Acessibilidade / Reportar erro

Influência de fatores nutricionais e do polimorfismo PON1 C(-107)T sobre a atividade da Paraoxonase 1 na infância Como citar este artigo: Sigales TS, Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle SC. Influence of nutritional factors and the PON1 C(-107)T polymorphism on paraoxonase-1 activity in childhood. J Pediatr (Rio J). 2020;96:495-502.

Resumo

Objetivo:

A enzima cardioprotetora Paraoxonase 1 (PON1) sofre importante influência de polimorfismos genéticos e fatores nutricionais. O objetivo deste estudo foi investigar a influência da alimentação, do estado nutricional e do polimorfismo C(-107)T sobre a atividade arilesterase da PON1 em crianças.

Métodos:

Estudo transversal com 97 crianças entre 5 e 8 anos, de ambos os sexos, de um ambulatório de pediatria no sul do Brasil. Realizou-se questionário sociodemográfico, de comportamento e de consumo alimentar, medidas antropométricas e coleta de sangue em laboratório. A atividade arilesterase da PON1 foi mensurada pela extinção de fenol (U/mL), realizada extração do DNA e análise do polimorfismo PON1 C(-107)T. O equilíbrio de Hardy-Weinberg foi testado com qui-quadrado e usada regressão linear para estimar a atividade da PON1 segundo quatro modelos de ajuste, erro aceitável de 5%.

Resultados:

Na amostra o sexo masculino representou 50,5%, 39,2% tinham 6 anos, 54,5% eram eutróficos e 51,5% tinha atividade da PON1 inferior à mediana (90,0;15-30 U/ml). A frequência dos genótipos foi 54,6% (53/97), 31,0% (30/97) e 14,4% (14/97), respectivamente, para CT, CC e TT, estiveram em equilíbrio de Hardy-Weinberg (p = 0,22). Na análise de regressão o modelo que incluiu variáveis sociodemográficas, de frequência do consumo de frutas, verduras, legumes, laticínios e feijões estimou uma variabilidade de 14,8% na atividade da PON1 combinada ao polimorfismo PON1 C(-107)T.

Conclusões:

Na infância uma alimentação de boa qualidade, com maior participação de alimentos saudáveis foi importante para predizer a atividade da enzima cardioprotetora PON1 combinada ao polimorfismo C(-107)T do gene da PON1.

PALAVRAS-CHAVE
Paraoxonase-1; Nutrição infantil; Estado nutricional; Frequência gênica; Prevenção de doença; Qualidade dos alimentos

Abstract

Objective:

The cardioprotective enzyme paraoxonase-1 (PON1) suffers an important influence from genetic polymorphisms and nutritional factors. The aim of this study was to investigate the influence of diet, nutritional status, and the C(-107)T polymorphism on PON1 arylesterase activity in children.

Methods:

This was a cross-sectional study with 97 children, aged between 5 and 8 years, of both genders, from a pediatric outpatient clinic in southern Brazil. A sociodemographic, behavioral, and food consumption questionnaire was applied, and anthropometric measurements and laboratory blood samples were taken. PON1 arylesterase activity was measured by phenol extinction (U/mL), and DNA extraction and analysis of the PON1 C(-107)T polymorphism were performed. The Hardy-Weinberg equilibrium was tested with the chi-squared test and linear regression was used to estimate PON1 activity according to four adjustment models, with an acceptable error of 5%.

Results:

In the sample, the male gender accounted for 50.5%, 39.2% were 6 years of age, 54.5% had normal weight, and 51.5% had PON1 activity below the median (90.0, 15-30 U/mL). Genotype frequency was 54.6% (53/97), 31.0% (30/97), and 14.4% (14/97), respectively, for CT, CC, and TT, consistent with the Hardy-Weinberg equilibrium (p = 0.22). In the regression analysis, the model that included sociodemographic variables as well as frequency of consumption of fruits, vegetables, legumes, dairy products, and beans estimated a variability of 14.8% in PON1 activity combined with the PON1 C(-107)T polymorphism.

Conclusions:

During childhood, a good-quality diet with greater inclusion of healthy foods was important to predict the activity of the cardioprotective enzyme PON1 combined with the C(-107)T polymorphism of the PON1 gene.

KEYWORDS
Paraoxonase-1; Child nutrition; Nutritional status; Gene frequency; Disease prevention; Food quality

Introdução

A PON1 é uma enzima de 43kDa expressa em humanos, sobretudo no fígado, detectada no plasma ligada às Apo-proteínas A1 e J das partículas da lipoproteína de alta densidade (HDL).11 Shunmoogam N, Naidoo P, Chilton R. Paraoxonase (PON)-1: a brief overview on genetics, structure, polymorphisms and clinical relevance. Vasc Health Risk Manag. 2018;14:137-43. A enzima impede o dano oxidativo aos fosfolipídios das lipoproteínas, em especial na lipoproteína de baixa densidade (LDL).11 Shunmoogam N, Naidoo P, Chilton R. Paraoxonase (PON)-1: a brief overview on genetics, structure, polymorphisms and clinical relevance. Vasc Health Risk Manag. 2018;14:137-43.,22 Mackness B, Durrington P, McElduff P, Yarnell J, Azam N, Watt M, et al. Low paraoxonase activity predicts coronary events in the caerphilly prospective study. Circulation. 2003;107:2775-9. Dessa maneira a PON1 previne o efeito pró-inflamatório dos lipoperóxidos na camada íntima dos vasos sanguíneos e sua maior atividade repercute em redução do risco de doença cardiovascular (DCV).22 Mackness B, Durrington P, McElduff P, Yarnell J, Azam N, Watt M, et al. Low paraoxonase activity predicts coronary events in the caerphilly prospective study. Circulation. 2003;107:2775-9.,33 Schrader C, Rimbach G. Determinants of paraoxonase 1 status: genes, drugs and nutrition. Curr Med Chem. 2011;18:5624-43. Essa enzima hidrolisa um amplo espectro de substratos, mas sua atividade arilesterase (fenilacetato) é especialmente importante para redução do dano endotelial e DCV.11 Shunmoogam N, Naidoo P, Chilton R. Paraoxonase (PON)-1: a brief overview on genetics, structure, polymorphisms and clinical relevance. Vasc Health Risk Manag. 2018;14:137-43.,33 Schrader C, Rimbach G. Determinants of paraoxonase 1 status: genes, drugs and nutrition. Curr Med Chem. 2011;18:5624-43. A PON1 sofre importante influência de polimorfismos genéticos e fatores nutricionais.11 Shunmoogam N, Naidoo P, Chilton R. Paraoxonase (PON)-1: a brief overview on genetics, structure, polymorphisms and clinical relevance. Vasc Health Risk Manag. 2018;14:137-43.,33 Schrader C, Rimbach G. Determinants of paraoxonase 1 status: genes, drugs and nutrition. Curr Med Chem. 2011;18:5624-43.,44 Lou-Bonafonte J, Gabás-Rivera C, Navarro MA, Osada J. PON1 and Mediterranean diet. Nutrients. 2015;7:4068-92.

O gene da PON1 se localiza no cromossomo humano 7, exibe 9 éxons e codifica uma proteína com 354 aminoácidos.11 Shunmoogam N, Naidoo P, Chilton R. Paraoxonase (PON)-1: a brief overview on genetics, structure, polymorphisms and clinical relevance. Vasc Health Risk Manag. 2018;14:137-43.,55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9. Mais de 200 polimorfismos foram descritos nesse gene.11 Shunmoogam N, Naidoo P, Chilton R. Paraoxonase (PON)-1: a brief overview on genetics, structure, polymorphisms and clinical relevance. Vasc Health Risk Manag. 2018;14:137-43.,33 Schrader C, Rimbach G. Determinants of paraoxonase 1 status: genes, drugs and nutrition. Curr Med Chem. 2011;18:5624-43. No entanto, o polimorfismo caracterizado na região promotora PON1 C(-107)T exerce efeito significativo na enzima, é um forte preditor de sua atividade arilesterase.55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.,66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8. O alelo -107C proporciona níveis de PON1 até duas vezes mais elevados do que aqueles observados com o alelo -107T. 55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.,66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8. Há evidências de que esse polimorfismo no promotor do gene PON1 se localiza no ponto de ligação do fator de transcrição Sp1. 55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.,66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8. Portanto, a presença do alelo C resulta em maior expressão do gene PON1 e maior atividade sérica da enzima.55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.,66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8.

Dentre os fatores nutricionais, os ácidos graxos monoinsaturados e as vitaminas antioxidantes, a exemplo das vitaminas C e E, aparecem como responsáveis pelo aumento da atividade da PON1.77 Kim DS, Maden SK, Burt AA, Ranchalis JE, Furlong CE, Jarvik GP. Dietary fatty acid intake is associated with paraoxonase 1 activity in a cohort-based analysis of 1548 subjects. Lipids Health Dis. 2013;12:183.,1010 Jarvik GP, Tsai NT, McKinstry LA, Wani R, Brophy VH, Richter RJ, et al. Vitamin C and E intake is associated with increased paraoxonase activity. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2002;22:1329-33. Da mesma forma um maior consumo de frutas, verduras e legumes se associou a uma atividade mais elevada da enzima.99 Daniels JA, Mulligan C, McCance D, Woodside JV, Patterson C, Young IS, et al. A randomised controlled trial of increasing fruit and vegetable intake and how this influences the carotenoid concentration and activities of PON-1 and LCAT in HDL from subjects with type 2 diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2014;13:16.,1010 Jarvik GP, Tsai NT, McKinstry LA, Wani R, Brophy VH, Richter RJ, et al. Vitamin C and E intake is associated with increased paraoxonase activity. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2002;22:1329-33. Por outro lado, estudos indicam que o excesso de peso repercute em menor atividade da PON1, inclusive na infância.1111 Koncsos P, Seres I, Harangi M, Illyés I, Józsa L, Gönczi F, et al. Human paraoxonase-1 activity in childhood obesity and its relation to leptin and adiponectin levels. Pediatric Res. 2010;67:309-13.,1313 Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle S. Association between paraoxonase 1 (PON1) enzyme activity PON1 C(-107)T polymorphism, nutritional status, and lipid profile in children. Nutrire. 2016;41:20. A infância é um período vulnerável da vida, contudo na atualidade as crianças estão expostas a múltiplos fatores de risco cardiovasculares e metabólicos.1414 Vos MB, Kaar JL, Welsh JA. Added sugars and cardiovascular disease risk in children: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2017;135:e1017-34. Sabe-se que a alimentação das crianças brasileiras é pobre em frutas, legumes e verduras e rica em bebidas açucaradas, biscoitos recheados, hambúrgueres, salgados e embutidos.1515 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009): antropometria e estado nutricional de crianças adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. Além disso, o expressivo aumento da prevalência do excesso de peso a partir dos 5 anos correlaciona-se diretamente ao incremento de morbidades associadas na população infantil.1515 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009): antropometria e estado nutricional de crianças adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.,1616 Eren E, Abuhandan M, Solmaz A, Taşkın A. Serum paraoxonase/arylesterase activity and oxidative stress status in children with metabolic syndrome. J Clin Res Pediatr Endocrinol. 2014;6:163-8. Essa alimentação de má qualidade e o excesso de peso predispõem ao acúmulo de espécies reativas de oxigênio, ao dano oxidativo as membranas biológicas e ao início de doenças, em particular DCV.1111 Koncsos P, Seres I, Harangi M, Illyés I, Józsa L, Gönczi F, et al. Human paraoxonase-1 activity in childhood obesity and its relation to leptin and adiponectin levels. Pediatric Res. 2010;67:309-13.,1212 Seres I, Bajnok L, Harangi M, Sztanek F, Koncsos P, Paragh G. Alteration of PON1 activity in adult and childhood obesity and its relation to adipokine levels. Adv Exp Med Biol. 2010;660:129-42.,1616 Eren E, Abuhandan M, Solmaz A, Taşkın A. Serum paraoxonase/arylesterase activity and oxidative stress status in children with metabolic syndrome. J Clin Res Pediatr Endocrinol. 2014;6:163-8.

Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi investigar a influência da alimentação, do estado nutricional e do polimorfismo genético C(-107)T sobre a atividade arilesterase da enzima antiaterogênica PON1 na infância.

Métodos

Amostra

Estudo transversal feito com crianças entre 5 e 8 anos incompletos, de ambos os sexos, atendidas no Ambulatório de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), na cidade de Pelotas - RS. O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFPEL (504.362/2013).

Crianças diagnosticadas com doenças hepáticas, paralisia cerebral, displasia óssea ou neoplasias, aquelas portadoras de necessidades especiais (físicas ou motoras) e alterações genéticas, como síndrome de Down e talassemia, foram excluídas do estudo. Os responsáveis das crianças elegíveis foram devidamente esclarecidos e convidados, os que autorizaram a participação no estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre Esclarecido - TCLE. O assentimento da criança foi questionado oralmente antes do início das avaliações e respeitada sua decisão.

Foram entrevistadas 227 crianças, dessas 193 atenderam aos critérios de inclusão, houve cinco recusas (2,6%). Noventa e uma crianças (49,7%) não completaram o protocolo do estudo, caracterizaram-se como perdas. Destaca-se como causa dessas perdas o não comparecimento ao laboratório para coleta de sangue (40,0%). No fim, o estudo contou com a participação de 97 crianças.

Dados sociodemográficos, antropometria e coleta de sangue

Os responsáveis responderam a um questionário sociodemográfico, de comportamento e de consumo alimentar das crianças, foram feitas medidas antropométricas e foi a coleta de sangue em laboratório de análises clínicas.

As duas primeiras categorias de variáveis do questionário foram renda familiar (em R$ convertidos a salários mínimos vigentes), idade da mãe (anos completos), escolaridade materna (anos completos de estudo), número de pessoas no domicílio e tempo (em horas) frente a telas (computador, celular, tablet, videogames, televisão). A cor da pele foi observada e classificada como branca ou não branca.

O peso e altura foram coletados com balança plataforma digital (Welmy®), com capacidade de 150 kg e precisão de 100 g e estadiômetro acoplado com capacidade de 200 cm e precisão de 0,5 cm. Para avaliar o estado nutricional usou-se o Índice de Massa Corporal (IMC) para idade em escore-z, segundo recomendação da Organização Mundial da Saúde de 2007,1717 de Onis M, Onyango W, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organ. 2007;85:660-7. por meio do programa AnthroPlus. Crianças com IMC-para-idade > + 1DP foram classificadas com excesso de peso. A circunferência da cintura foi aferida na linha da cintura, no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. O referencial de comparação foi o proposto por Freedman et al.1818 Freedman DS, Serdula MK, Srinivasan SR, Berenson GS. Relation of circumferences and skinfold thicknesses to lipid and insulin concentrations in children and adolescents: the Bogalusa Heart Study. Am J Clin Nutr. 1999;69:308-17.

Após jejum de 12 horas amostras de 5 mL de sangue foram coletadas, aliquotadas e congeladas a -80oC para análises posteriores.

Determinação da atividade arilesterase da PON1

A atividade arilesterase da PON1 foi medida em amostras de soro com o uso de fenilacetato como substrato. A atividade enzimática foi calculada a partir da velocidade de formação de fenol através do aumento da absorbância a 270 nm, temperatura de 25 °C, em espectrofotômetro (FEMTO®). As amostras foram diluídas 1:3 em 20 mM de Tampão Tris/HCl (Sigma Chemical Co, St. Louis, USA), pH 8,0, com 1 mM de CaCl2 (Vetec Chemical Co, RJ, Br). A solução reagente foi composta pelo tampão, ao qual foi adicionado 1 mM de fenilacetato (Sigma Chemical Co, St. Louis, USA). A reação foi determinada após 20 segundos de retenção e a absorbância medida por 80 segundos. Considerou-se uma unidade de atividade arilesterase da PON1 igual a 1 µM de fenol/minuto e essa foi expressa em U/mL, com base no coeficiente de extinção de fenol.1616 Eren E, Abuhandan M, Solmaz A, Taşkın A. Serum paraoxonase/arylesterase activity and oxidative stress status in children with metabolic syndrome. J Clin Res Pediatr Endocrinol. 2014;6:163-8. As análises foram em duplicata e amostras em branco com água deionizada foram usadas para corrigir a hidrólise não enzimática.

Extração do DNA e análise do polimorfismo PON1 C(-107)T

O DNA foi extraído das amostras de sangue que continham EDTA de acordo com procedimento padrão descrito previamente por Kanai et al.1919 Kanai N, Fuji T, Saito K, Yokoyama T. Rapid and simple method for preparation of genomic DNA from easily obtainable clotted blood. J Clin Pathol. 1994;47:1043-4. e quantificado em espectrofotômetro. As amostras de DNA foram diluídas para concentração de 50 ng/mL. A genotipagem dos indivíduos para o polimorfismo PON1 C(-107)T foi feita através da técnica de restriction fragment length polymorphism (RFLP) de acordo com o validado por Campo et al.2020 Campo S, Sardo MA, Trimarchi G, Bonaiuto M, Fontana L, Castaldo M, et al. Association between serum paraoxonase (PON1) gene promoter T(-107)C polymorphism PON1 activity and HDL levels in healthy Sicilian octogenarians. Exp Gerontol. 2004;39:1089-94.

Brevemente, um fragmento de 240pb da região do promotor do gene da PON1 foi amplificado por PCR em 35 ciclos (5 min a 94 °C, seguido por 45s a 94 °C (desnaturação), 45s a 67 °C (anelamento) e 45s a 72 °C (extensão), seguido de 5 min a 72° C). Para tal foram usados os primers: forward 5’AGCTAGCTGCGGACCCGGCGGGGAGGaG3’ e reverse 5’GGCTGCAGCCCTCACCACAACCC3’. A letra minúscula no primer forward indica um erro de pareamento proposital introduzido no amplicon para gerar um sítio de restrição para a enzima BsrBI, pois não há sítio de restrição específico que corte a sequência original do DNA. A digestão foi feita através da incubação da amostra de PCR com 3 UI da enzima BsrBI (New England Bio Labs, Cambridge, UK) por duas horas a 37° C. Após a digestão os fragmentos de DNA foram separados por eletroforese em gel de agarose (Kasvi, Paraná, BR) de 3%, corados com SYBR Safe (Applied Biosystems). O alelo C foi identificado pela presença dos fragmentos de 28 e 212 pb, enquanto o alelo T resultou em um fragmento de 240 pb não digerido.

Índice de Qualidade da Alimentação

O Índice de Qualidade da Alimentação (IQA) foi elaborado com referência no Índice de Alimentação do Escolar (Ales).2121 Momm N, Höfelmann DA. Qualidade da dieta e fatores associados em crianças matriculadas em uma escolar municipal de Itajaí, Santa Catarina. CadSaúdeColet. 2014;22:32-9.,2222 Molina B, Lopéz M, Faria P, Cadei V, Zandonade E. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Rev Saude Pública. 2010;44:732-85. Porém, a questão sobre o local das refeições foi colocada no lugar da original que investigava consumo de peixe. O IQA baseou-se: 1) na identificação de componentes comportamentais das crianças, especificamente do hábito de fazer desjejum e de fazer as refeições à mesa; 2) na frequência do consumo alimentar.

A cada frequência específica foi atribuída uma pontuação positiva ou negativa (material suplementar). Para os alimentos de alta qualidade nutricional, como fruta, verdura, legume, feijão e leite, foi acrescido um ponto quando consumidos diariamente. No caso de consumo menor do que sete vezes por semana (duas a quatro vezes, a depender do alimento), foi subtraído um ponto. Já para alimentos de baixa qualidade nutricional, como doce, biscoito, refrigerante, salgadinho, fritura, maionese, macarrão instantâneo e hambúrguer, foi acrescido um ponto quando não consumidos ou consumidos raramente. Além disso, foi subtraído um ponto para a frequência diária desses alimentos. A pontuação máxima do IQA correspondeu a 15 pontos. A distribuição das pontuações totais em tercis originou três categorias de qualidade da alimentação: baixa (≤ 3 escore- p25), média (4 a 6 escores-p50) e boa (≥ 7 escores-p75).

Análises estatísticas

Os dados foram digitados no Microsoft Excel 2013 e analisados no programa STATA versão 12.0 (Stata Corp., College Station, USA). A normalidade dos dados foi testada a partir do teste de Shapiro-Wilk, as variáveis são apresentadas como frequência absoluta e relativa, média e desvio-padrão (DP), mediana e intervalo interquartil (IIQ)- p25-75. Os testes U de Mann-Whitney ou Kruskal-Wallis foram usados para comparar os escores entre duas ou três categorias de variáveis. O qui-quadrado foi usado para testar o equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), com as frequências observadas e as esperadas. Na análise não ajustada foi usada a regressão linear simples para estimar a atividade da PON1 de acordo com o genótipo. As análises ajustadas foram feitas por meio de regressão linear múltipla com quatro modelos diferentes: Modelo 1 = incluiu variáveis sociodemográficas de escolaridade materna, renda familiar, número de pessoas no domicílio, cor da pele e sexo; Modelo 2 = incluiu as frequências absolutas de consumo alimentar dos alimentos de alta qualidade nutricional, ao ajuste do modelo 1; Modelo 3 = incluiu as frequências de consumo alimentar dos alimentos de baixa qualidade nutricional, ao ajuste do modelo 2; Modelo 4 = incluiu o escore z do IMC ao ajuste do modelo 3. Examinou-se a mudança no coeficiente determinação (R2) ajustado, o nível de significância adotado foi de p < 0,05.

Resultados

As características da amostra e o escore do IQA são apresentados na tabela 1. O sexo masculino representou 50,5% (n = 49), 39,2% (n = 38) tinham idade igual a 6 anos, a maioria 87,6% (n = 85) era de pele branca, a renda familiar foi de 2 ou menos salários mínimos e 50,5% (n = 49) permaneciam mais de duas horas/dia em atividade sedentária. A circunferência da cintura ficou abaixo do percentil de risco para 65,0% (n = 63) da amostra e 55,0% (n = 53) se encontravam eutróficos. A atividade arilesterase da PON1 correspondeu à mediana de 90,0 (15-30) U/mL e 51,5% (n = 50) das crianças tinham PON1 inferior a esse valor. Quanto ao IQA, a pontuação mediana foi de 5,0 (3,0-7,0) pontos e não houve diferença significativa entre as pontuações segundo as características da amostra.

Tabela 1
Escore do Índice de Qualidade da Alimentação conforme as características sociodemográficas, comportamentais, antropométricas e do nível de atividade arilesterase da PON1 de crianças entre 5 e 8 anos incompletos (n = 97), Pelotas-RS

A frequência dos genótipos para o polimorfismo PON1 C(-107)T foi de 54,6% (53/97) para o genótipo CT, 31,0% (30/97) para o genótipo CC e 14,4% (14/97) para o genótipo TT. A distribuição dos genótipos mostrou que a população está em equilíbrio de Hardy-Weinberg (p = 0,22). A frequência alélica foi de 58,0% para o alelo C e 42,0% para o alelo T.

A figura 1 mostra a influência do genótipo e da qualidade da alimentação sobre a PON1. A atividade arilesterase foi significativamente mais elevada no genótipo CC comparada à dos genótipos CT e TT (fig. 1A). A PON1 mostrou nível intermediário de atividade no genótipo heterozigoto, porém não houve diferença significativa comparada à do genótipo TT (fig. 1A). A enzima não mostrou diferença significativa entre as três categorias de qualidade da alimentação, conforme a distribuição das pontuações do IQA em tercis (fig. 1B).

Figura 1
Atividade arilesterase da PON1, de acordo com o genótipo do polimorfismo PON1 C(-107)T (A) e de acordo com o IQA (B) de crianças entre 5 e 8 anos incompletos (n = 97), Pelotas-RS. Os dados são apresentados como média ± dp, letras diferentes indicam p < 0,05, Anova de uma via.

A análise bruta e ajustada da associação entre a atividade da PON1 e o polimorfismo PON1 C(-107)T são apresentados na tabela 2. Na análise bruta as associações foram altamente significativas. Quando a análise foi ajustada para as variáveis sociodemográficas, de consumo alimentar e de estado nutricional, a associação entre a enzima e o polimorfismo manteve-se significativa. No ajuste do modelo 1 a inclusão das variáveis sociodemográficas resultou num coeficiente de determinação ajustado foi de 11,6%. Já no ajuste do modelo 2 a inclusão da frequência do consumo de alimentos saudáveis explicou uma variabilidade de 14,8% na atividade da PON1. A porcentagem de variação da PON1 atribuída aos fatores genéticos e nutricionais é mostrada na (fig. 2).

Tabela 2
Análise bruta e ajustada da associação entre atividade arilesterase da PON1 e o polimorfismo PON1 C(-107)T em crianças entre 5 e 8 anos incompletos (n = 97), Pelotas-RS

Figura 2
Variabilidade da atividade arilesterase da PON1 explicada pelo polimorfismo PON1 C(-107)T, fatores sociodemográficos e nutricionais em crianças entre 5 e 8 anos incompletos (n = 97), Pelotas-RS.

Discussão

Neste estudo mostrou-se que fatores nutricionais, a exemplo da dieta e IMC, combinados ao polimorfismo PON1C(-107)T, são previsores da atividade arilesterase da PON1 na infância. Além disso, foram significativos para explicar uma variação de 14,8% na enzima. O genótipo CC e os alimentos saudáveis, de boa qualidade nutricional foram os fatores que destacadamente influenciaram a uma maior atividade enzimática.

O índice de qualidade de alimentação de escolares é um instrumento prático e adequado à realidade brasileira para monitorar a alimentação de crianças.2121 Momm N, Höfelmann DA. Qualidade da dieta e fatores associados em crianças matriculadas em uma escolar municipal de Itajaí, Santa Catarina. CadSaúdeColet. 2014;22:32-9.,2222 Molina B, Lopéz M, Faria P, Cadei V, Zandonade E. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Rev Saude Pública. 2010;44:732-85. Uma alimentação de média e boa qualidade conforme verificada no atual estudo não significa adequação do ponto de vista nutricional. Isso foi evidenciado pela baixa pontuação atingida nos tercis mais elevados de distribuição do IQA. Molina et al.2222 Molina B, Lopéz M, Faria P, Cadei V, Zandonade E. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Rev Saude Pública. 2010;44:732-85. avaliaram a qualidade da alimentação de 1282 escolares e verificaram pontuações similares às que definiram a alimentação das crianças deste estudo. Além disso, Molina et al.2222 Molina B, Lopéz M, Faria P, Cadei V, Zandonade E. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Rev Saude Pública. 2010;44:732-85. encontraram que a maioria dos escolares consumia uma alimentação de baixa qualidade.

Estudos sugerem uma modulação dietética da enzima e atribuem aos antioxidantes, a exemplo de vitaminas e compostos fenólicos, efeito protetor a sua estrutura e função.33 Schrader C, Rimbach G. Determinants of paraoxonase 1 status: genes, drugs and nutrition. Curr Med Chem. 2011;18:5624-43.,44 Lou-Bonafonte J, Gabás-Rivera C, Navarro MA, Osada J. PON1 and Mediterranean diet. Nutrients. 2015;7:4068-92.,99 Daniels JA, Mulligan C, McCance D, Woodside JV, Patterson C, Young IS, et al. A randomised controlled trial of increasing fruit and vegetable intake and how this influences the carotenoid concentration and activities of PON-1 and LCAT in HDL from subjects with type 2 diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2014;13:16. Neste estudo a presença de alimentos de boa qualidade nutricional combinada ao polimorfismo PON1C(-107)T alterou de forma positiva a atividade da PON1. Esse resultado pode ser atribuído a uma maior participação das frutas, legumes e verduras na dieta de uma parcela das crianças.33 Schrader C, Rimbach G. Determinants of paraoxonase 1 status: genes, drugs and nutrition. Curr Med Chem. 2011;18:5624-43.,44 Lou-Bonafonte J, Gabás-Rivera C, Navarro MA, Osada J. PON1 and Mediterranean diet. Nutrients. 2015;7:4068-92.,99 Daniels JA, Mulligan C, McCance D, Woodside JV, Patterson C, Young IS, et al. A randomised controlled trial of increasing fruit and vegetable intake and how this influences the carotenoid concentration and activities of PON-1 and LCAT in HDL from subjects with type 2 diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2014;13:16. Em particular, um estudo de intervenção mostrou que o consumo de seis porções diárias de frutas, verduras e legumes impactou no aumento de 7% na atividade arilesterase da PON1.99 Daniels JA, Mulligan C, McCance D, Woodside JV, Patterson C, Young IS, et al. A randomised controlled trial of increasing fruit and vegetable intake and how this influences the carotenoid concentration and activities of PON-1 and LCAT in HDL from subjects with type 2 diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2014;13:16. Jarvik et al.1010 Jarvik GP, Tsai NT, McKinstry LA, Wani R, Brophy VH, Richter RJ, et al. Vitamin C and E intake is associated with increased paraoxonase activity. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2002;22:1329-33. mostraram que a atividade da PON1 correlacionou-se positiva e significativamente com o maior consumo alimentar de vitaminas antioxidantes, em especial das vitaminas C e E.

Diversas pesquisas investigam a relação entre a enzima e o estado nutricional em diferentes fases do ciclo vital.1111 Koncsos P, Seres I, Harangi M, Illyés I, Józsa L, Gönczi F, et al. Human paraoxonase-1 activity in childhood obesity and its relation to leptin and adiponectin levels. Pediatric Res. 2010;67:309-13.,1313 Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle S. Association between paraoxonase 1 (PON1) enzyme activity PON1 C(-107)T polymorphism, nutritional status, and lipid profile in children. Nutrire. 2016;41:20.,1616 Eren E, Abuhandan M, Solmaz A, Taşkın A. Serum paraoxonase/arylesterase activity and oxidative stress status in children with metabolic syndrome. J Clin Res Pediatr Endocrinol. 2014;6:163-8.,2323 Garcés C, López-Simón L, Rubio R, Benavente M, Cano B, Viturro E, et al. Análisis de la actividad paraoxonasa (PON1) y de los polimorfismos PON1 192 y PON1 55 en la población prepuberal del Estudio Cuatro Provincias. Clin Investig Arterioscler. 2007;19:287-92.,2525 Krzystek-Korpacka M, Patryn E, Hotowy K, Czapińska E, Majda J, Kustrzeba-Wójcicka I, et al. Paraoxonase (PON)-1 activity in overweight and obese children and adolescents: association with obesity-related inflammation and oxidative stress. Adv Clin Exp Med. 2013;22:229-36. No entanto, poucas referiram aumento da enzima associada ao IMC conforme observado no atual estudo.1313 Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle S. Association between paraoxonase 1 (PON1) enzyme activity PON1 C(-107)T polymorphism, nutritional status, and lipid profile in children. Nutrire. 2016;41:20.,2424 Gonzalez V, Huen K, Venkat S, Pratt K, Xiang P, Harley KG, et al. Cholinesterase and paraoxonase (PON1) enzyme activities in Mexican-American mothers and children from an agricultural community. J Expo Sci Environ Epidemiol. 2012;22:641-8.,2525 Krzystek-Korpacka M, Patryn E, Hotowy K, Czapińska E, Majda J, Kustrzeba-Wójcicka I, et al. Paraoxonase (PON)-1 activity in overweight and obese children and adolescents: association with obesity-related inflammation and oxidative stress. Adv Clin Exp Med. 2013;22:229-36. As divergências quanto ao efeito do IMC sobre a enzima podem decorrer da idade dos indivíduos selecionados, uma vez que muitas amostras misturam crianças e adolescentes. A obesidade nessas duas fases da vida cursa com diferenças que vão desde o tempo de exposição ao aumento do tecido adiposo, do nível das citocinas pró-inflamatórias até o status hormonal.1111 Koncsos P, Seres I, Harangi M, Illyés I, Józsa L, Gönczi F, et al. Human paraoxonase-1 activity in childhood obesity and its relation to leptin and adiponectin levels. Pediatric Res. 2010;67:309-13.,2323 Garcés C, López-Simón L, Rubio R, Benavente M, Cano B, Viturro E, et al. Análisis de la actividad paraoxonasa (PON1) y de los polimorfismos PON1 192 y PON1 55 en la población prepuberal del Estudio Cuatro Provincias. Clin Investig Arterioscler. 2007;19:287-92.,2525 Krzystek-Korpacka M, Patryn E, Hotowy K, Czapińska E, Majda J, Kustrzeba-Wójcicka I, et al. Paraoxonase (PON)-1 activity in overweight and obese children and adolescents: association with obesity-related inflammation and oxidative stress. Adv Clin Exp Med. 2013;22:229-36.Um maior tempo de exposição ao excesso de peso e um aumento do estado inflamatório, ainda que esse seja de baixo grau, podem refletir num efeito inibitório sobre a enzima.2525 Krzystek-Korpacka M, Patryn E, Hotowy K, Czapińska E, Majda J, Kustrzeba-Wójcicka I, et al. Paraoxonase (PON)-1 activity in overweight and obese children and adolescents: association with obesity-related inflammation and oxidative stress. Adv Clin Exp Med. 2013;22:229-36.,2626 Zaki M, El-Bassyouni H, Kamal S, El-Gammal M, Youness E. Association of serum paraoxonase enzyme activity and oxidative stress markers with dislipidemia in obese adolescents. IJEM. 2014;18:340-4. Porém, na infância o aumento de peso e de formação de espécies reativas de oxigênio poderiam ser compensados pela elevação da enzima.1313 Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle S. Association between paraoxonase 1 (PON1) enzyme activity PON1 C(-107)T polymorphism, nutritional status, and lipid profile in children. Nutrire. 2016;41:20. Convém registrar que a natureza complexa da obesidade limita as especulações, pois além dos aspectos citados ainda há influências do estilo de vida e da atividade física.1616 Eren E, Abuhandan M, Solmaz A, Taşkın A. Serum paraoxonase/arylesterase activity and oxidative stress status in children with metabolic syndrome. J Clin Res Pediatr Endocrinol. 2014;6:163-8.,2727 Koncsos P, Seres I, Harangi M, Páll D, Józsa L, Bajnok L, et al. Favorable effect of short-term lifestyle intervention on human Paraoxonase-1 activity and adipokine levels in childhood obesity. J Am Coll Nutr. 2011;30:333-9. Em particular, Koncsos et al.2727 Koncsos P, Seres I, Harangi M, Páll D, Józsa L, Bajnok L, et al. Favorable effect of short-term lifestyle intervention on human Paraoxonase-1 activity and adipokine levels in childhood obesity. J Am Coll Nutr. 2011;30:333-9. ao avaliar 151 crianças constataram que após uma mudança no estilo de vida houve aumento da PON1.

O polimorfismo PON1 C(-107)T influenciou na PON1, o genótipo CC foi relacionado a uma maior atividade, o TT a uma menor atividade e o CT a um efeito intermediário. Os polimorfismos da região -107C/T têm maior efeito sobre a atividade arilesterase da enzima, contribuem com 25% da variabilidade de sua expressão em adultos brancos.55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.,66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8. Esses polimorfismos afetam a expressão da proteína e a concentração enzimática, indivíduos portadores do alelo T podem ter a produção da enzima afetada.55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.,66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8. Deakin et al.55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9. destacam um mecanismo molecular no polimorfismo C(-107)T do gene da PON1 que envolve o fator de transcrição Sp1. A presença do alelo C na região promotora resulta em maior expressão do gene PON1 e, consequentemente, maior nível de proteína na circulação e aumento na atividade da enzima.66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8. Isso condiz com a associação entre o alelo C e maiores concentração e atividade sérica da enzima, indica que o fator de transcrição se liga a essa região do promotor, mas com maior afinidade para a variante-107C.55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.,66 Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8. A variante -107T interrompe a sequência de reconhecimento do fator de transcrição Sp1, resulta em menor concentração de PON1 para esse genótipo.55 Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.

O efeito do genótipo CC sobre a atividade da PON1 visto no atual estudo já foi apresentado em outros trabalhos com crianças na mesma faixa etária.1313 Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle S. Association between paraoxonase 1 (PON1) enzyme activity PON1 C(-107)T polymorphism, nutritional status, and lipid profile in children. Nutrire. 2016;41:20.,2828 Huen K, Harley K, Bradman A, Eskenazi B, Holland N. Longitudinal changes in PON1 enzymatic activities in Mexican-American mothers and children with different genotypes and haplotypes. Toxicol Appl Pharmacol. 2010;244:181-9. Em especial, Uliano et al.1313 Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle S. Association between paraoxonase 1 (PON1) enzyme activity PON1 C(-107)T polymorphism, nutritional status, and lipid profile in children. Nutrire. 2016;41:20. mostraram que crianças com o genótipo CC para o polimorfismo PON1 C(-107)T apresentaram maior atividade sérica da enzima do que as portadoras do genótipo TT. Ainda, Huen et al.2828 Huen K, Harley K, Bradman A, Eskenazi B, Holland N. Longitudinal changes in PON1 enzymatic activities in Mexican-American mothers and children with different genotypes and haplotypes. Toxicol Appl Pharmacol. 2010;244:181-9. constataram que a atividade da PON1 em crianças com genótipo CC foi maior do que naquelas com o genótipo TT. A frequência dos genótipos observada neste estudo está de acordo com a de outras pesquisas.2828 Huen K, Harley K, Bradman A, Eskenazi B, Holland N. Longitudinal changes in PON1 enzymatic activities in Mexican-American mothers and children with different genotypes and haplotypes. Toxicol Appl Pharmacol. 2010;244:181-9.,3030 Huen K, Yousefi P, Street K, Eskenazi B, Holland N. PON1 as a model for integration of genetic, epigenetic, and expression data on candidate susceptibility genes. Environ Epigenet. 2015;1:1-11. Por exemplo, a coorte Chamacos feita com crianças da mesma faixa etária registrou frequência similar a encontrada neste estudo.2828 Huen K, Harley K, Bradman A, Eskenazi B, Holland N. Longitudinal changes in PON1 enzymatic activities in Mexican-American mothers and children with different genotypes and haplotypes. Toxicol Appl Pharmacol. 2010;244:181-9.,3030 Huen K, Yousefi P, Street K, Eskenazi B, Holland N. PON1 as a model for integration of genetic, epigenetic, and expression data on candidate susceptibility genes. Environ Epigenet. 2015;1:1-11.

Os resultados do presente estudo devem ser ponderados frente a seus pontos fortes e suas limitações. Entre os pontos fortes encontra-se a seleção de uma amostra de crianças em fase precoce do desenvolvimento e isenta doenças crônicas. Ainda, a identificação de um polimorfismo associado a atividade de uma enzima cardioprotetora. Entre as limitações está o método de avaliação dietética, que estima apenas a qualidade da dieta e não estima a quantidade, pode a frequência do consumo ser subestimada. O número de perdas de acompanhamento que implicou uma amostra reduzida, frente à estimada, e limita a validade estatística das probabilidades encontradas. No entanto, as análises ajustadas foram esclarecedoras quanto às influências mais relevantes para predizer a variabilidade da enzima na amostra.

Conclui-se que na infância uma alimentação de boa qualidade, com maior participação de alimentos saudáveis, foi importante para predizer a atividade da enzima cardioprotetora PON1 combinada ao polimorfismo C(-107)T do gene da PON1. Esse resultado estimula a orientação para o alcance das metas de consumo de alimentos como frutas, legumes e verduras na infância, especialmente na perspectiva de prevenir DCV precoce.

  • Como citar este artigo: Sigales TS, Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle SC. Influence of nutritional factors and the PON1 C(-107)T polymorphism on paraoxonase-1 activity in childhood. J Pediatr (Rio J). 2020;96:495-502.
  • Financiamento
    Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes).

Apêndice A Material adicional

Pode-se consultar o material adicional para este artigo na sua versão eletrônica disponível em doi:10.1016/j.jped.2019.02.004.

References

  • 1
    Shunmoogam N, Naidoo P, Chilton R. Paraoxonase (PON)-1: a brief overview on genetics, structure, polymorphisms and clinical relevance. Vasc Health Risk Manag. 2018;14:137-43.
  • 2
    Mackness B, Durrington P, McElduff P, Yarnell J, Azam N, Watt M, et al. Low paraoxonase activity predicts coronary events in the caerphilly prospective study. Circulation. 2003;107:2775-9.
  • 3
    Schrader C, Rimbach G. Determinants of paraoxonase 1 status: genes, drugs and nutrition. Curr Med Chem. 2011;18:5624-43.
  • 4
    Lou-Bonafonte J, Gabás-Rivera C, Navarro MA, Osada J. PON1 and Mediterranean diet. Nutrients. 2015;7:4068-92.
  • 5
    Deakin S, Leviev I, Brulhart-Meynet C, James RW. Paraoxonase-1 promoter haplotypes and serum paraoxonase: a predominant role for polymorphic position - 107, implicating the Sp1 transcription factor. Biochem J. 2003;372:643-9.
  • 6
    Suehiro T, Nakamura T, Inoue M, Shiinoki T, Ikeda Y, Kumon Y, et al. A polymorphism upstream from the human paraoxonase (PON1) gene and its association with PON1 expression. Atherosclerosis. 2000;150:295-8.
  • 7
    Kim DS, Maden SK, Burt AA, Ranchalis JE, Furlong CE, Jarvik GP. Dietary fatty acid intake is associated with paraoxonase 1 activity in a cohort-based analysis of 1548 subjects. Lipids Health Dis. 2013;12:183.
  • 8
    Ferretti G, Bachetti T. Effect of dietary lipids on paraoxonase-1 activity and gene expression. Nutr Metab Cardiovasc Dis. 2012;22:88-94.
  • 9
    Daniels JA, Mulligan C, McCance D, Woodside JV, Patterson C, Young IS, et al. A randomised controlled trial of increasing fruit and vegetable intake and how this influences the carotenoid concentration and activities of PON-1 and LCAT in HDL from subjects with type 2 diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2014;13:16.
  • 10
    Jarvik GP, Tsai NT, McKinstry LA, Wani R, Brophy VH, Richter RJ, et al. Vitamin C and E intake is associated with increased paraoxonase activity. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2002;22:1329-33.
  • 11
    Koncsos P, Seres I, Harangi M, Illyés I, Józsa L, Gönczi F, et al. Human paraoxonase-1 activity in childhood obesity and its relation to leptin and adiponectin levels. Pediatric Res. 2010;67:309-13.
  • 12
    Seres I, Bajnok L, Harangi M, Sztanek F, Koncsos P, Paragh G. Alteration of PON1 activity in adult and childhood obesity and its relation to adipokine levels. Adv Exp Med Biol. 2010;660:129-42.
  • 13
    Uliano G, Muniz L, Barros C, Schneider A, Valle S. Association between paraoxonase 1 (PON1) enzyme activity PON1 C(-107)T polymorphism, nutritional status, and lipid profile in children. Nutrire. 2016;41:20.
  • 14
    Vos MB, Kaar JL, Welsh JA. Added sugars and cardiovascular disease risk in children: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2017;135:e1017-34.
  • 15
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009): antropometria e estado nutricional de crianças adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.
  • 16
    Eren E, Abuhandan M, Solmaz A, Taşkın A. Serum paraoxonase/arylesterase activity and oxidative stress status in children with metabolic syndrome. J Clin Res Pediatr Endocrinol. 2014;6:163-8.
  • 17
    de Onis M, Onyango W, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organ. 2007;85:660-7.
  • 18
    Freedman DS, Serdula MK, Srinivasan SR, Berenson GS. Relation of circumferences and skinfold thicknesses to lipid and insulin concentrations in children and adolescents: the Bogalusa Heart Study. Am J Clin Nutr. 1999;69:308-17.
  • 19
    Kanai N, Fuji T, Saito K, Yokoyama T. Rapid and simple method for preparation of genomic DNA from easily obtainable clotted blood. J Clin Pathol. 1994;47:1043-4.
  • 20
    Campo S, Sardo MA, Trimarchi G, Bonaiuto M, Fontana L, Castaldo M, et al. Association between serum paraoxonase (PON1) gene promoter T(-107)C polymorphism PON1 activity and HDL levels in healthy Sicilian octogenarians. Exp Gerontol. 2004;39:1089-94.
  • 21
    Momm N, Höfelmann DA. Qualidade da dieta e fatores associados em crianças matriculadas em uma escolar municipal de Itajaí, Santa Catarina. CadSaúdeColet. 2014;22:32-9.
  • 22
    Molina B, Lopéz M, Faria P, Cadei V, Zandonade E. Preditores socioeconômicos da qualidade da alimentação de crianças. Rev Saude Pública. 2010;44:732-85.
  • 23
    Garcés C, López-Simón L, Rubio R, Benavente M, Cano B, Viturro E, et al. Análisis de la actividad paraoxonasa (PON1) y de los polimorfismos PON1 192 y PON1 55 en la población prepuberal del Estudio Cuatro Provincias. Clin Investig Arterioscler. 2007;19:287-92.
  • 24
    Gonzalez V, Huen K, Venkat S, Pratt K, Xiang P, Harley KG, et al. Cholinesterase and paraoxonase (PON1) enzyme activities in Mexican-American mothers and children from an agricultural community. J Expo Sci Environ Epidemiol. 2012;22:641-8.
  • 25
    Krzystek-Korpacka M, Patryn E, Hotowy K, Czapińska E, Majda J, Kustrzeba-Wójcicka I, et al. Paraoxonase (PON)-1 activity in overweight and obese children and adolescents: association with obesity-related inflammation and oxidative stress. Adv Clin Exp Med. 2013;22:229-36.
  • 26
    Zaki M, El-Bassyouni H, Kamal S, El-Gammal M, Youness E. Association of serum paraoxonase enzyme activity and oxidative stress markers with dislipidemia in obese adolescents. IJEM. 2014;18:340-4.
  • 27
    Koncsos P, Seres I, Harangi M, Páll D, Józsa L, Bajnok L, et al. Favorable effect of short-term lifestyle intervention on human Paraoxonase-1 activity and adipokine levels in childhood obesity. J Am Coll Nutr. 2011;30:333-9.
  • 28
    Huen K, Harley K, Bradman A, Eskenazi B, Holland N. Longitudinal changes in PON1 enzymatic activities in Mexican-American mothers and children with different genotypes and haplotypes. Toxicol Appl Pharmacol. 2010;244:181-9.
  • 29
    Grubiša I, Otašević P, Dimković D, Nedeljković I, Toljić B, Vučinić N. Genetic polymorphisms of paraoxonase 1 and susceptibility to atherogenesis. Srp Arh Celok Lek. 2013;141:629-33.
  • 30
    Huen K, Yousefi P, Street K, Eskenazi B, Holland N. PON1 as a model for integration of genetic, epigenetic, and expression data on candidate susceptibility genes. Environ Epigenet. 2015;1:1-11.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    29 Set 2018
  • Aceito
    11 Fev 2019
  • Publicado
    18 Abr 2019
Sociedade Brasileira de Pediatria Av. Carlos Gomes, 328 cj. 304, 90480-000 Porto Alegre RS Brazil, Tel.: +55 51 3328-9520 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: jped@jped.com.br