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RESILIÊNCIA IMPACTA A REDUÇÃO DE DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS? AVANÇANDO O DEBATE

¿La resiliencia afecta la reducción del desperdicio de alimentos? Avanzando en el debate

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar as contribuições dos elementos da resiliência (ERs) para as práticas de redução de desperdício de alimentos (PRDAs) e para lidar com as causas de desperdício de alimentos (CDAs). A partir de uma revisão sistemática da literatura, realizou-se uma análise de conteúdo em 143 artigos. Entre os elementos que mais contribuem para as PRDAs, estão: gestão do conhecimento, colaboração e flexibilidade. Entretanto, saúde financeira e redundância podem aumentar o desperdício de alimentos (DA), e antecipação é a capacidade prioritária a ser desenvolvida. Este artigo é a primeira tentativa de estabelecer o papel dos ERs na redução do desperdício de alimentos, e uma agenda de pesquisa é proposta.

PALAVRAS-CHAVE
Desperdício de alimentos; resiliência; varejo; sustentabilidade; elementos da resiliência

RESUMEN

El objetivo de este artículo es caracterizar y analizar cómo los elementos de resiliencia (ER) contribuyen a las prácticas de reducción (PRDA) y las causas de desperdicio de alimentos (CDA). Por medio de una revisión sistemática de la literatura, se realizó un análisis de contenido en 143 artículos. Entre los elementos que más contribuyen, están: gestión del conocimiento, colaboración y flexibilidad. Sin embargo, la salud financiera y la redundancia pueden aumentar el desperdicio de alimentos (DA) y la anticipación es la habilidad prioritaria a desarrollar. Este artículo es el primer intento de establecer el papel de los ER en la reducción del desperdicio de alimentos, y propone una agenda de investigación.

PALABRAS CLAVE
Desperdicio de alimentos; resiliencia; minoristas; sustentabilidad; elementos de resiliência

ABSTRACT

The main purpose of this paper is to analyze the contributions of elements of resilience (EoRs) to food waste reduction practices (FWRP) and to deal with causes of food waste (FWC). Based on a systematic literature review, a content analysis process was carried out with 143 relevant papers. Three main EoRs were identified: knowledge management, collaboration and flexibility. Financial health and redundancy are factors which can increase food waste (FW). The ability to anticipate is the most important practice to develop. This paper is the first attempt to establish the role of EoRs in tackling food waste management, and to propose new avenues of research.

KEYWORDS:
Food waste; resilience; retail; sustainability; elements of resilience

INTRODUÇÃO

Reduzir o problema do desperdício de alimentos tem se tornado uma prioridade na agenda de vários governos e setores econômicos em sua busca por alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organizações das Nações Unidas (ONU). Porém, não há uma definição comum de Perda de Alimentos (PA) e Desperdício de Alimentos (DA). Tanto a PA quanto o DA referem-se a reduções na quantidade ou qualidade de alimentos na cadeia de suprimentos de alimentos. A PA geralmente refere-se a perdas na cadeia de suprimento de alimentos desde a colheita até - mas não incluindo - o nível de varejo. O DA, por outro lado, ocorre nos estágios finais da cadeia, como na distribuição, venda e/ou consumo do alimento. Como este estudo analisa a distribuição com foco no varejo, o DA será o termo aqui utilizado (Food and Agricultural Organization of the United Nations- FAO, 2019Food and Agricultural Organization of the United Nations - FAO (2019). The State of Food and Agriculture 2019. Moving forward on food loss and waste reduction. Rome, Italy.). Estima-se que, todos os meses, 25kg de alimentos sejam desperdiçados per capita na Europa e Estados Unidos, 18kg na América Latina e 10kg no Sul e Sudeste da Ásia (Gustavsson, Cederberg, Sonesson, Otterdijk, & Meybeck, 2011Gustavsson, J., Cederberg, C., Sonesson, U., Van Otterdijk R., & Meybeck, A. (2011). Global food losses and food waste. Retrieved from http://www.fao.org/docrep/014/mb060e/mb060e00.pdf
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). A partir do reconhecimento dos níveis significativos de desperdício gerados nas cadeias de suprimento de alimentos (Gustavsson et al., 2011Gustavsson, J., Cederberg, C., Sonesson, U., Van Otterdijk R., & Meybeck, A. (2011). Global food losses and food waste. Retrieved from http://www.fao.org/docrep/014/mb060e/mb060e00.pdf
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) devido a vários fatores, como instabilidade ambiental, dinamismo do mercado e aumento da globalização, novas abordagens gerenciais têm sido desenvolvidas para otimizar o uso dos recursos naturais e manter a vantagem competitiva.

Resiliência é uma maneira pela qual o desempenho da cadeia de suprimento pode ser gerenciado e melhorado no enfrentamento de diferentes tipos de ruptura (por exemplo, interna, externa e ambiental). Em gestão de operações, a resiliência é definida como a capacidade adaptativa que uma cadeia de suprimentos possui de resistir e lidar com eventos inesperados (rupturas), mantendo o controle sobre sua estrutura e funções, e permitindo que ela se recupere e responda a tais rupturas, a fim de restaurar a cadeia ao seu estado original (ou melhor) de operação (Christopher & Peck, 2004Christopher, M., & Peck, H. (2004). Building the resilient supply chain. International Journal of Logistics Management, 15(2), 1-13. doi: 10.1108/09574090410700275
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; Kamalahmadi & Parast, 2016Kamalahmadi, M., & Parast, M. M. (2016). A review of the literature on the principles of enterprise and supply chain resilience: Major findings and directions for future research. International Journal of Production Economics, 171, 116-133. doi: 10.1016/j.ijpe.2015.10.023
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; Ponomarov & Holcomb, 2009Ponomarov, S. Y., & Holcomb, M. C. (2009). Understanding the concept of supply chain resilience. The International Journal of Logistics Management, 20(1), 124-143. doi: 10.1108/09574090910954873
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). Indivíduos e organizações podem lidar melhor com as rupturas ou descontinuidades, utilizando os elementos centrais da resiliência (ERs), ou seja, os conceitos básicos que ajudam a desenvolver as capacidades necessárias para antecipar, adaptar-se, responder, recuperar-se e aprender com as rupturas.

A resiliência pode ser um meio de garantir que os processos de produção e distribuição de alimentos lidem com as causas do desperdício, respondendo e se recuperando das rupturas, e alcançando, ao mesmo tempo, os objetivos de desenvolvimento sustentável (Food and Agricultural Organization of the United Nations - FAO, 2016Food and Agricultural Organization of the United Nations - FAO (2016). Increasing the resilience of agricultural livelihoods. Retrieved from http://www.fao.org/3/a-i5615e.pdf
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). Por exemplo, Mena, Adenso-Diaz e Yurt (2011)Mena, C., Adenso-Diaz, B., & Yurt, O. (2011). The causes of food waste in the supplier-retailer interface: Evidences from the UK and Spain. Resources, Conservation and Recycling, 55(6), 648-658. doi: 10.1016/j.resconrec.2010.09.006
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afirmam que eventos inesperados, como mudanças climáticas e variabilidade de demanda, são causas importantes do desperdício de alimentos. Visibilidade e flexibilidade são elementos da resiliência (ERs) capazes de ajudar a minimizar o impacto de tais eventos.

Por outro lado, a ausência de ERs como confiança, visibilidade e comunicação (Kamalahmadi & Parast, 2016Kamalahmadi, M., & Parast, M. M. (2016). A review of the literature on the principles of enterprise and supply chain resilience: Major findings and directions for future research. International Journal of Production Economics, 171, 116-133. doi: 10.1016/j.ijpe.2015.10.023
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) são destacados por Canali et al. (2016)Canali, M., Amani, P., Aramyan, L., Gheoldus, M., Moates, G., Östergren, K., & Vittuari, M. (2016). Food waste drivers in europe, from identification to possible interventions. Sustainability, 9(1), 1-33. doi: 10.3390/su9010037
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como causas do desperdício de alimentos.

Poucos estudos existentes (Macfadyen et al., 2016Macfadyen, S., Tylianakis, J. M, Letourneau, D. K., Benton, T. G., Tittonell, P., Perring, M. P., ... Smith, H. G. (2016). The role of food retailers in improving resilience in global food supply. Global Food Security, 118(6), 1477-1493. doi: 10.1016/j.gfs.2016.01.001
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; Manning & Soon, 2016Manning, L., & Soon, J. M. (2016). Building strategic resilience in food supply chain. British Food Journal, 118(6), 1477-1493. doi: 10.1108/BFJ-10-2015-0350
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; Moraes, Costa, Silva, Delai, & Pereira, 2019Moraes, C. C., Costa, F. H. O., Silva, A. L., Delai, I., & Pereira, C. R. (2019). Does resilience influence food waste causes? A systematic literature review. Gestão & Produção, 26(3), 1-17. doi: 10.1590/0104-530x4474-19
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) concentram-se em analisar se a resiliência pode reduzir os níveis de desperdício de alimentos. São relacionados, a seguir, alguns exemplos de estudos anteriores na temática da resiliência e DA. Moraes et al. (2019)Moraes, C. C., Costa, F. H. O., Silva, A. L., Delai, I., & Pereira, C. R. (2019). Does resilience influence food waste causes? A systematic literature review. Gestão & Produção, 26(3), 1-17. doi: 10.1590/0104-530x4474-19
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exploram a relação teórica entre resiliência e DA. Eles apontam que estudos sobre resiliência e DA têm geralmente se desenvolvidos separadamente um do outro, e que as discussões sobre a integração desses dois tópicos são necessárias para descrever como a resiliência pode influenciar o DA de modo que as organizações possam se preparar para evitar desperdícios e melhorar suas operações. Gružauskas, Gimžauskienė e Navickas (2019)Gružauskas, V., Gimžauskienė, E., & Navickas, V. (2019). Forecasting accuracy influence on logistics clusters activities: The case of the food industry. Journal of Cleaner Production, 240, 1-13. doi: 10.1016/j.jclepro.2019.118225
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mencionam que adaptação - um aspecto da resiliência - melhora o alinhamento entre oferta e demanda, e pode reduzir o DA. Esses mesmos autores também destacam a necessidade de manter a resiliência em sistemas alimentares, a fim de aumentar a sustentabilidade, reduzindo, ao mesmo tempo, o DA. Eles tratam a resiliência como meio de preparação para flutuações de mercado vindouras e para reduzir os efeitos de tais flutuações no DA (Gružauskas et al., 2019Gružauskas, V., Gimžauskienė, E., & Navickas, V. (2019). Forecasting accuracy influence on logistics clusters activities: The case of the food industry. Journal of Cleaner Production, 240, 1-13. doi: 10.1016/j.jclepro.2019.118225
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).

Embora uma série de estudos explorem exaustivamente a importância dos ERs (Ali, Mahfouz, & Arisha, 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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; Kamalahmadi & Parast, 2016Kamalahmadi, M., & Parast, M. M. (2016). A review of the literature on the principles of enterprise and supply chain resilience: Major findings and directions for future research. International Journal of Production Economics, 171, 116-133. doi: 10.1016/j.ijpe.2015.10.023
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; Scholten, Scott, & Fynes, 2014Scholten, K., Scott, P. S., & Fynes, B. (2014). Mitigation processes: Antecedents for building supply chain resilience. Supply Chain Management: An International Journal, 19(2), 211-228. doi: 10.1108/SCM-06-2013-0191
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) e outros lidem com reduções no DA (Canali et al., 2016Canali, M., Amani, P., Aramyan, L., Gheoldus, M., Moates, G., Östergren, K., & Vittuari, M. (2016). Food waste drivers in europe, from identification to possible interventions. Sustainability, 9(1), 1-33. doi: 10.3390/su9010037
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; Diaz-Ruiz, Costa-Font, López-i-Gelats, & Gil, 2019Diaz-Ruiz, R., Costa-Font, M., López-i-Gelats, F., & Gil, J. M. (2019). Food waste prevention along the food supply chain: A multi-actor approach to identify effective solutions. Resources, Conservation and Recycling, 149, 249-260. doi:10.1016/j.resconrec.2019.05.031
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; Holweg, Teller, & Kotzab, 2016Holweg, C., Teller, C., & Kotzab, H. (2016). Unsaleable grocery products, their residual value and instore logistics. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, 46(6/7), 634-658. doi: /10.1108/IJPDLM-11-2014-0285
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; Mena, Terry, Williams, & Ellram, 2014Mena, C., Terry, L. A., Williams, A., & Ellram, L. (2014). Causes of waste across multi-tier supply networks: Cases in the UK food sector. International Journal of Production Economics, 152, 144-158. doi: 10.1016/j.ijpe.2014.03.012
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), as discussões sobre a integração desses tópicos não têm estado presentes até agora na literatura existente. Portanto, é necessário explorar como a resiliência contribui para a redução do DA, para que as organizações possam implementar práticas para antecipar, prevenir e reduzi-lo.

Normalmente, há taxas mais baixas de desperdício no estágio de varejo da cadeia de suprimento do que em outros estágios, como produção e pós-colheita (Stenmarck, Jensen, Quested, & Moates, 2016Stenmarck, A., Jensen, C., Quested, T., Moates, G. (2016), “Estimates of European food waste levels. European Commission”. Retrieved from http://www.eufusions.org/phocadownload/Publications/Estimates%20of%20European%20food%20waste%20levels.pdf
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). Apesar disso, os supermercados estão no centro da cadeia de suprimentos de alimentos e podem exercer influência significativa sobre o DA em toda a cadeia, tornando essa área um importante estágio a ser estudado (Gruber, Holweg, & Teller, 2015Gruber, V., Holweg, C., & Teller, C. (2015). What a waste! Exploring the human reality of food waste from the store manager's perspective. Journal of Public Policy & Marketing, 35(1), 3-25. doi: 10.1509/jppm.14.095
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). Os varejistas também são capazes de compreender melhor os processos de tomada de decisão dos consumidores (Cunha, Spers, & Zylbersztajn, 2011Cunha, C. F. D., Spers, E. E., & Zylbersztajn, D. (2011). Percepção sobre atributos de sustentabilidade em um varejo supermercadista. RAE-Revista de Administração de Empresas, 51(6), 542-552. doi: 10.1590/S0034-75902011000600004
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) e influenciar seu comportamento, aumentando a conscientização sobre o DA, por exemplo.

O objetivo deste artigo é analisar as contribuições dos ERs para práticas de redução de desperdício de alimentos (PRDAs) e para lidar com as causas do desperdício de alimentos (CDAs). A base deste artigo é uma revisão sistemática da literatura (RSL) e ele analisa possíveis ações para evitar DA que podem ser implementadas em redes de varejo. O estudo contribui para o debate teórico em torno do DA, destacando o papel da resiliência em ajudar os varejistas a antecipar e responder às causas do desperdício, evitando e minimizando possíveis rupturas em suas operações.

MÉTODO DE PESQUISA

Foi realizada uma RSL para compreender o estado da literatura atual sobre ERs e DA. Ao fazer isso, três macroestágios foram utilizados, ​​com base em Tranfield, Denyer e Smart (2003)Tranfield, D., Denyer, D., & Smart, P. (2003). Towards a methodology for developing evidence-informed management knowledge by means of systematic review. British Journal of Management, 14, 207-222. doi: 10.1111/1467-8551.00375
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. O primeiro estágio envolveu o estabelecimento do escopo do projeto para definir o problema de pesquisa, as questões de pesquisa e o protocolo de revisão. Foram propostas quatro questões de pesquisa:

  • Q1) Quais os principais elementos necessários à construção da resiliência em uma cadeia de suprimento?

  • Q2) Quais as principais causas de desperdício de alimentos em uma cadeia de suprimento?

  • Q3) Quais as principais práticas para reduzir e/ou prevenir o desperdício de alimentos?

  • Q4) Como os elementos da resiliência contribuem para práticas que reduzem e/ou previnem o desperdício de alimentos?

Com o intuito de oferecer resultados robustos e confiáveis, desenvolveu-se um protocolo (Quadro 1) com os detalhes de todos os estágios da RSL. Várias palavras-chave (identificadas a partir da revisão de escopo inicial) foram listadas para cada questão de pesquisa, cobrindo os principais pontos de interesse. As palavras-chave para a busca e os códigos para posterior codificação utilizados foram extraídos dos construtos das questões de pesquisa, e possíveis strings de pesquisa foram testadas antes de se definir as versões finais. Todas essas informações estão disponíveis no Quadro 2.

Quadro 1
Protocolo da RSL
Quadro 2
Construtos, palavras-chave e strings de pesquisa

A busca foi conduzida utilizando cinco bases de dados: Web of Science, Scopus, EBSCO, Scielo e Spell, uma vez que a combinação de fontes proporciona melhores resultados de pesquisa (Chadegani et al., 2013Chadegani, C., A., Salehi, H., Yunus, M. M., Farhadi, H., Fooladi, M., Farhadi, M., & Ebrahim, N. A. (2013). A comparison between two main academic literature collections: Web of Science and Scopus databases. Asian Social Science, 9(5), 18-26. doi: 10.5539/ass.v9n5p18
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). As duas primeiras bases de dados foram escolhidas por serem regularmente atualizadas, e por possuírem ampla abrangência na maioria dos temas científicos (Chadegani et al., 2013Chadegani, C., A., Salehi, H., Yunus, M. M., Farhadi, H., Fooladi, M., Farhadi, M., & Ebrahim, N. A. (2013). A comparison between two main academic literature collections: Web of Science and Scopus databases. Asian Social Science, 9(5), 18-26. doi: 10.5539/ass.v9n5p18
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), além de oferecer recursos poderosos para conduzir buscas e refinar resultados (Boyle & Sherman, 2008Boyle, F., & Sherman, D. (2008). Scopus™: The product and its development. The Serials Librarian, 49(3), 147-153. doi: 10.1300/J123v49n03_12
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). A base de dados EBSCO/Academic Premier foi considerada por ser uma das mais extensas no campo de estudos gerenciais (Thomé, Scavarda, Fernandez, & Scavarda, 2012Thomé, A. M. T., Scavarda, L. F., Fernandez, N. S., & Scavarda, A. J. (2012). Sales and operations planning and the firm performance. International Journal of Productivity and Performance Management, 61(4), 359-381. doi: 10.1021/acs.est.6b01993
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). A Scielo e a Spell foram incluídas em virtude de oferecerem informações específicas com relação a economias emergentes, como o Brasil, enriquecendo, assim, os resultados da RSL. O estudo considerou artigos publicados entre 2000 e 2017, reconhecendo que as publicações acerca da resiliência em cadeias de suprimento e DA começaram a ser publicadas por volta de 2000 (Ali et al., 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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).

O segundo estágio consistiu em realizar a revisão. Três filtros foram utilizados neste estágio para selecionar artigos relevantes (Quadro 1), os quais foram coletados e lidos na íntegra por dois assistentes de pesquisa. Os critérios de avaliação utilizados estão detalhados no Quadro 3. Com base nas palavras-chave escolhidas, a pesquisa inicial encontrou 5.397 artigos, dos quais 2.252 eram duplicatas. Após aplicar os critérios de inclusão e exclusão (Tranfield et al., 2003Tranfield, D., Denyer, D., & Smart, P. (2003). Towards a methodology for developing evidence-informed management knowledge by means of systematic review. British Journal of Management, 14, 207-222. doi: 10.1111/1467-8551.00375
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), 143 artigos foram selecionados utilizando as cadeias de busca estabelecidas. Os resultados da busca e o processo de filtragem utilizado são mostrados na Figura 1.

Quadro 3
Critérios gerais de avaliação

Figura 1
Resultados dos filtros da RSL

Um aspecto importante a ser destacado é a evolução desses tópicos ao longo dos anos. A Figura 2 mostra a distribuição histórica dos artigos identificados.

Figura 2
A distribuição histórica dos artigos identificados

O terceiro estágio incluiu a elaboração do relatório e a divulgação. Foi escolhido o método de análise de conteúdo para sintetizar e comunicar os resultados (Krippendorff, 2013Krippendorff, K. (2013). Content analysis: An introduction to its methodology (3rd ed.). Los Angeles, USA: SAGE Publications. ). Os artigos foram inseridos, na íntegra, no QDA Miner (software Qualitative Data Analysis) para processamento, como parte da análise de conteúdo. Esse software foi utilizado para dividir os artigos em nível de frase e texto, de acordo com codificações criadas. A criação de codificações em níveis permitiu a identificação de padrões comuns nos artigos e a realização de comparações iniciais. Foi realizada uma revisão de escopo para codificar os artigos considerados nesta pesquisa e, com a ajuda de pesquisadores experientes, uma série de codificações iniciais foi identificada e utilizada para a criação de um codebook.

Códigos foram criados, retirados e adicionados durante a leitura detalhada dos artigos. Como esta pesquisa começou com um pequeno grupo de categorias previamente definidas, e passou por mudanças durante o processo de codificação, utilizaram-se tanto a codificação por conceito, que parte de um grupo de códigos previamente definidos e busca extraí-los dos textos, quanto a codificação por dados, na qual a pesquisa se inicia sem códigos predefinidos, mas permite que eles ‘emerjam’ da literatura (Gibbs, 2009Gibbs, G. (2009). Análise de dados qualitativos. Porto Alegre, RS: Artmed. ).

A fim de assegurar a precisão e a confiabilidade/validade dos processos de codificação, dois pesquisadores leram e codificaram todos os artigos, e revisaram as codificações um do outro (Krippendorff, 2013Krippendorff, K. (2013). Content analysis: An introduction to its methodology (3rd ed.). Los Angeles, USA: SAGE Publications. ). Para garantir que todos os excertos relevantes dos artigos fossem codificados, e esclarecer possíveis dúvidas sobre certas seções codificadas, três pesquisadores experientes revisaram os resultados. Relatórios de proximidade foram utilizados para identificar as relações entre os construtos estudados. Este tipo de gráfico apresenta a proximidade das codificações nos textos estudados, ou co-ocorrências entre os construtos, permitindo, assim, uma compreensão e ilustração dos elementos mais frequentemente associados às principais CDAs e práticas de redução e/ou prevenção (QDA Miner, 2017Qda Miner. Qualitative data analysis software. (2017). Retrieved from https://provalisresearch.com/products/qualitative-data-analysis-software
https://provalisresearch.com/products/qu...
).

O coeficiente de co-ocorrência foi calculado com base no coeficiente de Jaccard, que atribui peso igual aos casos em que a co-ocorrência é identificada e casos em que um item está presente, mas não o outro (Chen, Ibekwe-SanJuan, & Hou, 2010Chen, C., Ibekwe‐SanJuan, F., & Hou, J. (2010). The structure and dynamics of cocitation clusters: A multiple‐perspective cocitation analysis. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 61(7), 1386-1409. doi: 10.1002/asi.21309
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). Por meio da codificação dos artigos e identificação das seções que se referiam a elementos da resiliência, causas de desperdício e práticas de prevenção, foi possível analisar as relações entre esses três construtos principais.

A fim de facilitar esta análise, as intersecções entre os elementos da resiliência e as causas e práticas de prevenção do DA foram classificadas utilizando grupos do Diagrama de Ishikawa. A tabela 1 mostra os valores de proximidade gerados a partir da análise de conteúdo com a ajuda do software QDA Miner. Os números destacados na Tabela 1 representam as relações que se situam dentro de 80% em termos de valores de proximidade, e que são o foco da discussão neste artigo. Os números em negrito indicam o uso do princípio de Pareto na seleção de elementos que representam 80% da proximidade total entre os elementos (Defeo & Juran, 2010Defeo, J. A., & Juran, J. M. (2010). Juran's quality handbook: The complete guide to performance excellence (6th ed.). New York, McGraw Hill Professional.), as causas e as práticas de cada grupo Ishikawa (1986)Ishikawa, K. (1986). TQC-Total Quality Control: Estratégia e administração da qualidade. Săo Paulo, IMC Internacional Sistemas Educativos.; esses elementos são discutidos ao longo deste artigo.

Tabela 1
Intersecções entre os elementos da resiliência e os grupos do Digarama deIshikawa (causas e práticas)

Relatórios de proximidade foram gerados em pares, a fim de conduzir esta análise - primeiro entre os ERs e as CDAs, e depois entre os ERs e as PRDAs. Os ERs com maior influência sobre as CDAs e PRDAs são detalhados na seção a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta seção apresenta os resultados da RSL, organizados de modo a responder as quatro questões de pesquisa propostas anteriormente.

Rupturas no fluxo de bens, serviços e/ou informações são eventos repentinos e inesperados capazes de fazer com que uma cadeia de suprimento falhe em sua missão de entregar produtos e/ou serviços a seus clientes conforme os locais, quantidade e tempo específicos e custos definidos (Ponomarov & Holcomb, 2009Ponomarov, S. Y., & Holcomb, M. C. (2009). Understanding the concept of supply chain resilience. The International Journal of Logistics Management, 20(1), 124-143. doi: 10.1108/09574090910954873
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). Os ERs podem ser organizados em termos de capacidades, tais como a antecipação, adaptação, resposta, recuperação e lições aprendidas com as rupturas. A Figura 3 baseou-se nas capacidades e nos elementos da resiliência identificados e classificados por Ali et al. (2017)Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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, juntamente com outros elementos encontrados na literatura.

Figura 3
Elementos da resiliência

Causas do Desperdício de Alimentos (CDAs) e Práticas de Redução do Desperdício de Alimentos (PRDAs)

As Figuras 4 e 5 foram desenvolvidas a partir das CDAs e PRDAs identificadas nos artigos da RSL, seguindo o codebook apresentado na seção sobre a metodologia, sendo posteriormente classificadas em grupos Ishikawa para facilitar a análise, seguindo o método utilizado na RSL realizada por Moraes, Costa, Pereira, Silva e Delai (2020)Moraes, C. C., Costa, O. F. H., Pereira, C. R. , Silva, A. L. , & Delai, I. (2020). Retail food waste: Mapping causes and reduction practices. Journal of Cleaner Production, 256, 1-16. doi: 10.1016/j.jclepro.2020.120124
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. As principais CDAs identificadas são mostradas na Figura 4. Para melhor identificar e agrupar essas causas, seguiu-se o modelo desenvolvido por Bilska, Wrzosek, Kołożyn-Krajewska and Krajewski (2016)Bilska, B., Wrzosek, M., Kołożyn-Krajewska, D., & Krajewski, K. (2016). Risk of food losses and potential of food recovery for social purposes. Waste Management, 52, 269-277. doi: 10.1016/j.wasman.2016.03.035
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. Utilizando esse método, é possível descobrir, organizar e resumir o conhecimento de um grupo acerca das possíveis causas que contribuem para o DA.

Figura 4
CDAs

As principais PRDAs identificadas são mostradas na Figura 5.

Figura 5
PRDAs

Como os elementos da resiliência contribuem no sentido de minimizar o desperdício de alimentos na cadeia de suprimento?

Esta seção caracteriza e analisa como os ERs contribuem para as PRDAs e, consequentemente, para a redução das CDAs. Nesse sentido, os ERs são organizados em termos de capacidades (antecipação, adaptação, resposta, recuperação e lições) (Ali et al., 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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). O Quadro 4 mostra as relações geradas por essas proximidades, e apresenta somente as relações encontradas entre os ERs, as PRDAs e CDAs.

Quadro 4
Intersecções entre ERs, PRDAs e CDAs

Antecipação

Segundo Ali et al. (2017)Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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, esta capacidade abrange elementos proativos na identificação de rupturas e mudanças no ambiente. Consequentemente, essas interrupções não afetam as operações da cadeia de suprimento, evitando, assim, o DA. Foram encontrados sete elementos da capacidade de antecipação relacionados às PRDAs e CDAs, conforme segue.

Comunicação

Comunicação refere-se à troca de informações necessárias à redução das assimetrias entre fabricantes e fornecedores (Wieland & Wallenburg, 2013Wieland, A., & Wallenburg, C. M. (2013). The influence of relational competencies on supply chain resilience: A relational view. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, 43(4), 300-320. doi: 10.1108/IJPDLM-08-2012-0243
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). Uma vez que o DA é produzido em todos os estágios da cadeia de suprimento, as PRDAs devem incluir a comunicação entre esses estágios (Aiello, Enea & Muriana, 2015Aiello, G., Enea, M., & Muriana, C. (2015). Alternatives to the traditional waste management: Food recovery for human non-profit organizations. International Journal of Operations and Quantitative Management, 21(3), 215-239.; Derqui, Fayos & Fernandez, 2016Derqui, B., Fayos, T., & Fernandez, V. (2016). Towards a more sustainable food supply chain: Opening up invisible waste in food service. Sustainability, 8(7), 1-20. doi: 10.3390/su8070693
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). Por exemplo, informações mais precisas sobre prazos de validade nos rótulos podem reduzir assimetrias de informação entre fornecedores, varejistas e consumidores. Rótulos de data e instruções de armazenamento claros também são essenciais ao correto armazenamento dos alimentos até o seu consumo (Aschemann-Witzel, Hooge, & Normann, 2016Aschemann-Witzel, J., Hooge, I. De, & Normann, A. (2016). Consumer-related food waste: Role of food marketing and retailers and potential for action. Journal of International Food & Agribusiness Marketing, 28(3), 271-285. doi: 10.1080/08974438.2015.1110549
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). A comunicação entre os estágios de uma cadeia de suprimento de alimentos pode melhorar o desenvolvimento das embalagens. Como resultado, embalagens mais eficientes podem reduzir os danos com transporte e manuseio, que aumentam o desperdício. Um exemplo de embalagem eficiente são as frutas e vegetais pré-embalados, que reduzem o manuseio e melhoram a rotatividade nas lojas (Verghese, Lewis, Lockrey, & Williams, 2015Verghese, K., Lewis, H., Lockrey, S., & Williams, H. (2015). Packaging's role in minimizing food loss and waste across the supply chain. Packaging Technology and Science, 28(7), 603-620. doi:10.1002/pts.2127
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).

Inovação

Inovação relaciona-se com a criação/adoção de novos produto, processos ou embalagens, bem como melhorias nas tecnologias, gerando adaptabilidade (Golgeci & Ponomarov, 2013Golgeci, I.; Ponomarov, S. Y. (2013). Does firm innovativeness enable effective responses to supply chain disruptions? An empirical study. Supply Chain Management: An International Journal,18, 6,604-617. doi: 10.1108/SCM-10-2012-0331
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; Kamalahmadi & Parast, 2016Kamalahmadi, M., & Parast, M. M. (2016). A review of the literature on the principles of enterprise and supply chain resilience: Major findings and directions for future research. International Journal of Production Economics, 171, 116-133. doi: 10.1016/j.ijpe.2015.10.023
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). As inovações permitem a otimização das embalagens dos alimentos para um melhor monitoramento da qualidade, ventilação adequada e controle da temperatura, e aumentam os prazos de validade das Frutas, Legumes e Verduras (FLVs)(Shafiee-Jood & Cai, 2016Shafiee-Jood, M., & Cai, X. (2016). Reducing food loss and waste to enhance food security and environmental sustainability. Environmental Science & Technology, 50(16), 8432-8443. doi: 10.1021/acs.est.6b01993
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). Outras inovações incluem embalagens de distribuição mais eficientes para a redução de danos com transporte e manuseio, porções em quantidades mais adequadas e rótulos mais claros indicando o conteúdo e a validade, a fim de evitar o desperdício por parte do consumidor (Verghese et al. 2015Verghese, K., Lewis, H., Lockrey, S., & Williams, H. (2015). Packaging's role in minimizing food loss and waste across the supply chain. Packaging Technology and Science, 28(7), 603-620. doi:10.1002/pts.2127
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).

Tecnologia de segurança

Este ER refere-se a mecanismos de defesa precoce, como sistemas de posicionamento global e segurança digital/de informações (Rajesh & Ravi, 2015Rajesh, R., & Ravi, V. (2015). Modeling enablers of supply chain risk mitigation in electronic supply chains: A Grey-DEMATEL approach. Computers and Industrial Engineering, 87, 126-139. doi: 10.1016/j.cie.2015.04.028
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). A principal aplicação de sistemas de sensores é no sentido de monitorar os atributos dos produtos alimentares (Raak, Symmak, Zahn, Aschemann-Witzel & Rohm, 2017Raak, N., Symmank, C., Zahn, S., Aschemann-Witzel, J., & Rohm, H. (2017). Processing-and product-related causes for food waste and implications for the food supply chain. Waste Management, 61, 461-472. doi: 10.1016/j.wasman.2016.12.027
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). O uso desses sensores reduz o DA causado por temperaturas flutuantes durante o transporte e armazenamento. Jedermann, Nicometo, Uysal e Lang (2014)Jedermann, R., Nicometo, M., Uysal, I., & Lang, W. (2014). Reducing food losses by intelligent food logistics. Philosophical Transactions of the Royal Society A , 372, 1-20. doi: 10.1098/rsta.2013.0302
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mencionam que um coletor de dados com sensor embutido é crucial para o monitoramento e ajuste de desvios na temperatura das FLVs ao longo da cadeia.

Liderança

Liderança, entendida como o compromisso e o apoio da direção da empresa à criação e manutenção da resiliência da cadeia (Christopher & Peck, 2004Christopher, M., & Peck, H. (2004). Building the resilient supply chain. International Journal of Logistics Management, 15(2), 1-13. doi: 10.1108/09574090410700275
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; Kamalahmadi & Parast, 2016Kamalahmadi, M., & Parast, M. M. (2016). A review of the literature on the principles of enterprise and supply chain resilience: Major findings and directions for future research. International Journal of Production Economics, 171, 116-133. doi: 10.1016/j.ijpe.2015.10.023
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; Scholten et al., 2014Scholten, K., Scott, P. S., & Fynes, B. (2014). Mitigation processes: Antecedents for building supply chain resilience. Supply Chain Management: An International Journal, 19(2), 211-228. doi: 10.1108/SCM-06-2013-0191
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), pode influenciar as CDAs e PRDAs, na medida em que pode impactar diretamente a autonomia e o compromisso dos gestores com o desenvolvimento e implementação de uma política de qualidade. Por meio da realização de revisões gerenciais regulares e da garantia de recursos adequados (Bilska et al., 2016Bilska, B., Wrzosek, M., Kołożyn-Krajewska, D., & Krajewski, K. (2016). Risk of food losses and potential of food recovery for social purposes. Waste Management, 52, 269-277. doi: 10.1016/j.wasman.2016.03.035
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; Göbel, Langen, Blumenthal, Teitscheid, & Ritter, 2015Göbel, C., Langen, N., Blumenthal, A., Teitscheid, P., & Ritter, G. (2015). Cutting food waste through cooperation along the food supply chain. Sustainability , 7(2), 1429-1445. doi: 10.3390/su7021429
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; Gruber et al., 2015Gruber, V., Holweg, C., & Teller, C. (2015). What a waste! Exploring the human reality of food waste from the store manager's perspective. Journal of Public Policy & Marketing, 35(1), 3-25. doi: 10.1509/jppm.14.095
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), a cadeia de suprimento pode reduzir as causas do DA, tais como procedimentos de trabalho inadequados, falta de controle operacional/compartilhamento de informações/coordenação/colaboração e mudanças na aparência e forma do alimento.

Percepção dos Riscos

Percepção dos Riscos (detecção de problemas) envolve a interpretação de eventos, o planejamento para a continuidade das operações e o mapeamento das vulnerabilidades da cadeia de suprimento (Ali et al., 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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). Este elemento é influente na implementação de práticas de redução do desperdício de alimentos, tais como a utilização de tecnologias e sensores para avaliar as condições do alimento, permitindo que problemas sejam interpretados (equipamentos/processos) e respostas e estratégias de controle sejam definidas (Ali et al., 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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. Derqui et al., 2016Derqui, B., Fayos, T., & Fernandez, V. (2016). Towards a more sustainable food supply chain: Opening up invisible waste in food service. Sustainability, 8(7), 1-20. doi: 10.3390/su8070693
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).

Este aspecto também influencia a medição, interpretação e análise das previsões de vendas e produção, bem como a percepção e o monitoramento de mudanças na demanda (Raak et al., 2017Raak, N., Symmank, C., Zahn, S., Aschemann-Witzel, J., & Rohm, H. (2017). Processing-and product-related causes for food waste and implications for the food supply chain. Waste Management, 61, 461-472. doi: 10.1016/j.wasman.2016.12.027
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). Auxilia na análise das informações coletadas sobre a oferta, demanda e quantidades desperdiçadas, bem como nas decisões baseadas em informações obtidas a partir desse monitoramento (Hodges, Buzby, & Bennett, 2011Hodges, R. J., Buzby, J. C., & Bennett, B. (2011). Postharvest losses and waste in developed and less developed countries: Opportunities to improve resource use. The Journal of Agricultural Science, 149(1), 37-45. doi: 10.1017/S0021859610000936v
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).

Visibilidade

Este aspecto permite que as empresas identifiquem riscos, demandas e outras informações cruciais para a gestão e o controle da cadeia de suprimento (Kamalahmadi & Parast, 2016Kamalahmadi, M., & Parast, M. M. (2016). A review of the literature on the principles of enterprise and supply chain resilience: Major findings and directions for future research. International Journal of Production Economics, 171, 116-133. doi: 10.1016/j.ijpe.2015.10.023
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; Pettit, Fiksel, & Croxton, 2013Pettit, T. J., Fiksel, J., & Croxton, K. L. (2013). Ensuring supply chain resilience: Development of a conceptual framework. Journal of Business Logistics, 31(1), 1-22. doi: 10.1002/j.2158-1592.2010.tb00125.x
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). Bilska et al. (2016)Bilska, B., Wrzosek, M., Kołożyn-Krajewska, D., & Krajewski, K. (2016). Risk of food losses and potential of food recovery for social purposes. Waste Management, 52, 269-277. doi: 10.1016/j.wasman.2016.03.035
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argumentam que a visibilidade auxilia no planejamento do uso dos recursos, equipamentos e processos. Um entendimento claro da cadeia de suprimento e dos consumidores permite a identificação das áreas que requerem informações mais apropriadas em termos de rótulos e apresentação do produto nas prateleiras (Mena et al., 2014Mena, C., Terry, L. A., Williams, A., & Ellram, L. (2014). Causes of waste across multi-tier supply networks: Cases in the UK food sector. International Journal of Production Economics, 152, 144-158. doi: 10.1016/j.ijpe.2014.03.012
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; Verghese et al., 2015Verghese, K., Lewis, H., Lockrey, S., & Williams, H. (2015). Packaging's role in minimizing food loss and waste across the supply chain. Packaging Technology and Science, 28(7), 603-620. doi:10.1002/pts.2127
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).

Gestão do conhecimento

Este aspecto inclui a revisão das políticas de liderança da empresa, bem como de fatores relacionados ao conhecimento acumulado dos gestores, no sentido de adotar ações efetivas em caso de eventos disruptivos (Sahu & Mahapatra, 2017Sahu, A. K., & Mahapatra, S. D. (2017). Evaluation of performance index in resilient supply chain: A fuzzy-based approach. Benchmarking: An International Journal, 24(1), 118-142. doi: 10.1108/BIJ-07-2015-0068
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; Scholten et al., 2014Scholten, K., Scott, P. S., & Fynes, B. (2014). Mitigation processes: Antecedents for building supply chain resilience. Supply Chain Management: An International Journal, 19(2), 211-228. doi: 10.1108/SCM-06-2013-0191
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). Scholten et al. (2014)Scholten, K., Scott, P. S., & Fynes, B. (2014). Mitigation processes: Antecedents for building supply chain resilience. Supply Chain Management: An International Journal, 19(2), 211-228. doi: 10.1108/SCM-06-2013-0191
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concluíram que experiências anteriores, lições aprendidas e capacitação podem auxiliar na recuperação de rupturas. De acordo com Scholten e Schilder (2015)Scholten, K., Schilder S., (2015). The role of collaboration in supply chain resilience. Supply Chain Management: An International Journal, 20(4), 471-484. doi: 10.1108/SCM-11-2014-0386
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e Kamalahmadi e Parast (2016)Kamalahmadi, M., & Parast, M. M. (2016). A review of the literature on the principles of enterprise and supply chain resilience: Major findings and directions for future research. International Journal of Production Economics, 171, 116-133. doi: 10.1016/j.ijpe.2015.10.023
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, a capacidade de gerir conhecimentos deriva da formação, acesso à informação ou de experiência adquirida em rupturas anteriores. Reflete a necessidade das organizações de compartilhar informações com outros elos em suas cadeias de suprimento, uma vez que o conhecimento geralmente tende a se limitar a alguns indivíduos, aumentando, assim, a frequência de causas relacionadas à falta de compartilhamento de informações (Canali et al., 2016Canali, M., Amani, P., Aramyan, L., Gheoldus, M., Moates, G., Östergren, K., & Vittuari, M. (2016). Food waste drivers in europe, from identification to possible interventions. Sustainability, 9(1), 1-33. doi: 10.3390/su9010037
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).

Campanhas de redução e prevenção do desperdício têm sido inspiradas em iniciativas anteriores ou reconhecidas por outras subsequentes (Thyberg & Tonjes, 2016Thyberg, K. L., & Tonjes, D. J. (2016). Drivers of food waste and their implications for sustainable policy development. Resources, Conservation and Recycling, 106, 110-123. doi: 10.1016/j.resconrec.2015.11.016
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). De acordo com Aschermann-Witzel et al. (2016), isto reforça a importância de promover e facilitar a divulgação do conhecimento sobre iniciativas existentes ao longo da cadeia. O conhecimento dos funcionários sobre manuseio seguro ajuda a reduzir o DA (Bilska et al. 2016Bilska, B., Wrzosek, M., Kołożyn-Krajewska, D., & Krajewski, K. (2016). Risk of food losses and potential of food recovery for social purposes. Waste Management, 52, 269-277. doi: 10.1016/j.wasman.2016.03.035
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). O nível de conscientização dos gestores e funcionários sobre o manuseio seguro dos alimentos, bem como sua capacidade de comunicar problemas, possibilita a troca de ideias e a prevenção e redução do DA (Gruper et al., 2015).

Bilska et al. (2016)Bilska, B., Wrzosek, M., Kołożyn-Krajewska, D., & Krajewski, K. (2016). Risk of food losses and potential of food recovery for social purposes. Waste Management, 52, 269-277. doi: 10.1016/j.wasman.2016.03.035
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afirmam que treinamentos devem ser realizados regularmente a fim de atualizar conhecimentos, implementar mudanças comportamentais e melhorar o compromisso dos funcionários com a tarefa de prevenir o DA. O conhecimento acumulado por gestores e diretores pode influenciar positivamente a redução do desperdício, e pode ser transmitido a funcionários e outros agentes da cadeia para fins de tomada de decisões (Gardas, Raut & Narkhede, 2017Gardas, B. B., Raut, R. D., & Narkhede, B. (2017). Modeling causal factors of post-harvesting losses in vegetable and fruit supply chain: An Indian perspective. Renewable and Sustainable Energy Reviews, 80, 1355-1371. doi: 10.1016/j.rser.2017.05.259
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).

Adaptação

Esta capacidade abrange habilidades concorrentes necessárias à gestão e ao ajuste de recursos críticos da cadeia de suprimento em momentos de ruptura, por meio da adaptação orientada para mudanças rápidas e oportunas (Ali et al., 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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). Verificou-se que dois elementos pertencentes à categoria ‘capacidade de adaptação’ estão relacionados às PRDAs e CDAs.

Flexibilidade

Flexibilidade, entendida como a capacidade de alterar um processo ou rede logística/de clientes ou de produtos/fornecedores, pode impactar a jornada dos produtos a mercados secundários, o que pode ser garantido pela presença de redes logísticas flexíveis e pelos processos internos das empresas direcionados à reclassificação de produtos, para que sejam destinados a outros mercados (Garrone, Melacini, & Perego, 2014Garrone, P., Melacini, M., & Perego, A. (2014). Surplus food recovery and donation in Italy: The upstream process. British Food Journal, 116(9), 1460-1477. doi: 10.1108/BFJ-02-2014-0076
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). Em outras palavras, a flexibilidade permite que produtos excedentes ou com padrões de qualidade mais baixos sejam requalificados ou reorientados, o que, por sua vez, reduz o desperdício. Holweg et al. (2016)Holweg, C., Teller, C., & Kotzab, H. (2016). Unsaleable grocery products, their residual value and instore logistics. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, 46(6/7), 634-658. doi: /10.1108/IJPDLM-11-2014-0285
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afirmam que a flexibilidade permite que produtos sejam reorientados para outras áreas, contribuindo, assim, para reduzir o desperdício gerado por erros ou mudanças inesperadas na demanda.

Redundância como barreira

A literatura revisada apoia a ideia de que este elemento pode influenciar negativamente as práticas de redução; ele não contribui para reduzir o desperdício, e pode até aumentá-lo. De acordo com Gruber et al. (2015)Gruber, V., Holweg, C., & Teller, C. (2015). What a waste! Exploring the human reality of food waste from the store manager's perspective. Journal of Public Policy & Marketing, 35(1), 3-25. doi: 10.1509/jppm.14.095
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, isso se deve ao fato de os gestores exigirem uma maior quantidade de produtos a fim de garantir um ‘estoque de segurança’ temporário. Mena et al. (2014)Mena, C., Terry, L. A., Williams, A., & Ellram, L. (2014). Causes of waste across multi-tier supply networks: Cases in the UK food sector. International Journal of Production Economics, 152, 144-158. doi: 10.1016/j.ijpe.2014.03.012
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afirmam que há uma tendência de manter estoques em excesso porque os gestores preferem perder produtos excedentes do que ter falta de produtos necessários. Eles também sugerem que mudanças neste comportamento poderiam ajudar a reduzir o desperdício.

A redundância pode prejudicar certas práticas em um estágio da cadeia de suprimento, levando, assim, ao DA em outros. Por exemplo, isso pode ocorrer quando há uma redução no nível de estoque em uma loja de varejo, tornando necessária a disponibilidade de estoques nos fornecedores, transferindo, assim, o risco a um estágio anterior da cadeia (Göbel et al., 2015Göbel, C., Langen, N., Blumenthal, A., Teitscheid, P., & Ritter, G. (2015). Cutting food waste through cooperation along the food supply chain. Sustainability , 7(2), 1429-1445. doi: 10.3390/su7021429
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).

Resposta

Esta capacidade abrange os elementos necessários para reagir rápida e eficientemente a eventos na cadeia de suprimento, a fim de mitigar o impacto das rupturas. Refere-se à resposta imediata da empresa a mudanças repentinas e significativas no ambiente na forma de demanda incerta, mantendo o controle e oferecendo uma primeira resposta às rupturas (Ali et al., 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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). Verificou-se que a colaboração é o elemento desta área que está relacionado com as PRDAs e CDAs.

Colaboração

Uma vez que o desperdício pode ser produzido em todos os estágios da cadeia, a colaboração - indivíduos ou entidades trabalhando juntos de forma eficaz e obtendo benefícios mútuos em situações de ruptura (Johnson, Elliott, & Drake, 2013Johnson, N., Elliott, D., & Drake, P. (2013). Exploring the role of social capital in facilitating supply chain resilience. Supply Chain Management: An International Journal, 18(3), 324-336. doi: 10.1108/SCM-06-2012-0203
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; Pettit et al., 2013Pettit, T. J., Fiksel, J., & Croxton, K. L. (2013). Ensuring supply chain resilience: Development of a conceptual framework. Journal of Business Logistics, 31(1), 1-22. doi: 10.1002/j.2158-1592.2010.tb00125.x
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) - é necessária. A colaboração influencia os dois tópicos iniciais, uma vez que as ações de um elo da cadeia contribuem, seja positiva ou negativamente, para os outros elos (Aiello et al., 2015Aiello, G., Enea, M., & Muriana, C. (2015). Alternatives to the traditional waste management: Food recovery for human non-profit organizations. International Journal of Operations and Quantitative Management, 21(3), 215-239.). A falta de colaboração pode gerar um contexto em que cada empresa envolvida tentará otimizar seus processos, levando a um acúmulo de desperdício nos estágios a montante ou a jusante da cadeia (Göbel et al., 2015Göbel, C., Langen, N., Blumenthal, A., Teitscheid, P., & Ritter, G. (2015). Cutting food waste through cooperation along the food supply chain. Sustainability , 7(2), 1429-1445. doi: 10.3390/su7021429
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). Assim, faz-se necessário colaborar com os parceiros de logística e fornecedores (Derqui et al., 2016Derqui, B., Fayos, T., & Fernandez, V. (2016). Towards a more sustainable food supply chain: Opening up invisible waste in food service. Sustainability, 8(7), 1-20. doi: 10.3390/su8070693
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; Gruber et al., 2015Gruber, V., Holweg, C., & Teller, C. (2015). What a waste! Exploring the human reality of food waste from the store manager's perspective. Journal of Public Policy & Marketing, 35(1), 3-25. doi: 10.1509/jppm.14.095
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).

Além disso, agências governamentais federais, estaduais e locais precisam colaborar tanto com o setor privado (varejo, grupos comunitários, ONGs e a indústria onde ocorre o desperdício, por exemplo) quanto com o setor público, a fim de unir esforços para reduzir o DA e aceitar a responsabilidade compartilhada (Hodges et al., 2011Hodges, R. J., Buzby, J. C., & Bennett, B. (2011). Postharvest losses and waste in developed and less developed countries: Opportunities to improve resource use. The Journal of Agricultural Science, 149(1), 37-45. doi: 10.1017/S0021859610000936v
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).

Recuperação

Esta capacidade refere-se aos elementos reativos essenciais nos momentos subsequentes a uma ruptura, a fim de avaliar quais planos podem ser ativados nesta fase (por ex., ajustes na participação de mercado e na eficiência organizacional, reconfiguração da cadeia de suprimento, análise de cenário) (Ali et al. 2017Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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). Nesta categoria de capacidades, verificou-se que o elemento saúde financeira está relacionado às PRDAs e CDAs, entretanto agindo como barreira.

Saúde financeira como barreira

Este elemento abrange a capacidade da empresa de absorver possíveis flutuações no fluxo de caixa, oferecer incentivos econômicos e manter fornecedores adicionais (Pettit et al., 2013Pettit, T. J., Fiksel, J., & Croxton, K. L. (2013). Ensuring supply chain resilience: Development of a conceptual framework. Journal of Business Logistics, 31(1), 1-22. doi: 10.1002/j.2158-1592.2010.tb00125.x
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). A saúde financeira pode ser considerada como uma barreira, pois a eficiência econômica prevalece na tomada de decisões, podendo restringir vários investimentos necessários à implementação de práticas de redução. Isto pode estimular o uso de sistemas de logística ou meios de transporte mais baratos, e levar a problemas de estoque, fazendo com que os produtos alimentícios viagem distâncias mais longas e necessitem de manipulação com maior frequência, aumentando, assim, o risco das causas relacionadas ao grupo método (Mena et al., 2011Mena, C., Adenso-Diaz, B., & Yurt, O. (2011). The causes of food waste in the supplier-retailer interface: Evidences from the UK and Spain. Resources, Conservation and Recycling, 55(6), 648-658. doi: 10.1016/j.resconrec.2010.09.006
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).

Este é um importante fator por trás da falta de investimentos em capacitação e benefícios monetários e não monetários, tais como bônus aos funcionários. Gruber et al. (2015)Gruber, V., Holweg, C., & Teller, C. (2015). What a waste! Exploring the human reality of food waste from the store manager's perspective. Journal of Public Policy & Marketing, 35(1), 3-25. doi: 10.1509/jppm.14.095
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descobriram que, segundo varejistas, é mais barato jogar alimentos fora do que investir na capacitação de funcionários para lidar com problemas do DA.

AGENDA DE PESQUISA

Este estudo identificou várias relações entre a resiliência e a redução no DA. São apresentadas, a seguir, algumas das principais descobertas, bem como direcionamentos de pesquisa sugeridos para o desenvolvimento futuro do campo. Primeiramente, considerando o número de causas (ver o Quadro 4), a conclusão é que quatro ERs (liderança, gestão do conhecimento, colaboração e flexibilidade) estão amplamente relacionados às PRDAs e CDAs. Os primeiros dois elementos possuem maior influência sobre os grupos de causas e práticas método e pessoas (particularmente na coordenação e na comunicação), enquanto a flexibilidade contribui para os grupos método e medição.

Em segundo lugar, a maioria dos ERs que ajudam a reduzir o DA estão relacionados à capacidade de antecipá-lo, uma vez que um maior número de relações foi identificado neste estágio. Este resultado difere da percepção de que o DA é geralmente uma consequência inevitável de eventos incontroláveis, como citado por Muriana (2017)Muriana, C. (2017). A focus on the state of the art of food waste/losses issue and suggestions for future researches. Waste Management, 68, 557-570. doi: 10.1016/j.wasman.2017.06.047
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. Assim, considerando a capacidade de antecipá-lo, é possível que as empresas consigam responder antecipadamente à ocorrência do desperdício, e apenas em casos secundários considerem a recuperação, doação (Aiello et al., 2015Aiello, G., Enea, M., & Muriana, C. (2015). Alternatives to the traditional waste management: Food recovery for human non-profit organizations. International Journal of Operations and Quantitative Management, 21(3), 215-239.; Bilska et al., 2016Bilska, B., Wrzosek, M., Kołożyn-Krajewska, D., & Krajewski, K. (2016). Risk of food losses and potential of food recovery for social purposes. Waste Management, 52, 269-277. doi: 10.1016/j.wasman.2016.03.035
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; Garrone et al., 2014Garrone, P., Melacini, M., & Perego, A. (2014). Surplus food recovery and donation in Italy: The upstream process. British Food Journal, 116(9), 1460-1477. doi: 10.1108/BFJ-02-2014-0076
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) ou usos industriais (Girotto, Alibardi, & Cossu, 2015Girotto, F., Alibardi, L., & Cossu, R. (2015). Food waste generation and industrial uses: A review. Waste Management, 45, 32-41. doi: 10.1016/j.wasman.2015.06.008
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) para o alimento.

Em terceiro lugar, com relação à classificação Ishikawa das CDAs e PRDAs, observou-se que a maioria das causas e práticas identificadas foram classificadas no grupo método. Esta predominância indica a grande influência exercida pelos métodos de trabalho interno das empresas de varejo - tais como procedimentos e políticas relacionadas a qualidade, logística, procedimentos de apresentação dos produtos, gestão e medição do desperdício - sobre a geração do DA, conforme indicado por Moraes et al. (2020)Moraes, C. C., Costa, O. F. H., Pereira, C. R. , Silva, A. L. , & Delai, I. (2020). Retail food waste: Mapping causes and reduction practices. Journal of Cleaner Production, 256, 1-16. doi: 10.1016/j.jclepro.2020.120124
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. O segundo grupo mais relevante está ligado a pessoas, o que destaca a necessidade de expandir o engajamento interno nas organizações, principalmente por meio do desenvolvimento de práticas como treinamentos para a redução/prevenção do desperdício, e a conscientização dos funcionários sobre o desperdício. Estas ações também devem ser estendidas a todos os níveis das cadeias de suprimento, permitindo que uma abordagem sistêmica da cadeia de suprimento de alimentos seja desenvolvida e estimulada.

Nota-se que os elementos da resiliência podem influenciar as CDAs e PRDAs tanto positivamente quanto negativamente. A maioria dos elementos da resiliência que ajudam a reduzir as CDAs são classificados na capacidade de antecipar, conforme definido por Ali et al. (2017)Ali, A., Mahfouz, A., & Arisha, A. (2017). Analysing supply chain resilience: Integrating the constructs in a concept mapping framework via a systematic literature review. Supply Chain Management: An International Journal, 22(1), 16-39. doi: 10.1108/SCM-06-2016-0197
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. Corrobora-se, assim, o trabalho de Holweg et al. (2016)Holweg, C., Teller, C., & Kotzab, H. (2016). Unsaleable grocery products, their residual value and instore logistics. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, 46(6/7), 634-658. doi: /10.1108/IJPDLM-11-2014-0285
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, que indicou que, uma vez que os alimentos possuem um prazo de validade curto, perdem valor se não forem vendidos, processados ou doados a tempo. Quando ocorrem rupturas, portanto, o desperdício ocorrerá se não houver respostas rápidas e eficazes a elas. A fim de evitar o desperdício, o impacto das quebras na cadeia deve ser minimizado ou evitado antes que ocorra; por isso, a capacidade de antecipar o DA deve ser enfatizada nas cadeias de suprimento de alimentos

Finalmente, são apresentadas sugestões para avançar a agenda de pesquisa com relação a como os ERs podem influenciar as PRDAs e/ou CDAs. Essas sugestões foram desenvolvidas levando em consideração os resultados mencionados anteriormente, bem como a observação de que os ERs e o DA têm sido, até o momento, estudados de forma dissociada e incipiente. Destacando os principais tópicos que não foram discutidos na literatura existente, sugere-se os seguintes caminhos para pesquisas futuras:

  • Liderança, gestão do conhecimento, colaboração e flexibilidade podem ajudar empresas focais a desenhar a estrutura da cadeia de suprimento em busca de reduzir o DA. Segundo Scavarda, Ceryno, Pires e Klingebiel (2015)Scavarda, L. F., Ceryno, P. S., Pires, S., & Klingebiel, K. (2015). Supply chain resilience analysis: A Brazilian automotive case. RAE-Revista de Administração de Empresas, 55(3), 304-313. doi:.1590/S0034-759020150306v
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    , os membros de uma cadeia de suprimento podem comprometer a construção da resiliência na cadeia como um todo, por isso, é importante alinhar as capacidades de resiliência de todos os membros da cadeia.

  • Liderança, gestão do conhecimento, colaboração e flexibilidade são os principais ERs para lidar com as PRDAs e CDAs resultantes de várias fontes. Estudos futuros podem analisar quais tecnologias digitais e virtuais podem ajudar os varejistas a melhorar a coordenação e o compartilhamento de informações dentro e ao longo da cadeia de suprimento e de que forma isso pode ser feito.

Estudos aprofundados abordando os ERs mencionados (ver o Quadro 4) poderiam ser realizados para identificar melhores práticas, a fim de desenvolver diretrizes para varejistas sobre como aplicá-los para reduzir as CDAs. Essas práticas incluem: comunicação com membros da cadeia, treinamento para a redução/prevenção do desperdício de alimentos e conscientização dos funcionários sobre o desperdício, autonomia de gestão, qualidade da empresa, canais secundários/práticas de uso do excedente por outros elos e previsões mais precisas de demanda.

Vale a pena estudar em profundidade fatores críticos de sucesso, a fim de desenvolver ERs voltados às causas dos grupos método e pessoas.

É importante também investigar se as empresas vêm adotando ou não os ERs como meio de alcançar objetivos de desenvolvimento sustentável com relação ao DA, particularmente fome zero e consumo e produção responsáveis.

Estudar estes assuntos utilizando abordagens teóricas é outro caminho possível de pesquisa. A Teoria da Dependência de Recursos pode ser útil para observar a influência de recursos externos sobre os varejistas e se há uma relação de dependência entre as várias organizações que formam a cadeia (Pfeffer & Salancik, 2003Pfeffer, J., & Salancik, G. R. (2003). The external control of organizations: A resource dependence perspective (2nd ed.). Stanford, USA: Stanford University Press.). Outra oportunidade poderia ser a utilização da Visão Baseada em Recursos para entender as condições internas de uma empresa ser capaz, por exemplo, de desenvolver capacidades de resiliência por meio da observação e análise de como os recursos são adquiridos, combinados e aplicados, resultando em vantagem competitiva (Barney, 1991Barney, J. B. (1991). Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, 17(1), 99-120. doi: 10.1177/014920639101700108
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).

Expandir o foco da análise para além do varejo, de modo a observar a cadeia de suprimento de alimentos como um todo, incluindo os aspectos da produção, processamento, distribuição e consumo. Isto pode ser útil para analisar se os ERs e o DA agem diferentemente em diferentes estágios da cadeia de suprimento. Neste caso, a cultura é uma variável importante a ser considerada.

COMENTÁRIOS FINAIS

A principal contribuição teórica deste artigo é que ele identifica a sinergia existente entre a resiliência e a redução do desperdício de alimentos. Nesse sentido, esta pesquisa buscou apresentar a literatura sobre resiliência (especificamente seus elementos) como uma abordagem para explicar o problema do desperdício de alimentos em cadeias de suprimento (especificamente no estágio do varejo). Apontou-se que nem todos os ERs podem ajudar a reduzir o desperdício de alimentos, como é o caso da redundância e da saúde financeira. A maioria dos elementos que podem ajudar a reduzir o desperdício de alimentos está relacionada à capacidade de antecipá-lo. Este achado difere da visão de que o desperdício de alimentos é geralmente considerado uma consequência inevitável de fatores incontroláveis. Gerencialmente, auxilia os gestores de varejo a melhor identificar quais práticas são apropriadas para mitigar as causas do DA, e a desenvolver certos ERs.

Como todas as pesquisas, este estudo possui algumas limitações. Primeiramente, a unidade de análise utilizada abrange apenas uma parte da cadeia de suprimento e seus problemas específicos relacionados ao desperdício de alimentos. Apesar de fazer parte de um estudo mais amplo, este artigo não inclui dados empíricos, ficando os resultados presentes limitados a um enfoque teórico. Em segundo lugar, não se pode inferir que não há relação entre ERs, PRDAs e CDAs para elementos que não foram discutidos neste artigo.

  • Avaliado pelo processo double-blind review. Editores convidados: Luciana Marques Vieira, Marcia Dutra de Barcellos, Gustavo Porpino de Araujo, Mattias Eriksson, Manoj Dora e Daniele Eckert Matzembacher

AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa foi apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), [Bolsa n. 2017/00763-5]. Contou também com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), [Código de financiamento 001] e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), [código 305819/2016-0].

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    20 Abr 2020
  • Aceito
    31 Mar 2021
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