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Alterações na composição corporal e em parâmetros antropométricos de dependentes de crack internados em unidade de adição

Changes in body composition and anthropometric parameters in crack-cocaine addicts admitted in an addiction unit

Resumos

OBJETIVOS: Verificar as alterações da composição corporal e de parâmetros antropométricos de dependentes de crack internados para tratamento da adição. MÉTODOS: Estudo de coorte prospectivo, com 40 voluntários masculinos dependentes de crack, de 18 a 60 anos, em tratamento. Foram aferidos parâmetros antropométricos e de composição corporal, por meio de bioimpedância elétrica, na internação e alta hospitalar. RESULTADOS: Com idade média de 29,3 ± 6,9 anos, os pacientes tiveram, durante a abstinência, aumento de peso de 7,6 ± 3,7 kg; 11,6 ± 6,4% do peso corporal; 5,6 ± 4,2 cm de circunferência de cintura. Houve aumento de 4,2 ± 3,2 kg de gordura, 3,5 ± 3,0 kg de massa magra e de 2,5 ± 2,6 litros de água. Ao se internarem, 75% estavam eutróficos, 17,5% apresentavam sobrepeso e 5% apresentavam desnutrição, valores que, na alta, se alteraram para 50% de eutrofia e 47,6% de sobrepeso (IMC - Índice de Massa Corporal). Observou-se que a média de ganho de peso foi maior nas duas primeiras semanas de internação. CONCLUSÃO: Ao longo da internação, foram identificados ganho de peso e alterações de composição corporal e nos parâmetros antropométricos dos pacientes, refletindo em migração da eutrofia para o sobrepeso em parcela expressiva deles.

Crack; antropometria; composição corporal


OBJECTIVES: Verify the alterations of body composition and of anthropometric parameters in crack addicted patients, hospitalized for addiction treatment. METHODS: Cohort prospective studies, with 40 crack addicted male volunteers, 18 to 60 years old, in treatment. Anthropometric parameters and body composition were measured, through bioelectric impedance analysis, within the hospital and at discharge. RESULTS: With an average age 29.3 ± 6.9 years, the patients have had, during abstinence, a weight gain of 7.6 ± 3.7 kg; 11.6 ± 6.4% of body weight; 5.6 ± 4.2 cm of waist circumference. There was an increase of 4.2 ± 3.2 kg of fat (obesity); 3.5 ± 3.0 kg of lean body mass and 2.5 ± 2.6 liters of water. When hospitalized, 17.5% of the patients presented overweight and 5% were malnourished, values that, at discharge, altered to 50% of eutrophy and 47.6% of overweight (BMI - Body Mass Index). It was observed that the average of weight gain increased in the first two weeks of hospitalization. CONCLUSION: During hospitalization a weight gain was identified as well as alterations in body composition and in anthropometric parameters of patients, resulting in migration from eutrophy to overweight, in an expressive group.

Crack; anthropometry; body composition


ARTIGO ORIGINAL

Alterações na composição corporal e em parâmetros antropométricos de dependentes de crack internados em unidade de adição

Changes in body composition and anthropometric parameters in crack-cocaine addicts admitted in an addiction unit

Fernanda Franz WillhelmI, II; Mariana EscobarII, III; Ingrid D. Schweigert PerryI, II

IHospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Residência Integrada Multiprofissional em Saúde

IIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), HCPA, Centro de Estudos em Alimentação e Nutrição

IIIHCPA, Serviço de Nutrição e Dietética

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Fernanda Franz Willhelm Hospital de Clínicas de Porto Alegre Centro de Pesquisa Clínica Prédio 21, sala 21307 Rua Ramiro Barcelos, 2350 90035-903 - Porto Alegre , RS, Brasil Fone: 55 51 3359 6321 ou Fax: 55 51 3359 8647 E-mail: fernandafranzw@gmail.com

RESUMO

OBJETIVOS: Verificar as alterações da composição corporal e de parâmetros antropométricos de dependentes de crack internados para tratamento da adição.

MÉTODOS: Estudo de coorte prospectivo, com 40 voluntários masculinos dependentes de crack, de 18 a 60 anos, em tratamento. Foram aferidos parâmetros antropométricos e de composição corporal, por meio de bioimpedância elétrica, na internação e alta hospitalar.

RESULTADOS: Com idade média de 29,3 ± 6,9 anos, os pacientes tiveram, durante a abstinência, aumento de peso de 7,6 ± 3,7 kg; 11,6 ± 6,4% do peso corporal; 5,6 ± 4,2 cm de circunferência de cintura. Houve aumento de 4,2 ± 3,2 kg de gordura, 3,5 ± 3,0 kg de massa magra e de 2,5 ± 2,6 litros de água. Ao se internarem, 75% estavam eutróficos, 17,5% apresentavam sobrepeso e 5% apresentavam desnutrição, valores que, na alta, se alteraram para 50% de eutrofia e 47,6% de sobrepeso (IMC - Índice de Massa Corporal). Observou-se que a média de ganho de peso foi maior nas duas primeiras semanas de internação.

CONCLUSÃO: Ao longo da internação, foram identificados ganho de peso e alterações de composição corporal e nos parâmetros antropométricos dos pacientes, refletindo em migração da eutrofia para o sobrepeso em parcela expressiva deles.

Palavras-chave: Crack, antropometria, composição corporal.

ABSTRACT

OBJECTIVES: Verify the alterations of body composition and of anthropometric parameters in crack addicted patients, hospitalized for addiction treatment.

METHODS: Cohort prospective studies, with 40 crack addicted male volunteers, 18 to 60 years old, in treatment. Anthropometric parameters and body composition were measured, through bioelectric impedance analysis, within the hospital and at discharge.

RESULTS: With an average age 29.3 ± 6.9 years, the patients have had, during abstinence, a weight gain of 7.6 ± 3.7 kg; 11.6 ± 6.4% of body weight; 5.6 ± 4.2 cm of waist circumference. There was an increase of 4.2 ± 3.2 kg of fat (obesity); 3.5 ± 3.0 kg of lean body mass and 2.5 ± 2.6 liters of water. When hospitalized, 17.5% of the patients presented overweight and 5% were malnourished, values that, at discharge, altered to 50% of eutrophy and 47.6% of overweight (BMI - Body Mass Index). It was observed that the average of weight gain increased in the first two weeks of hospitalization.

CONCLUSION: During hospitalization a weight gain was identified as well as alterations in body composition and in anthropometric parameters of patients, resulting in migration from eutrophy to overweight, in an expressive group.

Palavras-chave: Crack, anthropometry, body composition.

INTRODUÇÃO

O consumo de cocaína é amplo, crescente e preocupante, constituindo-se um dos maiores problemas de saúde pública e abrangendo uma camada da população potencialmente produtiva1. Derivado da cocaína, o crack vem assumindo posição de destaque em virtude do aumento mundial do seu consumo nas últimas décadas2,3.

No Brasil, o número de usuários, estimado pelos últimos levantamentos nacionais, aumentou de 0,4% em 20014 para 1,4% em 20125. Os serviços ambulatoriais especializados para tratamento da dependência começaram a sentir o impacto desse crescimento a partir dos anos 1990, quando em alguns centros a proporção de usuários de crack foi de 17% (1990) para 64% (1994)6.

O crack é resultado da mistura entre bicarbonato de sódio, adulterantes e cloridrato de cocaína (formando a "base livre") e, quando fumado, produz pequenas partículas absorvidas pelo pulmão, causando a sensação de prazer fugaz, o que pode ser um dos fatores responsáveis pelo início do abuso e da dependência da droga7. Seus efeitos no organismo, porém, são mais pronunciados comparados à utilização de outras vias por causa da liberação da cocaína diretamente na corrente sanguínea, por meio dos pulmões. A dependência ao crack acarreta rapidamente deterioração da vida mental, orgânica e social do indivíduo8. A intoxicação aguda pode produzir quadro de anorexia e trazer comprometimento do sistema digestivo, sendo comum o aparecimento de náuseas, vômitos e diarreia e, em alguns casos mais graves, o surgimento de úlceras no trato gastrointestinal9.

A avaliação da composição corporal tem recebido importância cada vez maior por causa do papel dos componentes corporais na saúde humana. O índice de massa corporal (IMC) é um dos indicadores mais utilizados na avaliação do estado nutricional, entretanto não é capaz de fornecer informações sobre a distribuição de gordura e composição corporal. A circunferência da cintura (CC) permite avaliar e predizer a gordura corporal, sendo, contudo, uma medida qualitativa, e não quantitativa10.

Já a análise da composição corporal por meio da bioimpedância elétrica (BIA) fornece os valores de massa de gordura, massa magra e água corporal por meio de equações preditivas ajustadas para sexo, idade, peso, altura e nível de atividade física11. A BIA é baseada na condução de uma corrente elétrica indolor de baixa intensidade aplicada ao organismo por meio de cabos conectados a eletrodos ou superfícies condutoras, que são colocados em contato com a pele. Fundamenta-se no princípio de que os tecidos corporais oferecem diferentes oposições à passagem da corrente elétrica. Essa oposição, chamada de impedância (Z), tem dois vetores, denominados resistência (R) e reactância (Xc). A impedância é baixa no tecido magro, onde se encontram, principalmente, os líquidos e eletrólitos, e alta no tecido adiposo12.

Apesar de conhecidas as diversas consequências clínicas do uso de crack1,13, poucos estudos avaliaram a associação da composição corporal e do estado nutricional com o uso de substâncias psicoativas14. Da mesma forma, os efeitos de programas de desintoxicação sobre essas variáveis foram pouco explorados15, evidenciando lacuna de informações quanto a esses aspectos, o que motivou o presente estudo. Este foi, portanto, delineado com o objetivo de verificar as alterações da composição corporal e de parâmetros antropométricos de dependentes de crack internados em uma unidade de tratamento da adição.

MÉTODOS

Trata-se de estudo de coorte prospectivo, com amostra de conveniência composta por voluntários do sexo masculino, internados para desintoxicação no período de março a agosto de 2012, na Unidade de Adição do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), diagnosticados como dependentes de cocaína fumada/crack segundo critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais16.

A unidade foi inaugurada em março de 2012 e conta com 20 leitos masculinos atendidos por uma equipe multiprofissional. O objetivo geral da unidade de adição é realizar o tratamento e a reinserção social de indivíduos com transtornos relacionados à adição de drogas, promovendo melhora clínica/psiquiátrica e redução dos danos, em articulação com a rede de atenção em saúde. O tratamento é dividido em três etapas. A primeira etapa é a de desintoxicação, e nela são analisados os diagnósticos de comorbidades clínicas. A segunda etapa é a de reabilitação focada na motivação e adesão ao tratamento, na qual são trabalhados o manejo da fissura e prevenção de recaída. A terceira e última etapa é a de preparação para alta e reinserção, e nela são realizadas tarefas tais como prevenção de recaída, manutenção de motivação, programas de reinserção e planejamento da alta. Além de consultas individuais, o tratamento tem base nas atividades grupais. O programa conta com atividades físicas diárias, incluindo atividades aeróbicas e de força. A alimentação ocorre no refeitório e é dividida em seis refeições diárias, e no almoço e no jantar os pacientes se servem conforme sua tolerância e aceitação, sendo, portanto, imprecisa a análise do seu consumo alimentar.

O crack deveria ser a droga de preferência dos participantes, não sendo critério de exclusão o uso de outras substâncias psicoativas. Os pacientes deveriam ter idade entre 18 e 60 anos e ser clinicamente estáveis e com período de internação maior ou igual a 15 dias.

Os critérios de exclusão utilizados foram: a impossibilidade de aplicação da BIA (portadores de marca-passo, amputação de membro inferior e ou superior inteiro, impossibilitando a aplicação dos eletrodos ou integridade de pele prejudicada) e inviabilidade de avaliação da composição corporal e antropométrica dentro das 72 horas pós-baixa e pré-alta.

Foram avaliados parâmetros antropométricos [peso, estatura, CC, circunferência do braço (CB) e dobra cutânea tricipital (DCT)] e composição corporal, além da idade e aspectos clínicos (consumo de substâncias psicoativas, tempo de abstinência, comorbidades e medicação utilizada).

Os dados de idade e clínicos foram obtidos do prontuário dos pacientes. A avaliação antropométrica foi realizada nas primeiras 72 horas de internação. Foram verificados peso e estatura com a utilização de balança Líder® LD 1050 (Líder®, Brasil) com precisão de 50g com estadiômetro acoplado, para determinação do IMC (peso em m/estatura em cm2). O estado nutricional foi classificado de acordo com os pontos de corte da Organização Mundial da Saúde17. As CB e CC foram avaliadas utilizando-se fita métrica com sensibilidade de 1 mm (Mercur®, Brasil), e para a mensuração da DCT utilizou-se adipômetro de marca Cescorf Científico (Cescorf®, Brasil), com capacidade de avaliar até 100 mm e sensibilidade de 0,1mm, seguindo protocolo de Duarte18. Semanalmente, os pacientes foram pesados na mesma balança e seguindo o mesmo protocolo18.

A composição corporal, igualmente avaliada 72 horas após a internação, foi analisada por meio do aparelho de BIA Maltron BF 906 (Maltron®, Reino Unido), com os pacientes em jejum de 2 a 3 horas, 30 minutos após a eliminação da urina, sem prática de exercícios físicos nas 12 horas que antecederam o teste, seguindo as instruções pré-teste descritas pelo fabricante. O método tetrapolar utiliza quatro eletrodos aplicados na mão, no punho, no pé e no tornozelo direitos. Esse aparelho fornece dados de massa magra (MM), massa gorda (MG) e água corporal total. O procedimento com a BIA e a avaliação antropométrica foi repetido dentro das 72 horas prévias à alta hospitalar.

Para análise dos dados, foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences, versão 18.0 (SPSS Inc., Chicago, IL). A análise exploratória dos dados contou com testes descritivos e de frequência. A análise inferencial empregou o teste t de Student para amostras pareadas e o teste de Wilcoxon para variáveis não paramétricas. Foram verificadas associações entre a evolução dos parâmetros antropométricos e de composição corporal com tempo de abstinência por meio do coeficiente de correlação linear de Spearman. Para avaliar a proporção de pacientes nas diferentes classificações do estado nutricional na internação e na alta hospitalar, foi utilizado o teste de McNemar. Para avaliar a diferença do ganho de peso semanal, foi utilizado o Equações de Estimação Generalizadas (GEE/Bonferroni). O nível de significância considerado foi 5%.

O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA (protocolo nº 120.060). Os dados foram coletados depois de cada indivíduo ser informado sobre os procedimentos e objetivos e ter consentido em participar do estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Adicionalmente, os pesquisadores assinaram o Termo de Compromisso para Uso de Dados.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 40 homens, com idade média de 29,3 ± 6,9 anos. O tratamento teve duração média de 30,5 ± 7,1 dias. O perfil dos pacientes quanto a comorbidades clínicas e medicação utilizada durante o período de desintoxicação pode ser visto na tabela 1.

O percentual de dependentes que fizeram uso ao longo da vida e a idade de início do uso das substâncias psicoativas estão representados na tabela 2, podendo-se observar uma média de idade de início do uso do crack de 21,5 ± 6,1 anos.

Durante a abstinência, os pacientes tiveram aumento de peso de, em média, 7,6 ± 3,7 kg; de 11,6 ± 6,4% do peso corporal; de 2,5 ± 1,3 kg/m² de IMC; de 5,6 ± 4,2 cm de CC; de 2,2 ± 1,5 cm de CB e de 6,1 ± 4,5 mm de DCT. Já em relação à composição corporal, houve aumento do percentual de gordura de 3,7 ± 3,2% (representando ganho de, em média, 4,2 ± 3,2 kg de MG) e redução proporcional do percentual MM de 3,6 ± 3,2% e de água (2,7 ± 2,3%), representando, contudo, ganho de 3,5 ± 3,0 kg de MM e de 2,5 ± 2,6 litros para a quantidade de água.

Os valores das variáveis antropométricas e de composição corporal podem ser vistos na tabela 3.

Considerando a classificação do estado nutricional, foram verificadas mudanças no percentual de pacientes eutróficos e com excesso de peso ao longo do período de tratamento, como pode ser visto na figura 1.


A figura 2 representa a evolução de ganho de peso durante a internação, observando-se diferenças estatisticamente significativas entre as duas primeiras semanas de internação e as duas últimas, porém não houve diferença significativa entre o ganho de peso das duas primeiras semanas nem entre as duas últimas entre si. O mesmo padrão ocorreu com o percentual de ganho de peso, que foi de 5,0 ± 0,6% na primeira semana; de 3,1 ± 0,5% na segunda semana; de 1,5 ± 0,4% na terceira semana; e de 1,5 ± 0,3% na quarta semana (p < 0,01 para semana 1 x semana 3, semana 1 x semana 4, p < 0,01; semana 2 x semana 4; p = 0,02 para semana 2 x semana 3, p = 0,02, teste de GEE/Bonferroni), sem significância entre as duas primeiras semanas e as duas últimas.


Ainda considerando o tempo de internação, foram analisadas as correlações entre este e as variáveis antropométricas e de composição corporal, não havendo sido observada nenhuma correlação significativa. Apenas a variação de peso mostrou tendência a uma fraca correlação positiva (rs = 0,294; p = 0,06; coeficiente de Spearman).

DISCUSSÃO

A amostra do presente estudo apresenta características semelhantes ao que é referido pela literatura quanto à idade de início de consumo de crack e da ordem da sequência de uso (em anos) de substâncias psicoativas15,19. Ainda segundo a literatura, o consumo de substâncias psicoativas por dependentes de crack inicia-se pelas drogas lícitas, sendo a maconha a mais comum da segunda fase de experimentação20. Dunn et al.21 encontraram em sua pesquisa que quase a totalidade (96%) dos usuários de crack já havia feito uso ao longo da vida de maconha, sendo álcool (88%) e tabaco (87%) também muito prevalentes, com tendência e valores similares aos encontrados neste estudo.

Há poucos dados da literatura a respeito de comorbidades encontradas nesses pacientes, sendo mais abordadas as doenças infecciosas e sexualmente transmissíveis do que doenças crônicas não transmissíveis22. Estudo nacional de revisão apontou que o consumo de crack é associado à infecção por HIV e comportamento de risco mais frequente2. Azevedo et al.23 e Carvalho e Seibel24 avaliaram usuários de crack do sexo masculino e detectaram valores de prevalência de HIV de 11% e 6,6%, respectivamente. O presente estudo encontrou prevalência maior de doenças infecciosas e de transmissão sexual, com percentual de HIV intermediário entre os dois estudos citados.

Durante o período de internação, houve alterações significativas nos parâmetros antropométricos e na composição corporal, em especial no aumento do percentual de gordura e MG, o que repercutiu no aumento de peso dos usuários. Isso não se apresentou, na grande parte dos casos, como algo saudável, e sim como fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, principalmente para diabetes, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia10, uma vez que se refletiu em condições de sobrepeso. Balbinot et al.14 também observaram alterações corporais importantes durante o período de desintoxicação, com aumento do peso de gordura, entretanto não de peso de MM. No presente estudo, o aumento significativo de MM, possivelmente, se mostrou principalmente em ganho de água, e não em ganho de massa muscular, o que pode repercutir diretamente nas valências físicas dos indivíduos, em suas capacidades funcionais, e pode influenciar no surgimento e/ou agravamento tanto de doenças metabólicas quanto psíquicas25. Vale ressaltar que o programa de tratamento do local do estudo inclui atividades físicas aeróbicas e anaeróbicas, que também podem ter contribuído para o aumento de MM.

Apesar de, no presente estudo, ser restrito o número de pacientes com alterações cardiovasculares e metabólicas, sabe-se que, além dos efeitos nocivos do excesso de peso para o sistema cardiovascular, esse sistema também é alvo das complicações do crack mais comprometedoras e potencialmente ameaçadoras à vida do usuário, como angina, infarto agudo do miocárdio e aumento do volume cardíaco, acidentes vasculares cerebrais e arritmias cardíacas. A cocaína e seus derivados podem causar aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca de maneira dose-dependente. Os efeitos potencializadores da droga sobre o sistema cardiovascular são decorrentes da ação antagonista central sobre as monoaminas, podendo deixar o organismo mais sensível à ação destas, aumentar a frequência cardíaca, a pressão arterial, a contração cardíaca e o potencial de relaxamento cardíaco e vasoconstrição coronariana. Estudo indica que o risco de infarto agudo do miocárdio até 60 minutos após o uso de cocaína é 24 vezes maior em pacientes de baixo risco. A aterosclerose coronária prematura tem sido vista em 35% a 40% dos dependentes jovens de cocaína. Além disso, a cocaína pode também aumentar a agregação plaquetária por mecanismo alfa-adrenérgico e potencializar a produção de tromboxano pelas plaquetas26.

É importante ressaltar que os pacientes, ao se internarem, na sua maioria apresentavam estado nutricional adequado (75%), seguido de sobrepeso (17,5%) pelos critérios do IMC. Apenas 5,0% encontravam-se em algum grau de desnutrição. Esses aspectos podem estar ligados ao fato de que a amostra era composta de pacientes que se internaram voluntariamente para tratamento. Sabe-se que apenas 10% dos usuários de cocaína procuram tratamento5, podendo, assim, os participantes desta pesquisa possuir características clínicas e estado físico mais preservados que os demais usuários ativos da droga, refletindo no seu estado nutricional e de composição corporal. Esse fato também pode estar relacionado com o prognóstico de alterações corporais desses pacientes.

Em virtude do ganho de peso na internação, o estado nutricional dos usuários deste estudo também se alterou, resultando na diminuição do percentual de eutróficos para 50% e aumento nos percentuais de sobrepeso para 47,6%, além de migração de classificação do estado nutricional dos desnutridos para a eutrofia. Esses resultados vão de encontro aos da literatura no que se refere a pacientes dependentes químicos em processo de recuperação, em especial em recuperação de cocaína/crack. Oliveira et al.27 avaliaram os hábitos alimentares e o perfil antropométrico de dependentes químicos em tratamento em uma fazenda terapêutica e encontraram prevalência maior de eutrofia (76,92%) seguida de sobrepeso (19,23%) e obesidade (1,92%). Pesquisa feita com usuários de múltiplas drogas na Noruega encontrou 83% de indivíduos com IMC dentro do adequado, 3% abaixo do normal e 14% acima do índice esperado28.

Pesquisas observaram excesso de peso e padrões alimentares disfuncionais em indivíduos em recuperação da adição de drogas29,30, tendo dieta pobre em nutrientes essenciais, com baixo consumo de leite e derivados, de frutas e verduras e, consequentemente, de vitaminas e minerais, fibras e proteína animal31. A hiperfagia rebote seguida à abstinência pode ser um mecanismo para restabelecer os neurotransmissores (dopamina e serotonina, principalmente) do sistema de recompensa, levando ao aumento de peso e do IMC durante a recuperação da adição a substâncias32. No presente estudo, o fato de o paciente poder servir-se de acordo com a própria tolerância e aceitação em duas das principais refeições pode ter contribuído para maior consumo alimentar.

Reguladores hormonais da homeostase energética podem agir também no sistema de recompensa do cérebro, principalmente no sistema de dopamina do mesoaccumbens33, para aumentar ou diminuir o valor de incentivo de alimentos, dependendo das necessidades energéticas. No entanto, a estimulação elétrica ou química das áreas do cérebro que regulam a recompensa alimentar pode provocar compulsão alimentar, uma vez que os sinais de saciedade homeostáticos ficam comprometidos34. Isso sugere que a obtenção dos efeitos prazerosos da comida é uma poderosa força motivadora que pode substituir os sinais de saciedade e, sendo assim, alimentos mais palatáveis (com mais açúcares e gorduras) geralmente são consumidos com maior frequência e em maior quantidade. Os sistemas de regulação da ingestão de alimentos e uso de drogas são os mesmos, e respostas adaptativas similares podem acionar o sistema de recompensa no cérebro. Como resultado, a obesidade é agora conceituada como uma forma de comportamento compulsivo, similar ao vício em substâncias psicoativas35.

Outro fato que pode estar associado ao ganho de peso desses pacientes é a medicação utilizada para o tratamento de crack, que tem como possíveis efeitos colaterais o aumento de apetite e consequente aumento da ingestão alimentar e ganho de peso36.

Embora não tenha havido correlação entre o tempo de internação e as diversas variáveis antropométricas e de composição corporal, possivelmente por causa de certa similaridade do período de permanência dos pacientes, houve maior ganho de peso e, possivelmente, de gordura corporal nas duas primeiras semanas de internação, com considerável diminuição da velocidade de ganho nas semanas seguintes. Estudos com animais e seres humanos evidenciam ganho de peso após períodos de privação ou restrição, similar ao que ocorre com usuários de crack37. O período inicial de recuperação da dependência química mostra ser aquele com ganho de peso mais intenso, podendo ultrapassar inclusive a perda de peso no período de adição38. Após privação alimentar, a deficiência de energia pode ser rapidamente restaurada com o início da realimentação39, ocorrendo rápido ganho de peso e acúmulo de gordura40. Isso ocorre pelo fato de a concentração de leptina ser inversamente proporcional ao apetite41, portanto restrições calóricas levam à superalimentação após o período de realimentação42, o que promove o aumento da massa gorda43. Apesar de essa ser uma explicação plausível para dependentes químicos em tratamento, no presente estudo, pelo estado nutricional prévio, não é possível afirmar que tenha havido privação pelos dados deles, podendo talvez esse fenômeno ser atribuído muito mais à substituição da droga pela alimentação no mecanismo de recompensa.

Este estudo apresentou como limitações o tamanho da amostra, a falta de grupo controle, a utilização concomitante de anticonvulsivantes e antipsicóticos e a polidependência associada a diferentes efeitos fisiológicos e psíquicos. Nesse sentido, a ampliação da amostra, a avaliação do consumo alimentar prévia e durante a internação, assim como a busca da associação entre atividade física e mudança da composição corporal, efeitos dos medicamentos e análise de aspectos da polidependência, constituem perspectivas a serem investigadas nessa população. Do acompanhamento ambulatorial pós-alta também poderão derivar informações importantes quanto aos efeitos da abstinência no médio e no longo prazos.

CONCLUSÃO

Foi possível identificar que, ao longo da internação hospitalar, ocorreram alterações importantes nos parâmetros antropométricos e de composição corporal. Foi identificado ganho de peso, mais intenso nas duas primeiras semanas de tratamento, e alterações de composição corporal e nos parâmetros antropométricos, refletindo em migração da eutrofia para o sobrepeso em parcela expressiva dos pacientes.

Essas alterações não são necessariamente produtivas para saúde geral e qualidade de vida do dependente químico, levando à reflexão sobre se esses fenômenos não deveriam ser levados em consideração na construção do plano terapêutico para o usuário de crack. O ganho de peso excessivo que geralmente ocorre no início da recuperação realça ainda mais a importância de abordar o tema da alimentação no tratamento para usuários de substâncias psicoativas, incluindo nele metas adequadas para recuperação de peso, planos dietéticos que visem a práticas alimentares saudáveis e oficinas de educação nutricional, além do incentivo à prática de atividades físicas, contemplando mudanças de hábitos que, realizadas com o apoio e a integração de equipe multiprofissional, promovam alterações no estilo de vida e no controle de comportamentos adictos desses pacientes.

Além disso, sabendo que o crack é no momento um dos maiores problemas de saúde pública do país, mais estudos voltados para esses aspectos tornam-se relevantes em vista das implicações que poderão ter sobre alternativas terapêuticas eficazes para o tratamento, minimizando, contudo, impactos sobre o comprometimento de outros aspectos de saúde e qualidade de vida dos dependentes.

CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS

Fernanda Franz Willhelm - Concepção e desenho do estudo, elaboração do artigo e aprovação da versão final a ser publicada.

Mariana Escobar - Análise e interpretação dos dados, revisão crítica do conteúdo intelectual do artigo e aprovação da versão final a ser publicada.

Ingrid D. Schweigert Perry - Concepção e desenho do estudo e elaboração do artigo, revisão crítica do seu conteúdo intelectual e aprovação da versão final a ser publicada.

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores não possuem conflitos de interesse a serem declarados.

AGRADECIMENTO

Ao Fundo de Incentivo a Pesquisa e Eventos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre/RS, pelo suporte financeiro, e à acadêmica de Nutrição Cristiane Schulz Parizotti (UFRGS), pelo auxílio na coleta de dados do trabalho.

Recebido em 8/3/2013

Aprovado em 29/6/2013

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Out 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      08 Mar 2013
    • Aceito
      29 Jun 2013
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