Acessibilidade / Reportar erro

Mobilizando estratégias emergentes

Resumos

Este artigo faz um exame crítico da idéia de estratégia emergente em organizações, tal como apresentada na literatura sobre estratégia empresarial, e propõe um quadro conceitual para o uso dessa idéia na prática. Sob a pressão de uma concorrência brutalmente intensificada, as atuais organizações ao redor do mundo têm cada vez mais buscado flexibilidade e inovação incessante. A forma tradicional de criação de estratégias por meio de um processo periódico e formal de planejamento estratégico não é mais suficiente para lidar com essa nova situação. Nessas condições, a criação de estratégias tem de ser um processo contínuo, no qual estratégias emergentes (juntamente com estratégias deliberadas) podem ter um papel crucial. Mas para tirar partido delas, os administradores terão de dominar o uso de estruturas, processos e técnicas que permitem transformar estratégias emergentes em comportamento estratégico eficaz.

Estratégia empresarial; estratégia emergente; processo estratégico; concorrência; flexibilidade organizacional


This paper reviews the idea of emergent strategy in organizations - as presented in the literature on corporate strategy - and offers a conceptual framework to use this notion in actual practice. Under the pressure of brutally intensified competition, present-day organizations throughout the world have been increasingly seeking flexibility and unremitting innovation. The traditional way of strategy making through a cyclical, formal strategic planning process is no longer sufficient to deal with this new situation. Under these conditions, strategy making must be a continuous process, in which emergent strategies (along with deliberate ones) can play a crucial role. But to exploit them, management must master the structures, processes, and techniques by which emergent strategies can be turned into effective strategic behavior.

Corporate strategy; emergent strategy; strategy process; competition; organizational flexibility


ESTRATÉGIA

Mobilizando estratégias emergentes

Fábio Luiz Mariotto

FGV-EAESP

RESUMO

Este artigo faz um exame crítico da idéia de estratégia emergente em organizações, tal como apresentada na literatura sobre estratégia empresarial, e propõe um quadro conceitual para o uso dessa idéia na prática. Sob a pressão de uma concorrência brutalmente intensificada, as atuais organizações ao redor do mundo têm cada vez mais buscado flexibilidade e inovação incessante. A forma tradicional de criação de estratégias por meio de um processo periódico e formal de planejamento estratégico não é mais suficiente para lidar com essa nova situação. Nessas condições, a criação de estratégias tem de ser um processo contínuo, no qual estratégias emergentes (juntamente com estratégias deliberadas) podem ter um papel crucial. Mas para tirar partido delas, os administradores terão de dominar o uso de estruturas, processos e técnicas que permitem transformar estratégias emergentes em comportamento estratégico eficaz.

Palavras-chave: Estratégia empresarial, estratégia emergente, processo estratégico, concorrência, flexibilidade organizacional.

ABSTRACT

This paper reviews the idea of emergent strategy in organizations - as presented in the literature on corporate strategy - and offers a conceptual framework to use this notion in actual practice. Under the pressure of brutally intensified competition, present-day organizations throughout the world have been increasingly seeking flexibility and unremitting innovation. The traditional way of strategy making through a cyclical, formal strategic planning process is no longer sufficient to deal with this new situation. Under these conditions, strategy making must be a continuous process, in which emergent strategies (along with deliberate ones) can play a crucial role. But to exploit them, management must master the structures, processes, and techniques by which emergent strategies can be turned into effective strategic behavior.

Key words: Corporate strategy, emergent strategy, strategy process, competition, organizational flexibility.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Notas

Este artigo baseia-se em pesquisa feita pelo autor (Mariotto, 2000), financiada por uma bolsa conferida pelo Núcleo de Pesquisas e Publicações (NPP) da Fundação Getulio Vargas, São Paulo. O NPP também custeou a tradução do original em inglês para o português, para esta publicação na RAE.

1. Publicado pelo Institute for the Study of Coherence and Emergence, ver www.emergence.org.

2. www.santafeassociates.com.

3. Talvez devesse mencionar que o modelo a ser apresentado não é um modelo de tomada de decisão estratégica. O enfoque de tomada de decisão supõe que toda ação estratégica é resultado de uma ou mais decisões feitas pela organização. O conceito de emersão da estratégia é mais amplo; ele dispensa a análise de decisões e, em seu lugar, focaliza a linha de ação. Com as descrições de emersão apresentadas, percebe-se que uma organização pode seguir uma linha de ação sem especificamente tomar uma decisão explícita a respeito. No início da carreira de Mintzberg, enquanto estava trabalhando no conceito de estratégias emergentes, ele e seus associados também desenvolveram um modelo para processos de decisão "não-estruturados" (Mintzberg et al., 1976). Mesmo esses processos "não estruturados" eram mais estruturados que o processo de emersão, pois envolviam etapas explícitas e conscientes, como "reconhecimento", "diagnóstico", "projeto" e "avaliação". Mintzberg certamente percebeu que a emersão de estratégias pode ocorrer sem decisões explícitas, e não tenho dúvidas de que essa foi a razão para ele ter posterior-mente alterado sua definição de estratégia de "um padrão de decisões" para "um padrão de ações".

Artigo recebido em 10/07/2002.

Aprovado em 30/09/2002.

Fábio Luiz Mariotto

Professor Titular do Programa de Pós-graduação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Interesses de Pesquisa em Estratégia empresarial, Estratégia tecnológica, Gestão da inovação. E-mail: fmariotto@fgvsp.br Endereço: Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos (ADM), FGV-EAESP, Av. Nove de Julho, 2029, São Paulo, SP, CEP 01313-902.

  • ANDERSON, P. Complexity theory and organization science. Organization Science, v. 10, n. 3, p. 216-32, 1999.
  • ANSOFF, H. I. Corporate strategy: an analytic approach to business policy for growth and expansion. New York : McGraw-Hill, 1965.
  • ARGYRIS, C.; SCHÖN, D. A. Organizational learning: a theory of action perspective. Reading : Addison-Wesley, 1978.
  • BOWER, J. L. Managing the resource allocation process Boston : Graduate School of Business Administration, Harvard University, 1970.
  • BROWN, S. L.; EISENHARDT, K. M. The art of continuous change: linking complexity theory and time-paced evolution in relentlessly shifting organizations. Administrative Science Quarterly, v. 42, n. 1, p. 1-34, 1997.
  • BURGELMAN, R. A. A model of the interaction of strategic behavior, corporate context, and the concept of strategy. Academy of Management Review, v. 8, n. 1, p. 61-70, 1983.
  • BURNS, T.; STALKER, G. M. The Management of Innovation London : Tavistock, 1961.
  • CHILD, J. Organizational structure, environment and performance: the role of strategic choice. Sociology, v. 6, p. 1-22, 1972.
  • CYERT, R. M.; MARCH, J. G. A behavioral theory of the firm Englewood Cliffs : Prentice Hall, 1963.
  • EISENHARDT, K. M. Strategy as strategic decision making. Sloan Management Review, v. 40, n. 3, p. 65-72, 1999.
  • FINKELSTEIN, S.; HAMBRICK, D. C. Strategic leadership: top executives and their effects on organization. Minneapolis : West Publishing Company, 1996.
  • GIOIA, D. A.; MEHRA, A. Book review of Weick's "Sensemaking in organizations". Academy of Management Review, v. 21, n. 4, p. 1.226-40, 1996.
  • LINDBLOM, C. E. The science of "muddling through". Public Administration Review, v. 19, n. 2, p. 79-88, 1959.
  • MACINTOSH, R.; MACLEAN, D. Conditioned emergence: a dissipative structures approach to transformation. Strategic Management Journal, v. 20, n. 4, p. 297-316, 1999.
  • MALONE, T. W.; LAI, K.-Y.; FRY, C. Experiments with OVAL: a radically tailorable tool for cooperative work. In: ACM conference on computer supported cooperative work Toronto, Ontario, Canada, 1992.
  • MARCH, J. G. The technology of foolishness. In: MARCH, J. G.; OLSEN, J. P. Ambiguity and choice in organizations Bergen : Universitetsforlaget, 1976. Ch. 5, p. 69-81.
  • MARIOTTO, F. L. Mobilizing emergent strategies. In: Relatório No. 10/2000 São Paulo : Fundação Getúlio Vargas, Núcleo de Pesquisas e Publicações (NPP), 2000.
  • MINTZBERG, H. Research on strategy-making. In: Proceedings of the 32nd Annual Meeting of the Academy of Management Minneapolis, 1972.
  • MINTZBERG, H. Patterns in strategy formation. Management Science, v. 29, n. 9, p. 934-48, 1978.
  • MINTZBERG, H. The structuring of organizations Englewood Cliffs : Prentice-Hall, 1979.
  • MINTZBERG, H. Strategy formation: schools of thought. In: FREDRICKSON, J. W. Perspectives on strategic management New York : Harper Business, 1990.
  • MINTZBERG, H.; RAISINGHANI, D.; THÉORÊT, A. The structure of "unstructured" decision processes. Administrative Science Quarterly, v. 21, n. 2, p. 246-75, 1976.
  • MINTZBERG, H.; MCHUGH, A. Strategy formation in an adhocracy. Administrative Science Quarterly, v. 30, n. 2, p. 160-97, 1985.
  • MINTZBERG, H.; WATERS, J. A. Of strategies, deliberate and emergent. Strategic Management Journal, v. 6, n. 3, p. 257-72, 1985.
  • MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. The strategy process: concepts, contexts, cases. 3rd Ed. Upper Saddle River : Prentice Hall, 1996.
  • NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. The knowledge-creating company: how Japanese companies create the dynamics of innovation. New York : Oxford University Press, 1995.
  • NORMANN, R. Management for growth New York : Wiley, 1977.
  • OSBORN, C. S. Systems for sustainable organizations: emergent strategies, interactive controls and semi-formal information. Journal of Management Studies, v. 35, n. 4, p. 481-509, 1998.
  • QUINN, J. B. Strategies for change: logical incrementalism. Homewood : Irwin, 1980.
  • SENGE, P. The fifth discipline: the art and practice of the learning organization. New York : Currency Doubleday, 1990.
  • SIMONS, R. Strategic orientation and top management attention to control systems. Strategic Management Journal, v. 12, n. 1, p. 49-62, 1991.
  • WALDROP, M. M. Complexity New York : Simon & Schuster, 1992.
  • WEICK, K. E. The social psychology of organizing 2nd Ed. New York : McGraw-Hill, 1979.
  • WEICK, K. E. Sensemaking in organizations Thousand Oaks : Sage, 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 2003

Histórico

  • Aceito
    30 Set 2002
  • Recebido
    10 Jul 2002
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br