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Iniciativas Brasileiras Lideram com Forte Cooperação Científica para Enfrentar Questões da COVID-19: O Caso da Coalizão COVID-19 Brasil

COVID-19/tendências; Cooperação Técnica; Terapias Investigacionais; Vacinas/tendências; Anticoagulantes

Minieditorial referente ao artigo: Rivaroxabana em Pacientes Ambulatoriais com COVID-19 Leve ou Moderada: Fundamentação e Desenho do Estudo CARE (CARE – Coalition COVID-19 Brazil VIII)

“É a longa história da humanidade (e da espécie animal também) que aqueles que aprenderam a colaborar e improvisar com mais eficácia prevaleceram.”

Charles Darwin

A pandemia de COVID-19 em andamento destacou a importância da pesquisa científica colaborativa como nunca antes. Com o mundo enfrentando uma crise de saúde sem precedentes, ficou claro que a colaboração científica e o compartilhamento de conhecimento são essenciais para encontrar soluções para os desafios impostos pela pandemia. A cooperação científica aumentou durante a pandemia, trazendo a capacidade de reunir recursos e conhecimentos de todo o mundo.1 A ciência cooperativa pode levar a uma compreensão mais abrangente do vírus, sua transmissão e a doença que ele causa. Com o COVID-19, pesquisadores de todo o mundo se uniram para compartilhar dados, colaborar em estudos e desenvolver novas terapias e vacinas.

A pesquisa científica colaborativa é a chave para acelerar o ritmo da pesquisa. O modelo tradicional de pesquisa científica envolve um processo lento e muitas vezes fragmentado de descoberta, validação e disseminação. No Brasil, um exemplo seminal de colaboração é a iniciativa de coalizão que reúne mais de 70 centros em todo o país e conduziu vários ensaios clínicos randomizados com mais de 5.000 participantes. Um bom exemplo de seus resultados é o estudo da Coalizão Covid Brasil III, que demonstrou que a dexametasona melhora pacientes com COVID-19 grave.2 Esses resultados são comparáveis ao histórico Recovery Trial, que demonstrou pela primeira vez que em pacientes hospitalizados com Covid-19, a dexametasona resultou em menor mortalidade em 28 dias.3 Estudos de Coalizão também mostraram que a hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, não beneficiou casos leves a moderados4 ou casos graves de COVID-19.5

Embora muito progresso tenha sido feito na compreensão da fisiopatologia do COVID-19, ainda há muito a ser aprendido sobre o manejo ideal de pacientes com essa doença. Uma das principais complicações associadas ao COVID-19 são os eventos tromboembólicos, que podem trazer sérias consequências para os pacientes.6 Nesse contexto, o estudo CARE tem como objetivo investigar os potenciais benefícios da profilaxia antitrombótica com rivaroxabana em pacientes ambulatoriais com COVID-19.7

A justificativa para este estudo é baseada em evidências anteriores que sugerem que a infecção por COVID-19 pode causar danos diretos às células endoteliais e levar a um estado pró-coagulante. Isso pode aumentar o risco de eventos tromboembólicos em pacientes com COVID-19. Embora as terapias antitrombóticas tenham sido estudadas em pacientes hospitalizados, o papel da tromboprofilaxia no ambiente ambulatorial ainda não está claro.

O estudo CARE – Coalizão COVID-19 Brasil VIII é um ensaio clínico randomizado controlado que visa avaliar o impacto da rivaroxabana em eventos trombóticos venosos ou arteriais, suporte ventilatório invasivo e óbito em pacientes ambulatoriais com COVID-19. O estudo inclui pacientes com infecção confirmada ou suspeita por SARS-CoV-2 e sintomas leves ou moderados que não requerem hospitalização e apresentam um fator de risco para complicações do COVID-19. O desfecho primário composto do estudo compreende tromboembolismo venoso, necessidade de ventilação mecânica invasiva, eventos cardiovasculares agudos importantes e mortalidade em 30 dias a partir da randomização. O estudo seguirá o princípio de intenção de tratar e todos os pacientes fornecerão consentimento informado. Os principais desfechos trombóticos e hemorrágicos, hospitalizações e mortes serão julgados centralmente por um comitê de eventos clínicos independente, cego para os grupos de tratamento designados.

No entanto, é importante observar que o estudo está em andamento e seus resultados ainda não foram determinados. O estudo CARE é uma investigação oportuna e relevante que pode ajudar a otimizar o manejo de pacientes com COVID-19. Os resultados do estudo podem fornecer orientações muito necessárias sobre o uso de profilaxia antitrombótica em pacientes ambulatoriais com COVID-19 e, em última análise, melhorar os resultados dos pacientes

Em resumo, a iniciativa da Coalizão COVID-19 Brasil é extremamente importante na luta contra a pandemia de COVID-19 no Brasil. Ao reunir recursos e expertise, a iniciativa está acelerando o ritmo da pesquisa, melhorando a equidade e o acesso e salvando vidas (Figura 1). Enquanto o Brasil continua lutando contra a pandemia, a iniciativa Coalizão COVID-19 Brazil é um bom exemplo de esforços colaborativos para combater o vírus e proteger a saúde pública. Os resultados do estudo CARE fornecerão informações valiosas sobre os benefícios potenciais da tromboprofilaxia em pacientes ambulatoriais com COVID-19. Se o estudo demonstrar uma redução nos eventos tromboembólicos e outros resultados adversos, poderá ter implicações significativas no manejo de pacientes com COVID-19.

Figura 1
– Principais benefícios da colaboração científica.

Referências

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  • 2
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    Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azevedo LCP, Veiga VC, Avezum A, et al. Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. N Engl J Med.2020 Nov 19;383(21):2041–52. DOI: 10.1056/NEJMoa2019014
  • 5
    Furtado RHM, Berwanger O, Fonseca HA, Corrêa TD, Ferraz LR, Lapa MG, et al. Azithromycin in addition to standard of care versus standard of care alone in the treatment of patients admitted to the hospital with severe COVID-19 in Brazil (COALITION II): a randomised clinical trial. Lancet. 2020 Oct 3;396(10256):959–67. DOI: 10.1016/S0140-6736(20)31862-6
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  • 7
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    2023
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