrigir um deslocamento, minar a dor lombar, bem como melhorar a postura, aliviar cefaleias, tensão e desconfortos em geral.

Enfim, o livro serve como uma salvaguarda para os profissionais de saúde e usuários que desejam obter informações claras sobre o uso das PIC no câncer, haja vista a grande quantidade de informação com base pouco qualificada que atualmente circula pela internet. O livro traz uma visão geral das terapêuticas, temperado com um olhar crítico e um texto objetivo e de fácil compreensão, ao contrário de uma gama de livros promocionais disponíveis sobre as PIC com um valor relativo.

Consideramos o livro como importante referência para os profissionais de saúde e gestores do SUS, principalmente para aqueles envolvidos com aplicações de algumas técnicas terapêuticas preconizadas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (BRASIL, 2006BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Ministério da Saúde: Brasília, 2006. 92p. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pnpic_publicacao.pdf. Acesso em: 7 nov 2012.
http://portal.saude.gov.br/portal/arquiv...
).1 1 P. Siegel e N.F. de Barros participaram da concepção, redação do resenha e aprovação da versão final a ser publicada.

Referências

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Ministério da Saúde: Brasília, 2006. 92p. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pnpic_publicacao.pdf. Acesso em: 7 nov 2012.
    » http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pnpic_publicacao.pdf
  • CASSILETH, B.R. The Complete Guide to Complementary Therapies in Cancer Care. 1ª ed. Singapore: World Scientific Publishing, 2011. 354p.
  • EISENBERG, D.M. et al. Trends in Alternative Medicine Use in the United States, 1990-1997: Results of a Follow-up National Survey. JAMA, v. 280, p. 1569-1575, 1998.
  • 1
    P. Siegel e N.F. de Barros participaram da concepção, redação do resenha e aprovação da versão final a ser publicada.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    03 Maio 2013
  • Aceito
    21 Out 2013
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