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A lei de Thirlwall

Thirlwall Law

RESUMO

esta nota discute o modelo de desenvolvimento econômico de A. P. Thirlwall como um modelo “orientado pela demanda”.

PALAVRAS-CHAVE:
Modelos de crescimento econômico; Thirlwall

ABSTRACT

This note discusses A. P. Thirlwall’s economic development model as a “demand-driven” model.

KEYWORDS:
Models of economic growth; Thirlwall

O professor A. P. Thirlwall (1979THIRLWALL, A. P. (1979). The balance of payments constraint as an explanation of international growth rate differences. Banca Nazionale dei Lavoro Quarterly Review, n. 128, 1979. ) transformou o mecanismo multiplicador de comércio de Harrod em um modelo de desenvolvimento econômico conduzido pela demanda. “Conduzido pela demanda” significa que o modelo não parte do pressuposto neoclássico de contínuo e global pleno emprego. Consequentemente, não pressupõe que o crescimento econômico de longo prazo é exogenamente determinado pelo progresso técnico e pelo aumento da força de trabalho. Thirlwall desenvolve uma simples relação que indica a taxa de crescimento que uma nação pode alcançar sem sofrer qualquer deterioração de sua balança de pagamentos. A limitação externa (de balanço de pagamentos) de taxa de crescimento de Thirlwall é desenvolvida a partir do seguinte modelo:

X a = P d / P f z Y r w e r w (1)

M a = P d / P f u Y a e a (2)

onde Xa Ma são as exportações e as importações do país A durante um certo período, (Pd/Pf) é a relação entre os preços internos e os preços internacionais expressos em termos da moeda interna de A, z é a elasticidade-preço da demanda para as exportações de A, u é a elasticidade-preço para as importações de A, e é a elasticidade-renda da demanda de importações de A, e erw a elasticidade-renda do resto do mundo para as exportações de A. Se z ou u são pequenos e/ou se os preços relativos não mudam significativamente, será possível ignorar, como primeira aproximação, os efeitos de substituição e concentrar a atenção nos efeitos-renda. Tomando os logaritmos naturais das equações (1) e (2) e ignorando os efeitos-substituição, obtém-se a lei de Thirlwall do crescimento da renda, que é compatível com um balanço de pagamentos estável:

y a = x / e a (3)

onde ya é a taxa de crescimento do PNB do país A, x é taxa de crescimento das exportações de A, e ea a elasticidade-renda da demanda por importações de A.

Dado que o crescimento das exportações de A depende fundamentalmente do crescimento da renda do resto do mundo (Yrw) e da elasticidade-renda da demanda do resto do mundo para as exportações de A (erw), ou seja,

x = e r w y r w (4)

a equação (3) pode ser reescrita como

y a = e r w y r w / e a (5)

De acordo com a lei de Thirlwall, para a qual o balanço de pagamentos é uma limitação, e partindo-se de uma determinada posição do balanço de pagamentos, a taxa de crescimento que um país pode sustentar depende do crescimento do resto do mundo e da elasticidade-renda relevante para as importações e exportações.

Se o crescimento das importações for exatamente igual ao crescimento do valor das exportações,

e r w y r w = y a e a (6)

teremos que

y a / y r w = e r w / e a (7)

ou seja, a relação entre o crescimento. da renda do país A comparado com o crescimento da renda do resto do mundo é igual à relação entre a elasticidade-renda da demanda do resto do mundo para as exportações de A e a elasticidade-renda da demanda de A por importações.

Logo, por exemplo: se erw/en < 1, e se o crescimento de A é limitado pela necessidade de manter o equilíbrio do balanço de pagamentos, o país estará condenado a crescer a uma taxa mais baixa do que o resto do mundo.

Se, por exemplo, os países menos desenvolvidos (LDCs) do mundo têm uma vantagem comparativa na exportação de matérias-primas e de outras mercadorias básicas, para as quais a curva de Engel sugere que o mundo desenvolvido tem baixa elasticidade-renda da demanda, enquanto os LDCs têm alta elasticidade-renda para a demanda de bens manufaturados do mundo desenvolvido, para a maioria dos LDCs

e r w / e l d c < 1 (8)

Nestes termos, se o desenvolvimento econômico e o equilíbrio do balanço de pagamentos for deixado para o mercado livre, os LDCs estarão condenados a uma relativa pobreza e a desigualdade global da renda tornar-se-á cada vez maior através do tempo.

Além disso, se a taxa de crescimento da população nos LDCs (pldc) for maior do que a taxa de crescimento da população no mundo desenvolvido (pdw), a taxa de crescimento do PNB por habitante dos LDCs sofrerá relativo declínio ainda maior em relação ao mundo desenvolvido, isto é,

y l d c / p l d c < < y d w / p d w (9)

Na ausência de políticas keynesianas para estimular o crescimento, a taxa de crescimento de longo prazo do mundo desenvolvido como um todo tende a situar-se no intervalo de 1 a 2,5 por cento ao ano. Entretanto, dado que o crescimento da população do mundo desenvolvido é menor que a taxa de crescimento da renda de longo prazo, os países desenvolvidos podem gozar uma elevação do padrão de vida.

Se, no entanto, adotarmos valores razoáveis para os parâmetros da desigualdade (8), enquanto temos que 1 < ydw < 2,5, emerge u`m triste prognóstico para a economia mundial. Enquanto o mundo permitir que o mercado livre determine a limitação de balanço de pagamentos de cada país, uma proporção cada vez menor da população da terra tornar-se-á rica (ou pelo menos manterá sua posição), enquanto uma proporção crescente da população da terra provavelmente se tornará mais pobre. Além disso, quanto mais lenta for a taxa de crescimento dos ricos, mais rapidamente os pobres mergulharão na pobreza.

Logo, temos aqui uma situação na qual é necessário pesquisar políticas econômicas a serem desenvolvidas no sentido de evitar a condenação da maioria da população do mundo à pobreza crescente. Apenas se os países ricos lograrem taxas de crescimento real historicamente altas como as verificadas nos primeiros vinte e cinco anos depois da Segunda Guerra Mundial - quando políticas keynesianas em vez de políticas de mercado livre foram ativamente adotadas nacional e internacionalmente pelo mundo desenvolvido - poderemos ter a esperança de melhorar significativamente a sorte dos países mais pobres do mundo.

A análise de Thirlwall demonstra que os desequilíbrios financeiros internacionais podem ter graves consequências, isto é, o dinheiro não é neutro em uma economia aberta. A Teoria Geral de Keynes foi explicitamente a análise de uma economia fechada comandada pela demanda, na qual a moeda não é neutra. Logo, deveria ser óbvio que, se ampliarmos para uma economia aberta a análise monetária de Keynes, que enfatiza os motivos de liquidez das empresas e das famílias na operação de uma economia empresarial de produção, seria possível desenvolver propostas de política econômica de caráter keynesiano, a fim de evitar as terríveis consequências potenciais de um mercado livre baseado na lei de Thirlwall.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • THIRLWALL, A. P. (1979). The balance of payments constraint as an explanation of international growth rate differences. Banca Nazionale dei Lavoro Quarterly Review, n. 128, 1979.
  • 2
    JEL Classification: O41.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 1990
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