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Atelectasias em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica sem qualquer alteração pulmonar prévia: comentários do estudo de prevalência

A obesidade é um fator de risco intrínseco ao desenvolvimento de áreas de atelectasia, especialmente quando o paciente é submetido à anestesia geral e, portanto, alguns grupos de estudos se dedicaram ao estudo desse assunto. A carta ao editor recentemente publicada11 Forgiarini Junior LA, Esquinas AM. Atelectasis in postoperative bariatric surgery: how many understand them? Rev Bras Anestesiol. 2017, http://dx.doi.org/10.1016/j.bjane.2017.04.004 (inpress).
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjane.2017.0...
comenta e aponta alguns aspectos do artigo22 Baltieri L, Peixoto-Souza FS, Rasera-Junior I, et al. Analysis of the prevalence of atelectasis in patients undergoing bariatric surgery. Rev Bras Anestesiol. 2016;66:577-82. sobre a prevalência de atelectasias em paciente com obesidade Grau III submetido à cirurgia bariátrica. Em resposta, a relevância clínica desse estudo22 Baltieri L, Peixoto-Souza FS, Rasera-Junior I, et al. Analysis of the prevalence of atelectasis in patients undergoing bariatric surgery. Rev Bras Anestesiol. 2016;66:577-82. é que até o presente momento não há na literatura consultada estudos que tenham observado a prevalência de atelectasias no pós-operatório de cirurgia bariátrica, uma vez que podem causar insuficiência respiratória nesses pacientes. Se levarmos em consideração essa prevalência, é possível estudar medidas efetivas de prevenção e tratamento para minimizar as complicações pós-operatórias.

Posto isso, primeiro, a análise retrospectiva é de fato sujeita a viés, mas o serviço no qual o estudo foi feito segue protocolos rígidos instituídos há anos sobre preparação pré-operatória, hospitalização, medicamentos, equipe anestésica e cirúrgica, técnicas de anestesia e cirurgia, tempo de recuperação no pós-operatório e exames complementares. Além disso, o tempo de coleta de dados foi de apenas 14 meses e, portanto, esses fatos podem minimizar os vieses de um estudo retrospectivo.

O fato de um estudo ser feito apenas com pacientes portadores de alterações pulmonares anteriores é contra a proposta inicial da pesquisa, cujo objetivo é observar o desenvolvimento de atelectasias em pacientes sem alterações pulmonares ou sintomas respiratórios para que possamos reforçar o pressuposto de que a obesidade isolada é um fator de risco para o desenvolvimento de complicações respiratórias e que tais complicações podem ser desencadeadas pelo surgimento de áreas de atelectasias.

O grupo de pesquisa também investigou soluções para minimizar a prevalência de atelectasia nesses pacientes, aplicou pressão positiva em diferentes momentos da hospitalização e, o que corroborou o autor citado,33 Guimarães J, Pinho D, Nunes CS, et al. Effect of Boussignac continuous positive airway pressure ventilation on PaO2 and PaO2/FiO2 ratio immediately after extubation in morbidly obese patients undergoing bariatric surgery: a randomized controlled trial. J Clin Anesth. 2016;34:562-70. também identificamos44 Baltieri L, Santos LA, Rasera I, et al. Use of positive pressure in the bariatric surgery and effects on pulmonary function. Arq Bras Cir Dig. 2014;27(Suppl. 1):26-30. que o melhor momento é logo após a extubação, porque reduz a prevalência de atelectasia e apresenta menos perda do volume de reserva expiratório.

Segundo, em relação à predominância do gênero feminino, é comum observar uma prevalência maior de mulheres em estudos de obesidade, como já demonstrado em estudo feito por Ogden et al.,55 Ogden CL, Yanovski SZ, Carroll MD, et al. The epidemiology of obesity. Gastroenterology. 2007;132:2087-102. no qual uma prevalência maior de obesidade foi observada em mulheres. Esse fato tem várias explicações, que vão desde os diferentes fatores hormonais envolvidos no gênero até a maior demanda ambulatorial de mulheres que aparentam estar mais preocupadas com a saúde. Como resultado, torna-se mais difícil homogeneizar a amostra em relação ao gênero. No entanto, com o teste do qui-quadrado, usado no estudo para analisar a associação entre gênero e prevalência de atelectasia, é possível isolar os efeitos de discrepância da amostra.

Terceiro, de fato, a fisioterapia mostrou ser de extrema relevância no tratamento de pacientes nos períodos pré- e pós-operatório de cirurgias abdominais, conforme demonstrado em uma revisão da literatura feita por Lawrence et al.,66 Lawrence VA, Cornell JE, Smetana GW. Strategies to reduce postoperative pulmonary complications after noncardiothoracic surgery: systematic review for the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2006;144:596-608. na qual os autores concluíram que a fisioterapia respiratória com técnicas de reexpansão tem benefícios comprovados na redução de complicações pós-operatórias em cirurgias abdominais. Além disso, desde então, vários outros estudos têm surgido para acrescentar provas a essa descoberta. Tendo em vista a vasta evidência dos benefícios da fisioterapia nesses casos, o hospital no qual o estudo foi conduzido, bem como vários outros hospitais, já inclui a fisioterapia respiratória na rotina desses pacientes quando são internados. Porém, a alta incidência de atelectasia nesses pacientes deve ser observada, bem como os pesquisadores ficarem atentos às novas técnicas de tratamento para poder evitá-la.

Finalmente, os autores também concordam que mais pesquisas sejam encorajadas nessa área para avaliar as complicações respiratórias relacionadas às cirurgias abdominais e seus possíveis fatores de risco, bem como com a execução do que há de melhor para sua prevenção ou tratamento.

References

  • 1
    Forgiarini Junior LA, Esquinas AM. Atelectasis in postoperative bariatric surgery: how many understand them? Rev Bras Anestesiol. 2017, http://dx.doi.org/10.1016/j.bjane.2017.04.004 (inpress).
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    Baltieri L, Peixoto-Souza FS, Rasera-Junior I, et al. Analysis of the prevalence of atelectasis in patients undergoing bariatric surgery. Rev Bras Anestesiol. 2016;66:577-82.
  • 3
    Guimarães J, Pinho D, Nunes CS, et al. Effect of Boussignac continuous positive airway pressure ventilation on PaO2 and PaO2/FiO2 ratio immediately after extubation in morbidly obese patients undergoing bariatric surgery: a randomized controlled trial. J Clin Anesth. 2016;34:562-70.
  • 4
    Baltieri L, Santos LA, Rasera I, et al. Use of positive pressure in the bariatric surgery and effects on pulmonary function. Arq Bras Cir Dig. 2014;27(Suppl. 1):26-30.
  • 5
    Ogden CL, Yanovski SZ, Carroll MD, et al. The epidemiology of obesity. Gastroenterology. 2007;132:2087-102.
  • 6
    Lawrence VA, Cornell JE, Smetana GW. Strategies to reduce postoperative pulmonary complications after noncardiothoracic surgery: systematic review for the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2006;144:596-608.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2018
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