Catadores de material reciclável: vida e trabalho à luz dos determinantes sociais de saúde

RESUMO

Objetivos:

conhecer como os determinantes sociais de saúde se relacionam com o contexto de vida e trabalho dos catadores de material reciclável.

Métodos:

estudo qualitativo, oriundo de uma Pesquisa Convergente-Assistencial, realizado com catadores de duas associações de reciclagem do Sul do Brasil. Foram utilizadas observação sistemática participante, entrevistas semiestruturadas e grupos de convergência. A análise seguiu os passos: Apreensão, Síntese, Teorização e Transferência.

Resultados:

idade avançada, autocuidado deficitário, iniquidades de gênero, violência e conflitos familiares se evidenciaram como elementos atrelados aos determinantes individuais, comportamentais e de redes sociais. Determinantes adstritos às condições de vida e trabalho se mostraram relacionados ao pouco acesso à educação e trabalho formal, bem como ao cotidiano de riscos ocupacionais na reciclagem. Carência de direitos trabalhistas e de políticas públicas representou macrodeterminantes.

Considerações Finais:

carências sociais e econômicas são potencializadas no contexto de vida e trabalho dos catadores, relacionando-se fortemente aos seus determinantes.

Descritores:
Determinantes Sociais da Saúde; Catadores; Saúde do Trabalhador; Violência de Gênero; Enfermagem

ABSTRACT

Objectives:

to know how the social determinants of health relate to the context of life and work of recyclable waste pickers.

Methods:

a qualitative study, derived from Convergent-Care Research, conducted with waste pickers from two recycling associations in the South of Brazil. We used systematic participant observation, semi-structured interviews, and convergence groups. The analysis followed the steps of Seizure, Synthesis, Theorization, and Transfer.

Results:

advanced age, precarious self-care, gender inequalities, violence, and family conflicts have shown to be elements linked to the individual, behavioral, and social network determinants. Determinants connected to living and working conditions were related to poor access to education and formal work, as well as to the daily occupational risks in recycling. The lack of labor rights and public policies represented macro-determinants. Final

Considerations:

social and economic deficiencies are potentiated in the context of life and work of waste pickers, strongly related to their determinants.

Descriptors:
Social Determinants of Health; Solid Waste Segregators; Occupational Health; Gender-Based Violence; Nursing

RESUMEN

Objetivos:

conocer como los determinantes sociales de la salud se relacionan con el contexto de vida y trabajo de segregadores de residuos sólidos.

Métodos:

estudio cualitativo, oriundo de una Investigación Convergente-Asistencial, realizado con segregadores de residuos sólidos de dos asociaciones de reciclaje del Sur Brasileño. Utilizadas observación sistemática participante, entrevistas semiestructuradas y equipos de convergencia. Análisis siguió los pasos: Aprehensión, Síntesis, Teorización y Transferencia.

Resultados:

edad avanzada, autocuidado deficitario, iniquidades de género, violencia y conflictos familiares se evidenciaron como elementos enlazados a determinantes individuales, comportamentales y de redes sociales. Determinantes adscritos a condiciones de vida y trabajo se mostraron relacionados al poco acceso a educación y trabajo formal, bien como al cotidiano de riesgos ocupacionales en reciclaje. Carencia de derechos laborales y de políticas públicas representó macrodeterminantes.

Consideraciones Finales:

carencias sociales y económicas son potenciadas en el contexto de vida y trabajo de los segregadores de residuos sólidos, relacionándose fuertemente a sus determinantes.

Descriptores:
Determinantes Sociales de la Salud; Segregadores de Residuos Sólidos; Salud Laboral; Violencia de Género; Enfermería

INTRODUÇÃO

Os catadores de material reciclável compõem um grupo social vulnerável no que diz respeito à saúde, educação e condições de vida e trabalho^(1-2). Estima-se que, no Brasil, cerca de 300 mil pessoas trabalhem com material reciclável e que estejam presentes em cerca de 89% dos municípios brasileiros. São predominantemente homens, autodeclarados pretos ou pardos, com faixa etária entre a terceira e quarta década de vida. A taxa de analfabetismo ou baixa escolaridade nesse segmento é superior à média da população. A maior parte trabalha informalmente, com baixos rendimentos⁽³⁾.

Os catadores de material reciclável compõem um grupo social vulnerável no que diz respeito à saúde, educação e condições de vida e trabalho^(1-2). Estima-se que, no Brasil, cerca de 300 mil pessoas trabalhem com material reciclável e que estejam presentes em cerca de 89% dos municípios brasileiros. São predominantemente homens, autodeclarados pretos ou pardos, com faixa etária entre a terceira e quarta década de vida. A taxa de analfabetismo ou baixa escolaridade nesse segmento é superior à média da população. A maior parte trabalha informalmente, com baixos rendimentos⁽³⁾.

Evidências recentes têm mostrado que os catadores de material reciclável possuem alta prevalência de adoecimento laboral (com destaque para as afecções crônicas e infecciosas relacionadas ao ambiente), para a qual contribuem o pouco acesso/uso dos serviços de saúde e precárias condições de vida, moradia e trabalho^(4-7). Somado a isso, estudos têm revelado que os catadores de material reciclável apresentam trajetórias de vida marcadas pela exclusão do mercado de trabalho e pela falta de oportunidades, além de estarem vulneráveis a potentes agentes de sofrimento relacionados ao preconceito e ao estigma por trabalhar com o que sociedade denomina “lixo”^(8-9).

Isso contribui para a marginalização de um trabalhador que não está amparado, efetivamente, por políticas públicas de saúde que o sustentem em suas necessidades⁽⁹⁾. Os catadores de material reciclável, em sua maior parte, trabalham à margem do sistema formal de resíduos, colocando em risco sua própria saúde devido à necessidade de prover seu sustento⁽¹⁾. Dadas as múltiplas vulnerabilidades de vida e trabalho dessa população, o conceito de “determinantes sociais de saúde” (DSS) se mostra importante para o entendimento dos elementos que circundam a dinâmica da saúde e de adoecimento.

Os DSSs dizem respeito às condições sob as quais as pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem, adstritas a um conjunto mais amplo e complexo de forças e sistemas que direcionam as condições de vida. Nesse fenômeno, estão incluídas políticas e sistemas econômicos, normas e políticas sociais⁽¹⁰⁾, fatores que afetam cumulativamente o processo de saúde e adoecimento de pessoas e populações, estabelecendo desigualdades e disparidades de saúde.

O presente estudo está sustentado nas prerrogativas do marco teórico-conceitual de DSS estabelecido por Dahlgren e Whitehead e assumido pela Organização Mundial da Saúde em 2005. Esse modelo compreende o sistema de DSSs tendo os indivíduos ou grupos como centro de um conjunto de forças que envolve desde os elementos mais adstritos aos sujeitos (como fatores pessoais, biológicos e comportamentais) até os macrodeterminantes, representados por fatores históricos, culturais, sociais e econômicos que se estabelecem nas sociedades ou mesmo no mundo⁽¹¹⁾.

Os DSSs estão diretamente relacionados ao acesso e promoção à saúde⁽¹²⁾. Para a produção do cuidado em enfermagem, conhecer os DSSs de uma população pode revelar fatores que potencializam ou vulnerabilizam sua saúde e que podem ser modificáveis⁽¹³⁾. Nesse sentido, é fundamental que esse elemento seja discutido no campo da saúde e da enfermagem, dado o desafio de considerar as singularidades dos sujeitos (como os catadores de material reciclável) e seus contextos de vida, visto que se encontram em cenários influenciados por fatores socioeconômicos e ambientais precários.

OBJETIVOS

Conhecer como os determinantes sociais de saúde se relacionam com o contexto de vida e trabalho dos catadores de material reciclável.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Esta pesquisa foi realizada mediante anuência formal das associações de reciclagem. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa local, atendendo aos preceitos das Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, que tratam sobre pesquisas com seres humanos. Os participantes foram identificados por pseudônimos escolhidos por eles.

Tipo de estudo

Estudo qualitativo alicerçado no referencial metodológico da Pesquisa ConvergenteAssistencial (PCA), método que possibilita a realização de investigações concomitantes a práticas assistenciais⁽¹⁴⁾. Foram usadas as diretrizes para estudos qualitativos (COREQ).

Cenário de estudo

O cenário do estudo compreendeu duas associações de reciclagem localizadas na Região Sul do Brasil. Ambas dividiam o mesmo galpão de reciclagem e o mesmo processo de trabalho. Contavam com uma população de 23 catadores, que se dividia entre o trabalho no galpão de reciclagem (onde era realizada a recepção, separação, prensagem e armazenamento do material reciclável) e nos dois caminhões (por meio dos quais era feita a coleta seletiva do reciclável no município, amparado em um contrato com a prefeitura).

Participantes do estudo

Os participantes foram os catadores integrantes das associações, incluindo os que atuavam no galpão e nos caminhões. Uma vez que todos eles tinham mais de 18 anos e possuíam condições vocais e cognitivas para comunicação, optou-se por incluir todos no estudo. Dentre os 23 trabalhadores, 1 mulher estava afastada por gestação no período de produção de dados e 3 optaram por não participar da pesquisa, logo a amostra foi composta por 19 catadores.

Coleta e organização dos dados

A produção de dados ocorreu de agosto a novembro de 2017, mediante a triangulação de três ferramentas metodológicas: observação sistemática participante, entrevistas semiestruturadas e grupos de convergência.

A observação sistemática participante se deu entre agosto e setembro de 2017, perfazendo um total de 115 horas em campo com 19 trabalhadores que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisadora esteve inserida no galpão de reciclagem, no itinerário dos caminhões e acompanhou reuniões de equipe. Utilizou um roteiro de observação focado nas condições de trabalho e interações do trabalhador com o ambiente, tarefas e organização laboral. Os dados foram compilados em diário de campo e denominados “notas de observação” (NO). A observação foi concluída segundo o critério de saturação teórica⁽¹⁵⁾.

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas na sequência, de setembro a outubro de 2017. Ocorreram 18 entrevistas na sala destinada ao brechó das associações, o que garantiu conforto e privacidade aos participantes. Foram conduzidas com apoio de um roteiro semiestruturado nos seguintes tópicos: trajetória de vida, ingresso no trabalho; percepções e sentimentos do trabalhador em relação ao seu trabalho; e elementos do trabalho que interferem na sua saúde. A primeira entrevista foi considerada pré-teste e, em vista da necessidade de ajustes no roteiro de perguntas, foi suprimida do banco de dados. Tiveram duração média de 28 minutos e foram audiogravadas com a anuência dos participantes. Sua interrupção se deu conforme o critério de exaustão, ou seja, quando todos os participantes elegíveis foram abordados⁽¹⁵⁾. Ao final das entrevistas, foi realizada uma préanálise e elaborada uma síntese do conteúdo em forma de tópicos, a qual foi lida em ocasião dos grupos de convergência para validação dos dados.

Em seguida, foram organizados os grupos de convergência, ferramenta amplamente utilizada na PCA por possibilitar uma interação grupal potencialmente geradora de dados de pesquisa, em concomitância com o processo de reflexão dos sujeitos. Os trabalhadores foram divididos em dois grupos devido ao número de participantes, por se considerar que o processo de fala e participação seria facilitado em grupos menores. Realizou-se um encontro com cada grupo no mês de novembro de 2017, com o mesmo roteiro semiestruturado, que esteve focado na reflexão coletiva acerca dos elementos ambientais, organizacionais e pessoais que poderiam afetar a saúde do catador.

Cada encontro teve duração média de uma hora e 30 minutos e foi mediado pela pesquisadora principal e por três assistentes de pesquisa. Dois assistentes tiveram o papel de realizar registros ao longo dos debates, e o outro foi responsável por elaborar uma síntese do conteúdo, a qual era lida ao fim do encontro para validação dos dados. Os encontros ocorreram no refeitório da associação e foram audiogravados com anuência dos participantes.

Análise dos dados

As notas de observação, de entrevista e de grupo foram analisadas de acordo com os passos propostos pela PCA: Apreensão, Síntese, Teorização e Transferência⁽¹⁴⁾.

A Apreensão inicia com a produção de dados e corresponde à organização das informações⁽¹⁴⁾. Os dados foram transcritos na íntegra com auxílio do Express Scribe Transcription Software e transportados para o editor de textos Microsoft Word 2010, juntamente com o diário de campo. Seguiu-se leitura aprofundada do material até que fossem eleitos códigos representativos do conteúdo.

Na Síntese, o pesquisador analisa subjetivamente os dados apreendidos, formando as primeiras categorizações⁽¹⁴⁾. Foi eleita a técnica cromática, que atribui uma cor para cada código eleito. Após codificação dos dados brutos e classificação por cores, os fragmentos foram recortados e colados em cartazes, sob os quais foram feitos os primeiros agrupamentos por afinidade semântica.

Na fase de Teorização, o pesquisador busca descobrir os valores e os sentidos embutidos nos dados observados, formulando pressupostos e teorias⁽¹⁴⁾. Nessa etapa, os dados foram teorizados à luz do modelo de DDSs de Dahlgren e Whitehead, segundo os quais os determinantes se dispõem em camadas, sendo que a primeira delas reflete a esfera individual dos sujeitos que se relacionam socialmente. As primeiras camadas são mais próximas dos determinantes individuais, ao passo que a última camada, mais distal, se aproxima mais dos macrodeterminantes⁽¹¹⁾.

A primeira camada é composta pelos determinantes individuais (como a idade, o sexo, heranças genéticas). A segunda é formada pelos comportamentos e estilos de vida individuais. A terceira é constituída pelas redes sociais. A quarta compõe-se pelas condições de vida e trabalho. A quinta e última camada, mais externa, é formada pelos macrodeterminantes, elementos estruturais que se estabelecem em nível de sociedade (como cultura, economia, meio ambiente, entre outros)⁽¹¹⁾.

Sob os cartazes foram feitas anotações, e as reflexões conduziram ao entendimento sobre a maneira pela qual os dados encontrados iam ao encontro do modelo proposto.

Por fim, na quarta e última fase, Transferência, foi realizada a inferência para a prática e projeção para novas pesquisas⁽¹⁴⁾, por meio da comparação com a literatura nacional e internacional.

Os resultados foram organizados em duas categorias: Trajetórias individuais e familiares demarcadas por DSS; e Condições de vida e de trabalho e a interface com os macrodeterminantes.

RESULTADOS

Dentre os 19 participantes deste estudo, houve predomínio de mulheres (n = 15), com companheiro(a) (n = 14), com filho(s) (n = 16). Seis definiram-se brancos; quatro, morenos; quatro, pardos; três, negros; e dois, moreno-claros. A média de idade dos catadores foi de 43,7 anos, sendo que o trabalhador mais jovem possuía 30 anos, e o mais velho, 62 anos. Escolaridade: nove possuíam o ensino fundamental incompleto; dois, o ensino fundamental completo; quatro, o ensino médio incompleto; dois, o ensino médio completo; e dois, o ensino superior incompleto.

O tempo médio de trabalho nas associações foi de 6,7 anos; e, na reciclagem em geral, de 8 anos. A maior parte dos trabalhadores (n = 15) afirmou já ter sofrido acidentes laborais, sobretudo cortes, quedas, perfurações, entorses e contusões. A maior parte (n = 17) referiu possuir algum quadro de adoecimento crônico.

No tocante à composição familiar, esta mostrou-se heterogênea. A maior parte (n = 11) referiu residir com companheiro(a)s e/ou filho(a)s. Sete trabalhadores compunham famílias ampliadas, as quais englobavam companheiro(a)s, filho(a)s, genros, noras, sogros, sogras, sobrinho(a)s, pais e mães. Uma trabalhadora relatou viver sozinha. Alimentação: a maior parte dos trabalhadores disse realizar três ou mais refeições por dia (n = 15).

No que diz respeito aos DSSs que se estabelecem no contexto de vida e trabalho dos catadores de material reciclável, a síntese destes pode ser visualizada na Figura 1, em que estão representados de acordo com o modelo de Dahlgren e Whitehead. Na sequência, serão mostradas as categorias analíticas originadas da análise empregada neste estudo.

Figura 1
Síntese dos determinantes sociais de saúde evidenciados no contexto de vida e trabalho dos catadores de material reciclável conforme o modelo de Dahlgren e Whitehead, Palmeira das Missões, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 2020

Trajetórias individuais e familiares demarcadas por determinantes sociais de saúde

Os dados desta categoria demarcam os DSSs das primeiras três camadas do modelo de Dahlgren e Whitehead. No que diz respeito aos determinantes individuais (primeira camada), a idade avançada se mostrou um elemento importante para os indivíduos. Já em relação aos comportamentos e estilo de vida (segunda camada), o autocuidado deficitário foi um elemento potencial para seu adoecimento:

Os fardos são pesados. [...] Chega uma idade [...] antigamente eu empurrava os fardos sozinha. Hoje não vai. Começa a latejar aqui, a veia da cabeça. (Sônia)

Eu diria que não tem um cuidado muito grande. [...] O pessoal não usa o material [equipamento de proteção] que é para ser usado. As luvas certas, as máscaras, o protetor auricular [...] As pessoas não se cuidam. (Johnny Cash)

Já no que diz respeito às redes sociais (terceira camada), a família se mostrou um espaço demarcado por iniquidades de gênero, violência e conflitos. Na vida doméstica, algumas catadoras relataram dificuldades para buscar emprego, devido às relações de poder no casamento:

[...] eu fui casada 18 anos com o pai dos guris. Eu nunca tinha trabalhado porque ele não deixava. Depois que eu me separei, eu me obriguei a trabalhar, custei a arrumar esse serviço. [...] Ele tinha muito ciúme de mim, ele era bem mais velho que eu. (Clara)

[...] o meu marido disse “ou eu, ou os estudos”. Eu achei que o que ele falou estava certo, e errei. O casamento não continuou [...]. Me arrependo porque não acordei antes. [...]. (Paloma)

Relações familiares complexas envolvendo convívio com familiares tiveram uma posição de destaque na fala dos catadores no tocante ao seu itinerário de vida:

[...] parece que as pessoas que vivem comigo não me dão valor. Parece que meus filhos não me reconhecem, o valor, o trabalho que eu passo aqui. Meu marido está desempregado, eu estou sustentando a casa. Só que eu não consigo entender por que eles não lavam um prato para me ajudar, eles não lavam a louça, eles não estendem uma roupa. [...] Eu tenho meus problemas com esse meu companheiro, ele bebe, incomoda a noite toda [...]. (Marlene)

[...] grande parte destas pessoas possui questões familiares complexas, adstritas, principalmente, a filhos dependentes de drogas lícitas ou ilícitas; envolvimento com o tráfico; filhos em privação de liberdade por crimes recorrentes; gravidez indesejada de familiares próximos; conflitos interpessoais no seio familiar que culminam em agressões e na saída precoce de adolescentes de casa; e violência doméstica. O sofrimento está expresso na fala destes participantes, sobressaindo-se aos problemas que referem enfrentar. Observo que a vulnerabilidade é um campo extenso e que não se restringe ao trabalho, impactando outras dimensões da vida, sobretudo as relações familiares. (NO, 05/09/2017)

A violência se mostrou presente na trajetória de vida da mulher e de seus dependentes, evidenciando inclusive uma alusão a uma tentativa de feminicídio:

[...] foi bem chata a minha separação, porque ele me agrediu, e eu tive que sair da minha casa. [...] Eu comecei a vida do zero, porque ele ficou com tudo [...]. (Clara)

[...] eu podia sofrer, eu não queria que eles [filhos] sofressem. Quando meus filhos apanhavam, eu chegava do serviço, aquela dor me doía junto na alma, porque eu não estava em casa para proteger eles. E eles apanhavam brutalmente, iam de olho roxo para o colégio. [...] Fui perseguida cinco anos por ele [ex-marido]. Ele disse: “Da cadeia eu saio, mas do cemitério tu não sai. Tu não vai sair nunca dos sete palmos.” E ele tentou contra a minha vida. Estou aqui hoje, acho que Deus tinha um plano pra mim. (Paloma)

Condições de vida e de trabalho e a interface com os macrodeterminantes

Esta categoria analítica demonstra como as condições de vida e de trabalho (quarta camada) e alguns macrodeterminantes (quinta camada) estiveram evidenciados nos depoimentos dos catadores. Os relatos das trajetórias de vida iniciam com o destaque para o trabalho de catação como uma consequência das poucas oportunidades de educação formal, com histórias de vida permeadas por muitas dificuldades em diferentes âmbitos. O ingresso na reciclagem, muitas vezes, acontecia por necessidade como recurso diante do desemprego e como fonte de renda para a sobrevivência dos filhos:

Eu estudei até a 2ª série. Não tinha muito recurso. Meus pais moravam para fora [zona rural] e nem se importavam. O colégio era longe, a gente só ia quando podia. Não tinha como acompanhar a turma. (Luana)

Eu não consegui mais vaga na época. Daí, eu parei, acabei desistindo. Eu não queria ter desistido de estudar. (Alessandra)

Eu criei os meus filhos puxando carrocinha [recolhimento de recicláveis] até eles ficarem grandes. Meu ex-marido não tinha trabalho. (Marlene)

Além disso, os dados permitem identificar um conjunto de desafios enfrentados pelos trabalhadores no cotidiano da catação, como os riscos ocupacionais:

[...] eu acho que, nesse trabalho, a gente fica bem exposto. [...] A gente trabalha com o lixo que vem da população. E eu acho que é arriscado. [...]. (Madalena)

[...] tenho observado, dentre os materiais recicláveis, objetos como fitas utilizadas na verificação de glicemia capilar contaminadas com sangue; seringas de administração de insulina; perfurocortantes em geral; papel higiênico contaminado com fezes, urina ou sangue; lixo orgânico de todo o tipo; animais mortos em decomposição. Além disso, o material reciclável contém, frequentemente, urina e fezes de cães, gatos e ratos, os quais circulam livremente no galpão, entre os materiais manipulados pelos trabalhadores. (NO, 18/08/2017)

A exposição arriscada dos participantes ao reciclável dá-se, principalmente, devido à qualidade do material que é cedido pela população à coleta seletiva:

[...] as pessoas não têm noção de que quem trabalha aqui é humano também, pega doença também. Nós cansamos de pegar agulha com seringa, [...] agulha de soro, as mangas sujas de sangue [...]. Papel higiênico, galinha morta, gato com bicheira já morto. Eu acho que isso aí tudo daqui a um tempo vai aparecer [adoecimento]. Fiz exame e o doutor acha que eu estou com hepatite, e onde que eu peguei uma hepatite? [...]. (Marlene)

Os dados evidenciam que o trabalho dos catadores de material reciclável é intenso e os expõe a desconfortos diários, causando impactos, inclusive, em sua saúde. Pelos depoimentos e pelas notas de observação, foi possível perceber que os danos laborais relacionados ao trabalho são capazes de comprometer a qualidade de vida dos trabalhadores. Dentre esses danos, a dor física é a mais referida pelos participantes.

[...] Tem dias que eu me levanto, assim [...]. Sabe aquela música que as crianças cantavam, fazendo rodinha, do boneco de lata, desamassa aqui, desamassa ali [...]. Eu fico pensando naquela música. Eu levanto assim, com dor [...]. (Joana)

Ao longo da realização da observação sistemática participante, a dor é uma queixa recorrente, em especial a dor nos membros inferiores e na coluna, para as quais eles se automedicam, geralmente, com medicamentos orais a base de paracetamol. (NO, 08/09/2017)

Complementa-se que, além dos riscos presentes no cotidiano de trabalho, alguns depoimentos apontaram para a falta de direitos trabalhistas e de políticas públicas, o que sinaliza alguns macrodeterminantes:

[...] a falta de retorno público. O poder público poderia fazer a reciclagem ser uma coisa muito melhor, para receber muito mais pessoas para trabalhar [...]. (Simoniti)

[...] parece que não tem um cuidado com o pessoal que está ali trabalhando. Se a gente fica doente, a gente não vai ter direito a nada. A gente vai ter que ficar em casa sem ganhar nada [...]. (Clara)

[...] aqui não tem fundo de garantia, não tem nada de direito, nenhum dinheiro extra que tu saiba que vai pegar, então eu estou vendo [outro trabalho]. Porque, para mim, isso é importante, é a minha vida que está correndo. (Madalena)

DISCUSSÃO

A primeira categoria temática evidenciou DSSs que se relacionam com fatores de ordem individual dos catadores de material reciclável, a começar pela primeira camada, representada pelos determinantes individuais. A idade avançada se mostrou um elemento individual importante, considerando que o trabalho na catação exige intensa mobilização do corpo para a realização das tarefas. Estudo de revisão de literatura corrobora esse achado, mostrando que a idade avançada para o catadores representa, muitas vezes, o aumento de sintomas físicos, como a dor⁽⁴⁾. Também podese destacar o padrão segundo o qual a idade correlaciona-se inversamente com a produtividade, ou seja, quanto maior a idade do sujeito, menos produtivo ele é para a sociedade. Isso reforça as desigualdades em termos de oportunidades no contexto do trabalho.

A segunda camada é composta pelos determinantes relacionados a comportamentos e estilo de vida, sendo que o autocuidado deficitário ficou evidente nos depoimentos. Isso vai ao encontro de outros estudos, os quais evidenciam que os catadores de materiais recicláveis, algumas vezes, não se protegem adequadamente ante os riscos ocupacionais⁽¹⁶⁾ e não possuem ações de autocuidado suficientes para evitar os acidentes ou o adoecimento laboral⁽⁴⁾. Esse achado mostra que os serviços de saúde precisam atentar para essas questões, a fim de produzir estratégias educativas que sensibilizem esse grupo de trabalhadores sobre a importância dos cuidados em seu processo de trabalho.

Já a terceira camada dos DSSs evidencia as redes sociais de apoio, cujo potencial de coesão é importante para a saúde dos indivíduos⁽¹¹⁾. Neste estudo, revelou-se que tais redes são fragilizadas pelas vivências de desigualdade de gênero, violência e conflitos no espaço domiciliar.

Esses elementos, quando se apresentam dentre os DSSs dos catadores, acentuam as relações assimétricas de poder entre homens e mulheres de diferentes formas. De maneira mais clara, isso é constatado nos relatos de agressão física e mesmo de tentativa de feminicídio. Entretanto, as diferentes faces da violência se apresentam também no aprisionamento das mulheres no espaço doméstico, quando elas são impedidas de trabalhar ou estudar; nas perdas financeiras e patrimoniais; na divisão desigual das responsabilidades domésticas e com os filhos; no estabelecimento de padrões abusivos de relacionamento.

Dentro desse assunto, pode-se citar uma pesquisa brasileira na qual se identificou associação significativa entre mulheres que sofreram dois ou mais tipos de violência e a baixa escolaridade - esta última também retratada no presente estudo. Apesar de mulheres de todos os níveis educacionais serem vítimas de violência, o que as diferencia é o fato de as mais esclarecidas possuírem maior autonomia, reduzindo a tolerância às agressões⁽¹⁷⁾.

A violência de gênero no contexto latino-americano é um fenômeno de ampla proporção. Reflete uma dinâmica desigual de poder que se perpetua no sistema binário de gênero e é perpetrada pelo sujeito que se coloca como em vantagem física, cultural ou social sobre o outro - geralmente, o homem sobre a mulher⁽¹⁸⁾.

A violência de gênero acarreta em suas vítimas danos de ordem física e psicológica⁽¹⁹⁾, o que revela a importância da reflexão acerca da inter-relação entre violência e saúde⁽²⁰⁾. Os relatos denotam que a violência expressa, sobretudo no componente de gênero, está relacionada não só à perda de bens e recursos materiais, mas também a prejuízos emocionais. Nesse sentido, a violência constituise em um importante fator de vulnerabilidade para essas pessoas, uma vez que representa a demarcação de momentos críticos de suas vidas que compõem a sua trajetória e a sua identidade.

Na segunda categoria analítica, evidenciaram-se os DSSs de ordem mais coletiva, representados principalmente pelas condições de vida trabalho (quarta camada) e alguns macrodeterminantes (quinta camada)⁽¹¹⁾. Os depoimentos sinalizam que as dificuldades no acesso à educação e, consequentemente, ao emprego formal culminaram na migração dessas pessoas ao trabalho com material reciclável.

A literatura descreve os catadores de material reciclável como um grupo populacional de baixo poder econômico e adstritos a contextos de vulnerabilidade⁽²¹⁾. Por exemplo, estudo qualitativo realizado com mulheres catadoras de material reciclável associadas evidenciou que elas possuíam trajetórias de vida marcadas por vulnerabilidades econômicas, familiares e sociais. Trabalho infantil, exclusão do mercado de trabalho formal, desigualdades raciais e de gênero foram elementos comuns no discurso das depoentes. Concluiu-se que as questões de raça e gênero eram importantes determinantes de vida daquele grupo⁽²²⁾, o que integra e corrobora ambas as categorias analíticas do presente trabalho.

Revelou-se também a precariedade do trabalho dos catadores de material reciclável: o trabalho instável, informal e precário se mostra como um dos arranjos contemporâneos de emprego no mundo cujas consequências negativas para a saúde dos trabalhadores são potentes⁽²³⁾. Os achados do estudo em tela remetem a um trabalho intenso e exaustivo, relacionado a desconfortos diários. Na literatura, tem-se observado a dureza que caracteriza o trabalho dos catadores de material reciclável em associações, destacando a exposição ao calor, frio e chuva, bem como a necessidade de esforço físico frequente, com consequente sensação de exaustão. O cotidiano nos galpões de reciclagem exige dos trabalhadores intensa mobilização das capacidades físicas, mentais e emocionais para atender a uma demanda exaustiva de trabalho⁽⁸⁾.

Estudos nacionais e internacionais recentes têm mostrado que o trabalho dos catadores de material reciclável os expõe a um conjunto de riscos de doenças e acidentes ocupacionais. No que diz respeito às doenças ocupacionais, há evidências da alta incidência de distúrbios osteomusculares, doenças crônicas não transmissíveis (hipertensão arterial e diabetes mellitus), doenças infectocontagiosas, verminoses e doenças alérgicas nessa população. As longas jornadas de trabalho, combinadas com a falta de acesso ou não uso dos equipamentos de proteção individual, agravam o risco de adoecimento no trabalho^(7,9,21).

Estudo de métodos mistos com catadores de material reciclável encontrou associação estatística significante entre a ocorrência de doenças transmitidas por vetores (dengue, Zika e Chikungunya) e as variáveis: local de moradia, condições de trabalho, uso de equipamentos de proteção individual e carga semanal de trabalho⁽²⁴⁾. Além disso, há evidências de alta incidência de hepatites B, C e E nessa população^(9,25). Tais dados ratificam os relatos dos depoentes, mostrando que o trabalho com material reciclável é um importante DSS, que resulta em comprometimento da sua qualidade de vida e de sua família.

Já os acidentes laborais entre os catadores também são prevalentes, incluindo cortes, queimaduras, lesões de pele e olhos, lesões nos membros e na cabeça e, às vezes, amputações. Os acidentes com material perfurocortante são comuns^(7,9,21).

Ainda, a dor, agravo que obteve ênfase no discurso dos depoentes, também está evidenciada na literatura. Estudo de revisão integrativa descreveu que os catadores de material reciclável convivem com elevados riscos de lesões musculoesqueléticas, em especial nos membros superiores, coluna e ombros. Esses riscos se agravam com o avanço da idade e com o tempo de duração do trabalho⁽⁹⁾, estando relacionados a condições inadequadas de trabalho, tais como fatores organizacionais, esforços mecânicos e fadiga⁽²⁶⁾.

Destaca-se que os catadores de material reciclável, ao longo de uma vida marcada por privações e dificuldades, encontram nesse trabalho, embora pouco valorizado, a sua sobrevivência e de sua família em muitos casos. Eles compõem um segmento, em geral, desassistido socialmente, invisível perante a sociedade e poder público⁽²⁷⁾. Isso vai ao encontro dos depoimentos que finalizam a segunda categoria analítica, sinalizando para um macrodeterminante (quinta camada)⁽¹¹⁾, pois é reflexo de um cenário de ausência de políticas públicas capazes de assegurar direitos e seguridade ao trabalhador informal, em especial aos que atuam na reciclagem.

As associações de catadores são um elo fundamental para o gerenciamento sustentável dos resíduos sólidos. Desempenham um importante papel social, econômico e ambiental. No entanto, por terem como principal fonte econômica o setor público e por conta das dificuldades de autogestão, as associações de reciclagem, muitas vezes, não conseguem atingir uma posição competitiva no mercado da reciclagem⁽²⁸⁾. A baixa remuneração recebida por eles contribui para a manutenção de ciclos de pobreza e desigualdades. Portanto, esses sujeitos necessitam de políticas públicas eficazes, além de um maior reconhecimento da população acerca da importância do seu trabalho⁽²⁷⁾.

Os resultados deste estudo reforçam o entendimento de que as políticas públicas voltadas aos grupos de catadores podem e precisam ser fortalecidas, considerando os DSSs que envolvem o contexto de trabalho e vida dessas pessoas. Os catadores talvez nunca usufruam de um ambiente laboral livre de riscos, no entanto as políticas públicas e instituições de apoio poderão auxiliar na mitigação desses problemas e na criação de um ambiente de trabalho sustentável e digno⁽¹⁾.

Limitações do estudo

Como limitação deste estudo, pode-se mencionar que os catadores de material reciclável são uma população de difícil acesso. Eles dispõem, em geral, de pouco tempo para participação em pesquisas qualitativas, uma vez que seus ganhos financeiros são resultado da produção diária. Isso limitou o tempo de duração das entrevistas e, consequentemente, a profundidade dos dados obtidos. Além disso, nem todas as pessoas entrevistadas se sentiram à vontade para falar sobre eventos críticos de suas vidas, limitação que se espera quando se abordam temáticas pessoais. Contudo, essas limitações não comprometeram severamente a qualidade dos dados obtidos.

Contribuições para a Área da Enfermagem

O conceito de DSS proporciona o entendimento de que as condições sociais e econômicas que circundam a vida das pessoas (como iniquidades de gênero e raça, pobreza, pouco acesso à educação e à mobilidade social, bem como trabalho precário) impactam profundamente sua dinâmica de saúde e adoecimento. Reconhecer a relação entre esses elementos potencializa intervenções, a fim de reduzir as iniquidades de saúde profundamente enraizadas na sociedade; também, contribui para as melhores decisões baseadas em evidências que promovam transformações nos indicadores de saúde das populações vulnerabilizadas⁽²⁹⁾.

Os resultados deste estudo são relevantes no que diz respeito à produção do cuidado em enfermagem a grupos vulneráveis, como os catadores de material reciclável. Essa produção de cuidado precisa estar sustentada nas ações de apoio, ajuda, autonomia, conforto, educação, limitação de danos, prevenção de doenças e promoção da saúde. Sendo assim, se a prática diária de enfermagem não incluir os DSSs na compreensão do ser cuidado, no entendimento de suas necessidades e no delineamento de planos de cuidado, permanecer-se-á reforçando os modelos curativistas restritos à contenção da doença e sem poder de transformação em face de contextos complexos⁽¹²⁾.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os catadores de material reciclável apresentavam trajetórias individuais e familiares demarcadas pelos DSSs. Idade avançada, autocuidado deficitário, iniquidades de gênero, violência e conflitos familiares emergiram como elementos atrelados aos determinantes individuais, comportamentais e de redes sociais.

Além disso, os determinantes adstritos às condições de vida e trabalho se mostraram relacionados ao pouco acesso à educação e trabalho formal. No cotidiano da catação, os trabalhadores enfrentavam riscos ocupacionais, o que culminava em danos à sua saúde. Por fim, as enunciações sinalizaram alguns macrodeterminantes, representados pela carência de direitos trabalhistas e políticas públicas. Ao término deste estudo, foi possível concluir que carências sociais e econômicas são potencializadas no contexto de vida e trabalho dos catadores, relacionando-se fortemente aos seus determinantes.

Para pesquisas futuras, recomenda-se que sejam investigados os catadores de material reciclável não associados ou cooperativados, como os que atuam nas ruas com carrinho de propulsão humana ou animal e cujos DSSs podem ser diferenciados. Além disso, sugere-se que os DSSs sejam pesquisados no contexto de outras populações vulneráveis, sob as lentes da pesquisa em saúde e enfermagem.

• FOMENTO O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

• AGRADECIMENTO Nosso agradecimento se dirige à Profa. Dra. Mercedes Trentini, cujas contribuições foram fundamentais para a qualidade e rigor deste trabalho.

MATERIAL SUPLEMENTAR

Coelho APF. Autocuidado de catadores de material reciclável: estudo convergente-assistencial. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, Brasil, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/14614

REFERENCES

• ¹
  Schenck CJ, Blaauw PF, Viljoen JM, Swart EC. Exploring the potential health risks faced by waste pickers on landfills in South Africa: a socio-ecological perspective. Int J Environ Res Public Health. 2019;16(11):2059. https://doi.org/10.3390/ijerph16112059
  » https://doi.org/10.3390/ijerph16112059
• ²
  Martínez L, Zuluaga B, Prada SI. Analyzing factors associated with trash pickers' health status: census data in a major city in Colombia. J Community Health. 2019;45:133-40. https://doi.org/10.1007/s10900-019-00725-7
• ³
  Dagnino RS, Johansen IC. Os catadores no Brasil: características demográficas e socioeconômicas dos coletores de material reciclável, classificadores de resíduos e varredores a partir do censo demográfico de 2010 [Internet]. Rio de Janeiro; IPEA, 2017 [cited 2020 Jun 20]. Available from: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7819/1/bmt_62_catadores.pdf
  » http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7819/1/bmt_62_catadores.pdf
• ⁴
  Coelho APF, Beck CLC, Silva RM. Health conditions and illness risk of recyclable material collectors: an integrative review. Cienc Cuid Saude. 2018;17(1):1-9. https://doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v17i1.37464
  » https://doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v17i1.37464
• ⁵
  Poole CJM, Basu S. Systematic review: occupational illness in the waste and recycling sector. Occup Med. 2017;67(8):626-36. https://doi.org/10.1093/occmed/kqx153
  » https://doi.org/10.1093/occmed/kqx153
• ⁶
  Cruvinel VRN, Zolnikov TR, Bashash M, Marques CP, Scott JA. Waterborne diseases in waste pickers of Estrutural, Brazil, the second largest open-air dumpsite in world. Waste Manag. 2019;99:71-8. https://doi.org/10.1016/j.wasman.2019.08.035
  » https://doi.org/10.1016/j.wasman.2019.08.035
• ⁷
  Cruvinel VRN, Marques CP, Cardoso V, Novaes MRCG, Araújo WN, Angulo-Tuesta A, et al. Health conditions and occupational risks in a novel group: waste pickers in the largest open garbage dump in Latin America. BMC Public Health. 2019;19(1):581. https://doi.org/10.1186/s12889-019-6879-x
  » https://doi.org/10.1186/s12889-019-6879-x
• ⁸
  Coelho APF, Beck CLC, Fernandes MNS, Prestes FC, Silva RM. Work risk related to illness and defensive strategies of collectors women's waste recyclable. Esc Anna Nery. 2016;20(3):e20160075. https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160075
  » https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160075
• ⁹
  Coelho APF, Beck CLC. Production about the health of the gatherer of recyclable materials: a study of trends. Rev Enferm UFPE. 2016;10(7):2747-55. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i7a11336p2747-2755-2016
  » https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i7a11336p2747-2755-2016
• ¹⁰
  World Health Organization (WHO). Health in all policies: training manual [Internet]. 2015 [cited 2018 Aug 02]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/151788/9789241507981_eng.pdf?sequence=1
  » http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/151788/9789241507981_eng.pdf?sequence=1
• ¹¹
  Dahlgren G, Whitehead M. Policies and strategies to promote social equity in health. Background document to WHO - Strategy paper for Europe. Stockolm: Arbetsrapport/ Institutet for Framtidsstudier [Internet]. 2007 [cited 2017 Mar 07];14:01-69. Available from: http://www. iffs.se/media/1326/20080109110739filmZ8UVQv2wQFShMRF6cuT.pdf
  » http://www. iffs.se/media/1326/20080109110739filmZ8UVQv2wQFShMRF6cuT.pdf
• ¹²
  Salcedo-Álvarez RA, Zárate-Grajales RA, González-Caamaño BC, Rivas-Herrera JC. The social determinants of health: the case of nursing. Rev Enferm Inst Mex Seguro Soc [Internet]. 2017 [cited 2018 Aug 02];25(2):139-44. Available from: http://revistaenfermeria.imss.gob.mx/editorial/index.php/revista_enfermeria/article/view/112/367
  » http://revistaenfermeria.imss.gob.mx/editorial/index.php/revista_enfermeria/article/view/112/367
• ¹³
  Porter K, Jackson G, Clark R, Waller M, Stanfill AG. Applying social determinants of health to nursing education using a concept-based approach. J Nurs Educ. 2020;59(5):293-6. https://doi.org/10.3928/01484834-20200422-12
  » https://doi.org/10.3928/01484834-20200422-12
• ¹⁴
  Trentini M, Paim L, Silva DMGV. Pesquisa Convergente-Assistencial - PCA: delineamento provocador de mudanças nas práticas de saúde. Porto Alegre: Moriá; 2014.
• ¹⁵
  Fontanella BJB, Luchesi BM, Saidel MGB, Ricas J, Turato ER, Melo DG. Sampling in qualitative research: a proposal for procedures to detect theoretical saturation. Cad Saúde Pública. 2011;27(2):389-94. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2011000200020
  » https://doi.org/10.1590/S0102-311X2011000200020
• ¹⁶
  Thakur P, Ganguly R, Dhulia A. Occupational health hazard exposure among municipal solid waste workers in Himachal Pradesh, India. Waste Manag. 2018;78:483-9. https://doi.org/10.1016/j.wasman.2018.06.020
  » https://doi.org/10.1016/j.wasman.2018.06.020
• ¹⁷
  Vieira LJES, Ferreira RC, Moreira GAR, Gondim APS, Araújo MAL, Silva RM. Factors associated to the imposition of types of violence against women informed in sentry services. Rev Latino-Am Enfermagem. 2013;21(4). https://doi.org/10.1590/S0104-11692013000400013
  » https://doi.org/10.1590/S0104-11692013000400013
• ¹⁸
  Tsapalas D, Parker M, Ferrer L, Bernales M. Gender-Based Violence, Perspectives in Latin America and the Caribbean. Hisp Health Care Int. 2020;19(1). https://doi.org/10.1177/1540415320924768
  » https://doi.org/10.1177/1540415320924768
• ¹⁹
  Batista VC, Marcon S, Peruzzo HE, Ruiz AGB, Reis P, Silva ANM, et al. Prisoners of suffering: perception of women on violence practiced by intimate partners. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 1):e20190219. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0219
  » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0219
• ²⁰
  Schneider D, Signorelli MC, Pereira PPG. Public security female workers at the coast of Paraná, Brazil: intersections of gender, work, violence(s), and health. Ciênc Saúde Colet. 2017;22(9):3003-11. https://doi.org/10.1590/1413-81232017229.07892016
  » https://doi.org/10.1590/1413-81232017229.07892016
• ²¹
  Zolnikov TR, Ramirez-Ortiz D, Moraes H, Cruvinel VRN, Dominguez A, Galato D. Continued medical waste exposure of recyclable collectors despite dumpsite closures in Brazil. J Health Pollut. 2019;9(23):190905. https://doi.org/10.5696/2156-9614-9.23.190905
  » https://doi.org/10.5696/2156-9614-9.23.190905
• ²²
  Coelho APF, Beck CLC, Silva RM, Vedootto DO, Silva JRP. Female work and health in the perspective of women recyclable waste collector. Texto Contexto Enferm. 2018;27(1):e2630016. https://doi.org/10.1590/0104-07072018002630016
  » https://doi.org/10.1590/0104-07072018002630016
• ²³
  Puig-Barrachina V, Vanroelen C, Vives A. Measuring employment precariousness in the European Working Conditions Survey: the social distribution in Europe. Work. 2014;49(1):143-61. https://doi.org/10.3233/WOR-131645
  » https://doi.org/10.3233/WOR-131645
• ²⁴
  Cruvinel VRN, Zolnikov TR, Takashi Obara M. Vector-borne diseases in waste pickers in Brasilia, Brazil. Waste Manag. 2020;105:223-232. https://doi.org/10.1016/j.wasman.2020.02.001
  » https://doi.org/10.1016/j.wasman.2020.02.001
• ²⁵
  Souza-Silva G, Mol MPG. Hepatitis B or C prevalence in waste pickers from South America: a systematic review. J Public Health. 2020;fdaa065. https://doi.org/10.1093/pubmed/fdaa065
  » https://doi.org/10.1093/pubmed/fdaa065
• ²⁶
  Ministério da Saúde (BR). Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. [Internet]. 2008 [cited 2020 Jul 14] Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf
  » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf
• ²⁷
  Braga NL, Lima DMA, Maciel RH. "Surviving only of mercy": the experience of recyclable material collectors. CES Psicol [Internet]. 2016 [cited 2020 Jun 20];9(1):122-34. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/cesp/v9n1/v9n1a09.pdf
  » http://www.scielo.org.co/pdf/cesp/v9n1/v9n1a09.pdf
• ²⁸
  Siman RR, Yamane LH, Baldam RL, Tackla JP, Lessa SFA, Britto PM. Governance tools: Improving the circular economy through the promotion of the economic sustainability of waste picker organizations. Waste Manag. 2020;105:148-169. https://doi.org/10.1016/j.wasman.2020.01.040
  » https://doi.org/10.1016/j.wasman.2020.01.040
• ²⁹
  Galea S, Abdalla SM, Sturchio JL. Social determinants of health, data science, and decision-making: Forging a transdisciplinary synthesis. PLoS Med. 2020;17(6):e1003174. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1003174
  » https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1003174

Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO: Priscilla Broca

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Ago 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  04 Set 2020
• Aceito
  11 Mar 2021