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A hiperalgesia secundária ocorre independentemente do envolvimento unilateral ou bilateral da osteoartrite de joelho em indivíduos com doença leve ou moderada

RESUMO

Introdução:

A ocorrência de hiperalgesia secundária em indivíduos com níveis menos graves de osteoartrite de joelho ainda é incerta. O objetivo deste estudo foi medir o limiar de dor à pressão (LDP) de indivíduos com osteoartrite de joelho (OAJ) leve ou moderada e comparar com indivíduos sem osteoartrite.

Métodos:

Foram incluídos 10 controles saudáveis e 30 indivíduos com OAJ leve ou moderada, divididos em dois grupos (envolvimento unilateral e bilateral). Foi avaliado e comparado o LDP em dermátomos (L1, L2, L3, L4, L5, S1 e S2), miótomos (músculos vasto medial, vasto lateral, reto femoral, adutor longo, tibial anterior, fibular longo, ilíaco, quadrado lombar e poplíteo) e esclerótomos (ligamentos supraespinais L1-L2, L2-L3, L3-L4, L4-L5), sobre as áreas sacrais L5-S1 e S1-S2, bolsa anserina e tendão patelar entre os indivíduos com e sem OAJ.

Resultados:

Os grupos OAJ (unilateral e bilateral) relataram menor LDP em comparação com o grupo controle na maior parte das áreas (dermátomos, miótomos e esclerótomos). Não houve diferenças entre os grupos nos ligamentos supraespinais e ao longo das áreas sacrais L5-S1 e S1-S2 dos esclerótomos. Não foi observada qualquer diferença entre os indivíduos com OAJ.

Conclusão:

Esses achados sugerem que os indivíduos com OAJ leve a moderada tinham hiperalgesia primária e secundária, independentemente do acometimento unilateral ou bilateral. Esses resultados sugerem que a dor precisa ser um foco assertivo na prática clínica, independentemente do grau de gravidade ou envolvimento da OAJ.

Palavras-chave:
Osteoartrite de joelho; Dor; Limiar de dor à pressão; Hiperalgesia secundária

ABSTRACT

Background:

Secondary hyperalgesia in individuals with less severe levels of knee osteoarthritis remains unclear. The objective of this study was to measure the pressure pain threshold of individuals with mild or moderate knee osteoarthritis and compare with no osteoarthritis.

Methods:

Ten healthy controls and 30 individuals with mild or moderate knee osteoarthritis divided into two groups (unilateral and bilateral involvement) were included. Dermatomes in lumbar levels (L1, L2, L3, L4 and L5) and sacral level (S1 and S2), myotomes (vastus medialis, vastus lateralis, rectus femoris, adductor longus, tibialis anterior, peroneus longus, iliacus, quadratus lumborum, and popliteus muscles), and sclerotomes in lumbar levels (L1-L2, L2-L3, L3-L4, L4-L5 supraspinous ligaments), over the L5-S1 and S1-S2 sacral areas, pes anserinus bursae, and at the patellar tendon pressure pain threshold were assessed and compared between individuals with and without knee osteoarthritis.

Results:

Knee osteoarthritis groups (unilateral and bilateral) reported lower pressure pain threshold compared to the control group in most areas (dermatomes, myotomes, and sclerotomes). There were no between group differences in the supra-spinous ligaments and over the L5-S1 and S1-S2 sacral areas of the sclerotomes. No difference was seen between knee osteoarthritis.

Conclusion:

These findings suggest that individuals with mild to moderate knee osteoarthritis had primary and secondary hyperalgesia, independent of unilateral or bilateral involvement. These results suggest that the pain have to be an assertive focus in the clinical practice, independent of the level of severity or involvement of knee osteoarthritis.

Keywords:
Knee osteoarthritis; Pain; Pressure pain threshold; Secondary hyperalgesia

Introdução

O joelho é a articulação mais comumente afetada pela osteoartrite e sua prevalência aumenta com a idade.11 Shakoor N, Furmanov S, Nelson DE, Li Y, Block JA. Pain and its relationship with muscle strength and proprioception in knee OA: results of an 8-week home exercise pilot study. J Musculoskelet Neuronal Interact. 2008;8:35-42. A dor é o principal sintoma da osteoartrite de joelho (OAJ) e sua presença e gravidade são importantes determinantes da diminuição na capacidade funcional.22 Arendt-Nielsen L, Nie H, Laursen MB, Laursen BS, Madeleine P, Simonsen OH, et al. Sensitization in patients with painful knee osteoarthritis. Pain. 2010;149:573-81.,33 Hassan BS, Doherty SA, Mockett S, Doherty M. Effect of pain reduction on postural sway, proprioception, and quadriceps strength in subjects with knee osteoarthritis. Ann Rheum Dis. 2002;61:422-8. A hiperalgesia primária foi definida como um aumento na atividade dos nociceptores aferentes primários no local de um determinado tecido lesionado, enquanto a hiperalgesia secundária é definida como a presença de dor em áreas além do local de lesão inicial.44 Hunter DJ, McDougall JJ, Keefe FJ. The symptoms of osteoarthritis and the genesis of pain. Med Clin North Am. 2009;93:83-100. Pode ocorrer hiperalgesia primária e secundária na OAJ, o que resulta em modulação de nociceptores e neurônios dos cornos medulares, respectivamente.55 Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HHS, Targino RA, Hsing WT, de Souza LPM, et al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability, and quality of life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis Rheum. 2008;59:1424-31.

O limiar de dor à pressão (LDP) foi considerado o parâmetro mais confiável para classificar a inflamação na osteoartrite66 Fischer AA. Pressure algometry over normal muscles. Standard values, validity and reproducibility of pressure threshold. Pain. 1987;30:115-26.,77 Suokas AK, Walsh DA, McWilliams DF, Condon L, Moreton B, Wylde V, et al. Quantitative sensory testing in painful osteoarthritis: a systematic review and meta-analysis. Osteoarthritis Cartilage. 2012;20:1075-85. e foi usado para detectar a presença de hiperalgesia secundária em dermátomos, miótomos e esclerótomos.22 Arendt-Nielsen L, Nie H, Laursen MB, Laursen BS, Madeleine P, Simonsen OH, et al. Sensitization in patients with painful knee osteoarthritis. Pain. 2010;149:573-81.,55 Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HHS, Targino RA, Hsing WT, de Souza LPM, et al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability, and quality of life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis Rheum. 2008;59:1424-31. O LDP parece ter níveis diferentes entre indivíduos com e sem osteoartrite.22 Arendt-Nielsen L, Nie H, Laursen MB, Laursen BS, Madeleine P, Simonsen OH, et al. Sensitization in patients with painful knee osteoarthritis. Pain. 2010;149:573-81.,88 Lee YC, Lu B, Bathon JM, Haythornthwaite JA, Smith MT, Page GG, et al. Pain sensitivity and pain reactivity in osteoarthritis. Arthritis Care Res. 2011;63:320-7. No entanto, as evidências atuais não esclarecem se os níveis de LDP são diferentes entre as distintas gravidades (por exemplo, leve ou moderada) de OAJ.22 Arendt-Nielsen L, Nie H, Laursen MB, Laursen BS, Madeleine P, Simonsen OH, et al. Sensitization in patients with painful knee osteoarthritis. Pain. 2010;149:573-81.,99 Graven-Nielsen T, Wodehouse T, Langford RM, Arendt-Nielsen L, Kidd BL. Normalization of widespread hyperesthesia and facilitated spatial summation of deep-tissue pain in knee osteoarthritis patients after knee replacement. Arthritis Rheum. 2012;64:2907-16.,1010 Stubhaug A, Breivik H. Knee osteoarthritis patients with intact pain modulating systems may have low risk of persistent pain after knee joint replacement. Scand J Pain. 2015;6:41-2. Gerecz-Simon et al.1111 Gerecz-Simon EM, Tunks ER, Heale J-A, Kean WF, Buchanan WW. Measurement of pain threshold in patients with rheumatoid arthritis, osteoarthritis, ankylosing spondylitis, and healthy controls. Clin Rheumatol. 1989;8:467-74. avaliaram indivíduos com OAJ, mas a dor era apenas leve e moderada. Esses autores também analisaram somente dois pontos no membro inferior. Recentemente, demonstrou-se que os indivíduos com OAJ moderada apresentam dor localizada, e não hiperalgesia contralateral.1212 Rakel B, Vance C, Zimmerman MB, Petsas-Blodgett N, Amendola A, Sluka KA. Mechanical hyperalgesia and reduced quality of life occur in people with mild knee osteoarthritis pain. Clin J Pain. 2015;31:315-22. Contudo, nesse estudo, embora não mencionado, as características dos participantes sugerem que os indivíduos tinham OAJ unilateral. Portanto, avaliar a LDP em múltiplos pontos pode trazer informações importantes sobre a dor, bem como contribuir para a abordagem clínica. Como a lesão articular ocorre gradualmente na osteoartrite (isto é, com a perda progressiva da função dos tecidos estabilizadores),1313 Heijink A, Gomoll AH, Madry H, Drobnic M, Filardo G, Espregueira-Mendes J, et al. Biomechanical considerations in the pathogenesis of osteoarthritis of the knee. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2012;20:423-35. seria de se esperar que a hiperalgesia secundária ocorresse no processo de desenvolvimento da osteoartrite. O envolvimento unilateral ou bilateral pode influenciar nisso1414 Riddle DL, Stratford PW. Unilateral vs bilateral symptomatic knee osteoarthritis: associations between pain intensity and function. Rheumatology. 2013;52:2229-37. e resultar em diferentes pontos dolorosos. Assim, este estudo teve como objetivo medir os níveis de LDP em indivíduos com OAJ leve ou moderada, com envolvimento unilateral e bilateral, e comparar com indivíduos sem OAJ. A hipótese do presente estudo é que algum nível de hiperalgesia secundária estaria presente em indivíduos com OAJ leve e moderada e seria efeito do envolvimento unilateral ou bilateral.

Material e métodos

Participantes

Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade (n° 0012/2010) e conforme a Declaração de Helsinque de 1975, fez-se o recrutamento no Ambulatório de Reumatologia do Hospital Universitário e por meio de telejornais regionais. Foram contatados 430 indivíduos com OAJ via telefone. Sessenta indivíduos foram submetidos a uma avaliação presencial para confirmar a sua adequação aos critérios de inclusão/exclusão.

Para a inclusão, os indivíduos deveriam ter 50 anos ou mais, ter OAJ diagnosticada na avaliação (unilateral ou bilateral) e dor durante pelo menos seis meses. O diagnóstico de OAJ foi baseado na classificação do American College of Rheumatology,1515 Altman R, Asch E, Bloch D, Bole G, Borenstein D, Brandt K, et al. Development of criteria for the classification and reporting of osteoarthritis: classification of osteoarthritis of the knee. Arthritis Rheum. 1986;29:1039-49. acompanhado por evidência radiológica de osteoartrite que afetasse um ou mais compartimentos, de acordo com os critérios radiológicos de Kellgren e Lawrence.1616 Kellgren JH, Lawrence JS. Radiological assessment of osteo-arthrosis. Ann Rheum Dis. 1957;16:494-502. Os indivíduos foram excluídos se tivessem: outras lesões musculoesqueléticas; dor crônica difusa (fibromialgia), condições inflamatórias crônicas, como doenças autoimunes (artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, gota); diabetes mellitus; distúrbios neuromusculares, como doença de Parkinson; vertigens ou outras condições que pudessem afetar a capacidade sensorial e o controle do movimento. Também foram excluídos os indivíduos que usavam medicamentos de controle central da dor, como antidepressivos, mas aqueles que usavam fármacos anti-inflamatórios não esteroides orais foram autorizados a continuar o uso.

Após a seleção, foram incluídos 30 indivíduos com OAJ. Dez indivíduos com mais de 50 anos que não tinham história de lesão, cirurgia nem dor nos membros inferiores foram selecionados por conveniência para compor o grupo controle. Todos os participantes incluídos assinaram o termo de consentimento informado e foram divididos em três grupos: OAJ bilateral (n = 15), OAJ unilateral (n= 15) e controle (n = 10). A tabela 1 mostra as características dos participantes.

Tabela 1
Características dos indivíduos com osteoartrite de joelho (OAJ) e controle saudáveis

Avaliação da dor

Um indicador da força digital (Force TEN® FDX, Wagner Instruments, Greenwich CT, USA) e uma cabeça de diâmetro plano de ½ polegada foram usados para a quantificação mecânica da hiperalgesia e alodinia resultante da sensibilização nociceptiva periférica ou central. As medições foram feitas bilateralmente nos dermátomos nos níveis L1, L2, L3, L4, L5, S1 e S2, com a manobra de apertar e rodar descrita por Imamura et al.55 Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HHS, Targino RA, Hsing WT, de Souza LPM, et al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability, and quality of life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis Rheum. 2008;59:1424-31. O mesmo foi feito para os miótomos, em nove locais predeterminados (nos músculos vasto medial, vasto lateral, reto femoral, adutor longo, tibial anterior, fibular longo, ilíaco, quadrado lombar e poplíteo). Por fim, foram avaliados os esclerótomos nos ligamentos supraespinais de L1-L2, L2-L3, L3-L4, L4-L5, sobre as regiões sacrais de L5-S1 e S1-S2, bolsa anserina e tendão patelar (fig. 1). Dois pesquisadores experientes coletaram todos os dados, usaram critérios rigorosos para a localização dos pontos. O LDP foi expresso em kg/cm2 e os valores mais altos indicavam sintomas menos graves.

Figura 1
Locais anatômicos usados na avaliação do limiar de dor à pressão (LDP) dos músculos, tendão patelar e bolsa anserina nas vistas anterior, posterior e lateral. 1, músculo vasto medial; 2, músculo reto femoral; 3, músculo vasto lateral; 4, músculo adutor longo; 5, músculo tibial anterior; 6, músculo fibular longo; 7, tendão patelar; 8, bolsa anserina; 9, músculo poplíteo; 10, músculo ilíaco; 11, músculo quadrado lombar; 12, ligamentos supraespinais e áreas sacrais entre L5-S1 e S1-S2. Figura adaptada de Imamura et al.55 Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HHS, Targino RA, Hsing WT, de Souza LPM, et al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability, and quality of life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis Rheum. 2008;59:1424-31..

Análise estatística

Em muitas situações, é necessário verificar se existe uma diferença estatisticamente significativa na média do tratamento k (k > 2). Uma solução seria o teste F pela análise de variância (Anova), que possibilita que sejam testadas em conjunto as médias de k tratamentos. No entanto, em algumas situações, as suposições do modelo (normalidade, homogeneidade e independência dos resíduos) não foram atendidas. Portanto, recomenda-se o uso de testes não paramétricos, ou seja, uma inferência não paramétrica. Neste trabalho foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis, que consiste em uma análise de variância não paramétrica, porque os pressupostos do teste paramétrico Anova não foram atendidos.1717 Conover WJ. Practical nonparametric statistics. 3rd ed. New York: Wiley; 1999.

Resultados

Encontrou-se uma diferença estatisticamente significativa nos valores médios de LDP entre os grupos controle e OAJ bilateral e unilateral (p < 0,03); não foi encontrada diferença significativa entre os grupos OAJ unilateral e bilateral. Os grupos OAJ tinham um limiar de dor mais baixo na maior parte das áreas dos dermátomos (tabela 2), miótomos (tabela 3) e esclerótomos (apenas a bolsa anserina e o tendão patelar; tabela 4). No entanto, não foi encontrada diferença nos valores médios do LDP (p > 0,05) nos esclerótomos dos ligamentos supraespinais, sobre as áreas sacrais L5-S1 e S1-S2 (tabela 4).

Tabela 2
Resultados do teste de Kruskal-Wallis para o limiar de dor à pressão sobre dermátomos
Tabela 3
Resultados do teste de Kruskal-Wallis para o limiar de dor à pressão em miótomos
Tabela 4
Resultados do teste de Kruskal-Wallis para o limiar de dor à pressão em esclerótomos

Discussão

O objetivo deste estudo foi medir o LDP de indivíduos com grau leve e moderado de OAJ (com envolvimento unilateral e bilateral) e comparar com aqueles sem OAJ. Os resultados mostraram que, em comparação com os controles, os indivíduos com OAJ leve e moderada tiveram menor LDP na maior parte das áreas, enquanto não houve diferença entre o envolvimento unilateral ou bilateral da OAJ.

Segundo Courtney et al.,1818 Courtney CA, Kavchak AE, Lowry CD, O’Hearn MA. Interpreting joint pain: quantitative sensory testing in musculoskeletal management. J Orthop Sports Phys Ther. 2010;40:818-25. a hiperalgesia primária parece basear-se na sensibilização de nociceptores periféricos das fibras-C de tecidos somáticos profundos quando um estímulo é aplicado no local da inflamação. Esse processo progride se a estimulação nociceptiva persistir. Nesses casos, as terminações nervosas do sistema nervoso central podem ser alteradas em razão do aumento no campo de recepção e o tornam mais sensível aos estímulos.55 Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HHS, Targino RA, Hsing WT, de Souza LPM, et al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability, and quality of life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis Rheum. 2008;59:1424-31. O aumento na excitabilidade sináptica aumenta a resposta dos estímulos nocivos e não nocivos e leva à alodinia e à hiperalgesia secundária. Na hiperalgesia secundária, um estímulo fora da área de lesão causa dor no indivíduo.1818 Courtney CA, Kavchak AE, Lowry CD, O’Hearn MA. Interpreting joint pain: quantitative sensory testing in musculoskeletal management. J Orthop Sports Phys Ther. 2010;40:818-25.

Embora o processo de degeneração na OAJ não seja claro, os resultados deste estudo revelaram que os indivíduos com OAJ leve a moderada tiveram hiperalgesia primária e secundária, enquanto os controles saudáveis não a tiveram. Comparando os dados deste estudo com os de Imamura et al.,55 Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HHS, Targino RA, Hsing WT, de Souza LPM, et al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability, and quality of life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis Rheum. 2008;59:1424-31. sugere-se que quando a OAJ progride, a hiperalgesia secundária também aumenta. Imamura et al.55 Imamura M, Imamura ST, Kaziyama HHS, Targino RA, Hsing WT, de Souza LPM, et al. Impact of nervous system hyperalgesia on pain, disability, and quality of life in patients with knee osteoarthritis: a controlled analysis. Arthritis Rheum. 2008;59:1424-31. também relataram a presença de hiperalgesia secundária em regiões distantes do joelho, incluindo a região lombar, em indivíduos com OAJ grave. Em contrapartida, no presente estudo, os indivíduos com OAJ leve a moderada não apresentaram alterações na região lombar. No entanto, houve alterações no limiar de dor de partes distantes do joelho que exibiam hiperalgesia secundária (tabelas 2 e 3). Portanto, os resultados do presente estudo sugerem que a hiperalgesia secundária poderia ocorrer ao longo do processo de degeneração e não seria uma característica presente apenas no nível grave de OAJ. Rakel et al.1212 Rakel B, Vance C, Zimmerman MB, Petsas-Blodgett N, Amendola A, Sluka KA. Mechanical hyperalgesia and reduced quality of life occur in people with mild knee osteoarthritis pain. Clin J Pain. 2015;31:315-22. mostraram resultados semelhantes; no entanto, os pontos de LDP foram analisados em apenas um ponto da hiperalgesia primária e secundária e a maneira de determinar a OAJ leve foi considerada uma limitação do estudo pelos autores. O presente estudo usou a classificação do American College of Rheumatology1515 Altman R, Asch E, Bloch D, Bole G, Borenstein D, Brandt K, et al. Development of criteria for the classification and reporting of osteoarthritis: classification of osteoarthritis of the knee. Arthritis Rheum. 1986;29:1039-49. e, portanto, confirma os resultados de Rakel et al.,1212 Rakel B, Vance C, Zimmerman MB, Petsas-Blodgett N, Amendola A, Sluka KA. Mechanical hyperalgesia and reduced quality of life occur in people with mild knee osteoarthritis pain. Clin J Pain. 2015;31:315-22. acrescenta a sensibilidade a estímulos mecânicos em dermátomos, miótomos e esclerótomos.

Hassan et al.33 Hassan BS, Doherty SA, Mockett S, Doherty M. Effect of pain reduction on postural sway, proprioception, and quadriceps strength in subjects with knee osteoarthritis. Ann Rheum Dis. 2002;61:422-8. observaram que os fármacos podem agir nos mecanismos de dor periféricos e/ou centrais. No entanto, no presente estudo, parte dos participantes (n = 15; tabela 1) usava medicamentos, mas esses pareceram não interferir no LDP, já que a maior parte dos pontos de LDP era mais sensível em comparação com o grupo controle. Esses resultados reforçam a evidência de que os fármacos geralmente têm ação limitada na dor crônica e são insatisfatórios no alívio da dor.1919 Ambrose KR, Golightly YM. Physical exercise as non-pharmacological treatment of chronic pain: why and when. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2015;29:120-30. Taylor et al.2020 Taylor SD, Everett SV, Taylor TN, Watson DJ, Taylor-Stokes G. A measure of treatment response: patient and physician satisfaction with traditional NSAIDs for osteoarthritis control. Open Access Rheumatol Res Rev. 2013;:69-76. informaram que os médicos e pacientes (51% dos entrevistados) estão insatisfeitos com o controle inadequado da OAJ fornecido pelo tratamento convencional com anti-inflamatórios não esteroides. O estudo incluiu pacientes com OAJ leve (31%) e moderada ou grave (60%). Além disso, esses resultados sugerem que para o tratamento da hiperalgesia secundária e o controle da dor na OAJ, fármacos para a dor central podem ser úteis, uma vez que os AINE agem apenas nos mecanismos periféricos da dor.2121 Batlouni M. Anti-inflamatórios não esteroides: efeitos cardiovasculares, cérebro-vasculares e renais. Arq Bras Cardiol. 2010;94:556-63.

Riddle e Stratford1414 Riddle DL, Stratford PW. Unilateral vs bilateral symptomatic knee osteoarthritis: associations between pain intensity and function. Rheumatology. 2013;52:2229-37. encontraram influência da dor sobre o lado de envolvimento (unilateral ou bilateral) medida por autorrelato, mas os resultados do presente estudo mostraram que a dor não é influenciada pelo lado de envolvimento e não apoiam os resultados de Riddle e Stratford.1414 Riddle DL, Stratford PW. Unilateral vs bilateral symptomatic knee osteoarthritis: associations between pain intensity and function. Rheumatology. 2013;52:2229-37. Apesar da importante diferença de tamanho da amostra entre esses estudos, deve-se considerar que um mecanismo objetivo de mensuração da dor (LDP) pode ser diferente de medidas de autorrelato. Riddle e Stratford1414 Riddle DL, Stratford PW. Unilateral vs bilateral symptomatic knee osteoarthritis: associations between pain intensity and function. Rheumatology. 2013;52:2229-37. também sugeriram que a diferença observada na função entre a dor unilateral e bilateral pode ser um reflexo das diferenças na intensidade da dor. De acordo com Wise et al.,2222 Wise BL, Niu J, Zhang Y, Wang N, Jordan JM, Choy E, et al. Psychological factors and their relation to osteoarthritis pain. Osteoarthritis Cartilage. 2010;18:883-7. a dor medida por autorrelato esteve associada ao estado psicológico, o que pode ter influenciado os resultados de Riddle e Stratford.1414 Riddle DL, Stratford PW. Unilateral vs bilateral symptomatic knee osteoarthritis: associations between pain intensity and function. Rheumatology. 2013;52:2229-37.

Por fim, no presente estudo, dois pesquisadores fizeram a coleta dos dados e não foi avaliada a confiabilidade entre avaliadores, o que pode ser considerada uma limitação, uma vez que pode haver uma ligeira diferença na localização dos pontos anatômicos. No entanto, ambos eram experientes e usaram critérios rigorosos para a localização dos pontos. Conforme relatado por Fisher,66 Fischer AA. Pressure algometry over normal muscles. Standard values, validity and reproducibility of pressure threshold. Pain. 1987;30:115-26. o indivíduo descrito pelo LDP está bem correlacionado entre diferentes pesquisadores e análise local.

Em resumo, os indivíduos com OAJ leve a moderada tinham hiperalgesia primária e secundária, independentemente do acometimento unilateral ou bilateral. Esses resultados sugerem que a dor precisa ser um foco assertivo na prática clínica, independentemente do grau de gravidade ou envolvimento da OAJ.

Agradecimentos

A todos os alunos do Laboratório de Fisioterapia e Neuromecânica da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia pela assistência com a técnica e discussões sobre o assunto.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo seu apoio à pesquisa (Bolsa APQ-01110-10) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de estudos para esta pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2017

Histórico

  • Recebido
    12 Out 2015
  • Aceito
    6 Fev 2016
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