Acessibilidade / Reportar erro

Nem todo Bosniak IV é câncer: granuloma renal tipo corpo estranho simulando carcinoma de células renais

Sr. Editor,

Paciente do sexo masculino, 62 anos de idade, há 5 anos apresentando aumento do volume abdominal, sem dor ou desconforto, episódios febris, perda ponderal ou qualquer queixa referente aos tratos urinário e gastrintestinal. Negou trauma ou passado operatório. Procedeu-se a investigação com tomografia computadorizada de multidetectores, que revelou volumoso cisto com calcificações parietais e componente sólido com realce pós-contraste no rim esquerdo (categoria IV de Bosniak), associado a linfonodomegalia atípica retroperitonial, além de cistos renais simples bilateralmente (Figuras 1A, 1B e 1C). O paciente foi submetido a nefrectomia total e a análise histopatológica demonstrou processo inflamatório granulomatoso tipo corpo estranho, pielonefrite crônica com hialinização glomerular e ausência de malignidade no material examinado (Figura 1D).

Figura 1
Imagens de tomografia computadorizada de múltiplos detectores sagital sem contraste (A), axial após administração de meio de contraste intravenoso (B) e reconstrução tridimensional (C) demonstrando volumosa formação cística renal à esquerda, que apresenta calcificações parietais difusas (cabeças de setas) e componente sólido com realce após a administração do meio de contraste intravenoso no aspecto inferior do cisto (setas), categoria IV de Bosniak, justaposto ao parênquima renal (setas pontilhadas). D: Lâmina histológica do componente sólido corada com hematoxilina-eosina, aumento 10×, demonstrando processo inflamatório granulomatosos tipo corpo estranho (setas), sem indícios de malignidade.

As lesões císticas renais são os achados mais comuns na prática diária do médico radiologista e com diagnóstico simples e preciso pelos métodos de imagem. Porém, cistos complexos ou com componentes sólidos necessitam de maior caracterização para a avaliação dos diagnósticos diferenciais e conduta terapêutica(11 Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115-21.

2 Israel GM, Bosniak MA. How I do it: evaluating renal masses. Radiology. 2005;236:441-50.
-33 Kutikov A, Fossett LK, Ramchandani P, et al. Incidence of benign pathologic findings at partial nephrectomy for solitary renal mass presumed to be renal cell carcinoma on preoperative imaging. Urology. 2006;68:737- 40.). Em 1986, Bosniak(44 Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986;158:1-10.) desenvolveu um esquema de classificação baseado nos critérios de imagem fornecidos pela tomografia computadorizada que permite analisar os aspectos do contorno e conteúdo do cisto renal, presença de septações e/ou calcificações, e avaliação do realce após a administração intravenosa do meio de contraste, determinando-as em ordem crescente para a probabilidade de malignidade: simples (I), minimamente complicadas (II), minimamente complicadas que requerem seguimento (IIF), indeterminadas (III) ou neoplasias císticas (IV)(11 Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115-21.,22 Israel GM, Bosniak MA. How I do it: evaluating renal masses. Radiology. 2005;236:441-50.,44 Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986;158:1-10.).

As lesões classificadas na categoria IV são neoplasias císticas com componentes sólidos que apresentam realce pós-contraste, adjacentes à parede da lesão ou de septos (grosseiros ou nodulares) associados, além de também poderem apresentar espessamento parietal. São consideradas câncer de células renais (CCR) até que se prove o contrário(11 Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115-21.,55 Öz II, Mungan A, Serifoglu I, et al. Suture granuloma mimicking renal cell carcinoma: magnetic resonance imaging (MRI) and pathologic correlation. Journal of Urological Surgery. 2014;1:36-8.). Granulomas de corpo estranho são incomuns e indistinguíveis do CCR, lesão sólida renal mais comum, uma vez que ambos têm características radiológicas semelhantes(55 Öz II, Mungan A, Serifoglu I, et al. Suture granuloma mimicking renal cell carcinoma: magnetic resonance imaging (MRI) and pathologic correlation. Journal of Urological Surgery. 2014;1:36-8.).

As características por imagem do granuloma renal de corpo estranho são altamente variadas, a depender da presença de calcificação, componente adiposo e necrose. Em razão dessas características, a distinção radiológica entre granuloma de corpo estranho, CCR e angiomiolipoma é bastante difícil. Outros diagnósticos diferenciais incluem: carcinoma de células transicionais, oncocitoma, linfoma, leiomioma, pielonefrite xantogranulomatosa e doença de Erdheim-Chester(22 Israel GM, Bosniak MA. How I do it: evaluating renal masses. Radiology. 2005;236:441-50.,33 Kutikov A, Fossett LK, Ramchandani P, et al. Incidence of benign pathologic findings at partial nephrectomy for solitary renal mass presumed to be renal cell carcinoma on preoperative imaging. Urology. 2006;68:737- 40.,55 Öz II, Mungan A, Serifoglu I, et al. Suture granuloma mimicking renal cell carcinoma: magnetic resonance imaging (MRI) and pathologic correlation. Journal of Urological Surgery. 2014;1:36-8.

6 Ferrozzi F, Bova D, Gabrielli M. Foreign-body granuloma of the kidney: CT, MR and pathologic correlation. Eur Radiol. 1999;9:1590-2.
-77 Kim JY, Kim JK, Kim N, et al. CT histogram analysis: differentiation of angiomyolipoma without visible fat from renal cell carcinoma at CT imaging. Radiology. 2008;246:472-9.).

Com o aumento do número de nefrectomias parciais por laparoscopia, a incidência de granuloma por corpo estranho também aumentou(55 Öz II, Mungan A, Serifoglu I, et al. Suture granuloma mimicking renal cell carcinoma: magnetic resonance imaging (MRI) and pathologic correlation. Journal of Urological Surgery. 2014;1:36-8.). Na presença de lesão renal expansiva exibindo calcificações e focos adiposos, quando bem encapsuladas e sem sinal de infiltração das estruturas adjacentes, deve-se considerar a possibilidade de granuloma, principalmente se há relato de manipulação cirúrgica de vias urinárias(66 Ferrozzi F, Bova D, Gabrielli M. Foreign-body granuloma of the kidney: CT, MR and pathologic correlation. Eur Radiol. 1999;9:1590-2.). Destaca-se ainda que granulomas renais não são exclusivamente associados à inclusão de corpos estranhos no parênquima renal. Pode haver sua formação em decorrência de doenças sistêmicas, substâncias endógenas inertes ou até mesmo de origem idiopática(88 Joss N, Morris S, Young B, et al. Granulomatous interstitial nephritis. Clin J Am Soc Nephrol. 2007;2:222-30.).

REFERENCES

  • 1
    Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115-21.
  • 2
    Israel GM, Bosniak MA. How I do it: evaluating renal masses. Radiology. 2005;236:441-50.
  • 3
    Kutikov A, Fossett LK, Ramchandani P, et al. Incidence of benign pathologic findings at partial nephrectomy for solitary renal mass presumed to be renal cell carcinoma on preoperative imaging. Urology. 2006;68:737- 40.
  • 4
    Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986;158:1-10.
  • 5
    Öz II, Mungan A, Serifoglu I, et al. Suture granuloma mimicking renal cell carcinoma: magnetic resonance imaging (MRI) and pathologic correlation. Journal of Urological Surgery. 2014;1:36-8.
  • 6
    Ferrozzi F, Bova D, Gabrielli M. Foreign-body granuloma of the kidney: CT, MR and pathologic correlation. Eur Radiol. 1999;9:1590-2.
  • 7
    Kim JY, Kim JK, Kim N, et al. CT histogram analysis: differentiation of angiomyolipoma without visible fat from renal cell carcinoma at CT imaging. Radiology. 2008;246:472-9.
  • 8
    Joss N, Morris S, Young B, et al. Granulomatous interstitial nephritis. Clin J Am Soc Nephrol. 2007;2:222-30.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Nov-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    22 Out 2017
  • Aceito
    25 Jan 2018
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br