Acessibilidade / Reportar erro

Retinopatia em pacientes hipertensos e/ou diabéticos em uma unidade de saúde de família

Caro editor,

Gostaríamos de reforçar a importância do comentado no artigo Retinopatia em pacientes hipertensos e/ou diabéticos em uma unidade de saúde de família, sobre a necessidade do adequado exame de oftalmoscopia direta no rastreio e acompanhamento de pacientes com hipertensão arterial sistêmica e diabetes, possibilitando ao médico generalista um maior controle sobre a evolução clínica desses pacientes, e levando a indicações mais precisas de avaliações com médicos oftalmologistas(11 Alves AP, Santos RW, Almeida Sobrinho EF, Rocha SP, Loch AC. Retinopathy in patients with hypertension and/or diabetes in a family health unit. Rev Bras Oftalmol. 2014;73(2):108-11.).

Nota-se atualmente uma dificuldade por parte dos médicos generalistas em realizar a oftalmoscopia direta, e o ensino desta tem sido concentrado na residência específica. Para comprovar este fato, realizamos uma pesquisa com 133 médicos não oftalmologistas de dois hospitais universitários brasileiros. Estes foram aleatoriamente escolhidos para preencher um questionário aprovado pelo comitê de ética das Universidades Federais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Questionamos sobre o nível de confiança em diagnosticar retinopatia hipertensiva, retinopatia diabética, escavação suspeita e papiledema através do exame de oftalmoscopia direta. As questões foram baseadas no conhecimento esperado pelo Conselho Internacional de Oftalmologia e pela Associação de Faculdades dos Estados Unidos para médicos generalistas(22 Bensassat J, Polak BC, Javitt JC. Objectives of teaching direct ophthalmoscopy to medical students. Acta Ophthalmol. 2012;90(6): 503-7.). Incluímos as doenças de grande prevalência, com risco de vida ou de cegueira para os pacientes. Os médicos participantes formaram-se entre os anos de 1967 e 2013. Avaliamos o nível de confiança através de uma escala de zero (pouca confiança) até quatro (máxima confiança) no questionário aplicado. Sessenta e cinco por cento dos entrevistados apresentaram respostas de zero ou um, representando uma baixa confiança dos médicos no diagnóstico dessas patologias através da oftalmoscopia direta. Frente ao problema no ensino da oftalmoscopia direta na graduação, decidimos desenvolver um modelo de ensino, baseado em cálculos físicos, para simular o olho humano de maneira fidedigna, com um baixo custo e que permita ao aluno participar de todo processo de construção.

O modelo é composto por uma esfera de polimetilmetacrilato para simular as dioptrias do olho humano, uma caixa com pupilas de diferentes tamanhos e diversos fundos com palavras e fotos simulando inúmeras patologias. As imagens foram obtidas a partir de um arquivo de retinografias, reduzidas ao tamanho de 1x1cm, mantendo o disco óptico próximo ao tamanho real de 1,5mm de diâmetro e com resolução de 900dpi. Também foram impressas palavras para serem colocadas no interior do modelo, permitindo a leitura pelo aluno e um retorno imediato ao professor(33 Martins TG, Costa AL, Martins RV, Martins EN, Alves MR, Helene O, Schor P. Modelo para ensino de oftalmoscopia direta. Rev Bras Ensino Física. 2014; 36(2):1-8.). Para atrair a atenção dos alunos, associamos ao modelo máscaras de personalidades conhecidas pela faixa etária dos estudantes.

Ao comparar o resultado dos alunos que treinaram com o modelo com o resultado dos que treinaram da forma tradicional, notamos que, 93% dos alunos que treinaram com o modelo previamente, conseguiram descrever alterações retinianas ao realizar a oftalmoscopia direta em um paciente dilatado, contra apenas 13% dos alunos treinados da forma tradicional.

Com essa metodologia de ensino, conseguimos melhorar o aproveitamento dos alunos e acelerar sua curva de aprendizado. Dessa forma, podemos colaborar para a valorização deste importante exame e seu aprendizado durante a graduação. Isso refletirá em uma população com melhores cuidados e com maior chance de diagnóstico precoce de doenças que ameaçam a visão e a vida do paciente, para que esses possam ser encaminhados precocemente para um serviço de oftalmologia, que na maioria dos estados brasileiros não se encontram em serviços de atendimento primário.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Alves AP, Santos RW, Almeida Sobrinho EF, Rocha SP, Loch AC. Retinopathy in patients with hypertension and/or diabetes in a family health unit. Rev Bras Oftalmol. 2014;73(2):108-11.
  • 2
    Bensassat J, Polak BC, Javitt JC. Objectives of teaching direct ophthalmoscopy to medical students. Acta Ophthalmol. 2012;90(6): 503-7.
  • 3
    Martins TG, Costa AL, Martins RV, Martins EN, Alves MR, Helene O, Schor P. Modelo para ensino de oftalmoscopia direta. Rev Bras Ensino Física. 2014; 36(2):1-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2015

Histórico

  • Recebido
    11 Jul 2014
  • Aceito
    28 Ago 2014
Sociedade Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 , 22231-170 Rio de Janeiro - RJ - Brasil, Tel.: (55 21) 3235-9220, Fax: (55 21) 2205-2240 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rbo@sboportal.org.br