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Princípios de administração financeira

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Ivan Pinto Dias

Princípios de administração financeira

Por Lawrence P. Gitman. 1 ed. Trad. Francisco José dos Santos Braga. Rev. téc. João Carlos Hopp, PhD, da EAESP/FGV. São Paulo, Harper & Row do Brasil, 1978. 580 p. Apêndice com tabelas de valor presente, glossário, índice remissivo.

Uma das causas do atraso do Brasil no campo da administração de empresas como um todo é a quase inexistência de boas obras de autores brasileiros e, sem dúvida alguma, a péssima tradução de obras estrangeiras (em geral norte-americanas).

Quando nos concentramos, então, quer no campo da administração contábil, quer no campo da administração financeira, chegamos a uma situação de verdadeiro caos, pois os tradutores, bons conhecedores da língua inglesa (e portanto ótimos para a tradução de romances do tipo Irving Wallace, Harold Robbins ou Morris West...), não conhecem os termos técnicos nos dois campos de conhecimento mencionados no início deste parágrafo, fazendo verdadeiras barbaridades - para não dizer crimes contra o ensino no Brasil - e tornando quase incompreensível a leitura de livros técnicos, especialmente na área de administração contábil e/ou financeira.

Exemplos típicos (quiçá clássicos) do que foi afirmado são, por exemplo: a expressão good-will, traduzida como "boa vontade no balanço", para o que se conhece como "fundo de comércio" (ou "aviamento", utilizado pelos contadores brasileiros mais ortodoxos); staff, que em inglês, em um organograma, pode significar um órgão de assessoria, ou às vezes, em uma frase, pode ser entendido, no sentido lato do termo, como o pessoal que trabalha em uma empresa. Ocorre então que, na maior parte das traduções, encontramos em um organograma, geralmente em linha pontilhada, um órgão de pessoal (sicl), ou ainda, um órgão de assessoria em linha cheia (demonstrando ser um órgão executivo), e o pior de tudo é quando da explicação do organograma e/ou das funções a serem exercidas pelos vários órgãos (ou departamentos) verifica-se que o órgão de pessoal, na linha pontilhada, assessora o presidente e/ou outro executivo qualquer e, ao mesmo tempo, o órgão de pessoal é, na linha cheia, um órgão com funções típicas de pessoal (às vezes denominado, para confundir um pouco mais o leitor, de órgão de assessoria).

Sem querer utilizar palavras mais fortes ainda, outro verdadeiro crime contra o ensino de administração financeira no Brasil foi a tradução de um livro clássico na literatura, publicado nos EUA pela Columbia University Press em 1963, graças a um auxílio da Ford Foundation, conforme o próprio autor menciona no início de sua obra, de 170 páginas, traduzida para o português em 1969; a segunda edição (sic!) foi publicada em 1973 e a terceira edição (sic!) em 1977, com 221 páginas. Fato estranho haver a segunda e a terceira edições em português, pois, em inglês, a edição de 1963 não foi alterada. O que não é estranho é o número de páginas da edição em português ser maior que o número de páginas da edição em inglês, coisa muito comum nas traduções (será que somos mais profícuos para escrever, uma vez que são mínimas as diferenças do tipo e/ou tamanho da letra de impressão?)

Pois bem, nesta obra clássica, o que se conhece em inglês por IRR (internal rate of return) ou taxa interna de retorno e NPV (net present value) ou valor presente líquido, conceitos básicos para conhecer-se capital budgeting, e depois a questão de custo do capital, está traduzido por pelo menos cinco denominações diferentes, sem contar as traduções de outros conceitos fundamentais, os quais, conforme a página, também possuem denominações desiguais.

O livro de Gitman é a tradução de obra cujo original é recente (em inglês a edição é de 1976), fato este relativamente raro no Brasil, pois além de mal feitas as traduções referem-se a edições antigas em inglês, quando existem edições no original muito mais modernas e, conseqüentemente, absorvemos como tecnologia ou o termo mais em moda know-how bastante obsoleto.

Exemplo também típico desta última afirmativa é um livro de administração financeira escrito por um professor que na época era da Michigan State University (atualmente leciona em outra universidade), cuja tradução para o português, em dois volumes, é boa (fato raríssimo!), porém foi baseada na segunda edição em inglês, de 1963 - com sucessivas edições (ou reimpressões?) em português, tal o sucesso da obra; em inglês, todavia, já se encontra na sexta edição, com conceitos bem mais modernos e sofisticados...

Gitman dividiu sua obra em 8 partes, com um total de 26 capítulos dependendo do assunto; com o glossário existente ao final, em ordem alfabética em português, seguido entre parênteses do termo em inglês e do significado do mesmo, a tradução não só é perfeita e uniforme mas, este fato aliado à maneira bem simples e didática pela qual o autor expõe o assunto torna possível ao leitor, até sem professor para orientá-lo, ler pouco a pouco o livro e assim ter uma noção básica do que seja administração financeira.

Para exemplificar melhor o que foi dito, nos capítulos 1 a 5 - Cusde capital - e 16 - Estrutura de capital e avaliação - o leitor consegue logo perceber o significado do famoso modelo de Modigliani e Miller e as controvérsias que dele se originaram, ou então o modelo de Myron Gordon sobre "precificação" de uma ação ordinária e/ou para a avaliação de uma empresa.

Ao final de cada capítulo, existe uma série de pequenos casos e/ou problemas para serem resolvidos, além de uma bibliografia básica muito boa (porém não muito sofisticada).

O livro de Gitman é ideal para ser utilizado em um primeiro curso de administração financeira, onde os alunos podem ter uma noção elementar sobre o assunto, porém, na opinião do resenhista, junto com alguns capítulos de outros autores (como Weston e Brigham: Financial management, hoje já na sexta edição, de 1978), ou então com preleções do professor, quando se pode aprofundar um pouco mais a matéria, uma vez que, apesar de atualizado, didático, simples na maneira de expor o assunto, o autor nem menciona algumas técnicas mais sofisticadas e já comprovadamente utilizadas na vida prática, como o CAPM (capital assets pricing model), ou o OPM (options pricing model) ou ainda o SPM (State preference model).

Infelizmente, existem pequenos lapsos na revisão feita pela editora, pois, embora raramente, ao invés de 10.000 ações encontramos o número 100.000 (e vice-versa); às vezes, também, foram omitidas uma ou duas linhas do original em inglês (a tradução possui 580 páginas, e o original, 649), fatos estes que podem confundir um pouco o leitor, mas que de modo algum tiram o mérito da obra e de, sua tradução.

A editora também poderia fazer uma revisão melhor em alguns erros tipográficos. Por exemplo, no capítulo 10 - Administração de estoque - (p. 210), ao mostrar o lote econômico de compra, fórmula (10.4), o denominador está errado, isto é, não é o número 2, mas sim a letra c, como consta de maneira certa na nota de rodapé 5, item (4) da mesma página. Todavia, o numerador que estava certo na fórmula (10.4), ou seja 2S (O), ou ainda 2 multiplicado por S e depois multiplicado pela letra O, na citada nota de rodapé o mesmo item saiu 20 (S), e com um tipo de impressão em que o número 2 parece que é multiplicado por zero e não pela letra O...

Acredito, todavia, que logo serão corrigidas estas pequenas falhas, as quais, conforme foi dito anteriormente, não tiram o mérito do livro. A qualidade da tradução, além da ótima impressão gráfica, com tabelas e gráficos fáceis de serem visualizados, e do fato de os tradutores, em vários capítulos iniciais - principalmente aqueles relacionados com a terceira parte - A administração de capital de giro - terem colocado em notas de rodapé algumas das novidades introduzidas pela Lei nº 6.404 de 15.12.76 (Lei das Sociedades por Ações) e pelo Decreto-lei nº 1.598 de 26.12.77 (Altera a Legislação do Imposto sobre a Renda), fazem com que o livro de Gitman seja recomendado a todos aqueles que desejam iniciar-se no campo de administração financeira.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1979
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