Acessibilidade / Reportar erro

Sur les deux bords de l'Atlantique Sud

Abstract

Neste trabalho, trata o autor da fauna e da flora das orlas do Atlântico Sul em que se situam o Brasil e a África Ocidental. Sôbre ambas, com justa razão, se tem procurado evidenciar, frequentemente, a semelhança existente quanto ao aspecto geológico. Em relação à fauna e à flora terrestres e de água doce, recorda o autor que essa semelhança não ultrapassa o limite de famílias, nada de comum existindo, nos dois continentes, quanto a gêneros e espécies. Por outro lado, porém, a fauna e a flora das duas margens do Atlântico são muito parecidas, havendo mesmo, nesse "habitat", numerosos gêneros e espécies em comum, conforme se depreende da relação constante à pag. 30. Apezar disso, existem divergências bastante acentuadas, capazes de permitir, como de fato acontece, que se considere as duas regiões como biogeográficamente distintas. A fauna das costas brasileiras do Norte, até a latitude do Rio de Janeiro, é integrada pelos remanescentes de uma fauna tropical rica, proveniente do mar de "Tethis", do início do Terciário. Em altas latitudes, deu-se, no Quaternário médio, a invasão de águas austrais do "Nereis", que trouxeram consigo fôrmas de águas frias. De maneira diversa, a fauna da África ocidental perdeu o seu caráter tropical, tanto no Norte como no Sul, exibindo representantes faunísticos de zonas temperadas. A fauna da costa ocidental africana é muito pobre, fato esse que pode ser explicado à luz da história geológica da região e em íace da situação fisiográfica e hidrológica atual. Há numerosos exemplos da assimetria reinante nas duas margens do Atlântico, dentre os quais se podem citar os seguintes: a) precipitações muito mais abundantes no Atlântico ocidental, úmido, em confronto com o oriental seco; b) côr mais azulada do Atlântico ocidental, fato relacionado com a salinidade, com a riqueza do plancton e com a produtividade das águas: c) salinidade muito maior nas margens ocidentais; d) a zona quente (25ºC. em média) é muito mais extensa nas costas ocidentais; e) existência de numerosas anomalias térmicas superficiais no Atlântico ocidental; f) diferenças de correntes marítimas nas duas margens do Atlântico. Apezar das profundas divergências constatadas em ambas as margens, lembra o autor que desde o século XV , o Atlântico tornou-se um meio eficiente para se promover relações entre o Brasil e a África do Sul. Afirma, assim, que novas ligações devem unir, presentemente, os países limítrofes de um mesmo oceano. Os navios negreiros de outrora devem ser substituídos por barcos oceanográficos, visando o estabelecimento de relações amigáveis e de uma fecunda colaboração. Diz ainda o autor que, para serem eficientes, as pesquisas oceanográficas levadas a cabo nas duas orlas de um mesmo oceano, devem ser realizadas sincrónica e paralelamente. Os meios tendentes a alcançar tal objetivo já se esboçam desde que - diz o autor - "no Brasil inicia-se tal trabalho através do Instituto Paulista de Oceanografia, e, na África Ocidental funciona o Instituí; FrançaiS i'Afrique Noire que já possue uma secção de Oceanografia e de biologia marinha, com um laboratório instalado na ilha de Gorée perto de Dakar e outro nas cercanias de Abidjan (costa do Marfim) oara estudo das lagunas". Julga, portanto, o autor que se torna imperiosa a manutenção de relações cordiais e de intercambio entre os pesquisadores dos dois lados do Atlântico, afim de que chegue o dia em que se realizem cruzeiros oceanográficos em comum, com trocas de cientistas. Pensa o autor ser extremamente interessante desenvolver a oceanografia no Brasil, pois a sua região atlântica é uma das menos conhecidas, podendo-se, através da pesquisa, obter resultados importantíssimos, tanto sob o ponto de vista da ciência pura como no que respeita a exploração racional das riquezas marinhas. Recorda ainda o autor que existe uma descrição das embarcações dos Azenegues, da costa do Sahara, de autoria de um cronista do século XV I que lembra muito as jangadas brasileiras. Provavelmente, existe, cí um problema etnográfico, de palpitante interesse, mas que, na sua opinião, representa antes um símbolo da colaboração técnico-científica que, segundo o seu parecer, deve ser mantida entre as duas margens do Atlântico.


Sur les deux bords de l'Atlantique Sud

Th. Monod

Correspondant de l'Institut. Professeur au Muséum National d'Histoire Naturelle (Pêches Coloniales). Directeur de l'Institut Français d'Afrique Noire

RESUMO

Neste trabalho, trata o autor da fauna e da flora das orlas do Atlântico Sul em que se situam o Brasil e a África Ocidental. Sôbre ambas, com justa razão, se tem procurado evidenciar, frequentemente, a semelhança existente quanto ao aspecto geológico.

Em relação à fauna e à flora terrestres e de água doce, recorda o autor que essa semelhança não ultrapassa o limite de famílias, nada de comum existindo, nos dois continentes, quanto a gêneros e espécies. Por outro lado, porém, a fauna e a flora das duas margens do Atlântico são muito parecidas, havendo mesmo, nesse "habitat", numerosos gêneros e espécies em comum, conforme se depreende da relação constante à pag. 30.

Apezar disso, existem divergências bastante acentuadas, capazes de permitir, como de fato acontece, que se considere as duas regiões como biogeográficamente distintas.

A fauna das costas brasileiras do Norte, até a latitude do Rio de Janeiro, é integrada pelos remanescentes de uma fauna tropical rica, proveniente do mar de "Tethis", do início do Terciário. Em altas latitudes, deu-se, no Quaternário médio, a invasão de águas austrais do "Nereis", que trouxeram consigo fôrmas de águas frias. De maneira diversa, a fauna da África ocidental perdeu o seu caráter tropical, tanto no Norte como no Sul, exibindo representantes faunísticos de zonas temperadas.

A fauna da costa ocidental africana é muito pobre, fato esse que pode ser explicado à luz da história geológica da região e em íace da situação fisiográfica e hidrológica atual.

Há numerosos exemplos da assimetria reinante nas duas margens do Atlântico, dentre os quais se podem citar os seguintes:

a) precipitações muito mais abundantes no Atlântico ocidental, úmido, em confronto com o oriental seco;

b) côr mais azulada do Atlântico ocidental, fato relacionado com a salinidade, com a riqueza do plancton e com a produtividade das águas:

c) salinidade muito maior nas margens ocidentais;

d) a zona quente (25ºC. em média) é muito mais extensa nas costas ocidentais;

e) existência de numerosas anomalias térmicas superficiais no Atlântico ocidental;

f) diferenças de correntes marítimas nas duas margens do Atlântico.

Apezar das profundas divergências constatadas em ambas as margens, lembra o autor que desde o século XV , o Atlântico tornou-se um meio eficiente para se promover relações entre o Brasil e a África do Sul. Afirma, assim, que novas ligações devem unir, presentemente, os países limítrofes de um mesmo oceano. Os navios negreiros de outrora devem ser substituídos por barcos oceanográficos, visando o estabelecimento de relações amigáveis e de uma fecunda colaboração.

Diz ainda o autor que, para serem eficientes, as pesquisas oceanográficas levadas a cabo nas duas orlas de um mesmo oceano, devem ser realizadas sincrónica e paralelamente. Os meios tendentes a alcançar tal objetivo já se esboçam desde que - diz o autor - "no Brasil inicia-se tal trabalho através do Instituto Paulista de Oceanografia, e, na África Ocidental funciona o Instituí; FrançaiS i'Afrique Noire que já possue uma secção de Oceanografia e de biologia marinha, com um laboratório instalado na ilha de Gorée perto de Dakar e outro nas cercanias de Abidjan (costa do Marfim) oara estudo das lagunas".

Julga, portanto, o autor que se torna imperiosa a manutenção de relações cordiais e de intercambio entre os pesquisadores dos dois lados do Atlântico, afim de que chegue o dia em que se realizem cruzeiros oceanográficos em comum, com trocas de cientistas.

Pensa o autor ser extremamente interessante desenvolver a oceanografia no Brasil, pois a sua região atlântica é uma das menos conhecidas, podendo-se, através da pesquisa, obter resultados importantíssimos, tanto sob o ponto de vista da ciência pura como no que respeita a exploração racional das riquezas marinhas.

Recorda ainda o autor que existe uma descrição das embarcações dos Azenegues, da costa do Sahara, de autoria de um cronista do século XV I que lembra muito as jangadas brasileiras. Provavelmente, existe, cí um problema etnográfico, de palpitante interesse, mas que, na sua opinião, representa antes um símbolo da colaboração técnico-científica que, segundo o seu parecer, deve ser mantida entre as duas margens do Atlântico.

M. V.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

BIBLIOGRAFIA

  • BIGELOW, H. B. & FARFANTE, I. P, 1948 - Lancelets, in Fishes of the Western North Atlantic. Mem. Sears Found. Mar. Res. n.ş 1, XVII, 576p Yale Univ. N. Haven, Conn.
  • CENIVAL, P. DE & MONOD, T., 1938 - Description de la côte d'Afrique de Ceuta au Sénégal par Valentim Fernandez (1506-1507). Paris.
  • DANSEREAU , P., 1947 - Zonation et succession sur la Restinga de Rio de Janeiro. I. Halosère. Rev. Canad., Biol., VI, n.ş 3.
  • DAVIS, J. M. Jr., 1940 - The Ecology and Geologic Rôle of Mangroves in Florida. Pap. Tort. Lab., XXXII.
  • DU TOIT , A. L., 1927 - A geological Comparison of S. America with S. Africa. Carnegie Inst. Publ. 381.
  • EKMAN S., 1935 - Tiergeographie des Meeres. Lepzig.
  • GREGORY, J. W., 1929 - The Geological History of the Atlantic Ocean. Quart. Journ. Geol. Soc, LXXXV.
  • VON IHERING, H., 1927 - Die Geschichte des Atlantischen Ozeans, Jena.
  • VON IHERING, H., 1931 - Land bridges across the Atlantic and Pacific Oceans during the Kainozoic Era. Quart. Journ. Geol. Soe. LXXXVII, pt. 3.
  • JAEGER, P., 1949 - Le végétation, in: La presqu'île du Cap Vert. Institut Français d'Afrique Noire. Dakar.
  • KURZ, M., 1942 - Florida dunes and scrub, vegetation and geology. Florida Geol. Survey, Bull. n.ş 23, Tallahassee.
  • MARTONNE, E. DE. 1946 - Geographie Zonale: La zone tropicale. Ann. Géogr. LV, n.ş 297.
  • MONOD, T., 1944 - Au bord de l'Océan ténébreux: Atlantique et Afrique. 15 p. 23 figs. Saint Louis du Sénégal.
  • MUIR, J., 1937 - The Seed-drift of South Africa and some influences of Ocean Currents on the strand Vegetation. Bot. Surv. Mem. n.ş 16. Pretoria.
  • PICARD, L., 1939 - Outline of the Tectonics of the Earth. Bull. Geol. Dept. Hebrew University, II, n.ş 3-4. Jerusalem.
  • RAWITSCHER , F. K., 1944 - Algumas noções sobre a vegetação do litoral brasileiro. Bol. Ass. Geogr. Bras, n.ş 5.
  • SAVORY, M. J., 1949 - The vegetation of the Sea-shore, Salt-marshes and Sandbanks in the Lagos area. Com. Conf. Inst. Africanistes de l'Ouest Ibadan.
  • SAWAYA, P. & J. de P. CARVALHO, 1950 - On the Branchiostoma (Amphioxus) of the Coast of São Paulo. Bol. Fac. Fil. Ciênc Letras. Zoologia n.ş 15, p. 235-237. São Paulo.
  • SCHOTT , G., 1942 - Geographie des Atlantischen Ozeans, 3e ed.
  • STEHLÉ , H., 1935 - Flore de la Guadeloupe et Dépendances - I - Essai d'Écologie et de Géographie botanique. Basse-Terre.
  • TROCHAIN, J., 1940 - Contribution à l'étude de la végétation du Sénégal. Mem. Inst. Français d'Afrique Noire, n.ş 2.

Publication Dates

  • Publication in this collection
    19 June 2012
  • Date of issue
    Dec 1950
Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo Praça do Oceanográfico, 191, 05508-120 São Paulo SP Brasil, Tel: (55 11) 3091-6513, Fax: (55 11) 3032-3092 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: amspires@usp.br