RESENHA BIBLIOGRÁFICA
Grã-Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914
Manoel Tosta Berllnck
Grã-Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914
Por Richard Graham. São Paulo, Editora Brasiliense, 1973.
Cinco anos depois de publicado em inglês, finalmente aparece em português o importante trabalho de Graham.
O livro é uma continuação da obra de Alan K. Manchester, British preeminence in Brazil, que examina as relações entre Inglaterra e Brasil na primeira metade do século XIX.
O trabalho de Graham contém uma tentativa de interpretação do papel desempenhado pela Inglaterra nas transformações socioeconómicas ocorridas no Brasil a partir de 1850. Segundo Graham, a Inglaterra foi a grande responsável pela promoção dos primeiros passos brasileiros para uma sociedade moderna.
A tese desenvolvida por Graham inspirou-se, evidentemente, nas teorias da modernização em voga nos Estados Unidos, na década de 1960. Nesse sentido, logicamente ela é equivocada. Entretanto nem por isso o livro perde a sua importância, pois contém informações preciosíssimas para qualquer estudioso do período.
O equívoco de Graham está na suposição de que a ideologia liberal inglesa tenha orientado as ações daquela nação de forma a promover a modernização socioeconómica do Brasil quando é evidente que a orientação das ações inglesas dependiam fundamentalmente do estágio de desenvolvimento capitalista naquela sociedade.
Graham argumenta, por exemplo, que o investimento em ferrovias, especialmente na região cafeeira, tinha uma intenção modernizante além de servir de instrumento eficiente para o desenvolvimento da economia agroexportadora. Entretanto, torna-se difícil perceber a existência dessa intenção, quando se sabe que os ingleses não expandiram a Santos-Jundaí até Campinas porque sabiam que os lucros maiores advinham do controle do tronco ferroviário que ligava São Paulo a Santos. Em outras palavras, a construção da Santos-Jundiaí ou da São Paulo Railway Co. Ltd. foi feita tendo em vista somente um cálculo de lucro e não intenções modernizantes, pois, do contrário, os ingleses teriam ampliado a sua linha até Campinas. Não o fizeram exclusivamente porque os lucros seriam menores e eles já possuíam o controle do transporte 139 do café entre São Paulo e Santos o que, do ponto de vista econômico, era realmente o espaço estratégico.
Graham supõe também que a política inglesa em relação à escravidão brasileira tenha sido determinada em grande parte pela ideologia liberal então reinante naquele país. Se isso fosse verdade, seria de se esperar que a política inglesa em relação a qualquer regime escravocrata fosse idêntica à praticada com relação ao Brasil. Entretanto, parece que isso não ocorreu. Assim, durante a guerra civil norte-americana, se a Inglaterra não ajudou o Sul, manteve-se numa posição de estrita neutralidade que, evidentemente, contrariava princípios da ideologia liberal.
Finalmente, o próprio Graham em trabalhos posteriores demonstra como o liberalismo econômico foi um instrumento da expansão capitalista inglesa que incorporou o Brasil durante a segunda metade do. século XIX e até cerca de 1914.
A tese equivocada, entretanto, não diminui a importância do trabalho de Graham, que contém inúmeras informações de fundamental importância para o estudioso do período. Assim, as páginas sobre o desenvolvimento ferroviário no Brasil, o comércio de importação-exportação e os investimentos ingleses na infra-estrutura urbana brasileira fornecem subsídios difíceis de serem encontrados. O trabalho de pesquisa realizado pelo autor é extremamente bem feito e demonstra a sua competência técnica e o seu grande conhecimento das fontes brasileiras.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
13 Maio 2015 -
Data do Fascículo
Dez 1973