Acessibilidade / Reportar erro

CONTRIBUIÇÕES DOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA PÓS-COLONIAL: UMA REVISÃO CRÍTICA

RESUMO

A literatura dominante sobre negócios internacionais tem desempenhado um papel fundamental em um processo internacional assimétrico ao priorizar o poder hegemônico e o domínio dos países desenvolvidos. As práticas desse imperialismo, especialmente por empresas multinacionais, estão tradicionalmente enraizadas em legados coloniais. Este artigo, portanto, tem como objetivo revisar a pesquisa teórica e empírica sobre negócios internacionais sob a perspectiva crítica do pós-colonialismo. Os resultados mostram que as empresas multinacionais possuem vantagens sobre o país anfitrião, sugerindo, ainda, traços de domínio entre colonizadores e ex-colônias. Especificamente, os resultados mostram que tópicos sobre linguagem, escravidão, mecanismos de controle e imperialismo e capitalismo são dominantes no campo dos negócios internacionais, sugerindo um forte efeito do colonialismo histórico nas atividades comerciais internacionais. A análise crítica fundamentada em perspectivas pós-coloniais e de negócios internacionais chama a atenção para algumas vertentes negligenciadas, senão intocadas, com lacunas substanciais no conhecimento prevalente, abrindo novos caminhos para pesquisas futuras.

Palavras-chave:
Negócios internacionais; multinacionais; colonialismo; pós-colonialismo; teoria pós-colonial

ABSTRACT

The mainstream literature on international business has played a key role in an asymmetric international process by prioritizing hegemonic power and dominance of developed countries. Practices of this Imperialism, especially by multinational companies, are traditionally rooted in colonial legacies. This article reviews the theoretical and empirical research on international business from the critical perspective of post-colonialism. The findings show that multinational enterprises possess advantages over their host country, suggesting further traces of dominance between colonizers and former colonies. Specifically, findings show that topics around language, slavery, control mechanisms, imperialism, and capitalism are dominant in the field of international business, suggesting a strong effect of historical colonialism on international business activities. The critical analysis grounded on post-colonial and international business perspectives draw attention to some neglected, if not untouched, strands with substantial gaps in the prevalent knowledge, opening new avenues for future research.

Keywords:
International Business; multinationals; colonialism; post-colonialism; postcolonial theory

RESUMEN

La literatura dominante sobre negocios internacionales ha jugado un papel clave en un proceso internacional asimétrico al priorizar el poder hegemónico y el dominio de los países desarrollados. Las prácticas de este imperialismo, especialmente por parte de empresas multinacionales, están tradicionalmente arraigadas en legados coloniales. Este artículo, por lo tanto, tiene como objetivo revisar la investigación teórica y empírica sobre los negocios internacionales desde la perspectiva crítica del poscolonialismo. Los hallazgos muestran que las empresas multinacionales poseen ventajas sobre su país anfitrión, lo que sugiere más rastros de dominio entre los colonizadores y las excolonias. Específicamente, los hallazgos muestran que los temas relacionados con el idioma, la esclavitud, los mecanismos de control, el imperialismo y el capitalismo son dominantes en el campo de los negocios internacionales, lo que sugiere un fuerte efecto del colonialismo histórico en las actividades comerciales internacionales. El análisis crítico basado en las perspectivas poscoloniales y de negocios internacionales llama la atención sobre algunos aspectos descuidados, si no intactos, con brechas sustanciales en el conocimiento predominante, abriendo nuevas vías para futuras investigaciones.

Palabras clave:
Negocios Internacionales; multinacionales; colonialismo; poscolonialismo; teoría poscolonial

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os estudos de Negócios Internacionais (NI) tiveram um desenvolvimento significativo e emergiram como um conceituado campo para o entendimento das atividades internacionais de corporações multinacionais (EMNs) (Meyer, 2017Meyer, K. E. (2017). International business in an era of anti-globalization. Multinational Business Review, 25(2), 78-90. https://doi.org/10.1108/MBR-03-2017-0017
https://doi.org/10.1108/MBR-03-2017-0017...
; Yeganeh, 2020Yeganeh, H. (2020). A critical examination of the social impacts of large multinational corporations in the age of globalization. Critical Perspectives on International Business, 16(3), 193-208. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0001
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-00...
). Um grande número de estudiosos de NI examinou os determinantes que levam as empresas a exercer atividades para além das fronteiras de seus países de origem, como a atratividade da localização, as vantagens relacionadas a estrutura de propriedade específica da empresa e suas competências específicas, o modelo Uppsala e as vantagens das companhias em um país anfitrião (Buckley & Casson, 1976Buckley, P. J., & Casson, M. (1976). The future of the multinational enterprise. Macmillan Press.; Dunning, 1998; Hymer, 1960Hymer S. H. (1960). The international operation of national firms: A study of direct foreign investment (Ph.D. dissertation, Massachusetts Institute of Technology). (Published by MIT Press, 1966).; Johanson & Vahlne, 1977Johanson, J., & Vahlne, J.-E. (1977). The internationalization process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of International Business Studies, 8, 23-32. https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490676
https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.84...
). Além disso, a literatura dominante sobre NI frequentemente prioriza a atividade e os determinantes de desempenho das EMNs em diferentes países anfitriões (Buckley, 2021Buckley, P. J. (2021). The role of history in international business: Evidence, research practices, methods and theory. British Journal of Management, 1-15. https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446
https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446...
), enquanto estudos argumentam que as economias emergentes apresentam problemas institucionais (Jacob et al., 2022Jacob, D., Svystunova, L., & Rao-Nicholson, R. (2022). MNE post-entry institutional strategies in emerging markets: An organizational field position perspective. European Management Review, 19(1), 53-74. https://doi.org/10.1111/emre.12472
https://doi.org/10.1111/emre.12472...
; Peng, 2003Peng, M. W. (2003). Institutional transitions and strategic choices. Academy of Management Review, 28(2), 275-296. https://doi.org/10.5465/amr.2003.9416341
https://doi.org/10.5465/amr.2003.9416341...
) que podem prejudicar suas atividades.

Assim, o campo de NI foi originalmente desenvolvido com base no comportamento de empresas de países desenvolvidos, especialmente dos Estados Unidos e de países do continente europeu (Guedes & Faria, 2010Guedes, A. L., & Faria, A. (2010). International management, business and relations in Latin America. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 145-161. https://doi.org/10.1108/17422041011049969
https://doi.org/10.1108/1742204101104996...
). Os estudos convencionais de NI fornecem as condições necessárias para dominar práticas e “culturas” locais e introduzir/transferir teorias e conhecimentos “globais” (Ibarra-Colado et al., 2010Ibarra-Colado, E., Faria, A., & Guedes, A. L. (2010). Introduction to the special issue on “Critical international management and international critical management: perspectives from Latin America”. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 86-96. https://doi.org/10.1108/17422041011049923
https://doi.org/10.1108/1742204101104992...
). Isso permite a expansão do espaço neoimperial por meio da teoria dominante da globalização e, assim, acelera rapidamente o mundo para o estágio de homogeneidade global (Boussebaa & Morgan, 2014Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
; Fatehi & Taasoobshirazi, 2020Fatehi, K., & Taasoobshirazi, G. (2020). Contemplating the future: Mutating capitalism. Thunderbird International Business Review, 62(2), 161-169. https://doi.org/10.1002/tie.22113
https://doi.org/10.1002/tie.22113...
). Alternativamente, o campo de NI ganhou novo impulso a partir do ano 2000, quando estudos desenvolvidos sobre perspectivas críticas começaram a discutir a lógica universal dentro dos estudos de NI, enfatizando visões de diferentes países, culturas e valores (Banerjee & Linstead, 2001Banerjee, S. B., & Linstead, S. (2001). Globalization, multiculturalism and other fictions: Colonialism for the new millennium? Organization, 8(4), 683-722. https://doi.org/10.1177/135050840184006
https://doi.org/10.1177/135050840184006...
; Cairns, 2019Cairns, G. M. (2019). Critical engagement in international business: Creating meaning for a broad constituency. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 262-272. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0004
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-00...
).

Existe um entendimento de que o progresso científico no campo - a exemplo do surgimento da revista Critical Perspectives on International Business (CPoIB) - deu impulso para o desenvolvimento de estudos críticos relevantes sobre NI (por exemplo, Roberts & Dörrenbächer, 2012Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2012). The futures of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 8(1), 4-13. https://doi.org/10.1108/17422041211197530
https://doi.org/10.1108/1742204121119753...
) para ganhar força, quantidade e amplitude geográfica contra a teoria convencional. Desde então, esses estudos vêm argumentando que a pesquisa sobre NI contribui reforçando o domínio e perpetuação dos países desenvolvidos sobre os ainda em desenvolvimento, porém, sem considerar os amplos impactos sociais e econômicos significativos de suas atividades (Cairns, 2019Cairns, G. M. (2019). Critical engagement in international business: Creating meaning for a broad constituency. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 262-272. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0004
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-00...
). No entanto, a pesquisa ainda carece de interesse e extensão em confrontar as externalidades das atividades das EMNs, especialmente em economias emergentes, amplamente exploradas em face de seus laços coloniais com nações imperiais (Boussebaa & Morgan, 2014Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
; Glaister et al., 2020Glaister, K. W., Driffield, N., & Lin, Y. (2020). Foreign direct investment to Africa: Is there a colonial legacy? Management International Review, 60, 315-349. https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415-w
https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415...
; Meouloud et al., 2019Meouloud, T. A., Mudambi, R., & Hill, T. L. (2019). The Metropolitan effect: Colonial influence on the internationalization of Francophone African firms. Management and Organization Review, 15(1), 31-53. https://doi.org/10.1017/mor.2019.3
https://doi.org/10.1017/mor.2019.3...
; Sayed & Agndal, 2022Sayed, Z., & Agndal, H. (2022). Offshore outsourcing of R&D to emerging markets: Information systems as tools of neo-colonial control. Critical Perspectives on International Business, 18(3), 281-302. https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-0089
https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-00...
).

Apesar de todos os esforços e contribuições de pesquisas anteriores (por exemplo, Roberts & Dörrenbächer, 2012Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2012). The futures of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 8(1), 4-13. https://doi.org/10.1108/17422041211197530
https://doi.org/10.1108/1742204121119753...
, 2014Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2014). Challenging the orthodox: A decade of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 10, 2-20. https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-0053
https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-00...
), foi aplicada menos ênfase na relação entre a atividade de NI e o pós-colonialismo. Então, os principais estudos de NI ainda permanecem obscuros e carecem de objetividade na abordagem de como as atividades de NI e EMNs estão intimamente ligadas à paisagem colonial do passado. Para preencher essa lacuna, esse artigo busca revisar a literatura teórica e empírica sobre NI a partir da perspectiva crítica do pós-colonialismo. Ao selecionar especificamente os campos de NI e pós-colonialismo (Dörrenbächer & Gammelgaard, 2019Dörrenbächer, C., & Gammelgaard, J. (2019). Critical and mainstream international business research: Making critical IB an integral part of a societally engaged international business discipline. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 239-261. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-...
; Westwood & Jack, 2007Westwood, R., & Jack, G. (2007). Manifesto for a post-colonial international business and management studies. Critical Perspectives on International Business and Management Studies, 3(3), 246-265. https://doi.org/10.1108/17422040710775021
https://doi.org/10.1108/1742204071077502...
), estabelecemos o escopo da análise na esperança de esclarecer as contribuições dos estudos de NI propondo uma revisão e agenda de pesquisa futura. Nossa motivação decorre da constatação de que a maioria desses estudos se apoia em amplas discussões oriundas do processo de internacionalização (Buckley, 1988Buckley, P. J. (1988) The Limits of Explanation: Testing the Internalization Theory of the Multinational Enterprise. Journal of International Business Studies, 19, 181-193. http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490382
http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs....
; 2021Buckley, P. J. (2021). The role of history in international business: Evidence, research practices, methods and theory. British Journal of Management, 1-15. https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446
https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446...
), enquanto especificidades históricas sobre o processo de expansão das EMNs ligadas ao colonialismo permanecem pouco exploradas.

Existem algumas contribuições que merecem ser mencionadas. Ao adotar uma perspectiva pós-colonial, levamos explicitamente em consideração o papel da atividade moderna de NI e colocamos em xeque suas contribuições em uma perspectiva crítica. Nossa pesquisa contribui para estudos críticos de NI, uma vez que a literatura crítica está amadurecendo no sentido de encaminhar este campo para um próximo nível (por exemplo, Dörrenbächer & Gammelgaard, 2019Dörrenbächer, C., & Gammelgaard, J. (2019). Critical and mainstream international business research: Making critical IB an integral part of a societally engaged international business discipline. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 239-261. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-...
; Roberts & Dörrenbächer, 2012Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2012). The futures of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 8(1), 4-13. https://doi.org/10.1108/17422041211197530
https://doi.org/10.1108/1742204121119753...
, 2014Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2014). Challenging the orthodox: A decade of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 10, 2-20. https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-0053
https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-00...
). Essa literatura ainda está entrando em sua juventude, marcando um passo significativo no surgimento há muito atrasado de estudos críticos como perspectivas alternativas sobre a nova ordem global (Murphy, 2006Murphy, J. (2006). Critical challenges in the emerging global managerial order. Critical Perspectives on International Business, 2(2), 128-146. https://doi.org/10.1108/17422040610661307
https://doi.org/10.1108/1742204061066130...
). Contribuímos, para tanto, com uma análise crítica sob as lentes do pós-colonialismo na identificação das principais contribuições do NI em uma economia moderna e globalizada. Ampliamos estudos anteriores (Boussebaa et al., 2014Boussebaa, M., Sinha, S., & Gabriel, Y. (2014). Englishization in offshore call centers: A postcolonial perspective. Journal of International Business Studies, 45, 1152-1169. https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25
https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25...
; Westwood & Jack, 2007Westwood, R., & Jack, G. (2007). Manifesto for a post-colonial international business and management studies. Critical Perspectives on International Business and Management Studies, 3(3), 246-265. https://doi.org/10.1108/17422040710775021
https://doi.org/10.1108/1742204071077502...
), revisando criticamente a literatura de NI para desvendar como esse campo está vinculado a legados pós-coloniais (Glaister et al., 2020Glaister, K. W., Driffield, N., & Lin, Y. (2020). Foreign direct investment to Africa: Is there a colonial legacy? Management International Review, 60, 315-349. https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415-w
https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415...
). Distintamente, respondemos assim a um apelo em prol de um maior número análises críticas (Buckley, 2021Buckley, P. J. (2021). The role of history in international business: Evidence, research practices, methods and theory. British Journal of Management, 1-15. https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446
https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446...
). Acreditamos que uma revisão crítica ajudará a preencher a lacuna citada, acelerando a pesquisa no campo do NI. Com isso, considerando a lente do pós-colonialismo, continuamos avançando nesta literatura na esperança de esclarecer e fornecer novos insights para estudos posteriores.

O artigo está estruturado da seguinte forma: A Seção 2 fornece brevemente os fundamentos teóricos; na seção 3, propomos os métodos de pesquisa que nortearam nosso estudo; a seção 4 detalha os resultados; a Seção 5 discute os principais achados e conecta nossa revisão com novas perspectivas para uma futura agenda de pesquisa, e, finalmente, a seção 6 apresenta as principais conclusões.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O campo dos estudos críticos inclui diferentes grupos de pesquisa e teorias que oferecem e compartilham suas características discursivas (Alvesson & Deetz, 2000Alvesson, M., & Deetz, S. (2000). Doing critical management research. Sage.). As raízes da perspectiva crítica datam da década de 1920, iniciadas por um grupo de marxistas alemães heterodoxos que formaram a Escola de Frankfurt e influenciaram significativamente o pensamento ocidental, principalmente considerando temas filosóficos. Os estudos críticos sustentam uma força intelectual contrária às teorias sociais ortodoxas que legitimam a administração tecnocrática da sociedade industrial moderna e avançada (Adler et al., 2007Adler, P. S., Forbes, L. C., & Willmott, H. (2007). Critical management studies. The Academy of Management Annals, 1(1), 119-179. https://doi.org/10.5465/078559808
https://doi.org/10.5465/078559808...
). Além disso, Adler et al. (2007)Adler, P. S., Forbes, L. C., & Willmott, H. (2007). Critical management studies. The Academy of Management Annals, 1(1), 119-179. https://doi.org/10.5465/078559808
https://doi.org/10.5465/078559808...
e Mandiola (2010)Mandiola, M. P. (2010). Latin America’s critical management? A liberation genealogy. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 162-176. https://doi.org/10.1108/17422041011049978
https://doi.org/10.1108/1742204101104997...
defendem que o papel da perspectiva crítica não se dirige à má gestão, mas sim, ao sistema empresarial e às formas de gestão que permitem a sua perpetuação.

Tradicionalmente, os estudos críticos no campo do NI retornam às críticas à burocracia e ao capitalismo com a premissa de que essas estruturas exercem poder e controle sobre o processo e as relações de trabalho perpetuando e legitimando as formas atuais de sociedade - capitalismo, patriarcado, racismo, colonialismo, imperialismo e produtividade (Adler et al., 2007Adler, P. S., Forbes, L. C., & Willmott, H. (2007). Critical management studies. The Academy of Management Annals, 1(1), 119-179. https://doi.org/10.5465/078559808
https://doi.org/10.5465/078559808...
; Fatehi & Taasoobshirazi, 2020Fatehi, K., & Taasoobshirazi, G. (2020). Contemplating the future: Mutating capitalism. Thunderbird International Business Review, 62(2), 161-169. https://doi.org/10.1002/tie.22113
https://doi.org/10.1002/tie.22113...
). Sem surpresa, várias linhas de pesquisa em estudos críticos têm surgido, resultando em um campo difuso e multifacetado que, como observado em muitos outros campos científicos, apresenta inconsistências. A definição do que é crítico nesses estudos tem sido objeto de considerável debate, resultando em dificuldade de sintetizar a literatura e definir o que é verdadeiramente crítico (ver Dörrenbächer & Gammelgaard, 2019Dörrenbächer, C., & Gammelgaard, J. (2019). Critical and mainstream international business research: Making critical IB an integral part of a societally engaged international business discipline. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 239-261. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-...
). Portanto, entendemos que não é possível abranger toda a literatura sobre todos os tipos de estudos críticos em uma única pesquisa.

Por essa e outras razões, torna-se importante definir os limites da análise bem como a terminologia “crítica” utilizada nesta pesquisa. Consistente com a definição de outros estudos (ver Adler et al., 2007Adler, P. S., Forbes, L. C., & Willmott, H. (2007). Critical management studies. The Academy of Management Annals, 1(1), 119-179. https://doi.org/10.5465/078559808
https://doi.org/10.5465/078559808...
; Boussebaa & Morgan, 2014Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
; Dörrenbächer & Gammelgaard, 2019Dörrenbächer, C., & Gammelgaard, J. (2019). Critical and mainstream international business research: Making critical IB an integral part of a societally engaged international business discipline. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 239-261. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-...
), notamos que o NI pode ser discutido criticamente considerando uma perspectiva pós-colonial (Boussebaa et al., 2014Boussebaa, M., Sinha, S., & Gabriel, Y. (2014). Englishization in offshore call centers: A postcolonial perspective. Journal of International Business Studies, 45, 1152-1169. https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25
https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25...
; Westwood & Jack, 2007Westwood, R., & Jack, G. (2007). Manifesto for a post-colonial international business and management studies. Critical Perspectives on International Business and Management Studies, 3(3), 246-265. https://doi.org/10.1108/17422040710775021
https://doi.org/10.1108/1742204071077502...
). Ao fazer isso, optamos por ser mais inclusivos na definição do que é crítico, uma vez que parece mais proveitoso focar em uma constelação relativamente pequena de fatores em NI de uma perspectiva pós-colonial. Portanto, o pós-colonialismo condiz com nosso objetivo, uma vez que as atividades do NI estão fortemente relacionadas a eventos históricos, como é o caso do colonialismo (Boussebaa & Morgan, 2014Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
; Glaister et al., 2020Glaister, K. W., Driffield, N., & Lin, Y. (2020). Foreign direct investment to Africa: Is there a colonial legacy? Management International Review, 60, 315-349. https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415-w
https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415...
).

MÉTODOS DE PESQUISA

A revisão crítica se deu por meio de uma abordagem de seleção da literatura científica que permitiu captar estudos relevantes em duas vertentes: o campo clássico de estudos críticos sobre NI e periódicos específicos. Primeiro, buscamos artigos nas áreas de economia e gestão de negócios com base em um conjunto comum de palavras-chave, em inglês - “colonial” ou “postcolonial” ou “neo-colonial” e “imperialism” ou “neo-imperialism” (por exemplo, Adler et al., 2007Adler, P. S., Forbes, L. C., & Willmott, H. (2007). Critical management studies. The Academy of Management Annals, 1(1), 119-179. https://doi.org/10.5465/078559808
https://doi.org/10.5465/078559808...
; Boussebaa & Morgan, 2014Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
; Dörrenbächer & Gammelgaard, 2019Dörrenbächer, C., & Gammelgaard, J. (2019). Critical and mainstream international business research: Making critical IB an integral part of a societally engaged international business discipline. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 239-261. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-...
). Em segundo lugar, selecionamos o termo “international business” para todos os campos de busca de artigos, com o objetivo de identificar os que abordam qualquer tipo de pesquisa envolvendo negócios internacionais (NI).

Recuperamos artigos do Science Citation Index Expanded (SCI-Expanded), Social Science Citation Index (SSCI) e Emerging Sources Citation Index - ESCI (que contém periódicos relevantes, como por exemplo o CPoIB) e da Web of Science Core Collection, explorando desde a data inicial disponível no mecanismo de busca até o dia 31 de março de 2022. Vale ressaltar que existem revistas específicas voltadas para estudos críticos no campo do NI, como é o caso da “CPoIB,” que é um periódico referência, revisado por pares, de alta qualidade, e composta por uma lista abrangente dos artigos mais importantes sobre estudos críticos no campo do NI (Cairns, 2019Cairns, G. M. (2019). Critical engagement in international business: Creating meaning for a broad constituency. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 262-272. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0004
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-00...
). Os outros motores de busca científica utilizados também são reconhecidos pela sua maior abrangência, rigor, confiabilidade, alto fator de impacto e aprovação internacional em todos os domínios científicos.

Os resultados da pesquisa foram inseridos no gerenciador de referências Mendeley, com o intuito de organizar objetivamente cada artigo, evitando a exclusão de itens importantes com a utilização de qualquer outro método. Removendo todas as ambiguidades e aplicando critérios, chegamos a um número total de 6.570 artigos. Para padronização e manutenção da qualidade da análise, consideramos apenas artigos submetidos a revisão por pares no formato duplo-cego, escritos em inglês (excluindo capítulos, livros, trabalhos apresentados em simpósios e publicados em anais de conferências). Além disso, artigos não pertinentes ao campo de NI ou que não apresentaram quaisquer das palavras-chave pré-selecionadas foram excluídos. A revisão do texto completo nos permitiu excluir alguns outros artigos que não estavam em concordância com o objetivo. Após uma última triagem, a amostra resultou em um total de 49 artigos pertinentes (estudos teóricos e empíricos). A lista dos selecionados pode ser encontrada na Tabela 1.

Tabela 1
Síntese de estudos relacionando NI e pós-colonialismo

RESULTADOS

Contribuições dos Negócios Internacionais sob a perspectiva do pós-colonialismo

A teoria tradicional do NI é apoiada pela teoria da internacionalização (Hymer, 1960Hymer S. H. (1960). The international operation of national firms: A study of direct foreign investment (Ph.D. dissertation, Massachusetts Institute of Technology). (Published by MIT Press, 1966).; Johanson & Vahlne, 1977Johanson, J., & Vahlne, J.-E. (1977). The internationalization process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of International Business Studies, 8, 23-32. https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490676
https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.84...
) e pelo paradigma eclético (Dunning, 1998), sendo que ambas as abordagens consideram as vantagens relacionadas a especificidades da empresa ou de sua estrutura de propriedade (Buckley, 1998, 2021). Vários estudiosos (por exemplo, Banerjee & Linstead, 2001Banerjee, S. B., & Linstead, S. (2001). Globalization, multiculturalism and other fictions: Colonialism for the new millennium? Organization, 8(4), 683-722. https://doi.org/10.1177/135050840184006
https://doi.org/10.1177/135050840184006...
; Cairns, 2005Cairns, G. (2005). Perspectives on a personal critique of international business. Critical Perspectives on International Business, 1(1), 43-55. http://dx.doi.org/10.1108/17422040510577898
http://dx.doi.org/10.1108/17422040510577...
; Faria et al., 2010Faria, A., Ibarra-Colado, E., & Guedes, A. L. (2010). Internationalization of management, neoliberalism and the Latin America challenge. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 97-115. https://doi.org/10.1108/17422041011049932
https://doi.org/10.1108/1742204101104993...
), em resposta ao discurso de um mundo globalizado, homogêneo e sem polaridades, têm reconhecido que essas formas de negócios perpetuam as práticas do colonialismo. O colonialismo é uma perspectiva histórica (Boussebaa & Morgan, 2014Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
), entendido como um sistema global contemporâneo de poder econômico hegemônico sob um capitalismo tardio, baseado em uma forma fortemente proativa e agressiva de estratégia para explorar os recursos naturais de outras localidades (Westwood & Jack, 2007Westwood, R., & Jack, G. (2007). Manifesto for a post-colonial international business and management studies. Critical Perspectives on International Business and Management Studies, 3(3), 246-265. https://doi.org/10.1108/17422040710775021
https://doi.org/10.1108/1742204071077502...
). Por exemplo, essa prática tem seu primeiro registro quando adotada pela Companhia Britânica das Índias Orientais, sem dúvida a primeira multinacional global, após os comerciantes holandeses e portugueses expandirem suas redes para a Ásia (Meyer, 2017Meyer, K. E. (2017). International business in an era of anti-globalization. Multinational Business Review, 25(2), 78-90. https://doi.org/10.1108/MBR-03-2017-0017
https://doi.org/10.1108/MBR-03-2017-0017...
).

Assim, uma vez que a elite dominante administra o discurso hegemônico da globalização, ele acaba por replicar várias formas de colonialismo incluindo a homogeneização política, o favoritismo e benefícios locais para as EMNs, incorporando essas elites em estruturas globais e excluindo e marginalizando grupos étnicos (Banerjee & Linstead, 2001Banerjee, S. B., & Linstead, S. (2001). Globalization, multiculturalism and other fictions: Colonialism for the new millennium? Organization, 8(4), 683-722. https://doi.org/10.1177/135050840184006
https://doi.org/10.1177/135050840184006...
). No entanto, até hoje, as longas tradições coloniais e suas estruturas de dominação não desapareceram e continuam a reverberar profundamente de forma cultural e material. Assim, com base na análise, organizamos quatro principais categorias específicas para discutir suas contribuições para os estudos de NI sob a perspectiva do pós-colonialismo, que compõem a estrutura desta seção.

Linguagem

Linguagem e colonialismo são tópicos centrais nos estudos de NI. De modo geral, os pesquisadores exploraram os laços linguísticos entre colônia e colonizador, uma vez que a língua pode exercer forte influência, observando que tais laços ajudam a explicar o OFDI (Investimento Direto Externo) (Alcaraz & Salamanca, 2018Alcaraz, J., & Salamanca, E. (2018). Migration and outward FDI: A double direction approach. Review of International Business and Strategy, 28(2), 240-257. https://doi.org/10.1108/RIBS-12-2017-0114
https://doi.org/10.1108/RIBS-12-2017-011...
). Adams et al. (2017)Adams, K., Nayak, B. S., & Koukpaki, S. (2017). Critical perspectives on “manufactured” risks arising from Eurocentric business practices in Africa. Critical Perspectives on International Business, 14(2/3), 210-229. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-0058
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-00...
ajudam a observar essa influência ao observar que a linguagem e a cultura de risco das EMNs, embasadas em estratégias voltadas ao rentismo e a busca por recursos, gerou um impacto negativo na África pós-independente.

Analisando casos da África francófona, Meouloud et al. (2019)Meouloud, T. A., Mudambi, R., & Hill, T. L. (2019). The Metropolitan effect: Colonial influence on the internationalization of Francophone African firms. Management and Organization Review, 15(1), 31-53. https://doi.org/10.1017/mor.2019.3
https://doi.org/10.1017/mor.2019.3...
concluíram que as empresas de todas as ex-colônias seguem uma trajetória de internacionalização moldada pela fonte (colonizador), que age como uma influência persistente dos laços coloniais. Com base na “inglesização corporativa” dos call centers indianos, Boussebaa et al. (2014)Boussebaa, M., Sinha, S., & Gabriel, Y. (2014). Englishization in offshore call centers: A postcolonial perspective. Journal of International Business Studies, 45, 1152-1169. https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25
https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25...
descobriram que as corporações reproduzem relações de poder de estilo colonial entre a “Anglo-esfera” (ou seja, nações de língua inglesa) e o “Resto”. Nesse sentido, a “inglesização” é um processo de normalização, um trabalho de vigilância, que serve para disciplinar os entes locais como uma ordem imperativa da competitividade internacional (por exemplo, Boussebaa & Brown, 2017Boussebaa, M., & Brown, A. D. (2017). Englishization, identity regulation and imperialism. Organization Studies, 38(1), 7-29. https://doi.org/10.1177/0170840616655494
https://doi.org/10.1177/0170840616655494...
).

Iwashita (2022)Iwashita, H. (2022). Language and identity in the shadow: A multi-case study of a Japanese multinational Corporation. International Business Review, 31(2), 101913. https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2021.101913
https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2021.1...
mostrou que as EMNs têm uma grande necessidade de usar a língua do país de origem não apenas por causas étnicas, mas também por suas visões pós-coloniais. Isso nos leva a argumentar que, de modo geral, as EMNs tentam impor seu idioma, principalmente quando se trata da língua inglesa. Por exemplo, o trabalhador africano lida com diversas línguas, inclusive a “imposta” no trabalho (Abugre, 2018Abugre, J. B. (2018). Cross-cultural communication imperatives: Critical lessons for Western expatriates in multinational companies (MNCs) in sub-Saharan Africa. Critical Perspectives on International Business, 14(2/3), 170-187. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2017-0005
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2017-00...
). Nesse sentido, as diferenças de idioma podem ter um efeito negativo no desempenho da subsidiária (Konara & Wei, 2021Konara, P., & Wei, Y. (2021). Does language matter to foreign subsidiary performance? International Marketing Review, 38(2), 276-299. https://doi.org/10.1108/IMR-05-2019-0129
https://doi.org/10.1108/IMR-05-2019-0129...
). De fato, a língua inglesa apresenta uma hierarquia e, na melhor das hipóteses, é a mais barata entre as línguas comerciais (Selmier & Oh, 2012Selmier, W. T., II, & Oh, C. H. (2012). International business complexity and the internationalization of languages. Business Horizons, 55(2), 189-200. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2011.11.006
https://doi.org/10.1016/j.bushor.2011.11...
).

No geral, pode-se observar que a linguagem tem uma grande influência nas práticas de negócios. Hoje, os vestígios do colonialismo perduram entre os países. No entanto, nosso entendimento ainda é bastante limitado a respeito de tal dominação, como é o caso da “inglesização” sobre as línguas nativas em economias emergentes. Alguns estudos enfocaram o idioma como determinante nas atividades das multinacionais. No entanto, alguns efeitos da linguagem no comportamento humano ainda precisam ser pesquisados com mais detalhes. Criticamente isso, sem dúvida, resulta em impactos severos nas sociedades. Acreditamos assim que parte dessa questão está ligada às EMNs e ao principal domínio linguístico no processo de globalização.

Escravidão

Outros estudiosos concentram-se na relação entre escravidão e EMNs. Por sua própria natureza, a escravidão é uma aberração histórica (Burmester et al., 2019Burmester, B., Michailova, S., & Stringer, C. (2019). Modern slavery and international business scholarship: The governance nexus. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 139-157. https://doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0011
https://doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-00...
). Várias economias emergentes ainda apresentam uma grande cicatriz da colonização selvagem realizada pelos impérios colonizadores.

Ao longo dos anos, estudos continuam mostrando como as empresas de economias emergentes apresentam condições de trabalho análogas à escravidão e como as EMNs exploram fortemente os recursos materiais das colônias (Boussebaa & Morgan, 2014Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
). Um exemplo crítico é o aumento massivo do trabalho infantil, especialmente durante a pandemia da Covid-19 (Wuilbercq, 2021Wuilbercq, E. (2021, June). Child labour rises globally for the first time in decades. https://www.reuters.com/article/global-childlabour-idUSL5N2NQ0NK
https://www.reuters.com/article/global-c...
). Os países da Europa Ocidental se beneficiaram muito da África desde os tempos da escravidão, explorando fortemente as pessoas (Stevens & Newenham-Kahindi, 2017Stevens, C., & Newenham-Kahindi, A. (2017). Legitimacy spillovers and political risk: The case of FDI in the African Community. Global Strategy Journal, 7, 10-35. https://doi.org/10.1002/gsj.1151
https://doi.org/10.1002/gsj.1151...
) e, na América Latina, os recursos naturais, como ouro e prata (Aguilera et al., 2017). Nos dias atuais muitas EMNs foram acusadas de beneficiar-se do trabalho infantil na região africana do Congo, operando na mineração do cobalto que é utilizado na fabricação baterias de íon-lítio, que por sua vez é aplicada a veículos elétricos para a elite. Esta é apenas a ponta do iceberg dos resquícios sombrios do colonialismo.

Além disso, Stringer e Michailova (2018)Stringer, C., & Michailova, S. (2018). Why modern slavery thrives in multinational corporations’ global value chains. Multinational Business Review, 26(3), 194-206. https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032
https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032...
explicam que a escravidão moderna pode se infiltrar, persistir e prosperar nas cadeias de valor globais (CVGs) das EMNs devido a falhas institucionais do país anfitrião, que são desafios inerentemente complexos enfrentados pela governança destas. A história se repete em outros países (por exemplo, no Brasil) e a escravidão infantil pode ser encontrada em muitos ramos da indústria, especialmente de calçados, que estão intimamente integradas à ordem global (French & Wokutch, 2005French, L., & Wokutch, R. E. (2005). Child workers, globalization, and International Business ethics: A case study in Brazil's export-oriented shoe industry. Business Ethics Quarterly, 15(4), 615-640. https://doi.org/10.5840/beq200515443
https://doi.org/10.5840/beq200515443...
). Criticamente, as economias emergentes têm um desenvolvimento institucional fraco (por exemplo, sistema regulatório frágil) (Peng, 2003Peng, M. W. (2003). Institutional transitions and strategic choices. Academy of Management Review, 28(2), 275-296. https://doi.org/10.5465/amr.2003.9416341
https://doi.org/10.5465/amr.2003.9416341...
) e tais falhas institucionais permitem as EMNs a exploração ou aquisição de recursos da escravidão.

Conforme observado, a escravidão moderna ocorre de várias formas no bojo do processo de globalização e expansão das multinacionais por entre os países (Robb & Michailova, 2023Robb, B., & Michailova, S. (2023). Multinational enterprises’ narratives about and approaches to modern slavery: An exploratory study. Review of International Business and Strategy,33(2), 199-218. https://doi.org/10.1108/RIBS-10-2021-0128
https://doi.org/10.1108/RIBS-10-2021-012...
). Como ilustração, após ações judiciais e pressões da mídia, a Nestlé aumentou a atenção ao programa do “plano do cacau” com esforços que incluem o registro de cacau “livre de trabalho escravo.” De fato, a Nestlé foi uma das primeiras EMNs a dedicar esforços para resolver o problema, no entanto, tal esforço é custeado pelos consumidores que pagam impostos e com isso financiam o envolvimento dela no processo de formulação de políticas (Burmester et al., 2019Burmester, B., Michailova, S., & Stringer, C. (2019). Modern slavery and international business scholarship: The governance nexus. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 139-157. https://doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0011
https://doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-00...
). No geral, o trabalho de pesquisa nessa área é relativamente robusto. Criticamente, concebemos que as sombras da escravidão persistem de várias maneiras na sociedade moderna, especialmente aquelas indiretamente conduzidas por EMNs.

Mecanismos de controle

O ritmo de internacionalização e controle das subsidiárias é outro comportamento moldado pelo colonialismo. No geral, a sede da EMN (o colonizador) molda a identidade das subsidiárias (o colonizado) (Storgaard et al., 2020Storgaard, M., Tienari, J., Piekkari, R., & Michailova, S. (2020). Holding on while letting go: Neocolonialism as organizational identity work in a multinational corporation. Organization Studies, 41(11), 1469-1489. https://doi.org/10.1177/0170840620902977
https://doi.org/10.1177/0170840620902977...
). Wanderley e Celano (2018)Wanderley, S., & Celano, A. (2018). Brazil-Bolivia and a horse trade: A postcolonial case within South America. Critical Perspectives on International Business, 14(4), 426-441. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-0048
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-00...
encontraram uma relação pós-colonial entre as sedes de empresas brasileiras e as subsidiárias na Bolívia, embora o Brasil nunca tenha colonizado o país. Na Índia, empresas de serviço têm comportamento semelhante. Sayed e Agndal (2020)Sayed, Z., & Agndal, H. (2020). Neo-colonial dynamics in global professional service firms: A periphery perspective. Culture and Organization, 26(5/6), 425-443. https://doi.org/10.1080/14759551.2019.1694928
https://doi.org/10.1080/14759551.2019.16...
destacam a natureza ambivalente da empresa global, sugerindo que estas oferecem a oportunidade para que as unidades periféricas se tornem iguais às centrais, com rotinas coercitivas e universalizantes. Este é um forte indício do papel das EMNs ocidentais na globalização cultural (Boussebaa, 2021Boussebaa, M. (2021). From cultural differences to cultural globalization: Towards a new research agenda in cross-cultural management studies. Critical Perspectives on International Business, 17(3), 381-398. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2020-0003
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2020-00...
).

Nesse sentido, tal comportamento é questionado por Geppert e Dörrenbächer (2014)Geppert, M., & Dörrenbächer, C. (2014). Politics and power within multinational corporations: Mainstream studies, emerging critical approaches and suggestions for future research. International Journal of Management Reviews, 16(2), 226-244. https://doi.org/10.1111/ijmr.12018
https://doi.org/10.1111/ijmr.12018...
como as regras do jogo ou “quem as define e até que ponto os principais atores subsidiários estão envolvidos nesse processo”. Isso porque a legitimidade interna das subsidiárias, talvez, tenderá a priorizar estratégias de ponte sociocultural junto à rede intra-EMNs devido aos efeitos de mudanças externas (Jacob et al., 2022Jacob, D., Svystunova, L., & Rao-Nicholson, R. (2022). MNE post-entry institutional strategies in emerging markets: An organizational field position perspective. European Management Review, 19(1), 53-74. https://doi.org/10.1111/emre.12472
https://doi.org/10.1111/emre.12472...
). Especificamente, os estudos enfatizam ainda mais o uso de ferramentas neocoloniais de controle, como os sistemas de informação (SI). Como exemplo, empresas ocidentais utilizam o SI no controle e molde de relacionamentos. Ele permite a vigilância remota e em tempo real de organizações indianas de pesquisa da indústria farmacêutica (Sayed & Agndal, 2022Sayed, Z., & Agndal, H. (2022). Offshore outsourcing of R&D to emerging markets: Information systems as tools of neo-colonial control. Critical Perspectives on International Business, 18(3), 281-302. https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-0089
https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-00...
).

Os mecanismos de controle arraigados na sociedade trazem lembranças do colonialismo, mesmo que sejam muitas vezes invisíveis e difíceis de determinar na prática. Eles ressoam em uma imagem moderna de colonização em que a presença física não é mais necessária no controle dos indivíduos. No geral, pode-se dizer que vários aspectos dos mecanismos de controle estão ligados entre as EMNs e suas subsidiárias.

Imperialismo e Capitalismo

Muitos estudiosos observaram como o capitalismo das nações imperiais impactou a atividade de NI. Fatehi e Taasoobshirazi (2020)Fatehi, K., & Taasoobshirazi, G. (2020). Contemplating the future: Mutating capitalism. Thunderbird International Business Review, 62(2), 161-169. https://doi.org/10.1002/tie.22113
https://doi.org/10.1002/tie.22113...
explicam que o fim do comunismo alterou a natureza da rivalidade entre as grandes potências e a transformou de guerra político-militar em guerra político-econômica. Westwood e Jack (2007)Westwood, R., & Jack, G. (2007). Manifesto for a post-colonial international business and management studies. Critical Perspectives on International Business and Management Studies, 3(3), 246-265. https://doi.org/10.1108/17422040710775021
https://doi.org/10.1108/1742204071077502...
criticam os EUA como uma potência neocolonial, não apenas devido ao domínio colonial baseado na conquista militar e ocupação física das nações, mas ao seu poder econômico, cultural e político exercendo considerável influência sobre outras sociedades. Parece razoável argumentar que a supremacia capitalista continua sendo a única opção viável para gerir a economia, no entanto, o capitalismo desenfreado pode não produzir a prosperidade proclamada no plano liberal (Fatehi & Taasoobshirazi, 2020Fatehi, K., & Taasoobshirazi, G. (2020). Contemplating the future: Mutating capitalism. Thunderbird International Business Review, 62(2), 161-169. https://doi.org/10.1002/tie.22113
https://doi.org/10.1002/tie.22113...
).

Recentemente vemos um movimento contrastante: o colonialismo Russo ou o império Russo e a guerra na Ucrânia. Este evento desencadeou um conflito mais moderno e polido entre as nações imperiais. Ele pode ser observado na pressão ucraniana às EMNs para retaliar, impor sanções e boicotar a Rússia. Para ilustrar, a lanchonete McDonald’s, dada como um símbolo da queda da cortina de ferro e operando desde 1990, deixou a Rússia em 12 de junho de 2022. No entanto, isso não impediu a Rússia de abrir seu próprio “McDonald’s”, batizado de “Vkusno i tochka” (ou, Delicioso e ponto final). Assim, observamos a antiga “guerra contra o neocolonialismo ocidental” da velha Rússia, um fogo do passado que não se apaga.

Além disso, a pandemia de COVID-19 expôs legados coloniais arraigados e comentários racistas enraizados sobre a África (Dörrenbächer et al., 2021Dörrenbächer, C., Sinkovics, R. R., Becker-Ritterspach, F., Boussebaa, M., Curran, L., Jonge, A. de, & Khan, Z. (2021). The Covid-19 pandemic: Towards a societally engaged IB perspective. Critical Perspectives on International Business, 17(2), 149-164. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-0021
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-...
). Por exemplo, Dörrenbächer et al. (2021Dörrenbächer, C., Sinkovics, R. R., Becker-Ritterspach, F., Boussebaa, M., Curran, L., Jonge, A. de, & Khan, Z. (2021). The Covid-19 pandemic: Towards a societally engaged IB perspective. Critical Perspectives on International Business, 17(2), 149-164. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-0021
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-...
, p. 9) explicaram que, em abril de 2020, dois médicos franceses (Jean-Paul Mira e Camille Locht) em uma discussão na TV sobre os testes da Covid-19 na Europa e na Austrália apresentaram uma declaração de usar a África como laboratório de testes para o Ocidente. Nesse sentido, apontaram que as vacinas COVID devem ser testadas primeiros na África “onde não há máscaras, nem tratamentos, nem reanimação. Criticamente, podemos complementar a essa prática racista das nações do Império que a África nunca foi uma prioridade das maiores EMNs farmacêuticas durante a pandemia da Covid-19. Além disso, um forte comportamento racista emergiu dos países desenvolvidos quando expuseram suas dúvidas sobre a qualidade das vacinas produzidas pelas economias em desenvolvimento (por exemplo, Índia e China). Portanto, a abordagem descoordenada faz com que a pandemia perdure por mais tempo do que se realmente a enfrentássemos juntos (Dörrenbächer et al., 2021Dörrenbächer, C., Sinkovics, R. R., Becker-Ritterspach, F., Boussebaa, M., Curran, L., Jonge, A. de, & Khan, Z. (2021). The Covid-19 pandemic: Towards a societally engaged IB perspective. Critical Perspectives on International Business, 17(2), 149-164. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-0021
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-...
).

Como observado, este último aspecto pós-colonial diz respeito ao poder do imperialismo e do capitalismo sobre outras nações. Assim, o colonialismo é um modelo de império adotado e replicado por várias nações. Dito isso, ainda há uma grande disputa pelo poder hegemônico mundial. Nesse contexto, as EMNs estão onipresentes, com amplo domínio entre as nações, o que pode acelerar as disputas conflitantes de poder entre as mais fortes.

DISCUSSÃO E DIREÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Com o processo de globalização, as EMNs contribuíram para a mudança do cenário internacional de negócios (Johanson & Vahlne, 1977Johanson, J., & Vahlne, J.-E. (1977). The internationalization process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of International Business Studies, 8, 23-32. https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490676
https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.84...
, Dunning, 1998). No entanto, o colonialismo persistiu, e pode ter crescido ao longo do tempo. Evidências empíricas sugerem que os laços coloniais anteriores estão positivamente relacionados ao FDI interno (Investimento Estrangeiro Direto) dos colonizadores para suas ex-colônias na África (Glaister et al., 2020Glaister, K. W., Driffield, N., & Lin, Y. (2020). Foreign direct investment to Africa: Is there a colonial legacy? Management International Review, 60, 315-349. https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415-w
https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415...
). Ao examinar a relação histórica entre Gana (ou seja, ex-colônia) e o Reino Unido (ou seja, ex-colonizador), Osei et al. (2020)Osei, C., Omar, M., & Joosub, T. S. (2020). The effect of colonial legacies on Africa’s inward FDI: The case of UK FDI in Ghana. Critical Perspectives on International Business, 16(3), 259-277. https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2018-0041
https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2018-00...
identificou que alguns remanescentes das empresas britânicas dos tempos coloniais ainda estão operando ativamente por lá. Complementarmente, Liou e Rao-Nicholson (2017)Liou, R-S., & Rao-Nicholson, R. (2017). Out of Africa: The role of institutional distance and host-home colonial tie in South African Firms’ post-acquisition performance in developed economies. International Business Review, 26, 1184-1195. https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.04.010
https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.0...
documentaram que o desempenho das empresas sul-africanas aumenta após a aquisição e se beneficia do histórico de colonização, mitigando a distância institucional. Em suma, o colonialismo ainda desempenha um papel importante na formação dos negócios africanos.

Além disso, Yeganeh (2020)Yeganeh, H. (2020). A critical examination of the social impacts of large multinational corporations in the age of globalization. Critical Perspectives on International Business, 16(3), 193-208. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0001
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-00...
aponta que as EMNs dominam o cenário econômico global e se beneficiam de seus recursos para desenvolver vantagens competitivas sofisticadas e lucros contra rivais menores em detrimento dos trabalhadores locais. Por exemplo, embora as EMNs tenham contribuído claramente para a economia de Fiji, Daye (2009)Daye, R. (2009). Poverty, race relations, and the practices of International Business: A study of Fiji. Journal of Business Ethics, 89(1), 115-127. https://www.jstor.org/stable/27749762
https://www.jstor.org/stable/27749762...
explica que elas provavelmente não iniciarão ações que beneficiem o país num curto prazo. O autor alerta que existem circunstâncias institucionais do colonialismo em Fiji e que os governos devem pressionar as EMNs para aliviar as desigualdades sociais (por exemplo, com adequação salarial), uma vez que os códigos de conduta universalistas e abstratos das EMNs não são eficientes em todos os casos. Entendemos que a falta de clareza nesses códigos pode possivelmente traçar um caminho para a escravidão moderna em países pobres, especialmente por CVGs governadas por EMNs (Stringer & Michailova, 2018Stringer, C., & Michailova, S. (2018). Why modern slavery thrives in multinational corporations’ global value chains. Multinational Business Review, 26(3), 194-206. https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032
https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032...
).

Além disso, as EMNs ainda estão preocupadas com suas vantagens locais. Reyes et al. (2019)Reyes, A. B., Newburry, W., Carneiro, J., & Cordova, C. (2019). Using Latin America as a research laboratory: The moderating effect of trade openness on the relationship between inward and outward FDI. Multinational Business Review, 27(2), 122-140. https://doi.org/10.1108/MBR-03-2019-0022
https://doi.org/10.1108/MBR-03-2019-0022...
mostraram que, embora as empresas estrangeiras sejam cautelosas com o efeito transbordamento sobre as empresas do país anfitrião, o investimento estrangeiro direto na América Latina mostra uma dependência histórica dos recursos naturais da região. Enquanto as empresas estrangeiras visam a competitividade global e a participação no mercado, as nacionais se baseiam em recursos. Boussebaa e Morgan (2014)Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-00...
argumentam que ainda há um grande espaço para explorar a história das EMNs e do empreendimento imperial do passado, incluindo o papel dos recursos materiais e a formação dos quadros institucionais das colônias. Isso é interessante, pois mesmo países sem laços históricos pós-coloniais, como a China (McKenna, 2011McKenna, S. (2011). A critical analysis of North American business leaders’ neocolonial discourse: Global fears and local consequences. Organization, 18(3), 387-406. https://doi.org/10.1177/1350508411398728
https://doi.org/10.1177/1350508411398728...
), estão ostentando uma posição imperial de colonizador empreendendo uma longa campanha de exploração de recursos naturais e mão de obra na África (Kaplinsky & Morris, 2009Kaplinsky, R., & Morris, M. (2009). Chinese FDI in Sub-Saharan Africa: Engaging with large Dragons. European Journal of Development Research, 21(4), 551-569. https://doi.org/10.1057/ejdr.2009.24
https://doi.org/10.1057/ejdr.2009.24...
). Inclusive, ainda, a China aproveitou a crise econômica pandêmica e o período pré-pandêmico como base para aquisições estratégicas de busca de ativos e busca de controle (Das, 2021Das, A. (2021). Predatory FDI during economic crises: Insights from outbound FDI from China and host country responses. Critical Perspectives on International Business, 17(2), 321-341. https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2020-0050
https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2020-00...
).

Um rico acervo literário sobre estudos críticos de NI tem mapeado a pesquisa neste campo, fornecendo insights relevantes (por exemplo, Dörrenbächer & Gammelgaard, 2019Dörrenbächer, C., & Gammelgaard, J. (2019). Critical and mainstream international business research: Making critical IB an integral part of a societally engaged international business discipline. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 239-261. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-...
; Roberts & Dörrenbächer, 2012Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2012). The futures of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 8(1), 4-13. https://doi.org/10.1108/17422041211197530
https://doi.org/10.1108/1742204121119753...
, 2014Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2014). Challenging the orthodox: A decade of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 10, 2-20. https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-0053
https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-00...
). Por meio da revisão crítica, nossa pesquisa contribui para essa tarefa, oferecendo alguns caminhos para estudos futuros. Comentamos alguns dos fluxos e insights mais promissores, fornecendo orientações adicionais relacionadas aos quatro tópicos discutidos. Nossas recomendações podem conectar as inconsistências e o que mais merece ser explorado e debatido.

Em relação aos estudos sobre economias emergentes, a África, como laboratório, cresce muito rápido (ver Mol et al., 2017Mol, M. J., Stadler, C., & Ariño, A. (2017). Africa: The new frontier for global strategy scholars. Global Strategy Journal, 7(1), 3-9. https://doi.org/10.1002/gsj.1146
https://doi.org/10.1002/gsj.1146...
). Além dos desafios (ou seja, condições extremas daqueles países), a região oferece grandes oportunidades para impulsionar as teorias atuais, uma vez que o colonialismo ainda persiste fortemente e influencia a forma de fazer negócios nas muitas empresas adquiridas na região (Barnard et al., 2017Barnard, H., Cuervo-Cazurra, A., & Manning, S. (2017). Africa business research as a laboratory for theory-building: Extreme conditions, new phenomena, and alternative paradigms of social relationships. Management and Organization Review, 13(3), 467-495. https://doi.org/10.1017/mor.2017.34
https://doi.org/10.1017/mor.2017.34...
). Tal comportamento precisa ser observado com relação às EMNs e seu etnocentrismo sobrecarregado pela dominação, poder, coordenação e eficiência (Michailova et al., 2017Michailova, S., Piekkari, R., Storgaard, M., & Tienari, J. (2017). Rethinking ethnocentrism in International Business research. Global Strategy Journal, 7, 335-353. https://doi.org/10.1002/gsj.1159
https://doi.org/10.1002/gsj.1159...
), uma vez que os modos coloniais de organização e etnocentrismo levam tempo para mudar (Abdelrehim et al., 2018Abdelrehim, N., Ramnath, A., Smith, A., & Popp, A. (2018). Ambiguous decolonisation: A postcolonial reading of the IHRM strategy of the Burmah Oil company. Business History, 63(1), 98-126. https://doi.org/10.1080/00076791.2018.1448384
https://doi.org/10.1080/00076791.2018.14...
). Isso traça rumos interessantes de pesquisa para investigar como os laços coloniais do passado influenciam a maneira de fazer negócios em outros países com o mesmo legado. Glaister et al. (2020)Glaister, K. W., Driffield, N., & Lin, Y. (2020). Foreign direct investment to Africa: Is there a colonial legacy? Management International Review, 60, 315-349. https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415-w
https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415...
, especificamente, afirmaram que para o entendimento dos efeitos da colonização, por exemplo, a duração do período colonial e o período de tempo desde a independência da colônia devem ser considerados para avaliar contingências de FDI na África em relação a outras economias em desenvolvimento (tal como Índia e países latino-americanos).

Além disso, sabemos pouco sobre como países europeus se diferenciam ao utilizar seu poder para manter laços com suas antigas colônias. Como exemplo, a América Latina enfrentou forte colonialismo europeu que influenciou a forma como as EMNs expandiram seus negócios para a região (Aguilera et al., 2017). De fato, existem vários países europeus que exploraram fortemente outros, imbuindo e influenciando sua linguagem, normas, leis, cultura e assim por diante. Conforme ilustrado por Boussebaa (2021)Boussebaa, M. (2021). From cultural differences to cultural globalization: Towards a new research agenda in cross-cultural management studies. Critical Perspectives on International Business, 17(3), 381-398. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2020-0003
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2020-00...
, é necessário examinar não apenas o impacto da diferença cultural, mas também como a globalização corporativa molda e constrói normas, práticas e identidades em escala transnacional. Até o momento, poucas pesquisas fora encontradas considerando o motivo pelo qual os colonizadores (por exemplo, colônias britânicas, portuguesas, espanholas e francesas) ainda mostram dependência de trajetória e resiliência em manter atividades comerciais com suas ex-colônias. Portanto, é necessário entender melhor por que algumas nações europeias têm dificuldade em se desvencilhar de seus interesses coloniais.

Além disso, encontramos pouca atenção da literatura aos mecanismos de controle (Storgaard et al., 2020Storgaard, M., Tienari, J., Piekkari, R., & Michailova, S. (2020). Holding on while letting go: Neocolonialism as organizational identity work in a multinational corporation. Organization Studies, 41(11), 1469-1489. https://doi.org/10.1177/0170840620902977
https://doi.org/10.1177/0170840620902977...
; Wanderley & Celano, 2018Wanderley, S., & Celano, A. (2018). Brazil-Bolivia and a horse trade: A postcolonial case within South America. Critical Perspectives on International Business, 14(4), 426-441. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-0048
https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-00...
). Pesquisas futuras devem analisar os mecanismos neocoloniais de dominação das sedes sobre as subsidiárias das EMNs e suas consequências na atividade gerencial nos países anfitriões. Pesquisas futuras devem examinar o papel do SI na reprodução de padrões históricos de dominância (Sayed & Agndal, 2022Sayed, Z., & Agndal, H. (2022). Offshore outsourcing of R&D to emerging markets: Information systems as tools of neo-colonial control. Critical Perspectives on International Business, 18(3), 281-302. https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-0089
https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-00...
) como uma fonte invisível de controle. Recomendamos que pesquisas futuras desenvolvam entrevistas em profundidade (Iwashita, 2022Iwashita, H. (2022). Language and identity in the shadow: A multi-case study of a Japanese multinational Corporation. International Business Review, 31(2), 101913. https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2021.101913
https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2021.1...
), com funcionários e supervisores de EMNs de diferentes nacionalidades, localizadas em países com história colonial, que podem revelar novos insights. Finalmente, uma questão intrigante para pesquisas futuras é avaliar se os mecanismos de controle são diferentes em economias em desenvolvimento com e sem legados coloniais.

Além disso, é preciso estabelecer uma ligação mais cuidadosa entre a linguagem e os laços coloniais na literatura de NI. Por exemplo, a pesquisa nos dados da empresa e do país ainda adiciona variáveis de linguagem e coloniais de uma maneira ad hoc (Konara & Wei, 2021Konara, P., & Wei, Y. (2021). Does language matter to foreign subsidiary performance? International Marketing Review, 38(2), 276-299. https://doi.org/10.1108/IMR-05-2019-0129
https://doi.org/10.1108/IMR-05-2019-0129...
; Reyes et al., 2019Reyes, A. B., Newburry, W., Carneiro, J., & Cordova, C. (2019). Using Latin America as a research laboratory: The moderating effect of trade openness on the relationship between inward and outward FDI. Multinational Business Review, 27(2), 122-140. https://doi.org/10.1108/MBR-03-2019-0022
https://doi.org/10.1108/MBR-03-2019-0022...
). Também é relevante abordar o impacto de outro idioma específico na atividade empresarial, indo além da inglesização. Para estudos qualitativos, sugerimos que os pesquisadores prestem mais atenção à globalização da linguagem (Banerjee & Linstead, 2001Banerjee, S. B., & Linstead, S. (2001). Globalization, multiculturalism and other fictions: Colonialism for the new millennium? Organization, 8(4), 683-722. https://doi.org/10.1177/135050840184006
https://doi.org/10.1177/135050840184006...
). Boussebaa et al. (2014)Boussebaa, M., Sinha, S., & Gabriel, Y. (2014). Englishization in offshore call centers: A postcolonial perspective. Journal of International Business Studies, 45, 1152-1169. https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25
https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25...
levantam um conjunto de questões e abrem um caminho importante para os estudiosos interessados no papel da linguagem no NI, fornecendo um debate frutífero para esse estudo e para os pós-coloniais.

Outro caminho importante para a pesquisa depende de como as CVGs podem ser (tornar-se) um terreno fértil para a escravidão moderna (Robb & Michailova, 2023Robb, B., & Michailova, S. (2023). Multinational enterprises’ narratives about and approaches to modern slavery: An exploratory study. Review of International Business and Strategy,33(2), 199-218. https://doi.org/10.1108/RIBS-10-2021-0128
https://doi.org/10.1108/RIBS-10-2021-012...
; Stringer & Michailova, 2018Stringer, C., & Michailova, S. (2018). Why modern slavery thrives in multinational corporations’ global value chains. Multinational Business Review, 26(3), 194-206. https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032
https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032...
). Argumentamos que usar a perspectiva pós-colonial pode trazer insights interessantes sobre como a escravidão cresce pelas CVGs com o passar do tempo. Então, é necessário contestar a legitimidade das EMNs e identificar seu propósito em muitos aspectos diferentes (Cairns, 2019Cairns, G. M. (2019). Critical engagement in international business: Creating meaning for a broad constituency. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 262-272. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0004
https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-00...
). De fato, inúmeras oportunidades permanecem, como a Covid-19 em NI como um processo (pós)colonial de dominação (ver Dörrenbächer et al., 2021Dörrenbächer, C., Sinkovics, R. R., Becker-Ritterspach, F., Boussebaa, M., Curran, L., Jonge, A. de, & Khan, Z. (2021). The Covid-19 pandemic: Towards a societally engaged IB perspective. Critical Perspectives on International Business, 17(2), 149-164. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-0021
http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-...
). A prioridade das vacinas nas nações imperiais e o ceticismo das vacinas chinesas e indianas é um tópico de análise que tem valor investigativo. Os mandatos “anti-vaxxer” (antivacinas) das nações imperiais e como isso afeta o NI devem levar a uma discussão promissora. Finalmente, as forças militares não esmoreceram (Fatehi & Taasoobshirazi, 2020Fatehi, K., & Taasoobshirazi, G. (2020). Contemplating the future: Mutating capitalism. Thunderbird International Business Review, 62(2), 161-169. https://doi.org/10.1002/tie.22113
https://doi.org/10.1002/tie.22113...
), portanto, a guerra colonial da Rússia e suas implicações adicionais para os estudos de NI devem justificar um debate considerável no futuro.

CONCLUSÃO

Ao realizar uma avaliação e revisão cuidadosa da literatura, esse artigo procurou fornecer uma análise e síntese da pesquisa teórica e empírica sobre NI a partir da perspectiva crítica do pós-colonialismo. Embora as teorias de NI tenham realizado esforços respeitáveis, avaliamos a literatura criticamente para expor o lado obscuro das práticas de NI. Com base em nossa análise, fornecemos pistas de que a atividade do NI está ligada a comportamentos coloniais históricos dos séculos passados, como a busca de recursos naturais, a exploração humana e o exercício do imperialismo da América do Norte e dos países europeus sobre as economias em desenvolvimento.

Notavelmente, as EMNs contribuíram para a atividade internacional. No entanto, descobrimos que elas podem aproveitar-se dos países menos desenvolvidos, apoiando, mesmo de maneira indireta, atividades ligadas a prática da escravidão, especialmente relacionadas ao trabalho infantil. Outros traços coloniais sugeridos persistiram, como a inglesização, como uma ferramenta comum de poder e dominação linguística. Também observamos que as EMNs e subsidiárias estão ligadas de forma bastante extensa aos seus antigos laços coloniais, estabelecendo mecanismos modernos de controle. Outro tema relevante surgiu durante a pandemia da Covid-19, mostrando claramente o poder do imperialismo e a discriminação contra as vacinas produzidas por economias emergentes, expondo ainda mais marcas coloniais de um passado não tão distante.

Por fim, nossa pesquisa apresenta limitações, ressaltando que uma revisão crítica enfrenta desafios metodológicos consideráveis, já que não é possível dar a mesma ênfase a toda a literatura disponível. Isso abre caminho para estudos futuros continuarem considerando outros métodos de pesquisa e análises mais sofisticadas. Considerando essas questões, esperamos que futuras pesquisas possam levar a novos pensamentos e implicações na literatura de NI.

  • Relatório de revisão por pares: O relatório de revisão por pares está disponível neste link

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer ao Editor-chefe Jorge Carneiro e ao Editor Associado, Professor Dr. Jens Gammelgaard, da Copenhagen Business School, por todos os comentários e sugestões construtivas. Os autores também agradecem aos dois revisores anônimos durante o processo por seus comentários perspicazes, que contribuíram significativamente para melhorar a qualidade deste artigo.

  • FINANCIAMENTO
    Este trabalho foi parcialmente financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e código de financiamento 001 e parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Proc. 152060/2022-7.

REFERENCES

  • Abdelrehim, N., Ramnath, A., Smith, A., & Popp, A. (2018). Ambiguous decolonisation: A postcolonial reading of the IHRM strategy of the Burmah Oil company. Business History, 63(1), 98-126. https://doi.org/10.1080/00076791.2018.1448384
    » https://doi.org/10.1080/00076791.2018.1448384
  • Abugre, J. B. (2018). Cross-cultural communication imperatives: Critical lessons for Western expatriates in multinational companies (MNCs) in sub-Saharan Africa. Critical Perspectives on International Business, 14(2/3), 170-187. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2017-0005
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2017-0005
  • Adams, K., Nayak, B. S., & Koukpaki, S. (2017). Critical perspectives on “manufactured” risks arising from Eurocentric business practices in Africa. Critical Perspectives on International Business, 14(2/3), 210-229. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-0058
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-0058
  • Adler, P. S., Forbes, L. C., & Willmott, H. (2007). Critical management studies. The Academy of Management Annals, 1(1), 119-179. https://doi.org/10.5465/078559808
    » https://doi.org/10.5465/078559808
  • Aguilera, R. V., Ciravegna, L., Cuervo-Cazurra, & Gonzalez-Perez, M. A. (2017). Multilatinas and the internationalization of Latin American firms. Journal of World Business, 52(4), 447-460. https://doi.org/10.1016/j.jwb.2017.05.006
    » https://doi.org/10.1016/j.jwb.2017.05.006
  • Alcaraz, J., & Salamanca, E. (2018). Migration and outward FDI: A double direction approach. Review of International Business and Strategy, 28(2), 240-257. https://doi.org/10.1108/RIBS-12-2017-0114
    » https://doi.org/10.1108/RIBS-12-2017-0114
  • Alvesson, M., & Deetz, S. (2000). Doing critical management research Sage.
  • Banerjee, S. B., & Linstead, S. (2001). Globalization, multiculturalism and other fictions: Colonialism for the new millennium? Organization, 8(4), 683-722. https://doi.org/10.1177/135050840184006
    » https://doi.org/10.1177/135050840184006
  • Barnard, H., Cuervo-Cazurra, A., & Manning, S. (2017). Africa business research as a laboratory for theory-building: Extreme conditions, new phenomena, and alternative paradigms of social relationships. Management and Organization Review, 13(3), 467-495. https://doi.org/10.1017/mor.2017.34
    » https://doi.org/10.1017/mor.2017.34
  • Boussebaa, M. (2021). From cultural differences to cultural globalization: Towards a new research agenda in cross-cultural management studies. Critical Perspectives on International Business, 17(3), 381-398. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2020-0003
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2020-0003
  • Boussebaa, M., & Brown, A. D. (2017). Englishization, identity regulation and imperialism. Organization Studies, 38(1), 7-29. https://doi.org/10.1177/0170840616655494
    » https://doi.org/10.1177/0170840616655494
  • Boussebaa, M., & Morgan, G. (2014). Pushing the frontiers of critical international business studies: The multinational as a neo-imperial space. Critical Perspectives on International Business, 10(1/2), 96-106. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2013-0046
  • Boussebaa, M., Sinha, S., & Gabriel, Y. (2014). Englishization in offshore call centers: A postcolonial perspective. Journal of International Business Studies, 45, 1152-1169. https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25
    » https://doi.org/10.1057/jibs.2014.25
  • Buckley, P. J. (1988) The Limits of Explanation: Testing the Internalization Theory of the Multinational Enterprise. Journal of International Business Studies, 19, 181-193. http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490382
    » http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490382
  • Buckley, P. J. (2021). The role of history in international business: Evidence, research practices, methods and theory. British Journal of Management, 1-15. https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446
    » https://doi.org/10.1111/1467-8551.12446
  • Buckley, P. J., & Casson, M. (1976). The future of the multinational enterprise Macmillan Press.
  • Burmester, B., Michailova, S., & Stringer, C. (2019). Modern slavery and international business scholarship: The governance nexus. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 139-157. https://doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0011
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0011
  • Cairns, G. (2005). Perspectives on a personal critique of international business. Critical Perspectives on International Business, 1(1), 43-55. http://dx.doi.org/10.1108/17422040510577898
    » http://dx.doi.org/10.1108/17422040510577898
  • Cairns, G. M. (2019). Critical engagement in international business: Creating meaning for a broad constituency. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 262-272. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0004
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0004
  • Das, A. (2021). Predatory FDI during economic crises: Insights from outbound FDI from China and host country responses. Critical Perspectives on International Business, 17(2), 321-341. https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2020-0050
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2020-0050
  • Daye, R. (2009). Poverty, race relations, and the practices of International Business: A study of Fiji. Journal of Business Ethics, 89(1), 115-127. https://www.jstor.org/stable/27749762
    » https://www.jstor.org/stable/27749762
  • Dörrenbächer, C., & Gammelgaard, J. (2019). Critical and mainstream international business research: Making critical IB an integral part of a societally engaged international business discipline. Critical Perspectives on International Business, 15(2/3), 239-261. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
    » http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2019-0012
  • Dörrenbächer, C., Sinkovics, R. R., Becker-Ritterspach, F., Boussebaa, M., Curran, L., Jonge, A. de, & Khan, Z. (2021). The Covid-19 pandemic: Towards a societally engaged IB perspective. Critical Perspectives on International Business, 17(2), 149-164. http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-0021
    » http://dx.doi.org/10.1108/cpoib-02-2021-0021
  • Dunning J. H. (1988). The eclectic paradigm of international production: A restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, 19, 1-31. https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490372
    » https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490372
  • Faria, A., Ibarra-Colado, E., & Guedes, A. L. (2010). Internationalization of management, neoliberalism and the Latin America challenge. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 97-115. https://doi.org/10.1108/17422041011049932
    » https://doi.org/10.1108/17422041011049932
  • Fatehi, K., & Taasoobshirazi, G. (2020). Contemplating the future: Mutating capitalism. Thunderbird International Business Review, 62(2), 161-169. https://doi.org/10.1002/tie.22113
    » https://doi.org/10.1002/tie.22113
  • French, L., & Wokutch, R. E. (2005). Child workers, globalization, and International Business ethics: A case study in Brazil's export-oriented shoe industry. Business Ethics Quarterly, 15(4), 615-640. https://doi.org/10.5840/beq200515443
    » https://doi.org/10.5840/beq200515443
  • Geppert, M., & Dörrenbächer, C. (2014). Politics and power within multinational corporations: Mainstream studies, emerging critical approaches and suggestions for future research. International Journal of Management Reviews, 16(2), 226-244. https://doi.org/10.1111/ijmr.12018
    » https://doi.org/10.1111/ijmr.12018
  • Glaister, K. W., Driffield, N., & Lin, Y. (2020). Foreign direct investment to Africa: Is there a colonial legacy? Management International Review, 60, 315-349. https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415-w
    » https://doi.org/10.1007/s11575-020-00415-w
  • Guedes, A. L., & Faria, A. (2010). International management, business and relations in Latin America. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 145-161. https://doi.org/10.1108/17422041011049969
    » https://doi.org/10.1108/17422041011049969
  • Hymer S. H. (1960). The international operation of national firms: A study of direct foreign investment (Ph.D. dissertation, Massachusetts Institute of Technology). (Published by MIT Press, 1966).
  • Ibarra-Colado, E., Faria, A., & Guedes, A. L. (2010). Introduction to the special issue on “Critical international management and international critical management: perspectives from Latin America”. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 86-96. https://doi.org/10.1108/17422041011049923
    » https://doi.org/10.1108/17422041011049923
  • Iwashita, H. (2022). Language and identity in the shadow: A multi-case study of a Japanese multinational Corporation. International Business Review, 31(2), 101913. https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2021.101913
    » https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2021.101913
  • Jacob, D., Svystunova, L., & Rao-Nicholson, R. (2022). MNE post-entry institutional strategies in emerging markets: An organizational field position perspective. European Management Review, 19(1), 53-74. https://doi.org/10.1111/emre.12472
    » https://doi.org/10.1111/emre.12472
  • Johanson, J., & Vahlne, J.-E. (1977). The internationalization process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of International Business Studies, 8, 23-32. https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490676
    » https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8490676
  • Kaplinsky, R., & Morris, M. (2009). Chinese FDI in Sub-Saharan Africa: Engaging with large Dragons. European Journal of Development Research, 21(4), 551-569. https://doi.org/10.1057/ejdr.2009.24
    » https://doi.org/10.1057/ejdr.2009.24
  • Konara, P., & Wei, Y. (2021). Does language matter to foreign subsidiary performance? International Marketing Review, 38(2), 276-299. https://doi.org/10.1108/IMR-05-2019-0129
    » https://doi.org/10.1108/IMR-05-2019-0129
  • Liou, R-S., & Rao-Nicholson, R. (2017). Out of Africa: The role of institutional distance and host-home colonial tie in South African Firms’ post-acquisition performance in developed economies. International Business Review, 26, 1184-1195. https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.04.010
    » https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.04.010
  • Mandiola, M. P. (2010). Latin America’s critical management? A liberation genealogy. Critical Perspectives on International Business, 6(2/3), 162-176. https://doi.org/10.1108/17422041011049978
    » https://doi.org/10.1108/17422041011049978
  • McKenna, S. (2011). A critical analysis of North American business leaders’ neocolonial discourse: Global fears and local consequences. Organization, 18(3), 387-406. https://doi.org/10.1177/1350508411398728
    » https://doi.org/10.1177/1350508411398728
  • Meouloud, T. A., Mudambi, R., & Hill, T. L. (2019). The Metropolitan effect: Colonial influence on the internationalization of Francophone African firms. Management and Organization Review, 15(1), 31-53. https://doi.org/10.1017/mor.2019.3
    » https://doi.org/10.1017/mor.2019.3
  • Meyer, K. E. (2017). International business in an era of anti-globalization. Multinational Business Review, 25(2), 78-90. https://doi.org/10.1108/MBR-03-2017-0017
    » https://doi.org/10.1108/MBR-03-2017-0017
  • Michailova, S., Piekkari, R., Storgaard, M., & Tienari, J. (2017). Rethinking ethnocentrism in International Business research. Global Strategy Journal, 7, 335-353. https://doi.org/10.1002/gsj.1159
    » https://doi.org/10.1002/gsj.1159
  • Mol, M. J., Stadler, C., & Ariño, A. (2017). Africa: The new frontier for global strategy scholars. Global Strategy Journal, 7(1), 3-9. https://doi.org/10.1002/gsj.1146
    » https://doi.org/10.1002/gsj.1146
  • Murphy, J. (2006). Critical challenges in the emerging global managerial order. Critical Perspectives on International Business, 2(2), 128-146. https://doi.org/10.1108/17422040610661307
    » https://doi.org/10.1108/17422040610661307
  • Osei, C., Omar, M., & Joosub, T. S. (2020). The effect of colonial legacies on Africa’s inward FDI: The case of UK FDI in Ghana. Critical Perspectives on International Business, 16(3), 259-277. https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2018-0041
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-05-2018-0041
  • Peng, M. W. (2003). Institutional transitions and strategic choices. Academy of Management Review, 28(2), 275-296. https://doi.org/10.5465/amr.2003.9416341
    » https://doi.org/10.5465/amr.2003.9416341
  • Reyes, A. B., Newburry, W., Carneiro, J., & Cordova, C. (2019). Using Latin America as a research laboratory: The moderating effect of trade openness on the relationship between inward and outward FDI. Multinational Business Review, 27(2), 122-140. https://doi.org/10.1108/MBR-03-2019-0022
    » https://doi.org/10.1108/MBR-03-2019-0022
  • Robb, B., & Michailova, S. (2023). Multinational enterprises’ narratives about and approaches to modern slavery: An exploratory study. Review of International Business and Strategy,33(2), 199-218. https://doi.org/10.1108/RIBS-10-2021-0128
    » https://doi.org/10.1108/RIBS-10-2021-0128
  • Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2012). The futures of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 8(1), 4-13. https://doi.org/10.1108/17422041211197530
    » https://doi.org/10.1108/17422041211197530
  • Roberts, J., & Dörrenbächer, C. (2014). Challenging the orthodox: A decade of critical perspectives on international business. Critical Perspectives on International Business, 10, 2-20. https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-0053
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-12-2013-0053
  • Sayed, Z., & Agndal, H. (2020). Neo-colonial dynamics in global professional service firms: A periphery perspective. Culture and Organization, 26(5/6), 425-443. https://doi.org/10.1080/14759551.2019.1694928
    » https://doi.org/10.1080/14759551.2019.1694928
  • Sayed, Z., & Agndal, H. (2022). Offshore outsourcing of R&D to emerging markets: Information systems as tools of neo-colonial control. Critical Perspectives on International Business, 18(3), 281-302. https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-0089
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-07-2020-0089
  • Selmier, W. T., II, & Oh, C. H. (2012). International business complexity and the internationalization of languages. Business Horizons, 55(2), 189-200. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2011.11.006
    » https://doi.org/10.1016/j.bushor.2011.11.006
  • Stevens, C., & Newenham-Kahindi, A. (2017). Legitimacy spillovers and political risk: The case of FDI in the African Community. Global Strategy Journal, 7, 10-35. https://doi.org/10.1002/gsj.1151
    » https://doi.org/10.1002/gsj.1151
  • Storgaard, M., Tienari, J., Piekkari, R., & Michailova, S. (2020). Holding on while letting go: Neocolonialism as organizational identity work in a multinational corporation. Organization Studies, 41(11), 1469-1489. https://doi.org/10.1177/0170840620902977
    » https://doi.org/10.1177/0170840620902977
  • Stringer, C., & Michailova, S. (2018). Why modern slavery thrives in multinational corporations’ global value chains. Multinational Business Review, 26(3), 194-206. https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032
    » https://doi.org/10.1108/MBR-04-2018-0032
  • Wanderley, S., & Celano, A. (2018). Brazil-Bolivia and a horse trade: A postcolonial case within South America. Critical Perspectives on International Business, 14(4), 426-441. https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-0048
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-11-2016-0048
  • Westwood, R., & Jack, G. (2007). Manifesto for a post-colonial international business and management studies. Critical Perspectives on International Business and Management Studies, 3(3), 246-265. https://doi.org/10.1108/17422040710775021
    » https://doi.org/10.1108/17422040710775021
  • Wuilbercq, E. (2021, June). Child labour rises globally for the first time in decades https://www.reuters.com/article/global-childlabour-idUSL5N2NQ0NK
    » https://www.reuters.com/article/global-childlabour-idUSL5N2NQ0NK
  • Yeganeh, H. (2020). A critical examination of the social impacts of large multinational corporations in the age of globalization. Critical Perspectives on International Business, 16(3), 193-208. https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0001
    » https://doi.org/10.1108/cpoib-01-2019-0001

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    21 Out 2021
  • Aceito
    31 Jan 2023
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br