RESUMO
Objetivos:
Analisar a percepção dos profissionais de enfermagem sobre a sua inserção no processo de gerenciamento de materiais em unidades hospitalares.
Métodos:
Estudo exploratório de abordagem qualitativa realizado em um hospital universitário no Paraná. A coleta de dados foi realizada entre outubro e dezembro de 2019, por meio de entrevista semiestruturada e gravada em áudio. Os dados foram transcritos e submetidos à análise de conteúdo temática.
Resultados:
Participaram do estudo 35 profissionais de enfermagem. Dos discursos, emergiram quatro categorias: Participação no processo de planejamento e provimento dos materiais; Dimensionamento de recursos materiais; Participação no controle de qualidade dos materiais; e, Dificuldades enfrentadas no processo de gerenciamento de materiais.
Conclusão:
Os resultados indicam que os profissionais de enfermagem possuem uma baixa participação no processo de gerenciamento de materiais, e inferem que participam ativamente somente do processo de controle de qualidade por meio das avaliações e notificações.
Palavras-chave:
Enfermagem; Administração hospitalar; Administração de materiais no hospital; Recursos materiais em saúde
ABSTRACT
Objectives:
To analyze the perception of nursing professionals about their insertion in the material management process in hospital units.
Methods:
Exploratory study with a qualitative approach carried out in a university hospital in Paraná. Data collection was carried out between October and December 2019, through semi-structured interviews recorded in audio. The data were transcribed and submitted to thematic content analysis.
Results:
35 nursing professionals participated in the study. From the speeches, four categories emerged: Participation in the process of planning and provision of materials; Sizing of resources in the institution; Participation in the quality control of materials; and Difficulties confronted in the material management process.
Conclusion:
The results indicate that nursing professionals have a low participation in the material management process and infer that they actively participate only in the quality control process through evaluations and notifications.
Keywords:
Nursing; Hospital administration; Materials management hospital; Material resources in health
RESUMEN
Objetivos:
Analizar la percepción de los profesionales de enfermería acerca de su inserción en el proceso de gestión de materiales en unidades hospitalarias.
Métodos:
Estudio exploratorio con enfoque cualitativo realizado en un hospital universitario en Paraná. Se realizó a la recogida de los datos entre octubre y diciembre de 2019, a través de entrevistas semiestructuradas y grabadas en audio. Se transcribió a los datos y se los sometió a un análisis de contenido temático.
Resultados:
Participaron en el estudio 35 profesionales de enfermería. Surgieron cuatro categorías de los discursos: Participación en la planificación y provisión de materiales; Dimensionamiento de recursos materiales; Participación en el control de calidad de materiales; y, Dificultades enfrentadas en el proceso de gestión de materiales.
Conclusión:
Los resultados indican que los profesionales de enfermería tienen una baja participación en el proceso de gestión de materiales, e infieren que solo participan activamente en el proceso de control de calidad a través de evaluaciones y notificaciones.
Palabras clave:
Enfermería; Administración hospitalaria; Administración de materiales de hospital; Recursos materiales en salud
INTRODUÇÃO
Os hospitais são estruturas complexas que promovem a recuperação da saúde dos pacientes por meio de recursos físicos, humanos, materiais e financeiros, sendo necessária a alocação destes, através de atividades de planejamento, de distribuição e de controle1Ventura PFEV, Freire EMR, Alves M. Participação do enfermeiro na gestão de recursos hospitalares. Rev Eletrôn Gestão Saúde. 2016 [citado 2020 jan 15];7(1):126-47. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3398
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Os avanços tecnológicos em saúde têm provocado o aumento da complexidade assistencial e exigido um maior nível de atenção por parte dos profissionais envolvidos na administração destes recursos, tanto do setor público como do privado, por se tratarem de itens essenciais e que influenciam diretamente na qualidade do cuidado prestado2Castilho V, Mira VL, Lima AFC. Gerenciamento de recursos materiais. In: Kurcgant P. coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 145-57.-3Reichert MCF, Lozovoi TG, D’innocenzo M. The waste of assistance material perceived by nursing students. Rev Eletr Enf. 2017;19:a27. doi: https://doi.org/10.5216/ree.v19.42243
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Concomitantemente os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) enfrentam desafios em decorrência do aumento dos custos e da redução dos orçamentos e de investimentos governamentais1Ventura PFEV, Freire EMR, Alves M. Participação do enfermeiro na gestão de recursos hospitalares. Rev Eletrôn Gestão Saúde. 2016 [citado 2020 jan 15];7(1):126-47. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3398
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. Observa-se então, as fontes pagadoras e de financiamento dos serviços de saúde, como o Sistema Único de Saúde (SUS), pressionando as instituições para que adequem seus processos de trabalho e gestão, com o propósito de otimizar os recursos investidos, e reafirmar o compromisso do bom uso do dinheiro público e melhorar a oferta de serviços à população4Bogo PC, Bernardino E, Castilho V, Cruz EDA. The nurse in the management of materials in teaching hospital. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(4):632-9. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000400014
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Deste modo, como tendência mundial, os EAS passaram a buscar e repensar as melhores práticas de gerenciar seus recursos, controlar a qualidade e os custos dos cuidados à saúde1Ventura PFEV, Freire EMR, Alves M. Participação do enfermeiro na gestão de recursos hospitalares. Rev Eletrôn Gestão Saúde. 2016 [citado 2020 jan 15];7(1):126-47. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3398
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O relatório apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2010, sobre o financiamento dos sistemas de saúde, o qual aborda a eficiência e a eliminação do desperdício, apresentou dados sobre a importância de assegurar a utilização dos recursos de modo eficiente em todos os países. O Ministério da Saúde (MS), por sua vez, em 2013, publicou documento descrevendo as ações para aprimorar o SUS, a fim de garantir um atendimento de qualidade aos usuários, e, dentre elas está o “aprimoramento da gestão e o combate aos desperdícios de recursos”3Reichert MCF, Lozovoi TG, D’innocenzo M. The waste of assistance material perceived by nursing students. Rev Eletr Enf. 2017;19:a27. doi: https://doi.org/10.5216/ree.v19.42243
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O Gerenciamento de Materiais (GM) dentro da organização hospitalar pode ser uma unidade de apoio à redução de custos e prejuízos. Nas unidades assistenciais, seu funcionamento depende do envolvimento dos profissionais ligados às áreas do efetivo consumo, para que seja possibilitada a adequada usabilidade do material, com o mínimo de prejuízo5Almeida LM, Silva HTH. Equipamento médico-hospitalar: uma gestão na área da saúde. Interdisc J Health Educ. 2016;1(1)32-9. doi: https://doi.org/10.4322/ijhe2016007
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Diante disso, uma das estratégias adotadas para melhora dos processos de GM é a aproximação dos setores de consumo com as instâncias administrativas e de compras, por meio de assessorias técnicas e comissões compostas por diferentes profissionais4Bogo PC, Bernardino E, Castilho V, Cruz EDA. The nurse in the management of materials in teaching hospital. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(4):632-9. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000400014
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Considerando que a equipe de enfermagem representa maior quantitativo de pessoal atuando no cuidado, e é o usuário da maior demanda de insumos nas EAS, o profissional enfermeiro assume papel de destaque no GM, pois é o responsável por assumir o gerenciamento das unidades de atendimento, por coordenar toda a atividade assistencial junto à equipe técnica e ser o responsável pelas ações de previsão, provisão, controle e avaliação de recursos utilizados pela equipe de saúde2Castilho V, Mira VL, Lima AFC. Gerenciamento de recursos materiais. In: Kurcgant P. coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 145-57.-4Bogo PC, Bernardino E, Castilho V, Cruz EDA. The nurse in the management of materials in teaching hospital. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(4):632-9. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000400014
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Deste modo, é importante ressaltar que o enfermeiro possui uma participação ativa no processo de GM, que é a avaliação dos recursos materiais utilizados nas instituições, evidenciado pelo seu conhecimento nesse processo e pela preocupação com a qualificação dos produtos utilizados na assistência de enfermagem, além do gerenciamento de custos para instituição6Gil R, Chaves L, Laus A. Management of material resources with a focus on technical complaints. Rev Eletr Enferm. 2015;17(1):100-7. doi: https://doi.org/10.5216/ree.v17i1.27544
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Frente às considerações expostas que circundam a justificativa para realização de estudos que, de fato, apresentem estratégias de melhorias no processo de gerenciamento de materiais nas unidades consumidoras através da percepção da equipe de enfermagem quanto a sua participação nesse processo e que esta possui o conhecimento técnico e prático sobre os Produtos Para Saúde (PPS), e do seu impacto no controle destes insumos nas unidades assistenciais, a questão norteadora deste estudo foi: “Qual a percepção da equipe de enfermagem quanto a sua inserção no GM nas unidades de atuação em um hospital de ensino do interior do Paraná?”.
Assim, considerando pressuposto supracitado acredita-se que o estudo poderá contribuir para melhoria da atuação do enfermeiro no processo de GM. Para tanto, tem-se como objetivo analisar a percepção dos profissionais de enfermagem sobre a sua inserção no processo de gerenciamento de materiais em unidades hospitalares.
METODOLOGIA
Trata-se de estudo exploratório com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado em um hospital universitário público, de média complexidade, integrado ao SUS, localizado no interior do Paraná. O cenário da pesquisa foi composto pelas unidades de Pronto Socorro (PS), Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto e Unidade de Clínica Médica e Cirúrgica, selecionadas por representarem o perfil de maior consumo de materiais.
Foram entrevistados 14 enfermeiros, 18 técnicos de enfermagem e 3 auxiliares de enfermagem. A inclusão dos técnicos e auxiliares de enfermagem neste estudo é devido a Lei nº 7498/86, que trata sobre o Exercício Profissional de Enfermagem, em que atribui à importância da participação dos mesmos no gerenciamento de materiais na unidade assistencial, principalmente no auxílio ao enfermeiro na programação da assistência de enfermagem7Presidência da República (BR). Lei nº 7498, 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Legislação do exercício de enfermagem. Brasília, DF; 1986 [cited 2020 Jan 15]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7498.htm
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O número de participantes foi definido pelo critério de saturação dos dados. Amostra por saturação é usada para estabelecer o tamanho da amostra, nessa técnica o número de participantes é operacionalmente definido pela suspensão de inclusão de novos participantes quando os dados obtidos passam a apresentar, na avalição do pesquisador, redundância ou repetição, ou ainda, saturação do universo, quando as entrevistas são realizadas com todos os representantes de um determinado grupo ou categoria, não sendo considerado relevante persistir na coleta de dados8Falqueto J, Farias J. Saturação teórica em pesquisas qualitativas: relato de uma experiência de aplicação em estudos na área de administração. Investig Qualitat Ciênc Soc. 2016 [cited 2020 Jan 15];3: 560-9. Available from: https://proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2016/article/view/1001/977
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Os critérios de inclusão para participar do estudo foram: profissionais com vínculo empregatício há mais de um ano na instituição na época da coleta dos dados e atuantes nas unidades do Pronto Socorro (PS), Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto e Unidade de Clínica Médica e Cirúrgica.
A participação dos profissionais de enfermagem ocorreu mediante o aceite formal, representado pela assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados foi realizada no período de outubro a dezembro de 2019.
Como instrumento de coleta, a entrevista semiestruturada foi utilizada como roteiro, composto por questões fechadas que compreenderam perguntas que permitiram identificar o perfil dos entrevistados. As questões abertas estavam relacionadas ao tema da pesquisa, solicitando respostas às cinco questões alinhadas à contextualização do objetivo da pesquisa: 1) Quais são os materiais envolvidos no seu processo de trabalho na assistência ao paciente? 2) Como você participa do processo de gerenciamento de materiais na sua unidade? 3) Sobre a quantidade e qualidade dos materiais na sua unidade, como você participa desse processo? 4) Quais são as facilidades e as dificuldades que você encontra no processo de gerenciamento de materiais na sua unidade? 5) Na sua opinião, como seria o processo ideal para funcionamento do gerenciamento de materiais na instituição?
As entrevistas semiestruturadas foram realizadas na própria instituição, em local reservado, durante o horário de trabalho dos profissionais, por tanto, cabe ressaltar que as mesmas foram realizadas individualmente de acordo com a disponibilidade de cada participante, para que o processo assistencial fosse interferido o mínimo possível.
As entrevistas foram gravadas em dispositivo de áudio, sem tempo estabelecido para término e após, foram transcritas na integra e identificadas com as letras “E’ para os Enfermeiros, “TE” para Técnicos de Enfermagem e “AUX’ para Auxiliares de Enfermagem seguida do número da entrevista respeitando o anonimato dos entrevistados.
Para análise dos dados foi utilizado o método de Análise de Conteúdo de Bardin, que “é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”9Bardin L. A análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977..
A organização da análise de conteúdo é realizada em três etapas que contemplam a pré-análise, em que foi realizada a leitura flutuante e exaustiva de todo o material coletado nas entrevistas; a exploração do material, em que foi realizada a análise dos dados separando do material os trechos e fragmentos importantes, distribuídos em tópicos, unidade de informação e aproximadas todas as unidades de informações semelhantes, dando origem aos núcleos de sentido. A partir da aproximação e do trabalho analítico dos núcleos de sentido surgiram às categorias analíticas que nortearam o estudo; e, o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação, em que foi realizada uma síntese interpretativa a partir do tratamento dos resultados obtidos, que foram submetidos a intervenções complexas ou simples que permitiram ressaltar os dados encontrados no estudo9Bardin L. A análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977..
Todos os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde foram cumpridos, e este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), CAAE nº 50066815.8.0000.0107, sob Parecer nº 3.062.301.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram 35 profissionais da equipe de enfermagem que atuavam nas unidades selecionadas para a realização do estudo, sendo 14 enfermeiros assistenciais; 18 técnicos de enfermagem e três auxiliares de enfermagem. Destes 30 (85%) eram do sexo feminino e a faixa etária predominante foi de 36 a 40 anos. Quanto ao tempo de formação, para os enfermeiros concentrou-se na faixa de 11 a 15 anos de formado e para os técnicos e auxiliares de 16 a 20 anos.
Tal achado corrobora com verificado no estudo sobre o perfil sócio demográfico da equipe de enfermagem, em que esta é formada majoritariamente por mulheres, com idade entre 36 a 50 anos, que estão na fase considerada de maturidade profissional, que quase sempre já possuem diploma de especialista10Machado MH, Aguiar Filho W, Lacerda WF, Oliveira E, Lemos W, Wermelinger M, et al. Características gerais da enfermagem: o perfil sócio demográfico. Enferm Foco. 2016 [cited 2020 Jan 15];7(esp):9-14. Available from: http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2016/07/Características-gerais-da-enfermagem-o-perfil-sócio-demográfico.pdf
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Quase a totalidade dos 13 (93%) enfermeiros e parte dos técnicos entrevistados, possuíam um ou mais cursos de capacitação ou de especialização.
Ressalta-se que embora os técnicos de enfermagem exerçam funções de nível médio na instituição, 12 (57%) possuíam curso de graduação em enfermagem e, por conseguinte, referiram possuir cursos de pós-graduação. Tal situação configura-se como uma perspectiva de mudança de área ou, até mesmo, tentativa de ascender na carreira da enfermagem.
Dos profissionais entrevistados, 25 (71%) relataram não ter recebido nenhum treinamento sobre o processo de gerenciamento de materiais da instituição quando foram admitidos ou mesmo após a admissão.
A educação permanente é considerada como um ponto importante e decisivo para a qualidade da assistência de enfermagem, fundamentada no conhecimento técnico e científico, tendo como ênfase os treinamentos e os cursos, para adequar a equipe ao trabalho na respectiva unidade. A capacitação quando feita com base na necessidade, é fundamental para o desenvolvimento sustentável e estável de uma profissão e na reestruturação organizacional, para que os resultados possam refletir no tempo de internação, na economia de recursos médicos e na qualidade de vida dos pacientes11Santos APA, Camelo SHH, Santos FC, Leal LA, Silva BR. Nurses in post-operative heart surgery: professional competencies and organization strategies. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(3):474-81. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420160000400014
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Os dados relacionados ao objeto de estudo, foram categorizados de acordo com os núcleos de sentidos em quatro grupos: Participação no processo de planejamento e provimento dos materiais; Dimensionamento de recursos na instituição; Participação no controle de qualidade dos materiais; Dificuldades enfrentadas no processo de GM, que serão discutidos a seguir.
Participação no processo de planejamento e provimento dos materiais
O GM compreende desde a aquisição até a disponibilização de materiais essenciais para produção nos serviços de saúde, com o objetivo de disponibilizar os recursos com qualidade e quantidade adequada, em tempo devido e com menor custo12Melo AB, Gomes BRS, Pinheiro BSB, Martins LFJ, Palheta MG, Santos RSU, et al. A gestão de materiais médico-hospitalar em hospital público. Rev Eletrôn Gestão Saúde. 2016 [cited 2020 Jan 15];7(1):369-87. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3433/3119
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O enfermeiro possui um papel importante no que diz respeito à determinação do material necessário para realização da assistência, tanto nos aspectos quantitativos como qualitativos, por possuir a atribuição do gerenciamento das unidades de atendimento e coordenar toda a atividade assistencial2Castilho V, Mira VL, Lima AFC. Gerenciamento de recursos materiais. In: Kurcgant P. coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 145-57..
Ao serem indagados de como se dá a sua inserção no processo de GM na sua unidade, os profissionais de enfermagem em seus discursos revelaram uma baixa participação na gestão de recursos materiais nas unidades de atendimento, conforme se evidência a seguir:
[...] hoje, muitas vezes, nós utilizamos os escriturários, mas o enfermeiro, muitas vezes, também faz aquele entre aspas “planejamento” do que também deveria ser gasto. (E4)
[...] quando eu entrei já era mais ou menos instituído isso, quem basicamente providência materiais e tal, faz a reposição de estoque, tudo é o estagiário “[...]”. Quando ele não está à gente acaba vendo conforme falta [...]. (E8)
[...] quem faz isso é o escriturário quando ele não está, é final de semana e que acontece de faltar algum material, que ele já deixa todos os pedidos na farmácia, a gente só vai sábado e domingo buscar os pacotes que ele pediu. (TE20)
A importância do envolvimento do enfermeiro no processo de gerenciamento de recursos materiais tem como finalidade garantir a eficácia da assistência de enfermagem para que esta não seja interrompida por insuficiência da quantidade ou da qualidade dos materiais2Castilho V, Mira VL, Lima AFC. Gerenciamento de recursos materiais. In: Kurcgant P. coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 145-57.,13Calheiros TRSP, Santos AFS, Almeida TG. Atribuição do enfermeiro na gestão da unidade de terapia intensiva. Rev Ciênc Biol Saúde Unit. 2018 [cited 2020 Jan 15];5(1):11-20. Available from: https://periodicos.set.edu.br/index.php/fitsbiosaude/article/view/5448/3077
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Deste modo, a baixa participação dos profissionais no planejamento e no provimento dos materiais utilizados nas unidades assistenciais pode prejudicar o cuidado prestado, bem como expor o paciente aos riscos inerentes.
A necessidade de aproximação das equipes ao processo de gerenciamento de materiais nos serviços de saúde é importante para melhorar a qualidade da assistência prestada e auxiliar no controle dos gastos institucionais.
Contudo a denominação de cuidado direto e indireto ao paciente, nem sempre são conhecidas pelos profissionais no trabalho hospitalar e os limites entre o cuidado, gerência do cuidado e a gerência de recursos institucionais, não são perceptíveis1Ventura PFEV, Freire EMR, Alves M. Participação do enfermeiro na gestão de recursos hospitalares. Rev Eletrôn Gestão Saúde. 2016 [citado 2020 jan 15];7(1):126-47. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3398
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No entanto, percebe-se que a atribuição dessa função ao auxiliar administrativo (estagiário) como a previsão e provisão dos materiais para unidades de atendimento, é expressa por parte da equipe de enfermagem em seu discurso, o que pode demostrar o distanciamento da equipe deste processo, que é considerado uma de suas atribuições. No entanto, a atribuição desses profissionais junto à equipe de enfermagem deveria ser de auxílio na busca e guarda desses materiais, de encaminhamento de documentos e organização da unidade e, de outras atividades compatíveis com a função exercida.
Além de ser o protagonista da equipe de enfermagem, cabe ao enfermeiro dentro dos saberes gerenciais que lhe são esperados, realizar o gerenciamento de recursos físicos, materiais, humanos e de informação, solucionar problemas, dimensionar recursos, planejar sua aplicação, desenvolver estratégias e efetuar diagnósticos situacionais, o que requer conhecimento e habilidades adquiridas no desempenho de suas funções14Soares MI, Camelo SHH, Resck ZMR, Terra FS. Nurses’ managerial knowledge in the hospital setting. Rev Bras Enferm. 2016;69(4):676-83. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167.2016690409i
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Aos técnicos e auxiliares de enfermagem dentro de suas atribuições que estão estabelecidas pela Lei nº 7498/86, cabe a estes profissionais, respectivamente, a participação na programação da assistência de enfermagem e zelar pela ordem do material e equipamentos de dependência da unidade7Presidência da República (BR). Lei nº 7498, 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Legislação do exercício de enfermagem. Brasília, DF; 1986 [cited 2020 Jan 15]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7498.htm
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Para que se ofereça uma assistência de qualidade, faz-se necessário que haja uma integração entre as ações gerenciais e assistenciais, e que o enfermeiro esteja atualizado quanto aos aspectos fundamentais da unidade, como a escolha do material médico-hospitalar15Reis LB, Barbosa IA, Soares LJF, Cruz IM, Souza LPS, Silva CSO, et al. Análise das reprovações de materiais médico-hospitalares de um hospital de ensino. RAHIS Rev Adm Hosp Inov Saúde. 2015;12(3):10-21. doi: https://doi.org/10.21450/rahis.v12i3.2432
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Atualmente, exige-se a prestação de uma assistência de qualidade aos pacientes com a máxima eficiência na utilização dos recursos disponíveis, porém, ressalta-se que o não envolvimento dos profissionais no gerenciamento de insumos, pode propiciar o descontrole dos recursos empregados, o desperdício destes, e elevando os custos diretos e indiretos para a assistência de qualidade.
Dimensionamento de recursos na instituição
É importante ressaltar, que ao serem questionados sobre qual seria o processo ideal para o GM na instituição, observou-se que os profissionais entrevistados não compreenderam o questionamento realizado, pois um dos pontos relevantes observado nos discursos, foi o dimensionamento de recursos.
A previsão de materiais é definida pela quantidade de material a ser requisitada pelas unidades ao almoxarifado, e pelo perfil de consumo de cada uma delas, onde se estabelece uma cota que deve representar uma estimativa dos gastos por um determinado período. A mesma é considerada um componente do controle de estoque que auxilia nas ações gerenciais, e, determina o quantitativo de compras, considerando ainda, o estoque de segurança2Castilho V, Mira VL, Lima AFC. Gerenciamento de recursos materiais. In: Kurcgant P. coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 145-57..
Sobre isso, os entrevistados relataram a importância de manter um melhor controle dos materiais, a fim de evitar a falta dos mesmos para assistência e o estoque nas unidades:
[...] na verdade tinha que saber quanto é gasto em cada setor em determinado turno, para saber o quanto pedir para não ter que trabalhar com aqueles estoques grandes, e às vezes, sobrar material em determinada ala e faltando em outra. (E7)
[...] no caso, é o controle. [...] ver a quantidade que está sendo gasto diariamente e fazendo a reposição conforme a demanda não estocando materiais. (TE6)
No processo de gerenciamento de recursos materiais, destaca-se o papel fundamental do enfermeiro que consiste em saber e acompanhar o consumo destes na unidade sob sua responsabilidade, pois o estoque previsto deve atender as demandas existentes. No entanto, é preciso que os gestores solucionem problemas como a variabilidade entre a demanda real e a prevista dos suprimentos nas instituições, uma vez que ela é responsável por níveis de estoque superdimensionados ou subdimensionados16Silva JCB, Silva AAOB, Oliveira DAL, Silva CC, Barbosa LMS, Lemos MEP, et al. Profile of the nurse in the management of hospital services. J Nurs UFPE On Line. 2018 [cited 2020 Jan 15];12(10):2883-90. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/236307
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-17Silva LF, Afonso T, Sousa CV, Afonso BPD. Vulnerabilidade e riscos de ruptura no abastecimento de materiais e medicamentos na cadeia de suprimento em um hospital público. Rev GEPROS. 2018;13(2):21-43. doi: https://doi.org/10.15675/gepros.v13i2.1832
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[...] A quantidade de materiais a gente não decide é colocado lá, e a gente usa o que tem, se acabou a gente acaba solicitando mais. (TE4)
[...] sabe que eu nunca parei para pensar, se a gente tem mais ou menos que mensurada a quantidade? (TE12)
Desta forma, o dimensionamento de recursos materiais está diretamente associado à falta de integração das ações gerenciais e assistenciais e, ao distanciamento das equipes no processo de GM.
A baixa participação dos profissionais no acompanhamento do consumo de materiais na sua unidade demostra a fragilidade do processo de gerenciamento de recursos materiais na instituição e nas unidades estudadas, pois a mesma depende de uma equipe informada, consciente, ativa e participante no gerenciamento desses recursos, para que não ocorra interrupções na assistência prestada.
Uma das dificuldades no gerenciamento de materiais esta pautadas no déficit de planejamento do enfermeiro, no provimento de estratégias para o cuidado prestado e na não utilização de métodos simples para controle do acervo de materiais, como por exemplo, o cálculo do estoque de segurança18Bugs TV, Rigo DFH, Bohrer CD, Borges F, Oliveira JLC, Tonini NS. Dificuldades do enfermeiro no gerenciamento da unidade de pronto-socorro hospitalar. Rev Enferm UFSM. 2017;7(1):90-9. doi: https://doi.org/10.5902/2179769223374
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A baixa participação dos enfermeiros no processo colabora com a previsão e provisão incorreta dos materiais nas unidades de atendimento, o que pode ocasionar muitas vezes, o superdimensionamento ou subdimensionamento do acervo de materiais, além de prejuízo à instituição devido o desperdício de recursos ou a falta dos mesmos na assistência prestada.
Desta forma é evidente a necessidade de envolvimento da equipe de enfermagem no GM, a fim de assumir uma postura ativa frente a este aspecto, mas, também, que sejam corresponsáveis pelo processo de armazenamento, controle quantitativo e qualitativo, além da monitorização da eficácia destes produtos após a aquisição12Melo AB, Gomes BRS, Pinheiro BSB, Martins LFJ, Palheta MG, Santos RSU, et al. A gestão de materiais médico-hospitalar em hospital público. Rev Eletrôn Gestão Saúde. 2016 [cited 2020 Jan 15];7(1):369-87. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3433/3119
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Participação no controle de qualidade dos materiais
No processo de GM a qualificação dos produtos é um elemento importante, é inquestionável a necessidade do controle de qualidade dos insumos na instituição, tanto dos produtos em uso como os em processo de aquisição2Castilho V, Mira VL, Lima AFC. Gerenciamento de recursos materiais. In: Kurcgant P. coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 145-57.,15Reis LB, Barbosa IA, Soares LJF, Cruz IM, Souza LPS, Silva CSO, et al. Análise das reprovações de materiais médico-hospitalares de um hospital de ensino. RAHIS Rev Adm Hosp Inov Saúde. 2015;12(3):10-21. doi: https://doi.org/10.21450/rahis.v12i3.2432
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A avaliação dos materiais deve ser feita em parceria com a equipe multidisciplinar que os utiliza uma vez que o comprometimento do profissional com este processo é uma boa forma de buscar a melhora da qualidade no serviço, envolvê-los e corresponsabilizá-los4Bogo PC, Bernardino E, Castilho V, Cruz EDA. The nurse in the management of materials in teaching hospital. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(4):632-9. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000400014
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Ao serem questionados sobre o controle da qualidade dos materiais utilizados na unidade de atuação, evidenciou-se que os profissionais de enfermagem estão inseridos neste processo ao realizarem as avaliações e testes dos produtos que são adquiridos pela instituição por meio de processos licitatórios, via pregão, e do preenchimento do Formulário de Incidentes e Eventos Adversos, instituído pelo Núcleo de Segurança do Paciente e Gestão da Qualidade da instituição, conforme os discursos a seguir:
[...] sobre a qualidade, o hospital tem licitações e volta e meia troca de marcas e fornecedores então quando tem algum defeito, alguma coisa, a gente faz a notificação, anexa o material e solicita que não seja mais comprado e que seja às vezes, retirado o lote também. (E8)
[...] a gente faz notificação. Na verdade, só, é essa a nossa participação. (E10)
[...] quanto à qualidade eu acredito que seja cada vez que vem um material que não é bom, a gente faz a ficha de notificação para reprovar ou não, aprovar o material, mas é essa participação. Não vejo mais o que o técnico teria que fazer nesse sentido. (TE8)
Pelas falas, verificou-se a participação dos profissionais de enfermagem na vigilância da qualidade dos produtos usados na assistência, a fim de evitar possíveis danos no processo de trabalho e ao paciente. A inserção destes profissionais na qualidade dos produtos utilizados na instituição ressalta a importância do seu envolvimento dentro do processo de gerenciamento de materiais no hospital estudado, além de, corresponsabilizá-los na vigilância destes produtos.
Assim, fica evidente que os atributos desses produtos influenciam na qualidade da assistência prestada e possuem profundas repercussões na segurança do trabalhador de enfermagem ao prestar o cuidado15Reis LB, Barbosa IA, Soares LJF, Cruz IM, Souza LPS, Silva CSO, et al. Análise das reprovações de materiais médico-hospitalares de um hospital de ensino. RAHIS Rev Adm Hosp Inov Saúde. 2015;12(3):10-21. doi: https://doi.org/10.21450/rahis.v12i3.2432
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Nesse sentido, o processo de notificação da queixa técnica de material de consumo de uso hospitalar, é tido como uma ferramenta que auxilia no GM, além de produzir informações com subsídios para a tomada de decisão, como por exemplo, possibilitar a investigação dos fatos relatados, inclusive à notificação do produto por meio do sistema de Notificação em Vigilância Sanitária (NOTIVISA), além de subsidiar o parecer técnico do produto durante o processo licitatório6Gil R, Chaves L, Laus A. Management of material resources with a focus on technical complaints. Rev Eletr Enferm. 2015;17(1):100-7. doi: https://doi.org/10.5216/ree.v17i1.27544
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Com a inserção dos profissionais no processo de avaliação dos produtos e controle de qualidade dos mesmos, a instituição promove a aproximação destes no processo de GM, o que facilita a avaliação de produtos em futuros processos de compras na instituição, e possibilita a criação de uma lista de produtos pré-avaliados e aprovados por esses profissionais, o que pode garantir uma melhora na qualidade do cuidado prestado.
Apesar da instituição pesquisada possuir um serviço de Padronização de Produtos para a Saúde, que é coordenado por um enfermeiro, que se faz presente na elaboração dos processo licitatórios para compra materiais médico-hospitalar, é importante destacar que a equipe de enfermagem participante no estudo ressalta que não se percebe inserida em outras etapas do processo do GM na instituição, quando deveriam estar envolvidos em todas as etapas desde a previsão, provisão, controle e a avaliação.
Dificuldades enfrentadas no processo de GM
O processo de compras nas instituições públicas é realizado por meio de processos licitatórios, que visa atender uma demanda especifica através de atos ou ações administrativas, amparadas pela Lei nº 8666/93, com o objetivo de buscar a proposta mais vantajosa para administração pública, respeitando alguns princípios12Melo AB, Gomes BRS, Pinheiro BSB, Martins LFJ, Palheta MG, Santos RSU, et al. A gestão de materiais médico-hospitalar em hospital público. Rev Eletrôn Gestão Saúde. 2016 [cited 2020 Jan 15];7(1):369-87. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3433/3119
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A administração dos recursos materiais no setor privado se sujeita às regras do mercado e o setor precisa gerenciá-lo com os preços competitivos em relação aos demais. O setor público não partilha das mesmas regras, pois devido aos seus orçamentos restritos, o mesmo necessita de maior controle do consumo e dos custos2Castilho V, Mira VL, Lima AFC. Gerenciamento de recursos materiais. In: Kurcgant P. coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 145-57..
Deste modo, o que se observou nas falas dos entrevistados foi à falta de planejamento por parte da instituição, que pode estar atrelada ao processo de licitação, à burocracia envolvida, e que repercute na assistência ao paciente.
[...] o problema é que parece que não há um planejamento adequado, eu vou te dar um exemplo, luva estéril para fazer curativo porque não tem material de curativo suficiente, às vezes, a gente tem que usar outro material muito mais caro porque aquele está em falta “[...]”. (E5)
Destarte, é preciso atenção no GM no que diz respeito à logística e a gestão de suprimentos que são fundamentais para o bom funcionamento da assistência ao paciente. No entanto, identificam-se na cadeia dos suprimentos hospitalares rupturas relacionadas a diversos fatores de riscos e vulnerabilidades, o que tem gerado a falta de insumos ou mesmo uma interrupção da assistência17Silva LF, Afonso T, Sousa CV, Afonso BPD. Vulnerabilidade e riscos de ruptura no abastecimento de materiais e medicamentos na cadeia de suprimento em um hospital público. Rev GEPROS. 2018;13(2):21-43. doi: https://doi.org/10.15675/gepros.v13i2.1832
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[...] falta material, a gente não tem porque depende de licitação ou a empresa atrasa a entrega, ou até porque o hospital não comprou. (E2)
[...] Dificuldade é quando falta material, que você se obriga a pegar outra coisa que não é aquilo que você tinha que usar, mas tem que usar na hora porque não tem outro. (TE2)
Deste modo, a dependência do processo licitatório para aquisição de materiais pode gerar uma outra forma de desperdício nas instituições, ocasionado pela utilização de insumos desnecessários e, muitas vezes, mais onerosos. O processo de compra nas instituições públicas geralmente é mais demorado e, em muitas situações, provoca a falta de materiais básicos, sem os quais os profissionais não podem trabalhar e ou prejudicam a assistência prestada, além de forçar a utilização de materiais com custos mais elevado, o que pode ocasionar prejuízo aos custos institucionais19Silva SL. O custo do desperdício de materiais para as instituições de saúde [dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; 2016 [cited 2020 Jan 15]. Available from: http://www.repositorio-bc.unirio.br:8080/xmlui/bitstream/handle/unirio/10957/Disserta%C3%A7%C3%A3o_%20Sarah%20Lopes%20Silva-1.pdf?sequence=1
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Devido à diminuição de recursos para as instituições públicas e a complexidade cada vez maior da assistência à saúde, os hospitais públicos não vêm conseguindo suprir adequadamente as necessidades de insumos e equipamentos, o que tem acarretado em uma intensa precarização das condições de trabalho. Diante disso, fica evidente a falta, a insuficiência ou inadequação dos recursos materiais, o que faz com que os trabalhadores se utilizem de adaptações e improvisações de materiais e equipamentos20Santos DM, Souza NVDO, Franco VQ, Silva PAS, Gonçalves FGA, Pires AS. Os trabalhadores de enfermagem e a prática de adaptar e improvisar no ambiente hospitalar. Rev Enferm Atual. 2019 [cited 2020 Jan 15]; 85(23). Available from: https://revistaenfermagematual.com/index.php/revista/article/view/245
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Destarte, é necessário que os EAS busquem investir em melhorias para o processos de compra de suprimentos de materiais, com um melhor planejamento dos processo licitatório a fim de evitar os fatores de risco que podem ocorrer durante o processo, além de problemas que podem vir a interferir na assistência prestada ao paciente.
Assim, o distanciamento da equipe de enfermagem no processo de GM, pode estar colaborando com a insuficiência de recursos e o desperdício de produtos utilizados na assistência. Desta forma, a importância da participação dos profissionais no processo GM nos EAS se faz necessária a fim de promover a adequação dos custos e dos recursos materiais utilizados na assistência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados indicam que os profissionais de enfermagem possuem uma baixa participação no processo de gerenciamento de materiais, reconhecendo-se mais ativamente no processo de controle de qualidade por meio das avaliações e notificações ao setor afetado.
Nesse sentindo, a falta de reconhecimento dos profissionais sobre a sua importância no gerenciamento de recursos materiais nas unidades de atendimento pode estar relacionada ao baixo envolvimento dos enfermeiros das unidades de atendimento nas demais etapas do processo gerenciamento, a não dissociação papeis no que se refere ao gerenciamento do cuidado, e ao gerenciamento de recursos materiais, o que pode vir a se tornar um grande empecilho para as instituições de saúde no controle dos custos diretos e indiretos, envolvidos no cuidado prestado.
Assim, é necessário que as instituições repensem outras formas de gestão visando a participação, conhecimentos e envolvimento dos profissionais no trabalho desenvolvido, a fim de melhorar os processos de compras, readequar e minimizar custos no gerenciamento de recursos materiais, além de corroborar com a redução de custos e com a qualidade da assistência prestada aos pacientes.
Contudo, faz-se necessário que as instituições de saúde implementem estratégias de educação e amplie os espaços de discussão sobre o tema entre os profissionais envolvidos no gerenciamento de materiais, principalmente os enfermeiros considerando o seu papel importante na preocupação com a melhora da assistência prestada, e na qualidade dos recursos materiais utilizados, como forma de aproximá-los da temática e de compreenderem que esta é uma de suas atribuições.
O cenário do estudo composto apenas por três unidades de atendimento da instituição estudada constitui-se em limitação do estudo, pois ao considerar que estas unidades apresentavam maior perfil de consumo de materiais, entendeu-se que os profissionais alocados nesses setores estariam mais atuantes no processo de gerenciamento de materiais, haja vista o perfil e a complexidade dos pacientes atendidos nessas unidades.
O estudo ora concluído pretende colaborar para o aprofundamento acerca do tema gerenciamento de materiais, assim como poderá contribuir para a melhoria da atuação especificamente do enfermeiro no processo gerenciamento de recursos materiais nas unidades assistenciais, bem como na avaliação da abordagem deste tema na formação destes profissionais por apontar suas dificuldades nesse contexto. Além disso, os dados oriundos, deste estudo, poderá vir a contribuir para melhorias deste processo nos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde e nas unidades de atendimento, além de, incentivar novos estudos que avancem sobre a compreensão e participação dos profissionais de enfermagem no gerenciamento de materiais em outros cenários, considerando o “modus operandi” deste processo.
REFERENCES
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
26 Fev 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
-
Recebido
27 Mar 2020 -
Aceito
04 Ago 2020