RESENHA BIBLIOGRÁFICA
The industrial revolution and economic growth
Franklin Lee Feder
The Industrial Revolution and Economic Growth
Por R, M. Hartwell. London, Methuen & Co. Ltd. 1971, 423 p.
Falta aos estudiosos em geral, e aos economistas, em particular, um quadro teórico que possa servir como instrumento de análise das causas e das conseqüências econômicas e socioculturais da industrialização. O que existe são meras descrições dos fatos verificados e registrados pela história ou, então, interpretações carregadas ideologicamente do que possa significar a industrialização para um país ou para um conjunto de países. Raramente encontramos literatura que se dedique a, par exemplo, explicar o "porquê" da Revolução Industrial; encontramos, isto sim, farto material sobre o surgimento do capitalismo propriamente dito, preocupação esta que obscureceu outros aspectos fundamentais da história econômica, e que mereceriam uma atenção toda especial.
Sem a menor sombra de dúvida, o objetivo proposto pelo Professor R. M. Hartwell, ao publicar uma coleção de trabalhos e ensaios de sua autoria, não pode ser considerado despretencioso. Isto porque, ao redigir a introdução à obra, o autor define como meta primordial o estudo e o entendimento da mudança e do crescimento econômico, bem como analisar as conseqüências destes fenômenos ao nível do bem-estar das populações. Evidentemente, o livro The industrial revalution and economic growth não consegue esgotar, nem tampouco elucidar toda a problemática que envolve o fenômeno da mudança econômica e social, especialmente quando o objeto de estudo é a industrialização, proposto pelo autor como exemplo de crescimento econômico. Pelo contrário, o autor propõe como quadro de referência "um complexo modelo explicativo do processo social integrado de variáveis independentes" que só pode servir para acirrar a discussão e a controvérsia em torno deste assunto, pois o autor praticamente se esquece de dar corpo a este "modelo explicativo" deixando o leitor desorientado quanto ao seu real significado.
O volume reúne 17 artigos, alguns dos quais inéditos, escritos entre 1958 e 1970, cobrindo três áreas fundamentais: a) a metodologia da história econômica; b) as causas e os processos da Revolução Industrial; e c) as conseqüências sociais e econômicas destes mesmos processos.
Na sua discussão sobre a metodologia, o Prof. Hartwell discorre sobre as abordagens tradicionais na área de história econômica, apontando as devidas modificações que deveriam ser nelas introduzidas. Diz ele que, analisando o que já foi produzido pelos estudiosos da história econômica, podemos observar inconsistências evidentes e opiniões preconcebidas que vieram a deturpar todos os possíveis resultados de suas análises - afirmação esta não especialmente reveladora ou profunda, já que absolutamente não nos encontramos no capítulo final da eterna discussão sobre a possibilidade ou não da objetividade nas ciências sociais. Ainda nesta parte inicial, o Prof. Hartwell preocupa-se em definir a Revolução Industrial como sendo uma das grandes "descontinuidades" das história, comparável ao Renascimento, ou até à Revolução Francesa. A Revolução Industrial marcaria assim a divisão entre um mundo de baixo crescimento populacional e econômico, e um mundo caracterizado por um progresso econômico assustadoramente rápido, possuidor de uma população que cresce a elevadas taxas percentuais. O desconhecimento do autor quanto aos problemas de crescimento demográfico dos países subdesenvolvidos é patente.
A segunda parte da obra é dedicada ao estudo das "causas e processos", ou como frisa o próprio autor, "uma tentativa de analisar a industrialização inglesa dentro do esquema proposto pela análise econômica, isto é, mediante estudo quantitativo da Revolução Industrial e de suas conseqüências". No entanto, a ausência de dados empíricos e de um levantamento quantitativo mais profundo torna toda a exegese extremamente frágil, exigindo, como foi mencionado, uma base empírica mais sólida. O'que é singular é o fato de que o Prof. Hartwell convoca, na introdução do livro, os jovens economistas a dedicarem-se ao levantamento dos dados quantitativos que, segundo ele, comprovariam suas teses, deixando entender que estaria impedido, em virtude de sua idade, de proceder, ele mesmo, ao levantamento das estatísticas. Sem dúvida, a inclusão de evidência empírica acerca das condições de vida das massas, da remuneração dos fatores de produção,etc, contribuiria para reforçar as teses propostas pelo autor.
Como conclusão, o terceiro conjunto de ensaios estuda as conseqüências sociais e econômicas da Revolução Industrial, enfatizando a controvérsia existente em torno da elevação ou declínio do padrão de vida (standard of living controversy) como conseqüência do processo de industrialização. Os efeitos da Revolução Industrial sobre o salário real, e sobre as condições de trabalho e de habitação das classes laboriosas/são analisadas com bastante cuidado. Porém, segundo o autor, os "pessimistas" que propõem a tese de que o crescimento econômico poderia resultar numa queda do "padrão de vida" justificam-se pelo uso de três modelos, a saber: o modelo malthusiano, o modelo da concentração da renda e o modelo do declínio nas relações de troca. O Prof. Hartwell argumenta que estes modelos são irreconciliáveis com os fatos objetivos e, portanto, com a própria história; assim, toda a controvérsia sobre o possível declínio do padrão de vida deveria ser substituída por outra, que seria analisar, não o standard of Me, mas sim, o quality of life ou ainda way of life. Falta ao ilustre professor da Universidade de Nuffield uma visão das conseqüências do processo industrializante nos países subdesenvolvidos, onde perdura ainda, e com razão, a controvérsia inicial.
Não podemos negar» a significancia da obra para os estudiosos da Revolução Industrial, pois encontramos nela uma abordagem muitas vezes singular e única, especialmente quando manipula as variáveis determinantes do crescimento econômico, tais como a educação e a estrutura jurídica. Poré,m, é bem possível que The industrial revolution and economic growth venhq a servir não para elucidar a problemática da mudança e crescimento econômico, e sim para torná-la ainda mais confusa.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
14 Maio 2015 -
Data do Fascículo
Jun 1972