Acessibilidade / Reportar erro

Resistência da planta daninha capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) aos herbicidas inibidores da enzima ACCase na cultura da soja

Alexandergrass (Brachiaria plantaginea) resistance to ACCase inhibitor herbicides

Resumos

Populações de capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) infestantes da cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) no município de Mangueirinha, PR, controlada, ano após ano, com herbicidas inibidores da ACCase, apresentaram falhas de controle quando esses produtos foram aplicados na safra 95/96. Experimentos de doseresposta foram conduzidos em condições de casa de vegetação do Departamento de Horticultura da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Piracicaba, SP, e da Embrapa Soja, Londrina, PR, com o objetivo de confirmar essa resistência, bem como avaliar o nível de resistência e resistência cruzada a herbicidas pertencentes aos grupos químicos das ciclohexanidionas e ariloxifenoxi-propionato. Plantas de capimmarmelada supostamente resistentes foram tratadas com diversos herbicidas e doses e comparadas com plantas de uma população suscetível dessa infestante. Os tratamentos foram estabelecidos considerando-se as doses recomendadas dos produtos, metade delas e, duas, quatro e oito vezes superiores a recomendada. Os produtos e as doses aplicadas foram haloxyfopmethyl nas doses 0; 60; 120; 240; 480 e 960 g i.a./ha, mais o espalhante adesivo Joint 0,5% v/v, fluazifop-p-butil nas doses 0; 94; 188; 376; 752 e 1504 g i.a./ha, mais o espalhante adesivo Agral 0,2% v/v, sethoxydim nas doses 0; 115; 230; 460; 920 e 1840 g. Os resultados de percentagem de controle foram submetidos à análise de regressão e, através dos modelos ajustados, foram obtidos os valores de GR50 (dose necessária para proporcionar 50% de controle de cada biótipo). As relações médias de GR50 e os diferenciais de controle nas doses recomendadas dos herbicidas (S-R) foram calculados. Os diferenciais de controle nas doses recomendadas (S-R) foram 97 e 11; 96 e 62; 99 e 86; 0,6 e 4; 20 e 17; 88 e 35 para os herbicidas haloxyfop-methyl, fluazifop-p-butil, sethoxydim, clethodim, propaquizafop e fenoxaprop-p-ethyl nos experimentos conduzidos em Piracicaba e Londrina, respectivamente. Conclui-se que o biótipo B-196 é resistente aos herbicidas inibidores da ACCase e apresenta diferentes níveis de resistência cruzada aos herbicidas estudados, exceto clethodim. Os herbicidas sethoxydim, fluazifop-p-butil, haloxyfop-methyl e fenoxaprop-ethyl são os produtos para os quais o biótipo apresentou maior grau de resistência quando comparado com clethodim e propaquizafop.

Papuã; graminicidas; controle químico; experimentos de dose-resposta


Alexandergrass population in Mangueirinha County, Paraná State, Brazil, was controled by ACCase inhibitor herbicides for more than ten years. However, no control was observed in soybean season 95/96. Dose-response experiments were caried out in greenhouses of Horticulture Department-ESALQ/USP and Embrapa Soja in order to study the level of resistance and cross resistance to aryloxiphenoxypropionic and cyclohexanodione herbicides. The supposedly resistant biotype (B- 196) and susceptible biotype were treated with ACCase inhibitors at rates corresponding to 0, 1/2, 1, 2, 4 and 8 fold the recommended rate. The herbicides and their recommended doses were haloxyfop-methyl (120 g/ha), fluazifop-p-butil (188 g/ha), sethoxydim (230 g/ha), clethodim (108 g/ha), propaquizafop (125 g/ha) and fenoxaprop-p-ethyl (82 g/ha). The adjuvants were added following the recommendation of each herbicide. It was estimated the GR50 values, R/S ratios and S-R (the difference between control percentage of both biotypes at recomendated rates). The results of resistance level among the biotypes and herbicides showed differences, with variable GR50 values for herbicides and biotypes. The S-R values were 97 and 11; 96 and 62; 99 and 86; 0.6 and 4; 20 and 17; 88 and 35 for the herbicides haloxyfop-methyl, fluazifop-p-butil, sethoxydim, clethodim, propaquizafop and fenoxaprop-ethyl in Piracicaba and Londrina, respectively. The Brachiaria plantaginea biotype B-196 is resistant to ACCase inhibitor herbicides and exhibited different levels of cross resistance to the herbicides, except clethodim. Sethoxydim, fluazifop-p-butil, haloxyfop-methyl and fenoxaprop-ethyl were the herbicides which the biotype showed high levels of resistance compared to clethodim and propaquizafop.

Alexanderweed; graminicides; chemical control; doses response curve


Resistência da planta daninha capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) aos herbicidas inibidores da enzima ACCase na cultura da soja

Alexandergrass (Brachiaria plantaginea) resistance to ACCase inhibitor herbicides

Dionisio L. P. GazzieroI; Pedro J. ChristoffoletiII; Alexandre M. BrighentiI; Cássio E. C. PreteIII; Elemar VollI

IEng° Agr° Pesquisador, Embrapa Soja. C.P. 231, CEP: 86001 -970, Londrina/PR

IIProfº Dr., Deptº de Horticultura da ESALQ/USP. C.P. 9, CEP: 13418-900, Piracicaba/SP

IIIProfº Dr., Deptº de Fitotecnia da UEL. C.P. 6001, CEP: 86051-990, Londrina/PR

RESUMO

Populações de capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) infestantes da cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) no município de Mangueirinha, PR, controlada, ano após ano, com herbicidas inibidores da ACCase, apresentaram falhas de controle quando esses produtos foram aplicados na safra 95/96. Experimentos de doseresposta foram conduzidos em condições de casa de vegetação do Departamento de Horticultura da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Piracicaba, SP, e da Embrapa Soja, Londrina, PR, com o objetivo de confirmar essa resistência, bem como avaliar o nível de resistência e resistência cruzada a herbicidas pertencentes aos grupos químicos das ciclohexanidionas e ariloxifenoxi-propionato. Plantas de capimmarmelada supostamente resistentes foram tratadas com diversos herbicidas e doses e comparadas com plantas de uma população suscetível dessa infestante. Os tratamentos foram estabelecidos considerando-se as doses recomendadas dos produtos, metade delas e, duas, quatro e oito vezes superiores a recomendada. Os produtos e as doses aplicadas foram haloxyfopmethyl nas doses 0; 60; 120; 240; 480 e 960 g i.a./ha, mais o espalhante adesivo Joint 0,5% v/v, fluazifop-p-butil nas doses 0; 94; 188; 376; 752 e 1504 g i.a./ha, mais o espalhante adesivo Agral 0,2% v/v, sethoxydim nas doses 0; 115; 230; 460; 920 e 1840 g. Os resultados de percentagem de controle foram submetidos à análise de regressão e, através dos modelos ajustados, foram obtidos os valores de GR50 (dose necessária para proporcionar 50% de controle de cada biótipo). As relações médias de GR50 e os diferenciais de controle nas doses recomendadas dos herbicidas (S-R) foram calculados. Os diferenciais de controle nas doses recomendadas (S-R) foram 97 e 11; 96 e 62; 99 e 86; 0,6 e 4; 20 e 17; 88 e 35 para os herbicidas haloxyfop-methyl, fluazifop-p-butil, sethoxydim, clethodim, propaquizafop e fenoxaprop-p-ethyl nos experimentos conduzidos em Piracicaba e Londrina, respectivamente. Conclui-se que o biótipo B-196 é resistente aos herbicidas inibidores da ACCase e apresenta diferentes níveis de resistência cruzada aos herbicidas estudados, exceto clethodim. Os herbicidas sethoxydim, fluazifop-p-butil, haloxyfop-methyl e fenoxaprop-ethyl são os produtos para os quais o biótipo apresentou maior grau de resistência quando comparado com clethodim e propaquizafop.

Palavras chave: Papuã, graminicidas, controle químico, experimentos de dose-resposta.

ABSTRACT

Alexandergrass population in Mangueirinha County, Paraná State, Brazil, was controled by ACCase inhibitor herbicides for more than ten years. However, no control was observed in soybean season 95/96. Dose-response experiments were caried out in greenhouses of Horticulture Department-ESALQ/USP and Embrapa Soja in order to study the level of resistance and cross resistance to aryloxiphenoxypropionic and cyclohexanodione herbicides. The supposedly resistant biotype (B- 196) and susceptible biotype were treated with ACCase inhibitors at rates corresponding to 0, 1/2, 1, 2, 4 and 8 fold the recommended rate. The herbicides and their recommended doses were haloxyfop-methyl (120 g/ha), fluazifop-p-butil (188 g/ha), sethoxydim (230 g/ha), clethodim (108 g/ha), propaquizafop (125 g/ha) and fenoxaprop-p-ethyl (82 g/ha). The adjuvants were added following the recommendation of each herbicide. It was estimated the GR50 values, R/S ratios and S-R (the difference between control percentage of both biotypes at recomendated rates). The results of resistance level among the biotypes and herbicides showed differences, with variable GR50 values for herbicides and biotypes. The S-R values were 97 and 11; 96 and 62; 99 and 86; 0.6 and 4; 20 and 17; 88 and 35 for the herbicides haloxyfop-methyl, fluazifop-p-butil, sethoxydim, clethodim, propaquizafop and fenoxaprop-ethyl in Piracicaba and Londrina, respectively. The Brachiaria plantaginea biotype B-196 is resistant to ACCase inhibitor herbicides and exhibited different levels of cross resistance to the herbicides, except clethodim. Sethoxydim, fluazifop-p-butil, haloxyfop-methyl and fenoxaprop-ethyl were the herbicides which the biotype showed high levels of resistance compared to clethodim and propaquizafop.

Key words: Alexanderweed, graminicides, chemical control, doses response curve.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 04/02/98 e na forma revisada em 21/06/98.

  • BLAIR, W. Herbicide resistance in weeds: an overview. American Cyanamid, Agricultural Division, Crop Protection Chemicals Department. Princeton, New Jersey; 16 p.,1991.
  • CHRISTOFFOLETI, P. J.; PONCHIO, J. A. R.; BERG, E. V. D.; VICTÓRIA FILHO, R. Imidazolinone resistant Bidens pilosa byotipes in the Brazilian soybean areas. Meeting of the Weed Science Society of America. Norfolk. WSSA Abstract v.36, p.10, 1996.
  • CHRISTOFFOLETI, P. J.; CORTEZ, M.G.; VICTÓRIA FILHO, R. Resistance of alexanderweed (Brachiaria plantaginea) to ACCase inhibitor herbicides in soybean from Paraná State-Brazil. Meeting of the Weed Science Society of America. Chicago. WSSA Abstract v.38, p.65, 1998.
  • GAZZIERO, D. L. P.; CHRISTOFFOLETI, P. J.; MACIEL, C. D. M.; SCARAMUZZA Jr.; J. R. Resistência de biótipos de Brachiaria plantaginea aos herbicidas inibidores da ACCase aplicados em soja. XXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. Caxambu-MG, Resumos...p.88, 1997.
  • HÄUSLER, R. E.; HOLTUM, J. A. M.; POWLES, S. B. Cross-resistance to herbicides in annual ryegrass (Lolium rigidum). IV Correlation between membrane effects and resistance to graminicides. Plant Physiol, v.97, n.3, p. 1035-1043, 1991.
  • HEAP, I. M.; MURRAY, B. G.; LOEPPKY, H. A.; MORRISON, I. N. Resistance to aryloxyphenoxypropionate and cyclohexanedione herbicides in wild oat (Avena fatua). Weed Sci; v. 41, p.232-238, 1993.
  • MARSHALL, G.; KIRKWOOD, R. C.; LEACH; G. E. Comparative studies on graminicideresistant and susceptable biotypes of Eleusine indica Weed Res, v.34, n.3, p. 177-185, 1994.
  • MAXWELL, B. D.; ROUSH, M. L.; RADOSEVICH, S. R. Predicting the evolution and dynamics of herbicide resistance in weed populations. Weed Tech., v. 4, p.2-13, 1990.
  • MUDGE, L. C.; GOSSETT, B. J.; MURPHY, T. R. Resistance of goosegrass (Eleusine indica) to dinitroaniline herbicides.Weed Sci, v.32, p.591-594, 1984.
  • PONCHIO, J. A. R. Resistência de Bidens pilosa L. aos herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase Piracicaba - ESALQ, 1997. 120p.(Tese DS).
  • POWLES, S. B.; PRESTON, C. Herbicide cross resistance and multiple resistance in plants. Department of Crop Protection. Waite Agricultural Research Institute, South Australia. University of Adelaide. 34 p., 1995.
  • RYAN, G. F. Resistance of common groundsel to simazine and atrazine. Weed Sci, v.18, p.614-616, 1970.
  • SMEDA, R. J.; SNIPES, C. E.; BARRENTINE, W. L. Identification of graminicide-resistant johnsongrass (Sorghum halepense). Weed Sci, v. 45, n. 1, p. 132-137, 1997.
  • VIDAL, R. A.; FLECK, N. G.; THEISEN, G.; NEVES, R.; PETRY, L. A. Picão-preto e leiteira resistentes aos inibidores da ALS não apresentam resistência aos herbicidas com diferentes mecanismos de ação. XXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. Caxambu-MG, Resumos...p.465, 1997 a.
  • VIDAL, R.A.; OLIVEIRA, N. A.; FLECK, N. G.; GUIMARÃES, F. B.; SILVA, N. G. Misturas de mecanismos de ação de herbicidas no controle de leiteira resistente aos inibidores da ALS. XXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. Caxambu-MG, Resumos...p.468, 1997 b.
  • VIDAL, R. A.; FLECK, N. G. Three weed species with confirmed resistance to herbicides in Brazil. Meeting of the Weed Science Society of America. WSSA Abstract. v.37, p.100, 1997.
  • WHITEHEAD, C. W.; SWITZER, C. M. The differencial response of strains of wild carrot to 2,4-D and related herbicides. Can. J. Plant Sci, v.43, p.255-262, 1962.
  • WIEDERHOLT, R. J.; STOLTENBERG, D. Cross resistance of a large crabgrass (Digitaria sanguinalis) accession to aryloxyphenoxypropionate and ciclohexanodione herbicides. Weed Tech. v.9, n.3, p. 518-524, 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Maio 2010
  • Data do Fascículo
    2000

Histórico

  • Aceito
    21 Jun 1998
  • Recebido
    04 Fev 1998
Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas Departamento de Fitotecnia - DFT, Universidade Federal de Viçosa - UFV, 36570-000 - Viçosa-MG - Brasil, Tel./Fax::(+55 31) 3899-2611 - Viçosa - MG - Brazil
E-mail: rpdaninha@gmail.com