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Locativos no espanhol quatrocentista: um estudo do Atalaya de las crónicas

Locatives derived from Latin UBI and UNDE in the Spanish chronicles Atalaya de las crónicas

Resumos

Estudo dos locativos derivados de UBI e UNDE latinos no Atalaya de las crónicas, relato histórico escrito em espanhol por Alfonso Martínez de Toledo, datado do século XV. O sistema de derivados do UBI e UNDE latinos é composto de três categorias gramaticais: advérbios, pronomes relativos e conjunções, cujas formas mais frequentes foram DONDE e DO. Os itens, basicamente locativos concretos, tendem a abstratizar-se e a expandir seus significados, chegando a mudar, inclusive, de função gramatical, adquirindo maior gramaticalidade. Assim, além da descrição dos locativos, analisou-se a gramaticalização e o surgimento da conjunção DONDE. Essa abstratização favoreceu a reanálise do pronome relativo em conjunção, o que pôde ser bem compreendido a partir da observação de ocorrências ambíguas, inseridas em contextos que permitem uma dupla interpretação: pronome relativo ou conjunção.

espanhol do século XV; gramaticalização de conjunções; locativos; donde


This is a study of locatives derived from Latin UBI and UNDE in the Spanish chronicles Atalaya de las crónicas, by Alfonso Martínez de Toledo, dating from the fifteenth century. The system derived from UBI and UNDE is composed of adverbs, relative pronouns and conjunctions and DONDE and DO are their most frequent forms. Besides the description of locatives, we analyse the grammaticalization and the emergence of the conjunction DONDE. These items are basically concrete locatives and tend to become more abstract and expand their meanings. They can even change their grammatical function, acquiring more grammaticality. This process of abstratization favoured a reanalysis of the relative pronoun in conjunction, which could be understood from the observation of what we call ambiguous items, set in contexts that allows a double interpretation.

XVth century Spanish; grammaticalization of conjunctions; locatives; donde


Considerações iniciais

Este trabalho analisa os locativos derivados de UBI e UNDE (advérbios, pronomes e conjunções), encontrados na obra Atalaya de las crónicas, datado do século XV, de Alfonso Martínez de Toledo, conhecido também como Arcipreste de Talavera. A pesquisa se insere no domínio mais amplo de estudo dos derivados de UBI e UNDE, o das línguas românicas, e tem como objetivo geral oferecer um material rigoroso e confiável para futuros estudos diacrônicos do espanhol, assim como estudos comparados entre línguas românicas.

A partir da análise do texto acima mencionado, dá-se a conhecer o sistema de uso e os valores semânticos, sintáticos e morfológicos desses locativos nessa crônica histórica espanhola do século XV. Esse gênero textual foi escolhido por favorecer o uso dos locativos, muitas vezes raros em textos de outra natureza. Além disso, a escolha do Atalaya de las crónicas justifica-se pela certeza da datação e da autoria da obra (cf. BOMBIN, 1976BOMBIN, Inocencio. 1976. La Atalaya de las coronicas del Arcipreste de Talavera: edición crítica de parte del texto con un estudio introductorio y vocabulario. 1976, 749 f. Tese (Doutorado em Filosofia) - Depto. de Estudos Hispânicos, Mc Master University. Disponível em: <Disponível em: http://digitalcommons.mcmaster.ca/opendissertations/3710 >. Acesso em: 16 abr. 2012.
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), o que proporciona maior confiabilidade à análise.

Em nossa pesquisa, atestamos a presença dos locativos ONDE, DO, DONDE e ADONDE. A antiga forma O não foi encontrada, o que indica, como veremos na próxima sessão, que essa forma já havia desaparecido no período aqui analisado.

Os locativos analisados sofreram a ação de diversos fenômenos linguísticos que afetaram - e ainda afetam - suas dimensões morfológica, sintática e semântica. Dentre eles, podemos destacar a variação linguística e a gramaticalização, ambos desencadeadores de mudanças no sistema linguístico.

A análise do Atalaya de las crónicas possibilitará um estudo mais aprofundado dessas questões e um maior conhecimento do sistema formado por esses locativos e seu uso no século XV, mais especificamente na crônica dessa época. Além disso, essa pesquisa se justifica pela escassez de trabalhos sobre os derivados de UBI e UNDE no espanhol.

2. Percurso histórico dos locativos no espanhol

ONDE provém do advérbio latino UNDE, um locativo que expressava a ideia de proveniência (espanhol atual de donde). Da mesma forma, o advérbio latino UBI, locativo que expressava ideia de "lugar em que" (en donde) ou direção, deu origem ao antigo O ou U (GARCÍA DE DIEGO, 1970GARCÍA DE DIEGO, Vicente. 1970. Gramática histórica española. Madrid: Gredos.).

A origem de DONDE e DO, no entanto, é controversa. Enquanto (GARCÍA DE DIEGO, 1970GARCÍA DE DIEGO, Vicente. 1970. Gramática histórica española. Madrid: Gredos.) atribui sua origem a compostos do latim vulgar ou do romance DE UNDE e DE UBI, ou seja, defende a ideia de uma origem mais antiga, direta da língua matriz, (COROMINAS, 1954COROMINAS, Juan. 1954. Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana. Madrid: Gredos. v. 2.) postula DONDE < DE ONDE, DO < DE O. O surgimento da preposição DE anteposta - seja a ONDE/O seja a UNDE/UBI - decorre da confusão entre as ideias de proveniência e direção, "lugar em que", "lugar para o qual", "lugar do qual", confusão essa que parece já acontecer no latim (GAFFIOT, 1934GAFFIOT, Félix. 1934. Dictionnaire illustré latin français. Paris: Hachette.), o que fortalece a posição de (GARCÍA DE DIEGO, 1970GARCÍA DE DIEGO, Vicente. 1970. Gramática histórica española. Madrid: Gredos.).

Além disso, conforme (HANSSEN, 1945HANSSEN, F. 1945. Gramática histórica de la lengua castellana. Buenos Aires: El Ateneo.), o fenômeno fonético da elisão - responsável pela queda da vogal e da preposição DE diante de ONDE/O/UNDE/UBI - é mais frequente em outras línguas românicas como o francês, o provençal e o português antigo. Na antiga poesia castelhana, por exemplo, a elisão é pouco frequente e tende a diminuir. De maneira geral, a elisão no espanhol parece acontecer em contextos muito restritos. Dessa forma, o processo fônico que deu origem ao DONDE e ao DO no espanhol deve ter acontecido em momentos bem anteriores ao século XV, nos primórdios da formação do idioma.

Nos registros mais antigos, DONDE e DO expressavam a proveniência e eram, portanto, sinônimos. No entanto, quando a antiga conjunção OU, procedente de AU, se confundiu com O (de UBI), coincidindo o advérbio de lugar com a conjunção alternativa, houve uma tendência a empregar a forma composta DO como equivalente e substituto de O, ou seja, sem ideia de procedência. O duplo valor de DO acaba por contaminar suas variantes ONDE e DONDE, que passam a indicar tanto a proveniência quanto a localização estática e a direção. A necessidade de evitar a ambiguidade favorece o recurso às preposições e o surgimento de DE DONDE. DONDE se torna mais frequente, ONDE e DO começam a desaparecer e DO sobrevive como arcaísmo poético (COROMINAS, 1954COROMINAS, Juan. 1954. Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana. Madrid: Gredos. v. 2.).

Desses valores locativos, característicos desses advérbios, passou-se a usos sem ideia essencial de lugar. (COROMINAS, 1954COROMINAS, Juan. 1954. Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana. Madrid: Gredos. v. 2.) aponta o emprego do DONDE como preposição com sentido de "na casa de", "junto a", muito comum nas Américas, nos falares leoneses e no norte castelhano. (GARCÍA DE DIEGO, 1970GARCÍA DE DIEGO, Vicente. 1970. Gramática histórica española. Madrid: Gredos.) registra ainda o valor temporal de UBI, que se conservou nos antigos O e DO, se propagando para o DONDE.

(GARCÍA, 1992GARCÍA, Cristina Medina. 1992. Estudio morfosintáctico de los relativos locativos en "Las siete partidas" Anuario de estudios filológicos, Cáceres, v. 15, p. 227-238. Disponível em: <Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/busquedadoc?t=estudio+morfosint%C3%A1ctico+de+los+locativos&db=3&td=todo >. Acesso em: 16 abr. 2012.
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), em seu estudo da obra Las Siete Partidas, do século XIII, identifica o ONDE sendo utilizado como nexo conjuntivo em fórmulas ou estruturas fixas do tipo Onde dixo..., Onde ha menester..., entre outras. Assim se expressa (GARCÍA, 1992GARCÍA, Cristina Medina. 1992. Estudio morfosintáctico de los relativos locativos en "Las siete partidas" Anuario de estudios filológicos, Cáceres, v. 15, p. 227-238. Disponível em: <Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/busquedadoc?t=estudio+morfosint%C3%A1ctico+de+los+locativos&db=3&td=todo >. Acesso em: 16 abr. 2012.
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: 229) sobre o ONDE:

su valor originario es 'de donde'. Sin embargo, este matiz locativo se transforma en ilativo, causal o consecutivo. Es preciso señalar que puede perder su valor y alterna con una conjunción copulativa, convirtiéndose en un mero nexo continuativo. Narbona trata onde con valor ilativo-consecutivo, más una forma verbal con sentido de posterioridad y, "especialmente cuando se trata de un mandato derivado de asertos precedentes".

(GARCÍA, 1992GARCÍA, Cristina Medina. 1992. Estudio morfosintáctico de los relativos locativos en "Las siete partidas" Anuario de estudios filológicos, Cáceres, v. 15, p. 227-238. Disponível em: <Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/busquedadoc?t=estudio+morfosint%C3%A1ctico+de+los+locativos&db=3&td=todo >. Acesso em: 16 abr. 2012.
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) afirma que esse uso do ONDE teria advindo de processos de gramaticalização que se produzem em alguns advérbios locativos. (GARCÍA DE DIEGO, 1970GARCÍA DE DIEGO, Vicente. 1970. Gramática histórica española. Madrid: Gredos.) também cita o seguinte exemplo: El se fue en seguida; de donde deduje que estaba enfadado. Nesse caso, o DONDE antecedido da preposição DE assume a função de conjunção conclusiva1 1 García de Diego não usa o termo "conjunção conclusiva" para classificar seu exemplo, mas a função conjuncional de de donde é evidente. . No caso da função conjuntiva da forma DONDE, a pesquisa bibliográfica não revelou o momento exato no qual ela teria surgido. Essa função conjuntiva já foi identificada no Atalaya de las crónicas por (BOMBIN, 1976BOMBIN, Inocencio. 1976. La Atalaya de las coronicas del Arcipreste de Talavera: edición crítica de parte del texto con un estudio introductorio y vocabulario. 1976, 749 f. Tese (Doutorado em Filosofia) - Depto. de Estudos Hispânicos, Mc Master University. Disponível em: <Disponível em: http://digitalcommons.mcmaster.ca/opendissertations/3710 >. Acesso em: 16 abr. 2012.
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). Em seu estudo do Atalaya, além de uma edição parcial da crônica, Bombin nos fornece um glossário no qual ele registra a função conjuntiva conclusiva de DONDE e DO, equivalente a por lo que no espanhol atual.

No Guía práctica del español actual (SECO & HERNÁNDEZ, 1999SECO, Manuel & HERNÁNDEZ, Elena. 1999. Guía práctica del español actual: diccionario breve de dudas y dificultades. Madrid: Espasa-Calpe.), encontramos o registro do uso do DONDE com valor temporal, equivalente a cuando, e como conjunção condicional, equivalente a si. No entanto, segundo esse dicionário, esses usos, embora atuais, são mais comuns nas Américas e/ou estão restritos à língua popular e rural. (SANTAMARIA, 1942SANTAMARIA, Francisco Javier. 1942. Diccionario general de americanismos. Méjico, D.F.: P. Robredo. v. 1.) identifica também outros usos de DONDE nas Américas. O item DONDE pode ocorrer como advérbio de modo (equivalente a cómo) em quase toda a América. No México, nos falares populares, DONDE pode equivaler a "além disso" ou a "disso você pode concluir" (ahí tiene usted). Também na fala popular mexicana encontra-se DONDE indicando a sucessão de um acontecimento inesperado, como se fosse um "e então".

Essa polissemia de DONDE e de seus cognatos pode ser observada em períodos bem antigos da língua e permanece até os dias atuais. De advérbio/pronome locativo concreto (indicando espaço físico) DONDE e seus cognatos passam a usos mais abstratos, podendo indicar tempo, conclusão, condição, modo, entre outros. O mesmo acontece com os derivados de UBI e UNDE em outras línguas românicas, como o português (BONFIM, 1993BONFIM, Eneida do R. M. 1993. Variação e mudança no português arcaico: o caso de u e onde. Palavra, Rio de Janeiro, n. 1, p. 96-119.; MATTOS E SILVA, 2010MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. 2010. Estruturas trecentistas; elementos para uma gramática do português arcaico. Salvador: EDUFBA.) e o francês (HADERMANN, 2009HADERMANN, Pascale. 2009. Le relatif où et ses principaux concurrents: variation morpho-syntaxique et neutralisation entre synchronie et diachronie. Travaux de linguistique, Louvain, n. 59, v. 2, p.123-146.), o que indicaria tratar-se de uma tendência mais abrangente que atingiria a família das línguas românicas.

Também a presença de preposições antecedendo o DONDE e seus cognatos é responsável pelas nuances de sentido. Para indicar relações de destino, origem, procedência, trânsito, direção ou situação, utilizam-se as preposições a, de, por, hacia, hasta, para, en (SECO & HERNÁNDEZ, 1999SECO, Manuel & HERNÁNDEZ, Elena. 1999. Guía práctica del español actual: diccionario breve de dudas y dificultades. Madrid: Espasa-Calpe.). As preposições também são importantes na formação de locuções (adaptado de RAE 2001: 848):

de dónde. 1. loc. adv. Denota idea de impasibilidad o sorpresa. ¡De dónde voy a creer lo que me dice! //~ no. 1. loc. adv. De lo contrario. // en ~. 1. loc. adv. donde. Emigró a ultramar, en donde se instaló. (...) por ~. 1. loc. adv. Por lo cual. // 2. U. para introducir en la oración un hecho inesperado. Mira, mire usted, cátate, he aquí, por donde. // ¿por dónde? 1. loc. adv. Denota razón, causa o motivo. ¿Por dónde tengo de creerlo?

Se levarmos em conta Kurylowicz (1966: 66), as construções com preposições são empregadas mais e mais no sentido figurado, sem significação espacial ou concreta, e tendem a se tornar multifuncionais.

3. Metodologia

O Corpus del Español, de (DAVIES, 2011DAVIES, Mark. Corpus del español. 2011. Disponível em: <Disponível em: http://www.corpusdelespanol.org/ >. Acesso em: 4 nov. 2011.
http://www.corpusdelespanol.org/...
), possibilitou selecionar o texto objeto dessa pesquisa, o Atalaya de las crónicas, facilitando a organização dos dados em listas, sua classificação e análise. Quatro itens foram identificados como derivados de UBI e UNDE: DONDE, ADONDE, DO e ONDE. Todas as possíveis grafias das palavras foram pesquisadas, objetivando encontrar todas as variantes dos itens analisados. No entanto, não observamos a existência de variantes gráficas desse itens.

A análise teve como ponto de partida os dados encontrados no corpus e foi feita em duas partes: na primeira fizemos uma descrição dos dados, na qual foram analisados os aspectos: (a) Classe gramatical (advérbio, pronome relativo, conjunção), conforme (CUNHA e CINTRA, 2001CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. 2001. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.)2 2 Foi utilizada a nomenclatura gramatical portuguesa, apesar de diferenças em alguns pontos em relação à espanhola. Concordamos com (KURILOWICZ, 1966, p. 55): "En raison de la variété même des principes de répartition adoptés dans cette classification traditionnelle, elle est loin de répondre aux exigences de la recherche scientifique." Entretanto, não é o momento para essa discussão. ; (b) Significado da partícula no contexto em que se encontra; (c) Presença/ausência de preposição antecedendo a partícula; (d) Tipo de antecedente, no caso dos pronomes relativos.

Na segunda parte, analisamos o fenômeno da gramaticalização da conjunção DONDE. Apoiamo-nos nos trabalhos de (HOPPER, 1988HOPPER, Paul. 1988. Emergent Grammar and the A Priori Grammar Postulate. In: TANNEN, Deborah (ed.). Linguistics in Context: Connecting Observation and Understanding. Norwood, NJ: Ablex, p. 117-134. e 1991______. 1991. On Some Principles of Grammaticalization. In: TRAUGOTT, Elizabeth; HEINE, Bernd (orgs.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin. v.1. p. 17-36.), (MEILLET, 1982______. 1982 [1915-16]. Renouvellement des conjonctions. In: ______. Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Champion. p. 159-174. [1912]), (TRAUGOTT e HEINE, 1991TRAUGOTT, Elizabeth & HEINE, Bernd. 1991. Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin.) e (TRAUGOTT, 1982TRAUGOTT, Elizabeth. 1982. From Propositional to Texual and Expressive Meanings: Some Semantic-pragmatic Aspects of Grammaticalization. In: LEHMANN, Winfred & MALKIEL, Yacov (orgs.) Perspectives on Historical Linguistics. Amsterdam: John Benjamins. p. 245-271. e 1988______. 1988. Pragmatic Strengthening and Grammaticalization. In: AXMAKER, S.; JESSIER, A. & SINGMASTER, H. (orgs.). Proceedings of the Fourteenth Annual Meeting of the Berkeley Linguistics Society. Berkeley: Berkeley Linguistics Society. p. 406-416.). Como a gramaticalização é um fenômeno tipicamente diacrônico (MEILLET, 1982MEILLET, Antoine. 1982 [1912]. L'évolution des formes grammaticales. In: ______. Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Champion, p. 130-148. [1912]), o objetivo do estudo foi analisar o estágio desse processo de mudança linguística no espanhol do século XV, e assim contribuir para futuros estudos diacrônicos, necessários para que todas as etapas do fenômeno possam ser descritas e compreendidas.

4. Descrição e análise dos dados

4.1. Descrição dos dados

Das formas encontradas no Atalaya de las Crónicas, a mais recorrente é DONDE. De suas 223 ocorrências, a maior parte são pronomes relativos (59,6%), seguidos por advérbios (21,5%) e conjunções (15,6%). Sete ocorrências foram consideradas ambíguas por possibilitarem mais de uma interpretação. Exemplos (Todos os grifos nos exemplos são nossos):

  1. 1

    () E fue çelebrado en la Iglesia mayor de santo pedro de toledo donde fueron fechos de notables & provechosos decretos (18/1)3 3 Devido a limitações do sistema do corpus, este foi dividido em três listas. A numeração indica o número da ocorrência e a lista na qual ela se encontra. - Pronome relativo.

  2. 2

    () E donde esta la santa santorun con las Reliquias marauillosas de jerusalem (4/1) - Advérbio.

  3. 3

    () vn cauallo brauo aremetio contra los moros soruiole la tierra que nunca mas paresçio / donde fueron todos espantados & quisieran se Retraer diziendo que avn la tierra mostraua que non (85/1) - Conjunção conclusiva.

  4. 4

    () E en este tienpo fizo almaçor sobre xristianos çincuenta & dos huestes de cauallerias & batallas donde les fizo mucho mal (96/1) - "Ambígua".

Como pronome relativo, DONDE apresenta variados significados e pode ser precedido por antecedentes bastante diversos. Os antecedentes puderam ser reunidos em grupos que apresentam um traço semântico mais acentuado do que os demais. Eles são: [+concreto]: local físico com valor locativo intrínseco; [+tempo] metáfora espaço-temporal: ponto no tempo, sem valor locativo intrínseco; [+humano] ser animado; [-concreto]: acontecimento, incluindo agrupamentos de pessoas, existentes no espaço físico/concreto.

Os traços semânticos acima não invalidam a presença de outros ou a co-presença com outros. No caso do traço [- concreto], por exemplo, há, de fato, quase sempre, uma ideia de [+ tempo], pois são situações que ocorreram em um espaço de tempo variável, que pode ir de segundos a séculos. Veja-se a tabela abaixo:

Tabela 1
Antecedentes e significados do pronome relativo DONDE

As ocorrências de DONDE relativo podem ser distribuídas da seguinte forma: a maioria (78,1%) possui valor [+concreto] e significa, na maior parte das vezes, "(lugar)4 4 Os parênteses na palavra "lugar" foram colocados pois, no caso do pronome relativo, o item DONDE pode significar "lugar em que" ou simplesmente "em que", de acordo com o antecedente que ele retoma. em que". Quatro ocorrências significam "(lugar) de que" (procedência), uma significa "que, o qual/os quais" e uma "do qual, da qual", com sentido de posse. A grande maioria dessas ocorrências possui como antecedentes topônimos da Península Ibérica. Mas foram encontrados também antecedentes como la llaga del cruçifixo, redondura en el medio de la iglesia, Real, dende com referência a um local concreto, los pechos, logar. Veja-se o exemplo abaixo:

  1. 5

    () & fueronse todos a seuilla donde el Rey era venido entonçes por estos fechos (94/2) - Antecedente sevilla, [+ concreto].

O valor [- concreto] foi encontrado em 18,7% das ocorrências: 22 equivalem a "em que", uma equivale a "de que" (procedência) e duas equivalem a "que, o qual/os quais". Os antecedentes menos concretos são usualmente conçilio (8 ocs.), batalla, pelea, alcançe, ou guerra (10 ocs.), mas tambémlinaje, bodas, buenos medios e crónicas. É preciso ressaltar que, com exceção de linaje e buenos medios, os demais antecedentes permitem pressupor uma ideia de tempo aos pronomes que a eles se referem. Interpretou-se, entretanto, que a característica mais marcante dessas ocorrências é [- concreto]. Exemplo:

  1. 6

    () & ouieron dura & cruel batalla donde murieron de vna parte & de otra muchos moros (78/1) Antecedente batalla, [- concreto].

Apenas uma ocorrência tem valor [+ tempo] e equivale a cuando. Três ocorrências possuem valor [+ humano]. Em (7), temos a ocorrência com antecedente classificado como [+ tempo] e em (8) um exemplo com o antecedente [+ humano]:

  1. 7

    () fue su Reynado de mahomad & e sus fechos que fueron en le tienpo del Rey leonegildo donde nasçio (40/3) - [+tempo].

  2. 8

    () E por ende no sea de desmayar & paremos mientes a los de donde venimos que fizieron (82/1) [+humano] - los se refere a arianos, presente anteriormente no texto.

Quanto à presença de preposição, o mais usual é o DONDE não ser antecedido por preposição, havendo apenas 8,3% (11 ocorrências) dos casos com a presença da preposição de 5 5 Na tabela 1, as ocorrências antecedidas das preposições de e a foram colocadas na coluna de significado "(lugar) em que", pois foi analisado apenas o significado do locativo e para diferenciar das situações em que o DONDE, sem preposição, tem sentido de procedência. com ideia de procedência da preposição por, com a ideia de através de e da preposição a. Nas sete ocorrências da preposição a, há sempre a ideia de em direção a (para), em concordância com um verbo de movimento (partir, vir, chegar, enviar e fugir) anterior ao donde. Exemplos:

  1. 9

    () E tenia muy grand poder en aquellas tierras donde moraua (10/1).

  2. 10

    () Rey conel solos a derredor de çamora diziendo quel le mostraria el postigo arenoso por donde se entraria (77/2).

Quando DONDE é um advérbio, temos a seguinte situação, como se pode ver na tabela abaixo: das 51 ocorrências encontradas, 31 significam "lugar em que" e apenas duas dessas ocorrências são antecedidas da preposição por; 11 significam "lugar de que", sendo 9 antecedidas da preposição de; 8 significam "lugar a que" das quais cinco são antecedidas por para e uma pela preposição arcaica fasta. Em apenas uma ocorrência DONDE significa "no momento em que", conforme a tabela 2. O advérbio DONDE é sempre um circunstancial de tempo ou lugar. Das 31 ocorrências com sentido "lugar em que", em quatro DONDE aparece na locução donde quier que, que indica "em qualquer lugar"6 6 Foram encontradas duas ocorrências da locução donde no, que equivale a de lo contrário. Trata-se de uma locução adverbial (cf. RAE, 2001) com conteúdo lexical, embora mais abstrato, menos locativo. Essas duas ocorrências não foram incluídas na tabela abaixo por apresentarem um significado muito diferente dos advérbios locativos em questão. .

Tabela 2
Significados e preposições do advérbio DONDE

Exemplos:

  1. 11

    () pero non cuenta la estoria quien le mato nin donde le mataron (9-1) - "Lugar em que".

  2. 12

    () anssy que este bastardo Rey gisalago lo torno a Recobrar por fuerça de armas / donde en vna batalla este vençio en canpo al Rey glodoneo en françia (24-2) - "No momento em que".

  3. Foram encontrados 33 DONDE com função de conjunção conclusiva, equivalentes à expressão por lo que do espanhol atual. Exemplo:

  4. 13

    () E tres naues solas escaparon donde se acogieron muchas gentes & prendio muchos de los que estauan en tierra (96-2) - Conjunção conclusiva.

Sete ocorrências apresentam DONDE com a possibilidade de dois papeis morfológicos, ou seja, podem ser interpretadas de forma diferente pelo leitor/receptor. Essas serão denominadas ambíguas. Exemplos em que DONDE pode ser classificado tanto como pronome relativo quanto como conjunção:

  1. 14

    () fue ferido a la fin donde murio penado (45-1)

  2. 15

    () & dieron su batalla donde se vinieron los vnos a los otros muy destenprada mente con grande enojo /donde fueron de la vna parte & de la otra muchos muertos (90-2)

DO é a segunda forma mais frequente no corpus, com um total de 90 ocorrências. Dessas, em 63 DO é um pronome relativo, como se pode observar na tabela 3 abaixo. A grande maioria (95,2%) das ocorrências tem um antecedente [+ concreto] e DO significa "lugar em que" (96,6%). Mais uma vez, o antecedente é usualmente um topônimo da Península Ibérica, mas também foram encontrados çelda, alli, monte, monasterio, canpo, cova, altar, salas, logares, terra(s), mesa, tesoro, camino e ojos. As ocorrências com antecedente [- concreto] são com os antecedentesluta e pelea e o único antecedente [+ humano] é ocho capitanes grandes.

Exemplos:

  1. 16

    () E fue çelebrado en santa leocadia do yaze su cuerpo (117 7 As ocorrências de DO estão organizadas em uma única lista, por isso a numeração corresponde ao número da ocorrência no corpus. ) - [+concreto].

  2. 17

    () & ouieron los suyos vnos con otros pelea do murieron ocho mill omes (33) - [-concreto].

Tabela 3
Antecedentes e significados do pronome relativo DO

Em relação às preposições que antecedem DO, foram encontradas apenas três: duas ocorrências com por, com a ideia de "através de", e uma com a, que estaria concordando com o verbo de movimento fuese anterior a DO. Os demais 60 casos são sem preposição.

Encontramos 19 ocorrências de DO na função de advérbio. 14 significando "lugar em que", três "lugar a que", uma "lugar de que" e uma "no momento em que". A maior parte das ocorrências não está precedida de preposição. Quatro são antecedidas da preposição por e DO significa "lugar em que" e uma é antecedida da preposição a. A preposição por sempre traz consigo a ideia de "através de". Veja-se a tabela abaixo:

Tabela 4
Preposições e significados do advérbio DO

DO apresenta sete ocorrências com função conjuntiva. Todas as sete foram interpretadas como conjunção conclusiva, sendo duas delas constituídas pela preposição por antecedendo DO. Não parece haver alteração substancial do sentido básico, o conclusivo. Uma ocorrência de DO também foi interpretada como ambígua, já que, em (19), o item pode ser interpretado tanto um pronome relativo (antecedente Rio) quanto uma conjunção conclusiva (como foi jogado em um rio, desapareceu). Exemplos:

  1. 18

    () E fue por castilla Robando en esspeçial las iglesias que del todo las Robo do ofendyo mucho a dios (40) - Conjunção conclusiva.

  2. 19

    () E despues fizole leuar a burgos & echar en vn Rio do nunca jamas paresçio (75) - "Ambígua".

As formas menos frequentes foram ONDE e ADONDE. Das duas ocorrências de ONDE, uma foi classificada como pronome relativo, antecedido por um substantivo de lugar, com valor locativo intrínseco (concreto). A outra é um advérbio de lugar concreto. Quanto ao significado, o advérbio ONDE apresenta seu valor originário de donde, com sentido de origem ou proveniência. O relativo aquivale a donde, com sentido estático.

ADONDE, com apenas três ocorrências, teve a seguinte classificação: a primeira é um relativo com antecedente concreto (lugar) (20); a segunda, um advérbio concreto (21); a terceira foi classificada como ambígua por possibilitar mais de uma classificação, que será explicada mais adiante (22). Como relativo, ADONDE tem valor estático e significa "lugar no qual". O advérbio equivale a de donde no espanhol atual, com sentido de origem ou proveniência. As ocorrências são:

  1. 20

    () Rey gundemaro vinose este Rey para toledo adonde adoleçio de su enfermedad - Pronome relativo.

  2. 21

    () Asy se partieron el Rey para toro & ellos adonde estauan & besaron todos la mano al Rey - Advérbio.

  3. 22

    () E el pastor desque lo vido marauillose adonde se auia tajada la vaca - "Ambígua".

Comparando os usos dos quatro itens, podemos observar que tanto os tipos de antecedentes quanto os significados de DO são mais restritos em relação a (A)DONDE (incluindo as ocorrências de onde e adonde). Verifica-se que tanto (A)DONDE quanto DO têm uma grande maioria de antecedentes [+ concreto]. No entanto, em relação aos antecedentes [- concreto], há uma diferença substancial: 18,5% das ocorrências de (A)DONDE e apenas 3,2% de DO foram classificadas como [- concreto]. (A)DONDE caracteriza-se, portanto, por uma maior tendência à abstratização, o que, como veremos na análise da gramaticalização da conjunção DONDE, teria favorecido a maior ocorrência do DONDE conjunção (15% das ocorrências de (A)DONDE). Por outro lado, DO apresenta apenas 7% de ocorrência da conjunção, se especializando, portanto, na expressão do lugar concreto.

4.2. A gramaticalização da conjunção DONDE

Partimos da definição proposta por (MEILLET, 1982______. 1982 [1915-16]. Renouvellement des conjonctions. In: ______. Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Champion. p. 159-174. [1912]) de que a gramaticalização é a passagem de uma palavra autônoma à função de um elemento gramatical. A gramaticalização, ao lado das inovações analógicas, são os únicos processos através dos quais se constituem novas formas gramaticais. Essa passagem de elemento lexical a elemento gramatical acontece a partir da degradação progressiva de palavras autônomas: enfraquecimento fonético, esvaziamento da significação concreta e do valor expressivo da palavra (MEILLET, 1982MEILLET, Antoine. 1982 [1912]. L'évolution des formes grammaticales. In: ______. Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Champion, p. 130-148.: 139). Kuri­lowicz (1966) avança em relação à definição de Meillet e define a gramaticalização também como a passagem do menos gramatical para o mais gramatical, tornando a definição mais abrangente. Para ele,

L´étape grammaticale est franchie lorsque la zone d´application d´un morphème s´étend au point de perdre son caractère lexical, pour ne plus jouer qu´un rôle grammatical, ou lorsque la fonction grammaticale s´accentue, c´est-à-dire, par exemple, lorsqu´une formation dérivée n´est plus perçue que comme une inflexion. (KURILOWICZ, 1966KURILOWICZ, Jerzy. 1966. L´évolution des catégories grammaticales. In: BIENVENISTE, Émile et al. Problèmes du langage. Paris: Gallimard, p. 54-71.: 68)

Segundo (MEILLET, 1982______. 1982 [1915-16]. Renouvellement des conjonctions. In: ______. Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Champion. p. 159-174.[1915-1916]), as conjunções são palavras especialmente sujeitas a se renovarem, ou mesmo a desaparecerem e serem substituídas por outras. As conjunções são palavras acessórias, com significado bastante abstrato e a alta frequência de seu emprego associada à perda de volume fonético resulta, geralmente, na perda de expressividade dessas palavras e na necessidade de renovação.

Estudos sobre conjunções (Longuin-Thomazi 2006a e 2006b) constataram que as conjunções, principalmente coordenativas, derivam de advérbios ou de pronomes do tipo relativo-interrogativo. Essa passagem de advérbios/pronomes a conjunções, a partir da perspectiva da gramaticalização, é resultado de mudanças semânticas que se processam através de dois mecanismos complementares: a metáfora, que consiste na projeção de significados de um domínio mais concreto para um domínio mais abstrato; e a metonímia, que consiste na transição de um significado a outro através da reinterpretação contextual (TRAUGOTT, 1982TRAUGOTT, Elizabeth. 1982. From Propositional to Texual and Expressive Meanings: Some Semantic-pragmatic Aspects of Grammaticalization. In: LEHMANN, Winfred & MALKIEL, Yacov (orgs.) Perspectives on Historical Linguistics. Amsterdam: John Benjamins. p. 245-271.). Não podemos perder de vista o fato de que todo esse processo acontece de forma gradual e contínua no decorrer do tempo e está fortemente relacionado à frequência e aos usos do item.

A análise do percurso histórico de DONDE e seus cognatos revelou que o sentido conjuntivo de DONDE não existia no latim, sendo, portanto, uma inovação do sistema linguístico do espanhol. A atribuição de uma nova função a uma forma já existente é comum em toda e qualquer língua e caracteriza o que (HOPPER, 1988HOPPER, Paul. 1988. Emergent Grammar and the A Priori Grammar Postulate. In: TANNEN, Deborah (ed.). Linguistics in Context: Connecting Observation and Understanding. Norwood, NJ: Ablex, p. 117-134.) chama de gramática emergente (emergent grammar), que postula que as regras da gramática e a estrutura sintática emergem na medida em que a língua é usada.

Assim, o advérbio/pronome locativo DONDE teria dado origem à conjunção DONDE (equivalente ao atual por lo que), que, em geral, estabelece uma relação de conclusão ou consequência entre duas orações. Na análise do corpus, embora na grande maioria das ocorrências DONDE assuma a função de relativo ou advérbio locativo, nos chamou a atenção as 33 ocorrências de DONDE conjunção. Como conjunção, DONDE perde o sentido locativo presente no advérbio e no pronome e passa a estabelecer uma relação lógica, de conclusão, consequência ou condição, entre as duas orações que ele coordena, como podemos observar no exemplo abaixo:

  1. 23

    () los ayres vna boz alto que dizia el justo falleçido es de sobre la tierra donde fueron todos espantados (58-1) - Conjunção conclusiva.

Em (23), DONDE encabeça a segunda oração e faz remissão à primeira, estabelecendo a conclusão de que "todos ficaram espantados porque uma voz alta dizia que o justo falecido está sobre a terra".

Esse sentido conjuncional de DONDE co-ocorre, no corpus, com outros sentidos que também fogem ao sentido locativo do advérbio/pronome relativo. Como mostramos na descrição dos dados apresentada na sessão 4.1, 22% das ocorrências de DONDE relativo possuem caráter [- concreto], [+tempo] ou [+ humano], configurando sentidos menos locativos que podem ser compreendidos como abstrações da ideia de lugar expressa originalmente por DONDE. Esse processo de abstratização pelo qual DONDE passou ao longo de sua história é essencial para compreender a gramaticalização da conjunção.

A abstratização está na base do princípio cognitivo da gramaticalização segundo o qual "concrete concepts are employed to understand, explain or describe less concrete phenomena" (HEINE & CLAUDI & HÜNNEMEYER, 1991HEINE, Bernd & CLAUDI, Ulrike & HÜNNEMEYER, Friederike. 1991. From Cognition to Grammar - Evidence from African Languages. In: TRAUGOTT, Elizabeth; HEINE, Bernd (orgs.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin. v.1. p. 149-188.: 150). O processo de abstratização envolve, portanto, os mecanismos da metáfora - aproximação de diferentes domínios cognitivos através da transferência conceptual - e da metonímia - reinterpretação induzida pelo contexto, motivada pragmaticamente (HEINE & CLAUDI & HÜNNEMEYER, 1991HEINE, Bernd & CLAUDI, Ulrike & HÜNNEMEYER, Friederike. 1991. From Cognition to Grammar - Evidence from African Languages. In: TRAUGOTT, Elizabeth; HEINE, Bernd (orgs.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin. v.1. p. 149-188.).

De fato, como já mostrou (BONFIM, 1993BONFIM, Eneida do R. M. 1993. Variação e mudança no português arcaico: o caso de u e onde. Palavra, Rio de Janeiro, n. 1, p. 96-119.) em seu estudo sobre o ONDE na língua portuguesa, o valor conjuntivo de ONDE observado no português arcaico decorre das acepções de proveniência e origem, já presentes no advérbio/pronome, estendidas a assunto, matéria. O mesmo acontece com a conjunção DONDE no espanhol. Embora, no espanhol atual, DONDE não expresse mais a noção de origem e proveniência (expressa hoje pela preposição DE anteposta a DONDE, de donde), no corpusaqui analisado encontramos sete ocorrências de DONDE com esse sentido. A abstratização das ideias de origem e proveniência estaria na base do processo de mudança categorial (advérbio/pronome relativo > conjunção), caracterizado pela passagem de um uso menos gramatical (advérbio/pronome relativo) para um uso mais gramatical (conjunção).

Para descrever e avaliar esse processo, nos apoiaremos no continuum da gramaticalização definido de (TRAUGOTT, 1988______. 1988. Pragmatic Strengthening and Grammaticalization. In: AXMAKER, S.; JESSIER, A. & SINGMASTER, H. (orgs.). Proceedings of the Fourteenth Annual Meeting of the Berkeley Linguistics Society. Berkeley: Berkeley Linguistics Society. p. 406-416.), que trata dos deslizamentos entre classes de palavras. No caso da gramaticalização de DONDE, podemos definir o seguinte continuum, que vai gradualmente do mais lexical ao mais gramatical:

Advérbio > Pronome relativo > Conjunção

O DONDE advérbio possui caráter mais lexical - conforme a distinção feita por (MEILLET, 1982______. 1982 [1915-16]. Renouvellement des conjonctions. In: ______. Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Champion. p. 159-174.[1912]: 134-135) entre "palavra principal" (mot principal) e "palavra acessória" (mot accessoire), levando-se em conta a gradualidade existente entre esses dois extremos (palavras que são mais ou menos acessórias ou gramaticais). No exemplo abaixo, DONDE pode ser substituído por "em que lugar" e possui, portanto, significado próprio, referente no mundo físico:

  1. 24

    () le han de matar pero no cuenta la estoria quien le mato nin donde le mataron (9/1) - Advérbio.

O pronome relativo possui caráter mais gramatical, retomando anaforicamente o termo antecedente. Em (25), DONDE equivale a "nas quais" e retoma aquellas tierras:

  1. 25

    () E tenia muy grand poder en aquellas tierras donde moraua (10/1) - Pronome relativo.

A conjunção, por sua vez, é mais gramatical ainda. Ela não possui referente nem no mundo físico, nem no discurso linguístico. Sua função está em correlacionar duas orações, como podemos observar no exemplo abaixo:

  1. 26

    () por miedo de los crueles perseguidores & este Rey los fazia buscar & matar donde la xristiandad Reçibio grandes daños del en el tienpo que Reyno (99/2) - Conjunção conclusiva.

Os princípios postulados por (HOPPER, 1991______. 1991. On Some Principles of Grammaticalization. In: TRAUGOTT, Elizabeth; HEINE, Bernd (orgs.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin. v.1. p. 17-36.) também auxiliam na aferição do grau de gramaticalização de DONDE conjunção no espanhol, além de acentuarem o caráter gradual da mudança e identificar seus estágios iniciais.

A divergência é o primeiro princípio trabalhado pelo autor. A forma gramaticalizada de DONDE, a conjunção, só ocorre em contextos definidos, lado a lado com as formas não gramaticalizadas do advérbio e do pronome relativo. A persistência de traços semânticos da forma-fonte na forma gramaticalizada também pode ser observada e será melhor discutida na análise das ambíguas, assim como a descategorização, caracterizada pela perda de autonomia discursiva e pela restrição sintática.

A mudança de categoria pode ser compreendida através do estudo do processo de reanálise, um dos mecanismos presentes no processo de gramaticalização. A reanálise está estreitamente ligada a processos metonímicos, ou seja, a processos de mudança por contiguidade gerados no contexto sintático. A mudança por associação metonímica é resultado de um "raciocínio 'abdutivo', por meio do qual o falante observa determinado resultado no discurso, invoca uma lei (da linguagem) e infere que, a um uso posterior, pode ser aplicada essa mesma lei" (GONÇALVES & LIMA-HERNANDES & CASSEB-GALVÃO, 2007GONÇALVES, Sebastião & LIMA-HERNANDEZ, Maria Célia & CASSEB-GALVÃO, Vânia Cristina (orgs.). 2007. Introdução à gramaticalização. São Paulo: Parábola.: 48).

Na análise do corpus, foram encontradas sete ocorrências de DONDE que classificamos como ambíguas, por possibilitarem mais de uma interpretação categorial do item. Essas ocorrências evidenciam o contexto que teria favorecido a reanálise do advérbio/pronome DONDE como conjunção. Exemplo:

  1. 27

    () E fuese para ytalia & entro en ella poderosa mente matando & Robando & quemando & alando & tomando villas & castillos & lugares & çibdades / donde fizo muy jnfinito daño & mucho mal en toda & por toda ytalia (75/2) - "Ambígua".

A ambiguidade em (27) é evidente. DONDE pode ser interpretado como pronome relativo remetendo a villas & castillos & lugares & çibdades, lugares nos quais alguém "causou, provocou infinito dano e muito mal". No entanto, DONDE também pode ser interpretado como conjunção, equivalente a por lo que: alguém "causou, provocou infinito dano e muito mal porque entrou na Itália matando, roubando, queimando, etc". O "dano e o mal" seriam portanto, consequências da ação expressa na primeira oração.

O elemento DONDE, com função de pronome relativo locativo, retoma o termo antecedente estabelecendo uma relação espacial ([+ concreto] ou [-concreto]) que pode ser traduzida pela ideia expressa pela preposição en (dentro de). No século XV, DONDE ainda apresenta seu sentido originário (DE + ONDE, de donde no espanhol atual) designando as ideias de origem ou proveniência (de qual lugar). A extensão das ideias de origem ou proveniência parece estar na base da mudanças de significado de DONDE, da reanálise e do surgimento da conjunção. Veja-se o exemplo abaixo:

  1. 28

    () E paso a galizia & con su mala arte donde eran ereges fizolos mas & despues que creyeron su mal consejo / paso entre ellos estatutos & ordenanças & fueros nueuos de los quales mal ussauan / jten fizo que ouiese entre ellos Reyes & grandes poderosos de donde se siguieron muchos trabajos en españa (30/2) - Conjunção conclusiva.

Em (28), DONDE é uma conjunção conclusiva e, antecedida da preposição de, admite a paráfrase "do que, disso", referindo-se à informação expressa na oração anterior. Nesse caso, um item usado para expressar uma relação locativa concreta de origem tem seu uso estendido e passa a expressar uma relação lógica, abstrata, de causa e consequência entre dois eventos paralelos. Embora o esvaziamento semântico seja evidente, podemos perceber um resquício da ideia de origem, ou seja, a persistência postulada por (HOPPER, 1991______. 1991. On Some Principles of Grammaticalization. In: TRAUGOTT, Elizabeth; HEINE, Bernd (orgs.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin. v.1. p. 17-36.).

A descategorização pode ser observada na rigidez da posição sintática da conjunção, que apresenta sempre as seguintes características: (a) liga duas ou mais orações gramaticalmente independentes; (b) possui posição fixa no início da segunda oração; (c) remete à oração (ou orações) precedente; (d) introduz uma conclusão, consequência ou condição em relação à oração (ou orações) precedente (cf. LONGHIN-THOMAZI, 2006aLONGHIN-THOMAZI, Sanderléia Roberta. 2006a. Gramaticalização de conjunções coordenativas: a história de uma conclusiva. Gragoatá, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 59-72.).

Como visto, a conjunção DONDE também aparece no corpus antecedida da preposição por (3 ocorrências). Exemplo:

  1. 29

    () En tanto que todo el Reyno despaña por juduzmiento deste Rey vetiza todo fue llagado & plagado & lleno de lepra & de luxuria & de otros testables pecados abominables & feos / por donde españa ovo comienço de ser destruyda & deseredada de sus buenos caualleros & fijos dalgo& notables çibdadanos & moradores (41/1) - Conjunção conlusiva.

Em (29), por donde equivale a por lo que, ou por lo cual. O uso da preposição por parece favorecer a compreensão de DONDE como conjunção conclusiva, dados os sentidos abstratos de "causa" e de "através de" associados à preposição, diminuindo a possibilidade de ambiguidade (TERREROS Y PARDO, 1488TERREROS Y PARDO, Esteban. 1488. Diccionario castellano con las voces de ciencias y artes. Madrid: Imprenta de la Viuda de Ibarra, Hijos y Compañia, 1488. Disponível em: <Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=oBzCGoPm8KsC&pg=PR4&lpg=PR4&dq=diccionario+castellano+con+las+voces+de+ciencias+y+artes&source=bl&ots=1XCaq5OutD&sig=Ga7nKHsvPPSu_2mHJbpylkQLwXc&hl=pt-BR&sa=X&ei=WuaXT7TzL5Gu8ASgvPCIBg&ved=0CF4Q6AEwBw#v=onepage&q=por&f=false >. Acesso em: 28 abr. 2012.
http://books.google.com.br/books?id=oBzC...
:159-160). No dicionário RAE do espanhol atual, o único registro do sentido conjuntivo de DONDE é exatamente o uso da locução por dondecomo equivalente a por lo cual e, nas interrogativas, denotando razão, causa ou motivo (RAE, 2001). No entanto, seria necessário realizar uma pesquisa diacrônica para confirmar o papel da preposição por no processo de gramaticalização do DONDE conjunção.

A restrição sintática da conjunção DONDE também pode ser observada em relação à presença de verbos no modo subjuntivo na oração encabeçada por DONDE. Computamos a ocorrência do subjuntivo junto ao advérbio, ao relativo e à conjunção e aplicamos o teste de qui-quadrado para observar a significância da distribuição dessa variante. Obtemos o seguinte resultado:

Tabela 5
Presença/ausência de verbo no subjuntivo após DONDE

A tabela acima e o p-valor nos mostram que existe uma diferença significativa (p-valor < 0,05) entre advérbios (adv), pronomes relativos (rel) e conjunções (conj) quanto à presença/ausência de verbos no subjuntivo. Só não há diferença significativa entre o fator 2 (rel) e o fator 3 (conj) (p-valor = 0,9945309742), visto que a porcentagem relativa de verbos no subjuntivo nas duas categorias é bem próxima. Os advérbios ocorrem com verbo no subjuntivo em 18,8% das ocorrências, a conjunção só apresentou uma ocorrência (3%) com subjuntivo e o relativo apenas quatro (3% também). Veja-se o exemplo:

  1. 30

    () enbio dezir a don aluar peres de castro & aluar gonçalez moran que fuyesen de donde el Rey estouiese (16/2) - Advérbio seguido do verbo estouiese no subjuntivo.

É comum também a presença do subjuntivo nas locuções adverbiais donde quier que e donde no:

  1. 31

    () E yr con ella todos & que fuesen donde quier que el conde estouiese (91/1) - Locução adverbial.

  2. 32

    () E que auian & quieren ser todos vuestros amigos & donde non vos pluguiere de lo asi fazer / A dios nos quexamos - Locução adverbial.

As formas mais gramaticais (pronome relativo e conjunção) estão associadas ao menor uso do subjuntivo, o que qualifica uma restrição sintática. Em (33), temos a ocorrência da conjunção seguida de subjuntivo e, em (34), um exemplo do relativo seguido do subjuntivo:

  1. 33

    () E dixole que por amor della estaua presso el mayor onbre despaña & que aquel perdido castilla era perdida donde le pluguiese que le sacase de ally pues era en su mano (90/1) - Conjunção conclusiva.

  2. 34

    () enbiaron a suplicar al enperador constantino que le plugiese darles tierra de pañomia donde pudiesen de los godos seguros beuir - Pronome relativo.

5. Considerações finais

A pesquisa mostrou que, na Atalaya de las crónicas, o sistema de derivados do UBI e UNDE latinos se organiza, basicamente, em torno de três categorias gramaticais: advérbios, pronomes relativos e conjunções. As formas mais frequentes foram DONDE e DO.

Os pronomes relativos retomam antecedentes variados, mas a grande maioria possui caráter [+concreto] (78,1%), ou seja, indica espaço físico concreto. Os significados são bastante diversificados: (lugar) em que, de que, a que, pelo qual, que, do que, no momento em que, porém "(lugar) em que" é o mais frequente. São poucas as ocorrências com preposição (8,3%), mas elas são responsáveis pelas nuances de sentidos. Com o relativo DO, o uso da preposição é ainda menos frequente (3 ocorrências). Tanto os tipos de antecedentes quanto os significados de DO são mais restritos em relação a DONDE. O relativo DO parece especializar-se na expressão do lugar concreto (95,2% das ocorrências são [+concreto]).

Os advérbios, em sua maioria, significam "lugar em que" e possuem caráter [+concreto]. O único sentido abstrato do advérbio, "momento em que", apresentou baixa frequência (duas ocorrências em DONDE e uma em DO). As preposições são bem mais frequentes com os advérbios (33,3% com DONDE e 26,3% com DO). Elas possibilitam a expressão de diferentes tipos de deslocamentos e localizações no espaço: "lugar de que", "lugar a que", "lugar pelo qual, através do qual", "lugar até o qual", "lugar para o qual".

A função conjuntiva foi observada tanto em DONDE como em DO. Neste trabalho, focamos a análise da gramaticalização da conjunção DONDE. Observou-se que a abstratização dos usos e significados do advérbio/pronome DONDE, sobretudo do pronome relativo, está na base do processo de gramaticalização que deu origem à conjunção. Como já foi discutido, a abstratização contribuiu para a reanálise do pronome relativo como conjunção, o que pôde ser bem compreendido na análise das ocorrências ambíguas. As ambíguas representam os contextos que favoreceram a reanálise, ou seja, contextos que possibilitavam uma dupla interpretação: pronome relativo ou conjunção.

Além disso, a gramaticalização pôde ser identificada através da aplicação dos princípios de (HOPPER, 1991______. 1991. On Some Principles of Grammaticalization. In: TRAUGOTT, Elizabeth; HEINE, Bernd (orgs.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin. v.1. p. 17-36.). Observou-se que a conjunção DONDE apresentava caráter mais gramatical do que o advérbio e do que o pronome. Embora o pronome também possua caráter gramatical, a conjunção se distingue por não possuir nenhum referente - seja no mundo físico, seja no discurso. Sua função é estabelecer uma relação lógica entre orações, no caso de DONDE, uma relação conclusiva.

Pode-se observar também que a conjunção DONDE possui uma restrição sintática em relação ao uso do subjuntivo. O cálculo do qui-quadrado mostrou que a presença ou ausência do subjuntivo na oração encabeçada pela conjunção DONDE é significativamente diferente em relação ao advérbio. As conjunções só apresentaram uma ocorrência desse verbo (3%), contra 18,8% nos advérbios. Com relação ao pronome relativo essa diferença não foi significativa.

Esses resultados possibilitam, portanto, uma maior compreensão do sistema dos locativos derivados de UBI e UNDE no espanhol do século XV. No entanto, faz-se necessário um estudo diacrônico que contemple tanto textos anteriores a esse período como posteriores, sobretudo para uma maior compreensão do percurso histórico da conjunção DONDE e de seu uso na atualidade. Também mostrou-se necessária o estudo das outras partículas que coexistem com os itens aqui analisados e que preenchem a mesma função gramatical, para assim avaliar outros fenômenos de variação, concorrência e mudança linguística.

Acredita-se também que a comparação desse estudo do espanhol com dados de outras línguas românicas seja um campo fértil nos estudos de linguística comparada, possibilitando esclarecimentos muito úteis aos estudos linguísticos em geral.

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  • TRAUGOTT, Elizabeth & HEINE, Bernd. 1991. Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamin.
  • 1
    García de Diego não usa o termo "conjunção conclusiva" para classificar seu exemplo, mas a função conjuncional de de donde é evidente.
  • 2
    Foi utilizada a nomenclatura gramatical portuguesa, apesar de diferenças em alguns pontos em relação à espanhola. Concordamos com (KURILOWICZ, 1966KURILOWICZ, Jerzy. 1966. L´évolution des catégories grammaticales. In: BIENVENISTE, Émile et al. Problèmes du langage. Paris: Gallimard, p. 54-71., p. 55): "En raison de la variété même des principes de répartition adoptés dans cette classification traditionnelle, elle est loin de répondre aux exigences de la recherche scientifique." Entretanto, não é o momento para essa discussão.
  • 3
    Devido a limitações do sistema do corpus, este foi dividido em três listas. A numeração indica o número da ocorrência e a lista na qual ela se encontra.
  • 4
    Os parênteses na palavra "lugar" foram colocados pois, no caso do pronome relativo, o item DONDE pode significar "lugar em que" ou simplesmente "em que", de acordo com o antecedente que ele retoma.
  • 5
    Na tabela 1, as ocorrências antecedidas das preposições de e a foram colocadas na coluna de significado "(lugar) em que", pois foi analisado apenas o significado do locativo e para diferenciar das situações em que o DONDE, sem preposição, tem sentido de procedência.
  • 6
    Foram encontradas duas ocorrências da locução donde no, que equivale a de lo contrário. Trata-se de uma locução adverbial (cf. RAE, 2001REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. 2001. Diccionario de la lengua española. 22. ed. Madrid: Espasa-Calpe. 2 v.) com conteúdo lexical, embora mais abstrato, menos locativo. Essas duas ocorrências não foram incluídas na tabela abaixo por apresentarem um significado muito diferente dos advérbios locativos em questão.
  • 7
    As ocorrências de DO estão organizadas em uma única lista, por isso a numeração corresponde ao número da ocorrência no corpus.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    Maio 2012
  • Aceito
    Mar 2015
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