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Fatores preditivos da interrupção de aleitamento materno exclusivo em prematuros: coorte prospectiva

RESUMO

Objetivo:

Avaliar a incidência do aleitamento materno exclusivo e os fatores de risco associados à interrupção de aleitamento materno exclusivo em prematuros após a alta hospitalar.

Método:

Coorte prospectiva com 113 prematuros em unidade neonatal, e acompanhados entre 7 e 15 dias após a alta hospitalar. Teve-se como desfecho a interrupção do aleitamento materno exclusivo. As variáveis de exposição maternas e neonatais foram avaliadas por meio do modelo de regressão e descritas pela razão de risco e intervalo de confiança (95%).

Resultados:

A incidência de aleitamento materno exclusivo foi de 81,4% na alta e 66,4% entre 7 e 15 dias após a alta. As variáveis gestação dupla, tempo de ventilação e peso ao nascer foram associadas a um maior risco de interrupção do aleitamento materno exclusivo após a alta.

Conclusão:

É necessária a implementação de ações que promovam o início precoce e manutenção do aleitamento materno exclusivo no prematuro.

Descritores:
Prematuro; Aleitamento Materno; Unidades de Terapia Intensiva Neonatal; Alta do Paciente; Estudos de Coortes

ABSTRACT

Objective:

to evaluate the incidence of exclusive breastfeeding and the risk factors associated to its interruption in premature infants after hospital discharge.

Method:

this is a prospective cohort with 113 premature infants in a neonatal unit, whom were followed-up from 7 to 15 days after hospital discharge. The outcome was the interruption of exclusive breastfeeding. Maternal and neonatal exposure variables were evaluated by a regression model and described by the confidence interval (95%) and risk ratio.

Results:

exclusive breastfeeding rate was 81.4% at discharge and 66.4% at 7 to 15 days after discharge. Double gestation, time of mechanical ventilation and birth weight were associated with higher risks of interruption of exclusive breastfeeding after discharge.

Conclusion:

there is a need for the implementation of actions that promote the early onset and maintenance of exclusive breastfeeding of premature infants.

Descriptors:
Premature; Breast Feeding; Neonatal Intensive Care Unit; Patient Discharge; Cohort Studies

RESUMEN

Objetivo:

evaluar la incidencia de la lactancia materna exclusiva y los factores de riesgo asociados a su interrupción en prematuros después del alta hospitalaria.

Método:

cohorte prospectiva con 113 prematuros en unidad neonatal, acompañados de 7 a 15 días después del alta hospitalaria. El resultado fue la interrupción de la lactancia materna exclusiva. Las variables de exposición materna y neonatal fueron evaluadas por medio del modelo de regresión y descritas por la razón de riesgo e intervalo de confianza (95%).

Resultados:

la incidencia de lactancia materna exclusiva fue del 81,4% en la alta y del 66,4% entre 7 y 15 días después del alta. Las variables gestación doble, tiempo de ventilación y peso al nacer se asociaron a un mayor riesgo de interrupción de la lactancia materna exclusiva después del alta.

Conclusión:

es necesaria la implementación de acciones que promuevan el inicio precoz y el mantenimiento de la lactancia materna exclusiva del prematuro.

Descriptores:
Recien Nacido Prematuro; Lactancia Materna; Unidades de Cuidado Intensivo Neonatal; Alta del Paciente; Estudios de Cohortes

INTRODUÇÃO

O aleitamento materno exclusivo (AME) é uma intervenção eficaz e de baixo custo que pode reduzir milhares de mortes neonatais(11 World Health Organization-WHO. Indicators for assessing infant and young child feeding practices: conclusions of a consensus meeting held 6-8 November 2007 in Washington D.C., USA[Internet]. Geneva: World Health Organization; 2008[cited 2016 Jul 19]. 19 p. Available from: http://www.who.int/nutrition/publications/iycf_indicators_for_peer_review.pdf
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-22 Victoria CG, Bahl R, Barros AJ, França GV, Horton S, Krasevec J, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet[Internet]. 2016[cited 2016 Sep 3];387(10017):475-90. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(15)01024-7/abstract
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). A prevalência do AME até os cinco meses de idade é maior em países com baixa renda e renda média baixa do que em países com renda média alta, sendo a relação do produto interno bruto inversamente proporcional à prevalência de amamentação aos 12 meses(22 Victoria CG, Bahl R, Barros AJ, França GV, Horton S, Krasevec J, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet[Internet]. 2016[cited 2016 Sep 3];387(10017):475-90. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(15)01024-7/abstract
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). O Brasil, um país de renda média alta com grande heterogeneidade entre as regiões, é reconhecido mundialmente por políticas bem-sucedidas de apoio, proteção e promoção do Aleitamento Materno (AM), com destaque para a larga implantação dos Hospitais Amigos da Criança (IHAC), eficiência da Rede de Banco de Leite Humano e criação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças.

Estudo de metanálise mostrou que o AM reduz 12-36% as mortes neonatais. Além disso, diminui em 58% a taxa de enterocolite necrotizante, oferece proteção para metade dos episódios de diarreia e um terço das infecções respiratórias, reduz entre 0,67 a 1,21% a chance de otite média, e asma em 9%. Em longo prazo, a amamentação está associada a uma redução de 26% na chance de sobrepeso ou obesidade, em 35% a chance de diabetes tipo 2 e de 19% de leucemia na infância. Ainda, o AM está associado a um melhor desempenho no teste de inteligência em crianças e adolescentes, e maior ganho salarial na vida adulta(22 Victoria CG, Bahl R, Barros AJ, França GV, Horton S, Krasevec J, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet[Internet]. 2016[cited 2016 Sep 3];387(10017):475-90. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(15)01024-7/abstract
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).

Além disso, amamentar oferece benefícios para a mãe, tal como, diminuição de hemorragia pós-parto, redução do peso ganho na gestação, fortalecimento do vínculo mãe-filho, e diminuição do risco de câncer de mama(33 Gradim CVC, Magalhães MC, Faria MCF, Arantes CIS. Aleitamento materno como fator de proteção para o câncer de mama. Rev Rene[Internet]. 2011[cited 2016 Sep 3];12(2):358-64. Available from: http://periodicos.ufc.br/rene/article/view/4220
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).

No entanto, amamentar um prematuro (PT) é um processo difícil devido às condições instáveis, à imaturidade fisiológica próprias desta população e à própria hospitalização(44 World Health Organization-WHO. Born too soon: the global action report on preterm birth[Internet]. Geneva: World Health Organization; 2012[cited 2016 Aug 3]. 126 p. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44864/1/9789241503433_eng.pdf?ua=1
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
-55 Rodrigues AP, Martins EL, Trojahn TC, Padoin SMM, Paula CC, Tronco CS. Manutenção do aleitamento materno de recém-nascidos pré-termo: revisão integrativa da literatura. Rev Eletrôn Enferm[Internet]. 2013[cited 2016 Sep 3];15(1):253-64. Available from: https://www.fen.ufg.br/fen_revista/v15/n1/pdf/v15n1a29.pdf
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). Barreiras para o início precoce da amamentação incluem não permanência contínua das mães na unidade neonatal, pouca frequência do método canguru, apoio profissional inconsistente, e disfunção familiar(66 Ikonen R, Paavilainen E, Kaunonen M. Preterm infants' mothers' experiences with milk expression and breastfeeding: an integrative review. Adv Neonatal Care[Internet]. 2015[cited 2018 Aug 13];15(6):394-406. Available from: https://insights.ovid.com/pubmed?pmid=26536173
https://insights.ovid.com/pubmed?pmid=26...
-77 Smith R, Lucas R. Evaluation of nursing knowledge of early initiation of breastfeeding in preterm infants in a hospital setting. J Neonatal Nurs[Internet]. 2016[cited 2018 Aug 13];22(3):138-43. Available from: https://www.journalofneonatalnursing.com/article/S1355-1841(15)00114-3/abstract
https://www.journalofneonatalnursing.com...
).

O leite humano é o melhor alimento para o PT. O leite de lactantes de bebês nascidos pré-termo possui altas concentrações de lactoferrina, lisozima e imunoglobulina A, sendo esses índices de concentrações diferenciadas do leite materno de uma lactante a termo, fator considerado de extrema importância para o adequado desenvolvimento e crescimento cerebral, visto a maior necessidade de nutrientes do PT(88 Kumar RK, Singhal A, Vaidya U, Banerjee S, Anwar F, Rao S. Optimizing nutrition in preterm low birth weight infants-consensus summary. Front Nutr[Internet]. 2017[cited 2018 Jan 22];4(20):1-9. Available from: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnut.2017.00020/full
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).

Apesar dos inúmeros benefícios do AM, esta prática ainda não está universalmente disseminada, inclusive no Brasil. Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) menos de 40% dos bebês com menos de seis meses são amamentados exclusivamente no mundo(99 United Nations Children's Fund. Unicef global databases, 2016, based on MICS, DHS and other nationally representative sources, 2010-2014[Internet]. New York: United Nations Children's Fund; 2016[cited 2016 Jul 19]. Available from: http://data.unicef.org/nutrition/iycf.html#sthash.nEsKwT3U.dpuf
http://data.unicef.org/nutrition/iycf.ht...
). No Brasil, no último estudo com 34.366 crianças realizada em 2008 nas capitais e Distrito Federal, a prevalência do AME em menores de seis meses foi de 41%(88 Kumar RK, Singhal A, Vaidya U, Banerjee S, Anwar F, Rao S. Optimizing nutrition in preterm low birth weight infants-consensus summary. Front Nutr[Internet]. 2017[cited 2018 Jan 22];4(20):1-9. Available from: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnut.2017.00020/full
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). Em PT, três coortes no sul do país reportaram uma prevalência de AME entre 28,4 e 70,5% na alta hospitalar, e de 16,4 a 35,7% aos seis meses de idade(1010 Azevedo M, Cunha MLC. Fatores associados ao aleitamento materno exclusivo em prematuros no primeiro mês após a alta hospitalar. Rev HCPA[Internet]. 2013[cited 2016 Sep 3];33(1):40-9. Available from: http://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/37653
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-1111 Silva PK, Almeida ST. Avaliação de recém-nascidos prematuros durante a primeira oferta de seio materno em uma UTI neonatal. Rev Cefac[Internet]. 2015[cited 2016 Sep 3];17(3):927-35. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v17n3/1982-0216-rcefac-17-03-00927.pdf
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).

As estratégias da Organização Mundial da Saúde (OMS) para aumentar a prevalência de AME até 2025 incluem a revitalização, expansão e institucionalização da IHAC, realização de estratégias na comunidade de apoio à amamentação, redução significativa da comercialização agressiva e inapropriada de substitutos de leite materno, empoderamento da mulher para amamentar exclusivamente até seis meses, investimento em treinamento e capacitação para a proteção, promoção e apoio ao AM(1212 World Health Organization-WHO. United Nations Children's Fund. Global nutrition targets 2025: breastfeeding policy brief. Geneva: World Health Organization; 2014. 8 p.).

O monitoramento das taxas de AME é um indicador de saúde importante para planejamento, implantação, e avaliação de iniciativas para promoção do AM, tal como a IHAC. Desta forma, este estudo acompanhou PT do Centro-Oeste do Brasil e descreveu a incidência do AME antes da maternidade receber o título de “Hospital Amigo da Criança” e investigou os fatores que contribuíram para a interrupção do AME após a alta hospitalar. Esses achados são de grande interesse para comparação com amostras de PT no Brasil e em outros países, visto a dificuldade de seguimento desta população.

Assim, teve-se como objetivo avaliar a incidência do AME e fatores de risco associados à interrupção de AME em PT na segunda semana após a alta hospitalar.

OBJETIVO

Avaliar a incidência do aleitamento materno exclusivo e os fatores de risco associados à interrupção de aleitamento materno exclusivo em prematuros após a alta hospitalar.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo atendeu às normas éticas em pesquisa no Brasil, foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás-GO. Todas as mães ou responsáveis pelos PT (no caso de mães adolescentes) assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Desenho, local do estudo e período

Trata-se de uma coorte prospectiva aberta, realizada em uma unidade neonatal de uma maternidade pública em Goiânia-GO, região Centro-Oeste, no Brasil, entre 1° de abril de 2014 a 1° de abril de 2015. A maternidade conta com uma unidade neonatal com dez leitos intensivos, dez leitos intermediários e cinco leitos do método canguru.

Amostra e critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos os PT com idade gestacional < 37 semanas, obtida através do Capurro Somático registrado em prontuário, e PT admitidos na unidade neonatal nas primeiras 48 horas de vida, com permanência mínima de 48 horas. Foram excluídos os PT cujas mães ou os próprios recém-nascidos tinham contraindicação temporária ou definitiva para amamentar (HIV positivo/AIDS, vírus linfotrópico da célula humana, sífilis e tuberculose sem tratamento, fístula gastroesofágica, fenilcetonúria, galactosemia, etc.)(1313 Brasil. Ministério da Saúde. Manual normativo para profissionais de saúde de maternidades: referência para mulheres que não podem amamentar. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. 32 p.), óbitos maternos ou do PT e, PT transferidos para outro hospital.

A amostra do estudo foi constituída por todos os PT admitidos na unidade neonatal da instituição entre 1° de abril de 2014 a 1° de abril de 2015. No período da coleta, foram admitidos na unidade neonatal 218 PT, e destes, 133 atenderam aos critérios de inclusão e foram incluídos. Ocorreram 20 perdas após a alta hospitalar (15,0%), totalizando 113 participantes no estudo, conforme detalhado na (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma de recrutamento e seguimento do estudo

Nota: PT - prematuro


Protocolo do estudo

A interrupção do AME do PT entre sete e 15 dias após a alta hospitalar foi a variável de desfecho. Assim, a introdução de qualquer alimento, além do leite materno, foi considerada como interrupção do AME.

O recrutamento dos participantes foi realizado a partir dos registros de alta do PT na unidade neonatal e, aqueles elegíveis, tinham seus dados coletados retrospectiva e prospectivamente, no prontuário e por meio de entrevista em consulta de retorno ambulatorial. O retorno ambulatorial ocorreu entre sete e 15 dias depois da alta hospitalar, data em que se coletaram dados sobre o AM. Utilizou-se um questionário semiestruturado para entrevista, elaborado por meio de revisão da literatura e sugestões de pesquisadores da área de AM, validado em estudo piloto em outras unidades neonatais. O preenchimento do questionário foi realizado pela pesquisadora e um auxiliar de pesquisa treinado.

O AM foi classificado em AME (somente leite materno, com exceção de medicamentos, suplementos minerais, vitaminas e soluções de reidratação oral), AM predominante (introdução de água ou bebidas à base de água como suco, infusões e chás, além do leite materno), AM (leite materno do peito ou ordenhado, independentemente de receber ou não outros alimentos) e o AM misto ou parcial (introdução de outros tipos de leite, além do materno)(11 World Health Organization-WHO. Indicators for assessing infant and young child feeding practices: conclusions of a consensus meeting held 6-8 November 2007 in Washington D.C., USA[Internet]. Geneva: World Health Organization; 2008[cited 2016 Jul 19]. 19 p. Available from: http://www.who.int/nutrition/publications/iycf_indicators_for_peer_review.pdf
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). A idade gestacional em semanas foi classificada em: < 28 semanas – extremo; 28-31 semanas – moderado; 32-37 semanas – limítrofe.

Análise dos resultados

Os dados do questionário foram digitados em uma planilha no SPSS® (versão 21.0) e feita análise de consistência dos dados. Foram realizadas análise descritiva dos dados (frequência, média e desvio-padrão) e análise inferencial por meio de regressão de riscos proporcionais de Cox univariada e múltipla. A medida de associação foi o Harzard Risk (HR) com respectivos intervalos de 95% de confiança. As variáveis com valor de p<0,10 na análise univariada foram incluídas em modelo de regressão múltipla backward. Foram considerados significantes valores de p<0,05 em todas as análises.

Na análise inferencial consideramos como variável de desfecho a interrupção do AME entre os PT e as potenciais variáveis de predição maternas: mãe com idade extrema, escolaridade materna, pais residem juntos, renda familiar, experiência prévia com a amamentação, primípara, problemas com as mamas, realizou ≥ 6 consultas de pré-natal; e neonatais: gestação dupla, tipo de parto, peso ao nascer, idade gestacional, sexo, tempo em assistência ventilatória invasiva e não invasiva, tempo de hospitalização, primeira alimentação láctea ≤ 24 horas, sugou o peito na primeira semana de vida, AME na alta hospitalar. A idade da criança na consulta de retorno foi estabelecida como variável de tempo.

RESULTADOS

A média de idade das mães foi 26 (DP=6,7) anos, a maior parte estava em união consensual (52.2%), e 89,4% residiam com o pai do PT. Dos PT, 52,2% eram do sexo masculino, 82,3% nasceram de gestação única, 71,7% de parto cesáreo, e 47,8% necessitaram de reanimação ao nascer. A média da idade gestacional foi de 32,2 (DP=20,6) semanas, sendo que 72 (63,7%) dos PT tinham entre 32 a 37 semanas de gestação. Sessenta e um PT (54,0%) ficaram hospitalizados por < 30 dias. O tempo total médio de hospitalização foi 35 (DP=28,3) em dias, sendo que 94 (83,2%) PT ficaram internados na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, 104 (92,0%) na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais e 78 (69,0%) na Unidade Canguru. A maior parte dos PT necessitou de suporte ventilatório (92,0%), sendo que 83,2% permaneceram em ventilação mecânica por < 7 dias. O tempo médio de ventilação foi 4,9 (DP=9,6) dias.

A Tabela 1 descreve o tipo de AM do PT no momento da alta hospitalar e na segunda semana (entre sete e 15 dias) após a alta hospitalar.

Tabela 1
Características da alimentação dos prematuros durante a hospitalização, na alta hospitalar e no domicílio, Goiânia, Goiás, Brasil, 2014-2015

O resultado da análise univariada dos potenciais fatores de exposição maternos e neonatais preditores da interrupção do AME na segunda semana após a alta hospitalar, no domicílio, são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2
Potenciais fatores preditores maternos e neonatais da interrupção do Aleitamento Materno (AM) exclusivo na segunda semana após a alta hospitalar, Goiânia, Goiás, Brasil, 2014-2015

As variáveis estatisticamente significativas (p < 0,10) na análise univariada compuseram o modelo para a análise multivariada (Tabela 3).

Tabela 3
Fatores preditores maternos e neonatais da interrupção do aleitamento materno exclusivo (AME) na segunda semana após a alta hospitalar, Goiânia, Goiás, Brasil, 2014-2015

DISCUSSÃO

O estudo encontrou uma incidência de AME no PT de 81,4% na alta hospitalar, e de 66,4% no retorno ambulatorial, na segunda semana após a alta hospitalar (entre 7 e 15 dias). Esses índices podem ser considerados aceitáveis, de acordo com a recomendação da OMS, mas estão ainda abaixo dos 90% preconizados(1414 World Health Organization-WHO. Exclusive breastfeeding for six months best for babies everywhere. Geneva: World Health Organization; 2011[cited 2016 Jul 19]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/news/statements/2011/breastfeeding_20110115/en/
http://www.who.int/mediacentre/news/stat...
).

Outras duas coortes realizadas com PT no Brasil encontraram uma menor incidência de AME do que em nosso estudo. A primeira coorte realizada com 116 PT, em Porto Alegre-RS, encontrou uma incidência de AME de 36,2% aos 14 dias e de 25% aos 28 dias após a alta hospitalar(1010 Azevedo M, Cunha MLC. Fatores associados ao aleitamento materno exclusivo em prematuros no primeiro mês após a alta hospitalar. Rev HCPA[Internet]. 2013[cited 2016 Sep 3];33(1):40-9. Available from: http://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/37653
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). A segunda coorte realizada com 42 PT, em Maringá-PR, verificou uma incidência de AME de 71,5% aos 15 dias após a alta hospitalar(1515 Sassá AH, Schmidt KT, Rodrigues BC, Ichisato SMT, Higarashi IH, Marcon SS. Bebês pré-termo: aleitamento materno e evolução ponderal. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Sep 3];67(4):594-600. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/0034-7167-reben-67-04-0594.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/003...
). Já na Dinamarca, uma coorte realizada com 1.488 PT, verificou que a incidência de AME foi de 68% na alta hospitalar, com uma queda significativa para 13% aos seis meses de idade cronológica(1616 Maastrup R, Hansen BM, Kronborg H, Bojesen SN, Hallum K, Frandsen A, et al. Breastfeeding progression in preterm infants is influenced by factors in infants, mothers and clinical practice: the results of a national cohort study with high breastfeeding initiation rates. Plos One[Internet]. 2014[cited 2016 Sep 10];9(9):108-14. Available from: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0108208
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). Apesar das diferenças entre os períodos de avaliação dos estudos, verificamos que existe uma dificuldade em estabelecer e manter o AME, principalmente após a alta hospitalar.

A maternidade do estudo recebeu o título de “Hospital Amigo da Criança” em abril de 2016, após o término da coleta de dados, porém instituiu, desde sua criação, em 2012, práticas de promoção, proteção e apoio ao AM. Além disso, a instituição possui uma sala de coleta de leite humano e banco de leite parceiro, além das três etapas implantadas do método canguru.

O título de “Hospital Amigo da Criança” pode contribuir para melhores índices de AME na alta hospitalar, no entanto, as práticas realizadas no hospital em prol do AM não asseguram a manutenção destes índices após a alta hospitalar(1717 Rocci E, Fernandes RAQ. Dificuldades no aleitamento materno e influência no desmame precoce. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Sep 3];67(1):22-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n1/0034-7167-reben-67-01-0022.pdf
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). Além disso, as diretrizes do “Hospital Amigo da Criança” não consideram as particularidades do prematuro e as dificuldades geradas pelo próprio processo de hospitalização em uma unidade neonatal.

Houve uma redução de 15% na incidência do AME nos PT entre a alta hospitalar e o domicílio. Outros estudos no Brasil também apontam queda da taxa de AME após a alta hospitalar de PT(1010 Azevedo M, Cunha MLC. Fatores associados ao aleitamento materno exclusivo em prematuros no primeiro mês após a alta hospitalar. Rev HCPA[Internet]. 2013[cited 2016 Sep 3];33(1):40-9. Available from: http://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/37653
http://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/3...
-1111 Silva PK, Almeida ST. Avaliação de recém-nascidos prematuros durante a primeira oferta de seio materno em uma UTI neonatal. Rev Cefac[Internet]. 2015[cited 2016 Sep 3];17(3):927-35. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v17n3/1982-0216-rcefac-17-03-00927.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v17n3/19...
,1515 Sassá AH, Schmidt KT, Rodrigues BC, Ichisato SMT, Higarashi IH, Marcon SS. Bebês pré-termo: aleitamento materno e evolução ponderal. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Sep 3];67(4):594-600. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/0034-7167-reben-67-04-0594.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/003...
,1818 Czechowski AE, Fujinaga CI. Seguimento ambulatorial de prematuros e a prevalência do aleitamento na alta hospitalar e ao sexto mês de vida: contribuições da fonoaudiologia. Rev Soc Bras Fonoaudiol[Internet]. 2010[cited 2016 Sep 3];15(4):572-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsbf/v15n4/a16v15n4.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rsbf/v15n4/a16v...
). Esses dados são preocupantes, pois apontam uma falha das práticas e políticas atuais para a manutenção da amamentação após a alta hospitalar do PT.

No presente estudo o maior peso ao nascer, a gestação dupla e o menor tempo em ventilação mecânica (invasiva e não invasiva) foram associados a um maior risco de interrupção do AME. Vale ressaltar que essas variáveis podem influenciar de maneira independente o desmame precoce. Outras coortes com recém-nascidos (termo e pré-termo) também encontraram associação da interrupção do AME com o peso(1919 Castro MP, Rugolo LMSS, Margotto PR. Sobrevida e morbidade em prematuros com menos de 32 semanas de gestação na região central do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet[Internet]. 2012[cited 2016 Sep 3];34(5):235-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v34n5/08.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v34n5/08.p...
),tempo de ventilação(1515 Sassá AH, Schmidt KT, Rodrigues BC, Ichisato SMT, Higarashi IH, Marcon SS. Bebês pré-termo: aleitamento materno e evolução ponderal. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Sep 3];67(4):594-600. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/0034-7167-reben-67-04-0594.pdf
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,2020 Lamy Filho F, Rodrigues MC, Correia AS, Araújo HAWP. Fatores associados ao desmame por ocasião da alta em prematuros de muito baixo peso. Rev Pesq Saúde[Internet]. 2012[cited 2016 Sep 10];13(2):21-5. Available from: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahuufma/article/view/1318
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-2121 Silva WF, Guedes ZCF. Prematuros e prematuros tardios: suas diferenças e o aleitamento materno. Rev Cefac[Internet]. 2015[cited 2016 Sep 10];17(4):1232-40. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v17n4/1982-0216-rcefac-17-04-01232.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v17n4/19...
) e gestação dupla(1818 Czechowski AE, Fujinaga CI. Seguimento ambulatorial de prematuros e a prevalência do aleitamento na alta hospitalar e ao sexto mês de vida: contribuições da fonoaudiologia. Rev Soc Bras Fonoaudiol[Internet]. 2010[cited 2016 Sep 3];15(4):572-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsbf/v15n4/a16v15n4.pdf
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,2222 Ostlunda A, Nordström M, Dykes F, Flacking R. Breastfeeding in preterm and term twins-maternal factors associated with early cessation: a population-based study. J Hum Lact[Internet]. 2010[cited 2016 Sep 10];26(3):235-41. Available from: http://jhl.sagepub.com/content/early/2010/02/05/0890334409359627.abstract
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).

Esses dados resultam em recomendações para a prática clínica. A idade gestacional não deve ser uma barreira para a amamentação. Não há na literatura uma conformidade sobre os critérios para iniciar a amamentação no PT. Evidências na literatura apontam que o PT está apto para iniciar a amamentação quando se apresenta estável e não tem contraindicação de aleitamento, sendo este o único critério a ser adotado(2323 Nyqvist KH, Kylberg E, Hansen MN, Häggkvist A, Maastrup R, Frandsen AL, et al. Neo-BFHI: the baby-friendly hospital initiative for neonatal wards. Core document with recommended standards and criteria[Internet]. Raleigh: Nordic and Quebec Working Group; 2015[cited 2016 Jul 7]. Available from: http://www.ilca.org/main/learning/resources/neo-bfhi
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). Nesse caso, a estabilidade é definida quando o PT não apresenta, no cuidado de rotina e manuseio, apneia severa, dessaturação e bradicardia(2323 Nyqvist KH, Kylberg E, Hansen MN, Häggkvist A, Maastrup R, Frandsen AL, et al. Neo-BFHI: the baby-friendly hospital initiative for neonatal wards. Core document with recommended standards and criteria[Internet]. Raleigh: Nordic and Quebec Working Group; 2015[cited 2016 Jul 7]. Available from: http://www.ilca.org/main/learning/resources/neo-bfhi
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).

A morbidade neonatal é inversamente proporcional à idade gestacional e ao peso ao nascer, sendo determinantes para a sobrevida do PT(1919 Castro MP, Rugolo LMSS, Margotto PR. Sobrevida e morbidade em prematuros com menos de 32 semanas de gestação na região central do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet[Internet]. 2012[cited 2016 Sep 3];34(5):235-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v34n5/08.pdf
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). Desta forma, acreditamos que o peso e idade gestacional são variáveis importantes no contexto da alimentação do PT, porém não devem ser considerados fatores isolados para o início e manutenção da amamentação no PT.

fato dos nossos achados mostrarem que os PT com maior peso ao nascer tiveram maior chance de interromper o AME no domicílio foi surpreendente. No entanto, esses PT permanecem menos tempo hospitalizados na maternidade, e acabam tendo menos acesso a apoio por profissional especializado. Desta forma, é importante considerar que esses bebês possuem maior risco de desmame, e assegurar que todas as mães recebam apoio e assistência adequada antes da alta hospitalar, bem como seguimento ambulatorial especializado, com articulação para continuidade dessa assistência pelos profissionais da atenção básica.

A alimentação dos PT em ventilação mecânica geralmente acontece por sonda nasogástrica, mas o uso prolongado de sondas pode trazer prejuízos fonoarticulatórios(1919 Castro MP, Rugolo LMSS, Margotto PR. Sobrevida e morbidade em prematuros com menos de 32 semanas de gestação na região central do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet[Internet]. 2012[cited 2016 Sep 3];34(5):235-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v34n5/08.pdf
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). Além disso, as lactantes apresentam insegurança ao visualizarem os PT em incubadoras, usando sondas e ventiladores. É importante que a mãe do PT seja orientada e estimulada pela equipe da unidade neonatal a realizar precocemente a ordenha de leite (iniciar até seis horas após o parto)(2323 Nyqvist KH, Kylberg E, Hansen MN, Häggkvist A, Maastrup R, Frandsen AL, et al. Neo-BFHI: the baby-friendly hospital initiative for neonatal wards. Core document with recommended standards and criteria[Internet]. Raleigh: Nordic and Quebec Working Group; 2015[cited 2016 Jul 7]. Available from: http://www.ilca.org/main/learning/resources/neo-bfhi
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) para oferecer o seu próprio leite ao PT enquanto este estiver em ventilação mecânica e alimentado por sonda. Além disso, técnicas como sucção não nutritiva e translactação devem ser utilizadas para reduzir o tempo de transição para alimentação oral. Assim, quanto menor o tempo em ventilação mecânica, menor será a chance de desmame precoce do PT.

A amamentação exclusiva em gemelares é um grande desafio. No Japão, estudo com 15.262 recém-nascidos a termo entre três e seis meses de idade encontrou uma prevalência de AME de 4,1% em gemelares em comparação a 44,7% em não-gemelares. As mães de gemelares tiveram 2,4 maior chance de escolher a mamadeira e leite artificial(2222 Ostlunda A, Nordström M, Dykes F, Flacking R. Breastfeeding in preterm and term twins-maternal factors associated with early cessation: a population-based study. J Hum Lact[Internet]. 2010[cited 2016 Sep 10];26(3):235-41. Available from: http://jhl.sagepub.com/content/early/2010/02/05/0890334409359627.abstract
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). Na Suécia, uma coorte de recém-nascidos gemelares a termo (n=962) e pré-termo (n=695) encontrou que os gemelares pré-termo têm maior risco de desmame aos dois (OR= 1,36; 95% IC=1,06-1,75), quatro (OR= 1,28; IC= 1,05-1,57), seis (OR= 1,30; IC= 1,06-1,58) e nove (OR= 1,43; IC= 1,09-1,88) meses de vida. O menor nível educacional e o fumo foram associados com maior risco de desmame entre os gemelares PT(2222 Ostlunda A, Nordström M, Dykes F, Flacking R. Breastfeeding in preterm and term twins-maternal factors associated with early cessation: a population-based study. J Hum Lact[Internet]. 2010[cited 2016 Sep 10];26(3):235-41. Available from: http://jhl.sagepub.com/content/early/2010/02/05/0890334409359627.abstract
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).

Estudo qualitativo com mães de gemelares mostrou que as mães interpretam o choro dos bebês como insuficiência do leite materno. Outras dificuldades levantadas foram a dificuldade de sucção, cansaço, e insuficiência das orientações recebidas dos profissionais de saúde durante a hospitalização(2424 Cinar ND, Alvur TM, Kose D, Nemut T. Breastfeeding twins: a qualitative study. J Health Popul Nutr[Internet]. 2016[cited 2016 Sep 3];31(4):504-9. Available from: http://www.bioline.org.br/pdf?hn13061
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).

Na maioria das vezes, os gemelares são PT e/ou baixo peso, sendo a alimentação com leite materno fundamental para desenvolvimento do PT. Torna-se fundamental a orientação por profissionais capacitados em AM, desde a gestação, parto e puerpério para o início e manutenção da amamentação. Além disso, a mãe de gemelares necessita de uma rede de apoio para que possa dividir as outras tarefas de cuidados com o bebê e da casa, além de ter garantido acesso e apoio de serviço de saúde para solucionar os problemas com a amamentação após a alta hospitalar.

Limitações do estudo

O acompanhamento dos PT até 15 dias após a alta hospitalar, no domicílio, foi uma limitação do estudo, visto que nas duas primeiras semanas em casa, os fatores clínicos (ex.: tempo em ventilação mecânica, peso ao nascer) poderiam ainda exercer maior influência do que os fatores culturais (ex.: desejo de amamentar, não trabalhar, residir com o companheiro). O acompanhamento dos PT até os seis meses de idade corrigida ou até a interrupção do AME poderia elucidar melhor todos os fatores envolvidos na manutenção do AME.

Contribuições para a área da enfermagem

As diversas dificuldades do PT na amamentação, já documentadas na literatura, bem como a redução na incidência de AME após a alta hospitalar reportada neste estudo, apontam para a necessidade de uma assistência de enfermagem qualificada para garantir o início precoce e manutenção do aleitamento materno desta população vulnerável. Esses resultados poderão subsidiar a elaboração de recomendações e políticas de saúde específicas para os PT, baseada em evidências científicas robustas, e que incluam o contexto da hospitalização em unidade neonatal. Consideramos que a IHAC-neo é uma iniciativa promissora para melhorar as práticas de AM ao PT, bem como as taxas de AME durante e após a alta hospitalar.

CONCLUSÃO

A incidência de AME entre os PT foi de 81,4% na alta hospitalar e 66,4% no domicílio, representando uma queda de 15% na incidência de AME na segunda semana após a alta hospitalar.

Os achados mostram a dificuldade do estabelecimento do AME entre os PT até a alta hospitalar, bem como a sua manutenção no domicílio.

A gestação dupla, tempo de ventilação e peso ao nascer foram fatores preditores da interrupção do AME em PT após a alta hospitalar. Desta forma, os profissionais de saúde devem prestar maior assistência às mães e os PT gemelares, que permanecem mais do que sete dias em ventilação mecânica e têm maior peso ao nascer para prevenir a interrupção precoce do AME.

É necessária a implementação pela equipe multiprofissional de saúde de ações baseadas em evidências científicas para os PT, tal como a IHAC-neo, que promovam o início precoce e manutenção da amamentação durante a hospitalização em unidade neonatal. Além da articulação dessas ações com a atenção básica para a continuidade do AME no domicilio até os seis meses de vida. Essas ações devem ser promovidas com o apoio de políticas públicas informadas pela evidência científica que considerem as particularidades do PT no contexto das unidades neonatais.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2018

Histórico

  • Recebido
    31 Out 2017
  • Aceito
    15 Fev 2018
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