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PLANEJAMENTO DIDÁTICO NO ENSINO SUPERIOR (2.ª parte)

Resumo

O planejamento de ensino, em nível de disciplina, decorre do planejamento curricular, referindo-se à ação docente. Comporta três modalidades: plano de curso, de unidade e de aula. O plano, em si mesmo, é um esquema de trabalho, e como tal, só adquire vida se, junto à indispensável coerência interna, à existência de recursos e eficiência administrativa da Escola, se aliar a personalidade do professor que lhe transmite o dinamismo necessário durante o ato da execução.

Abstract

Teaching planning at discipline level depends upon curriculum planning and is referred to teacher action. It is composed by three segments: the planning of the discipline as a whole, unity planning and lesson planning. Planning itself is only a working scheme and, as such, only becomes alive if allied to teacher personality that gives to the plan the necessary dinamism in the execution act; on the other hand the plan needs internal coherence, teaching resources and school administrative efficiency.

O plano de ensino consta dos seguintes elementos: conteúdo, estratégias, objetivos e avaliação. Já analisados os dois primeiros, vejamos a seguir: objetivos e avaliação.

Objetivos (para que ensinar?)

São comportamentos a serem alcançados a longo ou a curto prazo no processo ensino-aprendizagem.

Esses comportamentos se referem às capacidades fundamentais do ser humano no: conhecer, sentir e agir.

São capacidades fundamentais e interligadas na totalidade da pessoa.

Com base nesses comportamentos, B. Bloom e sua equipe classificaram os objetivos em três domínios:

  1. domínio cognitivo - refere-se às habilidades da inteligência, de conhecer.

  2. domínio afetivo - refere-se às atitudes de interesse que levam à participação.

  3. domínio psicomotor - refere-se às habilidades motoras, base da ação.

Os objetivos a serem alcançados a longo prazo, sejam do domínio cognitivo, afetivo ou psicomotor, são denominados objetivos gerais.

Os objetivos a serem alcançados a curto prazo, portanto, possíveis de avaliação imediata, são denominados objetivos específicos (operacionalizados).

Num plano de disciplina, os objetivos específicos decorrem logicamente dos objetivos gerais.

Exemplificando:

Disciplina: Semiologia

Objetivo geral: Conhecer os principais sintomas das afecções mais comuns.

Objetivo específico: Enumerar os sintomas característicos da icterícia.

Os objetivos específicos podem ser segundo Robert Mager, descritos com maior clareza. Para tal o autor propõe o objetivo específico a que denomina operacionalizado. O objetivo operacionalizado apresenta três características:

  • Comportamento (final) - ação observável a ser demonstrada pelo estudante, ao final das diversas etapas da aprendizagem.

  • Condição - situação que envolve o estudante no momento em que deverá demonstrar o comportamento.

  • Critério - rendimento esperado do aluno (padrão mínimo). O critério pode ser: quantitativo, de tempo e qualitativo.

Exemplificando:

Objetivo específico (operacionalizado):

- Enumerar os sintomas característicos da icterícia; = sem consultar os apontamentos; ≡ com 100% de acerto.

- Comportamento (final)

= Condição

= Critério

Avaliação

  • processo contínuo de acompanhamento do estudante que visa a diagnosticar seu conhecimento, controlar seu processo de aprender e verificar seu grau de aproveitamento.

Saldanha diz: “No campo educacional, avaliação refere-se ao processo que permite julgar, apreciar, determinar o valor de um procedimento cognitivo, sócio-emocional ou psicomotor de uma pessoa”.1010. Rio Grande do Sul. Universidade Federal. Planejamento e organização do ensino. Porto Alegre, Globo, 1977.

As funções própria s da avaliação que são: de diagnóstico, de controle e de classificação correspondem às três modalidades: avaliação diagnóstica, formativa e somativa.

A avaliação da aprendizagem se inicia na operacionalização dos objetivos, quando o professor determina os critérios para avaliar os comportamentos propostos.

Avaliar também consiste em se utilizar medidas adequadas aos objetivos propostos a fim de verificar o seu grau de consecução. Assim sendo, o professor terá condições de encontrar respostas às suas dúvidas no que diz respeito à aprendizagem do estudante, identificando seus pontos fortes e fracos.

“Algumas características da avaliação:

  • abrangem todo o âmbito do processo didático, isto é, antes (diagnóstico) durante (controle) e depois (resultado);

  • têm por base a modificação do comportamento em todos os seus aspectos;

  • contêm, para ser válida e abrangente, aspectos quantitativos e qualitativos;

  • apresentam um caráter de realimentação (feed back) que permite o aperfeiçoamento contínuo do processo”.77. FERREIRA, Itala. Ação didática, elementos básicos. Rio de Janeiro, Editora Rio, 1976.

O quadro 1 apresenta, em síntese, aspectos relacionados à conceituação, classificação e características dos elementos que acabamos de analisar:

Quadro 1
Elementos do Planejamento de Ensino

III. Modalidades de Planos de Ensino

Três são as modalidades de planos de ensino: plano de curso, de unidade e de aula.

São planos que se referem à disciplina e que se diferenciam, especialmente, quanto à abrangência na apresentação das atividades, objetivos (conteúdos) e avaliação.

Esquematizando:

Plano de Curso

O plano de curso está mais próximo do plano curricular e tem como finalidade a apresentação global da disciplina, garantindo a coerência verti cal e horizontal nas atividades desenvolvidas com a finalidade de assegurar um todo integrado. Além de ter como ponto de partida o conhecimento da realidade da população alvo é indispensável que seja exeqüível, atendendo às características dessa população e o tempo disponível para ser executado.

Plano de Unidade

O plano de unidade é o detalhamento de um tema central já previsto de modo abrangente pelo plano de curso. As unidades previstas no plano de curso são desenvolvidas, no decurso de tempo previsto para o Curso como um todo, em ordem crescente de complexidade. As unidades que tratam da fundamentação como conhecimento de vocabulário, conceitos indispensáveis a outros níveis de conhecimento são apresentadas de forma que se permita ao aluno a integração das informações o que o torna apto a novas aprendizagens.

Apresentando-se sob a forma de um todo organizado o que supõe vinculação coerente entre objetivos (conteúdos), estratégias e avaliação, o plano de unidade garante uma seqüência de conhecimentos gradativos o que assegura, no final do Curso, a integração dessas aprendizagens.

Plano de Aula

O plano de aula é o instrumento con­creto que especifica as atividades de cada aula, tendo como ponto de partida os comportamentos esperados do aluno, o que sugere a seleção dos conteúdos e estratégias adequados à consecução desses comportamentos.

Turra ressalta a relação de subordinação e coerência que deve existir entre as três modalidades de planos:

“...os objetivos traçados no plano de curso de forma ampla e em termos gerais envolvem os mesmos comportamentos em nível de plano de aula, mas só que nesse momento em termos de desempenhos visíveis, observáveis, avaliáveis enquanto se realizam”.1212. TURRA, Clódia Maria Godoy et alii. Planejamento de ensino e avaliação. Porto Alegre, PUC-EMMA, 1975.

O plano de aula em fase de execução envolve o relacionamento professor-aluno, aluno-aluno. Abreu e Masseto descrevem como características desse relacionamento:

“...o comportamento de diálogo, colaboração, participação, trabalho em conjunto, clima de confiança, o professor não sendo um obstáculo à consecução dos objetivas propostos e não sendo percebido como tal”.11. ABREU, Maria Célia de & MASSETO, Marcos T. O Professor universitário em aula: prática e princípios teóricos. São Paulo, Cortez, 1982.

IV - Esquema de um plano

Todo plano, seja de curso, de unidade ou de aula, deve apresentar elementos que explicitem de maneira coerente a ação didática a ser desenvolvida nas situações de aprendizagem.

Embora não exista uma forma única de se esquematizar um plano, são elementos básicos para sua elaboração: 1. Dados de identificação; 2. Dados sobre a população alvo; 3. cronograma (distribuição do tempo); 4. Objetivos (gerais, específicos ou comportamentais, conforme a modalidade de plano); 5. Conteúdos; 6. Estratégias (Técnicas e Recursos) e 7. Avaliação.

Esses elementos são comuns às três modalidades de planos. O critério que diferencia cada momento da ação didática é o da crescente especificação, que culmina no plano de aula, momento de aplicação concreta.

V - Ementa - Porque e como redigi-la

Objetivos da ementa

A ementa tem como objetivos: (a) organizar o conteúdo a ser desenvolvido na disciplina, de forma lógica, geral e sumária; (b) possibilitar a visão global da disciplina face ao contexto do curso; (c) facilitar aos responsáveis por outras disciplinas o pronto reconhecimento do conteúdo a ser desenvolvido na disciplina em questão.

Ementa - seu significado

Ementa vem do latim “ementa”, plural “ementum”, e significa idéia, pensamento. Este vocábulo apresenta outras significações: 1. apontamento, rol, lembrança. 2. sumário, resumo.

Ementar significa: 1. Fazer ementa, apontamento de. 2. Fazer menção de; relembrar e ementário é o livro ou caderno de ementas (Buarque de Holanda, 1978).66. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1978.

Outros dicionários consultados como Almoyna (s/d)22. ALMOYNA, J. Martinez. Dicionário de português-espanhol. Porto, Porto Editores Ltda, s/d., Bueno (1976)44. BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário escolar da língua portuguesa. Brasília, MEC-FENAME, 1976., Parlagreco (1973)88. PARLAGRECO, Carlos. Dizionario portoghese x italiano, italiano x portoghese. Roma, Antonio Vallardi Editore, 1973., Pinheiro (s/d)99. PINHEIRO, E. & GARRET, A. Dicionário francês x português e português x francês. Porto, Tipografia Siqueira, s/d. são coincidentes em apresentar como significados de ementa: esquema, sumário, resumo, apontamentos, rol, lembrança.

Em educação, ementa é a apresentação, por escrito, em forma de sumário do conteúdo de uma disciplina.

Critérios para elaboração de uma ementa

Os critérios estabelecidos para a elaboração das ementas podem ser reduzidos a: (a) organização lógica das idéias contidas no sumário; (b) uso das palavras sem prejuízo da compreensão global do conteúdo; (c) escolha de termos técnicos e científicos; (d) limite de 25 a 30 palavras.

Exemplificação

Disciplina: Medicina Legal e Deontologia

Ementa

Conceitos de Medicina e Deontologia. Identificação médico-legal. Traumatologia forense. Tanatologia. Infortunística. Questões médico-legal relacionadas com a atividade sexual. Obstetrícia forense. Psicopatologia forense. Problemas médico-legais do casamento. Deontologia. Diceologia.55. ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE VOLTA REDONDA. Programas das Disciplinas. Volta Redonda, Rio de Janeiro, 1982.

CONCLUSÃO

O planejamento tem importância fundamental para o desenvolvimento de um processo integrado de aprendizagem. Não se justifica um proceder empírico e aleatório, quando se trata da formação de futuros profissionais.

Se um “planejamento sempre se faz dentro, a partir e para uma situação concreta”1111. SCHMITZ, Egídio Francisco. Didática moderna: fundamentos. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978. temos de considerar que a Escola de Medicina está inserida num meio social que exige do médico competências apropriadas para uma prestação efetiva de serviços.

Impõe-se, pois, revisão periódica do planejamento da Escola, tanto em nível de currículo, quanto em nível de planos de ensino, à luz das novas exigências, com a finalidade de reformulação dos objetivos. A indagação: Que tipo de médico a Escola está formando? implica em revisão corajosa e séria de metas a atingir.

O Programa de Integração Docente­Assistencial (IDA) coloca claramente a preocupação de inserir a Escola Médica na situação concreta que a sociedade atravessa para aceitar o desafio proposto.

Expressa-se a respeito dessa preocupação:

“...os currículos da área da saúde, como em qualquer outra área, devem ser de tal modo flexíveis que permitam pequenas cumulativas modificações, que, em determinados momentos conflitando com o estabelecido, se fixem, quando úteis, ou sejam eliminados, quando não respondam ao processo evolutivo da sociedade”.33. BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Ensino Superior. Programa de integração docente-assistencial-IDA. Brasília, MEC/SESu, 1981, 32p. (Série Cadernos de Ciências da Saúde).

Procuramos, pois, apresentar a parte técnica da elaboração do planejamento didático, enfatizando que a técnica está sempre a serviço do homem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1
    ABREU, Maria Célia de & MASSETO, Marcos T. O Professor universitário em aula: prática e princípios teóricos São Paulo, Cortez, 1982.
  • 2
    ALMOYNA, J. Martinez. Dicionário de português-espanhol Porto, Porto Editores Ltda, s/d.
  • 3
    BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Ensino Superior. Programa de integração docente-assistencial-IDA Brasília, MEC/SESu, 1981, 32p. (Série Cadernos de Ciências da Saúde).
  • 4
    BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário escolar da língua portuguesa Brasília, MEC-FENAME, 1976.
  • 5
    ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE VOLTA REDONDA. Programas das Disciplinas Volta Redonda, Rio de Janeiro, 1982.
  • 6
    FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1978.
  • 7
    FERREIRA, Itala. Ação didática, elementos básicos Rio de Janeiro, Editora Rio, 1976.
  • 8
    PARLAGRECO, Carlos. Dizionario portoghese x italiano, italiano x portoghese Roma, Antonio Vallardi Editore, 1973.
  • 9
    PINHEIRO, E. & GARRET, A. Dicionário francês x português e português x francês Porto, Tipografia Siqueira, s/d.
  • 10
    Rio Grande do Sul. Universidade Federal. Planejamento e organização do ensino Porto Alegre, Globo, 1977.
  • 11
    SCHMITZ, Egídio Francisco. Didática moderna: fundamentos Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978.
  • 12
    TURRA, Clódia Maria Godoy et alii. Planejamento de ensino e avaliação Porto Alegre, PUC-EMMA, 1975.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1984
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