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Cordel e patrimônio

Cordel and patrimony

O presente dossiê da seção Documentação da Revista do Instituto de Estudos Brasileiros traz um conjunto de textos escritos por agentes que estiveram envolvidos, nos últimos anos, na elaboração de instrumentos teóricos e técnicos de alguma forma relacionados à catalogação, ao processamento e ao tratamento de Acervos de Literatura de Cordel, no Brasil e no exterior. Além disso, apresenta material que documenta parte do processo que resultou no reconhecimento da literatura de cordel como patrimônio cultural brasileiro, ocorrido em 19 de setembro de 2018, e no qual o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP) esteve particularmente envolvido - seja ao ter abrigado uma das reuniões de mobilização ocorridas durante o processo de registro, seja ao ter construído, com a parceria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ministério da Cultura. Ata da 89a Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Rio de Janeiro - Rio de Janeiro. 19 de setembro de 2018. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/atas/ata(3).pdf>. Acesso em: jan. 2019.
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e o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma das principais ações de salvaguarda previstas no Dossiê de Registro, o Portal de Literatura de CordelPORTAL de Literatura de Cordel. Instituto de Estudos Brasileiros. Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.portaldocordel.ieb.usp.br>. Acesso em: fev. 2019.
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2 2 O endereço do portal é: www.portaldocordel.ieb.usp.br. .

O primeiro desses textos, “A literatura de cordel como patrimônio cultural”, de Ulpiano T. Bezerra de Meneses, professor emérito da Universidade de São Paulo, é o histórico parecer que fundamentou a aprovação, pelo Iphan, do registro do cordel como patrimônio imaterial3 3 Agradeço a Pedro Bolle o encaminhamento desse texto para publicação neste dossiê. . O parecer4 4 O parecer consta na Ata da 89a Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (IPHAN, 2018, p. 6-26). , acolhido por unanimidade na sessão que consagrou tal registro, apresenta uma análise do cordel em suas dimensões expressiva, estética, histórica, comunitária, memorial-identitária e pragmática. De forma sintética, não apenas traz uma elaboração conceitual que o enquadra na definição constitucional de “patrimônio cultural”, mas ainda propõe sua abordagem como “arte da palavra poética” e “tradutor de mundos outros”.

Outro texto diretamente relacionado ao reconhecimento do cordel como patrimônio cultural nacional, intitulado “Do rapa ao registro: a literatura de cordel como patrimônio cultural do Brasil”, é de autoria da coordenadora-geral da pesquisa que resultou no registro do cordel, a profa. Rosilene Alves de Melo (Universidade Federal de Campina Grande - UFCG/pós-doc IEB/USP-bolsa CNPq). A autora procura historiar as iniciativas de preservação da literatura de cordel no Brasil ao longo do século XX. Para tanto, parte do ponto de vista dos processos de patrimonialização como operações políticas e de saber, atravessadas por tensões e conflitos, desafiando-nos a pensar criticamente sobre o processo de registro do cordel pelo Iphan ao nos chamar a atenção para a diversidade e a heterogeneidade do campo por ele abrangido.

Também o prof. Antonio Gilberto Ramos Nogueira (Universidade Federal do Ceará - UFC/pós-doc IEB/USP-2018) nos convida a refletir sobre o processo de patrimonialização do cordel a partir de sua historicidade - enfocando, porém, sobretudo, as experiências do Projeto Literatura de Cordel do Centro de Referência Cultural do Ceará - Ceres (1975-1990). Propõe, em “Literatura de cordel: folclore, coleção e patrimônio imaterial”, um caminho de abordagem dos acervos de cordel e do próprio processo de patrimonialização que não deixe de levar em conta a memória dos sujeitos produtores, atentando para a preservação das tradições populares, por intermédio da consideração das relações entre acervos, cordelistas e colecionadores.

Já o prof. Michel Riaudel (Sorbonne, Paris IV), em “Literatura de cordel e valorização digital: o direito de propriedade em questão”, apresenta uma reflexão crítica sobre o tratamento dado aos acervos de cordel, por intermédio de recursos digitais contemporâneos, por instituições públicas como as universidades - fazendo-o a partir de sua experiência de trabalho e pesquisa à frente do projeto que culminou na elaboração da Biblioteca Virtual CordelBIBLIOTECA Virtual Cordel. Universidade de Poitiers. Disponível em: <http://cordel.edel.univ-poitiers.fr>. Acesso em: fev. 2019.
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, da Universidade de Poitiers (França). Detecta, para tanto, as contradições e desafios em torno da questão dos direitos de propriedade intelectual, que seguem lógicas distintas se os pensamos segundo a ótica daquelas instituições ou de acordo com as vozes dos próprios cordelistas. A partir dessa leitura, Riaudel sugere caminhos para o aperfeiçoamento dos atuais procedimentos e dispositivos de disponibilização.

Por fim, a profa. Ivone da Silva Ramos Maya (Universidade Federal Fluminense - UFF, aposentada), pesquisadora-chave na construção do portal de literatura de cordel da Casa de Rui Barbosa (CORDEL Literatura Popular em Verso, s. dCORDEL Literatura Popular em Verso. Acervo. Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/acervo.html>. Acesso em: fev. 2019.
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.), nos oferece, em “O fluxo perene da literatura de cordel: coincidências ‘virtuosas’ entre Mário de Andrade e os poetas nordestinos”, o esquadrinhamento do interesse de Mário de Andrade pela criação popular, ao explorar, em particular, suas marcas e ressonâncias em relação à poesia de cordel - destacando, com isso, seus gestos de civismo e desprendimento intelectual.

Com exceção do parecer elaborado pelo prof. Ulpiano, os demais textos aqui publicados tiveram uma primeira versão apresentada no Seminário “Acervos de cordel, bancos de dados e patrimônio em instituições públicas: desafios e perspectivas”, promovido pelo IEB/USP e organizado pelos profs. Paulo Iumatti e Rosilene Alves de Melo em 25 de abril de 2018, como uma das atividades vinculadas ao projeto CNPq 458952/2014-1, “A utilização dos novos instrumentos de pesquisa em Acervos digitalizados para o estudo histórico do Marco na literatura de cordel brasileira (final do século XIX-1950)”.

REFERÊNCIAS

  • BIBLIOTECA Virtual Cordel. Universidade de Poitiers. Disponível em: <http://cordel.edel.univ-poitiers.fr>. Acesso em: fev. 2019.
    » http://cordel.edel.univ-poitiers.fr
  • CORDEL Literatura Popular em Verso. Acervo. Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/acervo.html>. Acesso em: fev. 2019.
    » http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/acervo.html
  • IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ministério da Cultura. Ata da 89a Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Rio de Janeiro - Rio de Janeiro. 19 de setembro de 2018. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/atas/ata(3).pdf>. Acesso em: jan. 2019.
    » http://portal.iphan.gov.br/uploads/atas/ata(3).pdf
  • PORTAL de Literatura de Cordel. Instituto de Estudos Brasileiros. Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.portaldocordel.ieb.usp.br>. Acesso em: fev. 2019.
    » http://www.portaldocordel.ieb.usp.br
  • 2
    O endereço do portal é: www.portaldocordel.ieb.usp.br.
  • 3
    Agradeço a Pedro Bolle o encaminhamento desse texto para publicação neste dossiê.
  • 4
    O parecer consta na Ata da 89a Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (IPHAN, 2018, p. 6-26).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jun 2019
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2019

Histórico

  • Recebido
    01 Ago 2018
  • Aceito
    01 Mar 2019
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