RESUMO
Objetivo:
analisar a atuação das enfermeiras professoras norte-americanas do Project Health Opportunity for People Everywhere Earth (Projeto HOPE Terra), em Natal, capital do Rio Grande do Norte, Brasil (1974-1981).
Método:
estudo sócio-histórico, qualitativo, resultante de documentos pertencentes a arquivos e da realização de 10 entrevistas semiestruturadas. O tratamento e a análise dessas fontes realizaram-se por meio do recurso à História Oral e à Análise Temática.
Resultados:
emergiram as seguintes categorias: As enfermeiras professoras norte-americanas do Projeto HOPE Terra e A professora Mary Anne Small pelas memórias de quem conviveu com ela.
Considerações finais:
o Projeto HOPE Terra contribuiu para o ensino superior de cursos da área da saúde na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, assegurando a vinda de docentes qualificados e experientes, e as professoras norte-americanas colaboraram para a qualificação do Curso de Enfermagem, mesmo quando este já se encontrava estruturado e em pleno funcionamento.
Descritores:
História da Enfermagem; Educação; Ensino Superior; Docência; Cooperação Internacional
ABSTRACT
Objective:
analyze the activities of the North American nurse educators of the Project Health Opportunity for People Everywhere Earth (HOPE Earth Project) in Natal, state capital of Rio Grande do Norte, Brazil (1974-1981).
Method:
sociohistorical, qualitative study, resulting from filed documents and ten semistructured interviews. These sources were processed and analyzed using Oral History and Thematic Analysis.
Results:
the following categories emerged: The North American nurse educators of the HOPE Earth Project and Educator Mary Anne Small through the memories of who had contact with her.
Final considerations:
the HOPE Earth Project contributed to higher education in health at the Federal University of Rio Grande do Norte, guaranteeing the coming of qualified and experienced lecturers, and the North American educators cooperated towards the qualification of the Nursing Course, even when it was already structured and fully functioning.
Descriptors:
History of Nursing; Education; Education, Higher; Teaching; International Cooperation
RESUMEN
Objetivo:
analizar el rendimiento de las enfermeras profesoras norteamericanas del Project Health Opportunity for People Everywhere Earth (Proyecto HOPE Tierra) en la ciudad de Natal, capital del Rio Grande do Norte, Brasil (1974-1981).
Método:
estudio sociohistórico, cualitativo, resultante de documentos pertenecientes a archivos y de la realización de 10 entrevistas semiestructuradas. El tratamiento y el análisis de esas fuentes se realizaron por medio del recurso a la Historia Oral y al Análisis Temático.
Resultados:
han surgido las siguientes categorías: Las enfermeras profesoras norteamericanas del Proyecto HOPE Tierra y la profesora Mary Anne Small por las memorias de las personas que convivieron con ella.
Consideraciones finales:
el Proyecto HOPE Terra contribuyó a la enseñanza superior de cursos del área de la salud en la Universidad Federal de Rio Grande do Norte, asegurando la llegada de docentes calificados y expertos, y las profesoras norteamericanas colaboraron para la calificación del Curso de Enfermería, incluso cuando ya se encontraba estructurado y en pleno funcionamiento.
Descriptores:
Historia de la Enfermería; Educación; Enseñanza Superior; La Docencia; La Cooperación Internacional
INTRODUÇÃO
A institucionalização do ensino da Enfermagem Moderna, no Rio Grande do Norte (RN), Brasil, é marcada pelo início do funcionamento, no ano de 1956, da Escola de Auxiliares de Enfermagem de Natal, atual Escola de Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ESUFRN), nas dependências do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), destinada à formação de nível médio(11 Carlos DJD, Germano RM. A escola de auxiliares de enfermagem de Natal e o Hospital Universitário Onofre Lopes. Rev Rene[Internet]. 2009[cited 2017 Apr 22];10(1):72-80. Available from: http://www.revistarene.ufc.br/vol10n1_html_site/a08v10n1.htm
http://www.revistarene.ufc.br/vol10n1_ht...
).
Na década de 1970 é que se registra no RN as primeiras iniciativas de institucionalização do ensino superior de Enfermagem nas cidades de Mossoró (1971) e Natal (1974), a capital do estado. A criação e o funcionamento dessas instituições atenderam a interesses distintos, embora justificados pela mesma necessidade, a de formação de mão de obra qualificada para os serviços de saúde do estado. Este movimento foi particularmente importante para a formação local, pois, antes da existência e funcionamento dessas instituições, os interessados na carreira de Enfermagem tinham de se deslocar para estados vizinhos para realizarem seus estudos.
Em Natal, o Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) obteve parecer favorável(22 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Resolução nº 72 CONSEPE, de 09 de agosto de 1973. Parecer favorável à criação do Curso Superior em Enfermagem. 1973a Ago 9.), aprovação(33 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Resolução nº 58 CONSUNI, de 13 de agosto de 1973. Aprova a criação dos Cursos de Educação Física, Enfermagem, Arquitetura, Engenharia Química e Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, vinculados às respectivas áreas do conhecimento, deferido ao CONSEPE a fixação das vagas iniciais de cada curso. Natal. 1973b Ago 13.) e disponibilização de 30 vagas para o vestibular, em janeiro de 1974(44 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Resolução nº 83 CONSEPE, de 22 de agosto de 1973. Proposta da Comissão Permanente do Vestibular para o Concurso Vestibular para o ano de 1974. Natal. 1973c Ago 22.). Destaca-se que o curso possibilitou a estruturação do Departamento de Enfermagem, que, juntamente com os de Medicina, Farmácia, Odontologia, Educação Física e Ciências Biológicas, passou a integrar o Centro de Ciências da Saúde.
O funcionamento do Curso de Enfermagem tornou-se possível a partir da cessão feita pela ESUFRN de sua estrutura física – salas de aula, material didático, laboratório, biblioteca –, e de pessoal – professoras e funcionários. Assim, o mesmo espaço físico passou a abrigar três níveis de ensino em Enfermagem: auxiliar (1956), técnico (1972) e superior (1974). Naquela época, as poucas enfermeiras existentes em Natal atuavam, quase todas, nos hospitais universitários – HUOL e Maternidade Escola Januário Cicco – e na ESUFRN, anexada à Faculdade de Medicina, em 1964, como docentes ou supervisoras de estágios curriculares(55 Carlos DJD, Germano RM, Padilha MI. The teaching of nursing and its relation with a hospital-university of Natal/RN (1973-2005). Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2015[cited 2017 Apr 23];19(1):18-23. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n1/en_1414-8145-ean-19-01-0018.pdf
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).
Assim, para o efetivo funcionamento do Departamento de Enfermagem, foi necessário realizar seleção para contratar novos enfermeiros professores, o que resultou na composição de um grupo de profissionais vindos dos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e da cidade de Mossoró/RN. Além destes, ressalta-se a presença de professoras enfermeiras norte-americanas do Projeto HOPE Terra (1973-1985), objeto deste manuscrito, contratadas pela UFRN na condição de professoras visitantes, para atuarem, exclusivamente, nas disciplinas do Ciclo Profissionalizante do Curso de Enfermagem.
O Projeto HOPE Terra corresponde a um desdobramento do convênio firmado entre a UFRN, Governo do Estado/RN e a People to People Foundation, com sede em Washington/EUA, no qual foi assegurado o envio do navio-hospital SS HOPE, no ano de 1972, com o propósito de promover o intercâmbio profissional e de prestar assistência à saúde à população. Nessa nova versão, a colaboração entre Brasil (UFRN) e EUA (People to People Foundation) garantiu o envio de profissionais norte-americanos com experiência na docência para alavancar o ensino superior nos cursos de Medicina, Odontologia, Farmácia e Enfermagem(66 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Resolução nº 6 CONSUNI, de 26 de janeiro de 1973. Convênio celebrado entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a People to People Health Foundation para a execução de programas de ensino e conselho médico e paramédico, odontológico e de Enfermagem. Natal. 1973d Jan 26.-77 “PROJETO HOPE” vai embora: faltou interesse da UFRN. Dois Pontos. 1985 Jul 11.).
OBJETIVO
Analisar a atuação das enfermeiras professoras norte-americanas do Projeto HOPE Terra, em Natal/RN, no período de 1974 a 1981. O recorte temporal inicial corresponde à chegada das primeiras enfermeiras professoras, e o final, à saída de Mary Anne Small, última delas a regressar aos Estados Unidos.
MÉTODO
Aspectos éticos
Este artigo foi elaborado de acordo com a legislação vigente sobre pesquisas envolvendo seres humanos, e seu projeto foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Referencial teórico e tipo do estudo
Estudo sócio-histórico, de abordagem qualitativa, alicerçado na Nova História. Essa modalidade de estudo contribui para o entendimento da história do cuidado em saúde e subsidia interpretações do desenvolvimento da profissão, seus atores e contextos sociais. No caso da Enfermagem, destina-se à compreensão da natureza e cotidiano do trabalho, preconceitos, estereótipos, equívocos, verdades, inverdades e seus significados(88 D’Antonio P. Thinking about place: researching and reading the global history of nursing. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2009[cited 2017 Apr 24];18(4):766-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v18n4/19.pdf
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9 Bradshaw AE. Gadamer’s two horizons: listening to the voices in nursing history. Nurs Inq [Internet]. 2013[cited 2017 Apr 23];20(1):82-92. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/22039994/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/22...
-1010 Padilha MI, Borenstein MS. O método de pesquisa histórica na Enfermagem. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2005[cited 2017 Apr 22];14(4):575-84. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v14n4/a15v14n4.pdf
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).
Procedimentos metodológicos
Cenário do estudo
O estudo teve como cenário a expansão do ensino superior em Enfermagem no Rio Grande do Norte ocorrido na década de 1970 – auge do regime militar –, resultante da Reforma Universitária de 1968. Nesse período, entram em funcionamento a Escola de Enfermeiras de Mossoró (1971) e Natal (1974), ambas as iniciativas justificadas pela necessidade de qualificação profissional e melhoria da assistência nos serviços de saúde
Fonte de dados
Foram utilizadas fontes documentais (leis, decretos, cartas, diários, jornais, documentos, manuais, atas, fotografias) e orais (entrevistas semiestruturadas).
Coleta e organização dos dados
A coleta documental ocorreu entre janeiro e abril/2013, e a oral, de janeiro a julho/2014. Foram realizadas 10 entrevistas com colaboradores – três enfermeiras professoras, fundadoras do Departamento de Enfermagem/UFRN; três enfermeiras professoras, colaboradoras, e quatro ex-alunas do Curso de Enfermagem/UFRN – que atenderam ao critério de participação voluntária e que conviveram com as enfermeiras norte-americanas, professoras visitantes. Para tal, utilizou-se dos recursos metodológico da História Oral Temática.
As entrevistas sucederam à apresentação e à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e tiveram em média 86 minutos de gravação. Depois de transcritas e transcriadas, foram devolvidas aos colaboradores para a validação das informações. Vencida essa etapa, procedeu-se à apresentação, à leitura e à assinatura do Termo de Cessão do Depoimento Oral. Por fim, acordou-se em identificar os depoimentos pelos sobrenomes dos colaboradores.
Análise dos dados
Buscou-se, por meio da análise temática, a interpretação meticulosa dos dados, procurando o entendimento objetivo e sistemático dos significados advindos das fontes documentais e orais. Ao final desse processo, emergiram duas categorias: As enfermeiras professoras norte-americanas do Projeto HOPE Terra e A professora Mary Anne Small pelas memórias de quem com ela conviveu.
RESULTADOS
As enfermeiras professoras norte-americanas do Projeto HOPE Terra
Os depoimentos a seguir possibilitam reconstruir a inserção e a atuação das enfermeiras professoras norte-americanas no Curso de Enfermagem/UFRN, a partir do detalhamento de suas características profissionais e atividades laborais.
Talvez a ideia de convidar enfermeiras norte-americanas para trabalharem no Departamento de Enfermagem tenha sido do Prof. Leide Morais [...] quando chegaram a Natal, o navio-hospital HOPE já tinha partido, e o Projeto chamava-se HOPE Terra [...] elas foram contratadas pela UFRN como professoras visitantes [...] ao meu ver, foi muito útil a temporada delas, mas há quem discorde [...] todas tinham experiência com o ensino superior. (BARRETO)
Estas professoras visitantes colaboraram com o Curso de Enfermagem/UFRN, mas não foram imprescindíveis para o seu funcionamento [...] havia um grupo forte e experiente de enfermeiras professoras da Escola de Auxiliares de Enfermagem, responsável pela organização, planejamento e execução. (OLIVEIRA)
Recordo das professoras Sharon Redding [Pediatria], Linda [Médico-Cirúrgico], Jane Shima [Neonatologia], Shirley [não lembro seu sobrenome e a área] e de Mary Anne Small [Saúde Pública]. (VILAR)
Mesmo falando mal o português, contribuíram conosco [...] umas participaram até da Associação Brasileira de Enfermagem, seção Rio Grande do Norte [...] refiro-me a Sharon Redding e Mary Anne Small. (GERMANO)
Sobre a participação dessas professoras no Curso de Enfermagem/UFRN, eis o que os colaboradores informaram:
As enfermeiras professoras norte-americanas atuaram nas disciplinas de Enfermagem Materno-Infantil, Enfermagem Médico-Cirúrgica e Enfermagem Saúde Pública [...] contribuíram ministrando aulas teórico-práticas e na supervisão de estágios curriculares. (COELHO)
Ficavam admiradas como nós, brasileiros, conseguíamos trabalhar com poucos recursos, tendo que improvisar e resolver os problemas [...] se faltasse algumas coisas, elas deixavam de realizar o procedimento ou nos pediam ajuda [...] tinham limitações com o idioma, e, às vezes, surgiam dificuldades, porém tudo se resolvia com tranquilidade. (MARTINS VIEIRA)
Eram habilidosas e gozavam de prestígio [...] Sharon Redding acumulou funções no Departamento de Enfermagem e no Hospital Infantil Varela Santiago [...] Mary Ann Small também, no Departamento e em Postos de Saúde da Cidade da Esperança e Cidade Nova. (DINIZ)
Chamavam atenção pela competência técnica, conhecimentos e compromisso profissional [...] eram experientes e excelentes professoras [...] davam importância à interação teoria e prática, sempre [...] elas trabalhavam na perspectiva da Enfermagem como ciência [...] trouxeram um modelo de apresentação que também nos influenciou [...] vestiam jalecos azul-claro com listrinhas para a Saúde Pública e branco para os hospitais [...] uso do sapato branco fechado e a identificação com o crachá [...] coisas comuns hoje, mas naquele tempo não [...] a saída delas foi gradual e, ao meu ver, muito bem trabalhada, porque existiu o cuidado de deixar pessoas capacitadas que assumissem suas vagas. (VILAR)
Eram professoras qualificadas e passavam a imagem da excelência profissional com o perfil de simplicidade e humanidade [...] sabíamos que tinham passagem por outros países [...] pareciam simples em suas vestimentas e sem vaidade, mas focadas na postura profissional [...] não mediam esforços em nos transmitir seus conhecimentos [...] eram interativas e bem aceitas nos ambientes onde circulavam [...] o português era compreensível [risos] [...] lamentei o retorno delas aos Estados Unidos. (FILGUEIRA)
Os relatos permitiram reconstruir parte da história do Departamento de Enfermagem/UFRN, em seus primeiros anos de funcionamento e registrar algumas impressões sobre as professoras visitantes, todas enfermeiras norte-americanas do Projeto HOPE Terra. As falas demonstraram sentimentos de carinho e admiração, com destaque ao reconhecimento profissional por meio da valorização da qualificação, competência técnica, disponibilidade e bom relacionamento, apesar da seriedade, rigor e exigência com que também são lembradas. Como pessoas, são recordadas pela simplicidade e humanidade.
Apesar de suas contribuições serem inegáveis, nenhum colaborador precisou a data de sua partida, nem referiu/recordou gestos e/ou atitudes de despedidas, menos ainda a manutenção de contato e a continuidade da amizade. Apesar disso, essas profissionais mantêm-se vivas na memória de quem com elas conviveu.
A professora Mary Anne Small pelas memórias de quem conviveu com ela
Esta seção contempla memórias de alunos e colegas professores acerca da professora Mary Anne Small. Aqui serão apresentados alguns depoimentos que versam sobre as características físicas e de personalidade que permitiram reconstruir a imagem dessa personagem, cuja atuação profissional, entusiasticamente, foi destacada por muitos colaboradores desta pesquisa.
Na percepção de seus alunos:
Nossa professora Mary Anne Small era magra, alta, sorridente, cabelos escuros e cacheados, boca grande e olhos vivos [...] ela falava de coração e com emoção [...] era humana, compreensiva e muito ética [...] às vezes, parecia apreensiva e nos olhava como se quisesse adivinhar nossos pensamentos [...] passava a imagem de uma profissional extremamente focada [...] uma mulher independente e avançada para a época [...] parecia introvertida, recatada e sem muita participação social [...] sempre estava ocupada com o trabalho, dando a impressão de que trabalhava continuamente, parecendo uma máquina e que nunca descansava [...] caminhava apressada, com passadas largas, carregando pastas, livros e bolsas. (FILGUEIRA)
Segundo ela, seu sobrenome, Small, era um contrassenso à sua estatura [...] cabelos na altura dos ombros, sempre desalinhados [...] tinha um sorriso fácil e largo [...] sem vaidade, usava unhas bem curtas, um anel e uma correntinha no pescoço [...] trabalhava muito, o dia inteiro [...] tomava bastante café e pouco se alimentava [...] usava um sandalhão, nada bonito [...] muito ética, educada e cuidadosa no tratamento com as pessoas [...] nunca a vi chamando a atenção de alguém que não fosse em reservado e com discrição [...] percebíamos no olhar dela a chamada de atenção, mas nunca a falta de educação [...] nossa turma prestou-lhe uma homenagem especial na formatura [...] ela foi decisiva na minha escolha por Saúde Pública [...] a vi pela última vez na Secretaria Estadual de Saúde, apresentando uns dados sobre a sua pesquisa. (FERREIRA)
Foi uma professora de destaque, e a que permaneceu mais tempo no Departamento de Enfermagem/UFRN [...] uma conhecedora das questões de Saúde Pública [...] na minha formação estudantil, ela é uma das minhas referências [...] professora habilidosa, dedicada e que sabia transmitir os conhecimentos [...] usava um jaleco azul-claro com listinhas, que foi adotado pela disciplina de Enfermagem em Saúde Pública [...] ela se desdobrava para atender os alunos, mas era extremamente exigente [...] nós aprendemos muito com a professora Mary Anne Small. (OLIVEIRA)
Segundo seus pares:
Conheci Mary Anne Small desenvolvendo um projeto de atenção primária à saúde nos bairros de Cidade Nova, Cidade da Esperança e em Felipe Camarão, financiado pelo Projeto HOPE [...] ela dispunha de um veículo, um motorista, material de uso e consumo e custeava as promotoras de saúde e os alunos bolsistas [...] tal projeto consistia em ações de puericultura e contava com a parceria da professora Normélia Maria Freire Diniz na assistência ao pré-natal [...] para justificar a carga horária e assegurar a continuidade dessas ações, criou-se, junto à Pró-reitoria de Extensão, um projeto com 20 horas semanais [...] Mary Anne Small também teve grande participação no planejamento e na realização do primeiro Curso de Especialização em Enfermagem em Saúde Pública da UFRN. (BRITO)
Como colega, Mary Anne era determinada, comprometida e responsável [...] como profissional, vinculou-se, também, à Secretaria Estadual de Saúde e, nos serviços, gozava de muito prestígio e respeito [...] ela foi um diferencial, à época e, por isso, alvo de ciúmes [...] muito experiente, já tinha trabalhado com populações carentes [...] mantinha-se atenta e defendia o planejamento das ações de Enfermagem [...] trabalhamos juntas identificando casos graves de anemia em gestantes e crianças, e as conduzíamos para os serviços competentes num sistema de informações parecido com as referências e contrarreferências, institucionalizadas pelo SUS [...] eram ações voltadas ao combate e controle dos agravos à saúde materno-infantil. (DINIZ)
Ela colaborou bastante com o ensino de Enfermagem em Saúde Pública [...] a casa dela e o trabalho eram o Departamento de Enfermagem/UFRN [...] ela era uma pessoa do fazer, e, politicamente, eu achei que ela não colaborou, não [...] era obcecada por trabalho, não podia parar um instante para pensar um pouco [...] nos anos de 1980, o Brasil vivia uma perspectiva política mais democrática [...] ela era muito rígida e autoritária, autoritária demais [...] tivemos algumas incompatibilidades [...] se, por um lado, Mary Anne Small trouxe contribuições à atenção básica, por outro lado, criticava muito o Brasil [...] eu ficava logo zangada. (GERMANO)
Os depoimentos, também, conotam a dedicação excessiva de Mary Anne Small ao trabalho e sugerem sinais de estresse ao sempre se apresentar carregando livros e pastas pesadas, assim como a marcha em passos largos demonstra estar apressada e/ou sobrecarregada. Mesmo assim, seus atributos lhe renderam uma homenagem especial da turma concluinte de 1979.
Importa dizer que, passados todos esses anos, Mary Anne Small se mantém viva na memória daqueles com quem conviveu. Acerca dos dados aqui apresentados, cabe a ressalva de que não tiveram a pretensão de compor sua biografia, aspirou-se, tão somente, a valorizar as memórias sobre sua personalidade, afinal, conforme os colaboradores, sua experiência e desenvoltura no trabalho fizeram-na ser vista como um diferencial à época.
DISCUSSÃO
O Projeto HOPE Terra (1973-1985) correspondeu a uma ampliação da empreitada de cooperação internacional entre o Brasil (UFRN) e os Estados Unidos (People to People Foundation), iniciada em 1972, com a estadia do navio-hospital SS HOPE, por 10 meses, em Natal/RN. A continuação dessa parceria foi marcada, sobretudo, pela atuação dos profissionais norte-americanos na condição de professores visitantes dos cursos da área de saúde do Centro de Ciências da Saúde/UFRN.
No caso do Curso de Enfermagem, as falas asseguraram que a estruturação das disciplinas e o funcionamento do Departamento de Enfermagem antecederam a inserção dessas enfermeiras no Curso, e que a chegada delas coincide com o início das disciplinas do Ciclo Profissionalizante. A respeito dessas profissionais, os colaboradores ressaltaram sua importância e contribuição para o ensino, mas esclareceram um detalhe, o da existência de um grupo de enfermeiras professoras brasileiras, forte e experiente, responsável pelos processos de criação, organização e funcionamento do curso e do Departamento de Enfermagem/UFRN, que independia do grupo norte-americano.
Naquele tempo, o ensino superior estruturado em ciclos – básico (disciplinas comuns às áreas) e profissionalizante (específicas de cada curso) – correspondeu a uma das inovações da Reforma Universitária de 1968, que objetivou organizar o ensino a partir da adoção unificada de um modelo. Apesar das contestações, no que concerne à Enfermagem, essa estrutura causou um impacto positivo, ocasionando o crescimento do ensino com o aumento da oferta de vagas pelo surgimento de novas escolas(1111 Leonello VM, Miranda Neto MV, Oliveira MAC. Nursing higher education in Brazil: a historical view. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2011[cited 2017 Apr 24];45(2):e1774-79. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe2/en_24.pdf
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). Detalhe esse comprovado no RN pelo funcionamento da Escola de Enfermeiras de Mossoró, hoje Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (FAEN/UERN) e do Departamento de Enfermagem/UFRN, nos anos de 1971 e 1974, respectivamente(1212 Carlos DJD, Padilha MI, Villarinho MV, Borenstein MS, Maia ARCR. Nursing Schools in northeastern Brazil (1943-1975). Rev Rene [Internet]. 2014[cited 2017 Apr 23];15(2):326-33. Available from: http://www.redalyc.org/pdf/3240/324031263018_2.pdf
http://www.redalyc.org/pdf/3240/32403126...
).
O material coletado possibilitou constatar que as enfermeiras do Projeto HOPE Terra – Mary Anne Small, Margareth Mein da Costa, Jane Marie Shima, Tyana Payne e Shirley Myers Snowe – atuaram como professoras visitantes no Departamento de Enfermagem/UFRN(1313 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Resolução CONSEPE nº 147, de 12 de dezembro de 1977. Concede títulos de Professor Visitante a enfermeiras do Projeto HOPE. Natal. 1977 Dec 12.). No entanto, a professora Sheron Redding, sobre a qual não se encontrou documentos que se referissem a sua contratação, foi intensamente mencionada por alunos e colegas professores, o que demonstra a qualidade de seu trabalho e sua influência nesses grupos.
A presença de enfermeiras norte-americanas na UFRN destinadas à formação de recursos humanos na Enfermagem corresponde a mais uma experiência entre o Brasil e os Estados Unidos. Sobre isso, pode-se ressaltar: a Missão Parsons (1922-31), com a realização do levantamento sobre a situação de Enfermagem no país, a criação do Serviço de Enfermeiras e da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública; o funcionamento da Divisão de Enfermagem (1942-61) do Serviço Especial de Saúde Pública; e a participação na criação de Escolas de Enfermagem, como a Escola de Enfermeiras nos estados do Pará (1944) e de Alagoas (1974)(1414 Bonini BB, Freitas GF, Fairman J, Mecone MCC. The American Nurses of the Special Public Health Service and the Formation of Human Resources in Brazilian Nursing. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2015[cited 2017 Apr 23]:49(Esp2):136-143. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v49nspe2/en_1980-220X-reeusp-49-spe2-0136.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v49nspe2...
-1515 Costa LMC, Santos RM, Santos TCF, Trezza MCSF, Leite JL. Contribuição do Projeto HOPE para a configuração da identidade profissional das primeiras enfermeiras alagoanas, 1973 a 1977. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Nov 25];67(4):535-42. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/0034-7167-reben-67-04-0535.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/003...
).
As atividades das enfermeiras professoras visitantes aqui estudadas não se limitaram ao Departamento de Enfermagem. Embora esse detalhe possa causar estranheza ou demonstrar sobrecarga de trabalho, ele está em consonância com o acordo celebrado entre a UFRN e a People to People Foundation acerca do envio de profissionais – médicos, odontólogos, farmacêuticos, patologistas e enfermeiras – a hospitais, instituições de saúde e clínicas, mediante autorização prévia(66 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Resolução nº 6 CONSUNI, de 26 de janeiro de 1973. Convênio celebrado entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a People to People Health Foundation para a execução de programas de ensino e conselho médico e paramédico, odontológico e de Enfermagem. Natal. 1973d Jan 26.).
No que diz respeito às atividades docentes, foi revelado que tais professoras atuaram nas disciplinas das áreas Materno-Infantil, Saúde Pública e Médico-Cirúrgica, ministrando aulas teórico-práticas, e como supervisoras nos estágios curriculares. As atividades assistenciais desenvolvidas no Hospital Infantil Varela Santiago e nas Unidades de Saúde, nos bairros Cidade Nova e Cidade da Esperança, tinham caráter de extensão e são vistas como um esforço para manter próximas a teoria e a prática. Credita-se, pois, a conquista de prestígio e reconhecimento por parte das enfermeiras professoras norte-americanas do Projeto HOPE Terra com a realização das atividades de ensino e assistência. Vale ressaltar o empenho em superar as condições de trabalho diferentes das de seu país e o despertar para o “jeitinho brasileiro” – criativo – de improvisar para resolver adversidades laborais. Essa situação faz crer que, apesar das diferentes realidades, houve troca de experiências e saberes.
Na particularidade da Enfermagem, é de fundamental importância o desenvolvimento de sistemas de informações a partir da compreensão da relação existente entre teoria e prática, para que sejam diminuídos os hiatos assistenciais. Apesar de em algumas circunstâncias haver a ausência dessa relação, esta deve ser valorizada, pois a dissociação uma da outra implica uma formação defasada e, por conseguinte, um futuro profissional ultrapassado. Do mesmo modo, a supervalorização de uma em detrimento da outra acaba por comprometer a formação pactuada com as mudanças sociais(1616 Moreira F, Ferreira E. Teoria, prática e relação na formação inicial na Enfermagem e na docência. Revista Educ Soc Cult[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 22]:41(127-48). Available from: http://www.fpce.up.pt/ciie/sites/default/files/ESC41_F_Moreira_E_Ferreira.pdf
http://www.fpce.up.pt/ciie/sites/default...
). Acredita-se, pois, que essa articulação contextualizada entre ensino e serviço facilite a aprendizagem e conduza o estudante a uma prática reflexiva a partir da vivência realista nos diferentes ambientes dos serviços de saúde(1717 Lapeña-Moñux YR, Cibanal-Juan L, Orts-Cortés MI, Maciá-Soler ML, Palacios-Ceña D. Nurses’ experiences working with nursing students in a hospital: a phenomenological enquiry. Rev Latino-Am Enfermagem[Internet]. 2016[cited 2017 Apr 23]:24:e2788. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v24/0104-1169-rlae-24-02788.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v24/0104-1...
-1818 Silva EGC, Oliveira VC, Neves GBC, Guimarães TMR. Nurses’ knowledge about Nursing Care Systematization: from theory to practice. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011[cited 2017 Apr 22];45(6):1376-82. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n6/en_v45n6a15.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n6/en...
).
No que concerne à professora Mary Anne Small, seus ex-alunos expuseram algumas características que possibilitaram projetar a imagem de uma mulher de aspecto longilíneo, boca grande, sorridente e com cabelos escuros e cacheados, com traços de uma personalidade educada, discreta, introvertida e respeitosa. Como professora, é lembrada pelo uso do jaleco azul-claro listradinho e por ser uma profissional determinada, comprometida, ética, competente e habilidosa, chegando a ser visualizada como modelo.
Os bairros Cidade da Esperança, Cidade Nova e Felipe Camarão são apontados como locais onde Mary Anne Small desenvolveu e implementou medidas de combate aos agravos à saúde materno-infantil por meio da prática das visitas domiciliares e intervenções em escolas. Essa prática rendeu-lhe a suposição de ser responsabilizada pelo início do planejamento das ações de Enfermagem e da consulta de pré-natal em unidades de saúde em Natal. Tais atitudes se aproximam do que hoje é preconizado pela Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) como estratégia técnico-científica utilizada para assegurar o gerenciamento – responsável, adequado e particularizado – do cuidado e como perspectiva para garantir a autonomia do enfermeiro(1919 Lima MM, Reibnitz KS, Kloh D, Martini JG, Backes VMS. Indications of comprehensiveness in the pedagogical relationship: a design to be constructed in nursing education. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017[cited 2017 Nov 25];51:e03277. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v51/en_0080-6234-reeusp-S1980-220X2016049003277.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v51/en_0...
).
Esses procedimentos, privativos dos enfermeiros, dizem respeito ao Processo de Enfermagem e têm por objetivo formalizar a organização e o registro da prestação do cuidado. O seu desenvolvimento percorre as seguintes etapas: coleta de dados ou histórico de Enfermagem; diagnóstico de Enfermagem; planejamento de Enfermagem; implementação; e avaliação de Enfermagem(2020 Conselho Federal de Enfermagem - COFEn. Resolução nº 358/2009, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências[Internet]. Brasília, DF; 2009[cited 2017 Apr 22]. Available from: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-35...
).
Quanto ao trabalho de Mary Anne Small na periferia de Natal/RN, é de supor que ela detinha informações prévias, possivelmente levantadas durante a estadia do navio-hospital SS HOPE, em 1972, tendo em vista os relatos de financiamento das despesas, disponibilização de veículos e motorista, fornecimento de materiais (expediente e consumo), distribuição de bolsas para alunos de Enfermagem, formação de Promotoras de Saúde – similares aos atuais agentes comunitários de saúde. Fato é que foi uma ação deliberada, haja vista esse trabalho ter sido transformado em um Projeto de Extensão, com 20 horas semanais, e que os dados coletados subsidiaram a Dissertação de Mestrado de Mary Ann Small, conforme afirmou um colaborador.
Esses detalhes talvez justifiquem a intensidade com que Mary Anne Small trabalhava. Sobre isso, ficou a imagem de uma profissional obstinada, focada na atenção básica e no ensino de saúde pública, a ponto de gozar de prestígio junto à Secretaria Estadual de Saúde do RN.
A respeito dos dados de sua pesquisa, convém informar que os resultados foram publicados em forma de manuscrito, intitulado: Avaliação de um programa de assistência primária de saúde na área periurbana, em parceria com a aluna bolsista Rosana Lúcia Alves de Vilar, hoje professora Titular do Departamento de Enfermagem/UFRN. Trata-se de um estudo comparativo entre duas comunidades periféricas de Natal/RN, nas quais o programa de assistência primária à saúde havia sido implementado. Sua publicação atendeu à finalidade de divulgar os índices de saúde e avaliar o impacto das ações desenvolvidas pelas Promotoras de Saúde(2121 Vilar RLA, Small MA. Avaliação de um programa de assistência primária de saúde na área periurbana. Rev Bras Enferm. 1983;36:199-212.).
Entre as enfermeiras professoras visitantes que aqui estiveram, Mary Anne Small foi a última a deixar o Departamento de Enfermagem/UFRN e a que permaneceu por mais tempo nele (1974-1981). Durante esse período, sua convivência parece ter “contaminado” seus alunos com a paixão pela Enfermagem de Saúde Pública. Muitos desses conseguiram emprego na Secretaria Estadual de Saúde logo após a colação de grau.
Por fim, importa reafirmar que o Projeto HOPE Terra (1973-1985) destinou-se a alavancar o ensino superior na área da saúde da UFRN, mas, no caso da Enfermagem, a partida da professora Mary Anne Small, em 1981, pôs fim a essa cooperação internacional. Sobre ela, na atualidade, cabe informar que há algumas pressuposições de que resida na Califórnia/EUA. Para este estudo, foram realizadas várias investidas de contato – cartas, e-mails e telefonemas – todas sem sucesso.
Limitações do estudo
Escassez de documentação acerca do Projeto HOPE Terra e das enfermeiras professoras norte-americanas, por isso a imprecisão de quantas e por quanto tempo atuaram no Departamento de Enfermagem/UFRN. Insucesso em contatar Mary Anne Small para ser colaboradora deste estudo.
Contribuições para a área de Enfermagem, saúde ou política pública
Trata-se do registro de mais um episódio relevante de cooperação técnica entre o Brasil e os Estados Unidos, desta vez com a finalidade de incrementar os cursos da área da saúde/UFRN. Corresponde, portanto, à intenção de contribuir para a memória e a história da enfermagem e do ensino superior no RN, bem como de servir de estímulo a novas produções sobre o tema, tendo em vista que o Projeto HOPE também esteve em outro estado brasileiro.
CONCLUSÃO
Este estudo destinou-se à análise da atuação das enfermeiras professoras norte-americanas do Projeto HOPE Terra junto ao Curso de Enfermagem da UFRN, no período de 1974 a 1981. Esclareceu-se que a presença dessas profissionais decorreu dos desdobramentos do convênio firmado entre a UFRN e a People to People Foundation, responsável pelo envio de profissionais de saúde com experiência no ensino para atuarem como docentes, na condição de professores visitantes, nos cursos da área de saúde, neste caso, no Departamento de Enfermagem da UFRN.
Importa assinalar que a chegada das enfermeiras professoras norte-americanas coincide com o início do Ciclo Profissionalizante, ou seja, com o Curso de Enfermagem em pleno funcionamento. Sabe-se, pois, que contribuíram ministrando aulas e acompanhando alunos nos estágios curriculares das disciplinas de Enfermagem Materno-Infantil, Enfermagem Médico-Cirúrgica e Enfermagem em Saúde Pública. Ainda, atuaram, simultaneamente, em hospitais e instituições públicas de saúde de Natal, como informaram os colaboradores.
Por fim, essas enfermeiras professoras visitantes mantêm-se vivas nas memórias daqueles com quem conviveram, sendo recordadas com carinho pela simplicidade, habilidades, competência e desenvoltura profissional, com especial atenção à professora Mary Anne Small. Assim, é legítimo o tributo tanto ao Projeto HOPE Terra quanto a essas enfermeiras professoras norte-americanas pelo intercâmbio realizado.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
2018
Histórico
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Recebido
28 Nov 2017 -
Aceito
21 Mar 2018