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O que faz um nome? Status, conselho de administração e características organizacionais como antecedentes da reputação corporativa

What makes a name? status, board of directors and organizational characteristics as antecedents of corporate reputation

El nombre de la empresa: status, consejo de administración y características organizacionales como antecedentes de la reputación corporativa

RESUMO

Neste artigo, analisa-se como os mercados diferenciados (status), o conselho de administração e as características organizacionais condicionam a reputação das empresas de capital aberto brasileiras. Com base em 1.396 observações coletadas entre os anos de 2002 e 2007 na BM&F Bovespa, utiliza-se um modelo de seleção em dois estágios para evidenciar que empresas que fazem parte do Novo Mercado, como do mercado norte-americano por meio de American Depositary Receipt (ADR), têm maiores chances de ser mais admiradas. Todavia, isso não influencia a diferenciação da reputação. Também se verifica que o capital social dos conselhos, por meio dos laços fracos, está situado em empresas com reputação destacada. Além disso, os resultados apontam que a rentabilidade e o tamanho da empresa também estão positivamente associados com a reputação. Diferentemente do que se hipotetizou, o coeficiente de agrupamento afeta de forma negativa a reputação, remetendo ao chamado lado obscuro das redes. Por fim, evidencia-se que a alavancagem financeira tem um efeito paradoxal: entre empresas mais admiradas, a alavancagem está positivamente relacionada ao aumento da reputação, mas entre aquelas menos admiradas, o endividamento apresenta efeito inverso.

Palavras-chave:
reputação; mercados diferenciados; conselho de administração; status

ABSTRACT

In this paper, we analyzed how the premium exchange markets (status), the board of directors and the organizational characteristics affect the reputation of Brazilian public companies. Based on 1.396 observations collected between the years 2002 and 2007 on the BM&F Bovespa, we used a selection model in two stages to show that companies that are part of the New Market, such as the US market through American Depositary Receipt (ADR), are more likely to be admired. However, this does not influence the differentiation of reputation. It is also possible to verify that the capital of the boards through weak ties is present in companies with outstanding reputation. In addition, the results indicate that profitability and size of the firm are also positively associated with reputation. Unlike what was hypothesized, the clustering coefficient affects negatively the reputation, referring to the so-called dark side of the net. Finally, it is clear that the financial leverage has a paradoxical effect: among the most admired companies, leverage is positively related to the reputation increasing, but among those least admired, the debt presents a reverse effect.

Keywords:
reputation; premium exchange markets; board; status

RESUMEN

En este trabajo se analiza cómo los mercados diferenciados (status), el consejo de administración y las características organizacionales influyen en la reputación de las empresas brasileñas que cotizan en bolsa. Con base en 1.396 observa ciones recogidas entre 2002 y 2007 en la BM&F Bovespa, se aplica un modelo de selección de dos etapas que muestra que las empresas que forman parte del Nuevo Mercado, como del mercado estadounidense por medio de American Depositary Receipt (ADR), tienen mayores posibilidades de ser más admiradas. Sin embargo, no hay influencia en la diferenciación de la reputación. Asimismo, se observa que el capital social de los consejos, por medio de lazos débiles, se encuentra en empresas con reconocida reputación. Además, los resultados indican que la rentabilidad y el tamaño de las empresas están positivamente relacionados con la reputación. A diferencia de lo que se ha planteado como hipótesis, el coeficiente de agrupamiento afecta negativamente a la reputación, lo que remite al lado oscuro de las redes. Por último, los datos ponen de relieve que el apalancamiento financiero tiene un efecto paradójico: para empresas más admiradas, el apalancamiento está relacionado con el aumento de la reputación, sin embargo, para las empresas menos admiradas, el endeudamiento implica el efecto contrario.

Palabras clave:
reputación; mercados diferenciados; junta directiva; status

1. INTRODUÇÃO

A análise da reputação organizacional tem ganhado atenção de pesquisa dores de diferentes áreas ao longo dos últimos dez anos (Barnett, Jermier, & Lafferty, 2006Barnett, M. L., Jermier, J. M., & Lafferty, B. A. (2006). Corporate reputation: The definitional landscape. Corporate Reputation Review, 9 (1), 26-38. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1550012
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; Rindova, Williamson, & Petkova, 2010Rindova, V. P., Williamson, I. O., & Petkova, A. P. (2010). Reputation as an intangible asset: Reflections on theory and methods in two empirical studies of business school reputations. Journal of Management, 36(3), 610-619. DOI: 10.1177/0149206309343208
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). Apesar de ter passado por um período de aparente estagnação, o tema retornou à pauta da academia especialmente após o início dos anos 2000, período marcado pela crise de confiança resultante de escândalos financeiros en volvendo grandes empresas norte-americanas. Nesse período, a expressão pública de organizações consideradas confiáveis por investidores, analistas ou pelo público em geral foi colocada à prova, reabrindo o debate acerca da reputação.

A reputação organizacional remete à capacidade de uma firma atender às expectativas de múltiplos stakeholders (Fombrum & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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) a partir de critérios de julgamento socialmente construídos e legitimados (King & Whetten, 2008King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
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; Bitektine, 2011Bitektine, A. (2011).Toward a theory of social judgments of organizations: The case of legitimacy, reputation, and status. Academy of Management Review, 36 (1), 151-179. DOI: 10.5465/AMR.2011.55662572
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). Como as organizações atendem em maior ou menor grau a esses critérios, podem-se enquadrá-las e compará -las entre si, definindo aquelas que têm melhor ou pior reputação (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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; Deephouse & Carter, 2005Deephouse, D. L., & Carter, S. M. (2005). An examination of differences between organizational legitimacy and organizational reputation. Journal of Management Studies, 42 (2), 329-360. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2005.00499.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2005...
; Barnett et al., 2006Barnett, M. L., Jermier, J. M., & Lafferty, B. A. (2006). Corporate reputation: The definitional landscape. Corporate Reputation Review, 9 (1), 26-38. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1550012
https://doi.org/10.1057/palgrave.crr.155...
; Deephouse & Suchman, 2008Deephouse, D. L., & Suchman, M. (2008). Legitimacy in organizational institutionalism. In R. Greenwood, C. Oliver, K. Sahlin, & R. Suddaby (Orgs.), The Sage handbook of organizational institutionalism (pp. 49-77). London: Sage. DOI: 10.4135/9781849200387.n2
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).

Uma boa reputação é fator crítico para as organizações, já que há várias evidências empíricas de sua influência na criação de valor (Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
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). Consistente com a literatura sobre o tema, Walker (2010)Walker, K. (2010). A systematic review of the corporate reputation literature: Definition, measurement, and theory. Corporate Reputation Review, 12 (4), 357-387. DOI: 10.1057/crr.2009.26
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aponta que ela está associada a numerosos benefícios estratégicos. Por exemplo, desempenho financeiro sustentável (Roberts & Dowling, 2002), maiores margens e preços (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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; Benjamin & Podolny, 1999Benjamin, B. A., & Podolny, J. M. (1999). Status, quality, and social order in the California Wine Industry. Administrative Science Quarterly, 44 (3), 563-589. DOI: 10.2307/2666962
https://doi.org/10.2307/2666962...
; Rindova, Williamson, Petkova, & Sever, 2005Rindova, V. P., Williamson, I. O., Petkova, A. P., & Sever, J. M. (2005). Being good or being known: An empirical examination of the dimensions, antecedents, and consequences of organizational reputation. Academy of Management Journal, 48 (6), 1033-1049. DOI: 10.5465/AMJ.2005.19573108
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), valor percebido (Rindova et al., 2005; Thomaz & Brito, 2010Thomaz, J. C., & Brito, E. P. Z. (2010). Reputação corporativa: Construtos formativos e implicações para a gestão. Revista de Administração Contemporânea, 14 (2), 229-250. DOI: 10.1590/S1415-65552010000200004
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), contratação de firmas (Jensen & Roy, 2008Jensen, M., & Roy, A. (2008). Staging exchange partner choices: When do status and reputation matter? Academy of Management Journal, 51(3), 495-516. DOI: 10.5465/AMJ.2008.32625985
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), qualidade do produto (Ertug & Castellucci, 2013Ertug, G., & Castellucci, F. (2013). Getting what you need: How reputation and status affect team performance, hiring, and salaries in the NBA. Academy of Management Journal, 56 (2), 407-431. DOI: 10.5465/amj.2010.1084
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), menor risco dos ativos (Delgado‐García, Quevedo‐Puente, & Díez‐Esteban, 2013Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Díez--Esteban, J. M. (2013). The impact of corporate reputation on firm risk: A panel data analysis of Spanish quoted firms. British Journal of Management, 24 (1), 1-20. DOI: 10.1111/j.1467-8551.2011.00782.x
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), menores chances de comportamento oportunista (Atanasov, Ivanov, & Litvak, 2012Atanasov, V., Ivanov, V., & Litvak, K. (2012). Does reputation limit opportunistic behavior in the VC industry? Evidence from litigation against VCs. The Journal of Finance, 67 (6), 2215-2246. DOI: 10.1111/j.1540-6261.2012.01785.x
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), redução do risco estratégico (Petkova, Wadhwa, Yao, & Jain, 2014Petkova, A. P., Wadhwa, A., Yao, X., & Jain, S. (2014). Reputation and decision making under ambiguity: a study of US venture capital firms' investments in the emerging clean energy sector. Academy of Management Journal, 57 (2), 422-448. DOI: 10.5465/amj.2011.0651
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) e reações positivas de investidores (McMillan-Capehart, Aaron, & Cline, 2010McMillan-Capehart, A., Aaron, J. R., & Cline, B. N. (2010). Investor reactions to diversity reputation signals. Corporate Reputation Review, 13 (3), 184-197. DOI: 10.1057/crr.2010.20
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; Pfarrer, Pollock & Rindova, 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
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).

No contexto do mercado de capitais brasileiro, a importân cia da reputação para as organizações também foi evidenciada. Empresas consideradas de maior reputação apresentaram, em média, maiores valor de mercado, rentabilidade e liquidez das ações, assim como menor risco (Rossoni & Machado-da-Silva, 2013Rossoni, L., & Machado-da-Silva, C. L. (2013). Legitimidade, governança corporativa e desempenho: análise das empresas da BM&F Bovespa. Revista de Administração de Empresas, 53 (3), 272-289. DOI: 10.1590/S0034-75902013000300005
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). No entanto, neste artigo, trilha-se outro caminho: em vez de buscar avaliar como a reputação organizacional condiciona o desempenho organizacional, ateve-se a identificar quais são seus antecedentes.

Segue-se esse caminho porque a análise dos antecedentes da reputação organizacional é teoricamente consistente com a ideia de que a reputação é uma construção social sujeita a influências de ordens econômica e social, refletindo o quanto as organizações incorporam elementos legitimados no am biente (King & Whetten, 2008King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
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; Lange, Lee, & Dai, 2011Lange, D., Lee, P. M., & Dai, Y. (2011). Organizational reputation: A review. Journal of Management, 37 (1), 153-184. DOI: 10.1177/0149206310390963
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). Entre tais influências, algumas denotam efeito positivo na reputação, como, por exemplo, densidade e heterogeneidade das relações dos executivos (Wong & Boh, 2010Wong, S., & Boh, W. F. (2010). Leveraging the ties of others to build a reputation for trustworthiness among peers. Academy of Management Journal, 53 (1), 129-148. DOI: 10.5465/AMJ.2010.48037265
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) e comuni cação mais interativa de práticas de responsabilidade social (Eberle, Berens, & Li, 2013Eberle, D., Berens, G., & Li, T. (2013). The impact of interactive corporate social responsibility communication on corporate reputation. Journal of Business Ethics, 118 (4), 731-746. DOI: 10.1007/s10551-013-1957-y
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), e outras efeito negativo, como baixa performance (Gopalan, Nanda, & Yerramilli, 2011Gopalan, R., Nanda, V., & Yerramilli, V. (2011). Does poor performance damage the reputation of financial intermediaries? Evidence from the loan syndication market. The Journal of Finance, 66 (6), 2083-2120. DOI: 10.1111/j.1540-6261.2011.01692.x
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) e não conformidade às normas sociais (Philippe & Durand, 2011Philippe, D., & Durand, R. (2011). The impact of norm--conforming behaviors on firm reputation. Strategic Management Journal, 32 (9), 969-993. DOI: 0.1002/smj.919
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). Cabe ressaltar que analisar a reputação no mercado de capitais brasileiro é importante, pois investidores consideram, seriamente, a reputação de uma organização na decisão de investimento (McMillan-Capehart et al., 2010McMillan-Capehart, A., Aaron, J. R., & Cline, B. N. (2010). Investor reactions to diversity reputation signals. Corporate Reputation Review, 13 (3), 184-197. DOI: 10.1057/crr.2010.20
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; Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
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). Além disso, merece destaque o fato de ser o mercado de capitais brasileiro um dos mais importantes do mundo, enquadrando-se em quarto lugar em volume de negócios (Mendes-da-Silva & Onusic, 2014Mendes-da-Silva, W., & Onusic, L. M. (2014). Corporate e-disclosure determinants: Evidence from the Brazilian market. International Journal of Disclosure and Governance, 11 (1), 54-73. DOI: 10.1057/jdg.2012.14
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).

Em face do exposto, busca-se com este artigo analisar como os mercados diferenciados (status), o conselho de administração e as características organizacionais condicionam a reputação das empresas de capital aberto brasileiras. Para tanto, seguin do estudos anteriores (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
https://doi.org/10.2307/256324...
; Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
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; Love & Kraatz, 2009Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
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; Philippe & Durand, 2011Philippe, D., & Durand, R. (2011). The impact of norm--conforming behaviors on firm reputation. Strategic Management Journal, 32 (9), 969-993. DOI: 0.1002/smj.919
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; Delgado‐García et al., 2013Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Díez--Esteban, J. M. (2013). The impact of corporate reputation on firm risk: A panel data analysis of Spanish quoted firms. British Journal of Management, 24 (1), 1-20. DOI: 10.1111/j.1467-8551.2011.00782.x
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), operacionaliza-se a reputa ção a partir da percepção de executivos brasileiros, captada por meio da pesquisa das "Empresas Mais Admiradas do Brasil", realizada e publicada pela revista Carta Capital.

Restringe-se a avaliação somente entre as empresas listadas na BM&F Bovespa; o período avaliado transcorreu entre os anos de 2002 e 2007. Todavia, como nem todas as empresas citadas na pesquisa que indica as de maior reputação estão pre sentes no mercado de capitais brasileiro, utiliza-se o modelo de seleção de Heckman (1979)Heckman, J. J. (1979). Sample selection bias as a specification error. Econometrica, 47 (1), 153-161. DOI: 10.2307/1912352
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em dois estágios. Assim, de forma inovadora, além de controlar o viés de seleção (vide Wintoki, Linck, & Netter, 2012Wintoki, M. B., Linck, J. S., & Netter, J. M. (2012). Endogeneity and the dynamics of internal corporate governance. Journal of Financial Economics, 105 (3), 581-606. DOI: 10.1016/j.jfineco.2012.03.005
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), verifica-se, no primeiro estágio, quais são os antecedentes que levam uma companhia a ser citada entre as mais admiradas, para, no segundo estágio, identificar se esses mesmos antecedentes diferenciam a reputação.

Nas seções seguintes, primeiramente se define o conceito de reputação organizacional para depois apontar seus antece dentes. Na sequência, detalham-se os procedimentos metodo lógicos e as variáveis. Por fim, os resultados são apresentados e discutidos com vistas a apontar algumas implicações teóricas e práticas, assim como estudos futuros.

2. DEFININDO REPUTAÇÃO ORGANIZACIONAL

O conceito de reputação apresenta-se mais complexo do que ele parece ser à primeira vista. Seu apelo intuitivo em favor da ideia de confiabilidade dá margem a diferentes in terpretações, de acordo com a ênfase atribuída, criando um problema de definição (Fombrun & Van Riel, 1997Fombrun, C., & Van Riel, C. (1997). The reputational landscape. Corporate Reputation Review, 1 (1-2), 5-13. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1540008
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; Walker, 2010Walker, K. (2010). A systematic review of the corporate reputation literature: Definition, measurement, and theory. Corporate Reputation Review, 12 (4), 357-387. DOI: 10.1057/crr.2009.26
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). Isso traz um segundo fator de complexidade na medida em que a reputação passa a ser equiparada a outras medidas de avaliação social das organizações, como status e legitimidade (Deephouse & Carter, 2005Deephouse, D. L., & Carter, S. M. (2005). An examination of differences between organizational legitimacy and organizational reputation. Journal of Management Studies, 42 (2), 329-360. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2005.00499.x
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; Deephouse & Suchman, 2008; Bitektine, 2011Bitektine, A. (2011).Toward a theory of social judgments of organizations: The case of legitimacy, reputation, and status. Academy of Management Review, 36 (1), 151-179. DOI: 10.5465/AMR.2011.55662572
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). Recentemente, pelo menos três artigos foram dedicados à revisão da literatura com o intuito de contribuir com o mapeamento do debate acadêmico e o esclarecimento conceitual (vide, por exemplo, Walker, 2010Walker, K. (2010). A systematic review of the corporate reputation literature: Definition, measurement, and theory. Corporate Reputation Review, 12 (4), 357-387. DOI: 10.1057/crr.2009.26
https://doi.org/10.1057/crr.2009.26...
; Bitektine, 2011Bitektine, A. (2011).Toward a theory of social judgments of organizations: The case of legitimacy, reputation, and status. Academy of Management Review, 36 (1), 151-179. DOI: 10.5465/AMR.2011.55662572
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; Lange et al., 2011Lange, D., Lee, P. M., & Dai, Y. (2011). Organizational reputation: A review. Journal of Management, 37 (1), 153-184. DOI: 10.1177/0149206310390963
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). Esses aspectos serão tratados na sequência.

Barnett et al. (2006)Barnett, M. L., Jermier, J. M., & Lafferty, B. A. (2006). Corporate reputation: The definitional landscape. Corporate Reputation Review, 9 (1), 26-38. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1550012
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, por meio de levantamento na literatura, identificaram três enfoques predominantes nas definições de reputação apresentadas formalmente em trabalhos no período de 1965 a 2003. Como uma forma de consciência (awareness), a reputação não envolveria julgamentos realizados por uma audiência, mas percepções gerais acerca de uma organização, as quais indicam representações do conhecimento ou emoções. Como expressão de avaliação (assessment), a reputação envol veria julgamento, estimativas, opiniões e mensurações por parte de stakeholders sobre o status, a estima ou a atratividade das organizações. Por fim, como um ativo (asset), a reputação é vista como algo valoroso ou significativo para a organização, estando associada à noção de recursos ou ativos intangíveis, financeiros e econômicos.

Walker (2010)Walker, K. (2010). A systematic review of the corporate reputation literature: Definition, measurement, and theory. Corporate Reputation Review, 12 (4), 357-387. DOI: 10.1057/crr.2009.26
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, por sua vez, também por meio de meta -análise baseada em 96 artigos publicados entre 1997 e 2006, reuniu atributos que auxiliam a compreensão do conceito de reputação na literatura especializada. De acordo com o autor, reputação é um construto baseado em percepções e, como tal, não está sob o controle direto da organização, na medida em que é socialmente construída. Nesse sentido, representa uma concepção coletiva objetivada, apesar de poder ser específica tanto quanto ao objeto a que se refere (lucratividade, qualidade, responsabilidade ambiental, entre outros) como ao grupo de stakeholders que serve de referência para a análise. Adicional mente, a reputação abarca algum sentido de comparabilidade com relação a períodos, outras organizações ou padrões sociais, podendo, portanto, ser positiva ou negativa. Por fim, envolve certa associação temporal, já que a reputação, apesar de volátil, tende a apresentar estabilidade, sendo construída com referência à trajetória organizacional e às expectativas futuras.

A multiplicidade de interpretações associada ao conceito de reputação também já vinha sendo tratada por Fombrun e Van Riel (1997)Fombrun, C., & Van Riel, C. (1997). The reputational landscape. Corporate Reputation Review, 1 (1-2), 5-13. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1540008
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, que identificaram seis perspectivas diferentes para o fenômeno: econômica, estratégica, contábil, mercadológica, organizacional e sociológica. À exceção da visão mercadoló gica que se converte na noção de imagem organizacional, as demais podem ser reagrupadas segundo seus fundamentos. As três primeiras podem ser agrupadas numa única categoria, pois compartilham o viés econômico de análise enfatizando as percepções ou estimativas por parte de observadores externos quanto a um atributo particular de uma organização, o qual pode ser sinalizado ou descrito como diferencial estratégico ante sua raridade, seu valor social e inimitabilidade, aproximando-se assim dos fundamentos da visão baseada em recursos (Rao, 1994Rao, H. (1994). The social construction of reputation: Certification contests, legitimation, and the survival of organizations in the American Automobile Industry. Strategic Management Journal, 15 (special issue), 29-44. DOI: 10.1002/smj.4250150904
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; Fombrun & Van Riel, 1997Fombrun, C., & Van Riel, C. (1997). The reputational landscape. Corporate Reputation Review, 1 (1-2), 5-13. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1540008
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). A reputação, nesse sen tido, é tratada como ativo intangível baseado nas estimativas de confiabilidade e previsibilidade por parte de stakeholders em função do histórico real, ou tido como real, de alocação de recursos que, supostamente, influenciam a competitividade (Rindova et al., 2005Rindova, V. P., Williamson, I. O., Petkova, A. P., & Sever, J. M. (2005). Being good or being known: An empirical examination of the dimensions, antecedents, and consequences of organizational reputation. Academy of Management Journal, 48 (6), 1033-1049. DOI: 10.5465/AMJ.2005.19573108
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).

As duas últimas formas de interpretação apresentadas por Fombrun e Van Riel (1997), a organizacional e a sociológica, tendem a compreender a reputação como uma espécie de conhecimento ou reconhecimento generalizado associado à impressão global de como a organização é percebida por um conjunto amplo de stakeholders (Rindova et al., 2005Rindova, V. P., Williamson, I. O., Petkova, A. P., & Sever, J. M. (2005). Being good or being known: An empirical examination of the dimensions, antecedents, and consequences of organizational reputation. Academy of Management Journal, 48 (6), 1033-1049. DOI: 10.5465/AMJ.2005.19573108
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; Lange et al., 2011Lange, D., Lee, P. M., & Dai, Y. (2011). Organizational reputation: A review. Journal of Management, 37 (1), 153-184. DOI: 10.1177/0149206310390963
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). Nesse sentido, sua dimensão simbólica e social mente construída é enfatizada, estando a reputação fortemente relacionada ao modo como observadores externos associam as práticas e estruturas organizacionais a padrões culturais e contextualmente específicos (Love & Kraatz, 2009Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
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). Diferen te do conjunto de intepretações mencionadas anteriormente, reputação pode, ainda, ser compreendida como um indicador de legitimidade, ante o entendimento compartilhado de que a organização está em conformidade com expectativas e normas sociais prevalecentes no contexto institucional (Rao, 1994Rao, H. (1994). The social construction of reputation: Certification contests, legitimation, and the survival of organizations in the American Automobile Industry. Strategic Management Journal, 15 (special issue), 29-44. DOI: 10.1002/smj.4250150904
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; Fombrun & Van Riel, 1997Fombrun, C., & Van Riel, C. (1997). The reputational landscape. Corporate Reputation Review, 1 (1-2), 5-13. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1540008
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).

Essas duas perspectivas, segundo Rindova et al. (2005)Rindova, V. P., Williamson, I. O., Petkova, A. P., & Sever, J. M. (2005). Being good or being known: An empirical examination of the dimensions, antecedents, and consequences of organizational reputation. Academy of Management Journal, 48 (6), 1033-1049. DOI: 10.5465/AMJ.2005.19573108
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, podem ser vistas como dimensões inerentes ao conceito de reputação, cada qual associada, respectivamente, à qualidade percebida, conforme avaliação de atributos organizacionais por stakeholders, e à notoriedade (prominence) vinculada ao reconhecimento coletivo da organização num campo organi zacional. Rindova et al. (2010)Rindova, V. P., Williamson, I. O., & Petkova, A. P. (2010). Reputation as an intangible asset: Reflections on theory and methods in two empirical studies of business school reputations. Journal of Management, 36(3), 610-619. DOI: 10.1177/0149206309343208
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esclarecem que, em comum, ambos os grupos de perspectivas mencionados compartilham da ideia de que a reputação diz respeito a cognições sociais, expressas na forma de impressões, percepções, crenças e co nhecimento, as quais residem em esquemas de avaliação de observadores externos. No entanto, cabe ressaltar que, apesar de compartilharem aspectos em comum, a noção de reputação diferencia-se de outras medidas de avaliação social, como imagem, status e legitimidade (Bitektine, 2011Bitektine, A. (2011).Toward a theory of social judgments of organizations: The case of legitimacy, reputation, and status. Academy of Management Review, 36 (1), 151-179. DOI: 10.5465/AMR.2011.55662572
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).

Primeiramente, reputação e imagem organizacional diver-gem quanto à natureza da percepção associada à organização. Apesar de ambas serem fundamentalmente concebidas enquan to construções sociais, a imagem organizacional é mais bem compreendida enquanto representação desejada, idealizada internamente no âmbito organizacional como um produto conceitual que, por meio de sistemas de comunicação, é ativa mente projetada com vistas a alcançar uma audiência externa (Fombrun & Van Riel, 1997Fombrun, C., & Van Riel, C. (1997). The reputational landscape. Corporate Reputation Review, 1 (1-2), 5-13. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1540008
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; Barnett et al., 2006Barnett, M. L., Jermier, J. M., & Lafferty, B. A. (2006). Corporate reputation: The definitional landscape. Corporate Reputation Review, 9 (1), 26-38. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1550012
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; Walker, 2010Walker, K. (2010). A systematic review of the corporate reputation literature: Definition, measurement, and theory. Corporate Reputation Review, 12 (4), 357-387. DOI: 10.1057/crr.2009.26
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). Decorre que a imagem tende a ser positiva, já que emana da própria organização, ainda que, ao final das contas, corresponda a impressões de stakeholders (Walker, 2010). Em contraste, a noção de reputação está fortemente associada às percepções reais, positivas ou negativas, vinculadas ao julgamento coletivo de stakeholders internos ou externos acerca da organização ao longo do tempo (Barnett et al., 2006Barnett, M. L., Jermier, J. M., & Lafferty, B. A. (2006). Corporate reputation: The definitional landscape. Corporate Reputation Review, 9 (1), 26-38. DOI: 10.1057/palgrave.crr.1550012
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; Walker, 2010Walker, K. (2010). A systematic review of the corporate reputation literature: Definition, measurement, and theory. Corporate Reputation Review, 12 (4), 357-387. DOI: 10.1057/crr.2009.26
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). Ademais, a noção de reputação distingue-se da ideia de status, pois não é orientada em favor da estratificação a partir da segregação de organizações em clusters hierarquicamente distintos (Chen, Pe terson, Phillips, Podolny, & Ridgeway, 2012Chen, Y. R., Peterson, R. S., Phillips, D. J., Podolny, J. M., & Ridgeway, C. L. (2012). Introduction to the special issue: Bringing status to the table - attaining, maintaining, and experiencing status in organizations and markets. Organization Science, 23 (2), 299-307. DOI: 10.1287/orsc.1110.0668
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) que, por sua vez, representam grupos sociais diferenciados e, em certo sentido, concorrentes entre si (Podolny, 1993; Lin, 2001Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
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; Deephouse & Suchman, 2008Deephouse, D. L., & Suchman, M. (2008). Legitimacy in organizational institutionalism. In R. Greenwood, C. Oliver, K. Sahlin, & R. Suddaby (Orgs.), The Sage handbook of organizational institutionalism (pp. 49-77). London: Sage. DOI: 10.4135/9781849200387.n2
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), nem remetem ao censo de afiliação ou pertencimento a uma categoria ou posição social particular (Sauder, Lynn, & Podolny, 2012Sauder, M., Lynn, F., & Podolny, J. M. (2012). Status: Insights from organizational sociology. Annual Review of Sociology, 38, pp. 267-283. DOI: 10.1146/annurev-soc-071811-145503
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; Piazza & Castellucci, 2014Piazza, A., & Castellucci, F. (2014). Status in organization and management theory. Journal of Management, 40 (1), 287-315. DOI: 10.1177/0149206313498904
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).

Mais relevante, no entanto, é a distinção entre reputação e legitimidade. Apesar de ambos os conceitos estarem fundados em "comparações significativas (meaningful) entre organiza ções relacionadas a padrões que stakeholders usam para acessar a adequação (appropriatenes) e a qualidade do comportamento organizacional" (King & Whetten, 2008King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
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, p. 193), sua base e di mensões de avaliação são distintas. A legitimidade está ancora da na aderência organizacional a expectativas, normas, valores e significados compartilhados num sistema social e, portanto, a um caráter mais associado à homogeneidade (Deephouse & Suchman, 2008Deephouse, D. L., & Suchman, M. (2008). Legitimacy in organizational institutionalism. In R. Greenwood, C. Oliver, K. Sahlin, & R. Suddaby (Orgs.), The Sage handbook of organizational institutionalism (pp. 49-77). London: Sage. DOI: 10.4135/9781849200387.n2
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). Nesse sentido, agrega um componente de aceitação social, sob o viés do julgamento sociopolítico, e de similaridade, no que toca ao reconhecimento de que a organiza ção apresenta identificação social a padrões institucionalizados (King & Whetten, 2008King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
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; Bitektine, 2011Bitektine, A. (2011).Toward a theory of social judgments of organizations: The case of legitimacy, reputation, and status. Academy of Management Review, 36 (1), 151-179. DOI: 10.5465/AMR.2011.55662572
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). Já a reputação tem foco na diferenciação organizacional, no sentido de indicar a posição relativa entre organizações similares, tendo como base um determinado padrão de comparação (Deephouse & Carter, 2005Deephouse, D. L., & Carter, S. M. (2005). An examination of differences between organizational legitimacy and organizational reputation. Journal of Management Studies, 42 (2), 329-360. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2005.00499.x
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; Deephouse & Suchman, 2008Deephouse, D. L., & Suchman, M. (2008). Legitimacy in organizational institutionalism. In R. Greenwood, C. Oliver, K. Sahlin, & R. Suddaby (Orgs.), The Sage handbook of organizational institutionalism (pp. 49-77). London: Sage. DOI: 10.4135/9781849200387.n2
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). Reputação, portanto, diz respeito à distinção organizacional, ainda que orientada por parâmetros socialmente desejáveis no âmbito de uma deter minada população de organizações (King & Whetten, 2008King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
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).

3. ANTECEDENTES DA REPUTAÇÃO ORGANIZACIONAL

Neste trabalho, entende-se que a análise da relação entre antecedentes e reputação pode ser realizada a partir de duas perspectivas distintas: na primeira delas, cabe averiguar quais variáveis estão relacionadas com o fato de uma empresa listada na BM&F Bovespa estar ou não entre as mais admiradas; na segunda, considerando somente as empresas com reputação destacada, ou seja, as mais admiradas, a avaliação recai sobre quais variáveis estão relacionadas com o grau de reputação. Essa distinção é importante porque a relação em foco, como na segunda situação, está suscetível a um viés de seleção ao avaliar comparativamente organizações com diferenciada re putação, caso se desconsidere o processo de seleção anterior (Deephouse & Carter, 2005Deephouse, D. L., & Carter, S. M. (2005). An examination of differences between organizational legitimacy and organizational reputation. Journal of Management Studies, 42 (2), 329-360. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2005.00499.x
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; Delgado-García, Quevedo-Puente, & Fuente-Sabaté, 2010Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
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). Por essas razões, discutem-se as re lações entre as variáveis considerando cada um dos contextos individualmente.

Antes de relacionar seus antecedentes, destaca-se que a própria avaliação da reputação em períodos precedentes é um fator influente. Como apontam Love e Kraatz (2009)Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
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, audiên cias tendem a reproduzir temporalmente a reputação de uma organização, dando-lhe caráter duradouro e cumulativo. Dessa forma, propõe-se que quanto melhor é a reputação de uma empresa em momentos anteriores, maiores as chances de elas serem escolhidas entre as mais admiradas e de apresentarem escores mais elevados de reputação no período atual.

3.1. Status

O primeiro antecedente considerado é o status, atribuído à posição que uma empresa apresenta no mercado de capitais. Tomando como fundamento a ideia defendida por Podolny (1993)Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
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de que o mercado pode ser considerado uma estrutura socialmente construída, cujas posições, hierarquicamente orga nizadas, representam acesso desigual aos recursos (Lin, 2001Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
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) e diferenças de status associadas às percepções de qualidade e capacidade (Podolny, 1993Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
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; Sauder et al., 2012Sauder, M., Lynn, F., & Podolny, J. M. (2012). Status: Insights from organizational sociology. Annual Review of Sociology, 38, pp. 267-283. DOI: 10.1146/annurev-soc-071811-145503
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). Dessa forma, é concebível admitir que o mercado pode apresentar-se estrati ficado em posições de maior ou menor status (Jensen & Roy, 2008Jensen, M., & Roy, A. (2008). Staging exchange partner choices: When do status and reputation matter? Academy of Management Journal, 51(3), 495-516. DOI: 10.5465/AMJ.2008.32625985
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; Chen et al., 2012Chen, Y. R., Peterson, R. S., Phillips, D. J., Podolny, J. M., & Ridgeway, C. L. (2012). Introduction to the special issue: Bringing status to the table - attaining, maintaining, and experiencing status in organizations and markets. Organization Science, 23 (2), 299-307. DOI: 10.1287/orsc.1110.0668
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).

Ter maior status não só confere uma posição respeitável e honorável (Piazza & Castellucci, 2014Piazza, A., & Castellucci, F. (2014). Status in organization and management theory. Journal of Management, 40 (1), 287-315. DOI: 10.1177/0149206313498904
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), mas também traz vantagens como, por exemplo, associação com qualidade diferenciada (Podolny, 1993Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
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) e reconhecimento destacado da performance ou do sucesso (Chen et al., 2012Chen, Y. R., Peterson, R. S., Phillips, D. J., Podolny, J. M., & Ridgeway, C. L. (2012). Introduction to the special issue: Bringing status to the table - attaining, maintaining, and experiencing status in organizations and markets. Organization Science, 23 (2), 299-307. DOI: 10.1287/orsc.1110.0668
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). Com efeito, entende-se que organizações de status diferenciado tendem a ter maior reputação, já que estão habilitadas a ter acesso a recursos sociais e materiais indisponíveis para organizações de status inferiores, ao mesmo tempo em que gozam de maior reconhecimento (Washington & Zajac, 2005Washington, M., & Zajac, E. J. (2005). Status evolution and competition: Theory and evidence. Academy of Management Journal, 48(2), 282-296. DOI: 10.5465/AMJ.2005.16928408
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; Chen et al., 2012Chen, Y. R., Peterson, R. S., Phillips, D. J., Podolny, J. M., & Ridgeway, C. L. (2012). Introduction to the special issue: Bringing status to the table - attaining, maintaining, and experiencing status in organizations and markets. Organization Science, 23 (2), 299-307. DOI: 10.1287/orsc.1110.0668
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).

No mercado de capitais brasileiro, há duas esferas que podem estar associadas à diferenciação de status (Rossoni & Machado-da-Silva, 2010Rossoni, L., & Machado-da-Silva, C. L. (2010). Institucionalismo organizacional e práticas de governança corporativa. Revista de Administração Contemporânea, 14 (edição especial), 173-198. DOI: 10.1590/S1415-65552010000600008
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; 2013Rossoni, L., & Machado-da-Silva, C. L. (2013). Legitimidade, governança corporativa e desempenho: análise das empresas da BM&F Bovespa. Revista de Administração de Empresas, 53 (3), 272-289. DOI: 10.1590/S0034-75902013000300005
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). A primeira envolve a partici pação em mercados diferenciados cujas regras de governança corporativa são mais exigentes, como o Novo Mercado da BM&F Bovespa. Inspirado na experiência alemã (o Neuer Markt), o "Novo Mercado da Bovespa é uma seção destinada à negociação de companhias que se submetam [voluntaria mente] a exigências mais avançadas em termos de direitos dos acionistas investidores e melhores práticas de governança corporativa" (Ribeiro Neto & Famá, 2002Ribeiro Neto, R. M., & Famá, R. (2002, janeiro/fevereiro/março). Uma alternativa de crescimento para o mercado de capitais brasileiro - o Novo Mercado. Revista de Administração - RAUSP, 37 (1), 29-38., p. 35). Trata-se de uma listagem separada de organizações que atendem ao mais alto nível de exigência (acima do Nível 2 e do Nível 1). Como aponta a Bolsa de Valores de São Paulo [Bovespa] (2009)Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). (2009). Governança corporativa: Comparativo entre segmentos. São Paulo: Bovespa, 2009. Disponível em http://www.bovespa.com.br
http://www.bovespa.com.br...
,

essas regras [...] ampliam os direitos dos acionistas, melhoram a qualidade das informações usualmente prestadas pelas companhias, bem como a dispersão acionária e, ao determinar a resolução dos conflitos societários por meio de uma Câmara de Arbitragem, oferecem aos investidores a segurança de uma alter nativa mais ágil e especializada.

A criação desse mercado diferenciado ocorreu, provavelmente, devido ao contexto institucional pouco propício ao desenvolvimento do mercado de ações no Brasil (vide La Porta, Lopez-de-Silanes, Shleifer, & Vishny, 1998La Porta, R., Lopez-de-Silanes, F., Shleifer, A., & Vishny, R. (1998). Law and finance. Journal of Political Economy, 106 (5), 1113-1155. DOI: 10.1086/250042
https://doi.org/10.1086/250042...
; Gorga, 2004Gorga, E. (2004, outubro/novembro/dezembro). A cultura brasileira como fator determinante na governança corporativa e no desenvolvimento do mercado de capitais. Revista de Administração - RAUSP, 39 (4), 309-326.; Rossoni & Machado-da-Silva, 2010Rossoni, L., & Machado-da-Silva, C. L. (2010). Institucionalismo organizacional e práticas de governança corporativa. Revista de Administração Contemporânea, 14 (edição especial), 173-198. DOI: 10.1590/S1415-65552010000600008
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), como tentativa de estratificar as companhias de capital aberto de acordo com o atendimento a alguns princípios tidos como universais de governança corporativa. A adesão a mercados diferenciados tem, por sua vez, efeito legitimador, pois suporta e habilita as atitudes das companhias afiliadas diante da submissão de tais companhias a um conjunto de regras e normas aceitas como legítimas (Capron & Guillén, 2009Capron, L., & Guillén, M. (2009). National corporate governance and post acquisition target reorganization. Strategic Management Journal, 30 (8), 803-833. DOI: 10.1002/smj.768
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). Como aponta Carvalho (2002, pp. 27-28)Carvalho, A. G. (2002, julho/agosto/setembro). Governança corporativa no Brasil em perspectiva. Revista de Administração - RAUSP, 37 (3), 19-32., "o Novo Mercado funciona como um selo de qualidade cujo valor reside nas obrigações contratuais as sumidas pela empresa na maneira como a Bovespa administra tais contratos".

Devido às características de afiliação, acreditação e hono rabilidade atribuídas ao Novo Mercado, entende-se que ele apresenta todas as características que permitem ser elevado a uma posição de status diferenciado, já que existe crença disse minada de que organizações que dele fazem parte são mais bem gerenciadas, mais transparentes e mais confiáveis (Ribeiro Neto & Famá, 2002Ribeiro Neto, R. M., & Famá, R. (2002, janeiro/fevereiro/março). Uma alternativa de crescimento para o mercado de capitais brasileiro - o Novo Mercado. Revista de Administração - RAUSP, 37 (1), 29-38.; Rossoni & Machado-da-Silva, 2010Rossoni, L., & Machado-da-Silva, C. L. (2010). Institucionalismo organizacional e práticas de governança corporativa. Revista de Administração Contemporânea, 14 (edição especial), 173-198. DOI: 10.1590/S1415-65552010000600008
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; 2013Rossoni, L., & Machado-da-Silva, C. L. (2013). Legitimidade, governança corporativa e desempenho: análise das empresas da BM&F Bovespa. Revista de Administração de Empresas, 53 (3), 272-289. DOI: 10.1590/S0034-75902013000300005
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).

Já a segunda esfera de diferenciação compreende a par ticipação no mercado norte-americano de ações por meio da emissão de American Depositary Receipts (ADRs) na New York Stock Exchange (NYSE). Acredita-se que os mecanis mos subjacentes ao fato de estar presente na NYSE sejam similares ao do Novo Mercado da BM&F Bovespa. Devido ao mercado norte-americano ser mais exigente, acredita-se que participar de suas negociações funciona como uma espécie de certificação social, auferindo maior status para a organização ante os investidores brasileiros. Isso é evidente no estudo de Rao, Davis e Ward (2000)Rao, H., Davis, G. F., & Ward, A. (2000). Embeddedness, social identity and mobility: Why firms leave the NASDAQ and join the New York Stock Exchange. Administrative Science Quarterly, 45 (2), 268-292. DOI: 10.2307/2667072
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, os quais demonstram que muitas empresas abandonaram a NASDAQ para migrar para a NYSE no senso de construir uma identidade positiva por meio da nova afiliação. Rao, Greve e Davis (2001)Rao, H., Greve, H. R., & Davis, G. F. (2001). Fool's gold: Social proof in the initiation and abandonment of coverage by Wall Street analysts. Administrative Science Quarterly, 46 (3), 502-526. DOI: 10.2307/3094873
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, investigando o mesmo objeto, também evidenciam que muitas companhias migraram para a NYSE na expectativa de obter maior cober tura de analistas.

Pelas razões expostas, propõe-se que empresas que fazem parte do Novo Mercado e do mercado norte-americano, por meio da emissão de ADRs na NYSE, têm maiores chances de serem listadas entre as mais admiradas. Contudo, indo ao encontro de estudos anteriores (Washington & Zajac, 2005Washington, M., & Zajac, E. J. (2005). Status evolution and competition: Theory and evidence. Academy of Management Journal, 48(2), 282-296. DOI: 10.5465/AMJ.2005.16928408
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), defende-se que a adesão a mercados diferenciados seja somente habilitadora da reputação: depois que uma organização faz parte de um grupo seleto, a diferenciação interna nesse grupo dependerá das características da organização e não de um aparato coletivo.

3.2. Conselho de administração

O segundo antecedente considerado remete à crença disseminada de que conselhos de administração são peças fundamentais na gestão corporativa (Davis, 1996Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
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; Cohen & Dean, 2005Cohen, B. D., & Dean, T. J. (2005). Information asymmetry and investor valuation of IPOs: Top management team legitimacy as a capital market signal. Strategic Management Journal, 26 (7), 683-690. DOI: 10.1002/smj.463
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; Higgins & Gulati, 2006Higgins, M. C., & Gulati, R. (2006). Stacking the deck: The effects of top management backgrounds on investor decisions. Strategic Management Journal, 27 (1), 1-25. DOI: 10.2307/1912352
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). Sob essa perspectiva, estudos apontam que a qualidade (Higgins & Gulati, 2006Higgins, M. C., & Gulati, R. (2006). Stacking the deck: The effects of top management backgrounds on investor decisions. Strategic Management Journal, 27 (1), 1-25. DOI: 10.2307/1912352
https://doi.org/10.2307/1912352...
; Payne, Benson & Finegold, 2009Payne, G. T., Benson, G. S., & Finegold, D. L. (2009). Corporate board attributes, team effectiveness and financial performance. Journal of Management Studies, 46 (4), 704-731. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2008.00819.x
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), o prestígio (Certo & Hodge, 2007Certo, S. T., & Hodge, F. (2007). Top management team prestige and organizational legitimacy: An examination of investor perceptions. Journal of Managerial Issues, 19 (4), 461-477.), a certificação (Wade, Porac, Pollock, & Graffin, 2006Wade, J. B., Porac, J. F., Pollock, T. G., & Graffin, S. D. (2006). The burden of celebrity: The impact of CEO certification contests on CEO pay and performance. Academy of Management Journal, 49 (4), 643-660. DOI: 10.5465/AMJ.2006.22083021
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; Zhang & Wiersema, 2009Zhang, Y., & Wiersema, M. F. (2009). Stock market reaction to CEO certification: The signaling role of CEO background. Strategic Management Journal, 30 (7), 693-710. DOI: 10.1002/smj.772
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) e o capital social dos conselheiros (Kim, 2007Kim, Y. (2007). The proportion and social capital of outside directors and their impacts on firm value: evidence from Korea. Corporate Governance, 15 (6), 1168-1176. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2007.00638.x
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; Mendes-da-Silva, Rossoni, Martin, & Martelanc, 2008Mendes-da-Silva, W., Rossoni, L., Martin, D. L., & Martelanc, R. (2008). A influência das redes de relações corporativas no desempenho das empresas do Novo Mercado da Bovespa. Revista Brasileira de Finanças, 6 (3), 337-358.), por serem elementos reconhecidamente relacionados à efetividade do conselho, são indícios de sua qualidade e legitimidade. Perante a importância dada pelos investidores ao conselho, acredita-se que empresas que têm conselhos de maior destaque tendem a ter melhor reputação.

Entre as formas de avaliar o conselho, baseia-se em Davis (1996)Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
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e Mizruchi (1996)Mizruchi, M. S. (1996). What do interlocks do? An analysis, critique, and assessment of research on interlocking directories. Annual Review of Sociology, 22, pp. 271-298. DOI: 10.1146/annurev.soc.22.1.271
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que apontam para a importância de analisar-se a estrutura de relações entre conselhos, conhecida como board interlocking. Esses estudos partem da premissa de que bons conselheiros tendem a participar de maior número de organizações, tal como de diferentes grupos, configurando uma rede de relacionamentos em que a centralidade e a posição desses conselheiros servem de indício de seu prestígio. Além disso, estando mais fortemente imersos em uma teia de rela cionamentos, eles sofrem maior pressão social para atuar de forma responsável (Davis, 1996Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
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). Por essas razões, acredita-se que aqueles conselheiros mais bem posicionados na rede ten dem a ter maior capacidade de receber informação, recursos e conhecimento por meio do seu acesso privilegiado a diferentes grupos não conectados entre si (Davis, 1996Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
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), ou seja, maior capital social (Burt, 1992Burt, R. S. (1992). Structural holes. Cambridge: Harvard University Press.; Kim, 2007Kim, Y. (2007). The proportion and social capital of outside directors and their impacts on firm value: evidence from Korea. Corporate Governance, 15 (6), 1168-1176. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2007.00638.x
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). Sendo assim, o board interlocking foi avaliado por meio de três elementos: laços não redundantes, prestígio e coesão do conselho.

O primeiro elemento é relevante porque a característica de abertura nas relações que conselheiros prestigiados possuem (capital social por meio dos laços fracos, vide Burt, 1992Burt, R. S. (1992). Structural holes. Cambridge: Harvard University Press.) está relacionada ao fato de eles serem membros externos (Kang, Cheng, & Gray, 2007Kang, H., Cheng, M., & Gray, S. J. (2007). Corporate governance and board composition: Diversity and independence of Australian boards. Corporate Governance, 15 (2), 194-207. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2007.00554.x
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; Kim, 2007Kim, Y. (2007). The proportion and social capital of outside directors and their impacts on firm value: evidence from Korea. Corporate Governance, 15 (6), 1168-1176. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2007.00638.x
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), o que aumenta o controle sobre a organização (Mizruchi, 1996Mizruchi, M. S. (1996). What do interlocks do? An analysis, critique, and assessment of research on interlocking directories. Annual Review of Sociology, 22, pp. 271-298. DOI: 10.1146/annurev.soc.22.1.271
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). Tais características dos laços dos conselheiros são incorporadas no conselho de administração (Mizruchi, 1996Mizruchi, M. S. (1996). What do interlocks do? An analysis, critique, and assessment of research on interlocking directories. Annual Review of Sociology, 22, pp. 271-298. DOI: 10.1146/annurev.soc.22.1.271
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). Em paralelo, há evidências de que firmas com laços não redundantes são mais habilidosas em acumular status diferenciado (Shipilov & Li, 2008Shipilov, A. V., & Li, S. X. (2008). Can you have your cake and eat it too? Structural holes' influence on status accumulation and market performance in collaborative networks. Administrative Science Quarterly, 53 (1), 73-108. DOI: 10.2189/asqu.53.1.73
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). Mais que isso, Wong e Boh (2010)Wong, S., & Boh, W. F. (2010). Leveraging the ties of others to build a reputation for trustworthiness among peers. Academy of Management Journal, 53 (1), 129-148. DOI: 10.5465/AMJ.2010.48037265
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apontam que executivos com maior heterogeneidade de laços tendem a ter sua reputação disseminada em esferas sociais mais amplas. Diante dessas razões, entende-se que conselhos com maior proporção de laços não redundantes, ou seja, maiores lacunas estruturais (structural holes), estejam relacionados com a reputação das organizações que representam.

O segundo elemento, prestígio do conselho, quando ava liado relacionalmente, remete ao grau de compartilhamento de conselheiros de uma organização com outras, sendo maior quanto mais acentuado for o prestígio dos demais conselhos a que a firma está relacionada. Sob essa perspectiva, prestígio está relacionado a um tipo especial de medida, conhecida como centralidade alpha de Bonacich (1972)Bonacich, P. (1972). Factoring and weighting approaches to status scores and clique identification. Journal of Mathematical Sociology, 2 (1), 113-120. DOI: 10.1080/0022250X.1972.9989806
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, que correntemente é usada na literatura de entrelaçamento entre conselhos, tanto como um indicador de poder (Bonacich & Roy, 1986; Lazzarini, 2011Lazzarini, S. G. (2011). Capitalismo de laços: Os donos do Brasil e suas conexões. Rio de Janeiro: Elsevier.) quanto como medida relacional de status (Podolny, 1993Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
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; Piazza & Castellucci, 2014Piazza, A., & Castellucci, F. (2014). Status in organization and management theory. Journal of Management, 40 (1), 287-315. DOI: 10.1177/0149206313498904
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). Assim, acredita-se que quanto maior a centralidade alpha de Bonacich (eigenvector) de um conselho, melhor a reputação da organização.

O terceiro elemento para avaliação do board interlocking, a coesão do conselho, pode ser evidenciado por meio da par ticipação de conselheiros em grupos fechados, supostamente solidários. Tais grupos estão associados à expectativa de que a coesão de seus integrantes leve a maior confiança e aumento das chances de aquisição de vantagens (Lin, 2001Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
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). Com isso, se um conselheiro faz parte desses grupos fechados é provável que tenha maior facilidade em acessar recursos de terceiros do que aqueles que não fazem parte desse agrupamento. Na premissa de que as organizações sejam seletivas em estabele cer relacionamentos, espera-se que aquelas organizações que estão imersas em grupos coesos, a partir dos laços entre seus conselheiros (maior coeficiente de agrupamento), sejam mais bem avaliadas e apresentem maior reputação. Vale destacar que, assim como se especifica em relação ao status atribuído à participação em mercados diferenciados, acredita-se que a coesão do conselho de administração tem maior influência sobre a possibilidade de uma empresa ser citada entre as mais admiradas do que sobre o aumento de sua reputação.

3.3. Características organizacionais

O terceiro antecedente da reputação reflete as característi cas idiossincráticas das organizações. Eles são fundamentais porque a reputação remete à diferenciação entre organizações a partir de elementos ou recursos considerados socialmente válidos (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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; Lin, 2001Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
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; Washington & Zajac, 2005Washington, M., & Zajac, E. J. (2005). Status evolution and competition: Theory and evidence. Academy of Management Journal, 48(2), 282-296. DOI: 10.5465/AMJ.2005.16928408
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; King & Whetten, 2008King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
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). Ademais, como apontam Love e Kraatz (2009)Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
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, existe tendência de stakeholders admi rarem organizações que sejam possuidoras desses elementos ou recursos legítimos, os quais, por sua vez, estão relacionados com a reputação organizacional. Estudos anteriores apontam o histórico de rentabilidade como um dos elementos mais impor tantes para uma organização ter uma boa reputação (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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; Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
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; Love & Kraatz, 2009; Delgado-García et al., 2010Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
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; Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
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; Gopalan et al., 2011Gopalan, R., Nanda, V., & Yerramilli, V. (2011). Does poor performance damage the reputation of financial intermediaries? Evidence from the loan syndication market. The Journal of Finance, 66 (6), 2083-2120. DOI: 10.1111/j.1540-6261.2011.01692.x
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). Portanto, acredita-se que tanto a probabilidade de a empresa ser listada entre as mais admiradas quanto a de ter melhor reputação estejam positivamente relacionadas à rentabilidade obtida em períodos anteriores.

Além da rentabilidade, estudos apontam que o tamanho da empresa é outro importante antecedente da reputação (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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; Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
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; Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
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). Como afirmam Julian, Ofori-Dankwa e Justis (2008)Julian, S. D., Ofori-Dankwa, J. C., & Justis, R. T. (2008). Understanding strategic responses to interest group pressures. Strategic Management Journal, 29 (9), 963-984. DOI: 10.1002/smj.698
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, firmas de maior tamanho têm maior visibilidade, o que atrai maior atenção do público, da mídia e de agentes regulatórios, dando a elas proeminência. Sendo assim, é bem provável que elas tenham melhor reputação. No entanto, espera-se que o tamanho esteja mais fortemente relacionado ao fato de fazer parte da listagem das empresas mais admiradas do que com a melhor reputação em si.

Entende-se também que a liquidez no mercado de ações, ou seja, a frequência e o volume das ações negociadas em bolsa estejam relacionados à reputação, já que, como verificam Basdeo, Smith, Grimm, Rindova, & Derfus (2006)Basdeo, D. K., Smith, K. G., Grimm, C. M., Rindova, V. P., & Derfus, P. J. (2006). The impact of market actions on firm reputation. Strategic Management Journal, 27 (12), 1205-1219. DOI: 10.1002/smj.556
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, a presença em mercado aumenta as chances de uma empresa ser reco nhecida. Entretanto, mesmo levando a ser listada, espera-se que a liquidez das ações esteja fracamente relacionada com o aumento da reputação.

Acrescenta-se também como antecedente da reputação a alavancagem financeira que, de modo geral, indica o grau de endividamento. Em um primeiro momento, maior alavancagem pode indicar maior risco, o que, por sua vez, afetaria negativa mente as chances de uma empresa ter sua reputação reconhecida (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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). No entanto, há circunstâncias em que maior alavancagem não necessariamente está associada a maior risco das organizações, indicando que há algum ele mento subjacente a esse processo que lhe aufira maior poder de barganha com os investidores e fontes de financiamento. Myers e Majluf (1984)Myers, S. C., & Majluf, N. S. (1984). Corporate financing and investment decisions when firms have information that investors do not have. Journal of Financial Economics, 13 (2), 187-221. DOI: 10.1016/0304-405X(84)90023-0
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atribuem esse fenômeno paradoxal à assimetria de informações entre os gestores da companhia e o mercado, em que os primeiros buscam capitalizar ao máximo a organização para colher retornos em um espaço de tempo menor, pois provavelmente têm expectativas de ganhos que o mercado desconhece. Os autores, pelo menos deliberadamente, não explicam por quais razões o mercado tolera tal compor tamento. Acredita-se que isso ocorra devido à reputação das organizações, já que são tidas como mais confiáveis (Love & Kraatz, 2009Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
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). Perante esses argumentos, espera-se que, entre as empresas mais admiradas, quanto maior é a alavancagem, melhor é a reputação.

Por fim, avalia-se o efeito da idade da firma na reputação. Segundo estudos anteriores (vide Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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; Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
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; Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
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), firmas mais antigas tendem a ser vistas como mais estáveis e confiáveis. Logo, espera-se que exista tendência de que quanto mais an tiga for a firma, maiores serão suas chances de constar entre as mais admiradas. Entretanto, espera-se que essa relação seja mais fraca ou inexistente entre as empresas de maior reputação.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1. População, amostra e dados

A população deste estudo abrange as companhias listadas na BM&F Bovespa, sendo a coleta restrita ao período a partir do ano de adesão das primeiras empresas ao Novo Mercado, que ocorreu em 2002 (vide Procianoy & Verdi, 2009Procianoy, J. L., & Verdi, R. S. (2009). Adesão aos novos mercados da Bovespa: Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2 - determinantes e consequências. Revista Brasileira de Finanças, 7 (1), 107-136. DOI: 10.1002/smj.4250150904
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), até o ano anterior à crise financeira de 2008. De um total de 2.306 observações possíveis entre os anos de 2002 e 2007 (intervalo de seis anos), após a exclusão de algumas empresas que não eram acessíveis devido à ausência de informações na base de dados Economatica®, restaram 442 organizações, que geraram 2.091 observações em um painel não balanceado. No entanto, para evitar relacionamentos causais espúrios, atrasou-se a observação de todas as variáveis independentes em um ano (t-1) em relação à variável dependente. Com isso, ocorreu a redução da amostra para um total de 1.396 observações (60,53% da população).

Da amostra definida, foram coletados dados relacionados ao mercado financeiro por meio do Sistema de Divulgação Externa (Divext) da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da base de informações da BM&F Bovespa e do aplicativo Economatica®, que reúne informações financeiras, contábeis e econômicas das empresas de capital aberto brasileiras. No que se refere à reputação das empresas de capital aberto, os dados foram coletados a partir da pesquisa anual sobre as "Empresas Mais Admiradas no Brasil", realizada pela revista Carta Ca pital. Os dados foram agregados em planilhas eletrônicas, as quais foram, posteriormente, exportadas para os aplicativos: UCINET 6 e PAJEK para a análise de redes de conselheiros e executivos; SPSS, STATAe GRAETL, para a análise estatística e de dados em painel.

4.2. Variáveis

4.2.1. Variável dependente: Reputação organizacional

Como medida de reputação, foi utilizado o escore das "Empresas Mais Admiradas no Brasil", segundo pesquisa anual desenvolvida no País pela revista Carta Capital. A pes quisa, inspirada na The Most Admired Companies da revista norte-americana Fortune (1) (1) A referida pesquisa foi fonte de estudos como os de Fombrun e Shanley (1990); Roberts e Dowling (2002); Acquaah (2003); Deeds, Mang, e Frandsen (2004); Deephouse e Carter (2005); Basdeo, Smith, Grimm, Rindova, e Derfus (2006); Love e Kraatz (2009); Bear, Rahman, e Post (2010); Delgado-García, Quevedo-Puente e Fuente-Sabaté (2010); Pfarrer, Pollock e Rindova (2010). , é realizada há mais de dez anos e incorpora a percepção do empresariado em relação a critérios econômicos e financeiros de empresas que atuam no Brasil, assim como aspectos relacionados à imagem (por exemplo, marca, atitudes, qualidade, administração), envolvendo aproxi madamente 1.224 entrevistados por ano. Todos os consultados indicam a empresa que mais admiram, independentemente de setor, bem como a identidade corporativa para cada um dos onze quesitos (fatores-chave) sob as quais o indicador de reputação é construído. Os fatores-chave são: ética; respeito pelo consumidor; qualidade de produtos/serviços; compromisso com recursos humanos; solidez financeira; compromisso com o País; capacidade de competir globalmente; qualidade de gestão; responsabilidade social; notoriedade; e inovação.

Como apontam Philippe e Durand (2011)Philippe, D., & Durand, R. (2011). The impact of norm--conforming behaviors on firm reputation. Strategic Management Journal, 32 (9), 969-993. DOI: 0.1002/smj.919
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, o escore de reputação da Fortune e de seus similares de outros países, como o da Carta Capital, apresenta algumas limitações: forte associação com a performance financeira (que não é o caso da pesquisa aqui relatada, pois a correlação foi de somente 0,087); forte correlação entre os onze quesitos (que também não foi problema no estudo, pois utilizou-se a medida agrupada); foco em firmas maiores e mais visíveis (que era o lócus deste estudo, a BM&F Bovespa); natureza não representativa da audiência que responde à pesquisa. Apesar disso, como ainda apontam Philippe e Durand (2011)Philippe, D., & Durand, R. (2011). The impact of norm--conforming behaviors on firm reputation. Strategic Management Journal, 32 (9), 969-993. DOI: 0.1002/smj.919
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, esse escore tem as vantagens de aces sar a reputação por meio de múltiplas dimensões, apresentar os dados disponíveis para um horizonte maior de tempo, bem como compreende um número maior de firmas.

Operacionalizou-se essa variável considerando a posição da empresa no ranking geral das "Empresas Mais Admiradas" entre os anos de 2002 e 2007. Para tanto, destacou-se a melhor empresa de cada setor analisado pela pesquisa, assim como as 20 primeiras da listagem, já que, a partir desse ponto, a discri minação entre elas é menos precisa. Atendendo a tais critérios, verificou-se que 33 organizações faziam parte da BM&F Bovespa, possibilitando um total de 78 observações do escore de reputação. Na Tabela 1 estão reunidas as organizações com maior reputação entre os anos de 2002 e 2007.

Tabela 1
Empresas Listadas na BM&F Bovespa de Maior Reputação na Pesquisa da Carta Capital

Para manter a natureza ordenada da reputação (vide Deephouse & Suchman, 2008Deephouse, D. L., & Suchman, M. (2008). Legitimacy in organizational institutionalism. In R. Greenwood, C. Oliver, K. Sahlin, & R. Suddaby (Orgs.), The Sage handbook of organizational institutionalism (pp. 49-77). London: Sage. DOI: 10.4135/9781849200387.n2
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), atribuiu-se o maior valor para empresas que alcançaram o primeiro lugar do ranking em determinado ano, diminuindo o valor em uma unidade para cada posição inferior (valor da variável = 22 - posição no ranking). Além disso, no caso das melhores do setor, quando não estavam entre as 20 primeiras da análise geral, atribuiu-se valor 1, e para todas as demais empresas listadas na BM&F Bovespa, valor 0. Além disso, como a reputação atual pode ser condicionada por avaliações passadas, buscou-se controlar tal inércia introduzindo no modelo a variável reputação com o atraso de um ano, assim como fizeram Delgado-García et al. (2010)Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.2010...
e Love e Kraatz (2009)Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
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.

4.2.2. Variáveis independentes

  • Mercados diferenciados. Partindo do pressuposto de que participar de mercados ou estratos sociais diferenciados está relacionado à diferenciação de status das organizações (Podolny, 1993Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
    https://doi.org/10.1086/230091...
    ; Lin, 2001Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
    https://doi.org/10.1017/CBO9780511815447...
    ; Jensen & Roy, 2008Jensen, M., & Roy, A. (2008). Staging exchange partner choices: When do status and reputation matter? Academy of Management Journal, 51(3), 495-516. DOI: 10.5465/AMJ.2008.32625985
    https://doi.org/10.5465/AMJ.2008.3262598...
    ; Bitektine, 2011Bitektine, A. (2011).Toward a theory of social judgments of organizations: The case of legitimacy, reputation, and status. Academy of Management Review, 36 (1), 151-179. DOI: 10.5465/AMR.2011.55662572
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    ), buscou-se avaliar tais traços no mercado de capitais brasileiro por meio da adesão a níveis diferenciados de governança e da adesão ao mercado de ações norte-americano por meio do American Depositary Receipts (ADRs).

    • ○ Níveis de governança corporativa. Utilizaram-se três indicadores de participação nos mercados diferenciados da BM&F Bovespa: presença no Novo Mercado, no Nível 2 de Governança e no Nível 1 de Governança. Considerou -se como categoria de comparação o Mercado Tradicional. Para tanto, definiu-se cada um dos indicadores por meio de variáveis dummy, que assumiram valor igual a 1 se a empresa participava do mercado indicado (Novo Mercado, Nível 2 ou Nível 1), em determinado ano, e valor 0 para os outros casos, assim como fizeram outros estudos (por exemplo, Silveira, 2006Silveira, A. M., Barros, L., & Famá, R. (2006). Atributos corporativos, qualidade da governança corporativa e valor das companhias abertas no Brasil. Revista Brasileira de Finanças, 4 (1), 1-30.; Silveira, Barros, & Famá, 2006Silveira, A. M., Barros, L., & Famá, R. (2006). Atributos corporativos, qualidade da governança corporativa e valor das companhias abertas no Brasil. Revista Brasileira de Finanças, 4 (1), 1-30.; Mendes-da-Silva, Ferraz-Andrade, Famá, & Maluf Filho, 2009Mendes-da-Silva, W., Ferraz-Andrade, J. M., Famá, R., & Maluf Filho, J. A. (2009). Disclosure via website corporativo: Um exame de informações financeiras de governança no mercado brasileiro. Revista de Administração de Empresas, 49 (2), 190-205. DOI: 10.1590/S0034-75902009000200006
      https://doi.org/10.1590/S0034-7590200900...
      ; Procianoy & Verdi, 2009Procianoy, J. L., & Verdi, R. S. (2009). Adesão aos novos mercados da Bovespa: Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2 - determinantes e consequências. Revista Brasileira de Finanças, 7 (1), 107-136. DOI: 10.1002/smj.4250150904
      https://doi.org/10.1002/smj.4250150904...
      ).

    • American Depositary Receipts (ADRs). Entre as certificações do mercado de ações, a mais valorizada é a partici pação no mercado de ações norte-americano por meio da emissão de ADRs nas bolsas de New York ou NASDAQ, já que tal adesão indica aceitação de níveis diferencia dos de governança (Silveira & Barros, 2008Silveira, A. M., & Barros, L. (2008). Determinantes da qualidade da governança corporativa das companhias abertas brasileiras. REAd. Revista Eletrônica de Administração, 14 (3), 1-29.; Silveira, Leal, Barros, & Carvalhal da Silva, 2009Silveira, A. M., Leal, R. P. C., Barros, L., & Carvalhal da Silva, A. L. (2009, julho/agosto/setembro). Evolution and determinants of firm-level corporate governance quality in Brazil., Revista de Administração - RAUSP 44 (3), 173-189.). Sendo assim, operacionalizou-se a emissão de ADRs por meio de uma variável dummy que assume valor 1 quando a organização emite aquele tipo de ação, em determinado ano, e valor 0 quando não. Coletaram-se essas informações no sistema da Comissão de Valores Mobiliários, conferindo algumas informações no site <www.adr.com>, organizado pelo banco J. P. Morgan.

  • Conselho de administração. Seguindo estudos anteriores (Davis, 1996Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
    https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.1996...
    ; Cohen & Dean, 2005Cohen, B. D., & Dean, T. J. (2005). Information asymmetry and investor valuation of IPOs: Top management team legitimacy as a capital market signal. Strategic Management Journal, 26 (7), 683-690. DOI: 10.1002/smj.463
    https://doi.org/10.1002/smj.463...
    ; Higgins & Gulati, 2006Higgins, M. C., & Gulati, R. (2006). Stacking the deck: The effects of top management backgrounds on investor decisions. Strategic Management Journal, 27 (1), 1-25. DOI: 10.2307/1912352
    https://doi.org/10.2307/1912352...
    ; Wade et al., 2006Wade, J. B., Porac, J. F., Pollock, T. G., & Graffin, S. D. (2006). The burden of celebrity: The impact of CEO certification contests on CEO pay and performance. Academy of Management Journal, 49 (4), 643-660. DOI: 10.5465/AMJ.2006.22083021
    https://doi.org/10.5465/AMJ.2006.2208302...
    ; Certo & Hodge, 2007Certo, S. T., & Hodge, F. (2007). Top management team prestige and organizational legitimacy: An examination of investor perceptions. Journal of Managerial Issues, 19 (4), 461-477.; Zhang & Wierser ma, 2009Zhang, Y., & Wiersema, M. F. (2009). Stock market reaction to CEO certification: The signaling role of CEO background. Strategic Management Journal, 30 (7), 693-710. DOI: 10.1002/smj.772
    https://doi.org/10.1002/smj.772...
    ; Bear, Rahman, & Post, 2010Bear, S., Rahman, N., & Post, C. (2010). The impact of board diversity and gender composition on corporate social responsibility and firm reputation. Journal of Business Ethics, 97 (2), 207-221. DOI: 10.1007/s10551-010-0505-2
    https://doi.org/10.1007/s10551-010-0505-...
    ; Delgado-García et al., 2010Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
    https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.2010...
    ), foram avaliados os conselhos de administração das empresas listadas na BM&F Bovespa, na expectativa de que aqueles mais bem posicionados na estrutura de relações corporativas estejam em organizações de maior reputação. Para isso, avaliou-se a posição dos conselhos de administra ção em relação aos demais conselhos de outras organizações, o que evidência a existência de board interlocking (vide Mizruchi, 1996Mizruchi, M. S. (1996). What do interlocks do? An analysis, critique, and assessment of research on interlocking directories. Annual Review of Sociology, 22, pp. 271-298. DOI: 10.1146/annurev.soc.22.1.271
    https://doi.org/10.1146/annurev.soc.22.1...
    ). Em termos operacionais, utilizou-se o método de análise de redes sociais para mapear o relacio namento corporativo das organizações (vide Wasserman & Faust, 1994, para extensa revisão do método). Os laços entre as organizações foram determinados a partir do mapeamento do compartilhamento de conselheiros e executivos (vide, por exemplo, Davis & Mizruchi, 1999Davis, G. F., & Mizruchi, M. S. (1999). The money center cannot hold: Commercial banks in the U.S. system of corporate governance. Administrative Science Quarterly, 44 (2), 215-239. DOI: 10.2307/2666995
    https://doi.org/10.2307/2666995...
    ; Gulati & Westphal, 1999Gulati, R., & Westphal, J. D. (1999). Cooperative or controlling? The effects of CEO-board relations and the content of interlocks on the formation of joint ventures. Administrative Science Quarterly, 44 (3), 473-506. DOI: 10.2307/2666959
    https://doi.org/10.2307/2666959...
    ; Mendes-da-Silva et al., 2008Mendes-da-Silva, W., Rossoni, L., Martin, D. L., & Martelanc, R. (2008). A influência das redes de relações corporativas no desempenho das empresas do Novo Mercado da Bovespa. Revista Brasileira de Finanças, 6 (3), 337-358.; e a extensa revisão de Davis, 1996Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
    https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.1996...
    e Mizruchi, 1996Mizruchi, M. S. (1996). What do interlocks do? An analysis, critique, and assessment of research on interlocking directories. Annual Review of Sociology, 22, pp. 271-298. DOI: 10.1146/annurev.soc.22.1.271
    https://doi.org/10.1146/annurev.soc.22.1...
    ). Especificamente, utilizaram-se três indicadores: as lacunas estruturais, que remetem ao capital social por meio dos laços não redundantes e da intermediação (Burt, 1992Burt, R. S. (1992). Structural holes. Cambridge: Harvard University Press., 2005Burt, R. S. (2005). Brokerage & closure: An introduction to social capital. Oxford: Oxford University Press.); o prestígio, avaliado hierarquicamente a partir do indicador Eigenvector(Bonacich, 1972Bonacich, P. (1972). Factoring and weighting approaches to status scores and clique identification. Journal of Mathematical Sociology, 2 (1), 113-120. DOI: 10.1080/0022250X.1972.9989806
    https://doi.org/10.1080/0022250X.1972.99...
    ); e a coesão do conselho, avaliado pelo coeficiente de agrupamento (Watts & Strogatz, 1998Watts, D. J., & Strogatz, S. H. (1998). Collective dynamics of "small-world" networks. Nature, 393 (6684), 440-442. DOI: 10.1038/30918
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    ).

    • ○ Lacunasestruturais(structural holes). São os relaciona mentos não redundantes entre dois contatos (Burt, 1992Burt, R. S. (1992). Structural holes. Cambridge: Harvard University Press.). Assim, quanto menor o número de laços redundantes, maior o número de lacunas estruturais, havendo menor redundância de informação. Especificamente, utilizou-se a medida de eficiência dos laços (Burt, 1992Burt, R. S. (1992). Structural holes. Cambridge: Harvard University Press., p. 53), que ensura o número de contatos não redundantes (EffSize) em relação ao total de contatos n de um ator i. Como se trabalhou com dados binários, utilizou-se a forma simplificada da equação desenvolvida por Borgatti (1997)Borgatti, S. P. (1997). Structural holes: Unpacking Burt's redundancy measures. Connections, 20 (1), 35-38. DOI: 10.1080/0022250X.1986.9990009
      https://doi.org/10.1080/0022250X.1986.99...
      . Formalmente, considerando que um ator i apresenta n número de contatos, pode-se avaliar o número de contatos redundantes por meio da equação Dalters = 2l/n, em que l é o número de laços entre n(alters). Já que Dalters indica o total de laços redundantes, considerou-se como laços não redundantes, EffSize, como n - Dalters. Dessa forma, a proporção de laços não redundantes Efficiency é dada por EffSize/n. Como há variação anual de conselheiros que fazem parte das organizações, calculou-se essa medida para cada ano de participação da empresa na bolsa.

    • ○ Prestígio. Como medidas estruturais de prestígio envolvem o posicionamento de um determinado ator em relação aos demais (Wasserman & Faust, 1994Wasserman, S., & Faust, K. (1994). Social network analysis: Methods and applications. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815478
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      ), escolheu-se a medida denominada Eigenvector(centralidade alpha de Bonacich), que avalia o grau de centralização de um nó considerando, também, a centralidade dos laços vizinhos, concebendo assim uma hierarquia de atores mais e menos prestigiados (De Nooy, Mrvar, & Batagelj, 2005De Nooy, W., Mrvar, A., & Batagelj, V. (2005). Exploratory social network analysis with pajek. New York: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511806452
      https://doi.org/10.1017/CBO9780511806452...
      ; Hanneman & Riddle; 2005Hanneman, R. A., & Riddle, M. (2005). Introduction to social network methods. Riverside: University of California.). Vale lembrar que essa medida se diferencia da centralidade de grau, que considera somente o número de laços adjacentes, por levar em conta também a centralidade de tais laços. Usou-se essa medida por apresentar algumas vantagens analíticas em relação à centralidade de grau (vide Bonacich & Roy, 1986Bonacich, P., & Roy, W. G. (1986). Centrality, dominance, and interorganizational power in a network structure: Interlocking directorates among American railroads, 1886-1905. Journal of Mathematical Sociology, 12(2), 127-135.; Lazzarini, 2011Lazzarini, S. G. (2011). Capitalismo de laços: Os donos do Brasil e suas conexões. Rio de Janeiro: Elsevier.). Assim, avaliou-se o escore de cada organização, em relação à amplitude do domínio de seu conselho, para cada um dos anos em que teve atividade na bolsa.

    • ○ Coeficiente de agrupamento (cluster coefficient) Este indicador mede a densidade local da rede, em termos de seu aninhamento, indicando como os contatos de um ator estão recursivamente ligados entre si (Watts & Strogatz, 1998Watts, D. J., & Strogatz, S. H. (1998). Collective dynamics of "small-world" networks. Nature, 393 (6684), 440-442. DOI: 10.1038/30918
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      ; Watts, 1999Watts, D. J. (1999). Small worlds: The dynamics of networks between order and randomness. Princeton: Princeton University Press.). Em outras palavras, quanto maior o número de cliques que eles formam (laços mútuos entre, no mínimo, três participantes), maior o agrupamento da rede. Formalmente, pode-se definir o coeficiente de agru pamento, CC, como 3 x número de cliques/número de trios conectados. Ele pode variar de 0 a 1, sendo 0 quando se trata de redes totalmente desagrupadas e 1 para o caso de redes totalmente agrupadas. Calculou-se essa medida para cada ano de participação da empresa na bolsa.

  • Característicasdaorganização. Diante das razões expostas no quadro teórico, especificaram-se cinco indicadores reco nhecidamente atribuídos ao nível da firma: retorno sobre o ativo, tamanho, liquidez das ações, alavancagem financeira e idade.

    • ○ Retornosobreoativo(ROA) Considerando que a lucrati vidade é um dos elementos mais salientes no julgamento da saúde financeira de uma organização (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
      https://doi.org/10.2307/256324...
      ) e que exerce influência na reputação (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
      https://doi.org/10.2307/256324...
      ; Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
      https://doi.org/10.1002/smj.274...
      ; Deephouse & Carter, 2005Deephouse, D. L., & Carter, S. M. (2005). An examination of differences between organizational legitimacy and organizational reputation. Journal of Management Studies, 42 (2), 329-360. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2005.00499.x
      https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2005...
      ; Delgado-García et al., 2010Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
      https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.2010...
      ; Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
      https://doi.org/10.5465/AMJ.2010.5453322...
      ), busca-se avaliá-la por meio do cálculo do retorno sobre o ativo (ROA), formalmente definido como: ROA = LAJIR / AT, em que LAJIR = lucro antes dos juros e impostos, AT = valor contábil do ativo total. Essa medida é conhecida também como LAJIRDA (vide Silveira, 2006Silveira, A. M., Barros, L., & Famá, R. (2006). Atributos corporativos, qualidade da governança corporativa e valor das companhias abertas no Brasil. Revista Brasileira de Finanças, 4 (1), 1-30.).

    • ○ Tamanho da empresa Considerando as evidências de sua associação com a reputação (vide, por exemplo, Fombrun & Shanley, 1990; Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
      https://doi.org/10.1002/smj.274...
      ; Delgado-García et al., 2010Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
      https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.2010...
      ; Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
      https://doi.org/10.5465/AMJ.2010.5453322...
      ), o tamanho da empresa foi avaliado a partir do valor contábil do ativo total (vide Mendes-da-Silva et al., 2008Mendes-da-Silva, W., Rossoni, L., Martin, D. L., & Martelanc, R. (2008). A influência das redes de relações corporativas no desempenho das empresas do Novo Mercado da Bovespa. Revista Brasileira de Finanças, 6 (3), 337-358.; Mendes-da-Silva et al., 2009Mendes-da-Silva, W., Ferraz-Andrade, J. M., Famá, R., & Maluf Filho, J. A. (2009). Disclosure via website corporativo: Um exame de informações financeiras de governança no mercado brasileiro. Revista de Administração de Empresas, 49 (2), 190-205. DOI: 10.1590/S0034-75902009000200006
      https://doi.org/10.1590/S0034-7590200900...
      ; Silveira, 2006Silveira, A. M., Barros, L., & Famá, R. (2006). Atributos corporativos, qualidade da governança corporativa e valor das companhias abertas no Brasil. Revista Brasileira de Finanças, 4 (1), 1-30.), que foi logaritmizado para diminuir problemas de simetria e curtose.

    • ○ Liquidez das ações De forma simples, a liquidez destaca a possibilidade de se transacionar um alto volume de ações sem mover o preço da ação (Pastor & Stambaugh, 2003Pastor, L., & Stambaugh, R. (2003). Liquidity risk and expected stock returns. Journal of Political Economy, 111 (3), 642-685. DOI: 10.1086/374184
      https://doi.org/10.1086/374184...
      ). Das várias medidas de liquidez de ações existen tes (vide Procianoy & Verdi, 2009Procianoy, J. L., & Verdi, R. S. (2009). Adesão aos novos mercados da Bovespa: Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2 - determinantes e consequências. Revista Brasileira de Finanças, 7 (1), 107-136. DOI: 10.1002/smj.4250150904
      https://doi.org/10.1002/smj.4250150904...
      ), seguem-se estudos que utilizaram a liquidez considerando a frequência e o volume dessas transações (vide Mendes-da-Silva & Magalhães Filho, 2005Mendes-da-Silva, W., & Magalhães Filho, P. A. O. (2005). Determinantes da disseminação voluntária de informações financeiras na internet. RAE-Eletrônica, 4 (2), 1-23. DOI: 10.1590/S1676-56482005000200004
      https://doi.org/10.1590/S1676-5648200500...
      ; Silveira, 2006Silveira, A. M. (2006). Governança corporativa e estrutura de propriedade. São Paulo: Saint Paul Institute of Finance.; Lameira, Ness Junior, & Macedo-Soares, 2007Lameira, V. J., Ness Junior, W. L., & Macedo-Soares, T. (2007). Governança corporativa: impactos no valor das companhias abertas brasileiras. Revista de Administração - RAUSP, 42 (1), 64-73.; Mendes-da-Silva et al., 2009Mendes-da-Silva, W., Ferraz-Andrade, J. M., Famá, R., & Maluf Filho, J. A. (2009). Disclosure via website corporativo: Um exame de informações financeiras de governança no mercado brasileiro. Revista de Administração de Empresas, 49 (2), 190-205. DOI: 10.1590/S0034-75902009000200006
      https://doi.org/10.1590/S0034-7590200900...
      ; Procianoy & Verdi, 2009Procianoy, J. L., & Verdi, R. S. (2009). Adesão aos novos mercados da Bovespa: Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2 - determinantes e consequências. Revista Brasileira de Finanças, 7 (1), 107-136. DOI: 10.1002/smj.4250150904
      https://doi.org/10.1002/smj.4250150904...
      ; Silveira et al., 2009Silveira, A. M., Leal, R. P. C., Barros, L., & Carvalhal da Silva, A. L. (2009, julho/agosto/setembro). Evolution and determinants of firm-level corporate governance quality in Brazil., Revista de Administração - RAUSP 44 (3), 173-189.). A premissa desse indicador é que, quanto maior a liquidez da ação, maior a capacidade da organização em adquirir recursos no mercado, sugerindo que ela é mais desejada pelos investidores. Logo, acredita-se que a maior liquidez deve estar associada à maior reputação. Formalmente, a liquidez foi definida como p = número de dias nos quais a ação foi negociada; P = número total de dias do período; n = número de negócios em que p= número de dias nos quais a ação foi negociada; P = número total de dias do período; n = número de negócios com a ação dentro do período; N = número de negócios com todas as ações dentro do período; v = volume de dinheiro com a ação dentro do período; V = volume de dinheiro com todas as ações dentro do período. Tais informações são disponibilizadas pelo sistema Economatica®.em que

    • ○ Alavancagem financeiraOperacionalizou-se este indicador por meio da avaliação da dívida financeira total da organização em relação ao ativo total (Carvalhal da Silva & Leal, 2005Carvalhal da Silva, A. L., & Leal, R. P. C. (2005). Corporate governance index, firm valuation and performance in Brazil. Revista Brasileira de Finanças, 3 (1), 1-18.; Silveira et al., 2006Silveira, A. M., Barros, L., & Famá, R. (2006). Atributos corporativos, qualidade da governança corporativa e valor das companhias abertas no Brasil. Revista Brasileira de Finanças, 4 (1), 1-30.). Vista como medida que relata a estrutura de capital da organização (Silveira, 2006Silveira, A. M. (2006). Governança corporativa e estrutura de propriedade. São Paulo: Saint Paul Institute of Finance.), ela aponta a extensão em que a organização utiliza capital de terceiros para financiar suas operações. Em um primeiro momento, como maior alavancagem está asso ciada ao maior risco, é provável que tal indicador esteja negativamente relacionado com a reputação; no entanto, há indícios de que organizações que têm grandes expectativas de rendimentos futuros busquem se alavancar (Myers & Majluf, 1984Myers, S. C., & Majluf, N. S. (1984). Corporate financing and investment decisions when firms have information that investors do not have. Journal of Financial Economics, 13 (2), 187-221. DOI: 10.1016/0304-405X(84)90023-0
      https://doi.org/10.1016/0304-405X(84)900...
      ), o que, paradoxalmente, pode estar associado à maior reputação.

    • ○ IdadeA idade foi definida pelo logaritmo natural dos anos de operação da empresa no mercado acionário brasileiro (vide Mendes-da-Silva et al., 2009Mendes-da-Silva, W., Ferraz-Andrade, J. M., Famá, R., & Maluf Filho, J. A. (2009). Disclosure via website corporativo: Um exame de informações financeiras de governança no mercado brasileiro. Revista de Administração de Empresas, 49 (2), 190-205. DOI: 10.1590/S0034-75902009000200006
      https://doi.org/10.1590/S0034-7590200900...
      ), já que há indícios de que organizações que operam a mais tempo no mercado sejam mais estáveis e confiáveis do que as mais recentes, podendo tal fator estar associado à reputação (Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
      https://doi.org/10.5465/AMJ.2010.5453322...
      ).

4.3. Método de análise

Como nem todas as organizações que fazem parte da BM&F Bovespa são apontadas como as empresas de maior reputação na pesquisa das "Empresas Mais Admiradas no Brasil" da revista Carta Capital, é provável que exista um viés ocasionado pelo processo de seleção. Para corrigir esse problema do viés de seleção, os relacionamentos entre as variáveis foram testa dos a partir do modelo de seleção de Heckman (1979)Heckman, J. J. (1979). Sample selection bias as a specification error. Econometrica, 47 (1), 153-161. DOI: 10.2307/1912352
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em dois estágios (Heckman Selection Model: Two-step Estimates). Tal procedimento também foi desempenhado em outros estudos em que se avaliaram os efeitos de um conjunto de variáveis na reputação (Deephouse & Carter, 2005Deephouse, D. L., & Carter, S. M. (2005). An examination of differences between organizational legitimacy and organizational reputation. Journal of Management Studies, 42 (2), 329-360. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2005.00499.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2005...
; Delgado-García et al., 2010Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.2010...
).

No primeiro estágio, o modelo de Heckman (1979)Heckman, J. J. (1979). Sample selection bias as a specification error. Econometrica, 47 (1), 153-161. DOI: 10.2307/1912352
https://doi.org/10.2307/1912352...
esti ma, a partir de uma função Probit, a influência das variáveis independentes na probabilidade de uma empresa constar da lista das empresas mais admiradas. Para tanto, especificou-se uma variável dummy de seleção da reputação, em que o valor 1 foi atribuído às 78 observações listadas na pesquisa (5,6%) e 0 para as 1.396 observações censuradas. Nesse estágio, testaram-se dois modelos Probit com um conjunto diferente de variáveis. No Modelo 1, da Tabela 2, incluíram-se todas as variáveis independentes com o objetivo de saber quais delas estão associadas ou não com a presença na lista das mais admi radas. Já no Modelo 4, incluíram-se somente as características organizacionais, devido a literatura apontar que o conceito de reputação enfatiza a dimensão individual e não coletiva (Lin, 2001Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
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; King & Whetten, 2008King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
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).

Tabela 2
Antecedentes da Reputação (Heckman Selection Model: Two-Step Estimates)

Os dois modelos Probit testados no primeiro estágio geraram uma variável chamada Inverse Mills Ratio, que po tencialmente controla o efeito de viés de seleção. No segundo estágio, geraram-se quatro modelos de regressão OLS com o escore de reputação das 78 observações selecionadas como dependente, incluindo também a variável de controle de viés de seleção em todos eles. Isso foi feito com o objetivo de verificar se as variáveis selecionadas afetam ou não a diferen ciação do escore de reputação das companhias selecionadas. Para tanto, nos Modelos 2 e 3 foi incluída a variável Inverse Mills Ratiogerada no Modelo 1. A diferença entre os Modelos 2 e 3 é que, enquanto o primeiro apresenta todas as variáveis independentes, no segundo incluíram-se somente aquelas que foram significativas no primeiro estágio. Já nos Modelos 5 e 6, utilizou-se a variável Inverse Mills Ratio gerada no Modelo 4. No Modelo 5, introduziram-se todas as variáveis indepen dentes, enquanto no Modelo 6 foram descartadas aquelas que não eram significativas, pois há poucos graus de liberdade. Vale destacar também que, paralelamente, se testaram todos os modelos controlando o efeito do ano e do setor, o que não afetou o coeficiente das variáveis.

5. RESULTADOS

Na Tabela 2, pode-se visualizar o efeito das variáveis na reputação. No Modelo 1 estão os resultados da função de sele ção Probit, que indicam quais variáveis estão relacionadas com a presença das empresas na listagem das mais admiradas. Os resultados apontam que o escore da reputação das empresas nos anos anteriores está associado com a probabilidade de ela ser relacionada entre as mais admiradas (β = 0,244, p < 0,001(2) (2) Foi feita também a avaliação da variável reputação sobre a probabilidade de uma empresa estar na listagem das mais admiradas com defasagem de dois, três e quatro anos, apesar de relatarem-se somente os resultados para a defasagem de um ano. Os resultados foram altamente significativos em todos os modelos (p < 0,01), ressaltando o caráter duradouro e recursivo da reputação. , o que evidencia que avaliações anteriores da reputação estão diretamente relacionadas com a atual. Verificou-se também que, entre as variáveis associadas ao mercado, empresas que fazem parte do Novo Mercado da BM&F Bovespa têm mais chances de ser elencadas entre as de maior reputação (β = 0,555, p < 0,05), assim como aquelas organizações que emitem ADRs no mercado norte-americano (β = 0,944, p < 0,001). No que tange ao papel dos conselhos de administração, identificou-se que empresas com conselhos que possuem maior proporção de laços não redundantes (structural holes) tendem a ter maiores chances de possuir reputação reconhecida (β = 0,944, p < 0,1), apesar de tal relação ser significativa somente no nível de 90% de confiança. Influência inversa apresentou a coesão local do conselho (β = -0,704, p < 0,01), avaliada por meio do coeficiente de agrupamento (cluster coefficient), que se mostrou negativamente associada à probabilidade de uma empresa ser indicada entre as de maior reputação. Por fim, entre as carac terísticas organizacionais, constatou-se que há relação positiva entre a rentabilidade avaliada por meio do ROA (β = 0,022, p < 0,05) e do tamanho da organização (β = 0,201, p < 0,01) na probabilidade de estar entre as mais admiradas. A alavancagem financeira, por sua vez, mostrou-se negativamente associada com a possibilidade de fazer parte da listagem (β = -0,013, p < 0,01), indicando que, quanto mais endividada uma organização, menores as suas chances de ter a reputação reconhecida.

Além dos resultados apresentados no Modelo de Seleção, na Tabela 2 apresentou-se a influência das variáveis no escore de reputação dos 78 casos em que ele foi observado por meio de um modelo de regressão linear (OLS). Tais resultados estão presentes nos Modelos 2 e 3, em que a variável de controle de viés de seleção (Inverse Mills Ratio), gerada no Modelo 1, não foi significativa, e nos modelos 5 e 6, cuja variável Inverse Mills Ratio, gerada no Modelo 4, foi significativa (β = -2,943, p < 0,1 no Modelo 5 e β = -2,872, p < 0,1, no Modelo 6). Sendo assim, primar-se-á pela interpretação dos resultados, em primeiro lugar, quando os resultados forem significativos na maior parte desses modelos e, em segundo lugar, naqueles modelos com menor número de variáveis (3 e 6), e, por fim, naqueles modelos com a variável Inverse Mills Ratio significativa (5 e 6).

Assim como no Modelo de Seleção, verificou-se que quanto mais bem avaliada uma empresa nos anos anteriores, maior a tendência de ter uma melhor avaliação da reputação no momen to atual (β = -0,442, p < 0,01 no Modelo 6)(3) (3) Assim como feito no Modelo 1, avaliou-se essa relação com dois, três e quatro anos de defasagem. . Os resultados relacionados às variáveis de mercado (status) demonstraram que fazer parte do Novo Mercado da BM&F Bovespa não está relacionado com o aumento do escore de reputação, enquanto fazer parte do Nível 2 ou emitir ADRs no mercado acionário norte-americano influencia negativamente o escore de reputa ção (β = -4,719, p < 0,05 para o Nível 2 e β = -0,215, p < 0,01 para ADRs, ambos no Modelo 6). Tais resultados não eram esperados, mas podem ser explicados a partir das característi cas da amostra de empresas mais admiradas. Por exemplo, a influência negativa do Nível 2 na reputação é devida ao fato de as duas empresas que fazem parte desse nível de governança, Gol e TAM Linhas Aéreas, terem média de reputação inferior às demais. O mesmo raciocínio é válido para a influência negativa das ADRs: algumas empresas que não participam do mercado norte-americano (por exemplo, Natura) têm alta reputação, o que distorce a média.

Com relação às variáveis do conselho de administração, somente a avaliação de prestígio por meio do eigenvector se mostrou negativamente significativa (β = -30,271, p < 0,1), mas somente no nível de confiança de 90%. Esse resultado indica que quanto mais prestigiado é o conselho, menor o escore de reputação. Para entender esse resultado contrain tuitivo, primeiro tem-se que destacar que, entre as empresas mais admiradas, não é prática comum elas terem conselheiros compartilhados com empresas mais centrais. Assim, entre aquelas que tinham conselhos com maior escore de prestígio, como, por exemplo, Aracruz, Embraer e Grendene, verificou -se que o aumento em tal escore ocorreu no ano subsequente a problemas relacionados à queda de rentabilidade. Segundo reportagens publicadas à época, essa queda foi consequência da flutuação do dólar e de alguns problemas de fornecimento que tais empresas enfrentaram. Como apontam Davis (1996)Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
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e Mizruchi (1996)Mizruchi, M. S. (1996). What do interlocks do? An analysis, critique, and assessment of research on interlocking directories. Annual Review of Sociology, 22, pp. 271-298. DOI: 10.1146/annurev.soc.22.1.271
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, perante essas situações é comum que as organizações busquem se proteger das repercussões negativas por meio do board interlocking, ou seja, aumentando o número de conselheiros externos de maior prestígio.

Por fim, entre as características organizacionais, assim como apontou a literatura, existe relação positiva entre a rentabilidade do ano anterior avaliada por meio do ROA com o aumento na reputação (β = 0,132, p < 0,05 no Modelo 6). Já o tamanho da empresa foi significativo somente no Modelo 4 (β = 0,801, p < 0,05), o que deve ser visto com ressalvas. A liquidez apresen tou o mesmo comportamento, sendo significativa em dois dos três modelos, o que demonstra existir relação entre empresas com ações mais negociadas e reputação (β = 0,569, p < 0,1 no Modelo 6). A alavancagem financeira, diferentemente do efeito negativo no Modelo de Seleção, mostrou-se positivamente relacionada com o aumento da reputação. Assim, quanto maior o endividamento das empresas mais admiradas, maior o escore de reputação (β = 0,128, p < 0,01 no Modelo 6). A idade da em presa mostrou-se negativamente relacionada com a reputação (β = -0,059, p < 0,1), mas tal relação foi significativa somente no Modelo 6, no nível de 90% de confiança.

6. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Neste artigo, buscou-se analisar como a participação em mercados diferenciados (status), o conselho de administração e as características organizacionais condicionam a reputação das empresas de capital aberto brasileiras. Para tanto, opera cionalizou-se a reputação a partir da percepção de executivos brasileiros, captadas por meio da pesquisa das "Empresas Mais Admiradas do Brasil". Os resultados apontaram para o caráter duradouro das avaliações da reputação, em que escores de reputação em anos anteriores estão fortemente relacionados tanto com a probabilidade de uma organização estar entre as empresas mais admiradas quanto com a avaliação atual da reputação. Os antecedentes relacionados ao status inerente à posição no mercado vão ao encontro do proposto nas teorias sociológicas (vide Lin, 2001Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
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; Podolny, 1993Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
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), demonstrando que existe transferência do prestígio atribuído ao grupo ou à esfera social para a unidade social, nesse caso a empresa de ca pital aberto. Os resultados apontaram que empresas que fazem parte do Novo Mercado da BM&F Bovespa, como do mercado norte-americano por meio de ADRs, têm mais chances de ser citadas entre as mais admiradas. Todavia, como se esperava, o status dos mercados diferenciados não possibilitou que as organizações tivessem maior reputação. Assim como verificado em outros estudos (Washington & Zajac, 2005Washington, M., & Zajac, E. J. (2005). Status evolution and competition: Theory and evidence. Academy of Management Journal, 48(2), 282-296. DOI: 10.5465/AMJ.2005.16928408
https://doi.org/10.5465/AMJ.2005.1692840...
), uma posição de status qualifica uma companhia, mas não a discrimina das demais, ficando isso a cargo de suas características intrínsecas.

No caso do conselho de administração, verificou-se que aqueles conselhos que apresentam maior proporção de laços não redundantes, ou seja, maior parcela de capital social por meio dos laços fracos, estão situados em organizações com a reputação reconhecida. Conforme o esperado, tais laços fracos não foram suficientes para elevar a reputação entre as empresas mais admiradas. No que se refere ao prestígio do conselho, não se encontrou evidência de que exista alguma associação com o fato de a empresa estar entre as mais admiradas. Isso pode ter ocorrido porque as relações entre conselhos tendem a ser locais, não havendo grande diferenciação das relações, o que debilita a medida (vide Bonacich, 2007Bonacich, P. (2007). Some unique properties of eigenvector centrality. Social Networks, 29 (4), 555-564. DOI: 10.1016/j.socnet.2007.04.002
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); outra explicação possível deve-se à limitação da medida estrutural de centralidade, que não capta plenamente o fenômeno do prestígio. No entanto, entre as organizações de maior reputação, achou-se uma relação negativa com prestígio, a qual se pode interpretar como sendo um mecanismo de resposta a crises. Como destacam Davis (1996)Davis, G. F. (1996). The significance of board interlocks for corporate governance. Corporate Governance, 4 (3), 154-159. DOI: 10.1111/j.1467-8683.1996.tb00144.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.1996...
e Mizruchi (1996)Mizruchi, M. S. (1996). What do interlocks do? An analysis, critique, and assessment of research on interlocking directories. Annual Review of Sociology, 22, pp. 271-298. DOI: 10.1146/annurev.soc.22.1.271
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, é comum as organizações buscarem conselheiros e executivos de maior prestígio para gerenciar fases difíceis, como, por exemplo, baixa rentabilidade (Black, Carvalho, & Gorga, 2012Black, B. S., Carvalho, A. G., & Gorga, E. (2012). What matters and for which firms for corporate governance in emerging markets? Evidence from Brazil (and other BRIK countries). Journal of Corporate Finance, 18 (4), 934-952. DOI: 10.1016/j.jcorpfin.2011.10.001
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).

Diferentemente daquilo que se hipotetizou, o coeficiente de agrupamento mostrou-se negativamente associado com o fato de uma empresa ser apreciada como uma das mais admiradas. Tal resultado remete a um ponto que vem ganhando atenção na literatura que trata dos relacionamentos interorganizacionais: o lado obscuro das redes. Por exemplo, Jensen (2008)Jensen, M. (2008). The use of relational discrimination to manage market entry: When do social status and structural holes work against you? Academy of Management Journal, 51 (4), 723-743. DOI: 10.5465/AMR.2008.33665259
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mostra que, em alguns casos, para empresas que estão entrando no mercado, ter maior status social ou maiores lacunas estruturais dificulta a aquisição de apoio de empresas estabelecidas. Já Labianca e Brass (2006)Labianca, G., & Brass, D. J. (2006). Exploring the social ledger: Negative relationships and negative asymmetry in social networks in organizations. Academy of Management Review, 31 (3), 596-614. DOI: 10.5465/AMR.2006.21318920
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atestam a existência de situações nas quais os indivíduos vistos como mais populares na organização têm menores chances de ser promovidos: nesse caso, os laços jogam contra o indivíduo. Ademais, podem-se interpretar os efeitos negativos dos laços coesos e mais restritos dos conselhos a partir de alguns arquétipos da sociedade brasileira. O País sempre foi caracterizado como patrimonialista (vide Faoro, 2001Faoro, R. (2001). A viagem redonda: do patrimonialismo ao estamento. In R. Faoro, Os donos do poder: Formação do patronato político brasileiro (pp. 819-838). São Paulo: Globo.), não sendo diferente no meio empresarial e corporativo (Gorga, 2004Gorga, E. (2004, outubro/novembro/dezembro). A cultura brasileira como fator determinante na governança corporativa e no desenvolvimento do mercado de capitais. Revista de Administração - RAUSP, 39 (4), 309-326.). Dessa forma, o personalismo e o favorecimento de algumas organizações, principalmente aquelas com fortes vínculos com o governo, sempre foram vistos com ressalvas, mesmo sendo um padrão institucionalizado. No quadro atual, em que há uma tentativa de diminuir as influências personalis tas no mercado acionário, organizações que se estruturam em feudos (alto coeficiente de agrupamento) tendem a ser vistas com desconfiança.

Por fim, entre os antecedentes relacionados às característi cas organizacionais, verificou-se que a rentabilidade em anos anteriores está fortemente associada com a reputação orga nizacional, indo ao encontro de estudos anteriores (Fombrun & Shanley, 1990Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
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; Roberts & Dowling, 2002Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
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; Love & Kraatz, 2009Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
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; Delgado-García et al., 2010Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
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; Pfarrer et al., 2010Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
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). Já o tamanho da organização, como ressaltado, está mais fortemente relacionado com o fato de uma empresa de capital aberto ser citada entre as de maior reputação. Os resultados acerca da influência do tamanho da companhia no aumento da reputa ção das empresas listadas entre as mais admiradas não foram conclusivos. A liquidez, por sua vez, não se mostrou como fator explicativo da citação de uma empresa entre as mais admiradas; todavia, há indícios de que entre as empresas de maior reputação haja uma associação positiva com a liquidez. Esse resultado vai ao encontro do que Julian et al. (2008)Julian, S. D., Ofori-Dankwa, J. C., & Justis, R. T. (2008). Understanding strategic responses to interest group pressures. Strategic Management Journal, 29 (9), 963-984. DOI: 10.1002/smj.698
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e Pfarrer et al. (2010)Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
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destacam: em algumas circunstâncias, o benefício de alguns atributos ou certificados sociais só ocorre em grupos que tenham certo grau de proeminência ou visi bilidade. No tocante à alavancagem financeira, os resultados apontaram que empresas mais endividadas têm menos chances de ser identificadas entre as de maior reputação; no entanto, quando consideradas somente as empresas mais admiradas, o resultado inverte-se: maior grau de alavancagem está associado a maior reputação. Tais resultados evidenciam a assimetria de informação entre organização e mercado, que Myers e Majluf (1984)Myers, S. C., & Majluf, N. S. (1984). Corporate financing and investment decisions when firms have information that investors do not have. Journal of Financial Economics, 13 (2), 187-221. DOI: 10.1016/0304-405X(84)90023-0
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constataram em outros contextos, bem como o alto poder de barganha que empresas de maior reputação têm com investidores e agentes de financiamentos. Isso porque esses atores, ao menos aparentemente, não associam as maiores taxas de endividamentos dessas empresas com risco.

6.1. Implicações teóricas e práticas

Pioneiramente, no presente estudo avaliaram-se os antece dentes da reputação organizacional a partir de um indicador que considera o caráter generalizado da reputação organizacional (Lange et al., 2011Lange, D., Lee, P. M., & Dai, Y. (2011). Organizational reputation: A review. Journal of Management, 37 (1), 153-184. DOI: 10.1177/0149206310390963
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; Rindova et al., 2005Rindova, V. P., Williamson, I. O., Petkova, A. P., & Sever, J. M. (2005). Being good or being known: An empirical examination of the dimensions, antecedents, and consequences of organizational reputation. Academy of Management Journal, 48 (6), 1033-1049. DOI: 10.5465/AMJ.2005.19573108
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), tendo como respon dentes executivos diretamente relacionados com o mercado, o que atribui maior confiabilidade e validade à pesquisa. Além disso, incorporaram-se dois antecedentes que só foram anali sados empiricamente de forma superficial em outros estudos: o status e o conselho de administração. No caso da relação entre status e reputação, evidenciou-se que, mesmo sendo eles fenô menos relacionados a níveis de análise distintos, apresentaram relação entre si, como já destacaram Podolny (1993)Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
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, Lin (2001)Lin, N. (2001). Social capital. Cambridge: Cambridge University Press. DOI: 10.1017/CBO9780511815447
https://doi.org/10.1017/CBO9780511815447...
, King e Whetten (2008)King, B. G., & Whetten, D. A. (2008). Rethinking the relationship between reputation and legitimacy: A social actor conceptualization. Corporate Reputation Review, 11 (3), 192-207. DOI: 10.1057/crr.2008.16
https://doi.org/10.1057/crr.2008.16...
e Sauder et al. (2012)Sauder, M., Lynn, F., & Podolny, J. M. (2012). Status: Insights from organizational sociology. Annual Review of Sociology, 38, pp. 267-283. DOI: 10.1146/annurev-soc-071811-145503
https://doi.org/10.1146/annurev-soc-0718...
.

Entre as características organizacionais, introduziu-se o efeito da alavancagem financeira, que possibilitou que se ava liasse a relação paradoxal que tal medida de endividamento tem com a reputação. Entende-se que a reputação atua como elemento moderador na relação entre dívida e percepção de risco por parte dos investidores, o que ressalta os efeitos da proeminência e da visibilidade desse atributo social e como ele interfere no julgamento social. Essas evidências reforçam argumentos que são centrais na Sociologia Econômica, de que os mercados também são construções sociais (White, 1981White, H. C. (1981). Where do markets come from? American Journal of Sociology, 87 (3), 517-547. DOI: 10.1086/227495
https://doi.org/10.1086/227495...
; Podolny, 1993Podolny, J. M. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 98 (4), 829-872. DOI: 10.1086/230091
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) e que ocorrem por meio de relações sociais concretas (Granovetter, 1985Granovetter, M. S. (1985). Economic action and social structure: The problem of embeddedness. American Journal of Sociology, 91 (3), 481-510. DOI: 10.1086/228311
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) pautadas em status e reputação diferenciados (Bitektine, 2011Bitektine, A. (2011).Toward a theory of social judgments of organizations: The case of legitimacy, reputation, and status. Academy of Management Review, 36 (1), 151-179. DOI: 10.5465/AMR.2011.55662572
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).

Além disso, pioneiramente, o estudo não se pautou somente em entender os fatores que explicam as diferenças de escore de reputação, mas também em avaliar em quais condições ela ascende para as organizações. O principal resultado a esse respeito foi demonstrar que a afiliação em mercados di ferenciados, como sinal de status, habilita as firmas a serem reconhecidas como de maior reputação, mas não é suficiente para discriminá-las. Isso porque a diferenciação ocorre, primordialmente, a partir de características idiossincráticas, resultado que converge com a análise feita por Zuckerman (1999)Zuckerman, E. W. (1999). The categorical imperative: Securities analysts and the illegitimacy discount. American Journal of Sociology, 104(5), 1398-1438. DOI: 10.1086/210178
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acerca da existência de uma "zona de legitimidade" em que atores tendem a ganhar destaque não pelo isomorfismo, mas sim pela diferenciação.

Os resultados do estudo aqui relatado apresentam, também, algumas implicações práticas na medida em que apontam que as organizações devem se ater não somente às demandas de natureza técnica ou orientadas exclusivamente à performance operacional e financeira. Isso porque há evidências de que melhor reputação está associada à capacidade de as organi zações tornarem visíveis suas conquistas e avanços. Por isso, os gestores devem se ater ao atendimento de demandas por legitimidade, pois elas não só interferem na construção de uma boa imagem, mas também podem ser moderadoras de um melhor desempenho econômico. Por fim, os resultados também destacam a necessidade de as organizações considerarem a construção da reputação não como fator de curto prazo, mas como empreendimento duradouro e temporalmente contingente (Mishina, Block, & Mannor, 2012Mishina, Y., Block, E. S., & Mannor, M. J. (2012). The path dependence of organizational reputation: How social judgment influences assessments of capability and character. Strategic Management Journal, 33 (5), 459-477. DOI: 10.1002/smj.958
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). Isso implica atentar para a consistência das atitudes de gestores e organizações ao longo do tempo, o que requer não apenas agir de acordo com crité rios socialmente válidos, mas também refletir confiabilidade e perenidade, características da reputação organizacional.

6.2. Recomendações de estudos futuros

Estudos futuros poderiam avaliar as implicações para a performanceeconômica de cada uma das diferentes dimen sões da reputação organizacional, já que tais elementos estão disponíveis na pesquisa das "Empresas mais Admiradas" da Carta Capital. Ademais, poder-se-iam incorporar outros elementos relevantes para o julgamento de investidores que atuam no mercado de capitais, como, por exemplo: a estru tura de propriedade da companhia; sua natureza de controle; a presença de estruturas piramidais de controle; os laços com governo, fundos de pensão e de private equity. Além disso, novos estudos poderiam analisar os efeitos e os antecedentes da reputação em outros mercados ou setores, a exemplo daqueles considerados imperfeitos por economistas, como os setores hospitalar, educacional e de consultoria. Por fim, sugere-se a realização de meta-análises que busquem evidências mais consistentes sobre a relação entre reputação e desempenho, já que alguns desses resultados se mostram espaço temporal mente contingentes.•

  • COMO REFE RENCIAR ES TE ARTIGO
    (De acordo com as normas da American Psychological Association [APA ])
    Rossoni, L., & Guarido Filho, E. R. (2015, julho/agosto/setembro). O que faz um nome? Status, conselho de administração e características organizacionais como antecedentes da reputação corporativa. Revista de Administração – RAUSP, 50 (3), 292-309. doi: 10.5700/rausp1201

NOTAS

  • (1)
    A referida pesquisa foi fonte de estudos como os de Fombrun e Shanley (1990)Fombrun, C., & Shanley, M. (1990). What's in a name? Reputation building and corporate strategy. Academy of Management Journal, 33(2), 233-258. DOI: 10.2307/256324
    https://doi.org/10.2307/256324...
    ; Roberts e Dowling (2002)Roberts, P. W., & Dowling, G. R. (2002). Corporate reputation and sustained superior financial performance. Strategic Management Journal, 23 (12), 1077-1109. DOI: 10.1002/smj.274
    https://doi.org/10.1002/smj.274...
    ; Acquaah (2003)Acquaah, M. (2003). Organizational competence and firm-specific Tobin's q: The moderating role of corporate reputation. Strategic Organization, 1 (4), 383-411. DOI: 10.1177/14761270030014002
    https://doi.org/10.1177/1476127003001400...
    ; Deeds, Mang, e Frandsen (2004)Deeds, D. L., Mang, P. Y., & Frandsen, M. L. (2004). The Influence of firms and industries legitimacy on the flow of capital into high-technology ventures. Strategic Organization, 22 (1), 9-34. DOI: 10.1177/1476127004040913
    https://doi.org/10.1177/1476127004040913...
    ; Deephouse e Carter (2005)Deephouse, D. L., & Carter, S. M. (2005). An examination of differences between organizational legitimacy and organizational reputation. Journal of Management Studies, 42 (2), 329-360. DOI: 10.1111/j.1467-6486.2005.00499.x
    https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2005...
    ; Basdeo, Smith, Grimm, Rindova, e Derfus (2006)Basdeo, D. K., Smith, K. G., Grimm, C. M., Rindova, V. P., & Derfus, P. J. (2006). The impact of market actions on firm reputation. Strategic Management Journal, 27 (12), 1205-1219. DOI: 10.1002/smj.556
    https://doi.org/10.1002/smj.556...
    ; Love e Kraatz (2009)Love, E. G., & Kraatz, M. (2009). Character, conformity, or the bottom line? How and why downsizing affected corporate reputation. Academy of Management Journal, 52 (2), 314-335. DOI: 10.5465/AMJ.2009.37308247
    https://doi.org/10.5465/AMJ.2009.3730824...
    ; Bear, Rahman, e Post (2010)Bear, S., Rahman, N., & Post, C. (2010). The impact of board diversity and gender composition on corporate social responsibility and firm reputation. Journal of Business Ethics, 97 (2), 207-221. DOI: 10.1007/s10551-010-0505-2
    https://doi.org/10.1007/s10551-010-0505-...
    ; Delgado-García, Quevedo-Puente e Fuente-Sabaté (2010)Delgado-García, J. B., Quevedo-Puente, E., & Fuente-Sabaté, J. M. (2010). The impact of ownership structure on corporate reputation: Evidence from Spain. Corporate Governance, 18 (6), 540-556. DOI: 10.1111/j.1467-8683.2010.00818.x
    https://doi.org/10.1111/j.1467-8683.2010...
    ; Pfarrer, Pollock e Rindova (2010)Pfarrer, M. D., Pollock, T. G., & Rindova, V. P. (2010). A tale of two assets: The effects of firm reputation and celebrity on earnings surprises and investors' reactions. Academy of Management Journal, 53 (5), 1131-1152. DOI: 10.5465/AMJ.2010.54533222
    https://doi.org/10.5465/AMJ.2010.5453322...
    .
  • (2)
    Foi feita também a avaliação da variável reputação sobre a probabilidade de uma empresa estar na listagem das mais admiradas com defasagem de dois, três e quatro anos, apesar de relatarem-se somente os resultados para a defasagem de um ano. Os resultados foram altamente significativos em todos os modelos (p < 0,01), ressaltando o caráter duradouro e recursivo da reputação.
  • (3)
    Assim como feito no Modelo 1, avaliou-se essa relação com dois, três e quatro anos de defasagem.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2015

Histórico

  • Recebido
    20 Jun 2013
  • Aceito
    11 Fev 2015
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