Acessibilidade / Reportar erro

A translação do conhecimento como subsídio para a prática de enfermagem

As descobertas e inovações nas áreas biomédicas e de biotecnologia transformaram o cenário da pesquisa clínica. Progresso em biologia molecular, ciências genômicas, engenharia celular e tecidual, tecnologias proteômicas, bioengenharia, bioimagem e métodos computacionais estão entre os muitos avanços para contribuir para a promoção da saúde(11 Fontanarosa PB, Bauchner H. Scientific discovery and the future of medicine. JAMA. 2015;313(2):145-6. doi: 10.1001/jama.2014.17937.
https://doi.org/10.1001/jama.2014.17937...
). Pesquisas básicas, pesquisas pré-clínicas, pesquisas clínicas, revisões sistemáticas, estudos fenomenológicos ou de representações sociais buscam responder a um objetivo singular: elucidar demandas da prática assistencial. Contudo, é fato que ainda existe uma lacuna entre as evidências de pesquisa e sua aplicação na assistência ao indivíduo ou à comunidade.

A pesquisa translacional tem como objetivo acelerar a aplicabilidade das descobertas geradas em pesquisas de laboratórios e estudos pré-clínicos para o desenvolvimento de ensaios clínicos e estudos em seres humanos. O Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos foi considerado uma das instituições percursoras na operacionalização da pesquisa translacional com a criação em 2005 do The Translational Research Working Group (TRWG) (Grupo de Trabalho em Pesquisa Translacional). Em seguida, a Universidade de Washington” criou, em 2007, o Institute of Translational Health Sciences (ITHS) (Instituto de Ciências Translacionais), para o fortalecimento da medicina genética(22 Guimarães R. Pesquisa translacional: uma interpretação. Ciênc Saude Colet [Internet]. 2013; [cited 2019 Mar 24]18(6):1731-44. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pd...
). Em 2008, no Brasil, O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) criou o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM) com o objetivo de aprimorar as condições para que a produção de resultados em bancada (pré-clínico) seja transferida ao contexto clínico, gerando patentes e produtos inovadores.

“Bench to bedside” (da bancada a beira leito) é uma expressão que caracteriza a pesquisa translacional e sustenta seus três principais pilares: “bancada”, “beira leito” e comunidade(33 Cohrs RJ, Martin T, Ghahramani P, Bidaut L, Higgins PJ, Shahzad A. “Translational Medicine definition by the European Society for Translational Medicine”. New Horiz Transl Med.2015;2 (3): 86–88. doi: 10.1016/j.nhtm.2014.12.002
https://doi.org/10.1016/j.nhtm.2014.12.0...
). A pesquisa translacional envolve quatro fases: T1 (da descoberta à aplicação candidata em saúde); T2 (da aplicação clínica aos guidelines baseados em evidências); T3 (das diretrizes baseadas em evidências à difusão na prática médica); T4 (da prática médica ao impacto na saúde). Essas fases são bidirecionais e se retroalimentam com o objetivo de consolidar a ideia científica proposta (fármaco, terapia, instrumento, etc)(22 Guimarães R. Pesquisa translacional: uma interpretação. Ciênc Saude Colet [Internet]. 2013; [cited 2019 Mar 24]18(6):1731-44. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pd...
).

Neste contexto, a equipe multiprofissional em saúde tem um papel fundamental na construção, desenvolvimento e execução dessas fases, visto que muitos desses profissionais (enfermeiros, médicos, fisioterapeutas) atuam “beira leito” e na “comunidade”.

Neste sentido, por meio da observação das respostas humanas às patologias, a enfermagem participa ativamente das fases da pesquisa translacional na direção da clínica para a bancada. Além disso, a enfermagem, em sua configuração no século XXI, é protagonista na geração de conhecimento na área de saúde, destacando-se sua atuação também nas áreas básicas da pesquisa científica, sinalizando para a existência de novos paradigmas para a sua formação e qualificação.

Dessa forma, os cientistas da enfermagem caracterizam-se como verdadeiros empreendedores da pesquisa translacional em saúde, pois corroboram para o desenvolvimento de estudos tanto nas esferas pré-clínicas quanto nas clínicas.

REFERENCES

  • 1
    Fontanarosa PB, Bauchner H. Scientific discovery and the future of medicine. JAMA. 2015;313(2):145-6. doi: 10.1001/jama.2014.17937.
    » https://doi.org/10.1001/jama.2014.17937
  • 2
    Guimarães R. Pesquisa translacional: uma interpretação. Ciênc Saude Colet [Internet]. 2013; [cited 2019 Mar 24]18(6):1731-44. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf
  • 3
    Cohrs RJ, Martin T, Ghahramani P, Bidaut L, Higgins PJ, Shahzad A. “Translational Medicine definition by the European Society for Translational Medicine”. New Horiz Transl Med.2015;2 (3): 86–88. doi: 10.1016/j.nhtm.2014.12.002
    » https://doi.org/10.1016/j.nhtm.2014.12.002

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2019
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2019
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br