Prática Avançada de Enfermagem: a próxima conquista da enfermagem brasileira

A Enfermagem desempenha papel fundamental para a sobrevivência dos serviços de saúde, isto é, sua atuação está direcionada tanto aos aspectos administrativos organizacionais, quanto à assistência direta aos pacientes, famílias e comunidades, atuando na prevenção e tratamento de agravos nos mais diversos contextos de atenção à saúde.

Apesar de a enfermagem representar aproximadamente 50% da força de trabalho na área da saúde, observa-se escassez global desses profissionais, especialmente no Sudeste Asiático e na África(¹). Ademais, a atuação dos profissionais de enfermagem sofre limitações por aspectos político-organizacionais e regionais, de forma que as características e liberdade do trabalho desta equipe são extremamente variáveis por país e, eventualmente, diferentes dentro de uma mesma pátria.

Neste contexto, a Prática Avançada de Enfermagem (PAE), desenvolvida pelo enfermeiro que adquiriu, por formação específica, o conhecimento especializado e as competências clínicas e habilidades essenciais para tomada de decisões complexas e de maneira autônoma, visa ampliar o escopo de atuação desse profissional e atende a necessidade de responder de forma mais ágil aos problemas de saúde da população, utilizando a força de trabalho da enfermagem como uma força motriz na resolução dos problemas de saúde da população(²,³). A pandemia da COVID-19 mostrou ao mundo os desafios enfrentados pelos profissionais de saúde e a importância da atuação dos enfermeiros, com destaque à resolução de situações complexas baseadas na PAE(⁴).

Observa-se que a PAE vem sendo, de forma bem-sucedida, implementada em diferentes países com resultados muito satisfatórios, superando todos os desafios relacionados à formação de profissionais(²,⁵). No Brasil, apesar de diversos movimentos realizados nessa direção e muitas iniciativas que se aproximam dos objetivos do desenvolvimento da PAE brasileira, como o advento dos cursos de Mestrado e Doutorado Profissionais e o crescimento dos Programas de Residência em Enfermagem, ainda falta clareza entre profissionais enfermeiros e médicos do que se constitui a PAE, com constante confusão a respeito de sobreposição de áreas e definição ético-legal dessa prática.

Isto é, a PAE não é uma estratégia de suplantação da necessidade médica em serviços de saúde, ou ainda, de enfermeiros atuarem como médicos, mas sim um importante apoiador, no sentido de desafogar o sistema de saúde ou permitir maior acesso da população à saúde(⁵,⁶), especialmente em áreas mais carentes do Brasil, ao dar celeridade aos processos, permitindo aos enfermeiros atendimentos mais resolutivos. Como exemplo, consultas de enfermagem ainda mais abrangentes na atenção básica à saúde, em que o enfermeiro, ao detectar problemas de saúde, seja capaz de, a partir de protocolos rigorosos e bem definidos, determinar a necessidade de encaminhamento de casos mais graves ou propor soluções, inclusive com prescrição e administração de medicamentos em casos leves, permitindo maior celeridade às filas de atendimento e favorecendo que o profissional médico possa se concentrar nos casos de maior complexidade e/ou gravidade.

A Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto (PROESA), na vanguarda do ensino, pesquisa e assistência de enfermagem, evidenciou em seu III Seminário Internacional de Enfermagem na Saúde do Adulto (III SISA) realizado em 2021, a discussão deste importante tópico, reunindo experts nacionais e internacionais.

Neste número especial da REEUSP são apresentados os resultados dos encontros entre estes especialistas e alguns dos estudos apresentados no evento, que retratam como os enfermeiros brasileiros estão se preparando ou já realizam a PAE em suas realidades.

Esperamos que o III SISA e este número especial inspirem enfermeiros e enfermeiras na busca por resoluções dos problemas de saúde da população de forma criativa, articulada e baseada na mais rigorosa e atual informação científica disponível, além de fomentar a discussão e regularização das PAE no Brasil.

REFERENCES

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  » http://dx.doi.org/10.1186/s12912-016-0198-7

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  18 Jul 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  18 Maio 2022
• Aceito
  18 Maio 2022