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Formação avançada e intercâmbio educacional internacional: aprendizados, superações e vivências

RESUMO

Objetivos:

relatar minha vivência de pesquisador durante o percurso de formação avançada de pós-doutoramento no exterior.

Métodos:

opção teórico-metodológica pela fenomenologia da prática de Max van Manen. As atividades foram desenvolvidas na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, em Portugal, e naEscuela de Enfermería y Fisioterapia de la Universidad de Castilla-La Mancha, na Espanha.

Resultados:

participar de um projeto multicêntrico de pesquisa internacional possibilitou aquisição de novos conhecimentos científicos, ganhos pessoais e culturais. Sob uma perspectiva mais ampla, foram fortalecidas as redes internacionais de pós-graduação e licenciatura em Enfermagem, por meio da mobilidade para pesquisadores, e a superação do“status quo”,pela formação de ambiente de massa crítica indispensável ao avanço científico.

Considerações Finais:

compartilhar a vivência que se apropria diz respeito ao poder de captar possibilidades de uma experiência prática, no contexto do mundo e percorrê-la, motivado pelo desejo de tornar factível a internacionalização.

Descritores:
Intercâmbio Educacional Internacional; Cooperação Internacional; Internacionalidade; Educação de Pós-Graduação; Fenomenologia

ABSTRACT

Objectives:

to report my experiences as a researcher during the course of advanced post-doctoral training abroad.

Methods:

theoretical and methodological option for Max van Manen’s phenomenology of practice. The activities were developed in the Health Sciences Research Unit: Nursing, in Portugal, Université Catholique de Louvain, in Belgium, and in Escuela de Enfermería y Fisioterapia de la Universidad de Castilla-La Mancha, in Spain.

Results:

participating in a multicenter international research project enabled the acquisition of new scientific knowledge, personal and cultural gains. From a broader perspective, the international graduate and undergraduate nursing networks were strengthened through the mobility of researchers, and overcoming of the “status quo” by the formation of a critical mass environment indispensable for scientific advancement.

Final Considerations:

sharing the experience that you appropriate is about the power of grasping possibilities of a practical experience, in the context of the world, and going through it, motivated by the desire to make internationalization feasible.

Descriptors:
International Educational Exchange; International Cooperation; Internationality; Education Graduate; Phenomenology

RESUMEN

Objetivos:

relatar mi experiencia de investigador durante el curso de formación posdoctoral avanzada en el extranjero.

Métodos:

opción teórico-metodológica por la fenomenología de la práctica de Max van Manen. Las actividades se desarrollaron en la Unidad de Investigación en Ciencias de la Salud: Enfermería, en Portugal, Université Catholique de Louvain, en Bélgica, y en la Escuela de Enfermería y Fisioterapia de la Universidad de Castilla-La Mancha, en España.

Resultados:

participar de un proyecto de investigación internacional multicéntrico permitió la adquisición de nuevos conocimientos científicos, ganancias

zpersonales y culturales. Desde una perspectiva más amplia, se fortalecieron las redes internacionales de posgrado y pregrado en Enfermería, a través de la movilidad para investigadores y la superación del “statu quo”, por la formación de un ambiente de masa crítica indispensable para el avance científico.

Consideraciones Finales:

compartir la experiencia que se apropia tiene que ver con el poder de captar las posibilidades de una experiencia práctica, en el contexto del mundo y aprovecharla, motivado por el deseo de hacer factible la internacionalización.

Descriptores:
Intercambio Educacional Internacional; Cooperación Internacional; Internacionalidad; Educación de Postgrado; Fenomenología

INTRODUÇÃO

As políticas públicas indutoras da internacionalização da pós-graduação brasileira integram os planos estratégicos das universidades e do próprio governo em áreas do conhecimento que têm por meta consolidar redes internacionais e aprimorar a qualidade dos estudos(11 Ministério da Educação (BR). Capes. Avaliação da pós-graduação [Internet]. 2019 [cited 2020 Jul 30]. Available from: https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/capes-melhora-ferramentas-de-avaliacao-da-pos-graduacao
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-22 Peixoto Bezerra V. Post doctoral stage: challenges and possibilities for knowledge consolidation. Rev Enferm UFPI. 2017;6(2):3. https://doi.org/10.26694/reufpi.v6i2.6013
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).

Este relato desvela a minha vivência na condição de pesquisador na modalidade de intercâmbio Pós-Doutorado no Exterior (PDE), financiada pelo CNPq, na qual são desenvolvidos projetos em parceria com centros de pesquisa estrangeiros de reconhecida excelência(33 Badke MR, Barbieri RL, Martorell-Poveda MA. Internationalization of Brazilian Nursing: doctor sandwich in the Catalonian Region - Spain. Texto Contexto Enferm. 2018;27(1):e3620016. https://doi.org/10.1590/0104-07072018003620016
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-44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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). Por um lado, o texto descreve uma abordagem de investigação baseada nas ciências humanas, com o emprego semiótico dos métodos da fenomenologia e da hermenêutica(55 Van Manen M. Phenomenology of practice: meaning-giving methods in phenomenological research and writing. California: Left Coast Press, Inc.; 2014. 412 p-66 Esquivel DN, Silva GTR, Medeiros MO, Soares NRB, Gomes VCO, Costa STL. Produção de estudos em enfermagem sob o referencial da fenomenologia. Rev Baiana Enferm. 2016;30(2):1-10. https://doi.org/10.18471/rbe.v30i2.15004
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), e, por outro, envolve o leitor na reflexão pedagógica sobre nossa (con)vivência em um período de investigação avançada em uma pesquisa multicêntrica internacional.

O manuscrito pode ser visto como um conjunto de sugestões metodológicas a serem empregadas em pesquisas que partem das vivências dos sujeitos, a exemplo das ciências humanas(55 Van Manen M. Phenomenology of practice: meaning-giving methods in phenomenological research and writing. California: Left Coast Press, Inc.; 2014. 412 p). Porém, nas ciências humanas tal como concebidas aqui, a pesquisa é feita presumindo-se um interesse prévio, e não somente por si mesma. Nesta perspectiva, entendo-a como uma orientação fundamental e pedagógica, para investigadores postulantes de uma trajetória similar.

Assim, quando levantamos questões, coletamos dados, descrevemos um fenômeno e construímos interpretações textuais, o fazemos como pesquisadores orientados por uma fenomenologia da prática(55 Van Manen M. Phenomenology of practice: meaning-giving methods in phenomenological research and writing. California: Left Coast Press, Inc.; 2014. 412 p). Um método de pesquisa é apenas uma maneira de investigar certos tipos de questões. As próprias questões e a maneira como são entendidas são o ponto de partida mais importante, e não o método em si.

A liberação institucional da UFBA ocorreu por meio do Programa de Qualificação Docente (PROQUAD). Gradativamente, fui me tornando consciente da relevância e mérito da proposta, pois estaria protagonizando parcerias em projetos multicêntricos internacionais(77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.) para a universidade e, mais especificamente, para o programa de pós-graduação.

Inicialmente, percorri diversas etapas para submissão do projeto, incluindo identificação da proposta, definição da área de conhecimento predominante e áreas correlatas, elaboração do cronograma de atividades e apresentação dos documentos exigidos(22 Peixoto Bezerra V. Post doctoral stage: challenges and possibilities for knowledge consolidation. Rev Enferm UFPI. 2017;6(2):3. https://doi.org/10.26694/reufpi.v6i2.6013
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). Em seguida, após aprovação e organização das atividades profissionais, viajamos para Coimbra, Portugal, onde estabelecemos residência. Optamos por essa cidade tendo em vista a designação junto ao CNPq e a necessidade de deslocamentos ao longo do estudo.

Desde então, vivenciei ricas experiências que, no distanciamento, motivam-me a compartilhar esta vivência no projeto sobre modelos de gestão em hospitais universitários, a fim de alargar horizontes e desvendar opções menos desgastantes àqueles que percorrerem este caminho. Ao descrever a experiência em primeira pessoa, busco favorecer o acesso à intersubjetividade vivida na relação com o(s) sujeito(s) da pesquisa, o que, no distanciamento, favorece iluminar uma perspectiva, o sentido da vivência. Nesse sentido, opto por utilizar um discurso e um alinhamento com o referencial teórico-metodológico inspirado na fenomenologia da prática de Max van Manen(55 Van Manen M. Phenomenology of practice: meaning-giving methods in phenomenological research and writing. California: Left Coast Press, Inc.; 2014. 412 p). Perscrutar o discurso tal como descrito na vivência possibilita-me desenvolver uma análise reflexiva sobre o que foi dito, o pré-reflexivo. A fenomenologia promove o acesso ao mundo pré-reflexivo tal como o experienciamos(55 Van Manen M. Phenomenology of practice: meaning-giving methods in phenomenological research and writing. California: Left Coast Press, Inc.; 2014. 412 p). O pré-reflexivo é a experiência original, isto é, o contato imediato com o mundo antes de se tornar consciente para o sujeito.

A fenomenologia como método de investigação ocupa-se do estudo epistêmico (geralmente perceptual) direto e característico com aquilo que se apresenta a uma fonte cognitiva de informações. Neste caso a experiência humana (fenômeno), tal como esta é vivida, e não da forma como as pessoas pensam ou teorizam sobre o que viveram. A fenomenologia da prática(55 Van Manen M. Phenomenology of practice: meaning-giving methods in phenomenological research and writing. California: Left Coast Press, Inc.; 2014. 412 p) está radicada na fenomenologia filosófica pura, porém distingue-se desta por ter como finalidade não o estudo teórico-filosófico, por vezes de cariz abstrato, mas, sim, o estudo das práticas do cotidiano, pessoais, profissionais, culturais ou sociais(33 Badke MR, Barbieri RL, Martorell-Poveda MA. Internationalization of Brazilian Nursing: doctor sandwich in the Catalonian Region - Spain. Texto Contexto Enferm. 2018;27(1):e3620016. https://doi.org/10.1590/0104-07072018003620016
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-44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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,77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.-88 Dalmoni IS, Pereira ER, Silva RM, Gouveia MJ, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras En-ferm. 2013;3(66):442-7. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000300021
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). Este movimento surge como uma necessidade de se “fazer” fenomenologia e não apenas de pensá-la de um modo acadêmico.

Na tônica que apresento, a maneira como certas questões são articuladas tem relação com o método de pesquisa com o qual cada um tende a se identificar(55 Van Manen M. Phenomenology of practice: meaning-giving methods in phenomenological research and writing. California: Left Coast Press, Inc.; 2014. 412 p). Existe, todavia, certa dialética entre questão e método. Refletir, mais do que mero capricho, é a escolha preferencial que adoto nesta abordagem em detrimento de outras.

Este método escolhido, em primeiro lugar, deve manter certa harmonia com o interesse profundo que faz de alguém um educador que, ao se lançar no início, reflete sobre o percurso, e não somente no resultado ao fim.

Fazer-se educador requer sensibilidade fenomenológica(66 Esquivel DN, Silva GTR, Medeiros MO, Soares NRB, Gomes VCO, Costa STL. Produção de estudos em enfermagem sob o referencial da fenomenologia. Rev Baiana Enferm. 2016;30(2):1-10. https://doi.org/10.18471/rbe.v30i2.15004
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) em relação à experiência vivida (realidades e “mundos de vida”). Nessa perspectiva, a pedagogia, na formação do educador, exige capacidade hermenêutica para a obtenção do sentido interpretativo dos fenômenos do “mundo da vida” (Lebenswelt), que nos permita ver o significado pedagógico de situações e relações na convivência. E a pedagogia também requer trato com a linguagem, para que o processo de investigação de reflexão textual possa contribuir para a compreensão e sensibilidade pedagógicas do pesquisador.

Assim, descreverei o percurso de formação avançada no exterior explicitando aprendizados, superações e vivências, na intenção de suscitar reflexões sobre esta formação.

MÉTODO

As atividades foram programadas para o período de julho de 2019 a agosto de 2020, sob supervisão de um Pesquisador Sénior da referida instituição.

Está previsto no convênio interinstitucional o ingresso dos pesquisadores na condição de estudante, o que representa isenção das taxas acadêmicas e menores custos de mobilidade e alimentação.

O convênio entre a UFBA e a ESEnfC foi decisivo para a escolha desta instituição. Além disso, considerei o perfil institucional, o estabelecimento de parceria prévia com o supervisor e o fato de a UICISA ser a única unidade de investigação credenciada na área de Enfermagem pela Fundação de Ciência e Tecnologia em Portugal(33 Badke MR, Barbieri RL, Martorell-Poveda MA. Internationalization of Brazilian Nursing: doctor sandwich in the Catalonian Region - Spain. Texto Contexto Enferm. 2018;27(1):e3620016. https://doi.org/10.1590/0104-07072018003620016
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-44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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,77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.).

Assim, entendo ser de inestimável valor este relato livre, que não tem a pretensão de ser um registro objetivo do que aconteceu, mas sim uma reação viva a isso, escrita imediatamente após o ocorrido, e como uma palavra primeira. É possível notar que esta narrativa consiste na minha fala da experiência diante de um período recém-terminado.

RESULTADOS

Aprendizados

Os aprendizados foram inúmeros e pretendo descrever aqueles que considero mais relevantes ao longo deste processo formativo.

Acredito que o início desta trajetória foi favorecido pelo alinhamento e parcerias prévias com o supervisor no exterior, com o qual já havia desenvolvido projetos e publicações. Nossa estratégia era potencializar o convênio interinstitucional entre a UFBA e a ESEnfC, o qual, nos últimos anos, estava restrito ao desenvolvimento de projetos de pesquisa colaborativos, visitas técnicas, reuniões em grupo de pesquisa e participações em seminários e bancas de doutoramento, a maioria remotamente(33 Badke MR, Barbieri RL, Martorell-Poveda MA. Internationalization of Brazilian Nursing: doctor sandwich in the Catalonian Region - Spain. Texto Contexto Enferm. 2018;27(1):e3620016. https://doi.org/10.1590/0104-07072018003620016
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-44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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).

A partir destas vivências pudemos realizar mais do que propomos inicialmente, pois, além de publicações dos resultados da investigação em conjunto com o supervisor, o plano de atividades indicava o desenvolvimento de ações vinculadas à pós-graduação, nível mestrado, evidenciando a relevância deste processo formativo(44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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,88 Dalmoni IS, Pereira ER, Silva RM, Gouveia MJ, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras En-ferm. 2013;3(66):442-7. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000300021
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). As vivências e intercâmbios com serviços de saúde, visitas técnicas e monitoradas, diálogo com pesquisadores e investigadores, participações em seminários e eventos científicos internacionais, colaborações na gestão editorial de periódico científico e envolvimento em atividades da pesquisa originária ocorreram, permitindo um transbordar de experiências de cooperação multilateral.

Eram diversas demandas e a necessidade de planejá-las antecipadamente, assim como de organizar os documentos para o recebimento da bolsa e dar prosseguimento às exigências legais na ESEnfC, Universidad de Castilla-La Mancha e na UFBA, demandou tempo. Assinalo que as instituições receptoras disponibilizam um Gabinete de Relações Internacionais, responsável pelo trâmite documental institucional e do pesquisador.

Relevante destacar também o apoio da instituição a estudantes estrangeiros, visto a opção de alguns manterem as investigações de modo remoto durante a pandemia, distantes da UICISA:E. Além disso, o supervisor e a instituição acompanhavam nossas rotinas e o desenvolvimento dos estudos a cada 15 dias.

As atividades desenvolvidas ao longo deste período foram fundamentais para fortalecer uma rede de pesquisadores que se conhecem pessoalmente e desenvolvem estudos em parceria. Isso permite elevar indicadores da produção para os grupos de pesquisa da instituição.

Esta experiência proporcionou-me aprendizado e possibilitou a participação em grupos de pesquisa internacionais, experienciando seus movimentos e diferentes formas de trabalhar coletivamente. Desvelou também possibilidades por mim até então desconhecidas e formas alternativas de apoio em agências de fomento internacionais, bem como permitiu ampliar parcerias com pesquisadores de diferentes países, majoritariamente europeus.

Pude visitar serviços e estruturas de saúde, conhecer políticas e o desenvolvimento social em países como Bélgica, França, Espanha, Portugal e Suíça, conquistar novas amizades, apreender novos idiomas e integrar-me com povos de diferentes culturas(77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.-88 Dalmoni IS, Pereira ER, Silva RM, Gouveia MJ, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras En-ferm. 2013;3(66):442-7. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000300021
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). Considero fundamental para o meu desenvolvimento e crescimento pessoal esse transbordamento de cooperação em diversas áreas, de interdependências complexas gerando o fortalecimento de laços de cooperação(44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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) e múltiplos aprendizados que ultrapassam a convivência acadêmica e perduram para além de um sabático de investigação.

Superações

Superar limitações, dificuldades, conhecer novas culturas, reinventar-se. Tudo isso nos possibilita amadurecer, (re)significar hábitos, mudar nosso “modus” de “ser-e-agir-no-mundo”, abrindo possibilidades de criar uma massa crítica indispensável ao avanço das pesquisas científicas e ao conhecimento humano. É por isso que crescemos nas intempéries(44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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,77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.-88 Dalmoni IS, Pereira ER, Silva RM, Gouveia MJ, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras En-ferm. 2013;3(66):442-7. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000300021
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). No entanto, é preciso estar preparado, com reserva de tolerância, desprendimento e capacidade para lidar com imprevistos do processo investigativo e das relações pessoais. Difícil também lidar com a ausência de familiares e amigos e diferenças culturais, alimentares, de clima, hábitos e valores.

A sensação de ser um “estranho no ninho” é real(44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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,77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.), porém, com o tempo, passa a vir acompanhada de mais autoconfiança e capacidade de se relacionar, o que considero fundamental para o compartilhamento de ideias com pesquisadores de saberes tão plurais.

Considero também imprescindível valorizar pesquisadores que estejam preparados para este desafio, que saibam se comunicar em outros idiomas, que estejam dispostos a favorecer a superação do “status quo” apreendendo sobre outras culturas e mostrando-se abertos a oportunidades de ampliar a visão de mundo e, concomitantemente, de enriquecerem-se no avanço científico.

Vivenciei superações(33 Badke MR, Barbieri RL, Martorell-Poveda MA. Internationalization of Brazilian Nursing: doctor sandwich in the Catalonian Region - Spain. Texto Contexto Enferm. 2018;27(1):e3620016. https://doi.org/10.1590/0104-07072018003620016
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-44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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), mas prefiro cultivar as lembranças de simplicidade e tenacidade cuidadosamente impressas nas rotas que construímos. Uma das vivências mais emblemáticas talvez tenha sido compartilhar o espaço com estudantes de seis países, com distintas culturas e formas de trabalhar, o que exigia um exercício diário de superar limitações, pois apenas assim poderíamos manter a cooperação, o compartilhamento de conhecimentos e o convívio pessoal.

Evidencio ainda o autodidatismo na utilização ferramentas de análise de dados, fato que ocasionou muitos insucessos(44 Richardson J, Zikic J, The darker side of an international academic career. Career Develop Int. 2007;12 (2):164-86. https://doi.org/10.1108/13620430710733640.
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), por vezes com perspectivas nebulosas, mas que se decodificaram em importantes aprendizados.

O apoio fornecido pela ESEnfC/UICISA atendeu, prontamente, às necessidades e facilitou imensamente o percurso investigativo. Dificuldades são inerentes e ocorreram, na perspectiva familiar, das relações pessoais e acadêmicas, e foram agravadas no período pandêmico, quando vivenciei preocupações e ansiedades, mas, também, a grata união por um bem coletivo.

Vivências

Das diversas vivências ao longo deste período, descreverei as mais significativas, dada a necessidade de limitar palavras.

Movido pelo objetivo de consolidar uma rede internacional de pesquisa colaborativa(77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.-88 Dalmoni IS, Pereira ER, Silva RM, Gouveia MJ, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras En-ferm. 2013;3(66):442-7. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000300021
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), vivenciei a unidade de investigação em seu “modus operandi”. Participei de atividades acadêmicas e eventos científicos atinentes à pesquisa, bem como de trabalhos de orientação, revisão e correção de artigos. Atuei para nossa integração com estudantes do 1º ano do Curso, com os quais dialogamos sobre a importância da investigação e parceria entre ambas as universidades.

Vivenciar o cotidiano(88 Dalmoni IS, Pereira ER, Silva RM, Gouveia MJ, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras En-ferm. 2013;3(66):442-7. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000300021
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) da Escola, seu “modus vivendi”, contemplou a participação em conferências nos cursos de mestrado, acompanhamento das atividades de ensino, composição de júris de qualificação e defesa de mestrados e doutoramentos.

Destaco a rica oportunidade de realizar visitas técnicas e acadêmicas a instituições de ensino superior e de saúde e de desenvolver atividades pedagógicas em centros de pós-graduação da Bélgica, França, Espanha e Suíça, além de Portugal. Integrei comissões organizadoras e científicas, workshops e oficinas, tanto de eventos brasileiros, nos quais envolvemos parceiros internacionais, quanto em simpósios internacionais, como membro efetivo. As atividades incluíram ainda publicações da pesquisa no exterior, o que representou produção científica a partir da investigação desenvolvida.

Paralelamente, durante este período não me abstive de permanecer na avaliação “ad hoc” de manuscritos de periódicos brasileiros e internacionais.

A formação avançada pós-doutoral no exterior é, para mim, uma vivência enriquecedora nas esferas pessoal, profissional e acadêmica(33 Badke MR, Barbieri RL, Martorell-Poveda MA. Internationalization of Brazilian Nursing: doctor sandwich in the Catalonian Region - Spain. Texto Contexto Enferm. 2018;27(1):e3620016. https://doi.org/10.1590/0104-07072018003620016
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,77 Kenway J, Fahey J. Policy incitements to mobility: some speculations and provocations. In: Boden R. Dean D, Epstein F, (Eds.). World yearbook of education 2008: geographies of knowledge, geometries of power: higher education in the 21st century. London: Routledge; pp. 161-79.-88 Dalmoni IS, Pereira ER, Silva RM, Gouveia MJ, Sardinheiro JJ. Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento pessoal e científico. Rev Bras En-ferm. 2013;3(66):442-7. https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000300021
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). Essa experiência desvelou a relevância de imersões investigativas para pesquisadores e estudantes, por meio de convênios internacionais entre grupos de pesquisa ou durante missões técnicas dos programas de pós-graduação, que fortaleçam a cooperação e confiança de dependência mútua.

Reitero a qualidade da parceria estabelecida, a liberdade intelectual e o apoio ímpar de investigadores e do supervisor em Coimbra como aspectos fundamentais para concretizar esta investigação e estimular a necessidade de formação massiva para criar um ambiente de massa crítica e mobilidade internacional.

Limitações do estudo

Destaca-se que o tipo de proposta “relato de experiência” tem limitações em relação à sua reprodução. Trata-se restritamente da experiência do autor envolvido no percurso de formação avançada, seus aprendizados, superações e vivências, a partir dos sentidos e significados atribuídos por aquele que o experiencia. O perscrutar o discurso tal como descrito na vivência desenvolve-se para o que vivencia; neste caso, a experiência humana.

Contribuições para área da enfermagem

Este relato de experiência exitoso poderá contribuir para explicitar um percurso de formação avançada no exterior, seus aprendizados, superações e vivências, na intenção de suscitar reflexões sobre a relevância deste processo formativo. Poderá ainda instigar interesse a respeito desta formação na perspectiva da internacionalização e da participação em projeto multicêntrico de pesquisa internacional com aquisição de novos conhecimentos científicos, ganhos pessoais e culturais. Por fim, também poderá ajudar no fortalecimento em redes internacionais, para aperfeiçoamento de uma formação investigativa de excelência por meio desta mobilidade para pesquisadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegar ao término desta descrição, volto-me à questão inicial, quando indico os sentidos desta experiência enquanto sujeito que os recupera permitindo o acesso ao vivido. Considero ter sido algo extremamente enriquecedor, pois proporcionou significativos aprendizados, superações e vivências.

Acredito que, atualmente, estamos mais próximos da meta de fortalecer redes internacionais nos âmbitos da pós-graduação e licenciatura, para aperfeiçoar a formação investigativa e acadêmica para o Brasil mediante fomento para a mobilidade e intercâmbio.

Reconhecer este processo não é decidir, mas compartilhar a vivência que se apropria do vivido. Ser capaz de captar as possibilidades de uma experiência no contexto do mundo é, sem dúvida, uma forma de proporcionar (pre)sença, para que outros conheçam esta trajetória, sua universalidade de significados, primariamente como algo originário, e se disponibilizem a percorrê-la. Dessa forma, poderemos tornar factível a internacionalização no ensino e na ciência em Enfermagem.

  • FINANCIAMENTO
    O estudo recebeu apoio financeiro do CNPq por meio do processo 205736 / 2018-1, para o projeto intitulado: MODELOS DE GESTÃO HOSPITALAR EM ENFERMAGEM: MEMÓRIAS DE ENFERMEIROS, no edital de Bolsas no Exterior / Pós-Doutorado no Exterior - PDE, para o período 2019 / 2020.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, pela Bolsa de Pós-Doutorado no Exterior - PDE e à Universidade Federal da Bahia pelo Programa de Capacitação de Professores (PROQUAD).

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Antonio José de Almeida Filho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    22 Jul 2020
  • Aceito
    18 Abr 2021
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