Reconhecimento ao Professor César Amaury Ribeiro da Costa

Escrever sobre o Professor César Costa provoca uma avalanche de lembranças e emoções. Talvez fosse mais simples dizer que o Professor César Costa foi, ao longo de sua carreira, um exemplo a ser seguido como médico, professor, mentor e cidadão (Figura 1). Que é impossível não recordar a qualidade, classe e distinção que ele conferia a todas as atividades em que se envolvia e particularmente às reuniões clínicas da Nefrologia. E que a sua presença era a garantia da discussão em alto nível, acadêmica, aprofundada sem perder a objetividade, sistematizada e resolutiva. Fomos seus alunos, residentes, orientados na pós-graduação, desde cedo ao longo do caminho nos tornamos admiradores e em algum momento nos tornamos amigos.

Figura 1.
Professor Cesar Costa em recorte de fotografia obtida por ocasião do evento comemorativo dos 40 anos do Serviço de Nefrologia do HCPA em 2013.

O Professor César Costa nasceu em Lages, Santa Catarina, em 1930, onde estudou até completar o período pré-universitário, em 1948. Cursou a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) entre 1950 e 1955. Em 1957, com a natura­lidade que tinha para a vida acadêmica, foi admitido no corpo docente desta mesma Faculdade como auxiliar de ensino. Nos anos subsequentes, galgou os rankings acadêmicos da época até a posição de Professor Titular do Departamento de Medicina Interna, em 1988.

Em meados da década de 1960, em uma época em que isso era incomum, buscou aprimoramentos e novos desafios realizando estágios de pós-graduação no Cornell University Medical College, em Nova York, e na University of California, em Los Angeles, como bolsista do American College of Physicians e Kellog Foundation. Em seu retorno a Porto Alegre foi o principal catalizador acadêmico do desenvolvimento exponencial da jovem e vibrante especialidade que era a Nefrologia. Visionário, esteve entre os primeiros médicos brasileiros a publicar na área do transplante renal. Escreveu diversos artigos científicos e publicou diversos capítulos em conceituados livros-texto de Nefrologia. Algumas de suas principais colaborações estão nas referências abaixo¹–⁸.

A vida acadêmica foi plena em reconhecimentos. Foi muitas vezes agraciado pelos alunos da Faculdade de Medicina da UFRGS como professor homenageado e foi paraninfo de sete turmas de formandos. Criou e estruturou o Serviço de Nefrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e foi preceptor do programa de residência médica em Nefrologia desse Hospital, iniciado em 1973. No HCPA exerceu o cargo de chefe do Serviço de Nefrologia no período de 1975 a 1984 e de diretor médico entre 1984 e 1988. Em 1971, criou o primeiro Programa de Pós-Graduação em Nefrologia no Brasil, na UFRGS, e por muitos anos foi coordenador do Programa.

Em sua vida associativa foi sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) em 1961, e membro da Sociedade Latino-Americana de Nefrologia e Sociedade Internacional de Nefrologia. Exerceu o cargo de presidente do Departamento de Urologia e Nefrologia da Associação Médica do Rio Grande do Sul (1962-1963), de vice-presidente (1978-1980) e de presidente da SBN (1980-1982) e foi editor do Jornal Brasileiro de Nefrologia em 1982. Foi membro fundador da Academia Sul-Riograndense de Medicina e membro honorário da Academia Nacional de Medicina.

Médico dedicado e muito bem-sucedido, em sua clínica era respeitado e admirado por seus inúmeros pacientes. Foi casado com a médica psiquiatra Flávia de Camargo Costa, com a qual teve um casal de filhos.

No entanto, ressaltar suas qualidades médicas e acadêmicas não faz jus a pessoa do Professor César Costa. Por ocasião de seu falecimento, aos quase 93 anos de idade, as inúmeras manifestações de pesar ressaltaram seu caráter, correção, elegância, sensibilidade e respeito, além de sua imensa competência profissional e acadêmica. Repetiram-se expressões como “Em cada conversa, um aprendizado de racionalidade, simplicidade e humanidade”, “Cortesia era a moldura de seu imenso saber. Exemplo ímpar de mestre. Admirado e amado por tantos quantos tiveram a sorte de conviver com ele” e “Sempre era uma alegria encontrar o Professor César, admirar sua inteligência e cultura médica e humanística e seu comportamento cordial, respeitoso e estimulante com todos com quem convivia. Foi um grande médico, professor e gestor, e sobretudo um belo ser humano”.

O Professor César Costa foi um gigante na aventura humana, como poucos modificou seu entorno para melhor, inovando e com naturalidade remodelando sua arquitetura. Para nós, que por muitos anos convivemos com ele, e para tantos outros que tiveram o privilégio de conhecê-lo, ficam um grande legado, o exemplo, as ótimas lembranças e muitas saudades!

References

• ^1.
  Costa CAR, Goldman R, Martin DC, Goodwin WW. Homotransplante renal humano: análise do programa de transplante renal da universidade da Califórnia (1957–1966). O Hospital. 1966;70:831-45.
• ^2.
  Costa CAR, Maloney PJ, Wilkerson J, Martin DC. Successful renal homotransplantation following rapidly progressive glomerulonephritis. JAMA. 1967;210(13):1044–7. doi: http://dx.doi.org/10.1001/jama.1967.03130130070021. PubMed PMID: 4861504.
  » https://doi.org/10.1001/jama.1967.03130130070021
• ^3.
  Costa CAR, Kopstein J, Prompt CA, Manfro RC. Diuréticos: mecanismos de ação e uso clínico. In: Riella MC, editor. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1985.
• ^4.
  Costa C, Prompt CA, Manfro RC. Hipertensão Arterial Nefrógena. In: Nogueira Jr A, Santos OR, editors. Doenças dos rins: estudo clínico e tratamento. São Paulo: FUNDO EDITORIAL BYK; 1988. p. 382-94.
• ^5.
  Costa SM, Ramos JGL, Barros EJ, Bruno RM, Costa CAR, Goldim JR. Randomized controlled trial of hydralazine versus nifedipine in pre eclamptic women with acute hypertension. Clinical and Experimental Hypertension Hypertension. 1992;11:25–44. doi: http://dx.doi.org/10.3109/10641959209031031.
  » https://doi.org/10.3109/10641959209031031
• ^6.
  Costa C, Cauduro RL, Lhulier F, Cabral RD, Garcia RG, Manfro RC. Endothelin-1 plasma levels in cyclosporine-treated stable renal transplant patients. Transplant Proc. 2002;34(2): 487–8. doi: http://dx.doi.org/10.1016/S0041-1345(02)02604-0. PubMed PMID: 12009599.
  » https://doi.org/10.1016/S0041-1345(02)02604-0
• ^7.
  Fensterseifer DM, Karohl C, Schvartzman P, Costa CA, Veronese FJ. Coronary calcification and its association with mortality in haemodialysis patients. Nephrology (Carlton). 2009;14(2):164–70. doi: http://dx.doi.org/10.1111/j.1440-1797.2008.01020.x. PubMed PMID: 19054332.
  » https://doi.org/10.1111/j.1440-1797.2008.01020.x
• ^8.
  Nicoletto BB, Souza GC, Gonçalves LF, Costa C, Perry IS, Manfro RC. Leptin, insulin resistance, and metabolic changes 5 years after renal transplantation. J Ren Nutr. 2012;22(4): 440–9. doi: http://dx.doi.org/10.1053/j.jrn.2011.09.003. PubMed PMID: 22054874.
  » https://doi.org/10.1053/j.jrn.2011.09.003

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Nov 2023
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2024

Histórico

• Recebido
  09 Out 2023
• Aceito
  16 Out 2023