Acessibilidade / Reportar erro

Sobre resultativas e pseudoresultativas: distinções de base empírica

On resultatives and pseudoresultatives: empirical based distinctions

RESUMO

As estruturas conhecidas na literatura técnica como resultativas têm leitura de ação a partir de um V principal, com estado resultante manifestado por um AP sobre um DP, como vemos no exemplo do alemão (i) Der Wolf hat das Haus kaputt geblasen - o lobo teve a casa estragado assoprado - ‘O Lobo assoprou e como resultado estragou a casa/a casa ficou estragada’. O primeiro objetivo desse trabalho é demonstrar, metodologicamente por meio de testes empíricos e comparação translinguística, que a construção resultativa é produtiva nas línguas ocidentais germânicas, mas inexistente (com a mesma estrutura) em português brasileiro (i.e. *O lobo assoprou a casa estragada; leitura relevante). Entretanto, a última língua apresenta estruturas muito parecidas com resultativas, chamadas (por exemplo) de pseudoresultativas, mas que ainda assim apresentam características sintáticas e morfológicas diferenciadas de resultativas, i.e. (ii) Maria empilhou as almofadas alto e (iii) João varreu o chão bem limpinho. O segundo objetivo desse trabalho é demonstrar e sustentar, empiricamente, a argumentação para a distinção entre resultativas e construções similares.

Palavras-chave:
resultativa; pseudoresultativa; predicação secundária; resultado

ABSTRACT

The structures known as resultatives in the technical literature have an action reading, denoted in the main verb, alongside with a resultant state denoted in an AP over a DP, as seen in the data from German: (i) Der Wolf hat das Haus kaputt geblasen - the wolf has the house damaged blown - ‘the wolf blew so that the house ended up damaged’. The first goal of this work is to empirically demonstrate (via crosslinguistic tests) that the resultative construction is highly productive in West Germanic languages, whereas inexistent (holding the same structure) in Brazilian Portuguese (i.e. *O lobo assoprou a casa estragada - The wolf blew the house damaged). This late language, however, has very similar structures to resultatives, called pseudoresultatives (among other names), yet presenting different syntactic and morphological characteristics compared to resultatives, i.e. ii) Maria empilhou as almofadas alto - ‘Maria piled the cushions high’ and (iii) João varreu o chão bem limpinho - João swept the floor very cleanDIMINUTIVE. Therefore the second goal of this work is to empirically demonstrate and support the claim that resultatives are of a different structural nature from these similar constructions.

Key-words:
resultative; pseudoresultative; secondary predication; result

1. Introdução e linhas gerais

O trabalho investiga construções resultativas, comparando-as com outras construções cuja interpretação de resultado levanta questões acerca das descrições estruturais subjacentes aos dados em análise. Grosso modo, o que as construções observadas têm em comum é leitura de ação, a partir de um verbo (V) principal, e resultado (manifestado no predicado secundário, tipicamente um sintagma adjetival (AP) ou preposicional (PP)1 1 .Neste trabalho, por questões de espaço e simplificação, usarei somente exemplos com APs (sintagmas adjetivais). Para a discussão completa acerca do estatuto sintagmático do predicado secundário em resultativas, remeto o leitor a (Knöpfle, 2014). ) sobre um sintagma de determinante (DP).

As resultativas (e similares) podem ser tomadas como um subgrupo das estruturas que envolvem predicação secundária. Uma questão, nesse ponto, é identificar sobre qual sintagma o predicado secundário predica, conforme aponta a subseção 1.1. Para os dados sob investigação, a leitura do predicado secundário é sempre de estado resultante, como descrito na subseção 1.2.

A seção 2 traz as construções resultativas, com exemplos em línguas ocidentais germânicas (inglês, alemão e holandês). O que é mais intrigante nesse tipo de construção diz respeito à estrutura argumental: verbos tipicamente intransitivos coocorrem com DPs acusativos, e verbos transitivos coocorrem com DPs não tipicamente argumentos desses verbos; a presença do predicado secundário, contudo, é crucial para a boa formação dos dados com interpretação resultativa.

O português brasileiro (PB) não forma resultativas com a mesma estrutura observada nas línguas ocidentais germânicas. Esse fato é demonstrado na seção 3.

A seção 4 traz as construções chamadas de pseudoresultativas e resultativas adverbiais em inglês. A ideia é demonstrar que, mesmo nessa língua, os autores ((Parsons, 1990PARSONS, T. 1990. Events in the semantics of English. Cambridge, MA: MIT Press.), (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.), (Kratzer, 2005KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.), (Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010), inter alia) fazem uma distinção entre resultativas e tais estruturas. Adicionalmente, quando da apresentação dos dados em PB (seções 5 e 6), essa comparação translinguística será importante para revelar peculiaridades morfossintáticas presentes no PB, mas ausentes em inglês. Essas diferenças morfossintáticas muito provavelmente podem ser reveladoras no momento de se investigar empiricamente o licenciamento das construções em PB, bem como as respectivas descrições estruturais, uma vez que essa língua apresenta diferenças de licenciamento quando da comparação com as mesmas estruturas pesquisadas na literatura técnica para o inglês. Em outros termos, essas características morfossintáticas devem ser levadas em consideração para obtenção satisfatória de adequação observacional.2 2 .Tomo os níveis de adequação observacional, descritivo e explicativo como em (Chomky, 1965).

A seção 5 traz o que já foi chamado na literatura técnica de resultativas do PB, bem como as restrições de licenciamento comparativamente às resultativas em línguas ocidentais germânicas. Na sequência, a seção 6 avança na investigação empírica dos dados apresentados na seção anterior, com o objetivo de exibir modificações morfossintáticas que licenciam a construção. Adicionalmente, a seção 6 levanta a questão de se, com base nas possibilidades de modificação que licenciam construções similares a resultativas em PB, de fato existe a ocorrência de resultativas nessa língua, mesmo que restritamente. Com base em demonstração empírica, a resposta à questão é negativa. Nesse ponto, já se faz a distinção das construções resultativas que ocorrem nas línguas ocidentais germânicas e as construções similares em PB, das quais as pseudoresultativas (provavelmente) fazem parte.

A seção 7 coloca questões empíricas e analíticas que são decorrentes dos resultados obtidos nas investigações empíricas apresentadas neste trabalho; seguem-se então algumas considerações finais.

Neste artigo, a base teórico-metodológica para traçar generalizações empíricas se fundamenta em uma metalinguagem formal explícita advinda da Teoria Gerativo-Transformacional, em sua versão de Princípios e Parâmetros pré-minimalista (Chomsky, 1981______. 1981. Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris., 1986______. 1986. Barriers. Cambridge, Mass: The MIT Press., 1993______. 1993. A minimalist program for linguistic theory. In: Hale, K.; Keyser, S.J. (Orgs.). The view from Building 20. Cambridge, Mass: The MIT Press., 1995______. 1995. The Minimalist Program. Cambridge, Mass: The MIT Press.; Chomsky e Lasnik, 1993CHOMSKY, N.; LASNIK, H. The theory of principles and parameters. 1993. In: JACOBS, J. ET AL. (Orgs.). Syntax: An international Handbook of Contemporary Research. Berlin: de Gruyter.; Rizzi, 1990RIZZI, L. 1990. Relativized Minimality. Cambridge, Mass: The MIT Press., inter alia).

1.1. Predicação secundária

A noção de predicação é antiga e vem sendo estudada e debatida por vários pensadores e especialistas. Para este trabalho, o foco é pensar na predicação dentro de relações sintáticas. Assim, com base em Den (Dikken, 2006DIKKEN, M. DEN. 2006. Relators and Linkers: the Syntax of Predication, Predicate Inversion, and Copulas. Cambridge, Mass: The MIT Press., capítulo 1), tomo a predicação como sendo uma atribuição de propriedade, ou seja, o predicado é equivalente ao constituinte sintático que denota uma propriedade atribuída ao seu argumento.

A predicação secundária pode ser tratada informalmente como aquela predicação que se dá com um argumento que já participa de uma relação de complementação ou de uma predicação primária (Carreira, 2015CARREIRA, M.B. 2015. Predicação e Ambiguidade de Projeção: Uma Teoria Unificada. 2015. 200 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.). Vejamos alguns exemplos.

Para cada um dos dados em (1), temos um predicado secundário (negrito) que denota uma propriedade atribuída a um argumento (em itálico), sendo que esse argumento já participa de outra relação de predicação (primária). Assim, ‘crua’ é a propriedade atribuída a ‘a carne’ no momento da ação verbal; igualmente, ‘bêbada’ denota a propriedade de ‘a Maria’ quando do ato da dança, e ‘quebrado’ a propriedade de ‘o relógio’.3 3 .Vale notar que os dados em (1a) e (1c) são sequências de itens lexicais geradas por duas estruturas distintas (ambiguidade estrutural). A leitura relevante é a descrita no parágrafo, em que ‘a carne’ e ‘crua’, bem como ‘o relógio’ e ‘quebrado’ formam constituintes distintos, como observamos nos testes de clivagem: (i) Foi crua que o João comeu a carne. (ii) Foi quebrado que a Maria encontrou o relógio. Em (1d), temos uma mini-oração (small clause), que é analisada como uma relação de predicação secundária dentro de uma relação de predicação primária.

1.2. Predicação secundária e estado resultante

Os dados em (2) exemplificam instâncias de predicação secundária em que o predicado secundário tem leitura/denota o estado resultante do evento.

A primeira questão que se coloca é “estado resultante sobre o quê?”. Essa questão vai se mostrar nada trivial à medida que analisamos os dados. Para (2a), o estado resultante do ato de martelar é ‘o metal plano/achatado’, sendo a propriedade ‘plano/achatado’ atribuída ao sintagma ‘o metal’ como resultado do evento ‘martelar’. Trata-se aqui de uma resultativa, para a qual vale a generalização de que o DP acusativo tem sempre a leitura de afetação por meio da ação verbal (a seção 2 retoma em detalhes essa generalização).

Assim, no caso das resultativas, o estado resultante é sobre um DP; já para as outras construções, a questão é mais controversa. Veremos (seção 4) que autores tomam o estado resultante como incidindo sobre outra entidade que não propriamente o DP (para resultativas adverbiais e pseudoresultativas, alguns tratamentos consideram um objeto implícito pragmaticamente ou uma raiz verbal). Esse artigo levanta ainda outros dados similares (seções 5, 6 e 7), que parecem intrincar ainda mais a questão.

2. Construções resultativas

As construções resultativas são geralmente tratadas como um tipo de construção com semântica causativa, presentes em línguas como o inglês (Carrier & Randall, 1992CARRIER, J.; J.H. RANDALL. 1992. The Argument Structure and Syntactic Structure of Resultatives. Linguistic Inquiry, v. 232, p.173-234.; Levin & Rappaport, 1995LEVIN, B.; RAPPAPORT HOVAV, M. 1995. Unaccusativity: at the syntax-lexical semantics interface. Linguistic Inquiry, Monograph 26, Cambridge, Mass: The MIT Press.), holandês (Hoekstra, 1988HOEKSTRA, T. 1988. Small clause results. Língua, v. 74, p.101-139., 1992______. 1992. Aspect and theta-theory. In: Roca, I.M. (Org.). Thematic structure: Its role in grammar. Dordrecht: Foris.) e alemão (Kratzer, 2005KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.). Neste tipo de construção, o verbo principal (V) denota uma ação (cujo agente é expresso pelo sujeito (DPnom,)), e o estado resultante da ação é denotado pela combinação de um sintagma adjetival (AP) ou ainda preposicional (PP) (aos quais chamarei de sintagma resultativo) e um DP Acusativo (DPacc), como mostram os exemplos em (3):

4 4 .Nas minhas glossas para o PB, o leitor vai notar que os adjetivos estão, aparentemente, na forma masculina e singular. Minha intenção, no entanto, é representar o adjetivo sem marcas de flexão/concordância de gênero e número. Pensando em uma abordagem à la (Mattoso Camara Jr., 1970), o adjetivo das glossas não tem o sufixo flexional ou desinência –a (marcador de feminino) nem –s (marcador de plural); crucialmente, esse adjetivo também não teria o morfema zero marcador de singular nem o morfema zero marcador de masculino.

5 5 .Exemplo baseado em (Kratzer, 2005).

6 6 .Exemplos (e-f) do holandês de (Hoekstra, 1988:116). 7 7 .Nas glossas, adotarei a abreviação REFL. para reflexivo.

8 8 .O inglês também apresenta ambiguidade para esse dado; parece que a leitura mais saliente é a intransitiva.

Descritivamente, o DPACC (ou reflexivo) denota a entidade que sofre a ação denotada pelo verbo, e o resultado desta ação é denotado pelo AP ou PP. (Hoekstra, 1988HOEKSTRA, T. 1988. Small clause results. Língua, v. 74, p.101-139.) coloca a generalização empírica de que o DPACC da resultativa é sempre um ‘objeto afetado’ (affected object),9 9 .(Beavers, 2008) observa que a noção de afetação (affectedness), embora muito utilizada em trabalhos sobre sintaxe e semântica lexical, raramente recebe uma definição precisa e linguisticamente motivada. Assim, ‘afetação’ fica restrita a uma noção intuitiva, que seria algo como uma mudança observada em um participante de evento. Neste trabalho, manterei a noção intuitiva observada em (Hoekstra, 1988). e não um ‘objeto alcançado’ (effected object). Nesse sentido, o ‘objeto afetado’ pré-existe à ação verbal. O autor nota que verbos como ‘paint’ (em ‘to paint a house’) são ambíguos nesse sentido, por poderem tomar como complemento tanto um ‘objeto afetado’ quanto ‘objeto alcançado’. Porém, em uma resultativa como em (3a), tal ambiguidade não se coloca, uma vez que o DP ‘the house’ é ‘objeto afetado’ pela ação verbal.

Outra generalização empírica é que o adjetivo (ou sintagma resultativo, de uma forma geral) sempre predica (atribui propriedade) do DPACC, e nunca do sujeito da sentença.

Resultativas aparecem em três ‘variedades’ quando se trata de interpretar o DPACC como argumento do verbo: transitivas, intransitivas inergativas (Carrier & Randall, 1992CARRIER, J.; J.H. RANDALL. 1992. The Argument Structure and Syntactic Structure of Resultatives. Linguistic Inquiry, v. 232, p.173-234.; Levin & Rappaport, 1995LEVIN, B.; RAPPAPORT HOVAV, M. 1995. Unaccusativity: at the syntax-lexical semantics interface. Linguistic Inquiry, Monograph 26, Cambridge, Mass: The MIT Press. 10 10 .As autoras ainda apontam as resultativas com verbos inacusativos, que não abordarei aqui, mas remeto o leitor interessado a (Knöpfle, 2014). ) e ambíguas entre uma interpretação transitiva e intransitiva. Em (3a) e (3b), o DPACC pode ser interpretado como argumento (s-selecionado) pelo verbo, ou seja, ‘o metal’ é interpretado como tema da ação de martelar, assim como ‘a casa’ da ação de pintar. O mesmo poderia se dizer do dado em (3c), do inglês; entretanto, a construção em (3c’), do alemão, apresenta a versão intransitiva do verbo ‘atirar’ (schiessen). Nessa língua, o verbo ‘atirar’ apresenta uma contraparte transitiva (erschiessen), que seleciona complemento Acusativo e não participa de resultativa.11 11 .Observações empíricas desse tipo, para verbos do alemão, foram feitas em (Kratzer, 2005).

As construções de (3d) e (3e) apresentam verbos que podem ter comportamento transitivo, porém, nesses dados, os DPACCs não são interpretados como argumentos dos verbos: em (3d, d’), o que quer que tenha sido bebido não é ‘a chaleira’, mas alguma coisa passível de ser bebida de forma que o resultado da ação é ‘a chaleira vazia’; o mesmo vale para (3e, e’).

O verbo ‘gritar’, em (3f, f’) é intransitivo: ‘a garganta’ não é tema, sendo que o resultado da ação é ‘a garganta rouca’. Curiosamente, podemos encontrar construções que permitem tanto a interpretação transitiva quanto intransitiva (desde que manipuladas as variáveis de contexto e preferencialmente com verbos que apresentem a possibilidade de comportamento transitivo e intransitivo), a exemplo de (3g, g’).

Essa referência a resultativas como transitivas/intransitivas/ambíguas, feita até aqui, não diz respeito à relação estrutural (sintática) entre verbo matriz e DPACC (nem atribuição de papel temático), mas sim à (im)possibilidade de interpretação do objeto como sendo argumento (semântico) do verbo12 12 .Entende-se por interpretação do objeto como sendo argumento (semântico) do verbo o argumento que seria selecionado semanticamente pelo verbo num contexto out of the blue; por exemplo, no verbo ‘beber’, algo possível de ser bebido, em ‘comer’, algo possível de ser comido. .

(Kratzer, 2005KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.) generaliza a estrutura da construção resultativa como sendo sempre somente licenciada por verbos intransitivos inergativos; quando verbos transitivos participam de resultativas, seu comportamento é intransitivo e o DPACC não é, portanto, argumento semântico desses verbos. Entretanto, outras análises não assumem a intransitividade do verbo como condição a priori para a boa formação de resultativas.13 13 .Evidências empíricas, levantada em (Knöpfle, 2014), mostram a ocorrência de verbos inacusativos em resultativas. Nesses casos, é extremamente problemático postular que o DP não é argumento (interno) do verbo. (Knöpfle, 2014______. 2014. Resultativas em línguas ocidentais germânicas: generalizações descritivas, descobertas empíricas e questões analíticas. 2014. 246 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.), inpirada em (Hoekstra, 1988HOEKSTRA, T. 1988. Small clause results. Língua, v. 74, p.101-139.) e com suporte na assunção da possibilidade de um DP receber múltiplos papéis temáticos14 14 .A possibilidade de recebimento de múltiplos papéis temáticos para um mesmo DP é assumida nos trabalhos de (Hornstein, 1999, 2001), (Boecks & Hornstein, 2003, 2004, 2006), (Hornstein & Polinski, 2010), (Boeckx, Hornstein & Nunes, 2010) e (Rodrigues, 2004a, 2004b, 2010). , argumenta que o DPACC pode ou não ser theta-marcado pelo verbo, mas sempre recebe papel temático do predicado/sintagma resultativo. Configuracionalmente, a construção resultativa tem um licenciamento de base aspectual, que, por sua vez, seleciona uma estrutura do tipo small clause (estruturada à la Den Dikken, 2006DIKKEN, M. DEN. 2006. Relators and Linkers: the Syntax of Predication, Predicate Inversion, and Copulas. Cambridge, Mass: The MIT Press.).15 15 .Para a análise detalhada sobre transitividade e atribuição de papel temático, bem como uma proposta de descrição estrutural para resultativas em línguas ocidentais germânicas, remeto o leitor a (Knöpfle, 2014).

Essas considerações, sobretudo empíricas, feitas a respeito da transitividade dos verbos em construções resultativas serão muito importantes para a argumentação de que se trata de estruturas diferentes das encontradas em pseudoresultativas (e similares), assunto das próximas seções.

3. Resultativas e as línguas românicas (PB): parte 1

Na seção anterior, pudemos observar que a tradução dos dados do inglês, alemão e holandês para o português brasileiro requer alguma espécie de paráfrase, ou seja, o sentido das construções resultativas nessas línguas não pode ser obtido em PB mantendo-se a mesma estrutura. Existe, inclusive, uma tradição na literatura de que línguas românicas não licenciam construções resultativas (Kratzer, 2005KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.; Knöpfle, 2014______. 2014. Resultativas em línguas ocidentais germânicas: generalizações descritivas, descobertas empíricas e questões analíticas. 2014. 246 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.inter alia). Os dados negativos em (4) evidenciam essa linha de argumentação.16 16 .Lembro que essas sequências de palavras têm estrutura nas línguas ocidentais germânicas, i.e. formam dados gramaticais – as construções resultativas.

17 17 .Nos dados do PB, apresento o adjetivo flexionado em gênero/número com o DPACC. A justificativa é que, em um ambiente desse tipo (a exemplo de construções com adjetivos predicativos depictivos), o predicado secundário orientado para o objeto é flexionado em gênero/número em PB – diferentemente das línguas ocidentais germânicas aqui abordadas. Para mais detalhes a esse respeito, bem como um comparação entre PB e alemão, ver (Knöpfle, 2011) e (Carreira & Knöpfle, 2013).

Apesar de as estruturas acima não serem possíveis em PB, existem outras estruturas que apresentam a leitura, a partir de um verbo, de resultado sobre um DP. As próximas 4 seções (i.e. seções 4, 5, 6 e 7) expõem os dados, procurando agrupá-los (ao menos preliminarmente) segundo suas propriedades e tratamentos que já obtiveram na literatura. Devido à leitura de resultado, esses dados são chamados de pseudoresultativas, resultativas adverbiais, entre outros. Num primeiro momento, pretendo distinguir construções resultativas dessas estruturas, referindo-me portanto às últimas como resultativas aparentes. Essa nomenclatura ainda não tem um estatuto teórico definido, pois existem muitas questões (empíricas, principalmente) acerca do comportamento dessas estruturas, sobretudo quando analisados os dados do PB. Endereçarei essas questões na seção 7.

4. Resultativas adverbiais e pseudoresultativas, ou resultativas aparentes

Esta seção traz os dados do inglês que foram analisados como resultativas adverbais e pseudoresultativas, entre outras nomenclaturas. Crucialmente, a proposta da literatura técnica quando da abordagem dessas estruturas era a de diferenciá-las das construções resultativas e, consequentemente, propor às primeiras alguma abordagem analítica. Trata-se dos dados cuja estrutura [V DPACC AP] se assemelha à estrutura das resultativas, porém são analisados de maneira distinta por autores como (Parsons, 1990PARSONS, T. 1990. Events in the semantics of English. Cambridge, MA: MIT Press.), (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.), (Kratzer, 2005KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.), (Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.), inter alia. Vejamos alguns exemplos.

18 18 .Exemplos (a-b) de (Geuder, 2000:69).

Uma das evidências para distinguir resultativas de resultativas aparentes se baseia na semântica das construções, mais especificamente na ‘função’ dos modificadores. (Parsons, 1990PARSONS, T. 1990. Events in the semantics of English. Cambridge, MA: MIT Press.) argumenta que, apesar da semelhança estrutural com as resultativas, em dados (a rigor, os VPs) como ‘chop the onions fine’ e ‘close the door tight’, os modificadores ‘fine’ e ‘tight’ modificam um estado final, e não propriamente o DP.

Partindo da mesma linha de raciocínio, (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.) argumenta que o adjetivo em uma resultativa adjetival como em ‘hammer the metal flat’ nomeia o estado resultante de uma ação de martelar. Já em resultativas adverbiais como ‘open the door wide’, ‘wide’ é um modificador e não o estado resultante per se19 19 .Em outros termos, o estado resultante da ação em ‘open the door wide’ seria algo como ‘a porta aberta’, em que ‘wide’ modifica esse estado final, parafraseado em ‘a porta bem aberta’ ou ‘a porta amplamente aberta’. .

(Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.) chama os modificadores em (5) de advérbios resultativos, como forma de distinguir os modificadores em (5) de advérbios de modo, e ainda para fazer menção à modificação relativa ao resultado do evento.20 20 .Na análise do autor, esses modificadores se comportam sintaticamente como predicados de eventos, mas, semanticamente, são modificadores de indivíduo resultante introduzido pragmaticamente. O autor acrescenta ao paradigma dados como:

21 21 .Exemplos de (Geuder, 2000:69).

(Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.) analisa os adjetivos em (7) como modificadores de nome,22 22 .(Levinson, 2007, 2010) se distancia de (Geuder, 2000) por considerar que esses modificadores não são adverbiais, no sentido de não serem predicados de eventos. sendo semanticamente distintos dos predicados resultativos; por esse motivo, a autora chama as construções em (7) de pseudoresultativas, e argumenta que pseudoresultativas não devem se confundir nem com resultativas adjetivais (hammer the metal flat) nem com resultativas adverbiais (They loaded the cart heavily).23 23 .Assim como (Geuder, 2000) fez para os modificadores de resultativas adverbiais em (6), (Levinson, 2007, 2010) analisa os adjetivos de pseudoresultativas como modificadores de um indivíduo criado. No entanto, diferentemente de (Geuder, 2000) nas resultativas adverbiais, o indivíduo modificado nas pseudoresultativas é analisado como sintaticamente ativo e denotado na raiz lexical do verbo.

24 24 .Exemplos de (Levinson, 2007:32).

No exemplo prototípico da autora ‘Mary braided her hair tight’, o adjetivo não modifica o objeto direto; ou seja, o que se torna ‘tight’ por meio do verbo (braid) não é o objeto direto (the hair), mas sim ‘the braid’ (a trança), criada pelo evento ‘braiding’ (trançar).25 25 .Com uma análise morfossemântica e dentro do quadro da Morfologia Distribuída, a autora argumenta que os predicados de pseudoresultativas não modificam nenhuma palavra na sintaxe, mas sim a raiz do verbo em uma configuração licenciada pelo tipo semântico da raiz e pela estrutura de verbos que a autora chama de root creation verbs. Diferentemente, em ‘hammer the metal flat’, ‘the metal’ se torna ‘flat’ como resultado do evento de martelar.

Quanto às resultativas adverbiais, (Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.) concorda com (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.) de que também não parecem modificar o objeto do verbo, mas difere do autor ao observar que exigem morfologia adverbial em -ly no inglês, obrigatoriamente. Já as pseudoresultativas em (7) não licenciam modificadores em ­-ly.26 26 .Exemplos nos contrastes (Levinson, 2010): (i) *They decorated the room beautiful. (ii) *They loaded the cart heavy. (iii) *Mary braided her hair tightly. (iv) *She piled the cushions highly.

Além da diferença morfológica, Levinson aponta uma diferença semântica nos verbos entre (6) e (7), que motiva uma análise diferenciada (e, consequentemente, uma denominação diferente, i.e. resultativas adverbiais e pseudoresultativas.) Os verbos em dados como (6) (to decorate, to load) não pertencem ao grupo que a autora denomina root creation verbs (em (7)). Os root creation verbs exigem uma fonte (hair, cushions, parsley); nesse sentido, em ‘She braided her hair’, ‘the hair’ seria a ‘fonte’ e ‘the braid’ seria o ‘alvo’. Já nos verbos como ‘to decorate, to load, to dress’ (implicit creation verbs, na terminologia de (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.)), o objeto do verbo é interpretado como tema afetado e não fonte. O contraste é exemplificado da seguinte maneira: em ‘She braided her hair’, há a interpretação de que ‘do cabelo’ foi feita ‘uma trança’, ao passo que em ‘Mary decorated the string lights’ (Mary decorou a corda de lâmpadas), não é possível a interpretação de que ‘da corda de lâmpadas’ foi feita ‘uma decoração’.

(Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.) também traz como argumento para distinguir resultativas adjetivais de pseudoresultativas a variação translinguística. Nesse sentido, línguas românicas, reconhecidas por não apresentarem resultativas adjetivais, licenciam construções pseudoresultativas.

A seção 7 tratará desse tipo de dado em PB. Antes, porém, é necessário retomar o que já foi dito sobre resultativas em PB especificamente (Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.; Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.) - assunto da seção 5. Nesse sentido, (Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.) fala da restrição de resultativas do PB e apresenta estruturas que poderiam ser agrupadas como resultativas aparentes. A análise de (Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.) coloca novos “ingredientes” empíricos interessantes em relação às construções do PB; essas questões empíricas serão então revisitadas, expandidas e apresentadas com mais testes nas seções 6 e 7.

5. Resultativas e as línguas românicas (PB): parte 2

Construções similares às construções resultativas, chamadas até aqui de resultativas aparentes, resultativas adverbiais e pseudoresultativas, são possíveis em PB e foram objeto de estudo de autores como (Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.) e (Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.). Vejamos alguns exemplos em (8).

27 27 .Exemplos de (Foltran, 1999:149-151). 28 28 .(Lobato, 2004:158,162,163).

(Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.) analisa os dados do PB e apresenta restrições de produção em relação às construções resultativas encontradas em línguas como o inglês, por exemplo. A primeira diferença apontada pela autora é de ordem aspetual: em PB, os predicados secundários não têm a propriedade de transformar um evento não delimitado em delimitado, diferentemente das resultativas do inglês, como ‘hammer the metal flat’ - uma resultativa (prototípica) do inglês. Nela, podemos observar que o sintagma resultativo ‘flat’ (plano/achatado) adiciona telicidade ao evento ‘hammer’ (martelar), que por si só seria uma eventualidade do tipo ação, sem um ponto final implícito. Ou seja, a adição do sintagma resultativo nas sentenças no PB não altera a classe aspectual do verbo, sendo que o predicado secundário parece fornecer uma descrição mais exata do estado final. (Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.) nota que não são encontradas em PB resultativas com verbos de atividade (como ‘run’ e ‘drink’, ‘correr’ e ‘beber’) com ponto final indeterminado. A ocorrência das resultativas em PB, segundo a autora, está restrita a predicados com verbo matriz de criação, ou seja, o predicado secundário é interpretado como “(...) descrição de um objeto que passa a existir, apenas, como decorrente da ação do verbo” (Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.:192).

(Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.) segue adiante na análise e afirma que o PB não é capaz de licenciar estruturas como ‘hammer the metal flat’, na qual a interpretação de ‘flat’ é a propriedade que o metal adquire após a ação ‘hammer’.29 29 .(Barbosa, 2008) argumenta pela não existência de resultativas em PB, usando como suporte a distinção semântica proposta em (Parsons, 1990) entre resultativas do tipo ‘hammer the metal flat’, em que ‘flat’ denota o estado final, e construções similares como ‘close the door tight’, em que ‘tight’ modifica um estado final já denotado em ‘close the door’. No entanto, a autora questiona se apenas com base em dados desse tipo se pode fazer a generalização de que as construções resultativas não existem no PB. (Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.) discorda desta generalização e passa a listar as condições para licenciamento da construção resultativa em PB. O adjetivo, para permitir a leitura resultativa, pode aparecer nas formas básica, superlativa e superlativa sintética, ou seja, a modificação extra pode licenciar determinadas resultativas, como mostra o paradigma em (9):

30 30 .Agramatical na leitura relevante, i.e. ‘a casa se torna amarela como resultado da ação de pintar’. 31 31 .Exemplos de (Lobato, 2004:152,158,159).

A questão empírica que eu coloco aqui é se podemos estender o fato apontado no dado (9) para outras resultativas. Em (10), listo o tipo de modificação que poderia, por hipótese, licenciar uma ‘resultativa’ do PB; vou me referir a esse tipo de modificação como modificação extra.

Vejamos como a modificação extra interfere na aceitabilidade de alguns dados do PB, construídos com base nas resultativas ‘transitivas’ das línguas como o inglês, alemão e holandês.32 32 .Seguem as resultativas (prototípicas da literatura técnica) a partir das quais os testes para o PB foram moldados: (i) John painted the house yellow. (ii) He hammered the metal flat. (iii) The gardener watered the tulips flat. (iv) He swept the floor clean.

33 33 .Admito que pode haver variação nos juízos de aceitabilidade para os dados com modificação extra no adjetivo, moldados a partir de resultativas ‘transitivas’ no inglês, alemão e holandês. Entretanto, o ponto relevante aqui é demonstrar que a modificação extra contribui para a aceitabilidade dos dados, em maior ou menor grau. O quanto ela contribui e qual sua exata natureza requer mais investigação empírica.

34 34 .Comportamento semelhante também é encontrado em outras línguas românicas, a exemplo do italiano: (i) Gianni ha martellato il metallo *piatto/ piatto, piatto. (Folli & Ramchand, 2005:15)

As possibilidades de modificação extra são várias, e nem todas são aceitas. No entanto, restam dados bem formados em que a modificação extra, ao que tudo indica, licencia ‘resultativas’ no PB. Até aqui, todos os dados testados foram de resultativas ‘transitivas’. Para resultativas ‘intransitivas’, a modificação extra não ‘salva’ a construção.

35 35 .Exemplo correlato do inglês (gramatical nessa língua): “He ran the shoes threadbare”.

Os dados em (15) têm como base uma resultativa com verbo transitivo, mas cujo DPACC não tem leitura de argumento semântico do verbo. Os dados em (16) têm verbo intransitivo. Ou seja, os dados do PB moldados com base em resultativas ‘intransitivas’ ou ‘transitivas’, mas cujo DPACC não é tema do verbo, não são possíveis em PB, mesmo com modificação extra. Porém, como vimos em (11) a (14), os dados em PB feitos com verbos transitivos e DPACC tema desses verbos são possíveis com modificação extra. A questão, portanto, é se de fato não existem resultativas em PB, mesmo que restritas a verbos transitivos e modificação adjetival.

6. Resultativas e as línguas românicas (PB): parte 3

Os dados positivos em (11) a (14) colocam a questão de saber se de fato existem resultativas em PB. Dito de outra maneira, podemos questionar se as resultativas transitivas (modificadas) no PB seriam do mesmo ‘tipo’/teriam a mesma estrutura das resultativas encontradas em línguas ocidentais germânicas. A princípio, pode-se argumentar a favor de estruturas distintas com base em três pontos (i) necessidade de modificação extra no PB, ausente nas línguas ocidentais germânicas; (ii) contribuição quantificacional/aspectual do modificador extra nas resultativas do PB, ausente nas línguas ocidentais germânicas; (iii) impossibilidade de resultativas ‘intransitivas’ modificadas em PB, diferentemente das línguas ocidentais germânicas.

Existe, porém, a hipótese de que se trataria do mesmo tipo de resultativa, baseada na semelhança semântica de o sintagma resultativo denotar estado resultante sobre o DPACC. Diante desse provável impasse, vejamos mais alguns dados comparativos entre alemão e PB.

Observamos que a mesma estrutura e sentido possíveis na resultativa do alemão não são possíveis em PB. Em PB, o dado (18b) é agramatical na leitura em que ‘o chão’ resulta ‘sujo’ como consequência do ato de ‘varrer’, diferentemente da resultativa em (17b) no alemão. Ou seja, se tivéssemos o mesmo tipo de estrutura em (17) e (18), esse contraste não seria esperado.

O paradigma em (17)-(18) reforça a ideia de que, em PB, o AP é uma espécie de modificador, diferentemente de resultativas germânicas, em que denota o estado final. Diante dos fatos em (17)-(18), a conclusão é a de que o PB não licencia a estrutura das construções resultativas como em alemão, inglês e holandês. Dito de outra forma, as estruturas transitivas com leitura de resultado que o PB apresenta são de outra natureza.

7. Resultativas aparentes e os dados do PB

7.1. Modificação extra

Vejamos agora como se comportam em PB os dados aqui tratados como resultativas aparentes (pseudoresultativas, resultativas adverbiais). Curiosamente, alguns desses dados também somente são licenciados em PB mediante alguma modificação no adjetivo.

Ao que tudo indica, o PB não apresenta um comportamento uniforme no licenciamento desses dados, diferentemente do inglês. Trata-se, a princípio, de um fenômeno que requer investigação empírica mais aprofundada e robusta.

As próximas subseções são uma primeira tentativa do que poderia ser uma linha investigativa nessa direção. Minha proposta aqui não é esgotar a questão, mas sim apresentar dados preliminares de investigação. Em seguida, coloco mais questões em relação ao tema. Finalmente, teço algumas hipóteses com base nos dados até então levantados.

7.2. Pseudoresultativas em PB: modificação, ordem e foco

Quais são as condições de licenciamento para construções a exemplo de (18)a? Trata-se, de saída, de uma proposta de investigação empírica. Tratando especificamente do que (Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.) definiu como pseudoresultativas, um fator problematizador desta questão é que a modificação não é condição necessária para o licenciamento da construção, como vemos nos dados em (20) e (21), em que em (a) temos as pseudoresultativas do inglês, em (b) a estrutura equivalente em PB sem modificação do predicado secundário, e em (c) a estrutura do PB com modificação:

A morfologia também entra como ingrediente empírico a ser investigado. Notamos que em (21b-c), diferentemente do que observamos para os outros dados, não é possível fazer a concordância em gênero e número com o DPACC.

Além da modificação extra no adjetivo, ordem e foco também parecem colaborar para o licenciamento da construção.

Observamos nos dados em (d) de (22) a (25) que a mudança de ordem do sintagma adjetival, i.e. anteposto ao nome, licencia a construção. Igualmente, o sintagma adjetival quando focalizado (sem necessidade de mudança de ordem ou modificação) facilita a leitura resultante, mesmo que marginalmente.

Retomando a questão da morfologia: a concordância é mesmo necessária? Como já apontado anteriormente, em (21b) ela não é.36 36 .Inclusive, no caso de (21)b, se a concordância for realizada, perde-se a leitura resultativa. Talvez nem para (20), se procedermos inversão de ordem e foco.

Apesar de os julgamentos preliminares de aceitabilidade apontarem certa marginalidade para os dados, é nítido o contraste com os dados agramaticais, em que não há nenhum tipo de modificação, mudança de ordem ou foco.

7.3. Resultativas aparentes: um grupo só?

Os dados em (Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.) e alguns dos dados de (Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.), apresentados pelas autoras como resultativas do PB, não precisam de modificação extra no predicado, nem inversão ou foco para serem licenciados. Vamos rever os exemplos.

Vale lembrar que as autoras apontam restrição de produtividade e características estruturais diversas das resultativas em línguas como o inglês. Entre elas, podemos citar as diferenças aspectuais (o predicado secundário não adiciona telicidade ao evento, diferentemente das resultativas do inglês) e restrições argumentais (verbos intransitivos não licenciam a construção, diferentemente das resultativas do inglês).

Conforme já argumentei e demonstrei, estruturas desse tipo são de uma natureza distinta das resultativas em línguas ocidentais germânicas, mesmo em condições especiais de licenciamento (modificação), verbo ‘transitivo’ e semântica de resultado, haja vista o contraste entre (17) e (18), repetido aqui em (29) e (30):

Tomando como base a argumentação de que os dados em (30) não são resultativas, podemos questionar, agora, se se trata de pseudoresultativas. O trabalho de (Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.) para sustentar a existência das construções pseudoresultativas (como sendo um grupo diferente das resultativas e resultativas adverbiais) se sustenta na argumentação de que, nas pseudoresultativas, o predicado secundário não modifica o DP. Para tanto, a autora utiliza os seguintes testes de acarretamento:

37 37 .Dados do inglês de (Levinson, 2010:3).

Em outros termos, do evento em (a) temos ‘uma trança firme’, de (b), ‘um laço apertado’, de (c) ‘uma pilha alta’, de (d) ‘um picado fino’ e de (e) ‘fatias finas’. Já para (f), essa leitura em PB não é tão saliente; retomarei a questão quando falar dos dados do PB.

Resumindo, a intenção dos testes é demonstrar que a entidade afetada pela ação do verbo não é o DP. O DP, nas pseudoresultativas, é a fonte. Diferentemente, nas resultativas o DP é sempre a entidade afetada. Adicionalmente, os verbos das pseudoresultativas são de criação, ao passo que, nas resultativas, de ação (geralmente).

Vamos ver então como se comportam os dados do PB em (28) nos testes de acarretamento propostos por Levinson.

Observamos, para os dados do PB em (28) e (32), que os testes de acarretamento se verificam, i.e. (32). É possível, portanto, que as sentenças em (28) tenham estrutura diferente das pseudoresultativas. Adicionalmente, tomando a análise de Levinson para pseudoresultativas, os DPs em (28) não parecem ser ‘a fonte’ da criação, mas sim o resultado dela.

Por outro lado, talvez o teste de acarretamento não seja livre de desvios de interpretação. Tomemos (32a) e (32d): nesses dados, poderíamos tomar ‘o cabelo’ como fonte e ‘o corte’ como Nome (raiz verbal) modificado. Igualmente, podemos ter ‘a saia’ como fonte e ‘a costura’ como entidade afetada. Nesses casos, os testes de acarretamento tal como estão em (32) são inferências pragmáticas que fazemos a partir das construções. Nesse sentido, podemos estender o raciocínio para os outros dados: ‘desenho torto’, ‘fabricação torta’, ‘construção sólida’ e ‘criatura fraca’. Todos esses verbos de criação permitem nominalizações, o que talvez seja uma motivação para a possibilidade de interpretação tanto do DPACC como afetado quanto de outra entidade anterior (na derivação) ser afetada.

Se para os dados em (28) fizer sentido pensar que a predicação não se dá sobre o DP, mas sobre outra entidade, qual seria ela, afinal? Nos termos de Levinson, trata-se de modificação sobre a raiz verbal; para os dados do inglês, os testes de acarretamento sugerem a necessidade de se analisar a estrutura de forma que a entidade afetada não seja o DP. Já para os dados do PB, talvez seja necessária alguma motivação empírica mais robusta para sustentar tal análise.

Ao que tudo indica, temos então dois grupos de resultativas aparentes: dados positivos em (20) a (28) (pseudoresultativas) e dados em (11) a (14) e (30a) (moldados a partir de resultativas ‘transitivas’, licenciados por modificação extra). Nas pseudoresultativas, temos essencialmente verbos de criação, que permitem nominalizações; quanto aos DPs, fica a questão de saber se de fato são eles os afetados pelo predicado secundário. Nos dados do segundo grupo, os DPs não são criados a partir dos verbos e sofrem alguma modificação denotada no predicado secundário.

7.4. Algumas hipóteses

Pudemos observar, até agora, que a questão das resultativas aparentes em PB ainda requer investigação empírica e analítica. Como hipótese de trabalho, admitamos então que dados positivos do tipo (20) a (28) do PB são pseudoresultativas (restando saber qual a análise estrutural adequada para eles). A questão, agora, é entender por que uma parte razoável dos dados de pseudoresultativas em PB precisa de modificação extra para ser licenciada, diferentemente do inglês, como vimos em (17) a (27).

Coloco ainda outra questão: como tratar os dados do PB moldados a partir de resultativas ‘transitivas’, licenciados por modificação extra? Relembro que nesses dados (i) não temos verbos de criação (os verbos são essencialmente de atividade), (ii) o DP parece mesmo ser a entidade afetada e (iii) precisa-se necessariamente de algum tipo de modificação para licenciamento dos dados, como é o caso dos dados em (11) a (14). Ao que tudo indica, temos então dois grupos de estruturas diferentes em PB: as pseudoresultativas e as construções do tipo em (11)-(14), que requerem, portanto, descrições estruturais distintas.

É curioso notar que, mesmo admitindo termos dois tipos distintos de estruturas, parte razoável das pseudoresultativas precisa de modificação extra, ao passo que as do outro tipo sempre precisam. Essa modificação extra também é ampla - morfologia, ordem e foco -, explicitando uma característica em comum das construções.

Uma hipótese de trabalho inicial a ser investigada poderia tomar essa modificação extra como uma maneira que a sintaxe do PB encontra para evidenciar a leitura predicativa. Em outros termos, para a leitura de resultado é preciso que o estado final (ou a especificação dele) seja um predicado; assim, de alguma forma a sintaxe exige que o caráter predicativo seja evidenciado.

Vale lembrar que os dados do PB foram considerados agramaticais na leitura predicativa; na leitura atributiva (i.e. a leitura em que AP forma um constituinte com o nome modificado), os dados são gramaticais. Línguas como o PB não apresentam diferença de ordem e morfologia entre estruturas predicativas e atributivas, diferentemente do alemão, por exemplo. Para elucidar o ponto, vejamos o contraste:

Em PB, a sequência de palavras é ambígua entre uma estrutura de predicado secundário e uma atributiva. Já em alemão, na estutura de predicado secundário o adjetivo se apresenta na forma bare (sem marcas de caso e concordância), diferentemente da estrutura em que o adjetivo forma um constituinte com o nome (A antecede N e apresenta marca de Acc e concordância de gênero neutro com o nome ‘carne’, que tem gênero neutro nessa língua).

Podemos hipotetizar, para o PB, que quando a leitura atributiva é a mais a saliente, ela barra a predicativa, lembrando que a leitura predicativa é necessária para que se ententa a atribuição de propriedade do sintagma adjetival para o DP como denotação de resultado38 38 .Se essa hipótese estiver no caminho certo, uma possibilidade é que se trate de algum tipo de hierarquia de ordem sintática (agradeço a parecerista anônimo por levantar tal possibilidade). No entanto, saliento serem necessárias evidências adicionais para sustentar essa linha de argumentação. . Sendo assim, talvez a maneira que a sintaxe do PB encontre para evidenciar a construção como sendo predicativa seja marcas morfológicas, intensificadores, alteração de ordem e foco. Por que é necessário marcar a forma predicativa sendo que a forma atributiva é a marcada é uma questão que permanece aberta. Outra questão remanescente, se essa linha de raciocínio estiver certa, é por que a modificação como forma de evidenciar a construção como sendo predicativa não vale para todas as estruturas.

8. Considerações

Esse artigo se propôs a ser um trabalho de investigação e descrição empíricas, essencialmente. O recorte, dentro de estruturas de predicação secundária, focou translinguisticamente construções com leitura de resultado, a partir de um verbo sobre um DPACC (ou aparentemente sobre um DPACC), sendo essa leitura de resultado manifestada no predicado secundário.

Em primeiro lugar, a apresentação foi de resultativas em línguas ocidentais germânicas, tomadas aqui com exemplos do inglês, alemão e holandês. Essas construções são produtivas nessas línguas, diferentemente do que acontece em PB (e muito provavelmente em línguas românicas em geral). Nessa última língua, encontramos estruturas superficialmente parecidas com resultativas, porém com características sintáticas, morfológicas e aspectuais distintas. A demonstração por meio de testes empíricos concluiu que o PB não licencia resultativas a exemplo do que ocorre produtivamente nas línguas ocidentais germânicas. O que quer que o PB apresente possui descrição estrutural distinta das resultativas.

Essas construções do PB foram então informalmente chamadas de resultativas aparentes. Dentre elas, apresentei indícios de que temos comportamentos sintáticos diferentes, sugerindo a princípio dois grupos distintos de resultativas aparentes, um deles provavelmente sendo o das pseudoresultativas. Empiricamente, o artigo apontou algumas características morfossintáticas que essas estruturas apresentam, características essas presentes no PB, mas ausentes em inglês. Como hipótese de explicação para esse comportamento, sugeri que o PB precisa, em alguma instância, evidenciar estruturalmente as construções de predicação secundária, ou seja, precisa de alguma marca na estrutura morfossintática que destaque a estrutura como sendo predicativa. Essa hipótese toma como base de evidência independente o fato de o PB apresentar ‘ambiguidade estrutural’ entre construções de predicação secundária e construções em que nome acusativo e adjetivo formam um único constituinte.

Referências bibliográficas

  • BARBOSA, J.W.C. 2008. A estrutura sintática das chamadas “construções resultativas em PB”. Dissertação de Mestrado - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
  • BEAVERS, J. 2003. On affectedness. Unpublished ms., University of Texas, Austin, 2008. BOECKX, C.; HORNSTEIN, N. Reply to “Control is not movement”. Linguistic Inquiry, Cambridge, MA, MIT Press, v. 34, p. 269-280.
  • ______. 2004. Movement under control. Linguistic Inquiry, Cambridge, MA, MIT Press, v. 35, p.431-452.
  • ______. 2006b. The virtues of control as movement. Syntax, v. 9, 118-130.
  • BOECKX, C., HORNSTEIN, N.; NUNES, J. 2010. Control as Movement. Cambridge: Cambridge University Press.
  • CAMARA JR., J.M. 1970. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes.
  • CARREIRA, M.B. 2015. Predicação e Ambiguidade de Projeção: Uma Teoria Unificada. 2015. 200 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
  • CARREIRA, M.B., KNÖPFLE, A. 2013. Uma análise teórico-empírica de predicação secundária. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 42, n. 1, p.182-194, jan-abr.
  • CARRIER, J.; J.H. RANDALL. 1992. The Argument Structure and Syntactic Structure of Resultatives. Linguistic Inquiry, v. 232, p.173-234.
  • CHOMSKY, N. 1965. Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, MA: MIT Press.
  • ______. 1981. Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris.
  • ______. 1986. Barriers. Cambridge, Mass: The MIT Press.
  • ______. 1993. A minimalist program for linguistic theory. In: Hale, K.; Keyser, S.J. (Orgs.). The view from Building 20. Cambridge, Mass: The MIT Press.
  • ______. 1995. The Minimalist Program. Cambridge, Mass: The MIT Press.
  • CHOMSKY, N.; LASNIK, H. The theory of principles and parameters. 1993. In: JACOBS, J. ET AL. (Orgs.). Syntax: An international Handbook of Contemporary Research. Berlin: de Gruyter.
  • DIKKEN, M. DEN. 2006. Relators and Linkers: the Syntax of Predication, Predicate Inversion, and Copulas. Cambridge, Mass: The MIT Press.
  • FOLLI, R.; GILLIAN, R. 2005. Prepositions and Results in Italian and English: An Analysis from Event Decomposition. In: VERKUYL, H.; DE SWART, H.; VAN HOUT, A. (Orgs.). Perspectives on aspect. Dordrecht: Springer, p. 81-105.
  • FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
  • GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.
  • HOEKSTRA, T. 1988. Small clause results. Língua, v. 74, p.101-139.
  • ______. 1991. Small Clauses Everywhere. Ms., University of Leiden.
  • ______. 1992. Aspect and theta-theory. In: Roca, I.M. (Org.). Thematic structure: Its role in grammar. Dordrecht: Foris.
  • ______. 2004. Small clauses everywhere. In: Sybesma, R.; Barbiers, S.; Dikken, M. Den; Doetjes, J.; Postma, G.; Wyngaerd, G.Vanden. (Orgs.). Arguments and Structure: Studies on the Architecture of the Sentence. Berlin: Mouton de Gruyter.
  • HORNSTEIN, N. 1999. Movement and control. Linguistic Inquiry, v. 30, n. 1, p. 69-96.
  • ______. 2001. Move! A Minimalist Theory of Construal. Oxford: Blackwell.
  • HORNSTEIN, N.; POLINSKI, M. 2010. Movement Theory of Control. Amsterdam: John Benjamins.
  • KNÖPFLE, A. 2011. Resultativas adjetivais e o estatuto nu do adjetivo. In: Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 19, n. 1, p. 115-142.
  • ______. 2014. Resultativas em línguas ocidentais germânicas: generalizações descritivas, descobertas empíricas e questões analíticas. 2014. 246 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
  • KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.
  • LEVIN, B.; RAPPAPORT HOVAV, M. 1995. Unaccusativity: at the syntax-lexical semantics interface. Linguistic Inquiry, Monograph 26, Cambridge, Mass: The MIT Press.
  • LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University.
  • ______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.
  • LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.
  • PARSONS, T. 1990. Events in the semantics of English. Cambridge, MA: MIT Press.
  • RIZZI, L. 1990. Relativized Minimality. Cambridge, Mass: The MIT Press.
  • RODRIGUES, C. 2004a. Impoverished Morphology and A-movement out of Case Domains. PhD dissertation, University of Maryland.
  • ______. Thematic Chains. 2004b. DELTA. Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada (Online), v. 20, p. 122-147.
  • ______. 2010. Possessor Raising through Thematic Positions. In: Horsnteins, N.; Polinsky, M.. (Orgs.). Control as Movement, John Bejamins, Amsterdam, p. 119-146.
  • 1
    .Neste trabalho, por questões de espaço e simplificação, usarei somente exemplos com APs (sintagmas adjetivais). Para a discussão completa acerca do estatuto sintagmático do predicado secundário em resultativas, remeto o leitor a (Knöpfle, 2014______. 2014. Resultativas em línguas ocidentais germânicas: generalizações descritivas, descobertas empíricas e questões analíticas. 2014. 246 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.).
  • 2
    .Tomo os níveis de adequação observacional, descritivo e explicativo como em (Chomky, 1965CHOMSKY, N. 1965. Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, MA: MIT Press.).
  • 3
    .Vale notar que os dados em (1a) e (1c) são sequências de itens lexicais geradas por duas estruturas distintas (ambiguidade estrutural). A leitura relevante é a descrita no parágrafo, em que ‘a carne’ e ‘crua’, bem como ‘o relógio’ e ‘quebrado’ formam constituintes distintos, como observamos nos testes de clivagem: (i) Foi crua que o João comeu a carne. (ii) Foi quebrado que a Maria encontrou o relógio.
  • 4
    .Nas minhas glossas para o PB, o leitor vai notar que os adjetivos estão, aparentemente, na forma masculina e singular. Minha intenção, no entanto, é representar o adjetivo sem marcas de flexão/concordância de gênero e número. Pensando em uma abordagem à la (Mattoso Camara Jr., 1970CAMARA JR., J.M. 1970. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes.), o adjetivo das glossas não tem o sufixo flexional ou desinência –a (marcador de feminino) nem –s (marcador de plural); crucialmente, esse adjetivo também não teria o morfema zero marcador de singular nem o morfema zero marcador de masculino.
  • 5
    .Exemplo baseado em (Kratzer, 2005KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.).
  • 6
    .Exemplos (e-f) do holandês de (Hoekstra, 1988HOEKSTRA, T. 1988. Small clause results. Língua, v. 74, p.101-139.:116).
  • 7
    .Nas glossas, adotarei a abreviação REFL. para reflexivo.
  • 8
    .O inglês também apresenta ambiguidade para esse dado; parece que a leitura mais saliente é a intransitiva.
  • 9
    .(Beavers, 2008) observa que a noção de afetação (affectedness), embora muito utilizada em trabalhos sobre sintaxe e semântica lexical, raramente recebe uma definição precisa e linguisticamente motivada. Assim, ‘afetação’ fica restrita a uma noção intuitiva, que seria algo como uma mudança observada em um participante de evento. Neste trabalho, manterei a noção intuitiva observada em (Hoekstra, 1988HOEKSTRA, T. 1988. Small clause results. Língua, v. 74, p.101-139.).
  • 10
    .As autoras ainda apontam as resultativas com verbos inacusativos, que não abordarei aqui, mas remeto o leitor interessado a (Knöpfle, 2014______. 2014. Resultativas em línguas ocidentais germânicas: generalizações descritivas, descobertas empíricas e questões analíticas. 2014. 246 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.).
  • 11
    .Observações empíricas desse tipo, para verbos do alemão, foram feitas em (Kratzer, 2005KRATZER, A. 2005. Building resultatives. In: MAIENBAUM, C.; WÖLLSTEIN-LEISEN, A. (Orgs.). Event arguments in syntax, semantics, and discourse. Tübingen: Niemeyer.).
  • 12
    .Entende-se por interpretação do objeto como sendo argumento (semântico) do verbo o argumento que seria selecionado semanticamente pelo verbo num contexto out of the blue; por exemplo, no verbo ‘beber’, algo possível de ser bebido, em ‘comer’, algo possível de ser comido.
  • 13
    .Evidências empíricas, levantada em (Knöpfle, 2014______. 2014. Resultativas em línguas ocidentais germânicas: generalizações descritivas, descobertas empíricas e questões analíticas. 2014. 246 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.), mostram a ocorrência de verbos inacusativos em resultativas. Nesses casos, é extremamente problemático postular que o DP não é argumento (interno) do verbo.
  • 14
    .A possibilidade de recebimento de múltiplos papéis temáticos para um mesmo DP é assumida nos trabalhos de (Hornstein, 1999HORNSTEIN, N. 1999. Movement and control. Linguistic Inquiry, v. 30, n. 1, p. 69-96., 2001______. 2001. Move! A Minimalist Theory of Construal. Oxford: Blackwell.), (Boecks & Hornstein, 2003, 2004, 2006), (Hornstein & Polinski, 2010HORNSTEIN, N.; POLINSKI, M. 2010. Movement Theory of Control. Amsterdam: John Benjamins.), (Boeckx, Hornstein & Nunes, 2010BOECKX, C., HORNSTEIN, N.; NUNES, J. 2010. Control as Movement. Cambridge: Cambridge University Press.) e (Rodrigues, 2004aRODRIGUES, C. 2004a. Impoverished Morphology and A-movement out of Case Domains. PhD dissertation, University of Maryland., 2004b______. Thematic Chains. 2004b. DELTA. Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada (Online), v. 20, p. 122-147., 2010______. 2010. Possessor Raising through Thematic Positions. In: Horsnteins, N.; Polinsky, M.. (Orgs.). Control as Movement, John Bejamins, Amsterdam, p. 119-146.).
  • 15
    .Para a análise detalhada sobre transitividade e atribuição de papel temático, bem como uma proposta de descrição estrutural para resultativas em línguas ocidentais germânicas, remeto o leitor a (Knöpfle, 2014______. 2014. Resultativas em línguas ocidentais germânicas: generalizações descritivas, descobertas empíricas e questões analíticas. 2014. 246 f. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.).
  • 16
    .Lembro que essas sequências de palavras têm estrutura nas línguas ocidentais germânicas, i.e. formam dados gramaticais – as construções resultativas.
  • 17
    .Nos dados do PB, apresento o adjetivo flexionado em gênero/número com o DPACC. A justificativa é que, em um ambiente desse tipo (a exemplo de construções com adjetivos predicativos depictivos), o predicado secundário orientado para o objeto é flexionado em gênero/número em PB – diferentemente das línguas ocidentais germânicas aqui abordadas. Para mais detalhes a esse respeito, bem como um comparação entre PB e alemão, ver (Knöpfle, 2011KNÖPFLE, A. 2011. Resultativas adjetivais e o estatuto nu do adjetivo. In: Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 19, n. 1, p. 115-142.) e (Carreira & Knöpfle, 2013CARREIRA, M.B., KNÖPFLE, A. 2013. Uma análise teórico-empírica de predicação secundária. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 42, n. 1, p.182-194, jan-abr.).
  • 18
    .Exemplos (a-b) de (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.:69).
  • 19
    .Em outros termos, o estado resultante da ação em ‘open the door wide’ seria algo como ‘a porta aberta’, em que ‘wide’ modifica esse estado final, parafraseado em ‘a porta bem aberta’ ou ‘a porta amplamente aberta’.
  • 20
    .Na análise do autor, esses modificadores se comportam sintaticamente como predicados de eventos, mas, semanticamente, são modificadores de indivíduo resultante introduzido pragmaticamente.
  • 21
    .Exemplos de (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.:69).
  • 22
    .(Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.) se distancia de (Geuder, 2000) por considerar que esses modificadores não são adverbiais, no sentido de não serem predicados de eventos.
  • 23
    .Assim como (Geuder, 2000GEUDER, W. 2000. Oriented adverbs: Issues in the lexical semantics of event adverbs. 2000. 220 f. Doctoral Dissertation, Universität Tübingen.) fez para os modificadores de resultativas adverbiais em (6), (Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University., 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.) analisa os adjetivos de pseudoresultativas como modificadores de um indivíduo criado. No entanto, diferentemente de (Geuder, 2000) nas resultativas adverbiais, o indivíduo modificado nas pseudoresultativas é analisado como sintaticamente ativo e denotado na raiz lexical do verbo.
  • 24
    .Exemplos de (Levinson, 2007LEVINSON, L. 2007. The roots of verbs. Doctoral Dissertation, New York University.:32).
  • 25
    .Com uma análise morfossemântica e dentro do quadro da Morfologia Distribuída, a autora argumenta que os predicados de pseudoresultativas não modificam nenhuma palavra na sintaxe, mas sim a raiz do verbo em uma configuração licenciada pelo tipo semântico da raiz e pela estrutura de verbos que a autora chama de root creation verbs.
  • 26
    .Exemplos nos contrastes (Levinson, 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.): (i) *They decorated the room beautiful. (ii) *They loaded the cart heavy. (iii) *Mary braided her hair tightly. (iv) *She piled the cushions highly.
  • 27
    .Exemplos de (Foltran, 1999FOLTRAN, M.J.G.D. 1999. As construções de predicação secundária no português do Brasil: aspectos sintáticos e semânticos. 1999. 205 f. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.:149-151).
  • 28
    .(Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.:158,162,163).
  • 29
    .(Barbosa, 2008BARBOSA, J.W.C. 2008. A estrutura sintática das chamadas “construções resultativas em PB”. Dissertação de Mestrado - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.) argumenta pela não existência de resultativas em PB, usando como suporte a distinção semântica proposta em (Parsons, 1990PARSONS, T. 1990. Events in the semantics of English. Cambridge, MA: MIT Press.) entre resultativas do tipo ‘hammer the metal flat’, em que ‘flat’ denota o estado final, e construções similares como ‘close the door tight’, em que ‘tight’ modifica um estado final já denotado em ‘close the door’.
  • 30
    .Agramatical na leitura relevante, i.e. ‘a casa se torna amarela como resultado da ação de pintar’.
  • 31
    .Exemplos de (Lobato, 2004LOBATO, L. 2004. Afinal, existe a construção resultativa em português? In: NEGRI, L.; FOLTRAN; M.J.; PIRES DE OLIVEIRA, R. (Orgs.). Sentido e Significação. São Paulo: Contexto.:152,158,159).
  • 32
    .Seguem as resultativas (prototípicas da literatura técnica) a partir das quais os testes para o PB foram moldados: (i) John painted the house yellow. (ii) He hammered the metal flat. (iii) The gardener watered the tulips flat. (iv) He swept the floor clean.
  • 33
    .Admito que pode haver variação nos juízos de aceitabilidade para os dados com modificação extra no adjetivo, moldados a partir de resultativas ‘transitivas’ no inglês, alemão e holandês. Entretanto, o ponto relevante aqui é demonstrar que a modificação extra contribui para a aceitabilidade dos dados, em maior ou menor grau. O quanto ela contribui e qual sua exata natureza requer mais investigação empírica.
  • 34
    .Comportamento semelhante também é encontrado em outras línguas românicas, a exemplo do italiano: (i) Gianni ha martellato il metallo *piatto/ piatto, piatto. (Folli & Ramchand, 2005FOLLI, R.; GILLIAN, R. 2005. Prepositions and Results in Italian and English: An Analysis from Event Decomposition. In: VERKUYL, H.; DE SWART, H.; VAN HOUT, A. (Orgs.). Perspectives on aspect. Dordrecht: Springer, p. 81-105.:15)
  • 35
    .Exemplo correlato do inglês (gramatical nessa língua): “He ran the shoes threadbare”.
  • 36
    .Inclusive, no caso de (21)b, se a concordância for realizada, perde-se a leitura resultativa.
  • 37
    .Dados do inglês de (Levinson, 2010______. 2010. Arguments for pseudo-resultative predicates. Natural Language and Linguistic Theory, v. 28, n. 1.:3).
  • 38
    .Se essa hipótese estiver no caminho certo, uma possibilidade é que se trate de algum tipo de hierarquia de ordem sintática (agradeço a parecerista anônimo por levantar tal possibilidade). No entanto, saliento serem necessárias evidências adicionais para sustentar essa linha de argumentação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    Set 2016
  • Aceito
    Jan 2017
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: delta@pucsp.br