Diabetes Mellitus, Exercício Físico e Variabilidade da Frequência Cardíaca

Diabetes Mellitus/prevenção e controle; Exercício; Frequência Cardíaca; Fatores de Risco; Obesidade; Comportamento Sedentário; Idoso

A prevalência de diabetes mellitus (DM) tem crescido nas últimas décadas.¹ Fatores de risco para desenvolver DM foram bem estabelecidos em estudos clínicos. Entre esses, destacam-se o sedentarismo, envelhecimento e obesidade.² O DM, definido pelo aumento da concentração plasmática de glicose, é comumente acompanhado por alterações cardiovasculares como hipertensão, doença coronariana, insuficiência cardíaca e neuropatia autonômica cardíaca.³ Como as doenças cardiovasculares constituem as principais causas de óbito e morbidade na atualidade, estudos que visem o melhor entendimento dos mecanismos fisiopatológicos inerentes ao DM têm grande importância.

A neuropatia autonômica cardíaca é caracterizada por alterações em fibras que inervam o coração e vasos sanguíneos.⁴ , ⁵ Nesta condição, alterações da função nervosa levam a redução da variabilidade da frequência cardíaca e alteração da sensibilidade barorreflexa.⁶ O exercício físico é considerado uma terapia não farmacológica importante para auxiliar na prevenção e controle do DM e de suas consequências clínicas.⁷ Nos últimos anos, pesquisadores vêm observando que o exercício pode ser eficaz também na prevenção e tratamento da neuropatia autonômica cardíaca.⁷

O exercício físico aumenta a variabilidade da frequência cardíaca e melhora a função autonômica em condições fisiológicas e patológicas.⁸ Estudos experimentais em DM mostraram que o exercício diminui a bradicardia e melhora a função do sistema nervoso parassimpático.⁹ , ¹⁰ No entanto, os efeitos do exercício sobre a variabilidade da frequência cardíaca no DM não foram completamente esclarecidos. Souza Neto et al.¹¹ investigaram, em ratos diabéticos, os efeitos do exercício físico na variabilidade da frequência cardíaca, capacidade funcional, e variáveis funcionais cardíacas obtidas em preparações de coração isolado. Os autores utilizaram o modelo experimental de DM tipo 1 induzido por estreptozotocina. Os animais foram submetidos a dois tipos de exercício, o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT), alternando ciclos de 1:1 min entre 50% e 90% da capacidade máxima de exercício, e o treinamento contínuo, realizado a 70% da capacidade máxima de exercício. Ratos sem DM e com DM sem treinamento constituíram os grupos controle. Eletrocardiogramas foram registrados por uma hora sem restrição dos animais. Após 4 semanas, o HIIT induziu maior melhora da capacidade funcional que o treinamento contínuo, tanto nos ratos controle como naqueles diabéticos. A função cardíaca foi reduzida nos grupos com DM e não foi influenciada pelo exercício físico. Os grupos com DM tiveram menor frequência cardíaca que os controles, independentemente da realização e do tipo de exercício. Apesar da menor frequência cardíaca nos ratos diabéticos, a variabilidade da frequência cardíaca não diferiu entre os grupos DM e controles.

Como os autores enfatizaram, a curta duração do estudo¹¹ pode ter sido uma limitação, uma vez que efeitos decorrentes do DM e do exercício físico sobre a variabilidade da frequência cardíaca poderiam ter ocorrido se houvesse tempo maior de observação.

Os resultados controversos ao da literatura mostram a necessidade de estudos adicionais para esclarecer os efeitos do treinamento físico de alta intensidade e do treinamento contínuo na variabilidade da frequência cardíaca durante o DM.

Referências

• ¹
  Tsao CW, Aday AW, Almarzooq ZI, Alonso A, Beaton AZ, Bittencourt MS, et al. Heart Disease and Stroke Statistics-2022 Update: A Report From the American Heart Association. Circulation. 2022;145(8):e153–639.
• ²
  Gimenes R, Gimenes C, Rosa CM, Xavier NP, Campos DHS, Fernandes AAH, et al. Influence of apocynin on cardiac remodeling in rats with streptozotocin-induced diabetes mellitus. Cardiovasc Diabetol. 2018 Jan 17;17(1):15.
• ³
  Ahmad E, Lim S, Lamptey R, Webb DR, Davies MJ. Type 2 diabetes. Lancet (London, England). 2022 Nov 19;400(10365):1803–20.
• ⁴
  Forbes JM, Cooper ME. Mechanisms of diabetic complications. Physiol Rev. 2013 Jan;93(1):137–88.
• ⁵
  Vinik AI, Erbas T, Casellini CM. Diabetic cardiac autonomic neuropathy, inflammation and cardiovascular disease. J Diabetes Investig. 2013 Jan;4(1):4–18.
• ⁶
  Souza SBC, Flues K, Paulini J, Mostarda C, Rodrigues B, Souza LE, et al. Role of exercise training in cardiovascular autonomic dysfunction and mortality in diabetic ovariectomized rats. Hypertens (Dallas, Tex 1979). 2007 Oct;50(4):786–91.
• ⁷
  Singleton JR, Smith AG, Marcus RL. Exercise as Therapy for Diabetic and Prediabetic Neuropathy. Curr Diab Rep. 2015 Dec;15(12):120.
• ⁸
  Grisé KN, Olver TD, McDonald MW, Dey A, Jiang M, Lacefield JC, et al. High Intensity Aerobic Exercise Training Improves Deficits of Cardiovascular Autonomic Function in a Rat Model of Type 1 Diabetes Mellitus with Moderate Hyperglycemia. J Diabetes Res. 2016;2016:1–13.
• ⁹
  Sanches IC, Conti FF, Bernardes N, Brito J de O, Galdini EG, Cavaglieri CR, et al. Impact of combined exercise training on cardiovascular autonomic control and mortality in diabetic ovariectomized rats. J Appl Physiol. 2015 Sep 15;119(6):656–62.
• ¹⁰
  Nakos I, Kadoglou NPE, Gkeka P, Tzallas AT, Giannakeas N, Tsalikakis DG, et al. Exercise Training Attenuates the Development of Cardiac Autonomic Dysfunction in Diabetic Rats. In Vivo. 2018;32(6):1433–41.
• ¹¹
  Souza Neto ED, Peixoto JVC, Rank Filho C, Petterle RR, Fogaça RTH, Wolska BM, et al. Effects of High-Intensity Interval Training and Continuous Training on Exercise Capacity, Heart Rate Variability and Isolated Hearts in Diabetic Rats. Arq Bras Cardiol. 2023; 120(1):e20220396.

• Minieditorial referente ao artigo: Efeitos do Treinamento Intervalado de Alta Intensidade e do Treinamento Contínuo na Capacidade de Exercício, Variabilidade da Frequência Cardíaca e em Corações Isolados em Ratos Diabéticos

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  13 Fev 2023
• Data do Fascículo
  Jan 2023