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Rotação da mão-de-obra industrial em São Paulo

ARTIGOS

Rotação da mão-de-obra industrial em São Paulo

Orlando Figueiredo

Professor-Adjunto do Departamento de Mercadologia e Co-Chefe do Centro de Pesquisas e Publicações da Escola de Administração de Empresas de São Paulo

"Estados isolados de áreas específicas [nos Estados Unidos] sugerem que perto de 25% de todos os trabalhadores podem mudar de emprego num ano típico. [... ] Cada uma dessas mudanças representa um acontecimento de grande importância na vida particular de cada um. Dez milhões de mudanças de emprego indicam enorme reservatório de dramas humanos - experiências, riscos, sucessos, fracasses e desapontamentos." - LLOYD G. REYNOLDS

Em 1954, a fim de elucidar alguns aspectos do problema da mobilidade da mão-de-obra industrial na capital paulista, foi publicado estudo (de cuja elaboração participamos) sob o título "Medidas Globais da Flutuação da Mão-de-Obra Industrial em São Paulo"(1 1 ) Vide Mercado de Trabalho, publicação do Serviço de Pesquisas sôbre Mercado de Trabalho, da Secretaria do Trabalho, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, vol. 1, n.º 1, agosto de 1954, págs. 31 a 43. ), baseado em dados depreendidos das "relações-de-dois-terços" referentes ao período compreendido de 26 de abril de 1950 a 25 de abril de 1951 (que chamaremos doravante "Período 1"). É nossa intenção prosseguir neste artigo a análise então iniciada, bem como verificar a situação recente do mercado de trabalho em São Paulo, utilizando dados colhidos ou inferidos das relações-de-2/3 correspondentes ao período compreendido de 26 de abril de 1961 a 25 de abril de 1962 (que passaremos a denominar "Período 2").

A expressão "mobilidade da mão-de-obra" tem sido utilizada para designar os diversos tipos de movimentação de mão-de-obra que se verificam, em dado período, em determinado mercado de trabalho. Essa movimentação pode traduzir-se numa das seguintes formas: passagem de uma condição inativa para uma atividade produtiva e vice-versa; ou passagem de um para outro ramo de atividade; ou, ainda, pode tratar-se de movimentação entre empresas do mesmo ramo, entre ocupações, entre níveis ocupacionais e de uma para outra localidade. Têm sido adotadas as expressões "flutuação", "rotatividade" e "rotaçao ("da mão-de-obra") para traduzir a expressão inglesa labor turnover que representa aspecto particular do problema da "mobilidade da mão-de-obra": as alterações que se processam no potencial humano de determinada emprêsa admissões, demissões, abandonos de emprêgo e dispensas. Como medidas de rotação utilizam-se taxas que exprimem percentagens de admissões e desligamentos, durante um ano, sôbre o número médio de empregados havidos nesse período. A taxa de rotação em certo ramo industrial sera representada, portanto, pela média ponderada das taxas relativas às emprêsas dêsse ramo.

Quanto aos requisitos de uma economia dinâmica, o volume ideal de movimentação da mão-de-obra é o que se restringe a assegurar a oferta adequada de recursos humanos para os ramos industriais e para outros tipos de ocupação normalmente encontrados em países cujo desenvolvimento esteja em processo de expansão. No âmbito das emprêsas um pouco de rotação é necessário, tendo-se em vista a introdução de novos potenciais ao "patrimomo humano. Além de certos limites, porém, a movimentação da mão-de-obra se transforma em problema. Baixo grau de fixação ao emprêgo, revelado por alguns grupos da população, implica baixa eficiência no trabalho e baixa produtividade nas operações da emprêsa. Os custos da rotação da mão-de-obra para uma emprêsa, quer em dinheiro (decorrentes dos gastos na admissão, no adestramento e na adaptação de novos empregados), quer em valores humanos, pode atingir cifras elevadas. Por outro lado, nos países industrializados as taxas de rotação constituem o ponto de referência mais amplamente usado para medir a "inquietação industrial", principalmente quando existem séries contínuas de dados que possibilitem comparações.

MEDIDAS DE ROTAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA

Nas notas que se seguem faremos algumas observações sôbre a rotação da mão-de-obra industrial de São Paulo, de conformidade com a definição dada acima, isto é, entendendo-se como tal as alterações ocorridas no pessoal ocupado nas emprêsas ou nos ramos industriais considerados em conjunto. Embora reconhecendo as limitações a que estão sujeitos os quadros representativos do fenômeno, acreditamos que as medidas globais que obtivemos proporcionam melhor compreensão do mercado de trabalho na capital paulista.

Como já dissemos, êste ensaio arrima-se em dados recolhidos das relações de empregados recebidas em 1962 pela Delegacia Regional do Trabalho, correspondentes, portanto, aos empiegados em exercício durante o Período 2 (de 26-IV-61 a 25-IV-62). É de ciência corrente que no Brasil quase todos os empregadores civis estão obrigados, por fôrça de determinação legal (art. 360 da Consolidação das Leis do Trabalho, no capítulo referente à nacionalização do trabalho), a fornecer essas relações, de 1.º de maio a 30 de junho de cada ano, ao Ministério do-Trabalho e da Previdência Social (através de suas delegacias regionais), o que deve ser feito em quatro vias, uma das quais, devidamente carimbada, é devolvida ao empregador. Chamam-se, vulgarmente, "de dois terços" porque se destinam a demonstrar observância, por parte do empregador, do preceito legal que proíbe seja superior a um têrço do número total de empregados existentes na emprêsa o número de empregados estrangeiros. Essa obrigação está afeta a qualquer emprêsa, individual ou coletiva, com três ou mais de três empregados, compreendida na enumeração do art. 352 da C.L.T.

Convém esclarecer que para preparar as relações a que estamos aludindo tomam-se por base os empregados existentes no dia 25 de abril do ano em que elas devam ser apresentadas. Consignam-se no anverso do impresso proprio os dados relativos às qualificações dos empregados ate então integrantes do quadro de pessoal da empresa (nome, nacionalidade, sexo, estado civil, ano de nascimento, função, número e série da carteira profissional, data de admissão número do respectivo registro nos institutos de previdência, tipo e montante do salário pago, situaçao sindical e situação militar; quanto aos estrangeiros informam-se, também, a data de chegada ao Brasil, o número da carteira de estrangeiro - "Mod. 19" - e se têm filhos brasileiros); no reverso são consignados informes da mesma natureza (além da data do desligamento) relativos aos empregados desligados do quadro de pessoal da emprêsa durante o período a que corresponda a relação.

É possível, pois, conhecer, mediante compulsação e análise dessas relações, o movimento de admissões e desligamentos durante o período anual, de abril a abril, a que -elas se refiram. Para simplificar nosso trabalho compusermos nossa amostra relativa ao Período 2 somente de emprêsas com mais de 250 empregados - a relativa ao Período 1 era composta de emprêsas com mais de 100 empregados - por serem os fenômenos nestas encontrados presumivelmente, muito mais significativos, quanto à rotação da mão-de-obra, do que os ocorridos em empresas com menor potencial humano. E, como estavamos interessados em estudar a rotação da mão-de-obra industrial de São Paulo (apenas da industrial), limitamos nossa amostra às emprêsas industriais paulistanas. Na classificação das indústrias foram adotados (tanto no Período 1 quanto no Período 2) os códigos adotados pelo IBGE no Censo Industrial de 1950.

Nossas amostras, portanto, representam as maiores emprêsas do parque industrial de São Paulo. A do Período 1 abrange 562 estabelecimentos com cêrca de 193 008 empregados (operários, funcionários administrativos e diretores remunerados), e a do Período 2 compreende 528 estabelecimentos com, aproximadamente, 353 000 empregados.

Mais alguns esclarecimentos devem ser feitos quanto às taxas por nós calculadas. Chamando-se:

A - o número de admissões durante um período anual (que, no caso, e o compreendido de 26 de abril de um ano a 25 de abril do ano subseqüente);

D - o número de desligamentos durante o mesmo período;

N - o número de empregados no dia 25 de abril do ano da relação de 2/ 3 que corresponda a êsse período; e

M - o número médio (aproximado) de empregados durante êsse mesmo período; ficaram estabelecidas as seguintes relações:

• M =

;

• taxa de admissões =

• taxa de desligamentos =

Os estudiosos dos problemas de mão-de-obra, quando pretendem obter as taxas de rotação como medidas da insatisfação ou da inquietação industrial, preocupam-se com o tipo de taxa que deva ser adotado. É evidente que fenômenos cíclicos e estacionais podem exercer influência sôbre as taxas de rotação. Quando os negócios, por qualquer razão, entram em declínio, tornando necessário dispensar maior número de empregados por questões de economia interna, claro está que as taxas de desligamentos tendem a aumentar ràpidamente. Nos períodos de expansão, por outro lado, a tendência é a elevação da taxa de admissões. Verifica-se, pois, que fatores alheios aos atos e atitudes dos empregados podem exercer - e exercem de fato - importante influência sôbre essas taxas. Em virtude dessa circunstância tem sido proposta a chamada "taxa líquida de flutuação", representada pela percentagem de substituições sôbre o contingente médio de trabalho. Qualquer substituição representaria a admissão de alguém para assumir as funções de outrem que, por qualquer motivo, houvesse sido desligado. Assim, a taxa líquida de flutuação seria igual à taxa de desligamentos ou à de admissões, ou melhor, seria igual àquela dessas taxas que fôsse a menor.

Outro índice que pede ser utilizado com vantagem como medida de rotação da mão-de-obra é o da permanência média dos trabalhadores no emprêgo (em número de anos). Para o cálculo da permanência média aplicamos a fórmula:

Convém observar que na interpretação dos resultados obtidos por essa fórmula supusemos um desenvolvimento linear do fenômeno. Assim, se porventura viéssemos a observar, por exemplo, que em certa emprêsa a permanência média dos trabalhadores no emprêgo fôsse da ordem de um ano, deveríamos entender que, se o movimento de admissões e desligamentos continuasse a proesssar-se nesse ritmo, dentro de cêrca de um (1) ano haveria de estar totalmente renovado o quadro de pessoal dessa emprêsa. Fórmulas semelhantes a essa podem ser usadas para o cálculo da permanência de imigrantes em determinado país, de alunos no sistema escolar, de depósitos nos bancos, etc..

RESULTADOS GERAIS

O Quadro 1 apresenta as taxas de admissões, as taxas de desligamentos e os índices de permanência média dos trabalhadores no emprêgo, relativos êsses dados aos Períodos 1 e 2, comparativamente. Os respectivos números absolutos podem ser encontrados nos Anexos 1 Anexos 1 e 2 2 . O Gráfico 1 é a visualização, por ramos industriais, da rotação da mão-de-obra em São Paulo durante os citados períodos.


Faremos, a seguir, algumas observações decorrentes da apreciação sumária dos resultados a que chegou o estudo sôbre que estamos discorrendo. Preliminarmente, duas conclusões gerais:

• Consideradas em conjunto, as indústrias objeto de nossas amostras estavam em processo de expansão em ambos os períodos. Bem o demonstram as taxas de admissões de 49,2% (relativa ao Período 1) e de 45,8% (relativa ao Período 2), significativamente superiores às de desligamentos (de 39,8% e 36,3%, respectivamente). Houve apenas duas exceções: em 1951 a indústria da borracha apresentava-se em retração; similarmente, em 1962 as taxas de desligamentos nas indústrias de construçãn civil, nas de vestuário e nas de transporte eram maiores do que as taxas de admissões.

• Por outro lado, nas emprêsas industriais de São Paulo o volume médio de substituição de empregados era de. aproximadamente, 40 % no Período 1 e 36 % no Período 2. (As taxas de desligamentos eram de 39,8 e 36,3%, na mesma ordem de idéias.) Nossa interpretação dêsse fato é a de que, se a rotação da mão-de-obra continuasse a processar-se nesse ritmo, estariam completamente renovados, após 2,5 anos, os quadros de pessoal das emprêsas consideradas no Período 1, e, após 2,9 anos, os quadros das emprêsas consideradas no Período 2. Essa ligeira di minuição no ritmo de rotação de período para período não chega a refletir-se, contudo, 110 cálculo dos índices de permanência média dos trabalhadores no emprêgo, pois que êsses índices se mantêm, nos dois períodos, em tôrno de 2,4 anos, entendidas as indústrias em seu conjunto. Em verdade, o que se pode afirmar com segurança é que os índices de permanência dos trabalhadores em seus em pregos aparecem baixos em ambos períodos.

DESEMPRÊGO "FRICCIONAL" (2 (2 ) O adjetivo "friccional" constitui neologismo com sentido diverso do adjetivo cognato fricativo normalmente consignado pelos dicionários. A expressão "desemprego 'friccional' "(" 'friccional' unemployment") foi usado pela primeira vez, ao que nos consta, por JOHN MAYNARD KEYNES ( The General Theory of Employment, Interest and Money. Londres: MacMillan and Co. Ltd., 1960, pág. 6) para qualificar o desemprêgo decorrente de "vários erros de ajustamento que prejudicam o pleno emprêgo permanente". O mesmo autor menciona, à guisa de exemplos, três causas de desemprêgo "friccional": "necessidade temporária de equilíbrio entre quantidades relativas de recursos especializados, como resultado de êrro de previsão ou de demanda intermitente"; " 'defasagens' motivadas por mudanças imprevistas"; e o "fato de que a mudança de um emprêgo para outro não pode ser efetivada sem certa demora, de forma que numa sociedade não-estática sempre existirá um contingente humano desempregado 'entre empregos' ". )

A título de ilustração e para melhor compreender o fenômeno, vejamos o significado dêsses dados em números absolutos. Suponhamos que as recém-citadas taxas de desligamentos (40 e 36% ) se apliquem à totalidade dos trabalhadores industriais do Estado de São Paulo - cêrca de 600 000 no Período 1 e 900 000 no Período 2. Se aplicarmos aquelas taxas a êsses totais, concluiremos que o número de empregados industriais desligados dos seus empregos giram em tôrno de 240 000 no Período 1 e 324 000 no Período 2. As pessoas podem levar dias, semanas e até meses para conseguirem outro emprêgo. Vale dizer, portanto, que o volume diário de desemprêgo demonstrado por essa flutuação da mão-de-obra varia de acordo com a duração média do período de desemprêgo. O Quadro 2 dá-nos idéia de qual teria sido o volume diário de desemprêgo no Estado de São Pauto em ambos períodos aqui considerados, se a sua duração média tivesse sido, digamos, de uma semana, 15 dias etc..


Lamentàvelmente, não dispomos de dados sôbre a duração média do desemprêgo durante os períodos mencionados; mas, levantamentos efetuados pelo Departamento de Estatística do Estado em 1962 indicam não ser fora de propósito o período médio de 30 dias de desemprêgo para trabalhadores em geral no Município de São Paulo. Donde ressalta a importância da rotação da mão-de-obra na explicação do volume diário de desemprêgo em nosso meio(3 (3 ) Vide Fôrça do Trabalho no Município de São Paulo. Governo do Estado de São Paulo, Departamento de Estatística do Estado, 1962, quadro 8. ).

RESULTADOS POR RAMO INDUSTRIAL

O Gráfico 1 revela visualmente a considerável variação da rotação da mão-de-obra entre diferentes ramos industriais. Assim, no Período 2 as taxas de admissões variam de 18,9% na indústria do material de transporte até 83,9% na indústria da construção civil. A mesma variação apresentaram as respectivas taxas de admissões - 21,7 (mínima) e 96,7 (máxima).

A incidência de variações sensíveis entre as medidas de rotação nos diferentes ramos industriais indica que as condições de trabalho dentro de cada um dos setores exercem relevante influência sôbre o fenômeno. Se bem que a diversidade das atribuições conferidas aos setores industriais pela classificação adotada impossibilite a interpretação precisa dêsse fato, é-nos lícito tecer algumas considerações a respeito:

• O alto coeficiente de rotação observado em ambos períodos, na indústria da construção civil pode ser explicado pela inexistência de um quadro fixo de operários nas emprêsas dêsse setor, que costumam adotar o regime de contratos por empreitada (regulados pelo Código Civil), sendo que os empreiteiros, por sua vez, contratam operários "por obra certa" ( C.L.T. ). Leve-se em conta, outrossim, o surto de construções que tem caracterizado a economia paulista nos últimos decênios e a conseqüente concorrência nesse setor para a angariação da mão-de-obra.

• É interessante observar que os ramos industriais mais antigos - o têxtil e o de produtos alimentícios - apresentaram quase as mesmas taxas de rotação num e noutro período considerados, todas relativamente baixas, o que nos parece poder ser interpretado como movimentação de mão-de-obra nas emprêsas dêsses ramos ocasionada tão somente por motivos rotineiros.

• O baixo grau de rotação apresentado pelas indústrias mecânicas, editoriais e gráficas, em comparação com as demais, explica-se pelo elevado número de operários qualificados nelas empregados, cuja formação técnica resulta de longa aprendizagem e experiência e cuja permanência na emprêsa é estimulada por tôdas as formas. Entretanto, a escassez de pessoal qualificado e o aparecimento, nos últimos anos, do chamado "leilão de mão-de-obra qualificada" parece ter afetado a indústria mecânica, onde o índice de permanência média caiu de 3,2 anos (no Período 1) para 2,0 anos (no Período 2).

• Por constituírem as indústrias têxteis, metalúrgicas e mecânicas os maiores agrupamentos industriais de nossa amostra, organizamos o Quadro 3 a fim de mostrar a distribuição percentual dessas emprêsas segundo as taxas de desligamentos nelas observadas no Período 2.


Os dados dêsse quadro permitem inferir que existem situações anômalas em inúmeras emprêsas no que se refere à rotação da mão-de-obra, pois, enquanto que na indústria têxtil apenas 2,5% das emprêsas tiveram taxas de desligamentos superiores a 60%, nas indústrias metalúrgicas e nas mecânicas as taxas de desligamentos chegaram a 15,8 e 15,4%, respectivamente.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Em outros países têm sido realizados estudos para avaliação dos custos, para as emprêsas, da rotação da mão-de-obra, e as cifras encontradas são surpreendentemente elevadas. Devem-se êsses custos aos gastos com admissão e treinamento de cada nôvo empregado, interrupção do processo produtivo para a substituição requerida, uso ineficiente do equipamento durante o estágio probatório dos novos empregados, e assim por diante. Não possuímos dados a êsse respeito relativos ao Brasil, mas não nos será difícil aquilatar a extensão desses custos se tivermos em mente que no Estado de São Paulo, durante o Período 2, deixaram seus empregos perto de 324 000 pessoas admitindo-se, por hipótese de trabalho, a ocorrência de um desligamento anual per capita -, ou seja, quase 36 % do contingente estadual de mão-de-obra industrial (formado por cêrca de 900 000 industriários).

Nem todos os fatores que determinam sejam maiores ou menores as taxas de rotação são de ordem econômica. Alguns têm raízes nas condições gerais da economia local: diferenças de salário, recessão ou expansão de algumas formas de atividade econômica; condições momentâneas de crise que originam cortes de pessoal e supressões de cargos; situação da demanda de mão-de-obra para setores e cargos específicos, etc.. Outros podem ser encontrados na própria organização interna das emprêsas: métodos inadequados de promoção e aproveitamento dos melhores empregados; insalubridade do local ou do tipo de trabalho; desagrado das condições ambientes, e assim por diante.

É evidente que as influências das condições que acabamos de expor se refletem tanto sôbre os empregadores, quanto sôbre os empregados, o que torna difícil ao intérprete dos efeitos dessas influências atribuir a êstes ou àqueles a origem do movimento de mão-de-obra por elas favorecidos. Pena que o material de que dispúnhamos não nos tenha permitido estimar até que ponto a rotação observada haja resultado de espontâneas manifestações de vontade por parte dos empregados, ou de atos dos empregadores. Todavia, uma vez que o movimento anual de empregados revelou estarem as indústrias paulistas sob processo de expansão - taxas de admissões maiores que as de desligamentos - tanto no Período 1 como no Período 2, parece-nos razoável que se dê maior ênfase, na interpretação das taxas observadas, aos desligamentos oriundos de pedidos de demissão.

Se algo de construtivo há que fazer com relação à mobilidade da mão-de-obra, há de ser no sentido de evitar o êxodo espontâneo dos empregados. Aos administradores de pessoal não devem passar despercebidas as perdas, em dinheiro e em valores humanos, que representam os ajustamentos a que a rotação da mão-de-obra obriga as empresas. A fim de determinar até aonde êsses custes sao compensados pelos ganhos resultantes da renovação do potencial de trabalho o administrador precisa saber: o montante desses custos; porque os empregados estão deixando a empresa; em que departamentos ocorrem mais amiúde os desligamentos voluntários por parte de empregados; que tipos de empregados estão abandonando a empresa, e outras coisas que tais.

Só quando questões dessa espécie puderem ser precisamente esclarecidas estarão as emprêsas em condições de reduzir as taxas de rotação da mão-de-obra, contribuindo, destarte, para a racionalização do mercado de trabalho na região em que operem.

Nota da Redação - Os dados utilizados neste artigo foram coletados e elaborados pelo Centro de Pesquisas e Publicações da EAESP, a cujos integrantes o autor agradece a colaboração. O autor deseja consignar aqui, também, especial agradecimento ao Dr. Roberto H. Gusmão que, Delegado Regional do Trabalho na época, autorizou a consulta às "relações-2/3" de 1961 1962.

Anexo 1 Anexos 1

Anexo 2 2

  • 1) Vide Mercado de Trabalho, publicação do Serviço de Pesquisas sôbre Mercado de Trabalho, da Secretaria do Trabalho, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, vol. 1, n.ş 1, agosto de 1954, págs. 31 a 43.
  • (3) Vide Fôrça do Trabalho no Município de São Paulo. Governo do Estado de São Paulo, Departamento de Estatística do Estado, 1962, quadro 8.

Anexos 1

2

  • 1
    ) Vide
    Mercado de Trabalho, publicação do Serviço de Pesquisas sôbre Mercado de Trabalho, da Secretaria do Trabalho, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, vol. 1, n.º 1, agosto de 1954, págs. 31 a 43.
  • (2
    ) O adjetivo
    "friccional" constitui neologismo com sentido diverso do adjetivo cognato
    fricativo normalmente consignado pelos dicionários. A expressão "desemprego 'friccional' "("
    'friccional' unemployment") foi usado pela primeira vez, ao que nos consta, por JOHN MAYNARD KEYNES (
    The General Theory of Employment, Interest and Money. Londres:
    MacMillan and Co. Ltd., 1960, pág. 6) para qualificar o desemprêgo decorrente de "vários erros de ajustamento que prejudicam o pleno emprêgo permanente". O mesmo autor menciona, à guisa de exemplos, três causas de desemprêgo "friccional": "necessidade temporária de equilíbrio entre quantidades relativas de recursos especializados, como resultado de êrro de previsão ou de demanda intermitente"; " 'defasagens' motivadas por mudanças imprevistas"; e o "fato de que a mudança de um emprêgo para outro não pode
    ser efetivada sem certa demora, de forma que numa sociedade não-estática sempre existirá um contingente humano desempregado 'entre empregos' ".
  • (3
    ) Vide
    Fôrça do Trabalho no Município de São Paulo. Governo do Estado de São Paulo, Departamento de Estatística do Estado, 1962, quadro 8.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jul 2015
    • Data do Fascículo
      Set 1964
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