Acessibilidade / Reportar erro

Auditoria em serviço de diagnóstico por imagem da mama

Neste número da Radiologia Brasileira é publicado um trabalho que discute a realização de auditoria de um serviço de mamografia de uma instituição privada, comparando-se os resultados obtidos com os recomendados pela literatura. Os autores concluem que a auditoria interna completa do serviço de mamografia retrata a qualidade do serviço, e com isso contribui para a detecção precoce e diminuição da mortalidade relacionada ao câncer mamário(1Badan GM, Roveda Júnior D, Ferreira CAP, et al. Auditoria interna completa do serviço de mamografia em uma instituição de referência em imaginologia mamária. Radiol Bras. 2014;47:74–8.).

Em 1990 resolvemos fazer a primeira auditoria que se tem notícia em um serviço de radiologia. A escolha recaiu sobre mamografias.

O então ministro da saúde queria implantar um programa de detecção precoce do câncer de mama fornecendo mamógrafos para as cidades brasileiras e que os radiologistas ensinassem médicos destas cidades a interpretarem mamografias.

Conseguimos um tempo para fazermos um levantamento de quantos mamógrafos existiam e qual a qualidade das mamografias produzidas. Foi um trabalho promovido e realizado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e pelo Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Do resultado desta primeira auditoria buscou-se ensinar, mas aos próprios radiologistas, o que poderiam fazer para melhorar a qualidade das mamografias e a interpretação destas. Para isto, criou-se a Comissão de Mamografia com radiologistas de notório saber no diagnóstico mamário e que também precisaram aprender muito para poder ensinar. A acomodação no trabalho e no conhecimento adquirido provoca o relaxamento na atenção à qualidade do próprio serviço. Assim, uma auditoria de tempos em tempos nos serviços seria recomendada. Entretanto, a prepotência do conhecimento adquirido aos longos dos anos dá a conotação de que se é imutável.

Governos doaram mamógrafos sem avaliar o público que atingiriam e que só o mamógrafo não resolveria, pois não forneciam os insumos para a obtenção do resultado (os chassis, o processamento, o técnico, o interpretador e muitas vezes nem local para instalar o mamógrafo). Se fosse feita uma auditoria do que aconteceu com aqueles mamógrafos doados pelo governo federal, veríamos que praticamente nenhum deles foi utilizado e nem produziu uma mamografia sequer.

Durante muitos anos a Comissão de Mamografia do CBR percorreu o país inteiro ajudando a melhorar a qualidade dos serviços. Os equipamentos melhoraram, os filmes e o diagnóstico, atestados em mais de 100 trabalhos publicados. Mas um detalhe que estimulávamos não chegava a acontecer: auditoria dos resultados dos diagnósticos. O serviço produziu um determinado número de mamografias. Quantas teriam sua qualidade aprovada? Segundo a própria Comissão de Mamografia do CBR, é um número muito pequeno de serviços que buscam o certificado de qualidade, o que poderia ajudar, em muito, que a qualidade fosse mantida. Mesmo tendo a Comissão de Mamografia para fazer este trabalho, já há serviço que buscou, por seus próprios meios e pela competência de sua diretoria, fazer a própria auditoria, ampla, incluindo a avaliação dos técnicos e dos interpretadores.

As mulheres continuam tendo câncer de mama. A preocupação na detecção precoce é grande, principalmente pela Sociedade Brasileira de Mastologia e pelo CBR, entretanto, o governo volta atrás e recomenda mamografia tardia. E se fizesse cumprir a lei para os serviços fazerem suas auditorias e repassar os dados para o Ministério da Saúde tomar as providências? Talvez os erros diminuíssem bastante.

Quanto às mulheres... Dependendo da classe social, lhes são oferecidas opções para o diagnóstico (tomossíntese, ressonância magnética). Quem já fez a auditoria para saber as vantagens/desvantagens destes exames de custo mais elevado para salvar as mulheres? As mulheres precisam ser bem informadas e orientadas, até para saber onde fazer seus exames, um lugar confiável, não porque alguém disse, mas porque têm dados reais que comprovem a eficiência.

REFERENCE

  • 1
    Badan GM, Roveda Júnior D, Ferreira CAP, et al. Auditoria interna completa do serviço de mamografia em uma instituição de referência em imaginologia mamária. Radiol Bras. 2014;47:74–8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2014
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br