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CARTAS DO LEITOR

Cara Alice:1 1 Refere-se à Dra. Alice Reis Rosa, Editor da Revista Brasileira de Educação Médica, quando foi publicado o artigo a que traz menção.

“Li o Editorial da Revista Brasileira de Educação Médica, do Presidente eleito da Associação Brasileira a de Educação Médica, sobre a Pós-graduação no Brasil.22 Castro, L. P. Pós-graduação no Brasil. R. bras. Educ. Méd., Rio de Janeiro, 10(1): 11-2, jan./abr. 1986.

Estou de acordo com muitos dos tópicos nele abordados, por saber que existe um "despreparo da universidade brasileira para desenvolver uma Pós-graduação de alto nível" e também porque sei que "os cursos de Pós-graduação, em sua maioria, apresentam defeitos". Estes, levantados em cinco itens pelo editorialista, constituem, certamente, graves problemas.

Penso, entretanto, por outra parte, que é necessário se reconhecer o esforço que significou a instalação dos Cursos de Pós-graduação no nosso País e a seriedade com que a CAPES tem-se desincumbido da tarefa de avaliá-los. Este reconhecimento já aparece na imprensa leiga33 Raio X no Ensino. VEJA, 28 de janeiro de 1987, p. 83., bem conotada a criteriosa sistemática de avaliação instalada pela CAPES que, através de visitas e reuniões Bianuais de especialistas, colhe dados que permitem encaixe ou não dos cursos nos critérios de avaliação estabelecidos, critérios que julgo muito sérios e válidos para categorizá-los: qualidade e dedicação dos docentes, desenvolvimento regular das disciplinas e coerência das mesmas com linhas de pesquisa e, principalmente, com a produção científica do núcleo de Pós-graduação.

Ora, isto significa um tremendo avanço sobre a atitude colonialista e retrógrada de só se acreditar em Pós-graduação feita no estrangeiro, baseada em critérios e locais que pouco tinham a ver com a realidade latino-americana e brasileira, onde a problemática médico­social é bem diversa da dos países desenvolvidos.

Embora nascida copiando a Pós-graduação dos países desenvolvidos para outras áreas e tentando aplicá-la às especialidades clínicas, o desenvolvimento da Pós-graduação senso restrito na área clínica pode acabar sendo uma daquelas instituições que, usando o chavão, nasceu mal, mas está mostrando que cresce bem.

Assim sendo, saúdo a Pós-graduação do sistema brasileiro como uma forma de treinar pessoal para a academia, criar hábitos de pesquisa nos organismos e serviços universitários e fazer da Universidade um centro criador de conhecimentos e difusor do saber, principal finalidade, da qual, principalmente a Medicina, após a massificação de seu ensino ocorrida na década de 1960 a 1970, mais ainda se afastou.

A Pós-graduação do sistema brasileiro, se não tivesse outros méritos, tem o de favorecer os professores universitários que criaram centros de excelência e ilhas de saber em nosso País.

À margem de modismos, que espero sejam passageiros e que permitiram à Universidade fazer tudo menos aquilo que deve, muitos professores e centros permaneceram fiéis ao ideal universitário e à universidade ideal. Seria de esperar que a Universidade fosse a casa da criação e a locomotiva da composição das mudanças que levam ao progresso e que os professores se dedicassem ao serviço do desenvolvimento da sociedade humana. O que vimos foi uma dedicação muito grande aos seus interesses pessoais ou ao dos alunos, cortejando-os através da ênfase dada a sua preparação para se tornarem bem sucedidos, num mercado de trabalho distorcido, onde a maioria dos serviços se volta não ao desenvolvimento, mas sim à exploração das comunidades.

Penso que a Universidade na América Latina e no Brasil tem cada vez mais se distanciado de sua finalidade principal, que é a de criar saber e difundir o conhecimento, mais especificamente e, principalmente, para a realidade de nossos continentes e país.

Nesta linha, ela deve ser uma locomotiva da composição das mudanças a arrastar os vagões deteriorados do atraso científico e tecnológico de nossos países para um futuro de maior progresso.

Ela tem-se desviado deste objetivo por motivos os mais diversos. Geralmente estes motivos são dados como sendo econômicos, a pobreza a que o ensino tem sido relegado, fator que não ignoro, mas que certamente se presta a racionalizações. Estas são explicações aparentemente lógicas para um problema muito complexo, para o qual uma única explicação não basta. Um outro enfoque tem muito a ver com duas coisas muito simples, que são a incompetência e a incapacidade de muitos centros e serviços universitários de realizarem sua tarefa principal.

Todas estas considerações me inclinam a saudar a Pós-graduação do modelo brasileiro, inclusive a da área médica, como uma proposta positiva que visa à melhoria do estado atual de pobreza e atraso da universidade brasileira.

Estamos fazendo por último o que deveríamos ter feito por primeiro, criando núcleos ou pólos de excelência em nosso País e, através de um sistema de avaliação prática e simples, dando a estes núcleos o suporte econômico que eles merecem.

Trata-se de uma prática de elementar clareza e muito saudável, mas que é necessário destacar porque anteriormente o apoio econômico seguia critérios dúbios, quando não era dado exclusivamente por nepotismo despudorado ou velado.

Também é de suma importância a avaliação, porque podemos publicar na imprensa leiga, para conhecimento da nação, em que centros está o melhor da universidade brasileira, a fim de que a pressão popular diga às instituições universitárias o que espera delas, se tem orgulho ou delas se envergonham, cabendo às mesmas o esforço para superar o fosso que as separa do estágio que atingiram os centros brasileiros e os estrangeiros de excelência.

O banco e a memória da pós-graduação brasileira da CAPES e seu sistema de avaliação constituem um imenso passo em direção a uma Universidade brasileira que mereça este nome e, ao mesmo tempo, uma ilha de saúde no oceano de enfermidades que a cerca.

Esperamos que o ensino de graduação venha a ter também seus mecanismos de avaliação. Temos, no Rio Grande do Sul, para as escolas de Medicina, os dados do Exame AMRIGS (atual Programa de Avaliação Médica da Associação Médica do Rio Grande do Sul) que já pode dizer algo a respeito das Escolas de Medicina do nosso Estado. Outros instrumentos podem e devem complementar esta avaliação.

Para finalizar, cara Alice, trabalhadora como eu da construção da Educação Médica Brasileira, quero agradecer a acolhida que der a estas minhas considerações, que outro objetivo não tem que o de contribuir para com o progresso da Universidade brasileira Nós, nossos filhos, nossa Pátria e a humanidade muito esperam dos profissionais que a Universidade brasileira graduar e do conhecimento científico que ela produzir.

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    Castro, L. P. Pós-graduação no Brasil. R. bras. Educ. Méd, Rio de Janeiro, 10(1): 11-2, jan./abr. 1986.
  • 3
    Raio X no Ensino. VEJA, 28 de janeiro de 1987, p. 83.
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    Refere-se à Dra. Alice Reis Rosa, Editor da Revista Brasileira de Educação Médica, quando foi publicado o artigo a que traz menção.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 1986
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