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LËHR. Ergonomia

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt E. Weil

Ergonomia

Por Reiner W. Lehr Vogel Verlag, Wuerzburg, 1976, 160 p. ilustrado, índice remissivo, bibliografia; brochura.

O livro, cujo título completo, traduzido do alemão, é Ergenomia, concisa e resumidamente, fundamentos das relações recíprocas entre o homem, a técnica e o ambiente, é o mais recente dos livros de ergonomia nas prateleiras. O próprio título dá a definição da ciência aplicada. O leitor que, inadvertidamente, pegar o livro ficará surpreso com as ilustrações das primeiras páginas, que parecem ter saído de um livro-texto de medicina. Mas este volume, como poucos, integra bem as ciências ligadas à ergonomia - a psicologia ocupacional, a fisiologia, a anatomia, a engenharia industrial, a ecologia e a física.

De extenso índice resumo somente, como exemplo, a terceira parte: "Ergonomia prática". 1) O sistema homem-máquina: construção e função de um sistema homem-máquina. Possibi lidades de comunicação entre o homem e a máquina. 2) A otimização do sistema homem máquina: Análise do sistema global homem-máquina. Adequação da técnica ao homem. A mesa de trabalho e o assento de operário. Dispositivos de regulagem e acionamento. Mostradores. Adequação do homem à técnica. Seleção de homens. Treinamento de homens.

Todos os livros de ergonomia têm um conteúdo semelhante, e muitas vezes não conseguem dar contribuição própria. Este livro, como outros que serão futuramente resenhados nesta revista, contribui com algo de novo - e, no caso da obra de Lehr, é possível afirmar que o livro é o mais completo e o melhor ilustrado, apesar de seu tamanho reduzido. A apresentação gráfica primorosa facilita o emprego didático, pois os conceitos são destacados do texto por meio de linhas vermelhas, emoldurando- o. Além dos conceitos, são emolduradas também as fórmulas matemáticas e as regras fundamentais. Outros pontos, principalmente palavras-chaves constantes do índice, são salientados em negrita, e a exposição faz uso de muitas.

Os livros de ergonomia não possuem geralmente uma filosofia básica, pois o desenvolvimento da ciência se deu em função de uma série de objetivostornar o trabalho menos cansativo, mais fácil, mais eficaz e menos perigoso. A ergonomia desenvolveu-se durante a I Guerra Mundial, na Inglaterra, onde foram estudados pela primeira vez cientificamente o homem e o seu lugar de trabalho. O pomposo título objetivo dado à comissão de estudo - "para evitar a fadiga e suas conseqüências em operários industriais" - excluía muito daquilo que hoje se inclui na ergonomia, desde o "stress empresarial", até o efeito da vibração em aviões a jato.

A moderna ergonomia Iniciou-se com a II Guerra Mundial, em 1939. As máquinas mais rápidas no ar e na terra, a complicação da técnica de artefatos de guerra e sua maior velocidade de funcionamento deram ênfase à concentração mental provocando o aparecimento de stress. Já a terceira fase apareceu com as demandas de lançamentos espaciais e da vida fora do planeta do homem. A ergonomia é uma palavra composta de ergon - trabalho - e nomos - regra, conhecimento. Assim, ergonomia é definida também, pelo livro, como a ciência do trabalho ou H conhecimentos sobre o homem que trabalha".

Lëhr, então, iguala para todas as finalidades a ciência do homem que trabalha ao HFE dos norteamericanos - Human Factors Engineering. Êste é subdividido em antropotécnica (Human Engineering) e adequação do fator trabalho ao homem (Human Factors).

Na antropotécnica o autor estuda o leiaute do lugar do trabalho, a instrumentação e a automatização, para melhorar a técnica de fabricacão.

Na adequação do fator trabalho o autor inclui, entre outros pontos, a seleção do homem, o treinamento, a organização, o tempo-padrão, o ritmo e o lazer. Finalmente explica também a higiene e segurança do trabalho com seus estudos especializados, como o uso de máscaras e roupa profissional.

A antropotécnica e a adequação (HF) trabalham juntas para a otimização do sistema gtobal "homem-técnica-ambiente" em relação à eficâcia e à confiabilidade. Nota-se, portanto, uma leve diferença de ênfase em relação aos livros norte-americanos, que dão mais importância ao sistema otimizado homem-máquina ou homem-trabalho, entrando o ambiente como item secundário.

O desenvolvimento do livro é clássico, nada há que surpreenda, a não ser o fato de ter sido possível incluir tanto material em tão pouco livro. Talvez a concisão da linguagem técnica alemã, felizmente restrita a poucas expressões do tipo Flimmerversch melzungsfrequenzverfahren (método de verificação da fusão de impulsos luminosos de acordo com a freqüência), tenha contribuído. Além disso há duas colunas em cada página, e a impressão é com letras de 65 pontos (65 letras por 9cm de comprimento linear), o que aumenta a legibilidade.

Gostaria de salientar um ponto importante de interesse aos nossos legisladores que estão revisando a CLT (Consolidação das Leis de Trabalho, nos quais se trabalha 6 dias seguidos, para dois de descanso. O turno diurno tem 10 horas, das 8 às 18, com 30 minutos para almoço trabalhando-se, portanto, 9 horas e 30'. O turno vespertino vai das 18ti até às 2 da madrugada, com 30 minutos de jantar, trabalhando-se 7 horas e 30'. Finalmente, o turno matutino é das 2 até às 8 da manhã, com 15 minutos de inter,valo, trabalhando- se 5 horas e 45'. Dessa maneira, o homem fica trabalhando 2 dias sucessivos em cada horário, na seqüência matutina, vespertina e diurna, com 2 dias livres em seguida. O operário terá trabalhado 19 + 15 + 11 h 30' = 45 horas e 30. em 8 dias, aproximadamente - em média - 41 horas/sem. O autor afirma que, dessa maneira o período "ruim" das 24 às 6 da manhã fica distribuído por dois turnos, mantendo a produção individual mais uniforme e os homens podem dormir a noite quase todos os dias. A aumento de erros e a diminuição da atividade mental foi demonstradamente diminuído pelo autor e também ficou demonstrado que, não comendo durante a noite, o operário passa melhor pelo ponto depressivo das 2 às 6.

Seria enfadonho enumerar toda a riquesa deste livro; basta dizer que até gráficos de sensação de frio ou umidade em corrente de ar são apresentados. Muito, muito recomendável, portanto, a leitura em cursos de segurança do trabalho, medicina do trabalho, direito do trabalho, engenharia industrial, administração da produção, etc. tratamento corresponde ao nível de graduação e pós-graduação, exigindo o mínimo de conhecimento de física, biologia, fisiologia, engenharia industrial de nível colegial e universitário básico. No entanto, o verdadeiro valor do livro só se mostra quando o leitor já tiver tido contato com a realidade industrial.

Comparativamente, este livro é diferente dos demais que me foram apresentados, por não estudar casos específicos, mas tratar dos princípios gerais; por não ser tratado de ergonomia experimental, mas um de fatos já demonstrados, e de aplicação quase idediata.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Out 1977
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